A história de sorte de Londrina com a fotografia
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A história de sorte de Londrina com a fotografiaLa história de la suerte de la ciudad de Londrina con la Fotografía
PauloCésarBONI1
Resumo:EsteartigotratadahistóriadafotografiaemLondrina,cidadedonortedoestadodoParaná,edesuaimportância para a recuperação de dados históricos eparaapreservaçãodamemóriadacidade.Porumviésinédito,narradoismomentosdesortedeLondrinacomrelaçãoà fotografia.Oprimeirofoiodesuautilizaçãocomo estratégia de publicidade daCompanhia deTer-rasNortedoParaná,responsávelpeloempreendimentoimobiliárioquedeflagrouoprocessodecolonizaçãononortedoParaná;o segundo foioda imigraçãoestran-geira,poisos estrangeiros chegavamprofissionalmentecapacitados para o exercício de ofícios especializados,entreelesodafotografia.Estesdoislancesdesortepro-piciaramaproduçãodefartosregistrosfotográficosquedocumentamosprimórdiosdahistóriadeLondrina.
Palavras-chave:HistóriadeLondrina(PR).HistóriadafotografiaemLondrina.CompanhiadeTerrasNortedoParaná.FotografiaeMemória.
Resumen:Esteartículo tratade lahistóriade la foto-grafíaenLondrina,unaciudadubicadaenelNortedelaProvínciabrasileñadeParaná,ydesuimportanciaparalarecuperacióndedatoshistóricosyparalapreservaciónde lamemóriadel lugar.Pormediodeunamiradaori-ginal,eltextocuentadosmomentosdeLondrinaensurelaciónconlaFotografía.ElprimerofuesuusocomoestrategiapublicitariadelaCompanhiadeTerrasNortedoParaná,responsableporelproyectoquedesencadenóelprocesodecolonizacióndelNortedelaProvíncia.Elsegundoinstantefuelainmigraciónextranjera,jaquelosdeotrasnacionesllegavanbiencapacitadosprofesional-
1Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de SãoPaulo(USP).LíderdoGrupodePesquisaComunicação e História do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq). Coordenador do Curso de Especialização em Fotografia:Práxis e Discurso Fotográfico da Universidade Estadual de Londrina(UEL).EditordarevistaDiscursos Fotográficos.E-mail:[email protected]
menteparaelejerciciodeoficiosespecializados,comolacapacidadde fotografarbien.Esosdoseventos fueronlabasedeunagranproducciónderegistrosfotográficosquedocumentanlahistoriadeliníciodeLondrina
Palabras clave:HistóriadeLondrina.HistóriadelaFo-tografía en Londrina. Companhia de TerrasNorte doParaná.Fotografiaymemória.
O início da colonização do norte do ParanáAtéasduasprimeirasdécadasdoSéculoXX,a
regiãonortedoestadodoParaná,especialmenteaáreaqueseestendedeJataizinho(àépocaJatahy),àsmargensdo rioTibagi, à divisa comos estadosde SãoPaulo eMatoGrossodoSulecomoParaguai,naextremidadeoestedoestado,delimitadaspelosriosParanapanemaeParaná,eraumaimensaáreavirgemdeMataAtlântica.Ogovernosabiadanecessidadeprementedeocuparestaáreapara garantir a extensão territorial do estado,masissoexigiriatempo,estratégiasdeocupaçãoe,principal-mente,investimentos.Ouseja,naessência,porfaltaderecursosparainvestimentonesteprojeto,onortedoPa-ranápermaneceriadesocupado.
Esta realidade começou amudar quando umacomissãodeinvestidoresdoReinoUnido,denominadaMissãoMontagu,visitouoBrasilembuscadeoportuni-dadesde investimentos.Omaior interessedoscompo-nentesdessamissãoeraoalgodão,matériaprimaessen-cialparamovimentaraemergenteindústriainglesa,nestemomentotrabalhandoatodovaporporcontadaRevo-luçãoIndustrial.Umdeseusintegrantes,LordLovat,vi-sitouonortedoParaná(regiãohojedenominadacomoNorte Pioneiro) a convite de fazendeiros cafeicultoresqueestavam,porcontaprópria,construindoumaestradadeferroentreOurinhos(SP)eCambará(PR),paraga-rantiroescoamentodasafraatéoportodeSantos(SP).
