A fortuna crítica de Alberto Caeiro, José Blanco

download A fortuna crítica de Alberto Caeiro, José Blanco

of 76

Transcript of A fortuna crítica de Alberto Caeiro, José Blanco

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    1/76

    A fortuna crtica de Alberto Caeiro

    Jos Blanco

    1. Os pioneiros (1925-1946)

    Alberto Caeiro (1889-1915) fez a sua primeira apario pblica (pstuma)em Janeiro de 1925, nas pginas do n. 4 da revista Athena, em queFernando Pessoa publicou uma seleco de 23 poemas de O Guardador deRebanhos. No nmero seguinte, de Fevereiro, Pessoa revelaria 16 dosPoemas Inconjuntos.

    A primeira edio em livro da obra completa de Caeiro de Agosto de

    1946, no terceiro volume das Obras Completas de Fernando Pessoada tica.Consideraremos, assim, como pioneiros caeirianos os autores que, at1946, se debruaram sobre o autor de O Guardador de Rebanhos. So elesJos Rgio, Joo Gaspar Simes, Pierre Hourcade (em Frana e emPortugal), Manuel Anselmo, Guilherme de Castilho, Charles-David Ley,Adolfo Casais Monteiro, Ceclia Meireles (no Brasil), Vitorino Nemsio eDavid Mouro-Ferreira.

    no prprio ano da publicao dos poemas de Caeiro naAthena(1925)

    que o nome de Caeiro publicamente citado, pela primeira vez, por outremque no Pessoa. Jos Rgio, na sua dissertao de licenciatura na Faculdadede Letras da Universidade de Coimbra As Correntes e as Individualidades naModerna Poesia Portuguesa, publicada em Vila do Conde sob o seu verdadei-ro nome Jos Maria dos Reis Pereira, refere-se a Fernando Pessoa como omais original, o mais completo e o mais poderoso dos nossos modernistas,que inventou esses vrios pseudnimos com que vai revelando os vriosaspectos da sua sensibilidade e as vrias atitudes do seu esprito. Rgio

    sublinha que Pessoa se chama lvaro de Campos ou Alberto Caeiro quandoassina tentativas em que preferentemente revela o destrambelho da sua sensi-bilidade, o cansao da Metafsica ou da Razo, o seu apelo Intuio pura.1

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    2/76

    Em 1929, Joo Gaspar Simes publicava nas edies Presena, deCoimbra, o seu primeiro livro de crtica literria, com o ttulo Temas, no qualinclua o ensaio Fernando Pessoa.2 Nesta segunda referncia pblica obra

    de Pessoa, Gaspar Simes (que termina o seu texto declarando profeticamen-te Fernando Pessoa , sem dvida, em Portugal, um escritor cuja obra sdentro de vinte ou trinta anos ser, devidamente, admirada e compreendi-da!), refere-se questo da heteronmia, escrevendo: O sensualismo, o rea-lismo, de lvaro de Campos, distingue-se, perfeitamente, do puro cerebralis-mo, do perfeito desumanismo esttico de Pessoa; como o puro esteticismo, ohelenismo, de Ricardo Reis, se distingue dum misto de realismo-intelectua-lismo-esteticismo de Alberto Caeiro, que o prprio Pessoa considera proge-nitor espiritual dos outros dois.

    E, mais adiante, dedica especial ateno a Caeiro, em relao ao qualcomenta: a Alberto Caeiro pertence no deixar cair, excessivamente, lvarode Campos, no desgosto e na brutalidade da vida, e refrear a propenso gon-gorista de Ricardo Reisa sua tendncia a querer reduzir a poesia a um purovalor de expressomostrando-lhe um pouco a inutilidade e a fragilidade danossa existncia. Alberto Caeiro , portanto, simultaneamente, o intelectua-

    lista Fernando Pessoa, o realista lvaro de Campos e o esteticista RicardoReis. Alberto Caeiro a sntese que Fernando Pessoa evita refugiando-se nasua pattica concepo desumanizadora da arte; na sua tristeza de emigradodo mundo concreto.

    No ano seguinte, em Junho de 1930, Alberto Caeiro surge em Frana,pela pena de Pierre Hourcade. No seu clebre artigo Rencontre avecFernando Pessoa,3 Hourcade revela aos leitores franceses nas pginas do n.3 da revista parisiense Contactsa figura desse poeta que nest pas un: il est

    quatre. Fernando Pessoa, cest lvaro de Campos, mais cest aussi AlbertoCaeiro, cest encore Ricardo Reis, cest enfin, parfois, Fernando Pessoa. Econta a histria destes quatro poetas, sublinhando que numa manh deMaro de 1914 surgit dans un clair Alberto Caeiro. En ce nouvel avatarsincarnait la conscience tueuse dillusions, le lyrisme dsesprment fort quiarrache lhomme au romantisme de la nature humaine qui linvite et qui lai-me. Une glaciale tempte de lucidit valryenne soufflant en insistantes rafa-les la Pguy, emporta Caeiro comme il tait venu, tout en laissant pour tra-

    ces de son passage une soixantaine des plus singuliers pomes, runisnotamment dans le Gardien de Troupeaux et les Pomes non-conjoints.lvaro de Campos, du coup, se rveilla (...).

    202 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    3/76

    Na parte final do seu histrico artigo, Pierre Hourcade no deixa de subli-nhar que tanto o sauvage Campos como o humaniste Reis conservam lammoire et lempreinte dAlberto Caeiro, leur troublant pre dfunt.4

    Nesse mesmo ano de 1930, Pierre Hourcade colaborava no Bulletin destudes Portugaises, do Instituto Francs em Portugal, com o artigoPanorama du modernisme litraire au Portugal, que constituiu tambmuma separata editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra. Nesseestudo fala de Alberto Caeiro, que, tal como lvaro de Campos, se souvientpeut-tre aussi des Feuilles dHerbe [de Walt Whitman], mais il a dpouilldlibrment toute chaleur lyrique, martelant, en un retour incessant laPguy, la plus abstraite affirmation de solitude, le plus obstin dsir de nepoint humaniser lUnivers, de le dresser en face de la conscience comme unemuraille sans yeux et sans me. Laccent unique de la posie, philosophiquesans le vouloir, du Guardador de Rebanhos (Le Pasteur de troupeaux)atteint un degr dintensit presque physique tout en dcrivant le drame de la cons-cience lucide qui se dvore elle-mme en refusant dtre dupe de la matire.5

    Pierre Hourcade voltaria a referir-se a Alberto Caeiro no artigo que, emJaneiro de 1933, publicou na revista Cahiers du Sud, sob o ttulo Littrature

    Portugaise. Brve introduction Fernando Pessoa.6

    A escreve que Caeiro exactement lanti-symbolisme; cest lhomme contre lanthropomorphisme.Toute la lucidit de la connaissance suse en lui dpouiller lunivers et levivant des prestiges de la mtaphore potique. Aucun panthisme abstrait,aucun prjug philosophique nentre dans cette attitude. Qualificando aobra de Caeiro como lamer breuvage que distille le berger sans troupe-aux, Hourcade conclui que ramene sur le plan esthtique, cette tentativeest en somme un cong dfinitif signifi non sans rudesse toutes les genti-

    llesses de lart symbolique et incantatoire. Tentative considrable, mais pure-ment ngative.

    Tal como Joo Gaspar Simes o havia feito, Manuel Anselmo reconheceno seu Breve ensaio sobre a poesia portuguesa contempornea, datado deOutubro de 1933 e includo na obra Solues Crticas editada pelaUniversidade de Coimbra em 1934, o papel central do autor de OGuardador de Rebanhos na potica de Fernando Pessoa. Manuel Anselmocomea por opinar que o fundo lrico, tradicionalmente portugus, est

    reduzido a um auxiliar da ambio dramtica de certos poetas contempor-neos. Acima de tudo interessa-lhes a paisagem ntima, os seus gloriososmonlogos de dvida e de renncia.

    203PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    4/76

    Neste contexto, Fernando Pessoa, seguindo a bela esteira de Mrio de S-Carneiro, seria um exemplo feliz se eu no conhecesse as suas diferentes perso-nalidades poticas. Mas dentro de Fernando Pessoa, a-portas-a-dentro do seu

    bratro trgico, o vulto donairoso de Alberto Caeiro promete-nos uma defi-nio integral. Aos motivos genuinamente lricos so preferidos os gritos desi-ludidos de uma inteligncia assaltada de angstias.

    Para Manuel Anselmo: Fernando Pessoa , acima de tudo, um conflitoentre Alberto Caeiro e as suas outras personalidades. Esse conflito tanto o podelevar a um acto de irreflexo lrica (demonstra-o a formosa poesia O meninoda sua me), como o conduz a pginas cheias de complexidades e de torturasnietszcheanas como as do Banqueiro Anarquista. Da no sabermos nuncaquando se evidencia em Fernando Pessoa o poeta, o artista, o filsofo, o cpti-co ou o desiludido. Portanto a sua poesia s pode interessar verdadeiramente ospoucos que pressintam em si afinidades com a angstia da sua inteligncia,sempre fora das coisas e das emoes humanas.

    O nome de Caeiro s volta a ser citado por ocasio da morte de FernandoPessoa. Joo Gaspar Simes, no seu artigo Fernando Pessoa, o poeta intempo-ral publicado no Suplemento Literrio do Dirio de Lisboade 6 de Dezembro

    de 1935,7

    recordava que o poeta havia publicado em 1934 o pequeno livro depoemas Mensagem. Pequeno livro, digo, (...) porque em face dos Poemas dosGuardadores [sic] de Rebanhos, assinados por Alberto Caeiro e publicados narevistaAthena, esse volume , materialmente, pequenssimo (...).8

    E, a terminar o seu texto, citava seis versos do famoso VIII Poema: EmPortugal confunde-se humanidade com vulgaridade. Da a incompreenso quesempre rodeou o poeta da Mensagem. Nele, talvez pela primeira vez emPortugal, o nosso lirismo subiu de expresso primria a uma modalidade supe-

    rior de expresso. O tempo dir se temos razo. E, entretanto, enquanto o tem-po se no manifesta sobre um dos maiores escritores de Portugal, enquanto opoeta Menino Jesus de todas as religiesFernando Pessoa acreditava racio-nalmente em todasa quem pedia:

    Quando eu morrer, filhinho,

    Seja eu a criana, o mais pequeno.

    Pega-me tu ao colo

    E leva-me para dentro da tua casa.

    Despe o meu ser cansado e humano

    E deita-me na tua cama.

    204 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    5/76

    Pede-lhe que dispa o ser cansado e humano, enquanto o Menino Jesus odespe, digamos ns com o poeta aqueles que o deixaram morrer como costu-mam morrer em Portugal os homens superiores:

    grandes homens do Momento!

    grandes glrias a ferver

    De quem a obscuridade foge!

    Aproveitem sem pensamento!

    Tratem da fama e do comer,

    Que amanh dos loucos de hoje!

    Em Julho de 1936, no n. 48 da revista Presenadedicado a FernandoPessoa, Guilherme de Castilho publica Alberto Caeiro. Ensaio de compre-enso potica, a primeira anlise crtica da obra do autor de O Guardadorde Rebanhos. Neste texto clssico, que foi (e continua a ser) abundante-mente citado pelos exegetas pessoanos,9 o objectivo de Castilho fazer umaanlise puramente compreensiva do pensamento potico de Alberto Caeiro,atravs de todas as posies quer explcitas quer implcitas na sua obra que

    documentam a sua atitude fundamental perante a vida, perante o universo eperante os valores. Restringindo o seu trabalho ao campo exclusivamente dacompreenso, reserva para objecto de um futuro estudo (nunca realizado) acrtica valorativa e judicativa da obra de Alberto Caeiro.

