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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 32 – As interfaces da gramática.
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A GRAMÁTICA E O CÁLCULO DO SENTIDO METAFÓRICO
Bento Carlos DIAS-DA-SILVA1 Ana Eliza Barbosa de OLIVEIRA2
RESUMO: Considerando a gramática como cálculo de produção de sentidos e, em particular, a sua interface com a descrição lingüística, este trabalho discute como o sentido de construções metafóricas convencionais pode ser calculado a partir da especificação de relações lógico-semânticas que se estabelecem entre os conhecimentos metafórico e lexicogramatical. Na abordagem cognitivista, que embasa a discussão, a metáfora é estudada nas dimensões conceitual e linguística, postulando-se que, naquela, o processo metafórico opera sobre constituintes específicos de dois domínios conceituais através de mapeamentos sistemáticos que resultam nas metáforas conceituais e que, nesta, as metáforas conceituais são instanciadas por construções linguísticas. Assim, a partir de considerações de que as construções metafóricas são descrições linguísticas resultantes de mapeamentos conceituais metafóricos subjacentes e de que as distinções por eles estabelecidas são instanciadas pela lexicogramática das línguas, este trabalho analisa esse tipo de construção através da modelagem (i) dos dois domínios conceituais a elas subjacentes, que inclui a especificação dos seus constituintes, das conexões lógico-estruturais que se verificam entre os conceitos dentro de cada domínio e dos mapeamentos entre conceitos dos dois domínios, e (ii) da instanciação linguística desses constituintes e mapeamentos. Em particular, explora essas conexões no estudo de diferentes usos metafóricos de construções com explodir no campo semântico da IRA (A Maria está prestes a explodir de ódio) e estende a análise para o cálculo do sentido metafórico de construções com esse verbo em outros campos semânticos como os da COMUNICAÇÃO (Maria explode: “calem-se!”), do MONETÁRIO (O preço da gasolina explodiu), entre outros. Argumenta-se que os usos metafóricos convencionais dessas construções sustentam-se sobre uma estrutura semântico-conceitual subjacente, que é depreendida em termos dos constructos teóricos “domínio conceitual”, “esquema de imagem”, “campo semântico” e “frame semântico”. Assim, modelando o significado lexical em termos dos conceitos e frames semânticos por ele ativados e os constituintes dos domínios conceituais metaforicamente ativados tanto em termos de relações taxonômicas e horizontais quanto em termos de frames semânticos (que estabelecem a necessária conexão entre as informações conceitual, contextual e lexical), conclui-se que a análise aqui proposta possibilita, por um lado, o cálculo do conhecimento metafórico e, por outro, o cálculo do sentido metafórico resultante da instanciação linguística desse conhecimento.
1 Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras. Departamento de Letras Modernas/ Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa. Rodovia Araraquara-Jaú Km1. 14.800-901. Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected] 2 Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras. Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa. Rodovia Araraquara-Jaú Km1. 14.800-901. Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]
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PALAVRAS-CHAVE: metáfora conceitual; construção metafórica; campo semântico; frame semântico.
Introdução
Conforme relata Grady (2007), o estudo científico da metáfora tem raízes antigas.
Iniciado por Aristóteles (1996), chega até nossos dias com contribuições formais e inovadoras
de Anderson (1971) e Reddy (1993). Este último sendo o grande motivador dos estudos
cognitivistas iniciados por Lakoff e Jonhson (1980). Recorde-se que o trabalho de Reddy foi
publicado em Ortony (1979), ma das obras mais significativas sobre o estudo da metáfora sob
diferentes pontos de vista. Conforme mostra a introdução ao estudo da metáfora do ponto de
vista cognitivista esboçada a seguir, a principal contribuição desse enfoque para a compreensão
da metáfora é considerar as construções linguísticas metafóricas como passíveis de serem
tratadas sistematicamente e de fornecerem pistas sobre o funcionamento da cognição humana.
Para o enfoque cognitivista inicia-se com Lakoff e Johnson (1980), e que embasa toda a
discussão deste artigo, subjacente às metáforas linguísticas, isto é, ao uso metafórico
convencional de construções linguísticas, e dando-lhes o suporte interpretativo, encontram-se as
metáforas conceituais, que possibilitam aos usuários da língua construir e interpretar esse tipo
de construção linguística.
Mais especificamente, as metáforas conceituais são caracterizadas como feixes de
mapeamentos entre dois domínios conceituais que se aproximam de modo a configurar a
seguinte estruturação: elementos e relações de um domínio conceitual da experiência,
denominado domínio fonte (F) e instanciado canonicamente por construções linguísticas
literalmente interpretadas, são usados para construir e interpretar outro domínio conceitual da
experiência, denominando domínio alvo (A) e instanciado por construções metaforicamente
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interpretadas.3 Em outras palavras, a metáfora conceitual resulta do estabelecimento de uma
série de correspondências sistemáticas entre elementos e relações estruturais complexas
pertencentes a cada um dos dois domínios.
