A HISTÓRIA E O FUTURO DA MISSÃO DE CRISTIANISMO DECIDIDO

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HARTMUT WOLFGANG ZIEGLER

A HISTRIA E O FUTURO DA MISSO DE CRISTIANISMO DECIDIDO: EM BUSCA DE CAMINHOS PARA UM FUTURO CONTEXTUALIZADO.

LONDRINA

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2004 HARTMUT WOLFGANG ZIEGLER

A HISTRIA E O FUTURO DA MISSO DE CRISTIANISMO DECIDIDO: EM BUSCA DE CAMINHOS PARA UM FUTURO CONTEXTUALIZADO. Dissertao apresentada em cumprimento s exigncias do curso de Doutorado em Ministrio da Faculdade Teolgica Sul Americana sob a orientao do Professor Jorge Henrique Barro.

LONDRINA

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2004

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DEDICATRIA minha esposa Liesbeth, por sua pacincia e seu amor!

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AGRADECIMENTOS Ao meu companheiro da Misso de Cristianismo Decidido Manfred Weidt, pelas horas de reflexo em conjunto. Ao mestre e companheiro Jorge Henrique Barro, pelos anos de caminhada primeiro em Rolndia e depois na FTSA. minha igreja Landeskirchliche Gemeinschaft em Lauf na Alemanha que acolheu h 30 anos um jovem sem rumo.

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RESUMO ZIEGLER, Hartmut Wolfgang. A histria e o futuro da Misso de Cristianismo Decidido: em busca de caminhos para um futuro contextualizado. Londrina, 2004. 110 p. (Dissertao de Doutorado em Ministrio Faculdade Teolgica Sul Americana). Pesquisa o passado da Misso de Cristianismo Decidido para ver a sua origem teolgica, seu contexto social e eclesistico e as circunstncias da sua fundao. Busca informaes sobre os movimentos que influenciaram a fundao da Misso de Cristianismo Decidido e o pensar teolgico dos fundadores. V o incio do trabalho e o desenvolvimento durante os mais que 70 anos do trabalho da Misso no Brasil. Analisa os relacionamentos da Misso com outras organizaes. Pesquisa atravs de um questionrio o modo como os missionrios foram enviados da Alemanha e como foram treinados para o ministrio no Reino de Deus especificamente no contexto cultural brasileiro e como os colegas brasileiros enxergam os missionrios nos seus relacionamentos no Brasil. Interpreta e cruza as informaes recebidas pelos questionrios dos colegas brasileiros com as informaes dos questionrios dos missionrios para descobrir as reas que precisam de aperfeioamento e adequao no preparo, na filosofia e na estratgia da Misso de Cristianismo Decidido. Levanta a base teolgica dos missionrios e da Misso com o objetivo de propor uma Filosofia de Ministrio para o futuro trabalho da Misso. Levanta a situao atual da Misso com os trabalhos que esto sendo realizados e as parcerias que existem. Resume toda pesquisa e oferece propostas para a revitalizao da Misso de Cristianismo Decidido, especialmente na rea de treinamento dos missionrios para atuar em equipes multinacionais em situaes transculturais. Orientador: Dr. Jorge Henrique Barro 227 palavras

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SUMRIO CAPA FOLHA DE ROSTO DEDICATRIA AGRADECIMENTOS RESUMO SUMRIO INTRODUO CAPTULO I O CONTEXTO HISTRICO DA MISSO DE CRISTIANISMO DECIDIDO 1. O contexto histrico geral na Alemanha ......................................................................12 1.1. A influncia do movimento pietista dos sculos 19 e 20 ......................................12 1.2. A fundao do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband .................................12 1.3. O crescimento do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband ............................14 1.4. Trabalhos do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband no exterior .................14 1.5. As comunidades do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband .........................15 1.6. Trabalhos missionrios do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband no exterior 1.7. A Misso de Folhetos do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband ................16 2. O contexto especfico no Brasil....................................................................................17 2.1. O contexto no estado Paran .................................................................................18 2.2. O comeo do trabalho da Marburger Brasilien Mission .......................................21 3. A estrutura da Marburger Brasilien Mission ................................................................22 4. O comeo do trabalho eclesistico ...............................................................................22 4.1. O trabalho dos missionrios Sigismund Jesse e Arthur Melzer ...........................22 4.2. A Igreja de Cristianismo Decidido ........................................................................24 4.3. O envio de outros missionrios .............................................................................25 5. A Segunda Guerra Mundial mudou os objetivos da Marburger Brasilien Mission .....26 6. As irms diaconisas no Brasil ......................................................................................27 6.1. As diaconisas e os missionrios ............................................................................28 6.2. As diaconisas, a assistncia social e misses ........................................................29 6.2.1. Voltar-se para Deus significa tambm voltar-se para o ser humano ..................30 6.2.2. Vida espiritual (misses) e engajamento social no podem ser divididos .........31 6.2.3. Engajamento em trabalhos sociais misses .....................................................32 6.3. A casa matriz Betnia no Brasil ............................................................................33 7. A igreja brasileira Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido .......................34 7.1. A situao depois da Segunda Guerra Mundial ....................................................34 7.2. Os missionrios ajudam a Alemanha ....................................................................35 7.3. Preliminares da fundao da Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido ..35

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7.4. A permisso para fundar a Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido .....35

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8. A Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido e os missionrios .......................36 9. A Misso de Cristianismo Decidido ............................................................................38 10. O treinamento dos missionrios ...................................................................................44 10.1. A lista dos missionrios enviados pela Marburger Blttermission .....................45 10.2. O treinamento dos missionrios enviados na poca da Marburger Blttermission 10.3. A lista dos missionrios enviados pela Marburger Brasilien Mission ................47 10.4. O treinamento dos missionrios enviados na poca da Marburger Brasilien Mission ...............................................................................................................................48 10.5. A lista dos missionrios enviados pela Marburger Mission ................................49 10.6. O treinamento dos missionrios enviados na poca da Marburger Mission .......50 11. Conflitos entre missionrios .........................................................................................50 CAPTULO II O PREPARO TRANSCULTURAL DOS MISSIONRIOS DA MARBURGER MISSION 1. O questionrio para missionrios .................................................................................53 1.1. Explicaes a respeito do questionrio .................................................................53 1.2. Motivos e objetivos do questionrio .....................................................................54 1.3. Quem recebeu o questionrio para missionrios ...................................................54 1.4. Retorno do questionrio ........................................................................................54 1.5. Sistematizao, anlise e apresentao das respostas ...........................................55 1.5.1. Identificao .................................................................................................55 1.5.2. A igreja ou agncia que o/a enviou .............................................................55 1.5.3. Informaes escolares e profissionais ..........................................................58 1.5.4. Informaes sobre a carreira missionria .....................................................60 1.5.5. Os primeiros dois anos no Brasil ..................................................................61 1.5.6. A vida familiar .............................................................................................63 1.5.7. A convivncia com outros missionrios .......................................................65 1.5.8. Convivncia com colegas brasileiros ...........................................................66 1.5.9. Futuro ...........................................................................................................67 1.5.10. Concluso geral da interpretao ...............................................................69 2. Questionrio para brasileiros .......................................................................................69 2.1. Explicaes a respeito do questionrio .................................................................69 2.2. Motivos e objetivos do questionrio .....................................................................70 2.3. Quem recebeu o questionrio para colegas brasileiros .........................................70 2.4. Retorno dos questionrios .....................................................................................70 2.5. Sistematizao, anlise e apresentao das respostas ...........................................70 2.5.1. Geral e liderana ..........................................................................................70 2.5.2. O preparo do colega missionrio ..................................................................71 2.5.3. A vida familiar do colega missionrio .........................................................73 2.5.4. O colega missionrio e a cultura ..................................................................74 2.5.5. O colega missionrio e a agncia .................................................................74 2.5.6. Concluso geral da interpretao .................................................................75 3. Cruzamento das informaes e concluses do questionrio dos brasileiros com o questionrio dos missionrios ......................................................................................75 3.1. Os missionrios e a agncia/igreja enviadora .......................................................75

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3.2.

O preparo dos missionrios ...................................................................................76 3.3. A vida familiar dos missionrios ...........................................................................76 3.4. A convivncia com outros missionrios ................................................................76 3.5. A convivncia com colegas brasileiros .................................................................76 3.6. O futuro .................................................................................................................77 CAPTULO III A BASE TEOLGICA DA MARBURGER MISSION E DA MISSO DE CRISTIANISMO DECIDIDO 1. Theophil Krawielitzki e a sua teologia ........................................................................78 1.1. Salvao de almas a doutrina da converso .......................................................80 1.1.1. A converso indispensvel ......................................................................80 1.1.2. A marca dos convertidos ............................................................................81 1.1.3. O autor da converso ..................................................................................82 1.2. Santificao a doutrina da santificao dos crentes ...........................................83 1.2.1. A converso o comeo da santificao ....................................................83 1.2.2. A santidade de Deus a base da santificao ............................................83 1.2.3. Cristo a nossa santificao ......................................................................84 1.2.4. Santificao um processo constante de crescimento ...............................84 1.2.5. O cristo maduro e santificado ...................................................................85 1.2.6. Santificao no uma segunda bno ...................................................85 1.3. Preparo dos crentes para o ministrio ...................................................................86 1.3.1. Instruo e educao ..................................................................................86 1.3.2. Aconselhamento .........................................................................................87 1.3.3. Equipamento ..............................................................................................87 1.3.4. Avivamento espiritual ................................................................................88 2. A teologia da diaconia ..................................................................................................89 2.1. Diaconia conforme a Palavra de Deus ..................................................................90 2.2. Diaconia servio completo .................................................................................91 2.3. Diaconia significa fazer a vontade de Deus ..........................................................91 2.4. Diaconia no o escravo dos necessitados ...........................................................92 2.5. Diaconia realiza-se na dependncia de Cristo .......................................................92 2.6. Diaconia servio para os irmos .........................................................................92 2.7. Diaconia acontece conforme os dons recebidos ....................................................92 2.8. Diaconia objetiva o homem inteiro .......................................................................93 3. A teologia da Marburger Mission ................................................................................93 CAPTULO IV O CONTEXTO ATUAL DA MISSO DE CRISTIANISMO DECIDIDO 1. Os trabalhos da MCD ...................................................................................................94 1.1. Trabalhos eclesisticos ..........................................................................................94 1.1.1. Igrejas brasileiras ...........................................................................................94 1.1.2. Igrejas indgenas ............................................................................................94 1.1.3. Outras igrejas .................................................................................................95 1.2. Trabalhos de assistncia social ..............................................................................95