    Castilho sublinha que, embora se reduza materialmente a poucos poemas(os publicados por Pessoa naAthena), a obra de Caeiro das mais vastas, tal-vez a mais vasta de toda a nossa literatura potica. Isto porque, nessas duasbreves coleces de poemas (...) encontramos nem mais nem menos que as

    bases essenciais duma metafsica, duma esttica, duma teoria do conheci-mento e at duma tica, duma religio e duma sociologia.

    Poeta a quem falta a cultura, h em Caeiro uma grande parcela de positi-vismo, que ser o ponto de partida essencial para aquele esforo de que osseus poemas so o resultado final. Todas as suas posies, quer perante aNatureza, quer perante os valores ticos, sociolgicos ou estticos, so o resul-tado duma desumanizao extremista.

    Partindo do primeiro verso do V poema de O Guardador de Rebanhos

    (H metafsica bastante em no pensar em nada), verifica-se que, em ter-mos metafsicos, Caeiro elimina o infinito, o transcendente, a inteno essen-cial, o mistrio das coisas, em resumo; a sua obra reflecte a negao de toda a

    205PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    6/76

    cincia que no seja baseada no empirismo puro dos sentidos.Exclusivamentesensualista, o seu extremo nominalismo leva-o at negao do prprio con-ceito de Natureza, que poder identificar-se com aquele flatus-vocis de que

    j falava Roscelino.Para Caeiro, inculto guardador de rebanhos que outra notcia no tem

    do mundo seno aquela que ao seu conhecimento os sentidos lhe vo trazen-do no seu contacto de todos os dias, a beleza o nome duma coisa que noexiste. O seu universo obedece ao auto-determinismo inconsciente em quea explicao de cada fenmeno reside precisamente no facto de no ter expli-cao algumada, a negao de um Deus que transcenda o conhecimentodos sentidos e a prpria Natureza.

    Um prolongamento da atitude fundamental de Caeiro perante a vida e ouniverso, revela-se claramente na posio que toma perante os valores ticos esociolgicos: o seu determinismo, utilitarista nas suas consequncias, d-lheuma viso optimista e tranquilizante da vida. Para Castilho, finalmente, aposio de Caeiro pode chamar-se, sem paradoxo, egotismo humanitrio:toda a infelicidade dos homens deriva do injustificado desejo de no nos con-tentarmos com o espao do cu que abrange o nosso olhar e a poro de terra

    que pisam os nossos ps. Queremos saber se mais azul o cu que a este foidado contemplar ou se mais firme a terra que aquele pisa nos seus passos, eisa origem de todo o mal, o ponto de partida de todas as desarmonias sociais.

    Manuel Anselmo, noutro ensaio sobre a poesia de Fernando Pessoa, data-do de Agosto de 1936 e publicado em 1937,10 analisa a concepo pessoanado universo: Atravs da sua concepo de Deus, depreende-se que o Poetano catlico nem sequer cristo (...) Deus e o universo so, para AlbertoCaeiro, imagens afins (...) Afinal, para Fernando Pessoa, a vida , apenas, o

    testemunho dos seus cinco sentidos, testemunho esse que a sua intelignciaplasticizar e transcender. E Manuel Anselmo conclui que nesse genialVIII Poema de O Guardador de Rebanhos que Pessoa, atravs de Caeiro,confessa o seu racionalismo irreverente e sincero.

    No volume Novos Temas. Ensaios de Literatura e Esttica, publicado emLisboa em 1938 pela Editorial Inqurito, Joo Gaspar Simes comenta, noensaio Fernando Pessoa e Paul Valry ou as afinidades ignoradas,11 queAlberto Caeiro , de todos os heternimos de Fernando Pessoa (...) o mais

    acessvel a uma verso estrangeira, acrescentando que a poesia de Campos,Reis ou ortnima dificilmente resistiria, por muito virtual, mudana de ln-gua (161). No mesmo ensaio, salienta os pontos de contacto e as diferenas

    206 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    7/76

    entre Caeiro, criao de Pessoa, e M. Teste, criao de Valry : A atitude posi-tiva de Alberto Caeiro perante a natureza e a sua recusa em aceitar toda a con-cepo do transcendente assemelha-se ao cepticismo de Teste perante os abso-

    lutos, sejam eles do gnio ou da natureza. E se nenhum deles tinha livros epara qualquer deles a natureza era a natureza, uma flor uma flor, h em Caeiroum pantesmo amvel que contrasta com a secura e um desencanto agres-tes de Teste (178). Para Gaspar Simes, a diferena fundamental entre Valrye Pessoa reside em que Teste resume todo Valry. Alberto Caeiro resume umaparte de Pessoa. Enquanto aquele s acreditava na fora da vontade intelectual,este confiava nas foras totais da personalidade (...) (179).

    No mesmo volume, noutro ensaio intitulado Fernando Pessoa e a gne-se dos seus heternimos,12Joo Gaspar Simes conclui, a propsito do diatriunfal, que, atribuindo um nome a esse momento potico traduzido pelostrinta e tal poemas escritos num xtase, Pessoa consolidava ao mesmo tem-po os direitos da sua inteligncia e a faculdade de poder aproveitar as fontesde inspirao inesperadamente reveladas. Alberto Caeiro serviria de etiqueta.Para Simes, eis aqui o pastiche, a mistificao, a explorao consciente dasessncias misteriosas da inspirao (188-189).

    Em abono das suas consideraes, Gaspar Simes cita um indito dePessoa sobre a utilizao da sensibilidade pela inteligncia, no qual o Poeta,tomando como tema uma averso ntima pelo verde, trata-o poeticamentepor trs processos, o terceiro dos quais o de Alberto Caeiro: dar a cadaemoo ou sensao um prolongamento metafsico ou racional.

    Tardavam os primeiros juzos valorativos dapoticade Alberto Caeiro. Sem 1939, trs anos depois do ensaio pioneiro de Guilherme de Castilho, oingls Charles-David Ley publicou na Seara Nova um artigo intitulado

    Introduo aos Poemas de Fernando Pessoa, no qual ousava afirmar no sque Pessoa exprimiu qualquer coisa de muito essencialmente novo no sem Portugal como na Europa mas que Ele seguramente o poeta maisactual e mais vivo da Europa contempornea.

    No seu artigo, Ley aborda a questo da heteronmia, acerca da qual opina:Pessoalmente, se certo que me interessa a novidade psicolgica do facto, nojulgo que possa concordar com os heternimos de Pessoa, considerados comoexperincia potica. E criticando a obra do primeiro deles, Alberto Caeiro,

    escreve que este constantemente sacrifica, por exemplo, os efeitos poticos aoafirmar da sua filosofia pessoal, ou, por outras palavras, o autor considera opoder dramtico por detrs dessa filosofia suficiente para justificar o descurar a

    207PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    8/76

    perfeio potica nos poemas. Isto, porm, no se d no poema mais longode Caeiro, o do Cristo Menino, que muito superior aos outros.13

    Em Maio de 1942, a editorial Confluncia publicava a primeira antolo-

    gia pessoana, com introduo e organizao de Adolfo Casais Monteiro.Nela se reproduziam 10 poemas de O Guardador de Rebanhos e 4 dosPoemas Inconjuntos.14 Como sabido, a obra foi retirada da circulaopor deciso judicial num processo movido pela tica, que ento preparava aedio das Obras Completas de Fernando Pessoa, cujo primeiro volume foiposto venda logo a seguir sada da antologia da Confluncia. Na suaintroduo, Casais Monteiro, ao tratar da questo da heteronmia, aventa ahiptese de ela resultar da exigncia de um esprito de artista criador que noousaria ser em seu nome prprio o autor dos poemas de lvaro de Camposou da metafsica anti-metafsica de Caeiro. De qualquer modo, para CasaisMonteiro, h uma absoluta unanimidade entre Fernando Pessoa ele mes-mo, lvaro de Campo, Alberto Caeiro e Ricardo Reis: a igual genialidadedas respectivas criaes.

    Em 1944, no Rio de Janeiro, Ceclia Meireles publica a sua antologiaPoetas Novos de Portugal (Edies Dois Mundos), em cujo prefcio refere

    Alberto Caeiro, mas apenas atravs de citaes do prprio Fernando Pessoa.Vitorino Nemsio debruou-se pela primeira vez, em 1945, sobre a obrade Fernando Pessoa, num artigo publicado no Dirio Popularsob o ttulo OSincero Fingido, que uma recenso (alargada) do volume de cartas dePessoa a Armando Crtes-Rodrigues, publicado nesse ano.

    Nemsio avana neste artigo uma interpretao literria da heteronmia,sustentando que os gneros e estilos em [que] cada um dos nomes usadospor Fernando Pessoa se exprimem, ajudam a fixar e a isolar, no tanto as suas

    personalidades como as suas maneiras. Neste contexto, e em contraste como estilismo latinizante de Reis e o versilibrismo e o mecanicismo de lvaro deCampos, a cloga e o verso livre conversado de Alberto Caeiro individuam-no como um lrico metafsico e serenado.

    No n. 4 da revista lisboetaAqui e Alm..., publicado em Abril de 1946ou seja, quatro meses antes de a tica publicar a primeira edio completados Poemasde Alberto Caeiroum estudante de dezoito anos escrevia sobreCaeiro. O artigo tinha por ttulo O caso de Alberto Caeiro e era seu autor

    David Mouro-Ferreira.O textoque o primeiro consagrado a Pessoa por algum da gerao do

    jovem Autorcomeava com a afirmao desassombrada de que Alberto

    208 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    9/76

    Caeiro, encarado sob um ponto de vista estticoou melhor: sob um pontode vista formal um poeta medocre. E como se parafraseasse o coment-rio de Charles-David Ley, Mouro-Ferreira escreve: Nos versos de Alberto

    Caeiro no h poesia; h constantes afirmaes da sua existncia; frequentesdefinies da maneira de o poeta encarar a espantosa realidade das coisas,porm a poesia no chega a existir. E se aqui e ali aflora, vem sobrecarregadada preocupao de tudo querer afirmar e definir. Pode dizer-se, em resumo,que toda a obra de Alberto Caeiro um manifesto de uma poesia, quase total-mente irrealizada. (Exceptuemos o Oitavo Poema do Guardador deRebanhossem dvida, o mais potico dos seus poemas).

    David Mouro-Ferreira conclui coerentemente o seu ensaio afirmando:Como personagem do drama mental de Fernando Pessoae assim quedevemos considerar todos os seus heternimos, Caeiro est absolutamentecerto e coerente, exprimindo-se como Pessoa desejou que ele se exprimisse: omal que essa expresso s muito raramente atinja significao potica. Ocaso de Caeiro um exemplo do perigo de criar, no campo artstico, segun-do uma atitude preconcebida ou um figurino previamente delineado.15

    Tratados assim os autores pioneiros de bibliografia sobre Alberto Caeiro,

    so a seguir apresentados os textos caeirianos posteriores a 1946, sob a formabibliogrfica clssica, ou seja, atravs de verbetes indexados pelo nome dosrespectivos autores.

    A bibliografia tem carcter selectivo, referenciando, salvo algumasexcepes, os textos de que Alberto Caeiro o tema central, seno exclusivo.

    Aos dados de carcter bibliogrfico de cada verbete acrescentam-se, emitlico, no abstracts objectivos e completos, mas aquele ou aqueles pontosque, num critrio pessoal necessariamente subjectivo, se nos afiguram mais

    relevantes em cada texto.

    209PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    10/76

    2. Cinquenta e dois anos de crtica (1946-1998)

    Siglas utilizadas:Actas I Actas do I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos

    Actas IV Actas do IV Congresso Internacional de Estudos PessoanosC.E.P. Centro de Estudos PessoanosC.I.E.P. Congresso Internacional de Estudos PessoanosE.I.C.F.P. Encontro Internacional do Centenrio de Fernando PessoaJ.U.C.F. Juventude Universitria Catlica FemininaS.E.C. Secretaria de Estado da CulturaU.S.D.P. Um Sculo de Pessoa

    AC1. Abelaira, Augusto. Sinceridade e falta de convices na obra deFernando Pessoa. Mundo Literrio51 (26/4/1947).