As metáforas conceituais codificam, conforme argumentação de Lakoff e Johnson
(1980), parcelas da experiência corporal, social e cultural.4 Um dos exemplos clássicos é a
metáfora conceitual O RELACIONAMENTO AMOROSO É UMA JORNADA, que
conceitua a evolução, as dificuldades e os objetivos do relacionamento em termos da evolução,
das dificuldades e dos objetivos de uma jornada. As construções metafóricas Veja aonde
chegamos e Não podemos voltar atrás são exemplos de instanciações lingüísticas dessa
metáfora conceitual. À medida que essas construções são igualmente aplicáveis a jornadas, elas
são consideradas pistas lingüísticas de que o conceito de AMOR é parcialmente estruturado em
termos do conceito de JORNADA (LAKOFF e JOHNSON, 1980 e 1999).
Como as metáforas conceituais não se vinculam a unidades lexicais específicas,
segmentos do enunciado, denominados tópico e veículo da metáfora linguística, instanciam
linguisticamente elementos e relações dos domínios A e F.5 Assim, a identificação tanto desses
segmentos quanto dos elementos de cada domínio conceitual, bem como da estruturação desses
elementos, e dos mapeamentos entre os domínios é tarefa crucial para a modelagem da
metáfora conceitual e do cálculo do sentido metafórico das construções que a instanciam
linguisticamente.
3 Kövecses (2002) define domínio conceitual como organizações coerentes da experiência, que, segundo Cienki (2007, p. 170), modelam “o conhecimento enciclopédico estruturado que está inextricavelmente vinculado ao conhecimento linguístico”. (Tradução livre) 4 Segundo Kövecses (2009), os fatores contextuais que exercem papel na produção/interpretação das construções metafóricas convencionais são: (i) o contexto lingüístico imediato, (ii) o conhecimento sobre as entidades que participam no discurso, (iii) o cenário físico, (iv) o cenário social e (v) o contexto cultural imediato. 5 Cameron (1999, p. 14) define tópico e veículo como os descritores de superfície dos mapeamentos metafóricos.
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Considere-se, por exemplo, a construção O preço da gasolina explodiu. A relação de
natureza metafórica que se estabelece entre o tópico, O preço da gasolina, e o veículo,
explodiram, é interpretável devido à correlação que se pode estabelecer entre essa construção e
a metáfora conceitual assim esquematizada: QUANTIDADE É VERTICALIDADE, que é
particularizada por MAIS É PARA_CIMA.6 Nesses esquemas, VERTICALIDADE e
PARA_CIMA são rótulos mnemônicos que nomeiam o domínio F; analogamente,
QUANTIDADE e MAIS nomeiam o domínio A. Assim, conforme ilustra a Fig. 1, o
estabelecimento dessa correlação exige tanto a identificação dessas metáforas conceituais e dos
mapeamentos relevantes entre os seus respectivos domínios F e A quanto das relações que
possibilitam as instanciações [O preço da gasolina instancia MAIS>QUANTIDADE] e
[explodiu instancia PARA_CIMA>VERTICALIDADE].7
Figura1: Indicação da modelagem da metáfora conceitual e do cálculo do sentido da metáfora linguística.
Como destaca Kövecses (2002, p. 69-70), a metáfora conceitual MAIS É
PARA_CIMA sustenta-se na seguinte correlação da experiência: “o evento de se adicionar mais
6 Lakoff (1993, p. 222) postula que os mapeamentos metafóricos se organizam em estruturas hierárquicas: mapeamentos de níveis inferiores herdam as estruturas de mapeamentos de níveis superiores. 7 O símbolo “>” sinaliza subestrutura.
Metáfora linguística (cálculo de sentidos) Metáfora conceitual (modelagem de conceitos)
?
Dimensão Conceitual
A
VERTICALIDADE >PARA-CIMA
QUANTIDADE >MAIS
F
mapeamentos
A F
O preço da gasolina
Dimensão Linguística
?
VERTICALIDADE
>PARA_ CIMA
QUANTIDADE >MAIS
explodiu
? instanciações
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fluido a um recipiente é acompanhado do evento de o nível do fluido subir” (tradução livre).
Explica ainda que essa metáfora opera com os domínios conceituais esquemáticos
QUANTIDADE e VERTICALIDADE, que, por sua vez, estruturam-se em termos do
esquema de imagem ESCALA, que inclui respectivamente, as escalas polares MAIS-MENOS
e PARA_CIMA-PARA_BAIXO.8 Assim, por um lado, dado que o domínio F,
VERTICALIDADE, estrutura-se em termos da escala acima referida, o verbo explodiu, ao
instanciar linguisticamente o conceito EXPLOSÃO, instancia também a propriedade escalar
PARA_CIMA, porque uma explosão resulta do aumento e não da diminuição de intensidade,
situação que acionaria o polo oposto, PARA BAIXO, da escala, conforme discussão nas seções
2 e 4.9 Por outro, o tópico da construção metafórica O preço da gasolina, ao instanciar uma
quantia em dinheiro, instancia o domínio A, QUANTIDADE. Por fim, a metáfora conceitual
esquematizada por MAIS É PARA_CIMA determina a instanciação a propriedade escalar
MAIS da escala MAIS-MENOS, possibilitando um cálculo aproximado do sentido da
construção metafórica O preço da gasolina explodiu.
