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A GEOGRAFIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE, UMA VERTENTE A SER EXPLORADA Dirley dos Santos Vaz Professor do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais-UNILESTEMG [email protected] Resumo A geografia, tida como uma ciência incumbida das análises espaciais, tem absorvido cada vez mais temas de grandes relevâncias sociais. Diante da atual situação econômica e ambiental que vigora nos países em vias de desenvolvimento, faz se necessário a adoção de medidas sustentáveis para que se possa assegurar o mínimo de segurança social a população. Com a redução de distribuição de recursos destinados ao planejamento e gestão de políticas públicas em saúde, faz se necessário a sistematização de politicas públicas que possam convergir para a crescente eficiência e eficácia de politicas aplicadas em um determinando território. Para tanto, enfatizamos a importância e a grande contribuição que a geografia pode auferi para a gestão e planeamento de políticas públicas em saúde. Tal fato pode ser levantado a partir das análises socioespaciais que estão no cerne do quotidiano de uma determinada população, o que lhe dará uma melhora condição para eliminar problemas que implicam na degradação da saúde humana. Palavras-chaves: Políticas Públicas em saúde, Geografia, planeamento e gestão, geografia médica e saúde. Introdução A ciência do espaço por excelência, a geografia no atual contexto da saúde em todas as suas atribuições ganha uma significativa importância a geografia como uma ferramenta de relevância para as políticas públicas em saúde. No caso brasileiro, assim como ocorre nos países em vias de desenvolvimento, incidem sobre eles graves problemas socioeconômicos que incidem sobre o espaço geográfico as desigualdades e as injustiças socioespaciais causando assim um agravamento das condições de saúde da população.

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A GEOGRAFIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE, UMA VERTENTE A SER EXPLORADA

Dirley dos Santos Vaz

Professor do Centro Universitário

do Leste de Minas Gerais-UNILESTEMG

[email protected]

Resumo

A geografia, tida como uma ciência incumbida das análises espaciais, tem

absorvido cada vez mais temas de grandes relevâncias sociais. Diante da atual

situação econômica e ambiental que vigora nos países em vias de desenvolvimento,

faz se necessário a adoção de medidas sustentáveis para que se possa assegurar o

mínimo de segurança social a população. Com a redução de distribuição de recursos

destinados ao planejamento e gestão de políticas públicas em saúde, faz se

necessário a sistematização de politicas públicas que possam convergir para a

crescente eficiência e eficácia de politicas aplicadas em um determinando território.

Para tanto, enfatizamos a importância e a grande contribuição que a geografia pode

auferi para a gestão e planeamento de políticas públicas em saúde. Tal fato pode ser

levantado a partir das análises socioespaciais que estão no cerne do quotidiano de

uma determinada população, o que lhe dará uma melhora condição para eliminar

problemas que implicam na degradação da saúde humana.

Palavras-chaves: Políticas Públicas em saúde, Geografia, planeamento e gestão,

geografia médica e saúde.

Introdução

A ciência do espaço por excelência, a geografia no atual contexto da saúde em

todas as suas atribuições ganha uma significativa importância a geografia como uma

ferramenta de relevância para as políticas públicas em saúde. No caso brasileiro,

assim como ocorre nos países em vias de desenvolvimento, incidem sobre eles graves

problemas socioeconômicos que incidem sobre o espaço geográfico as desigualdades

e as injustiças socioespaciais causando assim um agravamento das condições de

saúde da população.

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A saúde humana resulta da interação de fatores interdependentes que atuam

sobre o território e podem convergir para melhorar o piorar o estado de morbi-

mortalidade de uma população. Destaca-se a importância da politica no âmbito

espacial intermediando interesses antagônicos que possam impactar na

sistematização de desigualdades socioespaciais que intensificam as iniquidades em

saúde.

O presente artigo pretende arguir sobre a importância do conceito de espaço

para um desenvolvimento efetivo e eficiente para as políticas públicas em saúde.