    Pessoa est ao abrigo daquilo a que Unamuno chamava a tirania das ideias:tinha ideias, no era tido por elas. Mas como toda a regra tem excepo, casos hem que Pessoa tido pelas ideiase isso na sua juventude e por sinal com aqueleque ser o maior dos poetas portugueses: Alberto Caeiro.

    AC2. Almeida, Onsimo Teotnio. Sobre a mundividncia Zen de Pessoa-Caeiro (O interesse de Thomas Merton e D.T. Suzuki). NovaRenascenaVI, 22 (Primavera 1986): 146-152.

    A partir das cartas de Thomas Merton, revela-se a origem do seu interessepela poesia de Alberto Caeiro, na qual encontrou uma forte influncia Zen.Merton conheceu Pessoa pela traduo em castelhano de Octavio Paz e teve aces-so obra pessoana em portugus atravs da Irm M. Emmanuel de Sousa e Silva,uma religiosa brasileira que era sua tradutora no Brasil. Merton tambm se

    correspondeu sobre a poesia de Caeiro com o Mestre Zen Daisetz Suzuki e com oProf. Hiromu Morishita.

    AC3. Alvarenga, Fernando. Do Paulismo ao Interseccionismo: O encontrocom a arte da Europa. Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng.Antnio de Almeida, 1990. 229-235. (Comun. ao IV C.I.E.P., SecoBrasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).

    Tanto nos poemas de Alberto Caeiro como no poema ortnimo Chuva

    Oblqua estabelecem-se participativamente duas correntes artsticas de cunhoeuropeu, cada qual com a sua plasticidade prpria: o Impressionismo e oFuturismo, que assim fazem a sua entrada na arte literria portuguesa.

    210 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    11/76

    AC4. . O hedonismo impressionista de Alberto Caeiro segundoRicardo Reis. U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 105-108. (Comun.ao E.I.C.F.P., Lisboa, 5-7 Dezembro 1988).

    Verificao, em Ricardo Reis, de uma conscincia das vertentes impressionistas de Alberto Caeiro. Este , fundamentalmente, aquilo que Reis lhe detecta:um poeta dirigido pelo pensamento de um filsofo-esteta.

    AC5. Anastasa, Lus Vctor. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Pensamientoesttico, potico, histrico y poltico. Montevideu: El Hilo en loLabirinto, 1996. 245-253.

    Parfrase deO Guardador de Rebanhos e dos Poemas Inconjuntos.

    AC6. Ann. Alberto Caeiro completoem livro organizado por Teresa SobralCunha. O Mestre em corpo inteiro.JL.Jornal de Letras, Artes e Ideias601 (3/1/1994): 8.

    Notcia da publicao de Fernando Pessoa. Poemas Completos de AlbertoCaeiro. Recolha, transcrio e notas de Teresa Sobral Cunha, acompanhada dedois poemas inditos e de um texto parcialmente indito de Ricardo Reis sobre a

    obra de Caeiro.

    AC7. Azevedo, Maria Teresa Schiappa de. Fernando Pessoa e o nome das flo-res: o girassol e o malmequer. Cadernos de Literatura21 (1985): 50-66.

    No mbito prprio que, no espao vivido da Natureza, a flor ocupa em Pessoa,estudam-se, como flores da circularidade e da identidade, o malmequer (pre-sente nos poemas ortnimos) e o girassol (na obra de Alberto Caeiro). Ver,olhar, fitar e o correlativo pasmo essencial, que a pretendida inocncia de

    Caeiro lhe associa, gravitam na rbita semntica do girassol, flor entre todasamada por Pessoa, que desperta e traz para a luz todas as formas e foras vivasda sua poesia.

    AC8. Azevedo Filho, Leodegrio de. As vrias dimenses de poesia deFernando Pessoa. Fernando Pessoa. Estudos crticos. Joo Pessoa:Associao de Estudos Portugueses Hernni Cidade, UniversidadeFederal da Paraba 1985. 92-100. (Repr. sob o ttulo Fernando Pessoa

    e suas dimenses poticas no seu Literatura portuguesa-Histria eemergncia do novo. Rio de Janeiro: Edies Tempo Brasileiro eUniversidade Federal Fluminense, 1997. 102-117).

    211PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    12/76

    Em termos de predominncia, na poesia de Alberto Caeiro a linguagem faz-se em base metonmica, nela se inserindo algumas vezes a metfora. A poticapessoana pode descrever-se como um losango, de que Caeiro o centro das

    reaces opostas de Reis (tese) e de Campos (anttese) e Fernando Pessoa ele-mes-mo a sntese.

    AC9. Balso, Judith. Les pessoas-livros. La Politique des Potes. Paris: AlbinMichel, 1992. 161-214.

    Alberto Caeiro interrompe, do interior da poesia, la vocation de celle-ci lauroral de la Prsence, ou la nostalgie de son retrait. O conjunto de OGuardador de Rebanhos determina a travessia do poeta que tem como objectivotre moi, non pas Alberto Caeiro, mais un animal humain que la Nature a pro-duit. Alberto Caeiro est ainsi finalement le nom de celui qui sefforce de ntre pasAlberto Caeiro. Conclui-se que il est dcisif quil y ait un tel pote; et non quela posie soit cela. a dupla ruptura na prpria poesia, aparecida com Caeiroe por ele realizada, que lhe assegura a posio de Mestre na constelao hete-ronmica.

    AC10. Bandeira, Manuel. Os Vrios Fernando Pessoa. Andorinha, ando-rinha em Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Editora NovaAguilar, 1977. 691.

    O Autor confessa que prefere a obra ortnima dos heternimos. Entre estesdestaca Alberto Caeiro, talvez porque nele se encontra muito de FernandoPessoa.

    AC11. Barros, Helena. O Paganismo-Zen em Alberto Caeiro. Nova Renas-

    cenaIV, 15 (Vero 1984): 256-268.Falar de Zen e Paganismo em Alberto Caeiro demonstrar que a relao entre

    ambos legtima e no um puro acaso. Depois de estudar o lugar que o Zen ocupa emrelao ao Budismo e ao Paganismo, estudam-se os aspectos Zen da poesia de Caeiroque, como convm a um Mestre-Zen, fala com simplicidade e clareza, dando-nos aentender que o Zen nasce onde morre o pensamento.

    AC12. Beck, Andrs. Kltk, szavak, dolgok. let s Irodalom (1 Maio

    1998).Recenso crtica da nova edio da antologia Ez a rgi szorongs (Esta

    velha angstia). O Autor analisa a poesia de Alberto Caeiro, cujo pensa-

    212 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    13/76

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    14/76

    Enfoque didctico ao estudo das principais estruturas da poesia de AlbertoCaeiro.

    AC17. Berrini, Beatriz. O Paganismo de Pessoa. Ea e Pessoa. Lisboa: ARegra do Jogo, 1985. 53-103.

    O frescor natural que a poesia de Caeiro irradia leva irresistivelmente aAutora a pensar emA Cidade e as Serras, de Ea de Queiroz. Tal como Caeiro,Jacinto achega-se Natureza para lhe aspirar a lio de naturalidade, de con-cretismo, de ausncia de reflexo natural abstracta.

    AC18. .As viagens do viajante poeta Fernando Pessoa.Actas IV, Vol.I. Porto: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 49-71.(Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril1988).

    Podendo fazer-se a partir de qualquer tema a caracterizao e diferenciaoentre ortnimo e heternimos, definem-se as respectivas singularidades a partirdo foco Viagem. Caeiro apenas se desloca da cidade para o campo, j que anatureza lhe oferece os percursos do conhecimento que lhe interessam.

    AC19. Bosquet, Alain. Fernando Pessoa ou les dlices du doute. Verbe etvertige. Situations de la posie. Paris: Hachette, 1961. 174-185.

    Alberto Caeiro un mystique du scepticisme; os conceitos e as filosofiasirritam-no soberanamente, precipitando-o nas trevas, l o les partis pris pou-rraient le dchiqueter. o nico poeta que soube exprimir com tanta convicocette prodigieuse douceur de la mcrance, cette unique tendresse du doute.Sorrindo, para no parecer trgico, Caeiro toujours lucide, toujours prt se

    dsavouer et remettre en causes ses propres lans, accde une puissance mys-tique de la dmystification; de surcrot, cest par le raisonnement ennemi de laraison quil peut revenir vers une navet originelle.

    AC20. Brchon, Robert. Matre Caeiro et le paganisme (1914-1915).trange tranger. Une biographie de Fernando Pessoa. Paris: ChristianBourgois, 1996. 215-227. (Repr. em trad. portuguesa de MariaAbreu e Pedro Tamen sob o ttulo O Mestre Caeiro e o

    Paganismo 1914-1915, no seu Estranho estrangeiro. Uma biografiade Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal Editores, Crculo de Leitores,1997. 225-237).

    214 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    15/76

    Caeiro o heternimo mais radicalmente diferente do Pessoa-autor e doPessoa-homem. Podemos sentir-nos repelidos por esta poesia que recusa todosos atributos habituais do gnero: , todavia, na prosa dos versos de Caeiro que

    melhor apreendemos o que faz a essncia do gnio pessoano. O Guardador deRebanhos, defesa e ilustrao de uma nova via para atingir o real atravs deuma viso depurada das coisas, antes de mais um manual que lhes permitedesfazerem-se de toda a espiritualidade. O maior paradoxo desta poesia o deser apenas a glosa de si prpria: excluindo em princpio a metfora, ela meta-frica de uma ponta outra. Em parte alguma Caeiro se refere explicitamenteao paganismo da Antiguidade; mas mais tarde, volta da sua obra, constitui-se o Neo-paganismo portugus, defendido por Ricardo Reis e por AntnioMora. O VIII Poema de O Guardador de Rebanhos destoa na obra de Caeiropelo seu tom provocador que, sendo tipicamente ibrico, nem por isso deixa deser de uma fleuma algo britnica.

    AC21. Carreo, Antonio. Alberto Caeiro: O Guardador de Rebanhos, Ladialctica de la identidad en la poesa contempornea. Madrid: Edito-rial Gredos, 1982. 104-108.

    Estuda-se la visin totalizadora y esttica que surge da alma doGuardador de Rebanhos, em cujo processo artstico lo esquemtico de supensamiento (...) el tono aforstico de sus enunciados (...) implican una acti-vidad mental, depurada de la percepcin sensitiva. Seria fcil associar a con-cepo materialista da esttica de Caeiro com certos aspectos da lrica deGabriel Celaya, uma e outra caracterizadas por un lenguage coloquial y sen-tencioso a la vez; ambos rehyen la especulacin filosfica; ambos se atienen alas cosas como son.

    AC22. Castro, Ivo. Para o texto de O Guardador de Rebanhos. Critiquetextuelle portugaise. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, CentreCulturel Portugais, 1981. 319-328. (Comunicao apresentada aocolquio com o mesmo ttulo, realizado em 20-24 Outubro 1981.Repr. fundido com o ensaio Para a edio de O Guardador deRebanhos, Afecto s Letras, Lisboa: Imprensa Nacional/Casa daMoeda, 1984. 253-258, sob o ttulo Para uma edio de O

    Guardador de Rebanhos (v.) no seu Editar Pessoa. Lisboa: ImprensaNacional/Casa da Moeda, 1990. 47-61).

    215PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    16/76

    AC23. . O corpus de O Guardador de Rebanhos depositado naBiblioteca Nacional. Revista da Biblioteca Nacional 2,1 (1982): 47-61. (Repr. no seu Editar Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da

    Moeda, 1990. 71-89).A inteno do Autor no pronunciar-se categoricamente sobre a veracidade

    do dia triunfal, mas apenas apresentar e descrever o corpus, produzido pela mode Pessoa, do ciclo O Guardador de Rebanhos. A anlise filolgica a que proce-de, se o leva a ter a razovel dvida de que os poemas pudessem ter sido escritosem 8 de Maro de 1914 nas circunstncias narradas a Casais Monteiro, f-loadquirir a certeza absoluta de que eles no podem ter nascido limpos e safos:os manuscritos revelam, antes, uma longa gestao, revelando tais mudanas deforma e de sentido que apetece perguntar se alguns deles tero desde o incio sidode Caeiro ou, pelo contrrio, no tero sido posteriormente adaptados para se con-formarem com a sua voz.