Lovatficouimpressionadocomopotencialpro-dutivodaregiãoecomeçouacosturarumprojetoquedespertasseointeressedeinvestidoresbritânicosnare-gião. Seuprojeto seria comprar uma larga extensãodeterras na inóspita região norte do Paraná para plantaralgodão e lotear a área para a venda de terrenos. Paraviabilizareexploraresseempreendimento,foicriadaem1925,emLondres,aParaná Plantation Ltd.Nasequênciaimediata,osinvestidoresbritânicosentraramemcontatocomogovernodoestadodoParaná,querespondeucommuitointeresseàpropostadecompradaárea,poisissosignificariaaresoluçãodoproblemadeocupaçãoqueo
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governovinhapostergandohá tempos, principalmenteemrazãodaconstruçãodaestradadeferroquecortarianosentidodelesteaoestearegiãonortedoestadodoParaná.Comasnegociaçõesadiantadas,paraatenderalegislaçãobrasileira,queproibia avendade terrasparaestrangeiros, foi criada emSãoPaulo aCompanhia deTerrasNortedoParaná, com99,86%docapital socialsubscritopelaParaná Plantation Ltd. e 0,14%de capitalnacional. Também para atender a legislação brasileira(Constituiçãode1891),apresidênciadaCTNPteriaqueserexercidaporumbrasileiro.Paratanto,foinomeadoAntônioMoraesBarros.Legislaçãocumprida,negóciosefetivados:
Emdoisanos(de1925a1927),aCTNPcomprou515.000alqueirespaulistasdeterras(cadaalqueirepaulistacorrespon-dea24.200m2)paradar inícioaopro-jeto de colonização. Localizadas entreos rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí, amaior parte dessas terras – cerca de450.000 alqueires eram consideradosterras devolutas (desocupadas e desa-bitadas)–foiadquiridadiretamentedogovernodoestadodoParaná,apreçosrelativamentebaixos.Obaixovalordasterras se justificava pelo interesse dogovernoemocuparedesenvolveroes-tado.Para tanto, eranecessáriodesma-tar áreas nativas, transformando-as emprodutivas,para,comisso,atrair inves-timentos e desbravadores dispostos afincar raízes em áreas ainda inóspitas.Outrofatorquepesounanegociaçãofoiocompromissoqueacompradoraassu-miudeconstruiraestradadeferroquecortariatodaaregião,ligandoCambaráaGuaíra.(BONI,2004,p.32).
Negóciofechado,aCTNPdeuinício,em1929,aoprojetodecolonizaçãodaregiãonortedoestadodoParaná.Aprimeiraprovidênciafoienviarparalocalida-deumacaravana,maistardehistoricamentedenominadade “caravana dos desbravadores”, responsável por de-marcar as terras e começar a construir a infraestruturanecessáriaparaqueolocalpudessereceberseusprimei-roscompradoresdeterras.AcaravanaerachefiadaporGeorgeCraigSmith,brasileiro,filhodeingleses,àépocacom apenas 20 anos de idade, e trazia um engenheiro
agrimensor,orussoAlexandreRazgulaeff,eumauxiliardeagrimensura,SpartacoPrincipeBambi,brasileiro,fi-lhodeimigrantesitalianos.Apresençadosprofissionaisdaagrimensuraera imprescindível,poiseraprecisodarinícioaodemoradoeexaustivotrabalhodedemarcarasterrasadquiridas.Tambémcompunhamacaravanadoismateiros,AlbertoLoureiroeJoaquimBarbosa,emprei-teiros responsáveispelo iníciodaderrubadadamata epeloiníciodopreparodaterraocultivodelavouras.Porfim,umcozinheiro,ErwinFröhlich,eumauxiliardeser-viços,GeraldoPereiraMaia.
George Craig Smith, Alexandre Razgulaeff eSpartacoPrincipeBambipartiramdeOurinhos(SP)paraCambará(PR),dia20deagostode1929,emumcami-nhãoFordcarregadodeferramentas,arreios,utensíliosdomésticos emantimentos.EmCambará, conhecida àépocacomoa“bocadosertão”,acaravanafoireforçadapelostrabalhadoresbraçais(mateiros,cozinheiroeauxi-liardeserviços)eseguiu,novelhocaminhãoFord,atéJatahy(hojeJataizinho–PR),porumaestradadeterraque,detãoprecária,maispareciauma“picada”namata.Jataizinhoeraofimdalinha.DeláparaalocalidadeondecomeçavamasterrasdaCTNP(hojeLondrina),erapre-cisoatravessarorioTibagieseguiroscercade20quilô-metrosabrindopicadasafoiceefacãonamatafechadaque cobria a região.O transportede carga, apartirdeentão,passouaseremlombodecavaloseburros.Saíramde Jataizinho namadrugada de 21 de agosto de 1929.NofinaldomesmodiachegaramaolocalquebatizaramdeTrêsBocas,emrazãodastrêsnascentesdeáguaqueencontraram.
Descarregaramastralhas,amarraramosanimaise,imediatamente,começaramaabrirumapequenaclarei-ranamata,naqualconstruíramdoisranchosdepalmito,consideradosasprimeirashabitaçõesdeLondrina.Ge-orgeCraigSmithhaviatrazidoumacâmerafotográficaefezumatomadadaclareiracomosranchosdepalmito(Figura1).Estafotografiaéconsideradaumaespéciede“certidãodenascimento”deLondrina,poisfoiaprimei-ratomadanolocaldafuturacidade.
