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A FORMAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA NO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS): a experiência do CAPACITASUAS no Maranhão Lilia Penha Viana Silva 1 Aurora Amélia Brito de Miranda 2 Margareth Cutrim Vieira 3 Jisselda de Oliveira Gonçalves da Silva 4 Célia Maria Brandão Salazar Soares 5 RESUMO A mesa coordenada “A formação permanente e continuada no Sistema Único de Assistência Social (SUAS): a experiência do CAPACITASUAS no Maranhão” tem como objetivo desenvolver o debate acerca do significado e importância da formação permanente e continuada dos trabalhadores do SUAS, tendo em vista a qualificação destes na perspectiva do aprimoramento da gestão, dos serviços e benefícios socioassistenciais. Pretende-se também socializar a experiência, da primeira fase, do CAPACITASUAS no Maranhão. A mesa temática encontra justificativa nas demandas de formação permanente e continuada dos profissionais do SUAS, nos níveis de proteção básica e especial. Justifica-se também pela inserção do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Democracia, Direitos Humanos e Políticas Públicas (GDES), vinculado ao Departamento de Serviço Social, da Universidade Federal do Maranhão como representante institucional da UFMA na Rede Nacional de Capacitação e Educação Permanente do SUAS, sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fomes- MDS. Aborda-se: o Sistema único de Assistência Social no Brasil: construção sócio histórica, concepções e estrutura. A formação permanente e continuada do SUAS. Contribuições do CAPACITASUAS para a qualificação da gestão, dos serviços e benefícios socioassistenciais. Desafios e perspectivas da experiência do CAPACITASUAS no Maranhão. 1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected] 2 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected] 3 Mestranda. Universidade Federal do Maranhão (UFMA).E-mail: [email protected] 4 Assistente Social. 5 Assistente Social.

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A FORMAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA NO SISTEMA ÚNICO DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS): a experiência do CAPACITASUAS no

Maranhão

Lilia Penha Viana Silva1

Aurora Amélia Brito de Miranda2

Margareth Cutrim Vieira3

Jisselda de Oliveira Gonçalves da Silva 4

Célia Maria Brandão Salazar Soares 5

RESUMO

A mesa coordenada “A formação permanente e continuada no Sistema Único de

Assistência Social (SUAS): a experiência do CAPACITASUAS no Maranhão” tem

como objetivo desenvolver o debate acerca do significado e importância da formação

permanente e continuada dos trabalhadores do SUAS, tendo em vista a qualificação

destes na perspectiva do aprimoramento da gestão, dos serviços e benefícios

socioassistenciais. Pretende-se também socializar a experiência, da primeira fase, do

CAPACITASUAS no Maranhão. A mesa temática encontra justificativa nas demandas

de formação permanente e continuada dos profissionais do SUAS, nos níveis de

proteção básica e especial. Justifica-se também pela inserção do Grupo de Estudos e

Pesquisas sobre Democracia, Direitos Humanos e Políticas Públicas (GDES),

vinculado ao Departamento de Serviço Social, da Universidade Federal do Maranhão

como representante institucional da UFMA na Rede Nacional de Capacitação e

Educação Permanente do SUAS, sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fomes- MDS. Aborda-se: o Sistema único de Assistência Social

no Brasil: construção sócio histórica, concepções e estrutura. A formação permanente

e continuada do SUAS. Contribuições do CAPACITASUAS para a qualificação da

gestão, dos serviços e benefícios socioassistenciais. Desafios e perspectivas da

experiência do CAPACITASUAS no Maranhão.

1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]

2 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]

3 Mestranda. Universidade Federal do Maranhão (UFMA).E-mail: [email protected]

4 Assistente Social.

5 Assistente Social.

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A EXPERIÊNCIA DO CAPACITASUAS NO MARANHÃO: desafios e perspectivas.

Lília Penha Viana Silva 6

Margarete Cutrim Vieira7

RESUMO

O artigo resgata o processo de desenvolvimento do

Programa Nacional de Capacitação do Sistema Único de

Assistência Social - CapacitaSUAS, no Estado do

Maranhão. Apresenta reflexões acerca dos desafios à

implementação do CapacitaSUAS vivenciados pelas

equipes da UFMA e do governo do Estado, iniciada em

2012, através da Secretaria de Estado de Direitos

Humanos Assistência Social e Cidadania - SEDHIC

(2012 a 2014) e continuada com a Secretaria de

Desenvolvimento Social – SEDES (2015).

Palavras-chave: Assistência Social, Educação

Permanente e Continuada, CapacitaSUAS.