À medida que é o veículo que fornece a evidência lingüística da metáfora conceitual
(STEFANOWITSCH e GRIES 2006), o principal desafio do cálculo do sentido da construção
metafórica, ilustrado em (ii), é como o veículo explodir lexicaliza o domínio F PARA CIMA.
Dado que os sentidos lexicais conectam-se inextricavelmente aos conceitos (KÖVECSES,
1986), os conceitos, por sua vez, são constituintes de domínios conceituais (CLAUSNER e
CROFT, 1999; CROFT, 2009) e os domínios conceituais são estruturados internamente em
termos de frames semânticos (SULLIVAN, 2007), as conexões entre domínios conceituais e
construções lingüísticas, em geral, e entre o domínio F e o veículo, em particular, são
8 Johnson (1987) define esquema de imagem como uma estrutura esquemática e recorrente da experiência. 9 Note-se que as propriedades escalares PARA_CIMA e PARA BAIXO são instanciadas, respectivamente, por verbos como subir, em Os preços subiram, e baixar, em Os preços baixaram.
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investigadas em termos do constructo frames semânticos, que são suficientemente expressivos
para estabelecer as conexões entre língua, conceitos e contextos de uso.
Argumenta-se que subjacente essas expressões lingüísticas há uma estruturação
semântica de EXPLOSÃO, que é investigada em termos dos constructos teóricos ‘metáfora
conceitual’ (LAKOFF; JOHNSON, 1980), ‘domínio conceitual’ (LAKOFF; JOHNSON 1999;
CLAUSNER; CROFT 1999), ‘esquema de imagem’ (JOHNSON 1987; OAKLEY 2007),
frame semântico (FILLMORE 1985; FILLMORE; ATKINS 1992; RUPPENHOFER 2006) e
‘campos semânticos’ (KITTAY, 1987). Em termos desses constructos, esboça-se uma
estratégia para abordar linguisticamente a estrutura semântica de EXPLODIR e ilustra como
essa estratégia pode ser extrapolada em diferentes campos semânticos.
Na sequência, este trabalho apresenta, nas seções subsequentes, o suporte teórico, em
termos dos construtos acima referidos e das relações que se estabelecem entre eles, mostrando
como os domínios conceituais podem ser modelados em termos dos frames e como este
fornecem os elos para a modelagem das metáforas conceituais e para, a partir dessa modelagem
lexicogramatical, efetuar-se o cálculo dos sentidos metafóricos das construções que instanciam
as metáforas conceituais.
Relações entre domínio conceitual, campo semântico e frame semântico
Clausner e Croft (1999) demonstram que a relação semântica entre conceito e domínio
é uma relação do tipo parte-todo. Na metáfora conceitual QUANTIDADE É
VERTICALIDADE, o subdomínio conceitual QUANTIDADE DE DINHEIRO é um domínio
mais específico do domínio A, QUANTIDADE, e contém conceitos como PREÇO, DESPESA
e CARO, que se instanciam por unidades lexicais como preço, despesa/despender e
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caro/carestia/encarecer, entre outras; analogamente, o subdomínio conceitual PARA_CIMA é
também um domínio mais específico do domínio F, VERTICALIDADE, que integra conceitos
como SUBIDA e EXPLOSÃO, que se instanciam lingüisticamente por unidades lexicais como
subir/subida, aumento/aumentar e explosão/explodir, entre outras.
A relação lógica conceito-domínio é parcialmente espelhada na relação semântica
sentido-campo semântico. Do mesmo modo que os conceitos contidos no domínio F são partes
desse domínio, os significados das unidades lexicais que instanciam os conceitos de F
constituem um mesmo campo semântico. Entretanto, enquanto os conceitos contidos no
domínio A são partes de A, os significados das unidades lexicais que instanciam os conceitos de
A constituem campos semânticos distintos.
Assim, conforme argumenta Kittay (1987), o veículo da construção metafórica é
sempre articulado por unidades lexicais de um mesmo campo lexical, dado que essas unidades
lexicalizam conceitos de um mesmo domínio e, consequentemente, os seus significados
constituem um mesmo campo semântico.
Considere, por exemplo, a construção metafórica O preço da gasolina subiu e explodiu.
