A globalização enlaces e faces nos estudos das organizações educativas
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A globalização enlaces e faces nos estudos das organizações educativas
Carlos Antonio de QueirozUniversidade do Minho
Marly Alfaia Simões de QueirozUniversidade do Minho
Fabiane Maia GarciaUniversidade Federal do Amazonas
Resumo - A análise objetiva discutir a questão da globalização enquanto tema presente em
pesquisas de pós-graduação nomeadamente na área da Política Educativa e Organização e
Administração Escolar. Toma como referência três trabalhos desenvolvidos a partir de estudo
de caso em que a globalização emerge com múltiplas inferências e determinantes em relação
ao campo educativo brasileiro e português. No primeiro caso, desenvolve uma análise que
discute o cenário da globalização, que mundializou o capitalismo e a democracia. No segundo
caso a globalização está presente como parte da necessidade formativa que configura as
políticas neoliberais de acesso ao ensino superior. No último estudo, a questão da globalização
é parte das discussões dos conceitos de qualidade, eficiência, eficácia e efetividade presentes
nos processos avaliativos hoje inerentes aos sistemas educativos. Nos três estudos, a
globalização se apresenta referenciada nas principais teorias que configuram o estado
moderno nas suas formas de estruturação, organização e controlo na execução das políticas emúltiplas inferências nas organizações educativas.
Palavras-chave: Globalização, Ensino superior, Estado.
Introdução
O estudo da globalização se apresenta como central em muitas pesquisas em andamento. Nas
pesquisas há uma convergência no sentido de perceber como esse processo influencia e se
apresenta em áreas e temáticas distintas. No campo educacional, a globalização é vista como
parte do contexto económico que provoca implicações na composição das políticas e na forma
como o Estado e as organizações educativas planejam e desenvolvem suas ações cotidianas.
Nessa perspetiva, a análise proposta evoca o resultado de três estudos de caso sobre assuntos
distintos em que a globalização é vista como forma de entender o cenário educativo brasileiro.
Assim, o estudo apresenta uma definição conceitual da globalização e sua emergência na
configuração do Estado moderno. A partir dessa formulação a globalização é tomada como
ferramenta para o entendimento de questões vinculadas a democracia e a autonomia, a influência
do neoliberalismo nas políticas de acesso e permanência no ensino superior do Brasil e aos
processos de avaliação a partir do accountability presentes no sistema educativos.Como parte da compreensão do Estado moderno a globalização é percebida como um processo
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pelo qual a maioria deles não teve opção ou defesa. Esse ideário acaba por justificar as mudanças
evidenciadas no século XXI. De modo geral, o discurso da globalização se apresenta como parte
da premissa de que o mundo vive tempos, cultura e história com características homogéneas.
Desse modo, há um conjunto de teorias que aponta o encadeamento das políticas, sejam no
campo económico, educacional e/ou cultural. Esse contexto é percebido por Ianni (1998) comosistémico, no qual se privilegiam as relações internacionais, a interdependência das nações, a
integração regional, a geoeconomia e a geopolítica. Por outro lado, é também possível observar
perspetivas que entendem a adoção dos processos globais como parte dos interesses dos
Estados e das próprias estruturas localizadas do poder, pois encontram nas políticas, tidas como
globais, formas eficientes de impor seus interesses. Para Estêvão (2012, p. 70) a globalização tem
vindo a impor um novo mandato aos diferentes países, pois em nome das vantagens competitivas
que podem alcançar e também em nome do combate à crise, redefinam os seus sistemas de
ensino e de formação nacionais em termos de qualidade, avaliada segundo padrões
internacionais. Dito isso, ratifica-se que algumas políticas se alinham ou refletem os interesses e
processos globais, o que não significa que o contrário não se estabeleça.
Em relação a globalização é possível que o termo seja entendido como parte da mundialização.