    AC24. . Para a edio de O Guardador de Rebanhos. Afecto sLetras. Homenagem da Literatura Portuguesa Contempornea a Jacintodo Prado Coelho. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984.

    253-258. (Repr. fundido com o ensaio Para o texto de OGuardador de Rebanhos, Critique textuelle portugaise. Paris:Fondation Calouste Gulbenkian, Centre Culturel Portugais, 1981.319-328, sob o ttulo Para uma edio de O Guardador deRebanhos (v.), no seu Editar Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 63-70).

    AC25. . Apresentao. Fernando Pessoa. O manuscrito de O

    Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro. Edio crtica. Lisboa:Publicaes Dom Quixote, 1986. 7-22. (Excerto repr. sob o ttulo Omanuscrito de O Guardador de Rebanhos, no seu Editar Pessoa.Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 91-102).

    Apresentao e justificao do tratamento filolgico dado ao manuscrito de OGuardador de Rebanho que, depois de ter estado na posse de particulares, seencontra desde 1990 na Biblioteca Nacional de Lisboa. A anlise filolgica rea-lizada permite reconstituir a gnese do texto, atravs do estabelecimento da cro-

    nologia relativa dos estados sucessivos de redaco e emenda, provando ser prov-vel que apenas dezanove poemas tenham sido escritos em uma nica sesso: seresse o acontecimento mais assimilvel ao dia triunfal descrito por Pessoa a

    216 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    17/76

    217PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCOCasais Monteiro. A edio tica em 1946, que inicia a tradio edi-

    torial de O Guardador de Rebanhos e se tornou a sua vulgata, revela-se defei-tuosa em muitos aspectos, que o Autor, utilizando o critrio da ltima lio con-

    hecida e no recusada pelo autor, corrige em mais de oitenta versos. Apresenta-seno final o novo texto crtico.

    AC26. . Apresentao da edio crtica do O Guardador deRebanhos. Littrature latino-amricaine et des Carabes du XXe Sicle. Thorieet pratique de ldition critique. N.p.: n.p., 1988. 221-226.

    Depois de descrever o corpus de O Guardador de Rebanho que se encon-tra na Biblioteca Nacional de Lisboa, explica-se o mtodo seguido na respecti-va edio crtica, em que se procurou sistematicamente determinar qual alio mais recente que os textos revelam e que foi a publicada. Os critriosadoptados so o da anlise estratigrfica dos manuscritos e o do estabelecimen-to da data relativa das diversas lies atravs da anlise da sua topografiadentro da pgina. Pessoalmente, o Autor levado a crer que Alberto Caeiro,longe de ser o autor do ciclo, ele mesmo uma sua criao, tendo sido inventa-do para assumir, em vez de Pessoa, os caminhos novos que a reviso do texto a

    partir de certa altura abriu.

    AC27. . Para uma edio de O Guardador de Rebanhos. EditarPessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 63-70.(Fuso dos ensaios Para o texto de O Guardador de Rebanhos ePara a edio de O Guardador de Rebanhos v.).

    A edio tica, que constitui a vulgata de parte substancial da obra publica-da de Fernando Pessoa, fica a grande distncia da verso que lcito depreender

    dos manuscritos do Poeta. Abundando as provas de que ele submeteu o texto deO Guardador de Rebanhos a numerosas e aprofundadas revises, haver queapurar qual dessas revises foi a ltima, para a adoptar numa edio crtica epara dispor todas as restantes no aparato. Descreve-se o mtodo seguido na recons-tituio do manuscrito integral de O Guardador de Rebanhos entrado noEsplio em 1990. Com base nos princpios da cronologia relativa e da topografiadas revises feitas por Pessoa, apresentam-se exemplos dos resultados obtidos noVIII poema do ciclo.

    AC28. . A casa a meio do outeiro.Actas IV, Vol. I. Porto: FundaoEng. Antnio de Almeida, 1990. 343-349. (Comun. ao IV

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    18/76

    C.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988. Repr. no seu EditarPessoa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990. 111-116).

    Aplicando o critrio segundo o qual pode atribuir-se mais autoridade a um

    manuscrito desde que se prove que ele posterior, ou sofreu emendas posteriores,do que a um impresso autoral, a edio crtica do poema XXX de O Guardadorde Rebanhos dever seguir a lio manuscrita de Fernando Pessoa e no aimpressa naAthena.

    AC29. . Editar Pessoa. Edio crtica de Fernando Pessoa. ColecoEstudos Vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1990.

    (Inclui: Para uma edio de O Guardador de Rebanhos, O corpus de O Guardador de Rebanhos depositado na Biblioteca Nacio-nal, O manuscrito de O Guardador de Rebanhos,Apresentao da edio crtica do Guardador de Rebanhos e Acasa a meio do outeiro).

    AC30. . Ivo Castro: sem comentrios. Pblico(8 Maro 1994).A propsito das declaraes de Teresa Sobral Cunha sobre a edio crtica da

    Equipa Pessoa (v. Sou pelo dia triunfal!), Ivo Castro declara : H bastantetempo que deixei de fazer qualquer tipo de comentrios pblicos sobre declaraesdesta natureza de Teresa Sobral Cunha. Ivo Castro considera normal que duasedies do mesmo texto tenham resultados diferentes se forem feitas com critriosdiferentes.

    AC31. . O poema XXI de O Guardador de Rebanhos, de Alberto

    Caeiro. Cleonice, clara em sua gerao. Rio de Janeiro: UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1995. 203-206.Gnese do poema XXI de O Guardador de Rebanhos, verificandose que o

    seu ltimo verso passou nas mos de Fernando Pessoa por cinco verses sucessivas,das quais a edio tica publicou a terceira.

    AC32. Cattaneo, Carlo Vittorio. Um poema blasfemo de Fernando Pes-soa. ColquioLetras 50 (7/1979): 9-21. (Repr. in Modernismo e

    Vanguarda. Cadernos da ColquioLetras, 2, Lisboa: Fundao Ca-louste Gulbenkian, 1984. 73-87).

    218 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    19/76

    primeira vista, o to declaradamente blasfemo VIII Poema de O Guarda-dor de Rebanhos pode parecer um jogo to gratuito quanto de mau gosto. Se, noentanto, o compararmos com outras obras, tericas ou no, do Pessoa ortnimo e

    dos heternimos, especialmente Antnio Mora, cujos textos se analisam, o aspectoblasfemo assume funcionalidade, parecendo sobretudo motivado pelos pressupostostericos do Neopaganismo.

    AC33. Ceia, Carlos. No centro de Seja o que for que esteja no centro domundo de Alberto Caeiro. De punho cerrado. Lisboa: Edies Cos-mos, 1997. 199-208.

    O poema de Alberto Caeiro pretende demonstrar que falaciosa a percepointerna ou conhecimento que o sujeito possui dos seus estados e dos seus actos atra-vs da conscincia: no podemos estabelecer uma analogia artificial entre o conhe-cimento da alma por si prpria e o que retm dos objectos materiais situados noespao.

    AC34. . Que metafsica tm aquelas rvores? Uma leitura do poemaV de O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro. De punho cer-

    rado. Lisboa: Edies Cosmos, 1997. 219-233.Toda a poesia de Alberto Caeiro nega o estatuto de poetafilsofo que Fernan-

    do Pessoa fez corresponder ao seu mestre nos textos tericos que lhe consagrou: opensamento metafsico de Caeiro justificase pela entificao do ser e pela parti-cipao do Poeta como Outro no ser entificado.

    AC35. Centeno, Yvette K. Fernando Pessoa: os Santos Populares e a Utopiada Criana Eterna. Portugal. Mitos revisitados. Lisboa: Edies Sala-mandra, 1993. 253-285. (Repr. sob o ttulo Tradio Popular e Her-metismo in Fernando Pessoa, Os Santos Populares. Ilustraes de Al-mada Negreiros e Eduardo Viana. Lisboa: Casa Fernando Pessoa eEdies Salamandra, 1994. 3-15).

    Estudo dos poemas Santo Antnio, So Joo e So Pedro, escritos por Fer-nando Pessoa em 9 de Junho de 1935, que no so para ler e esquecer com ligeireza,antes representam, cada um na sua esfera e sua maneira e num plano esotrico, o

    triplo rosto de um universo coeso: o do entendimento da humana matria (figuradoem Santo Antnio), o da sublimao dessa mesma matria (figurado em So Joo) eo da chave para todo o processo inicitico (figurado em So Pedro). Aproximando-

    219PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    20/76

    se o primeiro poema do VIII poema de O Guardador de Rebanhos, concluise quea utopia da Eterna Criana como pulso de vida e modelo a seguir, uma das for-as condutoras da obra de Pessoa.

    AC36. Chu, Dim. [Introduo]. Fernando Pessoa. Ngui Chan Giu DnTh. V nhung bi tho khc cua Alberto Caeiro. Trnh By, 1992.

    Apresentao da traduo vietnamita dos poemas de Alberto Caeiro.

    AC37. Coelho, Antnio Pina. O objectivismo absoluto de Caeiro. Os fun-damentos filosficos da obra de Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo, 1971.Vol. II, 288-231 .

    A tese fundamental de Alberto Caeiro, verdadeiramente revolucionria, por-que profundamente vivida, que Tudo o que no , no o que eu penso. Ana-lisamse os poemas de Caeiro nesta perspectiva, para concluir que o elogio quePessoa tece ao seu heternimo, considerando perfeitamente definida a teoria caei-riana do objectivismo absoluto, francamente exagerado: Caeiro mostrase emmuitos passos incoerente. A sua aventura, de uma generosidade que fracassou emambio, deixou ainda mais vivo o problema e o homem mais inquieto: ser pos-

    svel uma viso pura das coisas? possvel haver cincia sem conscincia? e pode-r o homem conhecer qualquer coisa?

    AC38. Coelho, Jacinto do Prado. Alberto Caeiro. Diversidade e unidadeem Fernando Pessoa. Lisboa: Revista Ocidente, 1949. 11-17 (9. ed.,Lisboa: Editorial Verbo, 1987. 23-32).

    H dois Caeiros, o poeta e o pensador, sendo o primeiro que em teoria se des-dobra no segundo. O paradoxo da sua poesia comea no facto de ser autor de poe-

    mas. O seu estilo pobre de vocabulrio, incolor e discursivo, dele se induzindoque em Caeiro o pensador suplanta o poeta. Segundo a imagem que d dele pr-prio, Caeiro assemelhase extraordinariamente ao homem descrito por Valry: vi-ve de impresses, sobretudo visuais, e goza em cada impresso o seu contedo ori-ginal. Estudase a potica de Caeiro em comparao e contraste com a de Pessoaelemesmo e as dos outros heternimos.

    AC39. . Pessoa, Fernando Antnio Nogueira. Dicionrio das litera-

    turas portuguesa, galega e brasileira. Porto: Livraria Figueirinhas, 1960.605-609.

    Caeiro, pretenso mestre de Reis e Campos, surge como um homem de viso

    220 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    21/76

    ingnua, instintiva, gostosamente entregue infinita variedade das sensaes. To-davia, os seus poemas so abstractos, incolores, porque para ele o real a prpriaexterioridade, no devendo seremlhe acrescentadas as impresses subjectivas; a

    posio de Caeiro, mais do que antimetafsica, contrria interpretao doreal pela inteligncia, pois essa interpretao reduz as coisas a simples conceitosvazios.