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1.2.1. Rio das Cobras ...............................................................................................95 1.2.2. Rio da Lebre ..................................................................................................95 1.2.3. Queimadas ......................................................................................................96 1.3. Parcerias com organizaes de assistncia social .................................................96 1.3.1. Acridas (Associao Cristianismo Decidido de Assistncia Social) ...............96 1.3.2. Cervin (Centro de Reabilitao Vida Nova) ....................................................96 2. A estratgia da MCD ........................................................................................................96 3. Avaliando a estratgia da MCD .......................................................................................98 CAPTULO V CONCLUSES E PROPOSTAS 1. Resultados do estudo ....................................................................................................99 2. Propostas para o futuro da MCD e a MM ..................................................................100 2.1. O relacionamento missionrio e agncia/igreja enviadora precisam de definies e compromissos mais claros ..........................................................................................100 2.2. Preparo missionrio contextualizado para as exigncias de misses modernas .101 2.3. As famlias dos missionrios merecem um preparo especfico para a vida na cultura do povo alvo ...................................................................................................101 2.4. Os missionrios precisam de um preparo para atuar em equipes multiculturais 101 2 2.5. Forma de organizao .........................................................................................102 2.6. Proposta de Filosofia Bblica de Ministrio ........................................................102 2.6.1. Proposta de uma FBM para a MCD ..............................................................102 2.6.2. Proposta de uma FBM pessoal de um missionrio ........................................104 2.6.3. Proposta de uma FBM para uma igreja no contexto da MCD .......................106 ANEXOS Anexo 1: Estatuto da MCD Anexo 2: Estratgia da MCD Anexo 3: Organograma da MCD Anexo 4: Diagrama dos missionrios ativos da MCD Anexo 5: Lista dos scios da MCD Anexo 6: Mapa do Paran com as igrejas indgenas Anexo 7: Questionrio para missionrios Anexo 8: Questionrio para colegas brasileiros BIBLIOGRAFIA

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INTRODUO O assunto que gostaria de tratar nesta dissertao surgiu da experincia vivida como missionrio da Marburger Mission e da Misso de Cristianismo Decidido. A Marburger Mission j uma agncia missionria antiga no Brasil. Ela realiza os seus ministrios no pas desde 1932, e suas razes na Alemanha alcanam at o sculo XIX. Os primeiros missionrios vieram para o Brasil para atender necessidades de imigrantes alemes no Brasil o que, depois, tornou-se um trabalho missionrio mais amplo. O comeo aconteceu no mbito da Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil, isso por causa da mesma procedncia. No decorrer dos anos, os trabalhos da Marburger Mission desenvolveram-se de uma maneira diferente dos trabalhos da Igreja Luterana e assim surgiu um trabalho missionrio eclesistico direcionado para o povo brasileiro. Em 1947 foi fundada a Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido para dar um teto s igrejas ento j organizadas. A partir da dcada de 1970, a Marburger Mission, atravs de um dos seus missionrios, envolveu-se em um trabalho indgena junto ao povo Kaingang e mais tarde tambm com o povo Guarani. Esses trabalhos, aos poucos, foram crescendo e tomando grande espao dentro do trabalho geral da Marburger Mission. Mais tarde, na dcada de 1980, surgiram trabalhos de assistncia social, como, por exemplo, um centro de recuperao para dependentes de drogas e um trabalho com crianas em situaes de risco. No tempo de 1932 at 1989, a Marburger Mission cresceu abraando e envolvendo todos os ministrios, trabalhos e obras que surgiram no seu contexto. Isto, em relao a igrejas e obreiros e pastores nacionais brasileiros, trabalhos de cunho social e seus respectivos obreiros, o trabalho indgena e seus obreiros e funcionrios e um lar de retiros com os seus

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funcionrios e obreiros. Deste modo, a Marburger Mission tinha em 1989 mais obreiros e funcionrios brasileiros do que missionrios no Brasil.

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Nessa mesma poca surgiu a idia de que, para um desenvolvimento saudvel dos trabalhos, seja necessrio separar os obreiros e funcionrios nacionais dos missionrios alemes e os trabalhos missionrios dos trabalhos que devem ser realizados por obreiros, pastores e funcionrios nacionais. E assim foi feito. Os obreiros nacionais continuaram os seus trabalhos, igrejas e o lar de retiros, sob o teto da Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido, e os missionrios fundaram a Misso de Cristianismo Decidido para poderem continuar seus trabalhos nesta forma de organizao. As duas organizaes comearam a desenvolver os seus trabalhos independentes uma da outra. Nos primeiros anos depois da diviso, a cooperao entre ambas as organizaes foi regulamentada atravs de termos de cooperao, convnios e diversos outros documentos e atravs de uma decrescente ajuda financeira para a Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido. A partir dos ltimos cinco anos, apenas uma parceria informal entre as diretorias das duas organizaes tem continuado. Isto porque grande parte das Igrejas de Cristianismo Decidido com os seus pastores ingressou numa linha teolgica no dividida pela maioria dos missionrios. Outro fator importante que diversos missionrios voltaram para a Alemanha ou se aposentaram nos ltimos anos e a Marburger Mission no conseguiu enviar missionrios novos para substituir aqueles que tinham sado de uma ou outra maneira do campo missionrio. Assim, por falta de obreiros, os missionrios restantes no conseguiram e no conseguem realizar os seus ministrios de uma forma adequada e necessria, e trabalhos missionrios novos no so realizados porque a administrao dos trabalhos antigos ocupa toda a fora dos missionrios. Para mudar este quadro precisa-se de mais obreiros. Mas, de uma parte dos missionrios sente-se uma certa resistncia ao trabalho outra vez com obreiros nacionais e, tambm, no existe ainda uma estrutura definida, para uma parceria entre obreiros nacionais e missionrios. Numa poca e numa sociedade globalizada e multicultural, na qual, na sociedade civil, na indstria, na poltica e no comrcio surgem permanentemente novas equipes e trabalhos multinacionais, importante que a misso, no caso a Marburger Mission atravs da Misso de Cristianismo Decidido embarque neste mesmo caminho. Um propsito desta dissertao achar caminhos que possibilitem e facilitem a cooperao e a convivncia de missionrios e obreiros nacionais

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Nesta dissertao tambm quero pesquisar a histria da Misso de Cristianismo Decidido, de onde ela vem, como a sua histria influncia o trabalho no Brasil e como os missionrios foram preparados. Gostaria de analisar os relacionamentos vividos entre missionrios da Misso de Cristianismo Decidido e colegas brasileiros. E finalmente, gostaria de fazer propostas de revitalizao, de treinamento para missionrias e de estratgias para uma cooperao e convivncia de missionrios e obreiros nacionais.

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CAPITULO I: O CONTEXTO HISTRICO DA MISSO DE CRISTIANISMO DECIDIDO 1. O contexto histrico geral na Alemanha Neste captulo gostaria de apresentar o contexto histrico da Marburger Mission (Misso de Marburgo). Para elaborar este captulo estou me baseando em literatura que relata a histria do pietismo alemo e do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband (DGD -Associao alem de comunidade e diaconia) e em livros que foram lanados nos jubileus de 25, 50 e 75 anos do DGD que o fundador da Misso de Marburgo e nos relatrios anuais da mesma organizao de 1931-1938.1 1.1. A influncia do movimento pietista dos sculos 19 e 20: O Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband fruto do Pietismo alemo. Na Alemanha oriental desenvolveu-se uma forma do pietismo, que sofreu influncias angloamericanas numa maneira mais forte do que nas outras partes da Alemanha.2 Essa forma do pietismo foi caracterizada por uma forte acentuao da santificao, da distncia da igreja (estatal organizada) e de um ensino da escatologia. Esses extremos, aos olhos da igreja oficial estatal3, tornaram-se pontos de conflito no mundo evanglico da poca. 1.2. A fundao do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband

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Muitos textos usados neste trabalho existem apenas na lngua alem. As tradues so feitos pelo autor da dissertao. 2 Norbert SCHMIDT, Von der Evagelisation zur Kirchengrndung: Die Geschichte der Marburger Brasilienmission, p. 7 3 Igreja oficial estatal: a igreja organizada recebendo parte dos impostos levantados pelo estado. As faculdades teolgicas so faculdades nas universidades federais.

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O relato da histria do DGD importante porque o DGD a organizao que se tornou fundador da Misso de Marburgo para o Brasil e depois da Marburger Mission.

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Os lderes do movimento pietista da Alemanha oriental reclamavam muito da falta de conceitos claros de converso e do novo nascimento dentro da igreja oficial. Eles no queriam confiar seus jovens a essa igreja porque j tinham feito a experincia de que esses jovens, depois de terem ingressado nos trabalhos estabelecidos da igreja, como seminrios, universidades e casas de diaconisas4, tinham perdido a sua f viva. Por isso fundaram uma casa de irms para as moas do movimento e fizeram isso independentemente da igreja oficial. Os lderes desta casa, a qual comeou com quatro moas, fundada em 20 de outubro de 1899, foram Blazejewski e a sua esposa. O lugar onde iniciou-se o trabalho foi a casa pastoral na cidade de Borken onde Blazejewski era pastor. Mas, Blazejewski veio a falecer no ano de 1900, menos de um ano depois da fundao do trabalho. Logo depois, Theophil Krawielitzki assumiu o trabalho. A viva do pastor Blazejewski, as at ento j oito moas e os 3 filhos da viva mudaram para a casa pastoral na cidade de Vandsburg onde Krawielitzki era pastor. Krawielitzki assumiu o pastorado da cidade de Vandsburg no ano de 1894. Ele mesmo nasceu numa famlia crist, o pai tambm era pastor. Mas ele no conhecia o movimento das comunidades, o qual desenvolveu um cristianismo vigoroso naquela regio da Alemanha. Na cidade de Vandsburg existia uma comunidade pietista e Krawielitzki veio a conhecer os irmos da comunidade nos seus cultos e estudos bblicos. Um ferreiro, em especial, que viveu a sua f com uma dedicao profunda e tinha um grande conhecimento da Palavra de Deus impressionou muito o pastor. Assim, mais ou menos um ano depois que assumiu a igreja, antes de um estudo bblico, o pastor ajoelhou-se no escritrio e entregou a sua vida ao Senhor, para da em diante, como propriedade do Senhor, servir e viver para ele.5 Desse jeito, o pastor que tinha recebido do seu pastor regional (superintendente) a tarefa de lutar contra os hereges pietistas, assim foram chamados os irmos das comunidades, tornou-se um deles, e Deus realizou grandes obras atravs da vida dele, porque a partir da sua converso o seu relacionamento para com os irmos mudou e ele se tornou um deles. No decorrer dos prximos anos Krawielitzki fundou diversas outras casas de irms e tambm uma casa para irmos, com o nome de Tabor na cidade de Marburg.