Desse modo, a questão se vincula às experiências vivenciadas com e a partir dos avanços
tecnológicos e da integração espacial e cultural entre os territórios, tanto em termos físicos, como
no caso das viagens, quanto no caso do acesso a informação. Segundo Garcia (2015),
“…é mister descrever que na maioria das leituras realizadas há uma vinculação do termo
globalização aos processos económicos, enquanto a mundialização daria conta dos aspectos
políticos, sociais e económicos. Ainda que distintamente trabalhados os dois termos vinculam-
se e dependem um do outro, pois se a globalização proporcionou a ditadura de um modelo
económico, ele só se sustentou por conta da mundialização do modo de viver e compreender
essa sociedade” (p. 83).
Como visto a globalização se compõe como um conceito a partir da própria configuração que
assume. Assim, a globalização também pode ser tomada como uma ideologia do “pensamento
único”, que considera as políticas de cunho neoliberais com base no mercado e sem fronteiras
como forma irreversível de uma sociedade sobreviver numa “aldeia global”, em decorrência dos
fenômenos que abrangem as áreas financeira, comercial, produtiva, social, institucional,
tecnológica e cultural. Ao mesmo tempo, a globalização impõe certas características e agendas
para a maioria dos contextos educacionais, mas os Estados nacionais também conseguem
imprimir características e políticas que os legitimam junto às comunidades locais. Para Afonso
(2012) o Estado-avaliador coincide com uma autonomia relativa do Estado nacional e, nesse
sentido, a avaliação promovida pelos governos assume-se, particularmente, como dispositivo
interno de controlo sobre a educação, os professores e as escolas. Para o autor, essas práticas
também viabilizam a expansão de lógicas de mercado e de escolha educacional, do interesse das
famílias e de outros consumidores, nomeadamente mediante a publicitação dos resultados
académicos e respetivos rankings.
A globalização e a democracia
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A propagação da democracia enquanto um direito moderno, além de uma marca da globalização é
também globalizada pela justificativa dos processos de “livre adesão” por parte de cada Estado
nacional ao modelo de política e realidades convergentes que se configuraram com o fim da
Segunda Guerra Mundial. Dessa forma, se irradiam processos democráticos que virão
essencialmente evitar as atrocidades anteriormente registradas. A partir disto, foram necessáriosacordos dos chamados Estados nacionais desenvolvidos, no intuito de estabelecer espaços
institucionais mundializados, coletivos e participativos, nos quais eles pudessem vislumbrar
modelos políticos essencialmente democráticos.
A globalização democrática resultante do pós-guerra pretendia assegurar que as violações,
registradas nos períodos de guerra e em espaços ainda não democráticos, não ameaçassem o
modelo de desenvolvimento capitalista estabelecido. Nesse sentido, Wolkmer (2010, p. 13)
salienta que “… nos marcos de um cenário globalizado, os direitos humanos em emergência
materializam exigências reais da própria sociedade diante das condições emergentes da vida e
das crescentes prioridades determinadas socialmente”.
O modelo proposto assegura aos Estados integrantes ou aos que desejem participar desse projeto
de mundo melhor, investimentos financeiros. De início o mecanismo financeiro integra e atende as
demandas integrativas aos processos globais, se torna, portanto, extremamente atrativo, seja para
as forças políticas locais ou para os grupos que já dominam e exploram economicamente esses
países. Nesse movimento há duas formas manifestas de Estado, um voltado para a promoção
social e da economia chamado de “Estado providencia”, e posteriormente outro chamado “Estado
liberal” contrário ao forte controlo do estado na economia e na vida das pessoas. Nesse último
caso, Picó (1999, p. 04) acredita que de início, o Estado é visto como um instrumento passivo com
a função de apenas facilitar as regras e o quadro em que as forças sociais operam. Para ele,
nessa relação o Estado não deve tomar qualquer papel na mudança social, mas responder,
sempre que necessário, os problemas causados pela economia de mercado. Já para Mouffe
(1999, p. 187) os defensores do liberalismo político concebem que o Estado liberal deve
necessariamente fazer referência a ideia de bem comum sem ser neutro com respeito à moral.