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Figura 1 –AprimeirafotografiadeLondrina
Fotografia:GeorgeCraigSmithFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Comachegadademaistrabalhadorescontrata-dos,aCTNPcomeçouacriarainfraestruturabásica,mí-nimanecessária,parareceberosinteressadosemcomprarterrasnaregião.Nestesentido,emumprimeiromomen-to,foiprecisoabrirumaestradadetransporterodoviá-rioentreJataizinhoeLondrina,com22quilômetrosdeextensão,parapossibilitar a chegadadoscompradores;construirumhotel,parahospedarealimentarosclienteseseusprópriosfuncionários(Figura2);econstruirumescritório,parageriroempreendimentoerealizarastran-saçõesimobiliárias.Emumsegundomomento,jácomavendade lotesemandamento,tantononúcleourbanoquantonazonarural,foiprecisodarprosseguimentoàsobrasdeinfraestruturae,principalmente,dotaronúcleourbanodealgunsserviços,comoabastecimentodeágua,transporteparadeslocamentos,fornecimentodeenergiaelétrica,estruturaçãodeserviçosdesaúdeeoutros.
Figura 2 –HotelCampestre,inauguradoemjaneirode1930
Fotografia:GeorgeCraigSmithFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Publicização da CTNP: o primeiro lance de sorte de Londrina com a fotografia
No inícioda colonização, fotograficamente fa-lando,Londrina– e,por extensão, toda a regiãonortedoestadodoParaná–teveseuprimeirolancedesorte.ACompanhiadeTerrasNortedoParanáprecisavapu-blicizarseuempreendimentonosestadosmaisdesenvol-vidosdopaísenoexteriorparaatrairinteressados.NoBrasil,elaqueriaatingirpotenciaiscompradoresdeterrasnosestadosdeSãoPaulo,RiodeJaneiro,MinasGeraiseBahia.Noexterior,notadamenteospaíseseuropeus.
Para publicizar o empreendimento, ela adotouafotografiacomoprincipalestratégiadeconvencimen-to.Ouseja,osagenciadores(vendedores)deterrasquecortavam o país oferecendo “oportunidades de bonsnegócios”nonortedoParaná levavamconsigoumál-bumcomfotografiasque“comprovavam”afertilidadedosolodaregiãoesuacapacidadederespostarápidaàslavouras,comaltíssimaprodutividade.Umadasprimei-rasfotografiasproduzidascomesteintuitofoiadeumafigueira branca, provavelmente centenária, cujo diâme-trodocauleeradetamanhadimensãoqueseriaprecisoumadezenadehomenscombraçosabertoseesticadosparaabraçá-la.Nesta fotografia (Figura3), tomadaporJoséJuliani,várioshomensempéousentadosnaparteexternadesuasraízesservemdereferênciaparaqueoleitortivesseumanoçãodamagnitudedaárvore.OutrafotografiabastanteutilizadanosálbunsdaCTNPfoiade umpioneiro, com indisfarçável ar de satisfação, se-gurandoduascabeçasderepolhodetamanhoacimadecabeçasde repolhonormais (Figura4). Imagenscomoestas, àépoca,eram“documentoscomprobatórios”dafertilidade do solo; eram um convite quase irrecusávelparainvestimentosnaregião.
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Figura 3 –Amagnitude da figueira branca atestava afertilidadedosolo...
Fotografia:JoséJulianiFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Figura 4 –....que,preparadoparaaslavouras,renderiaótimascolheitas
Fotografia:JoséJulianiFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Paraproduzir asprimeiras imagensde seusál-buns fotográficos, aCTNPcontratava fotógrafos,nor-malmentevindosdeSãoPaulo,paraaexecuçãodosser-viços.OprimeirodoscontratadosfoiTheodorPreising,fotógrafoalemão,queemigrouparaaArgentinaem1920,depoisdehavercombatidonaPrimeiraGuerraMundiale,em1923,trocouaArgentinapeloBrasil,tendosees-tabelecidocomofotógrafoevendedordeequipamentosfotográficosemSãoPaulo.Em1924começouaprodu-zir cartõespostaisdasprincipais cidadesbrasileiraseaqualidadeplásticadeseutrabalhochamouaatençãodosdiretoresdacolonizadora,queocontratouparaproduzirfotografias,“tipocartãopostal”,donortedoParaná.AsfotografiasdePreising,normalmenteretratandofamíliasinstaladasemsuasterras(Figura5)lavourasrecém-plan-
tadas e o resultado das primeiras colheitas (Figura 6),foramutilizadascomopeçaspublicitáriasparavenderaimagemdeumaregiãofértil,prósperae,principalmente,promissora. “A formação de lavouras acabou se trans-formandonograndenichopublicitário.Aterradaregiãoera,defato,muitofértileassimqueasprimeiraslavou-rascomeçaramaproduzir,aprodutividadeeaqualidadeencheramosolhosdossatisfeitosprodutores.”(BONI;SATO,2009,p.258).