    AC40. . O cansao da razo: de Rousseau a Alberto Caeiro.Ao contrrio de Penlope. Lisboa: Bertrand, 1976. 249-254.

    Rousseau e Pessoa so personalidades e mundos mentais afastados, aparente-mente sem qualquer ponto comum; no entanto, como expoente da Modernidade,o autor mltiplo (Pessoa) algo dever ao iniciador (Rousseau). Do cansao da ra-zo disperso, fragmentao psquica, vai um caminho seguido, que se anali-sa sobretudo vista da obra de Alberto Caeiro. Este, personagem de fico opostaa Rousseau, homem de carne e osso, vale como expresso literria das tenses e an-siedades que agitam o homem moderno.

    AC41. Colombini, Dulio. A conscincia crtica e(m) Caeiro. Boletim In-

    formativo2. s., 14. Centro de Estudos Portugueses, Universidade deSo Paulo (1984): 35-58.Utilizando um enfoque filosfico, analisase a poesia de Caeiro, sublinhando

    que ele tem conscincia crtica do seu processo potico, do qual emergem todas asdificuldades, inclundo a necessidade de justificar exaustivamente os pontos de vis-ta, sobrecarregando o discurso de expresses e torneios explicativos.

    AC42. Costa, Dalila Pereira da. A Viso da Natureza em Fernando Pessoa.

    Persona 1 (Novembro 1977): 39-49.Atravs da poesia de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa demonstra ter sido cons-

    ciente de uma nova e decisiva viso da natureza aberta ao pensamento portuguse ocidental moderno.

    AC43. Crespo, ngel. Prlogo. Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro.Madrid: Ediciones Rialp, 1957. 9-18.

    Os heternimos pessoanos no so um mero jogo mas algo de fundamen-

    tal para compreender a obra de Fernando Pessoa. Neste contexto, justificasea traduo de trinta e quatro poemas de Caeiro (e apenas dele), no s como intuito de dar a conhecer aos leitores espanhis, com certa amplitude, uma das fa-

    221PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    22/76

    cetas de Pessoa, mas tambm devido clara preferncia que o criador dos heterni-mos sempre demonstrou pelo autor de O Guardador de Rebanhos.

    AC44. . Alberto Caeiro, clau de lheteronmia pessoana. FernandoPessoa. Pomes dAlberto Caeiro. Barcelona: Edicions del Mall ,1986. 9-22.

    No h dvida que a poesia de Caeiro a mais original da produo lrica deFernando Pessoa e, para alm disso, uma das mais originais do nosso tempo. Por es-tar consciente disso, Fernando Pessoa converteu Caeiro, anos depois de ter escrito ospoemas que acabou por datar de 8 de Maro de 1914, no centro do drama em gen-te, ou seja, no anunciado SupraCames.

    AC45. . Alberto Caeiro i la nova revelaci.Aspects actuels de lobra deFernando Pessoa. Barcelona: Fundaci Caixa de Pensions, 1988. 11-28.(Trad. de Joaquim SalaSanahuja. Repr. em castelhano sob o ttulo Al-berto Caeiro o la nueva revelacin, no seu Con Fernando Pessoa. Ma-drid: Huerga & Fierro, Col. La Rama Dorada, 1995. 111-134).

    Investigase qual o sentido unitrio (se que existe) dos originais publicados em

    vida por Fernando Pessoa, que relao tm esses textos com os inditos que deixou eque papel desempenham neste conjunto de prosa e verso a figura e a obra de Alber-to Caeiro, o criador mais original da lrica pessoana.

    AC46. . El drama em gente. Plural como el universo. La gnesis de losheternimos. El maestro Caeiro. La vida plural de Fernando Pessoa.Barcelona: Seix Barral. 1988. 129-137. (Repr. em trad. portuguesa deJos Viale Moutinho no seuA vida plural de Fernando Pessoa. Lisboa:

    Bertrand Editora. 1990; em trad. italiana de Brunello de Cusatis no seuLa vita plurale di Fernando Pessoa. Roma: Antonio Pellicano Editore.1997; e em trad. alem de Frank HenseleitLucke no seu Fernando Pes-soa. Das Vervielfltigte Leben. Eine Biographie. Zurique: Ammann Ver-lag. 1996).

    A extrema lucidez de Fernando Pessoa permitiulhe comprender sin tardanza,una vez que se le hubo revelado, que Caeiro haba echado, con su obra potica, loscimientos de un nuevo paganismo cuyo espritu era anterior, por su simplicidad e

    ingenuidad, al clasicismo grecorromano. A atitude de Caeiro analisada luz dostextos que sobre ele escreveram lvaro de Campos, Ricardo Reis e Antnio Mora.AC47. CuervoHewitt, Julia. Metafsica da negao: A negao da metafsica

    222 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    23/76

    na poesia de Alberto Caeiro.Actas IV, Vol. I. Porto: Fundao Eng. An-tnio de Almeida, 1990. 463-477. (Comun. ao IV C.I.E.P., Seco Bra-sileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988).

    De uma perspectiva crtica psmodernista, possvel ler hoje a obra de AlbertoCaeiro no s como a de um mestre, mas tambm como a de um profeta esttico. Des-sa perspectiva, Caeiro um espao vazio, um centro sem centro na potica pessoana:sombra e referente (ausente) para os outros heternimos.

    AC48. Cunha, Teresa Sobral. Planos e projectos editoriais de Fernando Pessoa:Uma velha questo. Revista da Biblioteca Nacional2, 3, 1 (1987): 93-107.

    A Autora anuncia que est a inventariar e a reunir todo o material existente noEsplio acerca dos projectos editoriais de Fernando Pessoa. Apresentamse, comoexemplo de aplicao possvel dos dados recolhidos, trs poemas inditos de Caeiro.

    AC49. . Nota Edio. Fernando Pessoa. Poemas Completos deAlberto Caeiro. Lisboa: Editorial Presena 1994. 5-14.

    Justificao da edio com um rosto que se cr fiel, e um corpo, que se cr

    completo da obra de Alberto Caeiro. Aos poemas juntase uma variada selecode textos de Ricardo Reis e de lvaro de Campos sobre o autor de O Guarda-dor de Rebanhos e sua obra.

    AC50. . Sou pelo dia triunfal! Pblico(8 Maro 1994): 24-25.Entrevista sobre a sua edio dos Poemas Completos de Alberto Caeiro. O dia

    triunfal , evidentemente, um truque potico: possvel que a data de 8 de Mar-o de 1914 tenha uma fundamentao astrolgica. Criticase a edio crtica da

    Equipa Pessoa, que existe ainda com a composio actual por razes completa-mente inexplicveis: arrancou mal e, depois da experincia traumatizantecom Campos seria de esperar que houvesse uma reviso da situao quer da par-te da Equipa Pessoa quer da parte da SEC.

    AC51. Dcio, Joo. Algumas Notas em Torno de Seja o que Fr que Est-ja no Centro do Mundo, de Alberto Caeiro. Didctica. Revista doDepartamento de Educao, Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras

    de Marlia 5-6 (1968-1969): 203-207. (Repr. in Fernando Pessoa. Es-tudos crticos. Joo Pessoa: Associao de Estudos Portugueses Hern-ni Cidade, Universidade Federal da Paraba, 1985. 77-81).

    223PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    24/76

    Este poema uma das poucas composies em que Alberto Caeiro foge dos pro-blemas da Natureza, para se deter no complexo e insolvel problema do Ser: a dis-cusso da importncia da existncia e da essncia humana.

    AC52. Del Barco, Pablo. Introduccin. Fernando Pessoa. Poemas de AlbertoCaeiro. Madrid: Visor, 1980. 7-21.

    Alberto Caeiro, o guardador de rebanhos que no pastor, el poeta desdo-blado de Pessoa ms noble. insistente, como insistente a Natureza, en el ca-da da de su repeticin: las cosas en su sitio y el poeta (el hombre) en medio deellas sin pensar en ellas, sin interpretarlas. A poesia de Caeiro significa que na-da va a edificar el poeta, nada va a dejar el hombre sobre la tierra, nada la dife-rencia que pas por el camino, que apenas advirti su huella.

    AC53. Del Bene, Orietta. Algumas notas sobre Alberto Caeiro. OcidenteLXXIV, 359 (Maro 1968): 129-235.

    Alberto Caeiro representa, por um lado, o mito da infncia permanecendoinalterado no homem adulto e, por outro, o mito do paganismo: duas saudades deFernando Pessoa. A originalidade audaciosa de Fernando Pessoa est no em fa-

    lar da infncia, mas sim em ser ou querer ser infantil atravs de Caeiro, tentati-va necessariamente condenada falncia pois s pode ser criana quem realmenteo .

    AC54. Duarte, Isabel Margarida. Maria Helena Nery Garcez: Alberto Caei-ro Descobridor da Natureza?. Persona 11/12 (Dezembro 1985): 93-94.

    Recenso crtica.

    AC55. Duarte, Jos Afrnio Moreira. A poesia de Alberto Caeiro. Fernan-do Pessoa e os caminhos da solido. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,1968. 31-32.

    principalmente com os poemas de Caeiro que Pessoa consegue um melhorequilbrio entre o antigo e o contemporneo: Caeiro situa-se como que num meio-termo entre Ricardo Reis e lvaro de Campos.AC56. Elia, Slvio. Mestre Alberto Caeiro ou a Filosofia Impossvel. Estu-

    dos Universitrios de Lngua e Literatura. Rio de Janeiro: Tempo Brasi-leiro, 1993. 399-421.

    A posio filosfica de Caeiro uma contradictio in terminispois no se po-

    224 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    25/76

    de afirmar a respeito de uma coisa ao mesmo tempo dois predicados incompatveis. um sensacionista radical, o que tambm no condiz com a natureza humana;desfaz continuamente o seu pretenso objectivismo e, querendo ser filosfico, pro-

    fundamente lrico. No devemos, todavia, confundir o pensador Caeiro com opensador Pessoa: este respira subjectivismo e um visionrio.

    AC57. Entrambasaguas, Joaquin de. Poesias de Alberto Caeiro. FernandoPessoa y su creacin potica. Madrid: Consejo Superior de Investigacio-nes Cientficas, 1955. 100-123.

    No contexto geral de um exame crtico da criao potica de Fernando Pessoa,estudase a projeco nela do drama em gente. No que respeita a Caeiro, a uni-dade temtica de O Guardador de Rebanhos o divagar mental do autor: cadaum dos quarenta e nove poemas produto de uma ideia, de um motivo potico,sem obedecer a um sistema lgico mas agrupados como ovelhas pelo seu guardador.Analisamse todos os poemas, destacando que o VIII uma composio irreveren-te e disparatada, feita de blasfmias inteis. Em alguns dos Poemas Inconjuntos,que tambm so objecto de anlise individual, mas selectiva, detectamse pensa-mentos soltos que poderiam ter sido o germe de poemas mais extensos.

    AC58. Faucherau, Serge. Fernando Pessoa, ses ismes et ses masques. Expres-sionisme Dada Surralisme et autres ismes. Paris: Les Lettres Nouvelles,1976. 161-196.

    Alberto Caeiro, que ocupa uma posio privilegiada na constelao pessoana,nega o valor da reflexo: um sensualista violentamente antiintelectual e umpassadista qui rve dun ge dor et dinnocence sans technologie ni spculationsabstraites. O seu cepticismo pode por vezes tomar une tournure dsagrable lors-

    quil sapplique la socit. Para o Autor, Caeiro uma figura mdiocrementsympathique e de espantar que Pessoa e os outros heternimos nele tenham vis-to um mestre. Il est dnu de la moindre chaleur humaine et sa position est in-soutenable: talvez por isso Pessoa o fez morrer to novo.

    AC59. Feij, Antnio M. A constituio dos Heternimos. 1. Caeiro e acorreco de Wordsworth. ColquioLetras 140-141 (AbrilAgosto1996): 48-60.