Para ela, eles reconhecem que não podem prescindir de uma teoria do bem comum, mas ela se
enquadra como uma teoria mínima. Logo, segundo a autora, esta teoria deve ser distinta das
visões abrangentes, pois a sua é uma moral comum, que se restringe a princípios que podem ser
aceitos por pessoas que possuam ideais e condições de vida diferentes das suas.Inicialmente a ideia de um “Estado mínimo” sugeria uma diminuição das forças do Estado a partir
dos pressupostos da livre concorrência e mercado impostas pela globalização, mas o que se
evidenciou foi um processo de desresponsabilização do Estado com formas sutis e capilares de
controlo e burocratização. Para Gentili (2006),
“A promessa de reduzir o peso do Estado não se cumpriu, nem no primeiro nem no terceiro
mundo. O que diminui foi o investimento público em áreas como a saúde, a educação e a
segurança social, reorientado para a criação de condições de investimento e de garantias aos
investimentos privados. As economias não se tornaram necessariamente mais competitivas,
antes cresceu a desigualdade e a injustiça social, com a consequente diminuição dos direitossociais dos cidadãos” (p.12).
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Ao analisar a questão sobre o fim do Estado frente a globalização, Vilas (2000, p. 30) afirma que o
número de estados tem crescido dramaticamente nos últimos anos. Cita como exemplo, o caso
das Nações Unidas que tinha 143 membros, e em 2000 tinha mais de 200. O autor argumenta,
que de fato, há estados e estados - como ilustrado pela desigualdade institucionalizada de direitos
no Conselho de Segurança da ONU em si - caso em que a questão em discussão é a capacidadee a eficácia dos Estados Unidos e sua viabilidade como organização política eficaz. Nesses casos,
o Estado não só persiste, como se fortalece nos contextos globais, mas é repensado ou entendido
a partir questões que o contexto demanda. Assim, segundo Ortiz (1997)
“… As identidades nacionais são abaladas pelo movimento da globalização. Ela anuncia
acomodações e resistências. Seria ingênuo acreditar que a nação ´acabou`, ou que o mundo
se transformou numa ´aldeia` na qual todos falariam a mesma língua. A modernidade-mundo
multiplica os referentes identitários, retirando, porém, do Estado-nação, a primazia de defini-
los” (p. 274).
A pressão pela diminuição do Estado ocorre, quase sempre, quando o capital internacional ouglobal, presente nos quatro hemisférios, encontra um Estado que regula e impõe normas para se
auto legitimar mediante ao cenário local. Essa realidade é extremamente prejudicial aos objetivos
dos negócios mundializados, uma vez que demanda adequações e negociações, nem sempre
favoráveis ao expansionismo do modelo económico. Sendo assim, o melhor é um Estado mínimo
que não interfira e permita a plenitude dos princípios básicos do capital, ou seja, a livre escolha e
concorrência. Nesse contexto, Santos (2005, p. 4) adverte que a democracia mesmo privada de
seu potencial redistributivo, tornou-se completamente compatível com o capitalismo, e em tal grau
que ambos se transformaram nos conceitos gémeos que presidem ao novo modelo global das
questões políticas e sociais, um modelo imposto a nível mundial pela globalização neoliberal,
pelas políticas de ajustamento estrutural e também, mais recentemente, pela guerra neocolonial.