Figura 5 – Famíliaemsuapropriedaderural,produzindocereais,frutaseverduras
Fotografia:TheodorPreisingFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Figura 6 –Resultadodacolheitademilho
Fotografia:TheodorPreisingFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Em suas visitas posteriores, Theodor Preisingfotografouaconstruçãodecasas residenciaisecomer-ciais,aaberturadeestradas,asbenfeitoriasemchácarasesítios,acriaçãodesuínosebovinose,sempre,osre-sultadosdecolheitas.Tudooquepudesserepresentaraspotencialidadesdaregiãoeserutilizadoparaacriaçãode umimagináriocoletivodepaz,segurançaeoportunida-
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desnonortedoParanáerafotografadoecriteriosamen-teutilizadocomoestratégiadepublicizaçãopelaCTNP,que,alémdaideiadeumnovoEldoradoedaoportuni-dadedeenriquecimentorápido,vendiasuaidoneidadeea segurança do empreendimento, totalmente desemba-raçadojudicialmente,como“garantia”debomnegócio.
OsvendedoressabiamqueaidéiadeumÉdenterrestreatrairia,afinaldecontas,compradores desejososde adquirir umfragmento do paraíso. [...] Sabiam osvendedores que, em um contexto davidanacionalpovoadodeconflitosso-bre questões de domínio, inclusive noParaná,agarantiadetítulosseguroseraumgrandeatrativoparapossíveiscom-pradores.(ARIASNETO,1998,p.29).
Garantia de segurança e a visãodoÉden.Eraexatamente isso que a CTNP queria passar para seuspotenciaiscompradores.Agarantia,pela idoneidadedaempresaepelosdocumentosemordemdoempreendi-mento;avisãodoÉden,pelasfotografiasproduzidases-pecificamenteparaestafinalidade.Ouseja,noprocessodedesbravamentoecolonizaçãodonortedoParaná,afotografia constituiu-se emumamídia de fundamentalimportância.
O segundo fotógrafo, contratado esporadica-mente,foioaustríacoHansKopp.Asinformaçõessobreesteimportantefotógrafoque,depoisdemuitaperegri-nação,radicou-seemRolândia(PR),ondefaleceueestáenterrado, eram poucas e, não raro, imprecisas. Entre2008e2009,CássiaMariaPopolin,entãoestudantedoMestradoemComunicaçãodaUniversidadeEstadualdeLondrina descobriu descendentes seus, que guardavamcaprichosamenteseusdocumentosepertencesfotográ-ficos(câmerasfotográficas, lentes,negativosdevidroeceluloseemuitasfotografiasimpressas).Apartirdeen-tão,ahistóriadeHansKoppeaimportânciadesuasfo-tografiasparaarecuperaçãohistóricadonortedoParanápassouaserrecontada,destafeitacomprecisão,exatidãodedetalhesedocumentaçãocomprobatória.Porém,asdatasdetomadadealgumasfotografiasaindacontinuamimprecisas.
A exemplo de Theodor Preising, Hans KopptambémhaviacombatidonaPrimeiraGuerraMundial,experiênciaqueimpulsionousuaemigraçãoparaoBra-sil,pois,duranteoconflito,alémdematar,passoupormuitas agruras e sofrimentos. Decidiu que não queria
issoparaseusfilhoseresolveuemigrarparaalgumpaísquenãoseenvolvesseemguerra.
Mas foi a Primeira Guerra Mundial(1914-1918)quemudouorumodesuahistória e marcou sua vida. Em 1917,foi convocado para participar da guer-ra.Comolança-chamas,viudepertoohorror:morte,destruiçãoefome.Comofimdaguerra,foi levadopresojuntocom outros soldados para um campodeconcentraçãona Itália.Enfrentouorigorosofrioeuropeueafome.Muitossoldados não resistiram e morreram.Todasasmanhãs,amesmacena:corposde soldados sendo recolhidos e enter-rados numa vala comum. (POPOLIN,2010,p.20).
HansKopp, alémde fotógrafo eramúsico,ouseja,suasensibilidadeeraduplamenteestimulada.Foiumgrandefotógrafodefamíliaecotidianoeumdocumenta-dor ímpardocrescimentodecidadesnorteparanaenses,especialmenteRolândia eLondrina,pelo fatodehaverintroduzidoo“registroaéreo”nadocumentaçãoicono-gráfica.Nãosetratavaespecificamentedefotografiaaé-rea,masdeumainovaçãosuapararegistrosaéreos.Elesubiaemárvoresparafazerastomadas.Pregavatábuasno caule para serviremde degraus, comouma escada.Noaltodaárvore,construíaumaplataformademadeiraparaapoiarotripéeacâmerafotográfica.Então,doalto,fazia seus “registros aéreos”. Foi uma inovação para aépoca.