As políticas públicas em saúde, breves considerações

A degradação das condições de vida e das desigualdades socioespaciais que

estão em evidências, isto reflete os problemas económicos que vem sendo fortemente

sentidos pelos países em vias de desenvolvimento, no atual período da globalização

económica norteado nesta ultimas décadas pelos ventos neoliberalistas do

capitalismo.

Adopção de uma política econômica neoliberal introduziu uma intensificação de

problemas sociais em grande parte dos países em vias de desenvolvimento uma crise,

em que se deu uma extensão aos vários setores da sua sociedade. Neste sentido, faz

se necessário estabelecer uma rede de decisões e ações, que devem ter num

determinado tempo e espaço seu campo de ação. Este processo que tem na sua

gênese a formação de aparatos políticos e institucionais, donde se denotam a

participação de atores diversos na formulação e execução de políticas pública.

Em meio a uma situação debilitada do ponto de vista dos recursos econômicos

utilizados para a promoção da melhora da condição de vida da população, faz se cada

vez mais necessário o desenvolvimento de um planejamento e uma gestão eficiente e

efetiva dos limitados recursos disponíveis as políticas publicas de saúde da população.

A sociedade esta formada por um mosaico de atores com interesses distintos e

necessidades complexas que são condicionadas pelas normas e regras que

contemplam a organização de preceitos autoritários com intuito de harmonizar as

relações sociais. Ao mesmo tempo esta organização é multifacetada e complexa. Nela

é estruturada uma hierarquia que tem como objetivo estabelecer normas e regras para

assegurar o poder e a ordem sob o território que ela está sitiada.

Assim pode se afirmar que a função do Estado ampliou-se, deixando de ser

responsável apenas pela segurança e soberania do território nacional, sendo atribuído

a gestão e planejamento do bem-estar da sociedade. Tal situação é obtida por meio

de uma série de medidas e procedimentos que estão no cerne das tomadas de

decisões que estão ligadas ao interesse público da sociedade.

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A aplicação de políticas públicas em saúde ocorre por meio de uma dinâmica

em que irá ser iniciada pela elaboração de um projeto. Este projeto perpassa pela

eleição de um objeto específico, no qual seja contemplado a melhora da condição da

sociedade em todo seu espectro. Assim, pode-se atribuir ao conceito de políticas

públicas um elenco de deliberações do Estado, com o objetivo de mitigar ou solucionar

problemas ou melhorar a condição de vida da sociedade.

As políticas públicas são decorrentes de um arranjo político institucional em

que, o Estado irá mediar as relações entre os diferentes atores, sempre assegurando

a prevalência do direito universal a condição de bem-estar de todos os indivíduos.

Para que possa haver uma situação profusa a implantação de políticas públicas

em saúde, faz-se necessário que sejam evidenciadas a formação socioespacial.

elencadas temas também pertinentes as políticas públicas. Temas como processo

urbanização e infraestruturas urbanas e sociais, políticas ambientais, económicas

sendo lidando com emprego e renda, segregação socioespacial, etc, são temas que

devem ser incorporadas as análises iniciais a qualquer processo de elaboração e

avaliação de políticas públicas em saúde. Isso se deve ao fato da perspectiva holística

que envolve a saúde humana.

No caso do brasileiro, as políticas públicas em saúde ganharam significativa

importância na pauta governamental após a Constituição Federal de 1988, onde o

direito a saúde foi assegurado a todos os indivíduos, no qual estabeleceu ao Estado a

obrigatoriedade em oferecer serviços de saúde a população, ao mesmo tempo em

que, foi postulado a sociedade o acesso a saúde como um direito constitucionalmente

lhe atribuído.

A partir do momento em que recai sobre o Estado a função de assegurar a

condição de saúde e bem-estar a sua população é mister que esse mesmo Estado

adopte medidas que preventivas contra a degradação da condição de saúde da

população.

Em torno das políticas públicas em saúde são pertinentes alguns princípios,

cuja eficácia extrema importância tais como: universalização, integralidade, equidade,

descentralização, participação popular.