No percurso apresentado, a globalização, com e pela democratização, se difunde entre os
chamados Estados capitalistas democráticos que no geral transparecem a ideia de inevitabilidade
e irreversibilidade dos movimentos económicos em andamento. Por outro lado, foi a globalização
da mesma democracia que nos permitiu perceber que outros caminhos democráticos são
possíveis, mesmo que estes, hora não sejam hegemónicos ou globalizáveis. De fato, há um
conjunto de estudos que tendem a dar realce a movimentos locais e nacionais constituídos pelos
princípios de uma democracia participativa e radical. Desse modo, segundo Garcia (2015),“Apesar da aparente impotência ou determinação do Estado, a partir dos chamados ditames
internacionais, não se pode de maneira alguma afirmar que esta simbiose alinha ou
homogeneíza os Estados Nacionais e suas políticas. Também seria ingénuo imaginar que os
mesmos conseguem resistir às investidas e pressões e se manterem ímpares e distintos, por
menor e mais isolado que seja o Estado” (p.72).
Corroborando a ideia contrária a uma sociedade indefesa ao processo de globalização, e da
imagem de possível isolamento e independência destas mesmas sociedades Vilas (2000, p. 42)
esclarece que o Estado como uma vítima da globalização é apenas uma parte simplificada da
questão. Para o autor, o estado também tem provado ser facilitador da globalização, um agente
estratégico para o seu desenvolvimento. Ressalta que na América Latina e outras regiões do
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mundo o Estado tem reforçado, por meio da desregulamentação e privatização em grande escala,
a capacidade de decisão dos atores da economia internacional. Logo, podemos seguramente
afirmar que nessa relação e orientados por novas correlações de forças, os Estados competem
entre si para oferecer as melhores condições ao investimento estrangeiro. Essa circunstância foi
usada pelos investidores para aumentar suas necessidades de segurança na aplicação de seusrecursos e seu livre regresso quando necessário.
A globalização em suas múltiplas relações com as políticas neoliberais de acesso ao
Ensino Superior no Brasil
Sem se distanciar ou negar as referências da democracia já discutidas, o segundo estudo pontua
as relações que as políticas neoliberais de acesso ao ensino superior tendem a assumir a partir
das relações estabelecidas com a globalização. Desse modo, a política neoliberal, baseada no
ideário da globalização interfere diretamente nas políticas dos países, tanto dos países centrais e
os chamados de periféricos do capitalismo. Desse processo resultam transformações nas noções
de direito sociais, de saúde, de educação, de lazer e de cultura, pois o mercado passa a ser
tomado como regulador das relações sociais. Com a abertura, principalmente a econômica, vê-se
cair diante do mercado mundial as fronteiras, e permite o avanço do capital e da tecnologia que
cada vez mais interfere na estrutura dos países periféricos, os quais tendem a perder sua
autonomia econômica e, junto com ela, sua autonomia política. As transformações são visíveis
apontando para processos de unificação e adaptação, assim como, para o nivelamento de
padrões de consumo e uma crescente e inevitável massificação cultural. Essas transformações
também incidem na educação, visto que, esta não pode ser pensada em um contexto sociopolítico
isolado. Neste sentido, Libâneo e Oliveira (1998) afirmam que:
“As transformações gerais da sociedade atual apontam a inevitabilidade de compreender o
país no contexto da globalização, da revolução tecnológica e da ideologia do livre mercado
(neoliberalismo). A globalização é uma tendência internacional do capitalismo que, juntamente
com o projeto neoliberal, impõe aos países periféricos a economia de mercado global sem
restrições, a competição ilimitada e a minimização do Estado na área econômica e social” (p.
606).
O projeto neoliberal para a educação não se diferencia muito dos seus objetivos ideológicos e
econômicos quais são: de constituição de um mercado livre, da participação mínima do Estado, do
aumento da competitividade, da liberdade e do individualismo. Contudo, no ideário neoliberal é
dado um papel estratégico para educação que é de servir aos propósitos empresariais e
industriais, como também de ser um transmissor das ideias de defesa do livre mercado e da livre
iniciativa.