Nãohámuitas fotografias suas disponíveis noMuseuHistóricodeLondrinaounoMuseuMunicipalde Rolândia. Infelizmente, boa parte de seus registrosforamentreguesaoscontratantesdeseusserviçoseseperderamcomotempo.OacervorecuperadoporCássiaPopolinrefere-semaisaoqueseconvencionouchamar“álbum de família”, riquíssimo, aliás.De suas imagensdeLondrina,provavelmenteasmaisreproduzidassejamduasvistaspanorâmicasdacidade,tomadasemmeadosdadécadade1930(Figuras7e8).Semconfirmaçãoofi-cial,tudolevaacrerqueessasduastomadastenhamsidofeitasdoaltodeárvores.
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Figura 7 –NúcleourbanodeLondrina,provavelmenteem1934
Fotografia:HansKoppFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Figura 8 – Vista panorâmica de Londrina, provavelmente
em 1935
Fotografia: Hans KoppFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Porém,semdúvida,omaisprodutivoeconhe-cido fotógrafo contratado pela CTNP para produzirimagensdecaráterdocumentalepublicitáriodoempre-endimentofoiJoséJuliani.VindodointeriordeSãoPau-lo,JulianichegouaLondrinaem11demarçode1933,entãocom37anosdeidade,casadoepaidecincofilhos.HaviaaprendidooofícioemNovaEuropa(SP),comumfotógrafoalemão,quelhevendeuoequipamentoaoseaposentardaprofissão.
JulianiveioparaLondrinaparatrabalharcomocarpinteiro,afinalacreditavaquehaveriamuitomaisde-mandaporconstruçãodecasasemumlugarqueestavacrescendo,queporfotografiaemumlugarondetodosestavam interessados em“fazer a vida” enão empre-servaramemória.Contudo,montouumestúdioemum
“puxadinho”emsuacasaeafixounaparedeexternaumletreiro:Photo Studio.Tãologohaviaafixadooletreiro,oacasocomeçouatrabalharaseufavor:
Em1933,oSr.ErnestRosemberg,en-genheiro da CTNP, precisava de umafotografiado saltodo ribeirãoCambe-zinho(nomeatual),queficanoParqueArthur Thomas (nome atual) para en-viar à Inglaterra.O escritório de Lon-drina havia solicitado a construção deumaturbinageradoradeenergiaelétricapara viabilizar, num primeiro momen-to,o fornecimentodeeletricidadeparao próprio escritório e as casas de seusdiretores.Os estudos para o empreen-dimento estavam sendo desenvolvidospelamatriz, emLondres, que solicitouumafotografiadosaltodoribeirãoparasaberdaviabilidade–ounão–dopro-jeto.(BONI,2004,p.253).
OfotógrafoquehaviasidocontratadoemSãoPauloparafazerestafotografianãocompareceunadatamarcadaeoengenheiroRosembergfoiavisadoporumauxiliarque,agora,haviaumfotógrafoemLondrina.Fo-ramaté a casade José Juliani epedirampara ele fazeroserviço.Elefoi,fezeagradou(Figura9).Apartirdeentão,aCTNPdeixoudebuscar fotógrafosemoutrascidadesepassouacontratarJulianiparasuas inúmerasdemandas.Nestecontexto,éinteressantenotaraimpor-tânciadeumafotografiaparaasoluçãodeumadúvida:LondrespediuumafotografiaparaavaliaraviabilidadeounãodeumprojetoemLondrina,dooutro ladodoOceanoAtlântico.
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Figura 9 –SaltodoribeirãoCambezinho,primeirotrabalhodeJulianiparaaCTNP,em1933
Fotografia:JoséJulianiFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Nesse momento, Londrina já era um eferves-cente núcleo urbano. No final de 1934 emancipou-secomo município e ganhou autonomia administrativa.Em decorrência dessa conquista política e econômica,váriasobrasdeinfraestrutura–partedecaráterpúblico,partede caráterprivado,pois a colonizadora ainda eraresponsávelporserviçosessenciaisfornecidosàcidade–foramcontratadaseisso,evidentemente,contribuiriademaneiraaindamaisdecisivaparaosucessodoempreen-dimentodaCTNP.Emoutraspalavras, seriaprudentedocumentartodaessaefervescênciaurbana,econômicae administrativa: inauguração de casas residenciais im-ponentes,decasascomerciais importantes,deagênciasbancárias,dehotéis,deserviçoscoletivos,daorganiza-çãodesegmentosdasociedade,devisitasdepolíticoseautoridadesdoestadoedopaís,enfimtudooquepu-desseserimageticamenteutilizadoparaaconstruçãodoimagináriocoletivoderegiãopróspera.
Assim,coubeaJoséJulianitransformar-se,porcontadosserviçosprestadosàCTNP,nomaiorfotógra-fo documentador das transformações urbanas e rurais
deLondrinaedonortedoParanáentreasdécadasde1930e1940,sejaocrescimentodonúcleourbano(Fi-gura10),ainstalaçãodenovasindústrias(Figura11)ouaorganizaçãopolíticadorecém-emancipadomunicípio(Figura12).