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Diaconisa No contexto da Alemanha uma forma de ministrio eclesistico para mulheres. Caractersticos para esse ministrio so casas matrizes nas quais as irms diaconisas vivem juntas. 5 Hans von SAUBERZWEIG, Er der Meister, wir die Brder Geschichte der Gnadauer Gemeinschaftsbewegung, p. 338-339

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Para essas casas de irms foi desenvolvido um regulamento no qual foram manifestos os objetivos que as comunidades tinham e tm. Aqui quero mencionar apenas algumas regras: - O fundamento do trabalho somente a palavra de Deus - O alvo do trabalho das irms ganhar almas - Condio para ingressar na irmandade a converso e a certeza do chamado - O trabalho acontece pela f. Dvidas no podem ser feitas Assim, duas caractersticas do DGD6 tornam-se visveis j a partir do comeo do trabalho: primeiro, a santificao que se baseia na converso pessoal do cristo e por segundo, o nico grande alvo da organizao, que era ganhar almas7. 1.3. O crescimento do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband Cinco anos depois da sua fundao o DGD j tinha 120 irms diaconisas envolvidas no trabalho. No ano 1907, quando j tinha mais que 200 irms, Krawielitzki fundou uma segunda casa na cidade de Marburg e um ano depois mais uma casa na cidade de Gunzenhausen e, no mesmo ano, a casa de irmos chamada Tabor, tambm na cidade de Marburg. Logo depois da Primeira Guerra Mundial, fundou uma casa na cidade de Elbingerode para abrigar as diaconisas, que perderam a casa matriz em Vandsburg durante a guerra. Depois da Segunda Guerra Mundial foram fundadas mais duas casas para irms, uma na cidade de Lemfrde e outra na cidade de Lachen. No auge da sua existncia entre as duas guerras e no tempo depois da Segunda Guerra Mundial, o DGD recebeu mais que 100 alunas de diaconisas por ano. Assim chegou a ter em torno de 3000 diaconisas8 envolvidas na obra de Deus na Alemanha, nos pases vizinhos e no mundo inteiro. A maior das casas hoje a casa de irmos Tabor que se chama agora Studien- und Lebensgemeinschaft Tabor (Comunidade de estudos e de convivncia Tabor) com mais ou menos 1000 scios (Pastores e esposas so contados separadamente). 1.4. Trabalhos do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband no exterior: Os trabalhos no exterior foram organizados conforme a legislao do pas no qual se situam, de certa maneira independente da sede na Alemanha. No ano de 1925 comeou um trabalho em forma de uma casa matriz na Suia.6 7

A partir de agora vou abreviar DGD Norbert SCHMIDT, op. cit., p. 8 8 Erich GELDBACH Hrsg. und andere, Evangelisches Gemeinde Lexikon, p.120

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J em 1933 iniciou-se um trabalho entre os imigrantes alemes nos Estados Unidos da Amrica e foi fundada uma casa matriz que hoje mantm trabalhos nos EUA e no Canad. Em 1935 foi fundada uma casa matriz na Holanda. Depois da Segunda Guerra Mundial comearam trabalhos no Japo e, em 1980 foi fundada a casa matriz no Brasil. Alm desses surgiram trabalhos tambm na ustria. 1.5. As comunidades do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband Nos anos depois da fundao do DGD, atravs dos esforos das centenas de irms diaconisas e dos irmos de Tabor, que at hoje so chamados de pregadores, formaram-se muitas comunidades de pessoas que se converteram a Cristo e queriam viver em comunho com irmos. Norbert Schmidt escreveu: Conforme os princpios da organizao, que queria que todo esforo devia cooperar principalmente para a salvao de almas, uma grande porcentagem das diaconisas foi enviada para trabalhos evangelsticos, primeiro entre mulheres, mas logo tambm atingindo gente de ambos os sexos.9 As comunidades que atravs do ministrio das irms e dos irmos surgiram foram organizadas em associaes regionais. A primeira associao, fundada em 15 de maio de 1921 foi chamado Associao das comunidades Hensoldshhe (Hensoldshher Gemeinschaftsverband) com a sua sede na cidade de Gunzenhausen, a cidade onde tambm existia uma casa matriz. No decorrer dos prximos anos at 1928 foram fundadas mais sete associaes regionais de comunidades em diversas cidades.10 As comunidades locais se organizaram atravs de uma associao de membros que se baseava na converso do membro e na comprovao desta converso pela vida na f. Essas comunidades organizadas desenvolveram um crescimento extraordinrio nos prximos anos, isso porque o trabalho visou com muita agressividade a converso de pessoas a Cristo e a vida destas pessoas na santificao. Ganhar almas para Cristo era o grande lema do trabalho das obreiras e dos obreiros das comunidades. As pessoas convertidas da sua parte tambm assumiram esse lema e tornaram-se evangelistas pelo exemplo das diaconisas e dos pregadores do DGD.

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Norbert SCHMIDT, op. cit., p.14 Rathen, Tilsit, Oberhausen, Berlin, Ohof, Mannheim, Marburg

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1.6. Trabalhos missionrios do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband no exterior: Nos seus esforos para ganhar almas o DGD logo expandiu os seus trabalhos no campo de misses no exterior. Desde 1900 j existiam contatos com um missionrio na China e no ano de 1909 foi enviada a primeira diaconisa para l, em 1912 seguiram mais trs delas. At o ano 1938 foram enviados 14 casais e 30 diaconisas para trabalhar na provncia Ynan na China pela Vandsburger Mission11 junto Misso do Interior da China (Hudson Taylor). Esse esforo missionrio achou seu fim no momento em que o comunismo assumiu o poder na China e o ltimo missionrio voltou em 1951 para a Alemanha. Os esforos missionrios antes centrados na China foram redirecionados para o Japo e depois tambm para a Tailndia e, a partir de 1969, missionrios da Marburger Mission tambm trabalharam nos pases Uganda, Qunia e Tanznia na frica. A Vandsburger Mission recebeu o nome de Marburger Mission12 depois dos ltimos missionrios terem sado da China. 1.7. A Misso de Folhetos do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband 13 Um dos trabalhos mais bem sucedidos do DGD foi a Misso de Folhetos, fundada em 1925. O princpio desta forma de misso por meio de folhetos que o missionrio visita pessoas nas suas casas periodicamente para entregar um folheto evangelstico. Esse trabalho cresceu muito rpido e no ano 1989 tinha cerca de 6500 missionrios (voluntrios) que, de 15 em 15 dias, entregavam 173.000 folhetos nas casas. Depois da queda do muro de Berlim e da queda do comunismo na Europa Oriental este projeto expandiu em muitos pases desta regio. atravs da Misso de Folhetos que comeou o trabalho do DGD no Brasil. No dia 15 de novembro de 1929, Kurt Junghans da colnia Rio Iva Areo 14 no leste do estado Paran no Brasil, mandou uma carta para o diretor da misso de folhetos em Marburg e pediu o envio de um professor compromissado com a Palavra de Deus para ensinar as crianas dos colonos. Este primeiro pedido dos colonos foi negado. Mas, graas a persistncia do pessoal foram enviados em 1932 os primeiros dois missionrios para o Brasil.11

Misso de Vandsburg. Vandsburg era a cidade onde iniciou-se o trabalho do Deutscher Gemeinschafts Diakonieverband. 12 As quatro fases da misso do DGD so: 1. Vandsburger Mission de 1909 at 1928, ligada Misso de Liebenzell dentro da Misso do Interior da China de Hudson Taylor. 2. Ynan-Mission de 1929 at 1951, dentro da Misso do Interior da China de Hudson Taylor. 3. Marburger Mission, de 1952 at 1989, trabalhos em todos os pases alm do Brasil. 4. Marburger Mission, a partir de 1989 inclusive Brasil. 13 Misso de folhetos Marburger Blttermission 14 Uma colnia particular de imigrantes alemes, fundada em 1897.

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O missionrio Sigismund Jesse foi enviado como evangelista para visitar os colonos e o missionrio Arthur Melzer como professor das crianas para o Rio Iva Areo. O primeiro contato do DGD com o Brasil foi via da Misso de Folhetos, e como conseqncia disso o trabalho no Brasil ficou, at o ano de 1989, sob a liderana da Misso de Folhetos. Depois da Segunda Guerra Mundial o departamento de misses no Brasil recebeu o nome de Marburger Brasilien-Mission. 2. O contexto especfico no Brasil Os primeiros esforos missionrios no Brasil comearam no ano de 1549 quando os primeiros Jesutas chegaram na colnia portuguesa, liderado por Manuel de Nbrega. Mas esses procuraram alcanar com os seus esforos missionrios primeiramente os ndios, o que no foi muito benquisto, pois, como Schmidt escreve: ... uma proteo dos ndios colidiu com os interesses de expanso dos colonizadores europeus.15 Em 1759 terminou essa parte do trabalho missionrio catlico com a expulso dos Jesutas. Dom Pedro II (1840-1889) adotou uma legislao liberal no que se refere liberdade de religio e abriu assim o caminho para a entrada de missionrios protestantes. Os primeiros vieram dos EUA e o objetivo deles foi chamar catlicos nominais para uma f viva em Cristo16. Assim chegaram no Brasil missionrios congregacionais (1855), missionrios presbiterianos (1859) e missionrios batistas (1871). Os anglicanos j tinham uma igreja no Rio de Janeiro desde o ano de 1810, mas essa era uma igreja para estrangeiros. No mesmo perodo, a partir de 1817 chegaram ao Brasil muitos imigrantes da Europa, e entre eles muitos protestantes. A maior parte entre os protestantes evanglicos foram os alemes, que eram luteranos. Para atender s necessidades eclesisticas destes alemes vieram, a partir de 1824, os primeiros pastores luteranos da Alemanha. Foram estes imigrantes que deram o motivo para a fundao do Snodo de Rio Grande em 1886, e mais tarde, em 1888, a Associao das Igrejas Evanglicas de Santa Catarina. Em 1905 fundaram o Snodo Evanglico Luterano de Santa Catarina, Paran e outros estados do Brasil e em 1912 o Snodo Central Brasil. Foram esses quatro snodos que formaram a partir de depois da Segunda Guerra Mundial uma associao dos snodos e, em 1954, deram-se o nome de Igreja Evanglica de Confisso Luterana.