Neste contexto, o projeto neoliberal para a educação superior tem como objetivo a formação de
mão-de-obra para o mercado, esta, constituída de pessoas descontextualizadas, despolitizadas,
individualistas e de uma forma geral, sem sentimento crítico. Desta forma, a educação superior
deixa de ser definida como um espaço público e político de discussão, e passa a ser redefinida
como um bem de consumo, e avaliada pela sua produtividade baseada em critérios oriundos dosistema capitalista empresarial. Assim, Dave Hill (2003) adverte que:
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“Nas universidades e estabelecimentos de cursos superiores vocacionais a linguagem da
educação foi amplamente substituída pela linguagem do mercado, aonde os professores
universitários ‘entregam o produto’, ‘operacionalizam a entrega’ e ‘facilitam o aprendizado dos
clientes’, dentro de um regime de ‘gestão da qualidade’ em que os estudantes viram fregueses
selecionando módulos ao acaso aonde, nas universidades, ‘o desenvolvimento da habilidade
técnica’ ganha importância em detrimento do desenvolvimento do pensamento crítico” (pp. 33-
34).
Pode-se afirmar que nas políticas neoliberais para o ensino superior é adotado a lógica do
mercado, amparada pela relação entre oferta e procura do serviço educativo e introduz um novo
conceito no âmbito acadêmico, onde a universidade torna-se “produtora” de serviço, e o aluno
passa a ser “consumidor”, numa relação puramente comercial.
Neste contexto, a universidade que se caracterizou como um espaço de excelência para o
desenvolvimento do conhecimento, torna-se alvo fácil de ajustes e reformas na lógica do projeto
neoliberal “A orientação teórica dominante assenta-se no neopositivismo, na fragmentação do
conhecimento, no empiricismo, em micro-análises rasteiras e a-históricas, no estudo das
identidades e representações em detrimento da análise concreta de situações concretas”.
(Abramides, 2005, p. 1).
Nesta analise do Estado, da globalização e do neoliberalismo, a educação se apresenta como um
ponto de pauta na formulação das políticas nacionais e internacionais como elemento de controlo
e/ou emancipação, seja pelo Estado ou pelos movimentos organizados da sociedade civil.
Todavia, a aceitação de ideias externas no sistema educacional local, contempla a preocupação
com a difusão de uma cultura global na formação dos indivíduos, constitui uma estratégia política
mais ampliada ligada à busca de uma hegemonia econômica, política, cultural e ideológica sobretodas as regiões com o objetivo de fortalecer a posição de liderança neoliberal na ordem mundial.
A globalização e os processos de avaliação dos sistemas educativos
No terceiro e último estudo referenciado há uma evidente vinculação dos processos de qualidades
advindos das diversas e variadas formas de avaliação dos sistemas educativos. Na pesquisa há
uma preocupação em entender as formas atuais de avaliação dentro do contexto da globalização.
Assim, de modo geral as avaliações globalmente difundidas, a exemplo do PISA - Programme for
International Student Assessment, compõem as formas modernas de controlo e transparecem
uma forma nova e diferente de intervenção nas políticas locais. Do mesmo modo se percebe a
referência ao legado tradicional da gestão científica e da teoria burocrática no modelo de controlo
direto que ainda vigora. Logo, por esse modelo seria possível ter um conhecimento completo
sobre todas as alternativas de escolha na tomada de decisão e as suas consequências, bem como
sobre os próprios contextos políticos, sociais, culturais e econômicos nos quais as instituições se
situam (Santiago, Magalhães, & Carvalho, 2005).