Embora os significados dos veículos subiu e explodiu expressem diferentes graus na escala de
preços, dado que o segundo claramente expressa que o grau atingiu um dos valores máximos,
ambos constituem o mesmo campo semântico, dado que os esses verbos instanciam conceitos
do mesmo domínio conceitual PARA_CIMA. Já o significado complexo do tópico O preço da
gasolina constituem campos semânticos distintos, dado que preço e gasolina instanciam
conceitos de domínios conceituais distintos: o primeiro instancia o conceito PREÇO e constitui
um campo lexical contendo unidades como taxa e valor; o segundo instancia o conceito
GASOLINA, constituindo um campo lexical com unidades como combustível e petróleo.
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Note-se que, na concepção clássica de campo semântico, os significados são definidos
em termos das posições que ocupam dentro do campo; de acordo com Cruse (1992), essa
posição é estabelecida em termos de relações estruturais e independentes da experiência do tipo
é_um, é_um_tipo_de, é_parte_de, é_usado_para. Por outro lado, na concepção cognitivista de
domínio conceitual, os conceitos são definidos em relação a conhecimentos estruturados da
experiência. Conforme será discutido na seção seguinte, esse tipo de conhecimento é
frequentemente “enquadrado” pelo constructo frame semântico (FILLMORE e ATKINS,
1992). Assim, a característica de incluir dados da experiência presente nos construtos domínio
conceitual e frame semântico, mas ausente nos construtos campo semântico/campo lexical,
conforme apontam Nerlich e Clark (2000), tornam estes, mas não aqueles, ferramentas
analíticas apropriadas para descrever a metáfora nas dimensões lingüística e conceitual, posto
que, como já se mencionou, nela estão codificados, parcelas da experiência corporal, social e
cultural.
Caracterização de domínios conceituais em termos de frames semânticos
O frame semântico define-se como “uma estrutura conceitual que descreve um tipo
particular de situação, objeto ou evento [isto é, os predicados] e os participantes [isto é, os
papéis semânticos] envolvidos” (RUPPENHOFER et al., 2005, p. 1).10 Os participantes do
frame são denominados Elementos do Frame (EF) e as construções lingüísticas que evocam o
frame são designadas Elementos que Evocam o Frame (EEF).
10 Enquanto os papéis temáticos são propriedades semânticas gerais que são abstraídas em grande escala da realização sintática, os EFs são elaborações mais específicas dos papéis temáticos, ou seja, ao invés de se especificarem apenas papéis temáticos genéricos, no frame especificam-se também “revestimentos” específicos desses papéis em função da análise sintática e semântico-conceitual das diferentes posições sintáticas das construções (BOUVERET e SWEETSER, 2009). Assim, no frame, não se especifica apenas o papel temático genérico Agente, mas instanciações mais específicas, isto é, micropapéis, como Matador, Vítima, Vendedor, Corredor, etc. Neste trabalho serão utilizados apenas os EFs relevantes para a discussão.
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Os frames configuram a interpretação dos enunciados. Por exemplo, o frame a partir do
qual a construção O preço da gasolina subiu é interpretada é o frame cenário_comercial,
definido como “Uma situação em que um Comprador e um Vendedor participam de uma troca
de Moeda por Mercadoria’, em que Comprador, Vendedor, Moeda e Mercadoria são EFs.11 No
nível da construção, a unidade lexical gasolina evoca o EF Mercadoria e a unidade lexical preço
evoca o EF Moeda. O sentido do verbo subir relevante para a discussão é “avançar numa escala
de valores” (escala de preço da gasolina). Esse sentido, por sua vez, é enquadrado pelo frame
mudança_escalar_de_posição, definido como “Uma situação em que uma Entidade que
possui uma propriedade escalar, o seu Atributo, muda a sua posição na escala, da posição
inicial, o Valor_Inicial, para a posição final, o Valor_Final”, em que Entidade, Atributo,
Valor_Inicial e Valor_Final são EFs. Nesse frame, gasolina evoca o EF Entidade e preço evoca
o EF Atributo. A Fig. 2 esquematiza as relações entre construções e frames.
Na Fig. 2, as setas curvas conectam os EEFs preço e subir aos frames
cenário_comercial e mudança_escalar_de_posição, respectivamente. As setas pontilhadas
indicam que preço e gasolina evocam os EFs Atributo e Entidade do frame
mudança_escalar_de_posição e os EFs Moeda e Mercadoria do frame cenário comercial,
respectivamente.
11 Os frames semânticos discutidos neste artigo estão catalogados na rede FrameNet, uma implementação computacional da Semântica de Frames em desenvolvimento pela equipe de Fillmore na Universidade da California, Berkeley, disponível para consulta no endereço eletrônico: http://framenet.icsi.berkeley.edu/.
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Figura 2: Interpretação de O preço da gasolina subiu em termos de frames semânticos.