    O poema Ela canta, pobre ceifeira um correco implcita do poema deWordsworth The Solitary Reaper, desocultando e assumindo para si, exasperan-do-a, a natureza da indeciso de Wordsworth. O mesmo movimento de correco

    225PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    26/76

    surge, tambm implicitamente, num texto em ingls em que Fernando Pessoa carac-teriza a absoluta novidade de Alberto Caeiro, que consiste numa objectividade ra-dical quase inconcebvel. Uma anlise de alguns poemas de Caeiro permite con-

    cluir que este, poeta doubl de filsofo o contra Wordsworth e o contra-Kant.

    AC60. Ferreira, Luzil Gonalves.A antipoesia de Alberto Caeiro. Uma leitu-ra de O Guardador de Rebanhos.Recife: Associao de Estudos Portu-gueses Jordo Emerenciano, 1989.

    Depois de estudar a concepo do Poeta para Alberto Caeiro, procurando mos-trar como se teoriza a relao do Poeta com a Natureza, consigo mesmo e com a Poe-sia (discutindo a tripla problemtica do Cosmos, do Anthropos e do Logos), fazseuma leitura da prtica potica de Caeiro. Em concluso, defendese que este se re-conciliou consigo prprio; estabelecendo a ruptura definitiva entre o homem que es-creveu e a sua produo artstica, sente que realizou uma potica coerente.

    AC61. Figueiredo, Pedro Arajo. Sobre Caeiro e alguma filosofia. Actas I.Porto, Braslia Editora: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1979.615-630. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 3-5 de Abril de 1978).

    Sendo improvvel a descoberta (ou redescoberta) de qualquer sistema filosficooriginal de feitura pessoana, no se exclui da a profunda originalidade do enten-dimento que Fernando Pessoa fazia da Filosofia, da forma como entendia as rela-es desta com a Potica e mesmo dos trabalhos de exercitao filosfica que reali-zou. Relativamente a Alberto Caeiro, no deve buscarse um paralelo em Husserl,mas sim em Wittgenstein.

    AC62. Flrido, Jos. Conversas inacabadas com Alberto Caeiro. Porto: Porto

    Editora 1987. (2. ed., Lisboa: Editora Pergaminho, 1998).Em dilogos imaginrios tidos em Sintra com um Alberto Caeiro ressuscitado,

    provase a profundidade do seu pensamento e o desejo autolibertador manifesta-dos na sua anterior reencarnao.

    AC63. Galhoz, Maria Aliete. Alberto Caeiro, pote/pomes. Fernando Pes-soa. Pomes paens. Paris: Christian Bourgois diteur, 1989. 17-26.

    Alberto Caeiro, embora personagem fictcia, nen est pas moins, sans aucun

    doute, un pote autonome, dans la mesure o il incarne une identit cratrice; ilexiste vritablement par ses pomes, il est un pote/pomes. A sua obra potica sin-gular e pessoal, tanto pelo contedo como pela forma. A sua linguagem natural,

    226 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    27/76

    fluida e lmpida, cest le miracle du gnie qui a cr ces pomes dune organisationparfaitement cohrente. Leur nouveaut esthtique est encore plus surprenante si lonsavise que llment de base de leur criture est lutilisation systmatique du clich.

    Caeiro apporte langoisse et la nause de Pessoa, son crateur, le remde dunecertitude rassurante, en montrant le caractre naturel de toutes choses, du moindregeste, du simple fait dexister.

    AC64. . A fortuna editorial de Fernando Pessoa.Actas IV, Vol. II. Por-to: Fundao Eng. Antnio de Almeida, 1990. 79-88. (Comun. ao IVC.I.E.P., Seco Brasileira, So Paulo, 27-30 Abril 1988. 1. publ. inNova Renascena(PrimaveraVero 1988): 126-131).

    Balano da bibliografia activa de Fernando Pessoa desde a publicao, em1942, da recolha antolgica organizada por Adolfo Casais Monteiro at ediofacsimilada de O Guardador de Rebanhos, por Ivo Castro. Em apndice, uma bi-bliografia sumria.

    AC65. Galvo, Jesus Bello. Um Guardador de Rebanhos, de Alberto Caei-ro. Ensaios pessoanos. Niteri: Universidade Federal Fluminense, Insti-

    tuto de Letras, 1985. 13-43.Leitura de O Guardador de Rebanhos do ponto de vista lingustico e de tc-nica potica.

    AC66. Garcez, Maria Helena Nery. Alberto Caeiro: aspectos de intertextuali-dade. Boletim Informativo3. srie, XI, 2 Centro de Estudos Portugue-ses de So Paulo (1985): 27-45 . (Repr. no seu Trilhas em Fernando Pes-soa e Mrio de SCarneiro. So Paulo: Editora Moraes e Editora da

    Universidade de So Paulo, 1989. 59-87).Anlise da obra de Alberto Caeiro do ponto de vista das suas relaes com al-

    guns textos, de poesia ou no, que o precederam (a Tradio, como, por exemplo, oEa de Queiroz de O Suave Milagre, Antnio Nobre, a Bblia), das suas relaescom os outros heternimos e textos pessoanos, o que permitir surpreendlo na suasingularidade e rotullo como poeta da Modernidade.

    AC67. .Alberto Caeiro, descobridor da Natureza?Porto: Centro deEstudos Pessoanos, 1985.

    A Autora estuda os poemas de Caeiro dentro da tradio da poesia da Natu-

    227PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    28/76

    reza, como o contestador da linguagem mstica crist e da subjacente viso domundo que nela se consubstancia. Comeando por analisar a relao da obra deCaeiro com De Rerum Natura de Lucrcio, o estudo incide essencial e exausti-

    vamente sobre o dilogo polmico que se estabelece entre os poemas de Caeiro e OCntico do Sol, de S. Francisco de Assis, que se analisa estrofe a estrofe. Inven-tariando na poesia de Caeiro no apenas estruturas religiosas anlogas s da lin-guagem de S. Francisco de Assis, mas tambm aluses claras ao seu vocabulriomas utilizadas num sentido oposto, concluise que Caeiro faz uma espcie de sub-til pardia da linguagem franciscana. Tal propsito confirmado pela anlise detextos em prosa, publicados e inditos, de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, lvarode Campos e, sobretudo, Antnio Mora. Em concluso, a Autora defende que se,por um lado, ao operar um regresso s coisas, Caeiro de facto descobre a Nature-za, por outro lado h um profundo nihilesmo nalgumas das suas proposies, co-mo a condenao do cristianismo, do pensamento discursivo, da vida em socieda-de e da aco humana sobre a Natureza. O projecto de Caeiro contrariasefrequentemente a si mesmo, indo contra algumas das exigncias mais legtimas daprpria Natureza: um poeta filsofo e no um filsofo poeta: nos seus versos noh subordinao da arte filosofia, mas uma assuno da filosofia na arte.

    AC68. . De Fernando Pessoa e Antnio Nobre. Trilhas em Fer-nando Pessoa e Mrio de SCarneiro. So Paulo: Editora Moraese Editora da Universidade de So Paulo, 1985. 43-57.

    O dilogo de Fernando Pessoa com os seus antecessores foi extraordinaria-mente rico: estudamse o posicionamento de Alberto Caeiro em face de Ant-nio Nobre. Um e outro seguem a tradio dos poetas da Natureza, mas en-quanto Nobre, pelo pensamento analgico, descobre continuamente vnculos

    entre os componentes da Realidade, Caeiro pretende ser um desatador de vn-culos, isolar cada coisa na sua ipseidade.

    AC69. . Motivos das navegaes na poesia portuguesa do sculoXX. Actas do 4. Congresso da Associao Internacional de Lusita-nistas. Lisboa: Lidel, 1995. 491-497. (Comun. ao 4. Congressoda A.I.L., Universidade de Hamburgo, 6-11 Setembro 1993).

    Anlise comparativa do tratamento que a problemtica do conhecer rece-

    be em Cames e, no nosso sculo, em Fernando PessoaAlberto Caeiro e An-tnio Gedeo.

    228 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    29/76

    AC70. Garcia, Jos Martins. Caeiro, Tradittore? Colquio/Letras 88 (No-vembro 1985): 48-56. (Repr. no seu Exerccio da crtica, Lisboa: Edi-es Salamandra, 1995. 48-59).

    Apontamse exemplos de intertextualidade, a diferentes nveis, entre alguns poetasbuclicos de lngua inglesa (Sir Philip Sidney, Alice Meynell, Ben Jonson) e a produ-o de Alberto Caeiro, analisandose as leituras orientalizantes da sua obra. O Autorconclui que Caeiro satirizou tudo e todos, parodiando, distorcendo, traindo, desde osbudismos ao Zen, desde Lucrcio at S. Francisco de Assis. O seu Universo todo men-tal, interior, ou seja, o contrrio da significao corrente de Universo. Caeiro origi-nal fora de inverter o sentido de uma complicada rede de assimilaes culturais esatrico, no sentido profundo do termo.

    AC71. . Em torno do corao. Fernando Pessoa: corao despedaa-do. Ponta Delgada: Universidade dos Aores, 1985. 68-75.

    O estudo tem como objectivo a anlise e consequente leitura das flutuaes doconceito de corao na linguagem potica de Fernando Pessoa. Surpreende a es-cassez de ocorrncias do conceito nos poemas de Alberto Caeiro, em que apenassurge no XXVII Poema de O Guardador de Rebanhos e no poema A guerra

    que aflige com seus esquadres o mundo.

    AC72. Garca Martin, Jos Luis. El unico poeta de la Naturaleza. Fernan-do Pessoa. Madrid: Ediciones Jcar, 1982. 114-125.

    A personagem Caeiro que se desprende dos versos que lhe so atribudos nocoincide nem com a biografia que Pessoa lhe atribui, nem com o que ele mesmodeclara ser. No o bom selvagem, o homem sem cultura em permanente con-tacto com a Natureza: o filsofo disfarzado. Es el idelogo que trata de poner

    en prtica una de sus quimeras. Inutilmente. Mas dessa inutilidade brota agrandeza da sua poesia: En la mentira del personaje se engendra la verdad delpoema.

    AC73. Gil, Jos. Caeiro, le mtaphysicien dans mtaphysique, et son disci-ple, Reis. Fernando Pessoa ou la mtaphysique des sensations. Paris:Editions de la Diffrence, 1988. 118-130. (Repr. em trad. portugue-sa de Miguel Serras Pereira e Ana Luisa Faria, no seu Fernando Pessoa

    ou a metafsica das sensaes. Lisboa: Relgio dgua, s.d. 118-130).Rompendo com a tradio que tende a abordar a obra de Fernando Pessoa em

    termos de comentrio literrio, o Autor estuda o pensamento pessoano em que se

    229PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    30/76

    articula uma esttica das sensaes com uma arte potica e se mostra de enormecoerncia sob a aparncia fragmentria dos textos. Neste contexto, dois discursostecem o fio da poesia de Alberto Caeiro: um discurso positivo (que anuncia, ou

    finge anunciar, tautologias) e um metadiscurso negativo (que afirma que noh metafsica nas sensaes) sobre o qual o primeiro discurso exclusivamente seapoia. A emoo metafsica de Caeiro vem da intelectualizao do sentir, trans-formado em modo de pensamento, to natural como um rgo. Alcanado esseobjectivo, Caeiro realiza ao mesmo tempo a mais pura poesia metafsica e umalinguagem aparentemente no limite das possibilidades poticas: existe nele umaconteno no abandono que constitui o resultado longnquo desse trabalho deabstraco da emoo.

    AC74. . Alberto Caeiro ou lme devenue corps. Pomes de AlbertoCaeiro publis du vivant de Fernando Pessoa. Paris: ditions de laDiffrence, 1989. 7-16.