A universalidade da saúde é a condição em que todos os cidadãos têm a

possibilidade a sua cidadania por meio do acesso a todos os serviços e infraestruturas

sociais que estão associados aos serviços de atenção a saúde, sendo no carácter

preventivo ou curativo.

Entende-se que a saúde é um bem imaterial que tem bases numa ampla gama

de fatores que vão convergir para condicionar uma boa saúde do indivíduo. Fatores

como alimentação balanceada e equilibrada, condições salubres de trabalho,

habitação digna, serviços de saneamento básico, meio ambiente preservado, acesso

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ao lazer, etc, são fatores que auxiliam no condicionamento de uma boa saúde

prevenindo o indivíduo de demandar de um tratamento curativo.

A integralidade deve agregar-se uma rede de ações e medidas que tem como

objetivo a preservação da saúde. Isto pode ocorrer mediante a disponibilização de

serviços de saúde de ordem curativa, preventiva, individual ou coletiva, no qual supra

a demanda por um atendimento de serviço de atenção de saúde em toda a sua

extensão, ou seja, desde a parte de diagnóstico ao estágio final de tratamento.

A noção de equidade em políticas públicas de saúde é muito bem colocada

quando é evidenciado o planeamento e gestão de serviços de atenção a saúde, pois,

a partir da equidade entende-se a preocupação em propiciar o direito universal que é

assegurado ao indivíduo em obter um atendimento de digno aos serviços de atenção a

saúde. A equidade decorre do igual acesso a serviços assistências de saúde, devem

ser universais, em que denotem a igual capacidade de acesso aos serviços a todos os

cidadãos, com a mesma qualidade para todos os cidadãos.

A cúpula Presidencial de Santiago do Chile de 1998, ficou claro entre os entes

que participaram do evento que os países deveriam buscar maneiras de eliminar toda

e qualquer barreira que possa privar os indivíduos a sua justiça social, com o intuito de

ressalvar a condição de exercer sua cidadania por meio de um acesso aos serviços

sociais.

No contexto brasileiro, típico de um país em vias de desenvolvimento, deve ser

enfatizado as barreiras socioeconómicas que estão imputadas no espaço geográfico

do país, marcado por uma forte concentração de renda e por uma má distribuição de

renda1. A própria rede de serviços de atenção de saúde, assim como a sistematização

da infraestrutura social orientou-se pelo processo de modernização do sistema

produtivo assim como a urbanização.

A descentralização é vista pela política pública como um avanço diante da

questão da saúde, assim como das políticas públicas. No Brasil, após passar por um

período de forte repressão política que foi a ditadura política iniciada e 1968 e se

estendeu até meados da década de 1980.Neste período foi denotado uma forte

centralização nas tomadas de decisões, em detrimento, foram sufocadas todas as

manifestações de participação popular em temas pertinentes ao um bom

funcionamento da sociedade.

A descentralização cria um espaço para se vivenciar melhor à democracia, isto

irá propiciar na participação direta do cidadão na fiscalização e na reivindicação de

melhores condições exercerem a cidadania diante do Estado, este tido como agente

regularizador das relações socioespaciais.

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Ao processo de descentralização dos serviços de saúde, impõe a necessidade

de uma organização harmónica e articulada entre os diferentes níveis de governo

(União, Estados e Municípios), no qual seja sustentada a participação da população.

Uma condição importante obtida a partir da descentralização dos serviços de saúde é

a possibilidade de ter em evidência os reais problemas que assolam a população num

determinado local ou até mesmo região. A partir do levantamento do elenco das

moléstias e dos equipamentos médicos que demandam tal população é condicionado

a possibilidade de criar conselhos mistos de saúde no qual agregam-se atores do

sector público governamental, entidades privadas, e a população na tomada das

decisões e controle social.