Figura 10 –VistapanorâmicadeLondrina,provavel-menteem1934
Fotografia:JoséJulianiFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Figura 11 –Sededeumanovamadeireira,comseus
veículosetrabalhadores,emLondrina
Fotografia:JoséJulianiFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
Figura 12 –PossedoprefeitoWillieDavids,em20dejaneirode1936
Fotografia:JoséJulianiFonte:AcervodoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss
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OpioneirismodeGeorgeCraigSmithempro-duzirasprimeirasimagensdeumaregiãoaindainóspita–naqualseriaplantadaeedificadaamaisimportanteci-dadedonortedoParaná–,paradocumentaraocupaçãoe desbravamento do empreendimento da CompanhiadeTerrasNortedoParaná;acompetênciadeTheodorPreisingemproduzirasprimeirasfotografiasdecaráter“publicitário”doempreendimento–ousadoepioneiro–parapublicizá-lonoBrasilenomundo;asaventurasdeHansKoppemproduzirimagenspanorâmicas“aéreas” einéditas,doaltodeárvores,paradocumentarocresci-mentodascidadesnonorteparanaense;oprofissiona-lismodeJoséJulianiemdocumentarastransformaçõesurbanaseruraisdeLondrinaeregiãoparaaprovaçãodeprojetos,relatóriosdegestãoepublicidadeduasdécadasda história de Londrina foram de fundamental impor-tânciaparapreservaçãodamemóriadacidadeedonortedoParaná e caracterizamoprimeiro lancede sortedafotografiaemLondrina.
Avidaeobradessesfotógrafos–esuasimpor-tantescontribuiçõesparaapreservaçãodamemóriadonortedoParaná–têmsidocontinuamenterecuperadasgraçasaesforçosdesprendidospelaUniversidadeEsta-dualdeLondrina,seja,pormeiodedoisdeseusprogra-masdepós-graduação,oMestradoemComunicaçãoeoMestradoemHistóriaSocial,sejapormeiodedoisdeseusórgãossuplementares,oMuseuHistóricodeLon-drinaPadreCarlosWeisseoCentrodeDocumentaçãoePesquisaHistórica(CDPH).Enãosemjustacausa,poisjáémoedacorrenteque“ahistóriadeLondrina–tantoquantoahistóriadamaioriadosmunicípiosbrasileiros,notadamenteosfundadosapartirde1840–nãoseriatãoconsistentesemosimportantesdocumentosiconográfi-cosrepresentadospelafotografia”.(BONI,2008,p.108).
Muitas das imagens da SegundaGuerraMun-dial, hojedisponíveis, especialmente asdos camposdeconcentraçãoedoholocausto,foramobtidasporqueosalemãeseraminstruídosarelataraevolução(eatrocida-des)desuamáquinadeguerraparaprestarcontas,pormeio de relatóriosminuciosamente detalhados e farta-mentedocumentadosfotograficamente,desuasaçõesaoIIIReich,emBerlim.Adocumentaçãodaevoluçãodoempreendimento daCTNP, longe de ser comparada àdisciplina alemãdeprestaçãodecontasdodesenvolvi-mentodaguerra,tambémfoidefundamentalimportân-ciaparaqueimagensdosprimórdiosdaregiãonortedoestadodoParaná,especialmentedeLondrina,pudessem,hoje,estardisponíveisparaestudantes,professores,pes-quisadoresehistoriadores.
Imigração estrangeira: o segundo lance de sor-te de Londrina com a fotografia
Osegundo–e importante– lancedesortedeLondrinacomafotografiadeu-seemrazãodesuacolo-nizaçãopor imigrantes estrangeiros.ACTNP tambémpublicizavaseuempreendimentonaEuropa,ondeman-tinhaescritóriosderepresentaçãoemdiversascapitais.Apublicidadeatingiaváriospaíseseuropeus,notadamenteAlemanha, Áustria, Espanha, Itália e Portugal, algunspaísesdoLesteEuropeuedoOrienteMédioe,timida-mente,aÁsia.NaÁsia,poroutrascircunstâncias,aopor-tunidadedecompradeterraschamouaatençãodosja-poneses.Explica-se:osprimeiroscompradoresdeterrasnonortedoParanáforamosimigrantesjaponesesquejáresidiametrabalhavamnaslavourasdecafédoestadodeSãoPaulo.Suaseconomias,noentanto,nãoeramsufi-cientesparacomprarumlotedeterrasnoestadovizinho,onde,emrazãodoelevadoníveldedesenvolvimentoospreçoserammuitoaltos,maseram,sim,suficientesparacomprarumbompedaçodeterrasnestenovoempreen-dimento.Foramessesprimeiroscompradoresjaponesesos principais responsáveis pela divulgação do projetono Japão,pormeiodecorrespondênciascomparenteseamigos.