As pressões externas são sentidas no âmbito da educação superior e buscam influenciar a
organização dos currículos e dos processos de ensino, no sentido de alinhá-los com as noções de
qualificação e de competência profissional e com os requisitos percebidos do mercado de
trabalho, além dessas pressões há as imposições originárias de organismos internacionais, como
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a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o Banco Mundial, o Fundo
Monetário Internacional, e a Organização Mundial do Comércio. Apoiadas desta feita nas teorias
do capital humano, em algumas das narrativas económicas neoliberais e na crença sobre a
existência de uma relação direta e unívoca entre ensino superior e o desenvolvimento económico,
a retórica e as práticas destes organismos têm insistido que a investigação deve ser de acordocom a economia, de valorização das áreas de formação em que o mercado de trabalho demonstre
interesse assim como mantenha interesse também na eficiência, na qualidade e na competição
para melhoria do funcionamento dos sistemas e das instituições. Esses temas fazem parte do rol
de metas, as quais deverão ser alcançadas por organismos favoráveis aos mercados econômicos
globais (Santiago, Magalhães & Carvalho, 2005)
Como parte desse cenário, a universidade foi orientada no sentido de suprir e realizar as
demandas do mercado, desta feita dando margem a trocas de suas finalidades, objetivos,
estruturas e formas de gestão. A crescente mobilidade dos estudantes também contribui não só
para a crescente internacionalização dos sistemas educativos como para o desenvolvimento de
mercados internacionais de ensino superior. Os programas comunitários desenvolvidos pela União
Europeia, visando favorecer a mobilidade dos estudantes, promovem uma internacionalização dos
currículos, na medida em que implicam a elaboração de planos de transferências de unidades
capitalizáveis a nível europeu, visando o reconhecimento e a validação dos períodos passados em
instituições de ensino superior estrangeiras. A necessidade de comparar cursos e diplomas
universitários incentiva a constituição de mecanismos de avaliação, fortalecendo a dimensão
internacional dos currículos (Seixas, 2003). Assim, a globalização estimulou a internacionalização
dos processos educacionais, ajudada pela evolução das tecnologias de informação que facilitaram
a mercadorização do conhecimento, cultura e do ensino superior. Se esse processo não se dá
alheio aos interesses locais, também fica latente que nas instâncias locais e nacionais é
conjugado com o medo e com a sensação de irreversibilidade. Para Dale (2004, p. 425), esse
processo se manifesta em especulações, profecias, dúvidas, medos que salientam e celebram a
“globalização” e suas consequências.
No fundo, o que perpassa nas novas estratégias políticas de controlo e regulação é a ideia de que
a combinação entre mercado e uma maior aproximação ao princípio da autoregulação produziria
mais eficiência e eficácia no sistema e nas instituições de ensino superior. Esta combinação
proporcionaria a criação de ambientes de competição entre as universidades: – por alunos (aescolha livre dos alunos surge como um instrumento de regulação) - por recursos financeiros e
pelo acesso à informação – que estimularia a busca da qualidade e da excelência. A importação
das narrativas e práticas de gestão do sector privado foi amplamente facilitada pela adesão a esta
crença. As universidades, encorajadas pelo discurso sobre a conquista da autonomia, em
particular no plano financeiro e orçamental, passaram a assumir um maior número de ações
pautadas pelo objetivo de captar recursos no exterior ou a aproximar algumas delas do ethos do
negócio empresarial: consultoria, investigação sob contrato, programas de ensino direcionados
para o sector empresarial, marketing comercial (Santiago, Magalhães, & Carvalho, 2005).
Além da busca de recursos externos nas denominadas parcerias com privados, a universidade
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passa a substituir a relação de teor mais burocrático por uma gestão de contratos. Nesse modelo
há a separação do prestador de serviço e o financiador desses mesmos serviços numa relação
que dá ênfase na prestação de contas baseada na avaliação externa que produz mudança nos
processos e estruturas organizacionais das Instituições de Ensino Superior.
Em termos educacionais, existe uma compreensão crescente de que a versão neoliberal daglobalização, particularmente da forma implementada (e ideologicamente defendida) por
organizações bilaterais, multilaterais e internacionais, reflete-se em uma agenda educacional que
privilegia, se não impõe de modo direto, certas políticas de avaliação, financiamento, padrões,
formação de professores, currículo, instrução e testes. Diante dessas pressões, são necessários
mais estudos sobre as respostas locais para defender a educação pública contra a introdução de
mecanismos de mercado para regular as trocas educacionais e outras políticas que busquem
reduzir o patrocínio e o financiamento estatal e impor modelos de administração e eficiência
emprestados do setor empresarial como um arcabouço para a tomada de decisões envolvendo a
educação.