ABSTRACT

The article demonstrates the development process of the

National Training Program of the Unified Social

Assistance System - CapacitaSUAS in the state of

Maranhão. Presents reflections about the challenges to

the implementation of CapacitaSUAS experienced by

teams of UFMA and the state government, which began

in 2012, through the Secretary of State for Human Rights

and Social Assistance Citizenship - SEDHIC (2012-2014)

and continued with the Development Office social -

SEATS (2015).

Keywords: Social Services, Continuing Education and

Continuing, CapacitaSUAS.

6 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]

7 Mestranda. Universidade Federal do Maranhão (UFMA).E-mail: [email protected]

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1.INTRODUÇÃO

A regulamentação da Política Nacional de Assistência Social – PNAS, por meio

da Lei 8.742/93, alterada pela Lei 12.435/2011, institui o SUAS como novo modelo de

gestão da assistência social e reafirma a Gestão do Trabalho e a Educação

Permanente como um dos seus grandes objetivos. Esse novo modelo de gestão exige

um novo perfil de trabalhadores que rompa com trajetórias históricas pautadas em

práticas assistencialistas, clientelistas e preconceituosas para um exercício

profissional pautado no compromisso ético, político e profissional, assegurando

práticas democráticas e participativas que garantam os direitos prescritos na

Constituição Federal de 1988.

A Política de capacitação permanente tem como finalidade contribuir com o

aprimoramento da gestão do SUAS e da qualidade dos serviços e benefícios

socioassistenciais no país através de um processo de educação continuada em que os

cursos ofertados partem dos patamares de Introdução e Atualização, com a

perspectiva de chegar ao Mestrado Profissional. Defendida desde as primeiras

Conferências Nacionais de Assistência Social, foi instituída por meio da Resolução

n°08, de 16 de março de 2012, denominado - Programa Nacional de Capacitação do

SUAS – CapacitaSUAS.

Este artigo integra Mesa Temática intitulada “A formação Permanente e

Continuada no Sistema Único de Assistência Social (SUAS): a experiência do

CAPACITASUAS no Maranhão”. Expressa os esforços de produção de conhecimento

acerca da experiência do CapacitaSUAS no Maranhão oportunizando, a partir de sua

vivência, desenvolver reflexões que possam subsidiar outras experiências e servir de

referência para o aprimoramento do Programa. A primeira parte se constitui do relato

da experiência vivenciada para a implementação do CapacitaSUAS no Maranhão. Em

seguida apresentamos reflexões sobre as primeiras turmas realizadas, tendo como

base a Avaliação de Reação dos participantes. Na Conclusão destacamos desafios e

perspectivas que se apresentam para a implementação.

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2.A EXPERIÊNCIA QUE ANTECEDEU A REALIZAÇÃO DO CAPACITASUAS NO

MARANHÃO

A Universidade Federal do Maranhão – UFMA, foi credenciada, enquanto

Instituição de Ensino Superior, para compor a Rede Nacional de Capacitação e

Educação Permanente do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, coordenado

pelo Ministério do Desenvolvimento e Combate a Fome – MDS, no primeiro semestre

de 2012, por meio do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Democracia,

Direitos Humanos e Políticas Públicas – GDÈS/DESES, com a devida autorização do

reitor.

Em agosto de 2012 a Secretaria de Estado de Direitos Humanos,

Assistência Social e Cidadania - SEDIHC, iniciou a interlocução com a UFMA no

sentido do trabalho que conjuntamente seria realizado. Duas professoras, que

integram o grupo GDÈS/DESES, Profa. Dra. Lília Penha Viana Silva e Profa. Msc.

Carla Cecília Serrão Silva, e uma assessora do Gabinete do reitor – a Esp. Margarete

Cutrim, assumiram a responsabilidade pelo acompanhamento das providências

relativas à efetivação do CAPACITASUAS pela UFMA, mesmo antes da formalização

do processo, numa postura de colaboração e parceria institucional com o governo do

Estado. A partir de então, a carga horária de pesquisa das duas professoras do GDÈS

foram disponibilizadas para a coordenação do CAPACITASUAS.

A relação entre a UFMA e SEDIHC, iniciada em agosto de 2012,

desencadeou incontáveis atividades (reuniões, contatos, providências e decisões),

realizadas no sentido de viabilizar a elaboração do Projeto Básico e demais

instrumentos técnicos necessários à concretização do referido projeto dentre os quais:

termo de convênio, propostas de levantamento de custos, formulação de Plano de

Trabalho, etc. As discussões conjuntas levaram a inúmeras tentativas de resolução

das dificuldades que se apresentaram durante o percurso, relativos à modalidade de

contratação e às condições legais de cada instituição. Num primeiro momento, em que

seria realizado o processo licitatório nacional e quaisquer IES, credenciada à Rede,

poderia participar, a equipe da SEDIHC elaborou o Termo de Referência, com a

contribuição da equipe da UFMA. Esse procedimento demandou tempo sem que

nenhuma outra IES tenha manifestado interesse.