Nosprimeirosanosdesuacolonização,deinícioameadosdadécadade1930,onortedoParaná,recebeuimigrantesdemaisde20diferentesnacionalidades.Al-gunsfugiamdapobrezadeseuspaísesdeorigem,muitosfugiamdaperseguiçãoqueAdolf Hitlerhaviadesenca-deadocontraosjudeus,outrosfugiamdosconflitosqueestavamporestourar,comoaGuerraCivilEspanholaeaSegundaGuerraMundial.UmrelatóriodaCTNP,comosdadosdevendadelotesentre1930e1935demonstraopredomíniodapresençaestrangeiranacolonizaçãodaregião(Gráfico1).
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Gráfico 1–VendadelotesdeterraspelaCTNPde1930a1935
Demeadosdadécadade1930aofinaldadécadade 1940, em razão da eclosão de grandes conflitos naEuropa,inclusivecomoenvolvimentodaÁsia,porumlado,edapazeprosperidadequeoempreendimentobri-tânicorepresentavanonortedoParaná,poroutrolado,o número de imigrantes estrangeiros cresceumuito.ACTNP,sabendodavontadeoudanecessidadedeemi-grar,desenvolviaestratégiasparaatrairalemães,italianos,japonesesejudeusquedesejassemfugirdafome,perse-guiçõeseconflitoseseradicaremnonortedoParaná.
Comoaemigraçãodealemãeseracrescentedes-deaascensãodeHitleraopoder,em1933–eseacen-tuoucomo iníciodoconflitomundial–, aAlemanha,paraevitaroêxodo,proibiuasaídadopaíscomgrandessomas em dinheiro ou jóias. Isso, claro, provocou umarrefecimentonoprocessoemigratório.Porém,aCTNPencontrouumabrechanaleiproibitivaepassouaofere-cerpermutaaosalemãesdispostosavirparaonortedoParaná:elescomprariam–epagariam–naAlemanha,trilhos e parafusos que a colonizadora precisava paraconstruiraestradadeferroquecortariaonortedoPa-ranánosentidoleste-oeste.Ovalorqueosinteressadosgastassemnacompradessesprodutosseriatransforma-doemterrasnoempreendimento.ACTNPserespon-sabilizavapelaretiradaeotransportedessasmercadoriasdaAlemanha para Londrina.Assim, os alemães pode-riamemigrardaAlemanhacomopouquíssimodinheiroque a lei permitia que, ao chegarem a Londrina, rece-
beriamsuasterrascomosdocumentosdepropriedadedevidamenteregularizados.
Atéachegadadosestrangeiros,onortedoPa-ranávinhasendohabitadoporpessoaspouco letradas,umamaioriadeanalfabetoscontratadaparaostrabalhosbraçaisnocampo(derrubadadematasepreparodosoloparaoplantio lavouras)ounúcleourbano (construçãocivil)daslocalidadesquesurgiam.Nestesentido,oses-trangeirosrepresentaramumganhoeducacional,culturaleprofissionalparaaregião,poisvinhamdeseuspaísesde origem educacionalmente formados, culturalmentetalhadoseprofissionalmentequalificados.Nenhumaes-tranheza,portanto,emsaberqueasduasprimeirasesco-lasconstruídasemLondrinaforamasdascolôniasalemãeajaponesa.
Como os estrangeiros chegavam profissional-mente qualificados, coube a eles o exercício de deter-minados ofícios hoje conhecidos como prestação deserviços.Entreeles,paraa sortedamemóriaedahis-tóriadeLondrinaeregião,oofíciodefotógrafo.Váriosfotógrafos estrangeiros se estabeleceram profissional-mente emLondrina e cidades vizinhas, principalmentealemãese japoneses,entreelesCarlosStender(alemão,estabelecido emLondrina, comoFotoEstrela), Sueji-roYasunaka (japonês, estabelecidoemLondrina, suce-deuCarlos Stender no FotoEstrela),Antonio José deMello(espanhol,estabelecidoemLondrina,comoFotoMello),MinesoMatsuo(japonês,estabelecidoemLon-drina,comoFotoNippon),HaruoOhara(japonês,fo-tógrafoamador,cujoacervo,hoje,éadministradopeloInstitutoMoreiraSalles),ArthurAdolphoEidam(filhode imigrantes alemães, estabelecidoemCambé, comoFoto Arthur), Hans Kopp (austríaco, estabelecido emRolândia,comoFotoElegância)eoutrosqueestãosen-dopesquisadosparaaproduçãodeumlivro,cujotítuloseráFotógrafos pioneiros.