Observe-se que, na dimensão conceitual, o “conteúdo temático” da construção O preço
da gasolina subiu (preço da gasolina) é enquadrado pelo frame cenário_comercial e o seu
“conteúdo remático” (aumento do preço) é enquadrado pelo frame
mudança_escalar_de_posição. Essa propriedade é relevante para explicar parte da estrutura da
construção metafórica, porque os conteúdos temático e remático associam-se, respectivamente,
ao tópico e ao veículo da metáfora linguística, sendo aquele o elemento crucial para a
interpretação do sentido metafórico. Assim, enquanto o conteúdo que molda a interpretação da
metáfora linguística provém do domínio A, a estrutura a partir da qual esse conteúdo é
organizado provém do domínio F.
Considere a construção metafórica A Maria ficou tão entusiasmada que quase explodiu
de felicidade. Conforme ilustra as setas na Fig. 3, as unidades lexicais Maria, entusiasmada e
felicidade pertencentes ao tópico evocam os EFs Experienciador, Estado_Emocional e Emoção
do frame experiência, que modela o domínio A e é assim definido: “Uma situação em que um
Experienciador encontra-se em um Estado_Emocional ou experiencia algum tipo de Emoção”,
em que Experienciador, Estado_Emocional e Emoção são EFs.12
12 A elaboração desse frame será feita na seção 4.
O preço da gasolina subiu
Frame: cenário_comercial Moeda Mercadoria
Frame: mudança_escalar_de_posição Entidade Atributo
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Conexão das dimensões conceitual e linguística da metáfora
Ao analisar os argumentos que ocorrem com o verbo comer nas construções literais,
Croft (2009) argumenta que as distinções lexicogramaticais instanciadas por comer derivam de
distinções conceituais específicas. Segundo o autor, o evento COMER realiza-se por meio de
três estágios: um estágio inicial de ENTRADA do alimento (colocar o alimento na boca), um
estágio intermediário de PROCESSO do alimento (mastigar o alimento) e um estágio final de
INGESTÃO do alimento (engolir o alimento).
Figura 3: Relação de evocação entre unidades lexicais e EFs do tópico da metáfora.
A diferença entre os estágios inicial e intermediário, de um lado, e o estágio final, de
outro, é que, nos primeiros, parte do alimento ainda não foi processado e, no último, o
processamento do alimento é completamente realizado. Essas distinções conceitualmente
estabelecidas são mapeadas quando os conceitos MASTIGAR e ENGOLIR são
metaforicamente instanciados, conforme ilustram as construções metafóricas Não queremos
forçar os visitantes a mastigar informações que são irrelevantes ao que procuram e Eu tive que
engolir o orgulho que restou. Segundo Croft, à medida que esboçam relações semântico-
conceituais específicas, cada estágio é enquadrado por um frame semântico específico.
Essa argumentação, aplicada à estruturação do domínio conceitual EXPLOSÃO,
permite a proposição dos dois estágios descritos em (1) CAUSA
(INTENSIDADE_MÁXIMAPRESSÃO, EXPLOSÃO) e (2) CAUSA (EXPLOSÃO,
A Maria ficou tão entusiasmada que quase explodiu de felicidade Frame: experiência
Experienciador
Estado_Emocional
Emoção
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LIBERAÇÃOPRESSÃO). (1) descreve a intensidade máxima de pressão que um recipiente
suporta antes de explodir/romper-se; (2) descreve a liberação de pressão resultante da
explosão/rompimento do recipiente. Esses estágios são empregados na interpretação dos usos
metafóricos de explodir em diferentes campos semânticos. Esses dois estágios podem ser
instanciados, respectivamente, em construções metafóricas como A Maria está prestes a
explodir de raiva (C1) e Quando a Maria soube que ele havia desistido do colégio, ela explodiu
(C2). Enquanto C1 expressa a intensidade elevada da emoção, C2 expressa a sua liberação.
Estabelece-se assim a analogia: C1 está para (1) assim como C2 está para (2). Note-se que,
embora o conceito IRA não esteja lexicalmente instanciado em C2, essa instanciação é inferida
a partir da dimensão conceitual em termos da metáfora conceitual IRA É PRESSÃO
CONTIDA. Segundo Kövecses (1986), o conceito IRA é abstraído do mapeamento da estrutura
<quando a intensidade da pressão no interior do recipiente torna-se excessivamente intensa, o
recipiente explode/rompe-se e libera a pressão> pertencente ao domínio F sobre a estrutura
<quando a intensidade da ira torna-se excessivamente intensa, a pessoa extravasa e libera a ira>
pertencente ao domínio A.
Ao analisar os tipos de construções sintáticas usados comumente para descrever o
domínio A AMOR da metáfora conceitual O RELACIOMENTO AMOROSO É UMA
JORNADA, Glynn (2002, p. 552) argumenta que os diferentes tipos de construção que
instanciam o conceito AMOR instanciam “diferentes topologias [isto é, “estruturas de esquema
de imagem” (LAKOFF, 1993, p. 9)]” desse conceito. De modo análogo, as construções
exemplificadas no parágrafo anterior instanciam as duas “topologias”,
INTENSIDADE_MÁXIMA e LIBERAÇÃO, do conceito EXPLOSÃO.