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Um segundo momento se iniciou quando fomos informados pela equipe da

SEDIHC, de que o MDS teria orientado ao Estado utilizar a modalidade convênio para

a execução do projeto, diante da inviabilidade do processo licitatório. As equipes

voltaram a discutir as bases para a elaboração do referido convênio, inclusive com a

participação de um representante do MDS, em uma, dentre as inúmeras reuniões que

ocorreram. Durante a tramitação do processo,sob a modalidade convênio, a UFMA e a

Fundação Sousândrade tomaram todas as providências necessárias para garantir a

execução do projeto em 2013. Na fase final de tramitação do processo na UFMA,

foram identificados alguns impasses para a assinatura do referido convênio, quais

sejam: impedimento pela SEDIHC do pagamento da taxa de administração para a

Fundação Sousândrade desenvolver a gestão do programa; impedimento de

pagamento, a qualquer título, a servidor ou empregado público da administração direta

ou indireta e obrigação, pela UFMA, de abertura de conta específica para recebimento

dos recursos.

As duas instituições se reuniram para tentar solucionar os impasses sem,

entretanto, encontrarem alternativas de solução, haja vista ambas se respaldarem em

questões legais. Na ocasião o magnífico reitor delegou que lhe representasse em

reunião, solicitada pela Secretária de Estado, o Sr. Antonio Luis Amaral, a Sra.

Margarete Cutrim, ambos assessores, e as representantes do GDÈS – Profa. Dra. Lília

Penha e Profa. Msc. Carla Serrão, para tentarem resolver a questão. Por parte da

SEDIHC participaram a Secretária, Dra Maria Luiza Oliveira, um representante do

Conselho Estadual de Assistência Social – CEAS e técnicos da Secretaria Estadual.

Ao final da reunião a Secretária solicitou que a equipe da UFMA relatasse oficialmente

as dificuldades para que as apresentasse ao MDS, com o objetivo de encontrarem

uma solução para o impasse instalado.

Como desdobramento do momento anterior a SEDIHC encaminhou à

UFMA uma nova proposta de Termo de Referência para que a Universidade

reapresentasse o levantamento de custos com respectivas planilhas, informando que

havia a possibilidade da Secretaria realizar com a UFMA , um contrato por dispensa

de licitação haja vista ter sido a única instituição de ensino a se credenciar, no

Maranhão e a única a apresentar custos compatíveis com o recurso disponível,

argumentos utilizados para solicitar parecer da Procuradoria Geral do Estado.

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Esse processo, permeado por avanços e recuos de ordem técnica, jurídica

e administrativa comprometeu a celeridade do processo e desmotivou a equipe da

UFMA, na medida em que os impasses não foram solucionados definitivamente com

relação a questões estruturantes que surgiram nesse momento do contrato por

dispensa de licitação, e conseqüente alteração do período anteriormente planejado

para execução do projeto. O primeiro dizia respeito à impossibilidade de cumprimento

da meta do projeto em função de que os custos para realização dos cursos, nesse

momento previstos para inicio de 2014, já não seriam os mesmos apresentados em

agosto de 2013, conforme nos indicava a Fundação Sousândrade.

Um segundo ponto de dificuldade era assegurar o cumprimento do

compromisso de realização dos cursos nas instalações do Complexo Paulo Freire e a

utilização dos equipamentos e infraestrutura da UFMA, estratégia criada pela equipe

da UFMA visando equacionar os custos do projeto, uma vez que não se tinha certeza

de quando, efetivamente, as atividades seriam iniciadas, para agendamento de salas e

auditórios no período. Outro ponto de discordância se pautava na exigência da

SEDHIC de que a UFMA assegurasse a execução de 100% da meta estabelecida de

2.250 trabalhadores certificados e não a oferta de 100% dos cursos planejados. O

último ponto em que não havia consenso e também estruturante o tratamento que um

contrato estabelece entre contratante e contratado: a prestação de serviço para

posterior solicitação de pagamento. Desse modo, permanecia o impasse já ao final do

ano de 2013.