15 16

Ibid., p.22 Ibid., p.24

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Os primeiros missionrios da Marburger Brasilien-Mission, vindo do movimento pietista que na Alemanha atuava dentro da igreja luterana, vieram com o mesmo objetivo dos pastores luteranos, vieram para atender s necessidades eclesisticas dos imigrantes alemes. A partir do comeo do sculo 20 surgiram as igrejas pentecostais que desenvolveram um crescimento fenomenal no meio da populao brasileira. Quero nesse lugar mencionar algumas destas igrejas. Todas elas tm o seu fundamento num acontecimento do ano de 1901 na cidade de Topeka, Kansas, nos Estados Unidos na Escola Bblica Betel. Nessa escola o professor Charles Fox Parhan, passou a ensinar aos alunos que possvel o reviver experincias, mencionadas em Atos 2:1-4 que ocorreram no surgimento da igreja de Cristo, a saber, a glossolalia que o falar em lnguas estranhas e desconhecidas. O acontecimento ocorreu no dia de pentecoste, por isso o movimento est sendo chamado de pentecostalismo. De fato, o fenmeno ocorreu na ocasio e mais tarde com alguns alunos do seminrio. A partir deste acontecimento o movimento pentecostal se espalhou no mundo inteiro usando como veculo inicial algumas igrejas tradicionais como a Igreja Metodista e a Igreja do Nazareno. O movimento chegou ao Brasil no ano de 1910 em forma da Igreja Congregao Crist no Brasil e da Igreja Assemblia de Deus. A Congregao Crist no Brasil teve seu incio na cidade de Santo Antnio da Platina, Paran atravs do seu lder e fundador Lus Francescon. A Igreja Assemblia de Deus foi oficialmente estabelecida em 1911, em Belm do Par por dois suecos, Daniel Berg e Gunar Vingren, que tinham seus contatos com o pentecostalismo nos Estados Unidos. No ano de 1951 chegou ao Brasil a Igreja do Evangelho Quadrangular, igualmente oriunda dos Estados Unidos. A partir desta igreja surgiu a Igreja Pentecostal Deus Amor em 1962, fundada por Davi Miranda. Na dcada de 1970, surgiu um novo tipo de pentecostalismo designado de Neopentecostalismo, nele se situam igrejas como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graa. Todas essas igrejas somam hoje mais que 10% da populao Brasileira. 2.1. O contexto no estado Paran: O estado Paran tornou-se o centro das atividades da misso do DGD. Por isso necessrio apresentar algumas informaes gerais sobre este estado.

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Informaes estatsticas17 O Paran est localizado na Regio Sul e cortado pelo Trpico de Capricrnio. Possui 98 km de litoral e dois importantes portos: Paranagu e Antonina, localizados na baa de Paranagu. Na divisa com a Argentina, est o Parque Nacional de Iguau, tombado pela Unesco como patrimnio da humanidade. A populao do estado, conhecido como a "Terra de Todas as Gentes", constituda por descendentes de diversas etnias, como poloneses, italianos, alemes, ucranianos, espanhis e japoneses que, junto aos negros, portugueses e ndios, contriburam na formao da cultura paranaense. A capital, Curitiba, oferece excelente qualidade de vida aos seus habitantes, sendo reconhecida mundialmente por suas iniciativas e solues pioneiras de administrao pblica. Na cidade, existem 55 m2 de rea verde para cada habitante, um ndice bem superior ao recomendado pela Organizao Mundial de Sade. Alm de Curitiba, as principais cidades do estado so: Londrina, Cascavel, Ponta Grossa, Maring, Guarapuava e Foz do Iguau. Fatos Histricos O ouro foi o principal atrativo para portugueses e estrangeiros no sculo XVII, interessados na explorao do minrio. No sculo XVIII, estava subordinado capitania de So Paulo. Com o avano das atividades mineradoras em Minas Gerais, passou a ter sua economia voltada agropecuria de subsistncia. Paran tornou-se independente em 1853. At o final do sculo XIX, o estado se desenvolveu com o cultivo da erva-mate e com a explorao da madeira. Mas a economia do Paran cresceu rapidamente com as lavouras de caf, atraindo migrantes de diversos estados e imigrantes europeus e japoneses. Os problemas sociais enfrentados depois dos anos 50 fizeram com que proprietrios e trabalhadores rurais perdessem suas terras e seus empregos. Na dcada de 70, muitos migram para as cidades ou se tornam bias-frias, depois da crise agrcola que atingiu as lavouras de caf.

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Governo do Paran, 2004

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Dados Gerais do estado Paran Localizao: norte da Regio Sul do Brasil rea: 199.281,69 km2 Populao: 9.563.458 Relevo: baixada no litoral, planaltos a Leste e Oeste, depresso no centro Ponto mais elevado: pico Paran, na serra do Mar (1.922 m) Rios principais: Paran, Iguau, Iva, Tibagi, Paranapanema, Itarar, Piquiri Vegetao: mangue no litoral, mata Atlntica, floresta tropical a Oeste e mata das Araucrias no Centro Clima: subtropical Hora local: Horrio de Braslia Capital: Curitiba Populao da capital: 1.587.315 Data de fundao da capital: 29/3/1693 Informaes sobre a populao evanglica no Paran No ano 197018 havia cerca de 7.000.000 de pessoas no estado Paran, entre elas apenas 300.000 que fizeram parte de alguma igreja protestante, representando 4,3% da populao. Em 198019 o Paran tinha uma populao de 7.630.000 pessoas dos quais 725.000 se declaravam evanglicos, sendo 9,5% da populao. Recentemente a SEPAL apresentou as seguintes estatsticas sobre a populao evanglica no estado do Paran: Populao dos Evanglicos no Paran20 TCA* POP 91-2000 TCA* Ev. 91-2000 POP 2003 1,39% 5,40% 9.968.507 Evang. 2003 % Evang. 2003 1.862.295 18,7%

*TCA - Taxa de crescimento anual Conforme a estatstica acima, 1.862.295 dos paranaenses, o que representa 18,7% da populao eram evanglicos em 2003.

18 19

Almanaque Abril 89 Almanaque Abril 89 20 Sepal, Fevereiro 2004 (Internet)

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2.2. O comeo do trabalho da Marburger Brasilien Mission21 O governo do Brasil convidou, a partir do comeo do sculo XIX, imigrantes para colonizar as imensas terras vazias do Brasil. Em diversas ondas chegaram alemes de muitas regies da Alemanha ao Brasil. No ano de 1887 vieram os primeiros alemes para o leste do Paran e fundaram a colnia que mais tarde recebeu o nome de Colnia Rio Iva Areo. No decorrer dos anos chegaram quarenta famlias a este lugar22. A maioria destes colonos eram protestantes, mas antes da chegada do missionrio Arthur Melzer no existia praticamente nenhuma vida eclesistica. 23 Arthur Melzer, menciona na crnica da Marburger Brasilien Mission, quatro formas de religiosidade no meio dos colonos: espiritistas, comunistas, indiferentes e cristos nominais.24 No ano de 1928 foi iniciada a fundao de uma associao escolar com o objetivo de iniciar uma escola para as crianas dos colonos. A partir desta data comearam a procurar um professor que pudesse atender as necessidades das crianas na colnia. Assim foi estabelecido o primeiro contato com a Misso de Folhetos do DGD em Marburg. No dia 15 de novembro de 1929 Kurt Junghans da colnia Rio Iva Areo25 enviou uma carta para o diretor da Misso de Folhetos em Marburg e pediu o envio de um professor crente para ensinar as crianas dos colonos. Este primeiro pedido dos colonos foi negado. Mas, graas a persistncia dos colonos foram enviados em 1932 os primeiros dois missionrios para o Brasil. O missionrio Sigismund Jesse foi enviado como evangelista para visitar e atuar entre os colonos e o missionrio Arthur Melzer como professor das crianas para o Rio Iva Areo. Com a deciso de enviar dois irmos, foi colocada a pedra fundamental para a Marburger Brasilienmission,26 escreveu Schmidt. No ato da ordenao e do envio dos dois missionrios j ficou claro que o objetivo do ministrio dos dois missionrios no foi alcanar os brasileiros e sim, os colonos alemes, os imigrantes de fala alem. O diretor da Misso de Folhetos na sua pregao naquela ocasio deixo isso bem claro dizendo: ... nos alegramos em enviar para alm mar dois dos nossos irmos para os companheiros do povo alemo ...27.21 22

Misso de Marburgo para o Brasil Norbert SCHMIDT, p. 35 23 Ibid., p. 36 24 Ibid., p. 36 25 Uma colnia particular de imigrantes alemes, fundada em 1897. 26 Ibid., p. 38 27 Ibid., p. 40

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Mas, uma nova perspectiva estava por vir, pois Krawielitzki alertou o missionrio Grischy, o qual foi enviado no ano de 1933, para levar o Evangelho tambm para os brasileiros. 3. A estrutura da Marbuger Brasilien Mission Como j descrito anteriormente, os primeiros contatos do Brasil foram atravs da Misso de Folhetos do DGD. Com esse fato o trabalho no Brasil tornou-se automaticamente projeto da Misso de Folhetos e comeou seu trabalho sendo administrado e financiado pela Misso de Folhetos. A agncia missionria do DGD, na poca a Vandsburger Mission, no foi envolvida e nem consultada no novo trabalho que comeou no Brasil. Somente a partir do ano de 1989 foi que a Marburger Brasilien Mission passou a integrar-se na Marbuger Mission (sucessora da Vandsburger Mission) e funciona hoje como um dos departamentos da mesma. Deste jeito os missionrios que foram enviados para o Brasil no foram enviados por uma agncia missionria, e sim por uma Misso de Folhetos. At 1989 isso iria refletir no treinamento dos missionrios como veremos mais tarde. De todos os missionrios da Marburger Mission que hoje trabalham no Brasil, somente um casal foi enviado pela Marburger Mission, os outros foram enviados pelo departamento Brasil da Misso de Folhetos do DGD. verdade que a Misso de Folhetos tinha no departamento Brasil pessoas especializados para misses, mas somente o ltimo lder responsvel de 1980 at 1989, Hans Gaab, tambm foi missionrio no Brasil. 4. O comeo do trabalho eclesistico O trabalho de fundao de igrejas e atendimento a igrejas comeou logo com os primeiros dois missionrios. 4.1. O trabalho dos missionrios Sigismund Jesse e Arthur Melzer O missionrio Arthur Melzer assumiu o atendimento s necessidades eclesisticas e escolares dos colonos na colnia Rio Iva Areo e ao mesmo tempo, o missionrio Sigismund Jesse iniciou as suas viagens de visitas para atender aos imigrantes em diversos lugares. 4.1.1. Em Ponta Grossa: Em Ponta Grossa Jesse achou um grupo de cerca de 10 pessoas que se reuniram na casa de um pastor Friedrich Wilhelm Brepohl28 at que em agosto de 1932 o grupo cresceu28

F.W.Brepohl conforme pesquisa de Norbert SCHMIDT p. 45-48 um vigarista.