A formulação de políticas públicas em saúde decorre de uma articulação de

diferentes atores que tem no seio da sociedade. Ao lidarmos com política está em

primeiro lugar a prorrogativa de uma instituição exercer o poder sob um determinado

número de indivíduos que o delegou poder para que essa instituição administre os

recursos disponíveis pela sociedade para ela mesma. Em regimes democráticos de

governo tem-se a possibilidade de qualquer indivíduo manifestar. A forma com que os

recursos deverá ser empregado em beneficio de toda população, facilitando assim o

processo de negociação, implantação e operacionalização dos recursos públicos nas

políticas públicas em saúde.

A para a ocorrência de políticas públicas em saúde é necessário que seja

estabelecido um sistema político, ou seja, uma arena, assim como os atores impelidos

a participação da formulação de políticas públicas em saúde. Os atores podem ser

classificados em públicos e privados.

Os atores públicos são aqueles que desempenham funções decorrentes da

ocupação de cargos públicos e mantidos pelo Estado. Estes podem ser os eleitos a

partir de eleições políticas diretas, ou aqueles que são denominados Servidores

Públicos, que são responsáveis pelo bom funcionamento da máquina pública.

De outro lado encontram-se os atores privados, associado a sociedade civil e

em sua grande maioria tidos como utente dos serviços públicos em toda sua extensão.

Esta categoria tem sido cada vez mais chamada a participar das propostas políticas

elencadas pelo Estado, isso se deve ao processo de descentralização de sectores

básicos a cidadania como saúde, educação, segurança pública, etc.

Ao novo contexto espacial, numa escala mais ampla, pois as políticas públicas

são devem ser precedidas por uma escala onde irá denotar sua ocorrência. Nesse

sentido os problemas socioespaciais são observados tanto no espaço urbano quanto

no meio rural. Outro fato importante ao se abordar as políticas públicas em saúde é o

fato de que, nesse campo de análise a mobilidade espacial em decorrência da busca

por serviços de atenção a saúde numa perspectiva regional.

Guimarães explicita o quão complexo o processo de regionalização pode

demonstrar ao ser definido pura e simplesmente pelos factores geográficos, ou seja, a

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localização. Diante de uma negligência por parte da gestão e planeamento de serviços

e até mesmo dos órgãos competentes pela elaboração de políticas públicas em saúde

podem condicionar num estado calamitoso em relação aos serviços de atenção a

saúde. Bitoun(2000), Guimarães (2008).

Diante do que foi exposto pode-se afirmar que as políticas públicas em saúde,

devem ser empreendidas sob algumas concepções vitais com vistas ao seu êxito.

Uma delas seria a visão estratégica, em que são dispostos ferramentas para que

possam contemplar uma ação racional, mediada pela técnica na sua fase final de

implantação.

Outro tema de destaque é a sustentabilidade, pois, toda política pública, em

especial na área da saúde, deve considerar sua permanência, pois a saúde é

empreendida como um resultado de fatores diversos que são dinâmicos e facilmente

influenciado por perturbações psicossociais, económicas, ambientais, etc.

Sendo uma ferramenta de gestão que o Estado democrático deve fazer uso

dela as políticas públicas em saúde, mesmo tendo se a margem para que atores de

diferentes instâncias da sociedade civil e privada tem direito na participação de

elaborar fiscalizar tais políticas devem se aterem do carácter social, ou seja, com a

condição de que todos os cidadãos tenham seu direito a saúde assegurado em todas

as suas atribuições.

As políticas públicas em saúde vão decorrer de uma rede constituída por vários

atores destituída de uma rede hierárquico pré-definidas no seu processo de formação.

Tal fato advém de sua formação, uma vez sendo de carácter público, tem se a

margem para agremiar os atores de diferentes seguimentos sociais. Esta agremiação

irá ressalvar em sua actuação o bem comum, repercutindo na acção dos atores em

regime solidário e cooperativo, assegurando o bem-estar social na aplicação dos

recursos públicos de maneira eficiente e eficaz, Almeida-Andrade(2007).

O sistema capitalista impõe aos países subdesenvolvidos uma feroz

contradição socioeconómica, no qual, a população carente tem a esperança de que o

Estado irá suprir a sua demanda por serviços básicos. Isso é explicado pela forma

inadequada e ineficaz com que foram elaboradas e geridas as políticas públicas de

desenvolvimento social, que foram ocultadas no período de crescimento económico.