Em razão das negociações entre UFMA e SEDHIC não avançarem, em

reunião no dia 27.11.2013, o GDÈS decidiu se retirar do CAPACITASUAS,

comunicando sua decisão e razões ao reitor através de Relatório. Naquele momento,

o MDS já sinalizava o prazo final para comprovação do contrato, com a

correspondente Nota de Empenho, condição para o Estado não ter que devolver os

recursos recebidos e acessar os dos próximos anos. Uma nova e exaustiva reunião

entre o reitor e equipes (UFMA e SEDIHC), avaliou a posição do GDÈS e as

consequências da saída da UFMA para o Estado, uma vez que não havia outra

instituição nacional interessada e no Maranhão só a UFMA estava credenciada junto

ao MDS.Diante dos argumentos levantados, foi então reafirmado o compromisso da

equipe UFMA com a retomada dos trabalhos, desde que fossem alteradas as

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condições que travavam o processo, citadas anteriormente. Providências foram

tomadas no sentido dessas garantias e o reitor assinou um Termo de Compromisso

afirmando que realizaria o CapacitaSUAS, desde que cumpridas as normativas

jurídicas da instituição.

A procuradoria Geral do Estado emitiu parecer favorável à contratação da

UFMA, por dispensa de licitação e a Secretaria propôs a transferência dos recursos

em duas parcelas, 90% de imediato, após assinatura do contrato, e 10% na fase final

do projeto, após a apresentação dos relatórios, conforme estabelecido no contrato. O

repasse dos recursos, pela SEDHIC, para a UFMA, ocorreu somente em novembro de

2014, período em que não havia mais possibilidade de suplementação de crédito

orçamentário para viabilizar a contratação da Fundação de Apoio e dos procedimentos

operacionais decorrentes, gerando a necessidade de aditivo de prazo ao contrato

estabelecido, postergando mais uma vez o início das atividades para o ano de 2015.

3.A REALIZAÇÃO DO CAPACITASUAS NO MARANHÃO: as primeiras turmas

O CapacitaSUAS no interior da UFMA foi transformado em Projeto de Extensão

intitulado “ CAPACITASUAS MARANHÃO “ e tramitou em todas as instâncias internas,

sendo aprovado através da Resolução 1213/CONSEP de 27.11.2014. A equipe de

Coordenação do Projeto é formada pela Profª Drª Lília Penha Viana Silva -

Coordenadora Geral; Profª Drª Aurora Amélia Brito de Miranda - Coordenadora

Pedagógica, conforme Portaria GR nº 580; 01 Assistente Social no Apoio Pedagógico,

e cinco alunas do Curso de Serviço Social na função de bolsistas, sendo que 03

cumprem Estágio Obrigatório no Projeto.

No primeiro mês do ano de 2015 com a posse da nova gestão do governo do

Estado, houve uma reforma administrativa que resultou em mudanças na gestão da

Política de Assistência Social que voltou a vincular-se à Secretaria de

Desenvolvimento Social – SEDES, recompondo-se assim, o comundo único da

Política no Estado. Essa situação demandou algum tempo para adequações até que o

processo do CapacitaSUAS fosse remetido à SEDES pela SEDHIC e que as

providências de recomposição da equipe de gestores e técnicos envolvidos no

Programa acontecesse possibilitando o aditamento do contrato.

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A partir de então, foram retomadas as reuniões de trabalho entre as equipes

da SEDES e da UFMA visando o planejamento das ações do CapacitaSUAS –

Maranhão e a mobilização dos municípios e participantes através de uma ação

articulada entre SEDES e Secretaria Executiva do Projeto. Internamente a

Coordenação Geral e Coordenação Pedagógica tomaram todas as providências

necessárias junto às diversas instâncias da UFMA, da Fundação de Apoio e empresas

vencedoras das licitações dos serviços visando a realização do Evento 1 do

cronograma.

Por outro lado, foram realizadas duas reuniões de trabalho com os professores

selecionados para ministrar o Curso 01, dentre os participantes da Oficina de

Nivelamento realizada pelo MDS nos dias 16 e 17 de outubro de 2014, na Escola de

Governo do Estado do Maranhão. Na oportunidade foram formadas as duplas para

trabalhar em cada turma de acordo com o cronograma. Também foi realizado amplo

debate sobre o projeto pedagógico do Curso 1 que é estruturado em 03 Módulos8 e

deve ser ministrado através de Aulas Expositivas e Oficinas de Aprendizagem.

Como resultado das reuniões de trabalho citadas foi decidido que os

conteúdos das aulas expositivas seriam ministrados partindo das informações trazidas

pelos participantes acerca de cada assunto, utilizando a técnica da Montagem de

Mapas. Cada tarefa cumprida pela turma traria os subsídios para a abordagem e

aprofundamento dos conteúdos pelos professores.