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tanto que tinha que alugar um salo para as reunies. A partir de julho de 1933 Jesse comeou a organizar o grupo de Ponta Grossa conforme o sistema e as estruturas que o DGD usava na Alemanha. Na revista Brasilienfreund29 ele escreveu: No dia 30 de julho (1933) organizamos em Ponta Grossa o nosso trabalho de jovens e adultos, isto , ns fundamos um grupo de amigos da comunidade. Para aceitar membros30 cremos que devemos esperar ainda at depois da campanha evangelstica. Como amigos da comunidade assinaram 23 pessoas e como amigos do grupo de jovens assinaram 11 pessoas.31 No mesmo ano abandonaram o caminho do pietismo que o de trabalhar dentro da igreja luterana, porque realizaram a primeira Ceia do Senhor sem a presena de um pastor da igreja luterana. 4.1.2. Em Curitiba Imigrantes de diversos grupos, igrejas e comunidades da Alemanha fundaram no ano de 1924 ou 1925 em Curitiba uma comunidade com base na aliana evanglica. Jesse recebeu em maio de 1932 o convite para assumir este trabalho que at esta hora foi liderado por um missionrio de nome A. Pfeiffer, da Gnadauer Brasilien Mission32 que atuava entre os membros dos snodos luteranos no sul do Brasil. Depois de conversas e correspondncias combinaram que Jesse podia assumir o trabalho em Curitiba. O importante para Pfeiffer e os superiores dele da Gnadauer Brasilien Mission foi a continuao do trabalho na filosofia de Gnadau33, que como comunidade dentro da igreja luterana. Mais tarde, depois que tinha ficado bvio que os missionrios da Marburger Brasilien Mission no iam ficar dentro da filosofia de Gnadau, e sim, que tinham comeado a trabalhar no estilo de igreja, isto ao lado da igreja luterana e fora da igreja luterana, os superiores das duas misses na Alemanha fizeram um acordo no que os missionrios da29 30

Brasilienfreund Amigo do Brasil As comunidades na Alemanha na poca tinham a estrutura que previa membros e amigos da comunidade. Membros eram scios efetivos e amigos do trabalho eram pessoas que no tinham ainda compromisso definitivo com a comunidade. 31 Brasilienfreund 10 (Novembro de 1933), p. 91 32 Gnadauer Brasilien Mission Misso para Brasil de Gnadau, fundada em 1927 Gnadau uma cidade na Alemanha onde se encontra a sede da associao das comunidades pietistas que atuam dentro da igreja luterana na Alemanha. O nome da cidade deu o nome para a associao/movimento Associao das comunidades de Gnadau. A agncia missionria desta associao chama-se Gnadauer Brasilien Mission. 33 Filosofia de Gnadau, chamarei a estratgia da Associao das Comunidades de Gnadau, que consistiu em trabalhar como comunidades mais ou menos independentes dentro da organizao da igreja estatal na Alemanha. Essas comunidades tm seus prprios pastores que chamam de pregadores, seus templos que chamam de casa da comunidade (Gemeinschaftshaus), sua liderana que chamam de conselho dos irmos (Brderrat), sua prpria membresia e seus seminrios teolgicos. Essas comunidades evangelizam e acolhem como membros os membros das igrejas estatais. As igrejas estatais com mais ou menos boa vontade permitem essas comunidades no seu meio, mas exigem que todos os ofcios eclesisticos sejam feitos pelos pastores das igrejas estatais.

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Gnadauer Brasilien Mission receberiam Santa Catarina e mais tarde o Rio Grande do Sul, como campo missionrio. Os missionrios da Marburger Brasilien Mission iriam trabalhar no estado do Paran. Esse acordo foi firmado em 1934 contendo cinco pontos: (1) (2) (3) (4) (5) Independncia das duas agncias na Alemanha e no Brasil Cooperao e comunho fraterna para resolver problemas Conferncia anual dos missionrios das duas organizaes em conjunto A Gnadauer Brasilien Mission ficaria com o campo missionrio de Santa E ainda, a Gnadauer Brasilien Mission poderia se expandir para o sul e a

Catarina. A Marburger Brasilien Mission com o Paran. Marburger Brasilien Mission para o norte. Somente o acordo cinco no foi aceito pelo diretor do DGD que escreveu: Concordamos com o acordo, somente pedimos que cancelem o ponto (5), porque achamos que no podemos antecipar uma deciso que Deus um dia poderia tomar.34 4.2. A Igreja de Cristianismo Decidido A fundao da Igreja de Cristianismo Decidido basicamente obra do missionrio Theodor Grischy que chegou em Abril de 1933 cidade de Curitiba. Antes de viajar para o Brasil ele j tinha recebido, de Sigismund Jess, a tarefa de resolver, com a diretoria da Marburger Brasilien Mission, a questo da forma e do nome da organizao que deveria ser fundada como teto para os trabalhos existentes e os trabalhos que eventualmente surgiriam ainda. Depois de ventilar diversas idias e de buscar informaes com diversas pessoas, chegaram concluso de que a organizao a ser fundada deveria ser uma igreja. Assim fundaram no dia 31 de outubro de 1933 a igreja de Cristianismo Decidido. Isso foi importante para obter as vantagens jurdicas que igrejas possuem no Brasil. Schmidt concluiu essa questo assim: Com esse nome no conseguiram apenas vantagens jurdicas, mas, tambm transmitiram uma mensagem: ns somos igreja!35 Assim, os fundadores deixaram claro que a filosofia de Gnadau morreu, e ao mesmo tempo abriram o caminho para trabalhar tambm com os brasileiros. As conseqncias deste ato, no incio, no foram compreendidas pelos lderes da Misso na Alemanha, pois ainda criam que o trabalho iria funcionar como na Alemanha, dentro da igreja luterana. Um problema que surgiu em conseqncia destas duas vises diferentes foi a questo das ordenanas (sacramentos) e dos ofcios eclesisticos. Em diversas cartas os missionrios34

Carta de Krawielitzki para Burkhardt (superior da Gnadauer Brasilien Mission) em 10 de janeiro de 1934, citada em Norbert SCHMIDT, p. 55 35 Ibid., p. 58

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foram admoestados a no ministrar a Ceia do Senhor nas suas comunidades. Isto porque os pregadores das comunidades na Alemanha tambm no administravam os ofcios eclesisticos. Na Alemanha os ofcios eram de direito dos pastores da igreja luterana e os membros das comunidades, sendo tambm membros da igreja luterana, recebiam os ofcios pelos pastores luteranos. A posio do fundador do DGD, Theophil Krawielitzki, foi a de que os ofcios iriam desviar a ateno dos irmos e dos missionrios, pois seu ministrio principal era o de ganhar almas para Cristo. Uma carta de Krawielitzki para Grischy, no dia 27 de janeiro de 1937, revela o auge dessa discusso: Muito bons so os motivos, que voc menciona para comearmos um trabalho entre os brasileiros. Mas, se voc, nesse contexto levanta de novo a questo dos ofcios eclesisticos, a isso me parece um truque do diabo que quer nos forar atravs dos nossos irmos (membros) para tornarmo-nos uma igreja (no comunidade). No existe nenhum ofcio eclesistico que seja necessrio para a nossa salvao ou que atravs da sua realizao salvaria almas. Na verdade temos coisas melhores para fazer do que ofcios eclesisticos.36 Essa viso limitada do lder da Misso na Alemanha complicou a situao dos missionrios que pela ordem do mesmo diretor queriam alcanar tambm os brasileiros, mas esse trabalho tinha que ser um trabalho completo, inclusive com ofcios eclesisticos. 4.3. O envio de outros missionrios Logo nos primeiros anos foram enviados mais alguns missionrios e diaconisas para o trabalho no Brasil. Muito pertinente a observao de Schmidt: Esse macio envio de muitos missionrios, indica uma estratgia clara para o trabalho naquele pas. Mas, j uma observao superficial mostra que isso no era o caso. Como j explicado no comeo, no existia nenhuma estratgia para o trabalho dos missionrios. Tambm nos anos subseqentes no se falava de nenhuma estratgia com nenhuma palavra. Presumia-se que o ministrio dos missionrios no Brasil no era muito diferente do ministrio de um pregador das comunidades na Alemanha na dcada de 30. Assim cada missionrio conforme seus dons e sua viso podia estruturar o trabalho como ele queria.37 Essa observao revela a falta de uma estratgia e viso comum para o trabalho no Brasil que se tornou normativo nos anos seguintes at 1990.3836 37

Ibid., p. 69-70 Ibid., p. 63

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Depois da fundao da ICD os trabalhos continuaram crescendo, especialmente em Ponta Grossa e Curitiba. Nestes lugares o numero dos membros duplicou entre os anos de 1932 e 1936 e, por isso era necessrio o envio de mais missionrios.O ltimo missionrio enviado antes da Segunda guerra mundial foi o Hellmut Bttger que chegou ao Brasil em 1936. 5. A Segunda Guerra Mundial mudou os objetivos da Marburger Brasilien Mission Os missionrios da Marburger Brasilien Mission vieram para o Brasil para atender s necessidades eclesisticas e escolares de imigrantes alemes. Em diversos momentos entre 1932 e 1938, cogitou-se a idia de tambm incluir trabalhos brasileiros nos objetivos da Marburger Brasilien Mission. Essa questo foi resolvida pelas circunstncias histricas. A situao antes e durante da Segunda Guerra Mundial obrigou os missionrios a abrir os trabalhos para a lngua brasileira. O Estado Novo declarado por Getlio Vargas depois do golpe do dia 10 de novembro de 1937 iniciou uma nacionalizao da sociedade brasileira e imps restries graves a tudo que no era de origem brasileira. Assim foram proibidas organizaes polticas estrangeiras e organizaes estrangeiras de assistncia social, escolar e cultural, e sendo elas submetidas a um controle rigoroso pelo ministrio da justia. A partir do comeo de 1938 as restries lingsticas comearam a dar problemas ao trabalho dos missionrios da Marburger Brasilien Mission no Paran. O trabalho em Curitiba foi fechado como tambm a creche em Ponta Grossa. Com a ajuda de um advogado, Grischy conseguiu a reabertura do trabalho em Curitiba. Com a proibio de lnguas estrangeiras em reunies publicas, os missionrios perceberam as conseqncias da negligncia quanto aprendizagem do portugus. Apesar de que Krawielitzki repetidamente tinha desafiado seus missionrios no Brasil desde 1934 a aprender a lngua nacional, no houve progresso nessa rea. 39 As conseqncias eram sentidas depois da proibio do alemo e de outras lnguas estrangeiras. A nica pessoa que tinha alguma capacidade de expressar-se em portugus era Grischy, mas tambm no era capaz de dirigir um culto inteiro em portugus. Isso valeu igualmente para um grande nmero de imigrantes, alemes e outros estrangeiros no Brasil. Mesmo vivendo muitos anos ou at nascidos no Brasil, no tinham38

De fato, cada um dos missionrios trabalhou conforme seus dons e sua viso, cada um no seu lugar, com muito esforo e muita dedicao, mas, cada um era o dono do seu prprio trabalho e ministrio. 39 Ibid., p. 75