    Alberto Caeiro ocupa na constelao heteronmica de Pessoa um lugar singu-lar: il est la fois lun des htronymes, leur matre tous, et celui qui sen loig-ne le plus. Par son style, par sa manire de sentir, par sa conception de la natu-

    re et du monde, il apparat lui seul comme une constellation autonome, sesuffisant pleinement ellemme, et qui contient pourtant en puissance tous lesautres potes auxquels il donnera naissance. Para o Autor, Caeiro est le sujet detoute lhtronymie, il est lhtronymie ralise. Il suppose tout le processus ht-ronymique achev, il est ce qui reste, une fois construits tous les htronymes, cequi demeure lorsque le sujet de lcriture traverse tous les devenirsautre ht-ronymiques et se dissout en tant que moi: voil pourquoi il na pas de subjecti-vit, voil pourquoi il se proclame lArgonaute des sensations vraies.

    AC75. . O corpo, a arte e a linguagem: o exemplo de Alberto Caei-ro. Revista de Comunicao e Linguagens10-11 (Fevereiro 1990):59-70.

    Debatendo a questo entre sensao e linguagem, sublinhase que a correspon-dncia entre sensaes era de tal modo importante para Fernando Pessoa que che-gou a pensar considerla como princpio de um movimento literrio: o Interseccio-nismo. O ideal de adequao total entre sensao e linguagem como ideal artstico

    mximo foi realizado por Alberto Caeiro, o que faz do seu caso uma ilustraoexemplar da articulao do corpo e da linguagem atravs da arte. Examinase ocorpo de Caeiro, para mostrar como, neste poeta, a alma se tornou corporal.

    230 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    31/76

    AC76. Gomes, lvaro Cardoso. O retorno inocncia. Fernando Pessoa. Es-tudos crticos. Joo Pessoa : Associao de Estudos Portugueses Hern-ni Cidade, Universidade Federal da Paraba, 1985. 17-22.

    Percorrendo ao inverso o caminho para a civilizao, Alberto Caeiro empreen-de a viagem da conquista da Natureza; o meio de que se serve a poesia, restitu-da sua misso essencial: a de fundir o homem ao mundo.

    AC77. Gonalves, Robson Pereira. Alberto Caeiro ou a matriz Poticoon-tolgica em Fernando Pessoa. Revista do Centro de Artes e Letras 2, 1Universidade Federal de Santa Maria (JaneiroJunho 1980): 55-65.

    Estudase a relao da poesia pantesta e sensacionista de Fernando Pessoa,produzida atravs de Alberto Caeiro, e a metafsica heideggeriana. Com base nafilosofia do Ser, procurase evidenciar as passagens mais representativas do textopotico que concorrem para um descobrir dos caminhos do Ser e que se alojamna explicitao metafsica que Heidegger faz da questo. Concluise que a ditapoesia da objectividade vela a intensidade primal do poeta, pois, na verdade, setrata de uma poesia de desvelamento do ser.

    AC78. Grellet, Ivone Freitas. A Poesia de Fernando Pessoa: Budismo e ZenBudismo em Alberto Caeiro. Novos Ensaios de Literatura Portuguesa.Araraquara: Instituto de Letras, Cincias Sociais e Educao UNESP,Centro de Estudos Portugueses Jorge de Sena, 1986. 88-127.

    Entre a postura de Alberto Caeiro e os princpios filosficos do Budismo e doZen Budismo, observamse pontos comuns, que se fundamentam na filosofia danofilosofia. A poesia de Caeiro assemelhase poesia de Basho naquilo a que po-der chamarse a essncia potica: mas Caeiro no um poeta Zen, antes um poe-

    ta com Zen: o seu processo dialcticoestilstico anlogo aos sutras orientais.

    AC79. Griffin, Jonathan. Four Poets in One Man. Fernando Pessoa. Selec-ted Poems. Harmondsworth: Penguin Books, 1974. 9-23. (2. ed.,1982; repr. 1988).

    O Autor aproxima Caeiro de Francis Ponge, que professam ambos much thesame philosophyreligion: absolute objectivism, embora divirjam na maneira dea exprimir. O estilo de Caeiro is an unostentatious antipoetry (...) His poems

    are the talk of a master to disciples as he walks along a hillside and rounds up hissheep. Os ensinamentos de Caeiro esto prximos do caminho Zen; a sua fraque-za, como Octavio Paz notou, reside, no nas ideias (que, pelo contrrio so a sua

    231PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    32/76

    fora), mas na irrealidade da experincia que pretende ter tido. Caeiro aquiloque Fernando Pessoa queria ter sido e que no conseguiu ser: Ricardo Reis is thenearest that Pessoa could come to being Caeiro.

    AC80. Guerra, Maria Lusa. Sobre o conceito de opacidade na poesia de Al-berto Caeiro. OcidenteLXIII, 295 (Novembro 1963): 209-224.

    Nos poemas de Alberto Caeiro, as coisas pululam por toda a parte multipli-cadas mas exprimem descontinuamente a mesma opacidade radical e estruturan-te. Para Caeiro, tal como para Sartre, o mundo no um palco mas uma presen-a pastosa. Antecipandose a alguns filsofos contemporneos na leitura daopacidade constitutiva da realidade bruta, Caeiro desvaloriza o homem como ca-pacidade mitificante e tenta, numa aventura dolorosa e intil, coincidir com aperfeio natural das coisas.

    AC81. . Alberto Caeirolvaro de Campos ou a verdade de uma li-o intil. Cronos. Cadernos de Literatura1 (s.d.): 21-23.

    lvaro de Campos, afinal, no aprendeu a lio de Alberto Caeiro: o delriosensacionista da sua poesia , sob mais de um ttulo, a negao expressa do exem-

    plo tutelar do Mestre. Se em Caeiro h descoberta, em Campos h conquista:ambos se deixaram fascinar pelo real, mas enquanto que a Caeiro nenhuma coi-sa feriu, nem doeu, nem perturbou, a Campos todo o sangue ferveu num torve-linho desencontrado de emoes inventadas.

    AC82. Guibert, Armand. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Paris: PierreSeghers, 1960. 34-51. (2. ed., 1973).

    Alberto Caeiro, migrec mi bdouin, cestdire un naturaliste contempla-

    tif, um falso campons qui ne sait pas dsigner par leur nom les arbres, lesplantes et les fleurs. As suas reiteraes seriam montonas se no fossem, em cadamomento, resgatadas pela fracheur de la raison (facult et opration qui, chezlui, passent en importance la chose vue). Malgr ses tautologies, ses redites, sadmarche de primitif intraitable (ou cause delles, peuttre?), notre pote delvidence avance dun pas que pourraient lui envier bien des croyants torturs,jusqu la trs dsirable lumire de la certitude et de laffirmation.

    AC83. . Note dintroduction loeuvre dAlberto Caeiro. FernandoPessoa. Le Gardeur de troupeaux et les autres pomes dAlberto Caeiro.Paris: Gallimard, 1960. 9-12.

    232 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    33/76

    O Autor v em Alberto Caeiro une sorte de sage bdouin, plus proche de lh-donisme de lIslam que de lacceptation chrtienne des imperfections de ce mon-de, un semi autodidacte expansif, assez prolixe, et ruisselant de lucidit. Quon

    le rattache un jour la tradition dun certain lyrisme hellnique, il ny aura lrien de surprenant: son accent na jamais le flou et louat propres la posieatlantique.

    AC84. . Fernando Pessoa. Celui qui tait personne et multitude.Fernando Pessoa. Le Gardeur de troupeaux et les autres pomes dAlber-to Caeiro avec Posies dlvaro de Campos. Paris: Gallimard, 1987. 7-25. (2 ed. sob o ttulo Fernando Pessoa. Le Gardeur de troupeaux etles autres pomes dAlberto Caeiro. Avec posies dAlvaro de Cam-pos, 1996).

    On a beaucoup glos sur le systme philosophique de Caeiro, matre incon-test des autres htronymes et de Pessoa luimme. O Autor , todavia, de opi-nio, de que a etiqueta de paganismo convm mais a Ricardo Reis: Caeiro, lui,se contente dun plissement de la paupire pour dissminer cette contrefoi. E co-mo pode considerarse um matre penser um jovem de vinte e sete anos (co-

    mo Caeiro, que nasceu em 1889 e morreu em 1915)? Assim, il est malais decroire que Caeiro, n da la cuisse de JupiterPessoa, puisse avoir [sobre lvaro deCampos] une autorit de crateur et de matre.

    AC85. Guimares, Fernando. Paganismo para qu? JL. Jornal de Letras,Artes e Ideias(20 Julho 1994).

    Recenso crtica de Fernando Pessoa. Poemas Completos de Alberto Caeiro(recolha, transcrio e notas de Teresa Sobral Cunha). O objectivismo da poesia

    de Caeiro representa um momento extremo em que se recusa o envolvimento emo-cional, subjectivo ou perversamente mstico que a pode envolver, projectando ne-la a sombra e, tambm, a presena do prprio autor.

    AC86. Gntert, Georges. Der Hter des Seins: Alberto Caeiro. DesFremde Ich. Berlim: Walter de Gruyter, 1971. 121-141. (Repr.emtrad. portuguesa de Maria Fernanda Cidrais no seu Fernando Pessoa.O Eu estranho, Lisboa: Publicaes Dom Quixote, 1982. 133-152).

    Rastreiamse vestgios de Alberto Caeiro na vida e na obra passadas de Fer-nando Pessoa, mesmo em pocas anteriores quela que a crtica at hoje tem assi-nalado, bem como os seus precedentes em correntes literrias europeias e portugue-

    233PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    34/76

    sas. Caeiro mais do que apenas o plo oposto a Pessoaele mesmo, pois introduzum tom indito, uma potica inteiramente nova na literatura portuguesa. Omundo das coisas celebrado por Caeiro e o Eu nele redimido formam uma no-

    va ordem: com Caeiro, Pessoa recusa de novo o presente, mas deixa abrir um ca-minho para o futuro.

    AC87. Hart, Thomas R. M. Teste em Lisboa: Pessoa e Valry.Arquivos doCentro Cultural Portugus. XXIII. Paris: Fundao Calouste Gul-benkian, 1987. 817-827.

    Afinidades entre Fernando Pessoa e Paul Valry: o elo mais importante entreos dois escritores a fascinao com que ambos observaram o funcionamento dasua prpria inteligncia. Tal mais evidente nos poemas ortnimos de FernandoPessoa e nos de lvaro de Campos, embora se manifeste tambm nos de AlbertoCaeiro, sempre oposto a qualquer tipo de intelectualizao.

    AC88. Hatherly, Ana. O cubo das sensaes e outras prticas sensacionistasem Alberto Caeiro.Actas I. Porto, Braslia Editora: Fundao Eng.Antnio de Almeida, 1979. 59-81. (Comun. ao I C.I.E.P., Porto, 3-

    5 de Abril de 1978.Anlise textual do poema XX de O Guardador de Rebanhos luz dos prin-cpios da teoria sensacionista, considerada esta como um conjunto de instrues,ou seja, como um programa. Na sua comunicao ao Congresso, este ensaio eraacompanhado da apresentao de trs cubos em vidro acrlico, ilustrando a teoriasensacionista nos seus aspectos bsicos.

    AC89. . Pessoa/Caeiro vs. Walt Whitman. A destruio do Mestre.

    Persona 6(Outubro 1981): 7-19.Se admissvel que Fernando Pessoa queira ter resistido admirao que a

    obra de Walt Whitman lhe inspirou, igualmente possvel que tal represente ape-nas uma espcie de fatalidade inerente criao.

    AC90. Henriques, Mendo Castro.As coerncias de Fernando Pessoa. Lisboa:Verbo, 1989.

    No pretendendo fazer de Fernando Pessoa um filsofo fora, tomase por

    ponto de partida a sua reconhecida capacidade potica de encontrar formas ver-bais para a experincia humana, de pr em questo o real e de propor respostasalternativas a essas interrogaes. Com Alberto Caeiro, Fernando Pessoa obtm

    234 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    35/76

    uma poesia fiel s exigncias fenomenolgica e metafsica, colocando no cerne daapreenso do real a conscincia informada por um paradigma de interrogao.