Nesse terceiro estudo desenvolve-se também a premissa de que outras formas de avaliação são
possíveis e necessárias ao ensino superior. Por esse caminho está sendo construído um
aprofundamento teórico que possibilite uma discussão crítica diferenciada sobre a presença da
accountability como forma de avaliação. Para Abrucio (2006) a accountability , na esfera pública,
aprimora as instituições, quanto ao desempenho dos programas governamentais, transparência e
responsabilidade social. Já para Campos (1990, p. 01-02), a accountability não é apenas uma
questão de desenvolvimento organizacional ou de reforma administrativa, pois para o autor os
mecanismos de controlo burocrático tradicionais não se mostraram suficientes para tornar efetiva
a responsabilidade dos servidores públicos no sentido da prestação de contas e transparência em
relação a comunidade.
No contexto educacional, as novas formas de mercado trazidas pela globalização trouxeram novas
maneiras de fiscalização e acompanhamento que buscam essencialmente fortalecer os processos
de controlo de concorrência entre as organizações. Para Afonso (1999) há uma ênfase genérica
na avaliação dos resultados e a desvalorização do acompanhamento dos processos. Assim,
segundo o autor “independentemente da natureza e dos fins específicos das organizações ou
instituições públicas consideradas é preciso responsabilizar as pessoas por esses processos,
pelos resultados mensurados” (Afonso, 1999, p. 8).
Considerações finais
Temas como globalização, neoliberalismo, democracia, processos de avaliação, políticas de
acesso e permanência nos sistemas educativos estão atualmente presentes nos estudos e
discussões relevantes ao cenário educativo como se perspetivou neste trabalho. No geral, a base
da discussão foi pautada na ideia de uma globalização baseada no ideário neoliberal
fundamentada pela existência de um mundo sem fronteiras, com mercado livre, participação
mínima do Estado, aumento da competitividade, da liberdade e do individualismo. Neste contexto
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a educação assumiu um papel fundamental na formação da força de trabalho para dar
prosseguimento ao modelo capitalista de desenvolvimento.
Tanto na economia como na educação ocorre uma pressão de organismos multilaterais,
principalmente nos países periféricos para adoção de políticas que transformem o ensino superior
em um bem comercial e que este seja preferencialmente oferecido por empresas privadas oumesmo públicas com a utilização de mecanismos oriundos do mundo empresarial. É neste
diapasão que a educação superior tende a proporcionar uma formação descontextualizada,
despolitizada, individualista e de uma forma geral, sem sentimento crítico para quem possa arcar
com seus custos.
A diminuição da participação estatal é apontada pelos defensores da globalização neoliberal como
um fundamento para a expansão do ensino superior visto que o ensino público demanda um
volume expressivo de recursos e que os mesmos em muitos dos casos são mau utilizados, para
esses defensores o ensino privado teria melhores condições de gerir os recursos e que os
consumidores teriam melhores condições de escolha através da divulgação dos resultados obtidos
por essas instituições de ensino.
Em um contexto em que a globalização é vista como um processo irreversível para a criação de
“Aldeia global” onde cada país tem que se alinhar as políticas ditadas pelo poder hegemônico do
capitalismo tendo a competitividade entre instituições de ensino como um modelo saudável para
sua sobrevivência, a avaliação e os rankings sendo cada vez mais utilizado como ferramenta de
mensuração da qualidade que observamos no Brasil com as reformas universitárias, como em
Portugal com a adesão ao Processo de Bolonha, uma tendência cada vez mais crescente de um
modelo de educação superior orientado para a adoção de políticas neoliberais com crescimento
do ensino privado ou adoção de práticas importadas da iniciativa privada para referenciar o
modelo adotado.
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