O resultado de tal processo foi de que:

“ No mundo subdesenvolvido, a presença

do Estado torna-se hoje cada vez mais necessária

devido ao agravamento simultaneamente

crescente de contradições nas relações externas,

ocasionadas pela crise e nas relações internas,

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frequentemente também críticas, herança das

fases precedentes.” Santos(1990,p. 182)

Sociedade participação cidadania

A geografia e o planeamento e gestão de políticas públicas em saúde

As políticas públicas em saúde empreendida sob uma perspectiva geográfica

irão utilizar de alguns temas e conceitos de importantes a geografia. Uma perspectiva

primordial para tal análise seria o espaço. Rompendo com paradigmas metodológicos

a noção espacial foi negligenciada pelas ciências humanas, no qual Foucault cita a

importância dada a noção temporal, em detrimento da noção espacial. Tal fato

condicionou a uma estagnação nos avanços geográficos que foram recuperados

tardiamente com a nova geografia, e posteriormente a geografia crítica.

Ao longo das últimas décadas os estudos geográficos tiveram uma ascensão

em meio as ciências humanas e ciências sociais aplicadas. Em paralelo, viu se o uso

do conceito espacial cada vez mais presentes em ciências diversas como a sociologia,

economia, etc.

As alterações socioespaciais ocorridas a partir da Revolução Industrial, iniciada

no final do século XVIII, influenciaram na sistematização de inúmeras mudanças na

sociedade. Estas mudanças tiveram repercussões em todos seguimentos sociais, tal

fato advém da dinâmica que é induzida pelo sistema produtivo e a organização da

sociedade capitalista.

As ciências económicas tem tido uma atuação mais constante em relação as

políticas públicas em saúde, principalmente sob a perspectiva da avaliação de

programas e projetos implantados pelo Estado no âmbito de algum território. No

entanto, a sistematização de políticas públicas em saúde tem sido objeto de

profissionais ligado as ciências médicas e a saúde pública, não que tais profissionais

tenham que ser destituídos de tal função. O que se deve leva em consideração é a

contribuição que a geografia, por meio das análises espaciais consegue enriquecer as

políticas públicas em saúde.

O fato de que a geografia tem como seu objeto de estudo o espaço, condiciona

a mesma a ter participação em vários segmentos da sociedade, no qual, é prioridade a

busca do bem-estar social acessível a todos os cidadãos.

Diante de análises empreendidas sob o espaço é sistematizado a condição

para que possa ser diagnosticado os problemas que estruturam a atual degradação de

grande parte da população mundial, em especial dos países do terceiro mundo.

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A globalização económica repercute sobre o espaço mudanças profundas na

sua organização, ou seja, os processos produtivos geridos pelo capitalismo, constitui-

se num processo que tem contribuído para fragmentar os grupos sociais, intensificar o

antagonismos entres as diferentes classes sociais, aumentar a exploração das classes

operárias, degradar o meio ambiente, entre outros pontos negativos que a

globalização económica tem imputado na sociedade atual.

A sociedade enquanto uma instituição constituída por diferentes segmentos e

grupos sociais, tem sentido os impactos que o processo de globalização económica

tem trazido a tona. Um ponto destacado OMS no último relatório sobre saúde,

cuidados de saúde primário (2008), evidencia o problema da desarmonia social

agravada pelos problemas socioeconómicos que a globalização tem propiciado.

Colocando a saúde como uma das mais afetadas pelas mudanças económicas,

sociais, ambientais, políticas e culturais, decorrentes da globalização.

Isto pode ser explicado segundo a concepção de que o pode ser analisado

como “[…] produto de inter-relações, como sendo constituído através de interações,

desde a imensidão do global até o intimamente pequeno.” Massey(2008,p.27).