    AC91. Honig, Edwin e Susan M. Brown. Introduction. The Keeper of Sheep by Fernando Pessoa. RiverdaleonHudson, New York: TheSheep Meadow Press, 1986.

    O Guardador de Rebanhos foi the turning point of Pessoas career and thepsychogenetic model of poetic liberation. Tal como Song of Myself, tornousea new poetic manifesto, proclaiming the unknowable and manifold nature ofreality as something perceptible only to the unthinking and intensely receptive bo-dily senses, particularly the eye.

    AC92. Hourcade, Pierre. Alberto Caeiro: Gloses sur le Guardador de Re-banhos. Bulletin des tudes Portugaises et BrsiliennesNova srie 37-38 (1977-1978): 93-125. (Repr. em trad. portuguesa sob o ttuloAlberto Caeiro: glosas sobreO Guardador de Rebanhos no seu Temasde literatura portuguesa. Lisboa: Moraes Editores, 1978. 169-197).

    O Guardador de Rebanhos um dos textos mais enigmticos do Fernan-

    do Pessoa. Depois de diversas consideraes de crtica textual acerca das va-riantes publicadas nas edies tica e Aguilar (concluindo que, na falta deuma correco posterior feita pelo prprio poeta, deve preferirse o texto porele originalmente publicado naAthena) e de analisar o que chama o mist-rio da seleco feita por Fernando Pessoa para publicao em vida, o Autorapresenta uma tentativa de interpretao dos 49 poemas no seu todo, paraconcluir que no se trata de peas isoladas, indiferentemente agrupadas, massim de um conjunto coerente, expressamente querido pelo mais exigente dos

    crticos de Fernando Pessoa: ele prprio. O motivo primeiro de O Guarda-dor de Rebanhos o realismo existencial do poeta ou, como o prprio Caei-ro o classificou, o misticismo do corpo.

    AC93. Janeira, Armando Martins. Zen nella poesia di Pessoa. QuaderniPortoghesi1 (Primavera 1977): 95-116. (Repr. em portugus in NovaRenascena, VI, 23-24 (VeroOutono 1986): 285-297).

    Vrios estudiosos ocidentais interessados na cultura do Oriente assinalaram

    coincidncias com o pensamento Zen nos textos de grandes escritores do Ocidente.Indicamse neste ensaio afinidades surpreendentes entre o Budismo Zen e o pen-samento de Alberto Caeiro.

    235PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    36/76

    AC94. Josipovici, Gabriel. Fernando Pessoa, 1888-1935. The Lessons of Modernism and Other Essays. New York: M, 1977. 26-50.

    A relao de Alberto Caeiro com a experincia do dia triunfal significa que

    Pessoa was saddled with this unreal and unlikely figure for the rest of his life.However, what in practice happened was that Pessoa allowed doubt to creep intoCaeiros poetry, so that gradually it became not so much Caeiros as that of Pessoa-awareofCaeiro. E o Autor conclui que despite all Pessoas efforts to createCaeirothe invention of a biography, of physical characteristics and the rest ofitthe poems move away from the control of the heteronym into a quite differentarea of experiencetal como acontece, alis, como os outros dois heternimos.

    AC95. Kotowicz, Zbigniew. Fernando Pessoa. Voices of a Nomadic Soul. Lon-don: The Menard Press, 1996. (Repr. em trad. portuguesa de Mariade Lourdes Sousa Ruivo sob o ttulo Fernando Pessoa: Vozes de umaalma nmada. Lisboa: Vega, 1998).

    Caeiro, poeta sensacionista que desenvolve a philosophy of nonphilosophy a anttese de Pessoa, o sebastianista de inclinaes msticas. O que ele tem a di-zer deserves to be called a philosophy because of its consistency and because [his]

    unlearning is indeed very thorough. O VIII Poema de O Guardador de Reba-nhos o strongest anticatholic statement de Pessoa, no qual Caeiro blasphe-mes in search of the innocence of childhood. O Autor refere a opinio de Tho-mas Merton sobre a aproximao da poesia de Caeiro com a filosofia Zen, com aqual no concorda totalmente, pois if nothing else Caeiros tone is too often toopolemical to pass for a Zen poet.

    AC96. Kujawski, Gilberto de Mello. Fernando Pessoa, o Outro. So Paulo:

    Conselho Estadual de Cultura, 1967. (2. ed., 1973; 3. ed. Petrpo-lis: Editora Vozes, 1979).

    Reduzindo as coisas sua imanncia sensvel, ao grau zero de significao,de donde provm a inegvel fora potica absorvente na obra de Alberto Caei-ro? Mestre de Fernando Pessoa e de todos os heternimos porque rompeu com oautismo do poeta, arrojando-o face a face com a realidade, Caeiro reconquistouo contacto directo com as coisas, permitindo que Pessoa e os outros heternimos,devolvidos realidade, conquistassem novas perspectivas desta, possibilitando as-

    sim a renovao radical da poesia, em vrias direces. Estudase o seu sensoria-lismo radical, para concluir que o que h de comum entre a metfora e as sen-saes de Caeiro serem ambas formas de apropriao da realidade, ou da

    236 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    37/76

    circunstncia, pelo eu, entendido como executividade pura, inteira compene-trao do sujeito com as suas aces e paixes.

    AC97. . Realidade e poesia em Fernando Pessoa. O Estado de S. Pau-lo, Suplemento Cultura(23 Novembro 1985). (Repr. in Revista Comu-nidades de Lngua Portuguesa. Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil,6-7 (JulhoDezembro 1985 JaneiroJunho): 71-74).

    Atravs de Caeiro, Fernando Pessoa retoma a poesia pelo caminho da realida-de, e chega realidade pelo caminho da poesia: a inveno do heternimo e a suaviso neopag antecipam a fico poetizante.

    AC98. Leal, Ana Maria Gotardi. A viso inocente: Alberto Caeiro. O Mes-tre. Homenagem das literaturas de lngua portuguesa ao Prof. AntnioSoares Amora. So Paulo: Academia Lusada de Cincias, Artes e Le-tras Centro de Estudos Portugueses Faculdade de Filosofia Letras eCincias Humanas, Universidade de So Paulo, 1997. 37-42.

    Recorrendo a Giambattista Vico e Frederico Schiller para conceituar a poesiaconcebida como viso ingnua e inocente, estudamse poemas de Alberto Caeiro

    que actualizam uma filosofia de vida em que so privilegiadas a natureza e a sen-sao virginal.

    AC99. Lind, Georg Rudolf. Alberto Caeiro, o renovador do Paganismo.Teoria potica de Fernando Pessoa. Porto: Inova, 1970. 99-131. (2.publ. no seu Estudos sobre Fernando Pessoa, Lisboa: ImprensaNacional-Casa da Moeda, 1981).

    Relativamente ao aparecimento de Alberto Caeiro no dia triunfal descrito

    na carta a Casais Monteiro, no repugna ao Autor concluir que Pessoa se deci-diu, em 1935, a cultivar conscientemente a sua prpria lenda, apresentando-seaos amigos mais jovens como o pai involuntrio de trs personagens poticas eocultando, propositadamente, todas as consideraes de ordem terica e progra-mtica que haviam precedido o nascimento delas. Tais consideraes baseiam-se, essencialmente, no paganismo greco-romano; ao mundo grego vai buscarPessoa as duas ideais centrais de disciplina e de limitao. O programa quePessoa traou para Alberto Caeiro est contido quase na ntegra no ensaio O

    Regresso dos Deuses, embora seja surpreendente o facto de o prprio Caeironunca se deixar emaranhar nas malhas duma ideologia neopag: so exemplodisso as digresses subjectivas dos poemas de O Pastor Amoroso. Conclui-se

    237PESSOAS ALBERTO CAEIRO FALL 1999

    JOSBLANCO

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    38/76

    que indiscutvel o carcter anti-subjectivista e anti-romntico da produo deCaeiro que, ainda que possa ter estado ligada a consideraes programticas rigo-rosas e ainda que o seu criador lhe tenha inculcado post festum uma estrutura

    ideolgica, adquire, como obra de nvel artstico, novas conotaes espirituaisdiferentes das do autor.

    AC100. . Fernando Pessoa. Alberto Caeiro. Dichtungen. Ricardo Reis.Oden. Zurich: Ammann Verlag, 1986. (2. ed., Frankfurt am Main:Fischer Taschenbuch Verlag, 1989; 3. ed., 1993).

    Posfcio Antologia.

    AC101. Linhares Filho. A Outra Coisa na poesia de Fernando Pessoa.Fortaleza: Edies da Universidade Federal do Cear, 1982.

    O que Alberto Caeiro adopta no todo da sua obra um modo esttico, por-que instaurador, de sentir a realidade, por isso diferente do modo normal, auto-mtico, espontneo do homem comum senti-la: da o alto grau de intelectuali-zao da sua poesia, conquanto negue que a intelectualiza. Analisa-se orelacionamento entre Caeiro e Campos, para concluir que o segundo, realista e

    sensvel, o ponto de encontro do modo de ser do primeiro com o modo de ser dePessoa. O nada hiperblico e idealista de Caeiro exprime-se nos seus poemas emnegaes, restries ou excluses; mas o Mestre, de posio mais contraditria, que-reria na verdade tudo, embora um tudo restrito Natureza.

    AC102. Linnartz, Bruno. Alberto Caeiro als antipode Fernando Pessoa.Romanistisches JahrbuchXVII (1966): 323-342.

    Pode entender-se a poesia de Alberto Caeiro como anttese de Pessoa, como

    um passo na busca do eu perdido, ou como antecipao potica da filosofia hus-serliana e da crtica lingustica de Wittgenstein.

    AC103. Lisboa, Maria Manuel. Modernismo, Nilismo, Caeirismo: histriasde idiotas (no) significando nada. O Escritor 10 (Dezembro1997): 140-151.

    Investigao sobre quem foi o criminoso homicida que prematuramentematou [Alberto Caeiro] na idade de vinte e seis anos. Atravs da anlise de poe-

    mas, prova-se que, sendo a morte e o silncio a continuao lgica do acto de serCaeiro, e porque a persistncia numa vida se no rimada pelo menos ritmadapela prosa dos meus versos era uma traio a esse acto de ser Caeiro, o assassino

    238 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDIES 3

  • 7/25/2019 A fortuna crtica de Alberto Caeiro, Jos Blanco

    39/76

    foi Fernando Pessoa, seu demiurgo e discpulo. Caeiro foi morto embora porven-tura com seu consentimento e cumplicidade, no pressentimento de uma traioque era talvez, acima de tudo, uma traio a si prprio.

    AC104. Llardent, Jos Antonio. Un poema (casi desconocido) de AlbertoCaeiro. Espacio/Espao Escrito4-5 (Primavera 1990): 53

    Apresentao de um poema de Alberto Caeiro (Para alm da curva da estra-da) no includo na edio tica nem na edio Aguilar, revelado por Jacinto doPrado Coelho in Colquio-Letras n. 20.

    AC105. Longland, Jean. Poetry from P to E. The Journal of the AmericanPortuguese SocietyIX, 1 (Primavera-Vero 1975): 1-7.

    Problemas da traduo da poesia portuguesa para Ingls, citando-se, entreoutros exemplos, um verso de Alberto Caeiro.

    AC106. Lopes, scar. Filosofia e poesia do olhar de Alberto Caeiro.U.S.D.P. Lisboa: S.E.C., 1990. 56-62. (Comun. ao E.I.C.F.P.,Lisboa, 5-7 Dezembro 1988. Repr. no seu Cifras do tempo. Lisboa:

    Caminho, 1990. 149-158).Ao concluir a sua obra, depois de ter trazido poesia portuguesa uma novarespirao serena e pousada, Alberto Caeiro desce a cortina sobre as runas datoda a racionalidade espcio-temporal, para depois a subir e descobrir a