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conhecimento da lngua nacional. Isso porque a vida social, cultural e at escolar dos imigrantes realizava-se em colnias fechadas. No exemplo das escolas alems podemos ver a verdadeira dimenso dos problemas que surgiram com a nacionalizao da sociedade brasileira. Em 1927 existiam no estado do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Esprito Santo 1155 escolas alems com 46.000 crianas matriculadas. As escolas foram fechadas e assim Melzer perdeu seu lugar de trabalho na colnia, por isso assumiu as reunies em Ponta Grossa. As reunies foram supervisionadas por funcionrios pblicos e logo a freqncia diminuiu drasticamente. Em 1942, depois de uma campanha evangelstica pelo Exrcito da Salvao, Melzer foi denunciado e investigado pela polcia; e depois de ter sido achado um livro de Hitler e outras coisas na casa dele, foi preso em Curitiba, permanecendo quatro meses e meio na priso. O trabalho em Ponta Grossa foi fechado. Para poder sustentar as suas famlias foi necessrio que os missionrios assumissem trabalhos seculares ou em igrejas nacionais. A liderana da Igreja de Cristianismo Decidido foi entregue e assumida por brasileiros. Durante os anos de 1942 a 1945 houve apenas contatos precrios com a Marburger Brasilien Mission na Alemanha, porque a entrada do Brasil na guerra ao lado das foras aliadas contra a Alemanha complicou a situao dos alemes no Brasil, e os missionrios tinham de se virar sozinhos. 6. As irms diaconisas no Brasil O trabalho do DGD um trabalho que sempre precisa ser visto a partir das irms diaconisas supramencionadas. Como na Alemanha assim tambm fazem parte do trabalho no Brasil. Importante a observao de Schmidt: No tempo antes da Segunda Guerra Mundial o trabalho dos missionrios e o trabalho das diaconisas funcionaram independentemente um do outro. Apenas temporariamente tinha diaconisas trabalhando nas igrejas dos missionrios, e o envolvimento principal do trabalho das diaconisas estava fora do mbito da Igreja de Cristianismo Decidido.40

40

Ibid., p. 82

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E, o que tambm importante, os ministrios das diaconisas no comeo eram mais na rea de assistncia social.41 Um primeiro contato do Brasil com as diaconisas do DGD surgiu em torno do ano de 1933 a partir de um pastor da igreja luterana. O pastor Scheerer de So Joo do Rio Negro/RS pediu do diretor do DGD o envio de diaconisas para o trabalho num hospital novo. Mas, o projeto no se realizou porque as diaconisas de uma outra casa matriz da Alemanha ocuparam o lugar. As primeiras diaconisas do DGD saram em maio de 1934 da Alemanha para comear um trabalho na cidade de General Osrio no Rio Grande do Sul. Mas, o trabalho iniciou-se numa situao muito problemtica. Isto porque envolveu muitos rgos eclesisticos da igreja estatal da Alemanha e do Rio Grande do Sul. Os snodos do Rio Grande do Sul e o escritrio dos assuntos exteriores da igreja estatal da Alemanha complicaram o trabalho das diaconisas porque enxergaram nas diaconisas do DGD um tipo de concorrncia com outras casas matrizes j estabelecidas no Sul do Brasil. Em outros lugares, onde diaconisas do DGD comearam trabalhos junto a igrejas locais de diversos snodos no Sul do Brasil, foi diferente. Assim, em Ponta Grossa e em Curitiba o trabalho das irms foi visto como uma bno e no como uma ameaa. Esse primeiro trabalho das diaconisas do DGD no Brasil, terminou com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado das foras aliadas. Rio Grande do Sul, como estado de fronteira, foi declarado terra proibida para estrangeiros e assim as diaconisas alems tinham de deixar os trabalhos neste estado. 6.1. As diaconisas e os missionrios O DGD foi fundado para as diaconisas e cresceu em primeiro plano com as irms diaconisas. Somente dez anos depois da fundao da organizao do DGD foi fundada a casa dos irmos de Tabor. At muito tempo depois da Segunda Guerra Mundial a casa dos irmos ficou sendo a menor de todas as casas. Geralmente as diaconisas comeavam um trabalho novo e os irmos vinham depois para ajudar as irms. Assim tambm foi nos campos missionrios especialmente na China, primeiro foram enviadas as irms, depois seguiram os irmos. A realidade no campo Brasil foi diferente. Os pioneiros foram Jesse, Melzer e Grischy, trs irmos de Tabor e somente dois anos depois vieram as primeiras diaconisas. Essa situao diferente tornou-se motivo de muitos conflitos entre ambos os grupos. As irms41

Creches, hospitais, ambulatrio, enfermagem.

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acostumadas com a posio de liderana na Alemanha e na China vieram para o Brasil com as mesmas convices, querendo assumir a liderana sobre os irmos. Mas, a vida no Brasil com todas as circunstncias culturais e eclesisticas deixou claro que os irmos fossem os lderes. O povo no Brasil tambm viu a situao deste jeito. Os irmos chegaram primeiro, eles tinham os contatos, eles cuidaram dos trabalhos e eles formaram a liderana da Igreja de Cristianismo Decidido. Schmidt acrescenta: As irms requeriam os cuidados e a ajuda dos irmos, mas parece que no estavam dispostas a aceitar a liderana e a direo deles.42 O diretor do DGD instruiu as irms para ficarem independentes dos irmos no Brasil e de no se submeter liderana deles e nem de misturar as finanas com as finanas dos irmos.43 Deste jeito o conflito foi preparado j na Alemanha antes da vinda das diaconisas. E ele durou muitos anos no Brasil e tambm em outros campos missionrios.44 6.2. As diaconisas, a assistncia social e misses Mesmo depois da guerra as diaconisas continuaram trabalhando em campos independentes dos trabalhos dos irmos. A maioria das irms continuou envolvida em trabalhos sociais. Nenhuma irm trabalhou de tempo integral num ministrio espiritual. Isto era uma situao contrria inteno do fundador do DGD.45 Os missionrios perceberam esta falha e informaram os lderes na Alemanha a respeito em diversas ocasies. Essas informaes levantaram a questo acerca do trabalho das diaconisas no Brasil se ainda era desejado ou no. Foi Grischy que respondeu deixando claro que o trabalho das irms era bom porque era um valioso complemento ao verdadeiro trabalho missionrio. Ele escreveu numa carta para o diretor Seitz na Alemanha o seguinte: O trabalho das irms um valioso complemento para o verdadeiro trabalho missionrio, ... , as irms fazem ao lado da enfermagem tambm um trabalho nas almas das pessoas. E assim a irm torna-se uma missionria financeiramente barata, pois o sustento vem pela enfermagem.46 E Grischy acrescentou uma frase bastante interessante para a missiologia daquela poca e de hoje. Ele escreveu na mesma carta: O Senhor no abriu at agora nenhuma porta

42 43

Ibid., p. 94 R. Seitz numa carta para pastor Haun e Sr. E. Losereit do dia 20 de outubro de 1951 44 Por isso foram divididos os campos depois da sada dos missionrios da China. Os irmos foram para Thailandia e as irms para Taiwan e Japo. 45 Ibid., p. 96 46 Grischy para Seitz em 16.12.1949

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para um trabalho missionrio verdadeiro para as irms, e sim guiou-nos do jeito que elas trabalhassem especialmente na rea social. Assistncia social e misses O contedo da colocao de Grischy algo que foi refletido muito na missiologia especialmente na Amrica do Sul, na frica e na sia. Acrescentamos neste lugar algumas observaes e comentrios importantes para ns que vivemos depois de Lausanne e Manila.47 Para mostrar uma viso diferente daquilo que o social, gostaria de referir-me a alguns textos de Ren Padilla e Samuel Escobar. 6.2.1. Voltar-se para Deus significa tambm voltar-se para o ser humano No contexto da salvao no possvel ver o ser humano isolado. O ser humano no existe como um ser independente e isolado aqui na terra. Ele tem de ser visto nos seus relacionamentos sociais para com outros seres humanos. Por isso o acontecimento da salvao sempre acontecimento dentro do contexto da vida do ser humano. O ser humano que faz a experincia da salvao no pessoa isolada, mas sim uma pessoa no contexto de sua vida, na sua convivncia com outras pessoas, no meio dos seus vizinhos e parentes. Padilla diz assim: Atravs do perdo o homem se volta para Deus, e ao mesmo tempo se volta para o seu vizinho. Na presena de Jesus Cristo, Zaqueu, o homem do meio do povo, desiste de qualquer materialismo que o cativou e assume responsabilidade para o seu vizinho: >> Escute, eu vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se tenho roubado algum, vou devolver quatro vezes mais.salvao< !48 O que fica claro que salvao no significa apenas deixar de fazer o mal (logicamente, essa proposta tambm existe no corao da pessoa salva), mas sim, significa participao ativa no bem estar da vida do prximo. A pessoa que fez a experincia da salvao preocupa-se com o prximo, importa-se com ele e quer comunicar numa maneira ativa a sua salvao.

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Lausanne e Manila, cidades nas quais houve congressos internacionais para evangelizao mundial (1974 e 1997). 48 C. Ren PADILLA, em Alle Welt soll sein Wort hren, Lausanne-Dokumente Band 1, TelosDokumentation, p. 167

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No caso de Zaqueu vemos, que ser salvo inclui sacrifcio e renncia. Renncia de bens e de estruturas que cativaram, e sacrifcio quanto s necessidades do vizinho, que na verdade era a antiga vtima. Toda assistncia social seja de uma igreja ou de uma misso, tem que ser vista sob estes aspectos. Homens que fizeram a experincia da salvao se voltam para o seu vizinho, no importa se esse mora no Brasil, no Japo, na casa ao lado ou na prxima esquina. Os salvos sacrificam, ofertam, do e renunciam porque fizeram a experincia da vida nova em Cristo. Essas pessoas na prtica so tanto mantenedoras da misso como tambm missionrios. 6.2.2. Vida espiritual (misses) e engajamento social no podem ser divididos Nas transformaes que a vida do Zaqueu sofreu podemos ver algo mais. Zaqueu faz a experincia da salvao na totalidade do seu ser. O seu relacionamento tanto para com Deus como para com a humanidade transformado. Esprito e arbtrio se tornam novos. Corpo e alma so transformados. O novo ser diante de Deus o leva para um novo comportamento diante de homens. Ren Padilla disse a respeito: O novo testamento no fala de uma diviso entre soteriologia e tica, entre comunho com Deus e comunho com o vizinho, entre f e obras.49 E Samuel Escobar nos leva mais um passo adiante, dizendo: Espiritualidade sem discipulado (viver como discpulo) dirio na vida social, econmica e poltica mera religiosidade, mas no tem absolutamente nada a ver com Cristianismo.50 Isso nos leva a uma responsabilidade em todos os nveis, social, econmico e poltico para a nossa sociedade. No existe nenhuma rea de responsabilidade social que o NT exclui. Por isso nenhuma pessoa que fez a experincia da salvao excluda de alguma parte da responsabilidade pela sociedade, e nem pode fugir desta responsabilidade. A pessoa salva colocada no meio da multido da humanidade como pessoa salva. Jamais a salvao se torna propriedade do salvo num sentido individual. A salvao de uma pessoa salvao tambm para o seu vizinho, seja longe ou perto. No que o vizinho seja salvo automaticamente, mas ele sente a salvao do outro na prpria pele. Por isso necessrio que qualquer atividade missionria tenha todas as reas de vida como alvo, onde isto no acontece a grande comisso no entendida na sua ntegra.49 50

Ibid., p. 171 Samuel ESCOBAR, em Alle Welt soll sein Wort hren, Lausanne-Dokumente Band 1, TelosDokumentation, p. 398