Para apreender a estrutura mapeada do domínio F PRESSÃO CONTIDA sobre o
domínio A IRA CONTIDA e estabelecer a conexão entre as metáforas conceitual e linguística,
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analisam-se as relações e os elementos mapeados dos dois domínios em termos de frames e de
seus respectivos elementos. Essa análise embasa-se na discussão de que a esquematização do
domínio conceitual pode ser modelada em termos da estrutura de frames (SULLIVAN, 2007).
Em particular, as estruturas topológicas INTENSIDADE_MÁXIMA e LIBERAÇÃO
são enquadradas, respectivamente, pelos frames mudança_escalar_de _posição, definido na
seção anterior, e causa_de_mudança_escalar_de_posição, definido como “Uma situação em
que um Agente ou uma Causa muda a posição de uma Entidade na escala”, em que Agente,
Causa e Entidade são EFs. Enquanto o limite superior da escala de intensidade (<intensidade
máxima da pressão>) é semanticamente elaborado pelo EF Valor_Final do frame
mudança_escalar_de_posição no domínio F PRESSÃO CONTIDA, a transposição desse
limite (<liberação da pressão>) é semanticamente elaborada pelo EF Causa do frame
causa_mudança_escalar_de_posição, à medida que é a identificação da capacidade máxima
do recipiente com a intensidade da pressão contida que resulta na explosão. Os EFs Entidade e
Causa do domínio da PRESSÃO, são mapeados, respectivamente, no domínio A IRA, sobre
EFs dos frames experiência, definido na seção anterior, e emoção_direcionada, definido
como “Uma situação em que um Experienciador reage emocionalmente a um Estímulo, isto é, a
uma pessoa ou a um evento que evoca a reação emocional no Experienciador”, em que
Experienciador e Estímulo são EFs.
O EF Entidade do frame mudança_escalar_de_posição é mapeado sobre o elemento
Emoção do frame experiência, conforme ilustra a Fig. 4, e o EF Causa do frame
causa_mudança_escalar_de_posição é mapeado sobre o elemento Estímulo do frame
emoção_direcionada, conforme ilustra a Fig. 5.
Na Fig. 4, o mapeamento da estrutura <intensidade máxima da pressão> de F sobre A é
indicado pela seta contínua e a elaboração semântica dessa estrutura, em termos do
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mapeamento do EF Entidade do frame de F sobre o EF Emoção do frame de A, é indicada pela
seta pontilhada. Os segmentos pontilhados verticais indicam as conexões entres três níveis de
abstração: conceito, estrutura topológica e frame semântico. A seta pontilhada vertical indica a
construção que evoca o frame semântico.
Figura 4: Modelagem da metáfora conceitual IRA É PRESSÃO CONTIDA e cálculo do sentido metafórico de construções como A Maria explodiu de raiva.
De modo análogo, na Fig. 5, o mapeamento da estrutura <liberação da pressão> do
domínio F ao domínio A é indicado pela seta contínua e a elaboração semântica dessa estrutura,
em termos do mapeamento do EF Causa do frame de F no EF Estímulo do frame de A, é
representada pela seta pontilhada. Os segmentos pontilhados verticais representam níveis de
abstração entre conceito, estrutura topológica e frame semântico e a seta pontilhada vertical
representa o elemento que evoca o frame semântico.
Conforme indicam as construções que evocam os frames semânticos do domínio A,
representados nas Figs. 4 e 5 pelas setas pontilhadas verticais, as estruturas topológicas
estrutura mapeada
EF mapeado
Lexicogramática: A Maria Experienciador explodiu de raiva Emoção].
Frame: experiência Emoção (ira/raiva) Experienciador Estado Emocional
A
<intensidade máxima da ira>i
IRA CONTIDA>EXPLOSÃO
Lexicogramática: explodiu
F
Frame: mudança_escalar_de_posição Entidade (pressão) Valor_Final <i>
<intensidade máxima da pressão>i
PRESSÃO CONTIDA>EXPLOSÃO
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INTENSIDADE e LIBERAÇÃO são instanciadas por diferentes estruturas de argumentos do
verbo explodir.
Na Fig. 4, o EF Emoção é instanciado pelo sintagma preposicionado [V de SN],
conforme ilustra a construção [__Experienciador explodir de __Emoção], exemplificada por Maria está
prestes a explodir de raiva. Na Fig. 5, o EF Estímulo é instanciado por dois tipos de construção:
[V com SN] e [V por SN], conforme ilustram as construções [__Experienciador explodiu com
__Estímulo], exemplificada por A Maria explodiu comigo antes de eu ter a chance de me explicar,
e [__Experienciador explodir por __Estímulo], exemplificada por A Maria não está dizendo que
devemos explodir por qualquer provocação, e [V], conforme ilustra a construção [__Experienciador
explodiu], exemplificada por Quando a Maria ouviu que ele tinha desistido da faculdade, ela
explodiu. Note-se que, enquanto a estrutura <intensidade máxima da ira> é verbalizada na
relação entre os EFs Experienciador e Emoção, a estrutura <liberação da ira> é verbalizada na
relação entre os EFs Experienciador e Estímulo.