Sendo um produto de inter-relações, o espaço concentra todos os processos

que impõe à sociedade problemas que interferem na sua organização. Isto ocorre por

meio de antagonismos entre os diferentes grupos. No entanto, o Estado, agente

regulador das relações, ao mesmo tempo, provedor de recursos, tem em suas mãos a

função de auferir a todos as condições necessárias a sua sobrevivência.

O espaço ajuda na compreensão de fenómenos e processos que implicam

mudanças profundas na sociedade. Os efeitos de tais processos e fenómenos

introduzem na esfera política novos arranjos, novos postulados que vão dirimir a

sociedade a uma nova conjectura. Desta maneira:

“[…] pensar no espacial de um modo

específico pode perturbar a maneira em que

certas questões políticas são formuladas, pode

contribuir para argumentações políticas já em

curso e – mais profundamente – pode ser

elemento essencial na estrutura imaginativa que

permite, em primeiro lugar, uma abertura para a

genuína esfera do político.”Massey(2008,p.30)

A esfera política tem no espaço sua arena, no qual os atores irão embrenharem

na disputa pelo poder e o Estado tenta manter a ordem. O poder nesta concepção

pode assumir nuances por demais simples, tal como, o poder de ter um direito

assegura pela constituição, o acesso a um serviço de atenção básica a saúde, que é

proclamado pela declaração dos direitos humanos, assim como, na constituição

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brasileira de 1988, isso é por demais um direito que tem sido negligenciado a

população carente, e que tem na sua concepção política uma alternativa reivindicatória

por parte da população.

Diante do cenário global, o Estado passa a ser cada vez mais interventor de

recursos na sociedade. Apesar de ter havido nas últimas décadas um forte movimento

com o objetivo de sufocar o papel do Estado no sector económico e financeiro. No

entanto, tal como aponta Santos(1990), o Estado mais do que nunca emergem como

um importante ator. É por meio de sua atuação que se dá o processo de articulação de

processos produtivos em níveis globais. Sem a sua participação frente aos sectores

básicos da economia, disponibilizando as redes de infraestruturas, capitais, entre

outros, participando assim de maneira protagonista dos processos económicos

concernentes a globalização económica, o que para Santos (1990), seria o Estado

como intermédio entre as forças externas e internas.

Outro ponto de destaque em relação a função do Estado, nos remete a pensar

sobre os processos produtivos, capitalismo e consequências. De fato essa relação

processos produtivos e capitalismo tem um sem numero de consequências a

sociedade, no entanto, no momento vamos explicitar a consequência que impõe

reações adversas a saúde.

A evolução das técnicas, tendo a Revolução Industrial, tido como marco neste

processo, propiciou na implantação de novas e sucessivas técnicas junto ao território.

As mudanças realizadas nos sistemas produtivos foram influenciadas pela económica

que, cada vez mais se expandia e criava novas e profundas mudanças socioespaciais.

Estas mudanças de níveis macros, em escala global, introduziram na vida

quotidiana da sociedade pós-revolução industrial diferentes alterações. As análises

dessas consequências na sociedade são singular a cada contexto socioeconómico e,

sobretudo espacial. Deixando a população dos países subdesenvolvido uma demanda

crescente de sua a integração a economia global, assegurando assim os benefícios

que deveriam ser disponibilizados a partir da entrada de seu país a economias global.

Mais o que se percebe, é a contradição resultante da atual globalização. O que Santos

(2000), deixa claro que a globalização como fábula é a defendida pelos atores

hegemónicos da economia, em paralelo, o que manifesta aos países

subdesenvolvidos é a globalização como perversidade.

Em meios as contradições que são cada vez mais presentes nos países

subdesenvolvidos, faz se mister, uma análise socioespacial, que evidencie todos os

espectros que tem contribuído para intensificar a desigualdade social, a concentração

de renda, a degradação ambiental, exploração do homem, pelo próprio homem, entre

outros, que tem sido causas da degradação da vida humana.