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A cooperao na educao, poltica, poltica social e economia na sua convivncia, deve ser um dos alvos do engajamento de qualquer missionrio. Isto porque as estruturas de poder em qualquer pas precisam da cooperao salvfica dos salvos em Cristo. 6.2.3. Engajamento em trabalhos sociais misso Muitas vezes ouvimos a idia de que engajamento em trabalhos sociais seja trabalho que acompanha o evangelismo ou outros trabalhos missionrios. Desta maneira supem-se que o evangelismo representa o verdadeiro trabalho missionrio. A atividade social um tipo de ornamento que torna o verdadeiro trabalho missionrio atrativo. Samuel Escobar disse no congresso mundial de evangelizao em Lausanne em 1974 a respeito: O servio dos cristos no algo voluntrio. Ele no faz parte das coisas que podem ser feitas quando queremos ou tambm deixadas. Ele sinal de uma vida nova. >Nos seus frutos os conhecereis.< >Quem me ama, aquele guarda os meus mandamentos.< Ao estarmos em Cristo Jesus, temos o esprito de servir no Senhor. Por isso, quaisquer questionamentos se que devamos evangelizar ou fazer ao social, desnecessrio, pois os dois no podem ser separados. Um sem o outro mostra uma vida crist incompleta. Por isso no podemos justificar o servio a favor do vizinho com o argumento de que esse servio nos ajuda em >nosso< evangelismo. Deus se interessa igualmente por nosso servio social como tambm por nosso envolvimento evangelstico. Por isso no precisamos ter escrpulos por causa das nossas escolas, hospitais, centros de sade e centros de estudos.51 O que Escobar diz neste pargrafo algo que parece muito importante. Servio social, mesmo sem pregao e evangelismo misso. Isto uma idia que alivia muito, pois tira aquela obrigao de precisar dizer uma palavra a qualquer preo, quando realizamos uma ao social. claro que bom aproveitar as oportunidades para uma proclamao verbal do Evangelho caso o nosso engajamento social nos abra uma porta para isso, mas no essa pregao que torna o nosso servio um verdadeiro servio missionrio. 6.3. A casa matriz Betnia no Brasil:

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Ibid. pg 398

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Nos primeiros relatrios depois da guerra apareceram nas descries das diaconisas duas coisas que se tornaram um problema para elas faltava uma irm me (superiora) e faltava uma casa para elas (casa matriz).52 Para resolver o problema da irm superiora as diaconisas dependiam da liderana do DGD na Alemanha. Para resolver o problema da casa surgiram duas possveis solues. O missionrio Grischy achou e comprou um terreno perto de Curitiba onde ele queria construir um centro do trabalho da Igreja de Cristianismo Decidido, comeando com um lar de retiros. Mais tarde queria construir no mesmo lugar um centro do trabalho missionrio do DGD, tanto para os missionrios como tambm para as diaconisas. Paralelamente as irms procuraram e compraram um terreno com uma casa de madeira em cima. Alm disso, construram logo uma casa de descanso no mesmo terreno. Deste jeito o trabalho das diaconisas continuou separado dos missionrios e isso criou uma certa polmica e insegurana, especialmente na Alemanha. Nos anos seguintes houve um grande vai e vem respeito instalao oficial de uma casa matriz. Assim existe um protocolo da liderana na Alemanha de novembro de 1954 no qual foi visto a necessidade de uma casa matriz, mas, em abril de 1956 a questo foi outra vez levantada e decidida diferentemente da primeira vez em 1954, rejeitando a fundao de uma casa matriz53. No ano de 1980, 14 mulheres brasileiras e 15 alems faziam parte do grupo das diaconisas do DGD no Brasil. Por isso o ento diretor do DGD, Emanuel Scholz, achou que tinha chegado a hora de fundar uma casa matriz no Brasil, e assim, no dia 25 de novembro de 1980, foi fundada a nona casa matriz do DGD com o nome de Irmandade das irms Diaconisas Betnia. No ano de 1984 construram o prdio que se situa perto do trevo de Aduba e perto do Lar Rogate em Curitiba. A partir da fundao as diaconisas foram buscando o seu prprio caminho dentro da sociedade brasileira. 7. A igreja brasileira Associao das igrejas de Cristianismo Decidido J logo no incio do trabalho os missionrios viram a necessidade de fundar uma igreja para estruturar todos os trabalhos, mas o caminho at a fundao no era fcil.

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Norbert SCHMIDT, op., cit. p. 99 Protocolo da liderana do DGD de novembro de 1954

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7.1. A situao depois da Segunda Guerra Mundial No dia 22 de maro de 1942 faleceu o fundador do DGD, Krawielitzki aos 76 anos de idade. Ele deixou uma organizao com mais de 3000 diaconisas, mais ou menos 200 pregadores e diconos54 e cerca de 50 obreiros, alm do mais existiam 8 casas matrizes de diaconisas, uma casa de irmos, duas agncias missionrias e a Misso de Folhetos, alm disso tinha uma editora com algumas livrarias e algumas publicaes peridicas. Essa organizao carregava o cunho do seu fundador e foi uma das maiores organizaes de diaconia do mundo com uma ordem e um sistema muito rgido. Foi Arno Haun que se tornou herdeiro desta organizao sendo eleito para a presidncia pela diretoria do DGD no dia 1. de Abril de 1942. O maior desafio do novo diretor foi a infeliz posio poltica na qual o fundador deixou a organizao. Alguns membros e scios do DGD tinham se envolvido com o partido do ditador da Alemanha Adolf Hitler (NSDAP). Toda a organizao do DGD procurou uma certa neutralidade poltica durante o regime de Hitler. Essa suposta neutralidade colocou o DGD contra outras organizaes do mesmo cunho e contra as igrejas que se manifestaram contra o regime do Hitler. Por causa desta posio o DGD tinha se separado do resto do movimento pietista (Gnadauer Verband) na Alemanha. Graas sabedoria e ao comportamento conciliar do presidente do Gnadauer Verband Walter Michaelis o DGD foi reintegrado na associao de Gnadau no dia 21 de maro de 1946 depois de uma declarao de reconciliao da parte da diretoria do DGD. Como conseqncia do processo de reconciliao, foi necessrio que aqueles que se envolveram com a filosofia de Hitler renunciassem os seus cargos. Entre esses estava tambm o diretor da Misso de Folhetos e da Marburger Brasilien Mission. A responsabilidade pela Marburger Brasilien Mission passou para um comit cujos membros mudaram de vez em quanto. 7.2. Os missionrios ajudam a Alemanha Depois da guerra a populao da Alemanha mergulhou numa situao de desespero e misria muito profunda. O povo passava fome porque a economia do pas tinha quebrado por completo. Os missionrios no Brasil se tornaram uma grande ajuda para os irmos na misria. Do Brasil eles enviaram pacotes e caixas de alimentos para a Alemanha.54

Diconos Homens formados no seminrio de Tabor em funes na rea social como enfermeiros e educadores.

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7.3. Preliminares da fundao da Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido Grischy foi o nico missionrio que tinha sobrado como missionrio na Igreja de Cristianismo Decidido. Por causa da proibio da lngua alem e pela obrigao do uso do portugus a questo de tornar-se igreja ficou mais evidente ainda. Por isso ele escreveu uma carta para Hering no dia 8 de junho de 1948, o ento lder da Misso na Alemanha, na qual deixou claro que um futuro trabalho no meio de brasileiros s pode acontecer em forma de uma igreja e no como comunidade dentro da igreja luterana. E para o diretor da irmandade Tabor escreveu no dia 18 de julho de 1946, que um crescimento alm de Curitiba somente seria possvel com a organizao de uma igreja. Grischy no estava disposto a associar-se com alguma outra igreja j existente e argumentou com o fato de que a Igreja de Cristianismo j foi fundada em 1934 e j uma igreja reconhecida pelas autoridades e j tem o seu carter prprio que no combina com outras igrejas.55 7.4. A permisso para fundar a Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido Surpreendentemente rpido foi dada, pela liderana da Alemanha, a permisso para a fundao da AICD. Em julho de 1946 os responsveis do DGD na Alemanha reuniram-se e deram a permisso aos missionrios no Brasil para decidirem e organizarem o que acharem certo no seu contexto. Os missionrios receberam essa deciso com muita alegria e logo comearam a reunir os membros das igrejas para organizar a AICD. 8. A Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido e os missionrios A AICD no caminho para uma igreja nacional brasileira tinha que passar por diversos obstculos. Um dos obstculos foi a tendncia dos missionrios de querer cuidar da liderana da AICD do jeito que eles acharam certo. Para isso foram elaborados estatutos que garantiram durante um bom tempo a liderana dos missionrios. No decorrer dos anos os estatutos da AICD passaram por diversas modificaes. Os estatutos originais, de antes da guerra, diversas vezes foram reformulados e mudados, assim aconteceu em 1960, 1969, 1984 e em outras ocasies. O objetivo foi o melhoramento do trabalho e a incluso de obreiros e organizaes nacionais.55

Ibid., p. 111

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O que de fato aconteceu foi que at 1984 os estatutos garantiram a dominncia dos missionrios na assemblia geral da AICD. Isto por que as esposas dos missionrios e as diaconisas contaram como obreiras da AICD e assim tinham voz na assemblia geral. A reunio dos membros da AICD no ano de 1969 por exemplo se comps deste modo de 30 missionrios, esposas e diaconisas alemes diante de 5 diaconisas brasileiras, 2 pastores brasileiros e 8 representantes de igrejas. Grischy sabia que a dominncia alem no ia perdurar para sempre, tambm no atravs de adaptaes nos estatutos e no dia 16 de novembro de 1969 escreveu para o diretor da irmandade Tabor Georg Wehrheim: Por meio de estatutos no conseguimos nada. Podemos apenas influenci-los (os brasileiros) espiritualmente, para que possam achar uma linha interior clara, mesmo que depois exteriorizem outra opinio. Nossos brasileiros so orgulhosos e no querem a influncia do exterior. Querendo forar algo conseguimos apenas o contrrio.56 A partir da Constituio e Ordem da AICD de 1984 aconteceu de fato, o que Grischy previu na citada carta. Os missionrios no apareceram mais como um grupo prprio na assemblia, mas sim, fizeram parte do grupo dos pastores brasileiros. Outro obstculo para a independncia da AICD era a questo das finanas. A partir de depois da guerra, a AICD dependia financeiramente da Misso da Alemanha. No ano de 1982, por exemplo, foi enviado pela Misso para a AICD o valor de 470.000,00 DM57 o que equivalia 75% do oramento da AICD, isso sem os custos dos missionrios e das diaconisas. Assim ficou at mais o menos o ano de 1995, quanto a Marburger Mission em acordo com a AICD encerrou as suas contribuies financeiras. Schmidt observa: Com isso a liderana da AICD e das igrejas associadas no foram motivadas a desenvolver o trabalho a partir de suas prprias possibilidades financeiras e com o alvo de uma independncia financeira. No de se admirar que no ano de 1988 ainda 18 das 24 igrejas no tinham conseguido a auto-suficincia financeira.58 Mudana desta situao esperava-se de um convnio entre AICD e Marburger Mission. A partir da dcada de 80 comeou a despertar no meio de alguns missionrios o desejo de organizar o relacionamento entre AICD e Marburger Mission atravs de um convnio.