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Figura 5: Modelagem da metáfora conceitual IRA É PRESSÃO CONTIDA e cálculo do sentido metafórico de
construções como A Maria explodiu ou A Maria explodiu com o Paulo.
A descrição dos mapeamentos ilustrados nas Figs. 4 e 5 pode ser estendida para outros
campos semânticos. Para exemplificar essa extensão, propõe-se uma hierarquia de conceitos e
os seus respectivos enquadramentos por frames, conforme ilustram as Figs. 6 e 7.
A extensão da aplicação da estrutura <liberação da ira>, mapeada no domínio A IRA
dentro do campo semântico da EMOÇÃO INTENSA, ao campo semântico da
COMUNICAÇÃO, é exemplificada na Fig. 6 por meio da esquematização da construção
metafórica Maria explode: “calem-se!”. Essa construção, que ativa o frame semântico
reação_verbal, definido como “Uma situação em que o Falante comunica uma Mensagem
como resposta ou reação a uma comunicação ou ação prévia”, em que Falante e Mensagem são
os EFs, é assim esquematizada: [__Falante explode __Mensagem]. Nessa construção, a estrutura
<liberação da ira> é verbalizada na relação entre os EFs Falante e Mensagem; em particular, o
EF Causa do domínio F é mapeado no EF Mensagem do domínio A. As setas pontilhadas retas
<liberação da ira>i
estrutura mapeada
EF mapeado
Lexicogramática: explodiu
Lexicogramática: [Maria Experienciador explodiu]; [Maria Experienciador explodiu com o Paulo Estímulo]
Frame emoção_direcionada Experienciador Estímulo
A EXPLOSÃO>LIBERAÇÃO
F
Frame: causa_mudança_escalar_de_posição Entidade Causa <i>
<liberação da pressão>i
EXPLOSÃO>LIBERAÇÃO
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indicam os mapeamentos entre EFs do domínio do F em EFs do domínio A e a instanciação dos
EFs do domínio A na lexicogramática. As setas pontilhadas curvas indicam a conexão entre
conceitos (da hierarquia semântica) e frames. Em particular, indicam como a estrutura
esquemática LIBERAÇÃO é instanciada nos campos semânticos da COMUNICAÇÃO e da
IRA.
Figura 6: Extensão dos usos metafóricos de explodir para o campo semântico da COMUNICAÇÃO.
A extensão da aplicação da estrutura <intensidade máxima da ira>, mapeada no
domínio A FÚRIA dentro do campo semântico da EMOÇÃO INTENSA, por sua vez, é
ilustrada no domínio A QUANTIDADE da metáfora conceitual QUANTIDADE É
EXPLODIR (Responder vigorosamente a
uma ação prévia)
EXPLODIR (Demonstrar uma reação
emocional intensa)
RESPONDER; REAGIR (Manifestar-se contra algo/alguém)
Hierarquia Semântica
Frame: causa_mudança_escalar_de_posição Causa <i>
Campo semântico da COMUNICAÇÃO Maria explode: “calem-se”
Lexicogramática
Campo semântico da IRA (...) nós não devemos explodir por
qualquer provocação
Lexicogramática
Frame: emoção_direcionada Experienciador Estímulo
A
Frame: reação_verbal Falante Mensagem
<liberação da emoção>i
Estrutura mapeada
F <liberação da pressão>i
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VERTICALIDADE, em particular, nos campos semânticos da CONTAGEM, do
MONETÁRIO, da EXPANSÃO e da COMPLETUDE.
As construções metafóricas A taxa de natalidade explodiu e A população explodiu, que
ativam conceitos do campo semântico da CONTAGEM, instanciam o frame semântico
aumento_em_número, definido como “Uma situação em que o número de entidades que
formam um Conjunto altera-se de um Número_Inicial para um Número_Final”, em que
Conjunto, Número_Inicial e Número_Final são EFs. Nesse campo, a estrutura <intensidade
máxima> é instancia na lexicogramática em termos do EF Conjunto do frame
aumento_em_número, como evidencia a construção [__Conjunto explodiu].
A construção metafórica O preço da gasolina explodiu, por sua vez, que ativa conceitos
do campo semântico do MONETÁRIO, instancia o frame semântico carestia, definido como
“Uma situação em que um Pagador dispõe-se de um Recurso para adquirir uma Mercadoria,
realizar um Evento pretendido ou receber um Serviço”, em que Pagador, Recurso, Mercadoria,
Evento e Serviço são EFs.13 O mapeamento da estrutura <intensidade máxima> é instanciado
na lexicogramática em termos do EF Atributo do frame carestia, conforme mostra a construção
[__Atributo explodiu].