A geografia emerge neste contexto pois tem no espaço, bem como na sua

territorialização das contradições que são irradiadas pelo jogo do poder presente na

sociedade capitalista atual. Neste contexto, o Estado pode encontrar-se entre a cruz

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que a sua população pobre carrega em busca de serviços de carácter essencial a sua

sobrevivência, e, de outro lado, a espada capitalista que tem sido apunhalada

profundamente contra aqueles que defendem a justiça social, o direito universal a

todos os sectores essenciais a vida humana.

As políticas públicas em saúde são precedidas de um de um tempo e de um

espaço. Isso se evidencia no quadro geográfico a partir de uma análise escalar,

Guimarães (2008). No processo decisório em políticas públicas em saúde, a escala

pode ser atribuída ao nível de elaboração e implantação das mesmas, que no caso do

Brasil, a responsabilidade com os serviços de saúde é dividida entre União, Estados e

Municípios, evidenciando assim a descentralização dos serviços.

No contexto geográfico, podemos dizer que existe de certa forma pode ocorrer

assimetria entre os diferentes níveis de institucionais dos atores que elaboram as

políticas públicas em saúde, na situação brasileira, a União cabe disponibilizar os

recursos e assegurar que os mesmos chegam aos Estados e Municípios.

Considerações finais

As políticas públicas em saúde podem assumir uma grande importância no que

diz respeito a melhoria da condição de vida da sociedade. Neste sentido, as políticas

públicas constituem-se numa ferramenta que pode auferir a sociedade melhorias na

sua condição de vida. Por meio de uma racionalização e de uma efetiva e eficiente

política no campo da saúde. Uma boa política pública em saúde consegui combater os

problemas que agravam a saúde da população, assim como, numa maior escala

temporal, consegui antecipar e evitar possíveis problemas que possam vir a assolar a

saúde da população.

Uma série de doenças que provocam milhares de pessoas diariamente pelo

mundo poderiam ser poupadas mediante a uma política pública em saúde eficiente e

eficaz na sua atuação. Ressalva-se que na atual conjectura global, os organismos e

instituições internacionais têm sido chamados a buscarem soluções para os problemas

de saúde que tem assolado os países subdesenvolvidos.

As políticas públicas em saúde envolvem várias áreas da saúde dentre as

quais podemos citar: os cuidados primários de atenção a saúde, que tem afigurando-

se numa problemática para os países subdesenvolvidos, onde comumente denota-se

uma concentração espacial de tais serviços levando a uma série de consequências ao

sector, a disponibilização de medicamentos a população utente, o que de facto, tem

sido caótico o acesso a tais produtos, além dos serviços especializados que tem sido

escasso e tem deixado de ser disponibilizado a pacientes desprovidos de recursos

econômicos.

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Associar as políticas públicas em saúde uma visão holísticas de fenómenos e

processos que influenciam na vida da do indivíduo, onde, se torna mais claro e

evidente os problemas reais que tem sido causas da saúde humana tanto no meio

rural quanto urbano.

Evidencia-se a intensificação de políticas públicas em saúde em escala

internacional, em que organismos e instituições internacionais vão estar presentes em

discussões de problemas relacionados a saúde humana em todas a suas atribuições.

Nestas discussões são presentes temas como o aquecimento global, as catástrofes

ambientais, problemas económicos, a globalização, migrações, etc. Processos que de

certa forma tem uma importância nas discussões de novas políticas públicas em

saúde em âmbito internacional.

Diante do exposto podemos encerrar deixando a noção de que a geografia

tem a possibilidade de auxiliar na elaboração de políticas públicas em saúde, por meio

da análise espacial que deve ser incorporada em elaboração e avaliação de políticas

públicas em saúde. Tal situação pode ocorrer por meio da utilização de ferramentas de

gestão e planeamento do território entre elas, o SIG( sistemas de informações

geográficas), utilização de escalas de abrangências, processos de regionalização,

interpretação de dados e mapas, análises ambientais, etc.

Neste sentido, entende-se que a partir do que foi exposto cria-se um cenário

mais explícitos dos problemas e das soluções que possam contribuir para o sucesso e

sustentabilidade das políticas públicas em saúde.

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