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Carta de Grischy para Wehrheim no dia 16 de novembro de 1969 DM Marco alemo. 470.000,00 DM eqivale mais ou menos 850.000,00 Reais ou 300.000,00 U$ no dia 7 de abril de 2004, s que o poder aquisitivo deve ter sido mais alto ainda. 58 Ibid., p. 194

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Um dos provveis motivos era a tendncia de lderes brasileiros de querer assumir a responsabilidade pelos trabalhos missionrios e eclesisticos no Brasil. Tambm a palavra da moratria no Primeiro Congresso Brasileiro de Evangelizao em 1984 em Belo Horizonte fez muitos missionrios reconhecer que era mesmo a hora de mudanas. Durante os anos de 1986 a 1987 foram elaboradas e discutidas diversas propostas para um convnio entre Marburger Brasilien Mission e AICD. No vero de 1987 vieram o diretor Jochen Schmidt e o inspetor Hans Gaab da Marburger Brasilien Mission para o Brasil trazendo uma proposta de um convnio da liderana alem. Essa proposta foi discutida na reunio dos missionrios e depois apresentada para a liderana da AICD. A liderana da AICD levou a proposta para uma reunio de todos os obreiros nacionais, que da sua parte propuseram diversas mudanas e acrscimos fundamentais que foram integrados no texto do convnio. No dia 18 de julho de 1987 na reunio dos obreiros nacionais e missionrios o convnio foi votado, aceito, assinado e entrou em vigor. Um problema nesse processo surgiu a partir da posio de alguns missionrios. Eles no eram favorveis a ntegra do texto votado, mas, foram obrigados a concordar pelo diretor da Marburger Brasilien Mission, isso sob ameaa de perder o emprego59. Sobre o contedo do convnio pode se dizer que ele transfere a liderana do trabalho da AICD para os obreiros nacionais. Os parceiros assumem uma igualdade na maioria dos pontos. Os missionrios se tornaram membros da assemblia geral da AICD com direito a votar nas decises, mas sem direito de ser eleito para algum cargo de liderana. A MBM ficou responsvel pelo envio e sustento de missionrios. A AICD ficou responsvel pelo planejamento financeiro anual e pela prestao de contas sobre o dinheiro recebido da MBM. 9. A Misso de Cristianismo Decidido (MCD) Em novembro de 1990 foi fundada a Misso de Cristianismo Decidido pela Marburger Mission60 e pelos missionrios no Brasil como representante legal da Marburger Mission no Brasil e parceiro da AICD. Assim os missionrios receberam uma organizao que garantia uma certa independncia para eles. A histria, o trabalho e os objetivos da MCD so descritos no livro de Orientaes para missionrios da MCD. Em seguida apresento os pontos interessantes para esse trabalho numa verso traduzida do original em alemo.59

Ibid., p. 199 As colocaes do diretor podiam ser entendidos como uma ameaa do jeito que missionrios que rejeitassem o convnio podiam perder o seu trabalho na Misso. 60 A Marburger Brasilien Mission tornou-se departamento da Marburger Mission em 1989.

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Os laos com a Marburger Mission As orientaes deste primeiro ponto valem apenas para os missionrios da Marburger Mission e no automaticamente para todos os membros da MCD. A histria da Misso de Cristianismo Decidido A MCD foi fundada no dia 21.11.1990 e no dia 01.12.1990 em Curitiba e registrada como pessoa jurdica (veja estatuto da MCD). Antes o trabalho missionrio aconteceu debaixo do teto da Associao das Igrejas de Cristianismo Decidido que foi fundada no dia 01.08.1947 pelos missionrios Theodoro Grischy, Alcides Jucksch e os irmos Jlio Mller, Manfredo Prange e Egon Langer. Essa a associao das igrejas e dos trabalhos fundados pelos missionrios e diaconisas. Os primeiros missionrios foram Sigismund Jesse e Arthur Melzer que no ano de 1932 foram enviados da Alemanha para o Brasil. Em 1933 seguiu Theodoro Grischy, que no dia 31.10.1933 realizou a fundao da primeira ICD que foi registrada e reconhecida como igreja no dia 09.11.1933 com a publicao no dirio oficial do Paran. Literatura A histria da MCD e de seus antecessores foi relatada na dissertao de Dr. Norbert SCHMIDT, que termina historicamente no ano de 1990, ento antes da fundao da MCD. Outras informaes se acham nos peridicos da Marburger Mission. Em 1982, Hans Udo FUCHS e Walter KELM lanaram um livrete em portugus para o jubileu de 50 anos. Outras informaes sobre a MM veja www.marburger-mission.org Missionrios desde a fundao no ano de 1932 A lista dos missionrios e das diaconisas que foram enviados pela Marburger Brasilienmission e pela Marburger Mission para o Brasil se acha no livro de Schmidt nas paginas 332 e 333. A MCD desde a sua fundao aceita alm dos missionrios enviados pela MM tambm missionrios de outras agncias. Desde a fundao da casa matriz Betnia em 1980 as diaconisas pertencem a essa casa. Veja os anexos: lista e diagrama de missionrios.

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A Misso de Cristianismo Decidido como pessoa jurdica Como pessoa jurdica a MCD tem os seus estatutos, que so registrados pelo governo estatal. Nos estatutos so regulamentados os assuntos que regulamentam a pessoa jurdica. Veja anexo: estatutos da MCD Scios A Assemblia Geral da MCD se compe de todos os scios. Casais valem como dois scios. Missionrios da MM que trabalham na MCD se tornam automaticamente scios. Outros interessados apresentam um pedido por escrito diretoria a qual analisa o pedido e convida para uma conversa. A assemblia geral decide sobre o pedido. A sociedade continua mesmo depois de aposentado. As participaes nos encontros ordinrios e extraordinrios so obrigatrias para os scios. Lista atual dos scios com endereos Veja anexo: lista atual dos scios da MCD Organograma Para entender melhor a estrutura e as comisses da MCD e os relacionamentos com os parceiros existe um organograma. Veja anexo Organograma da MCD Equipe de liderana, lder da equipe. Nas funes e responsabilidades a equipe de liderana e a diretoria eleita pela Assemblia Geral so idnticas. A responsabilidade uma dupla: Primeiro como equipe de liderana diante da MM e da comunidade dos missionrios que se acha descrito no regulamento para missionrios da MM. Segundo como diretoria de uma agncia missionria que tem responsabilidades diante do governo, outras agncias e parceiros. Essas responsabilidades so regulamentadas nos estatutos da MCD e nos termos de cooperao. A funo do lder da equipe assumida pelo presidente da MCD. Os membros da diretoria so eleitos de dois em dois anos. Reeleio possvel. A estratgia da MCD

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Partimos da certeza de que no possvel que a MCD possa fazer tudo que necessrio e por isso devemos concentrar a nossa participao no trabalho missionrio no Brasil a certas reas. Juntos elaboramos prioridades que sero fixados em alvos imediatos, mediatos e a longo prazo. Para controlar esses alvos existe um documento com a estratgia da MCD, que ser revisto regularmente. Veja anexo: Estratgia da MCD Documentos da MCD Das seguintes reunies da MCD sero elaborados protocolos e distribudos para os scios ou guardados no escritrio da sede. - Atas das Assemblias Gerais da MCD, em portugus, sero guardadas no escritrio. - Atas das reunies da diretoria da MCD, em portugus, sero guardadas no escritrio e enviadas para os scios e a MM. - Atas das reunies com parceiros, em portugus, sero guardadas no escritrio. - Protocolos das conferncias dos missionrios, em alemo, sero distribudos para os scios e a MM. - Protocolos de reunies de comisses, em portugus, sero distribudos para os membros da comisso e a diretoria da MCD. - Protocolos de conversas entre diretoria da MCD e missionrios, em alemo, sero entregues diretoria, ao missionrio e MM. Conferncias dos missionrios Todos os membros da MCD tm direito e so convidados para participar da conferncia dos missionrios (CM). Pessoas que no so membros da MCD podem participar caso sejam convidados pela diretoria. A CM d-se no idioma alemo. Anualmente, a MCD realiza a sua CM durante uma semana em janeiro ou fevereiro de cada ano, para a qual so convidados todos os membros, junto com as suas famlias. A MCD assume, se possvel, as despesas para os seus membros, includos os seus filhos. Cantar, orar, palestras, estudos bblicos, meditaes, Ceia do Senhor e uma tarde com programa para as famlias fazem parte da CM.

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Assuntos da MCD e MM, relatos dos membros, a assemblia geral e informaes da irmandade de Tabor fazem parte da CM. Cooperao com organizaes de parceiros A MCD faz convnios com vrias organizaes de parceiros para definir a cooperao. A diretoria da Misso faz todos os acordos financeiros em relao ao oramento diretamente com a organizao do parceiro. As participaes financeiras da MM efetuam-se atravs de transaes em divisas para a devida organizao. Encontram-se os atuais convnios no anexo. A esposa do missionrio A MCD reconhece a esposa do missionrio como missionria. O casal de missionrios trabalha juntamente sendo permitido que a mulher possa ter um trabalho remunerado fora da MCD ou MM. Descrio do ministrio Cada missionrio elabora, em cooperao com a diretoria da MCD e com o responsvel da sua rea de servio, uma descrio do seu ministrio, contendo tambm planos e vises para o futuro. Uma cpia da descrio ser guardada na pasta do respectivo missionrio, no escritrio da MCD. A MCD uma agncia missionria brasileira Alm do aspecto de a MCD ser a filial autorizada da MM no Brasil importante observar que a MCD, no prprio pas, representa uma entidade diante do estado e uma associao prpria diante dos parceiros e de outros grupos de missionrios. Isso leva a dar uma ateno especial nas seguintes reas: Publicidade Para no somente fazer conhecido o trabalho da MCD, mas tambm levar como exemplo a idia da misso para as igrejas, as escolas bblicas, as entidades pblicas e a sociedade no Brasil, necessrio um trabalho publicitrio objetivo. Pontos principais so palestras nas igrejas, aulas nas escolas e a elaborao de material informativo para brasileiros.

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Donativos Doaes e ofertas, recebidas no Brasil, sero contabilizadas e empregadas conforme as exigncias legais. A MCD pode dar recibo. Associao em organizaes brasileiras Para corresponder extensa tarefa da misso no Brasil, a MCD, na qualidade de associao, faz parte de diferentes grmios, como por exemplo, na AEVB (Associao Evanglica Brasileira), na AMTB (Associao de Misses Transculturais Brasileiras) e na APMB (Associao dos Professores de Misses Brasileiras). Em conjunto, estratgias so elaboradas a nvel nacional, e, atravs de intercmbio e de impulsos espirituais, efetua-se encorajamento. Colaborao com entidades pblicas No decorrer dos anos, o governo tem assumido trabalhos, os quais a MCD tinha