O fato de haver fotógrafos estabelecidos emum lugar onde a prioridade era “vencer”ou, nomíni-mo, “sobreviver” economicamente, foi imprescindívelparagarantirosregistrosdefamília,doseventossociais(principalmentefestasreligiosasepopulares,casamentoseformaturas),docotidianoedodesenvolvimentodaci-dade(construções,reformas,ampliações,inaugurações).Mesmoproduzidosemessaintenção,edecarátermaisindividualquecoletivo,osregistrosfotográficosdospri-meirosanosdonortedoParanásão,hoje,desumaim-portânciaparaarecuperaçãodedadoshistóricosepre-servaçãodamemóriadaregião.“AhistóriadeLondrina–tantoquantoahistóriadamaioriadosmunicípiosbra-sileiros,notadamenteosfundadosapartirde8140–não
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seria tão consistente sem os importantes documentosiconográficos representados pela fotografia.” (BONI,2008,p.107).
Esse segundo lancedesortedeLondrinacomrelaçãoàfotografia–ofatodetambémhaversidocolo-nizadaporimigrantesestrangeiros–ganharelevânciasecompararmosariquezaimagéticadoiníciodesuacolo-nização(décadade1930)comapobrezadocumentaldemunicípiosmaisrecentes,quandoasfacilidadesdefoto-grafarerammuitomaioreseoscustosmuitomenores.AlgunsmunicípiosdonortedoestadodeMatoGrosso,comoSinop,AltaFlorestaeSorriso,porexemplo,cercade 40 anosmais novos que Londrina, possuemmuitomenos documentos iconográficos de seus primórdios.Omotivo?Ésimples.Elesnãoforamcolonizadoscomobjetivos de fixação de residência pelos compradoresdeterras,massimabertoscomoexpansãodasfrontei-rasagrícolasparaexploraçãocomercial.Osinvestidoreschegavam,tomavampossedasterras,desmatavam,pre-paravamosolo,plantavam,colhiam,vendiam,lucravam,plantavamnovamenteeassimsucessivamente.Nãoha-viapreocupaçãoemgerarregistrosparaapreservaçãodamemória.A prioridade era lucrar. Sinop, por exemplo,éasigladeSociedadeImobiliáriaNortedoParaná,ouseja,iniciativadeumgrupodeagricultoresparanaensesinteressadosemexpandirsuasfronteirasagrícolas.
Considerações finaisLondrina,nonortedoestadodoParaná,como
tantasoutrascidades,utilizaafotografiapararecuperardadoshistóricos,preservaramemóriaedemocratizarosconhecimentos sobre suahistória.Noentanto, emseuprocessodecolonização,Londrinapassouporduaspe-culiaridadesquepodemserconsideradascomolancesdesortedacidadecomrelaçãoàfotografia.
OprimeirolancedesortefoianecessidadedeaCompanhiadeTerrasNortedoParanápublicizaroem-preendimento imobiliário quedeflagrouoprocessodecolonizaçãononortedoParaná,paraatrairinvestidorespara uma região ainda inóspita.Para tanto, usou farta-menteamídiafotografiacomoestratégiadepublicidade.Nestesentido,eparaeste intuito,contratoufotógrafosparaaproduçãodefotografiasque“vendessem”aserie-dadedoempreendimento,asensaçãodesegurançaparaoinvestidor(poistodososdocumentosestavamjudicial-mentedesembaraçados) e,principalmente, a fertilidadedosoloesuaprontarespostaaoplantiodelavouras,comaltíssimaprodutividade.Daproduçãodefotografias,emumprimeiromomento,comfinalidadepublicitária,res-
taram centenas de registros que documentam todas asetapasdosprimórdiosdeLondrina.
Osegundolancedesortefoiavindadeimigran-tesestrangeirosnoiníciodeseuprocessodecolonização.Normalmentefugindodapobreza,perseguiçõesétnicasoureligiosas,oudeconflitosemseuspaísesdeorigem,essesimigranteschegavamcomqualificaçãoprofissionalpara o exercício de ofícios específicos, entre eles o dafotografia.Graças a eles, serviços fotográficos sempreforamumaconstanteemLondrina.Mesmoconsideran-doasespecificidadesdasdemandas,maisindividuaisquecoletivas, eles produziram registros familiares e sociaisimportantíssimosparaarecuperaçãodamemóriaecons-truçãodahistóriadacidadeeregião.
Essesdois lancesde sorte, portanto, contribu-íramdecisivamenteparaaproduçãodefartadocumen-taçãodoiníciodacolonizaçãodeLondrinaedeoutrascidadesdonortedoestadodoParaná.Muitosdessesdo-cumentosimagéticosestãodisponíveisparapesquisaeminstituiçõespúblicas,principalmenteoMuseuHistóricodeLondrinaPadreCarlosWeiss.Outrostantosestãoemprocessodehigienização,catalogaçãoedigitalizaçãopelomuseueposteriormentetambémserãodisponibilizados.Afotografiatemsidoumamídiafundamentalparapes-quisadores somarem conhecimentos no processo deconstruçãohistóricadacidadedeLondrinaedaregiãonortedoestadodoParaná.
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Recebido:13/04/2013Aprovado:02/05/2013