A gente está dentro do coração (i)

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Texto IX: A gente está dentro do Coração(I) Autoria: Carol (tema) e seu Pai (texto) Março de 2011 http://caroleseupai.blogspot.com

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Texto IX: A gente está dentro do Coração(I)

Autoria: Carol (tema) e seu Pai (texto)Março de 2011

http://caroleseupai.blogspot.com

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Texto IX: A gente está dentro do Coração (I)

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Tem certos dias que a gente não tem nada pra fazer e resolve fuçar na nossa gaveta no armário. É engraçado que, geralmente, a gente encontra coisas antigas, esquecidas de jogar fora ou porque alguma coisa dentro da gente comandou pra que deixasse aquilo ali, por enquanto.

É uma foto de uma carteira estudantil antiga do colégio. É um texto com palavras apaixonadas sobre um menino que a gente gostou e que nunca disse pra ninguém. É um desenho feito quando a gente ainda estava nos primeiros anos da escola.

Nesse período, quando a gente é criança, parece que tudo é mais fácil de fazer e não importa o que a gente desenha no papel. E é legal porque a professora sempre diz que está “lindo”, mesmo que os nossos amigos olhem para o desenho e fiquem com uma cara assim meio esquisita. 1

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E é também legal porque a gente faz uma mistura de cores em tudo. E isso não tem limites. Se quiser botar um olho azul, quando tem olhos castanhos não tem problema. Se quiser ter um cabelo loiro, quando tem cabelos pretos também não tem problema. Se quiser desenhar uma pessoa bem bonita quando ela nem é tão bonita assim, ninguém pode dizer nada. Bem, dizer até pode, mas não vai ter problema.

E o mais importante é que você desenha coisas para os seus pais. No aniversário da mãe, no dia das mães, no dia dos pais, no aniversário do pai. Sempre tem um desenho ou outra coisa qualquer.

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É legal a gente entregar o desenho para o pai ou a mãe e ver como eles ficam alegres com aquilo. E eles têm que dar valor mesmo, porque o desenho foi feito com amor. Parece que você faz o desenho pensando nas coisas boas que nossos pais fazem pra gente. É gostoso receber aquele abraço gostoso quando eles vão pegar a gente no colégio. É bom ouvir as historinhas antes de dormir. É muito legal ir pra praia, todo mundo junto e o pai ou a mãe segurarem a nossa mão, quando vem uma onda grande.

É Interessante que um desenho esquecido numa gaveta do armário pode fazer a gente pensar em tudo isso. Mesmo que quem tenha incentivado a limpeza da gaveta tenha sido a nossa mãe:

-Meninas, vão limpar as suas gavetas no armário. Ninguém vai pra lugar nenhum, se vocês não ajudarem a sua mãe. Vamos!

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Aquele trabalho de limpar as gavetas do armário, porque a gente encara assim quando é um mandado da mãe, acaba ficando interessante quando se encontra um desenho que tem algum significado.

Talvez não seja como ficar na internet jogando naquele jogo que você sem querer encontrou e ninguém sabia que era legal. Também não é como ficar no msn conversando com a nossa melhor amiga. Mas, de repente é alguma coisa de que você pode falar na conversa e aí vira um assunto que leva a outro assunto, e é legal.

De repente, se você tem um scanner em casa, você pode scannear o desenho e mandar pra sua amiga. E ela também pode fazer isso com os desenhos dela. E o mais importante é que naquelas coisas simples que você pode fazer, parece que tem alguma coisa maior, que a gente não sabe explicar. 4

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Parece que faz bem ao coração e à mente quando você ocupa seu tempo, fazendo uma coisa que nasceu de um mandado da mãe, mas que te trouxe uma alegria diferente.Você não queria limpar as gavetas, parece que quando a mãe da gente pede pra fazer isso, logo no sábado de manhã, ninguém aceita. Sempre fica embromando e demorando a acordar, pra ver se a mãe esquece e a gente se livra da obrigação.

Mas o interessante é que naquelas coisas que você deixou numa gaveta no armário, pode ter algo que você gastou um tempo realizando e um pedaço de papel com um desenho de quando você tinha sete ou oito anos contém algo sensacional. Será que por isso mesmo a gente à época não jogou aquele pedaço de papel no lixo?

- Se vocês não limparem as gavetas, eu vou jogar tudo no lixo!

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Essa palavra lixo parece que é terrível nessas horas. E mesmo que não tenha nenhuma coisa interessante na gaveta, a gente corre pra ver e tentar organizar. Sempre têm coisas que a gente foi colocando, as quais não têm valor algum. Essas a gente coloca direto no lixo. Existem outras que a gente olha e também não vê de imediato que são interessantes, mas mesmo assim a gente guarda. Outras a gente tem certeza que não quer jogar fora.

- Não mãe, isso aqui é meu, pode deixar, eu organizo. Deixa comigo!

Naquele dia, a gaveta do armário fica mais ou menos organizada. Não é uma organização que a nossa mãe vai achar super-bacana, mas sempre fica um pouco melhor do que estava. 6

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É claro que a gente pode fazer melhor, mas não custa deixar um pouquinho para o outro dia, até porque tem aquelas coisas que a gente não sabe ainda o que fazer com elas: se as guarda em outro local especial, que só a gente tem acesso, ou se as joga fora.

E não é para menos, porque depois de umas duas ou três limpezas da gaveta do armário a gente percebe que algumas coisas trazem um sentimento que vai além do nosso entendimento. Nossa mãe, pai, irmã, não entendem porque a gente guarda aquilo e a única explicação é porque é uma coisa que vem do coração.

Nessas horas, se a gente para e pensa um pouquinho – e quando se é criança ou adolescente muito jovem não é tão comum – se percebe que nem tudo é comandado pela razão, como os adultos às vezes dizem pra gente.

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Nessas horas a gente vê que é necessário ter um local, além da gaveta do armário, onde sejam colocadas algumas coisas que nos fazem lembrar algo que está lá no fundo do nosso coração e que não são percebidas no dia a dia.

A gente sabe que todo mundo tem esses lugares. Por vezes, os nossos pais nos dão essas pistas. De vez em quando a gente os vê juntos ou separados, mexendo em papéis antigos, em caixas de sapato guardadas em algum canto não muito visitado do closet.

Por vezes, em momentos especiais, a gente vê o nosso pai triste, talvez pensando no seu irmão mais velho, ou então nossa mãe, talvez saudosa do seu pai, ambos com olhares diferentes, segurando coisas que buscaram nos “locais especiais”.

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Se por um acaso eles percebem que nós presenciamos aquela situação, e eles, às vezes, tentam disfarçar, tentando nos proteger e demonstrar que não é nada, pensamos, intimamente, e dizemos com os olhos:

-Não se preocupem a gente sabe que isto é normal, porque a gente está dentro do coração!

Daí, não é difícil pensar que limpar as gavetas do armário parece que é um aprendizado.

Fim

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