As construções metafóricas O boom do petróleo iniciou uma era de crescimento na
cidade e O boom econômico mais recente centrou-se em torno da corporação Microsoft, que
ativam conceitos do campo semântico da EXPANSÃO, ativam o frame semântico
causa_de_expansão, descrito como “Uma situação em que um Agente ou uma Causa não
humana causam a mudança física em uma Entidade”, em que Agente, Causa e Entidade são
EFs. Nesse campo, a estrutura <intensidade máxima> é instanciada na lexicogramática em
13 Note-se que as construções Os preços explodiram e Os preços subiram instanciam os frames carestia e cenário_comercial, respectivamente.
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termos do EF Entidade do frame causa_de_expansão. Essa instanciação é expressa na
construção [boom de/__Entidade].
Figura 7: Extensão dos usos metafóricos de explodir para os campos semânticos CONTAGEM, MONETÁRIO, EXPANSÃO e COMPLETUDE.
Por fim, as construções metafóricas O meu estômago está prestes a explodir e O
concurso vai explodir de gente, que ativam conceitos do campo semântico da COMPLETUDE,
instanciam o frame semântico COMPLETUDE, definido como “Uma situação em que um
Recipiente encontra-se em um estado de completude com relação a algum Conteúdo”, em que
EXPLOSÃO2 (expandir vigorosamente)
MUDANÇA (submeter-se à mudança)
<intensidade máxima>
MUDANÇA DE DIMENSÃO (Mudar a dimensão ou o volume)
AUMENTO (Aumentar a dimensão ou o volume de uma
quantidade)
EXPLOSÃO1 (aumentar
incontrolavelmente)
CRESCIMENTO (Tornar maior, mais volumoso; expandir)
EXPLOSÃO3 (completar-se totalmente
a ponto de romper-se)
Hierarquia Semântica
carestia Atributo
Mercadoria
Campo semântico do MONETÁRIO O preço da gasolina explodiu
Frame Semântico
Lexicogramática
Lexicogramática
causa_de_expansão
Entidade
Campo semântico da EXPANSÃO O boom do petróleo iniciou(…)
(...) boom econômico (…)
Frame Semântico
completude Recipiente Conteúdo
Campo semântico da COMPLETUDE
O meu estômago está prestes a explodir
O concurso está explodindo de gente
Frame Semântico
Lexicogramática
Aumento_em_número
Conjunto
Campo semântico da CONTAGEM
A taxa de natalidade explodiu
A população explodiu durante (…)
Frame Semântico
Lexicogramática
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Recipiente e Conteúdo são EFs. Nesse campo, a estrutura mapeada <intensidade máxima> é
instancia na lexicogramática em termos do EF Recipiente do frame completude. Essa
instanciação é expressa nas construções [__Recipiente explodir] e [__Recipiente explodir de __Conteúdo].
Na Fig. 7, a instanciação dos EFs na lexicogramática é indicada pelas setas pontilhadas
e o enquadramento dos conceitos da hierarquia semântica em termos de frames semânticos é
indicada pelas setas tracejadas. Em particular, as construções metafóricas ativam conceitos dos
campos semânticos da CONTAGEM e do MONETÁRIO instanciam o conceito
EXPLOSÃO1 glosado por ‘aumentar incontrolavelmente’. Já as construções que ativam
conceitos do campo semântico da EXPANSÃO instanciam o conceito EXPLOSÃO2, glosado
por ‘expandir vigorosamente’ e, por fim, as construções que ativam conceitos do campo
semântico da COMPLETUDE instanciam o conceito EXPLOSÃO3, glosado por ‘completar-se
totalmente a ponto de romper-se’.
Considerações finais
A análise dos usos metafóricos de explodir no domínio A IRA mostrou que o sentido
das construções metafóricas convencionais pode ser calculado a partir da especificação de
relações lógico-semânticas que se estabelecem entre os conhecimentos metafórico e
lexicogramatical. Esse resultado contrasta com os estudos que sugerem que tendências
lingüísticas operam independentemente de mapeamentos metafóricos conceituais (cf.
DEIGNAN, 1999).
A análise das construções metafóricas em termos de esquemas de imagem, de domínios
conceituais, de frames e campos semânticos, mostrou também que os aspectos lingüísticos,
conceituais e contextuais subjacentes à interpretação de construções metafóricas convencionais
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podem ser integrados. Essa integração, ilustrada nas Figs. 4 e 5, pôde ser estendida a outros
campos semânticos, conforme demonstraram as Figs. 6 e 7.
Conclui-se que a análise aqui proposta possibilita, por um lado, a modelagem do
conhecimento metafórico e, por outro, o cálculo do sentido metafórico resultante da
instanciação linguística desse conhecimento.
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