A solenidade de lançamento do CapacitaSUAS – Maranhão aconteceu no dia

04.04.2015, no Auditório do Centro Pedagógico Paulo Freire, no Campus da UFMA e

contou com a presença de uma diversidade de sujeitos representando 72 municípios

entre convidados e participantes da capacitação. A Mesa de Abertura contou com

representantes dos três níveis de governo9·. Estiveram presentes 11 prefeitos

8 I - A Assistência Social e a Garantia dos Direitos Socioassistenciais por meio do SUAS; II – O

Provimento dos Serviços Socioassistenciais: que trabalho é esse?; III – O SUAS e as Agendas Estratégicas do Governo: o fortalecimento do combate à pobreza, aos riscos e às vulnerabilidades sociais.

9 Representantes do MDS (Paulo de Martino Jannuzzi e Marcílio Marquesini Ferrari);

representante do governador e da SEDES – José Arimatéia Lima Neto Evangelista; o reitor da

UFMA Profº Drº Natalino Salgado Filho; representante da Federação dos Municípios do Estado

do Maranhão – FAMEM; representante do COEGEMAS, Andreia Everton Lauande.

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municipais e um vice prefeito10, 35 Secretários Municipais de Assistência Social11 03

Conselheiros Estaduais de Assistência Social; 36 técnicos (assistentes sociais e

psicólogos) da gestão do SUAS; 21 técnicos na função de assessores, chefes de

gabinete e outras atividades na política nos municípios; professores e alunos da

UFMA, além dos 135 profissionais de 24 municípios chamados para formar as três

primeiras turmas do Curso I - Introdução ao Provimento de Serviços e Benefícios

Socioassistenciais e Implementação do Brasil Sem Miséria.

Após a Mesa de Abertura a Profª Drª Lília Penha Viana Silva, Coordenadora

Geral do CapacitaSUAS pela UFMA proferiu a Aula Inaugural desenvolvendo o tema

“Assistência Social no Brasil e no Maranhão: de caridade a direito”. Esta aula deu

início ao processo de formação das 03 primeiras turmas do Curso 1, que foram

realizadas no período de 04 a 08.05.2015, sendo que duas turmas no Centro de

Ciências Sociais e uma no Centro de Ciências Humanas, no Campus da UFMA.

O segundo evento de capacitação do Curso 1 foi realizado no período de 01 a

05.06.2015, composto por 05 turmas, realizadas no Centro Pedagógico Paulo Freire,

no Campus da UFMA. Considerando as ações já desenvolvidas temos que os dois

eventos inscreveram 365 trabalhadores de nível superior que compõem as equipes de

profissionais do SUAS de 67 municípios. Dos 365 inscritos, conforme

encaminhamento dos municípios, 321 (88%) concluíram o Curso e 44 (12%) não

frequentaram. Dos 321 concludentes, 243 (76%) preencheram o instrumental de

avaliação do Curso.

Tendo em vista colher as impressões dos profissionais que avaliaram o Curso,

apresentamos a seguir uma leitura preliminar da sistematização que será

posteriormente analisada em seus significados. O instrumental de Avaliação de

Reação do participante foi elaborado pelo MDS e é composto por três blocos:

10

Sambaíba, Governador Newton Bello, São João Batista, Timbiras, Pindaré-Mirim,

Bacurituba,Viana,Sucupira do Norte, Colinas, Presidente Sarney, São Félix de Balsas e Urbano

Santos.

11 Viana, Buriti Bravo, Pedro do Rosário, Chapadinha, Itapecuru, Lagoa do Mato, Lago da

Pedra, Senador La Roque, Pastos Bons, Buriticupu, Paraibano, Paulino Neves, Urbano Santos,

Morros, Pindaré Mirim, Guimarães, Colinas, São Vicente de Ferrer, Governador Newton Bello,

Sambaíba, Bequimão, Tuntum, Zé Doca, Timom, Viana, São Raimundo das Mangabeiras,

Icatu, Fortaleza dos Nogueiras, Serrano do Maranhão, Peritoró, Brejo, Lago da Pedra, Icatu,

Presidente Sarney e São Luís.

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Infraestrutura12, Procedimentos Instrucionais13 e Desempenho do Professor14. A última

questão do instrumental era aberta, dando oportunidade ao participante tecer críticas,

elogios e fazer sugestões.

Considerando como definidores de avaliação positiva as notas de 8 a 10 e

negativas de 0 a 7, uma análise preliminar da sistematização das avaliações das 08

turmas nos permite afirmar que no geral a avaliação dos cursos foi positiva em todos

os aspectos. Quanto à Infraestrutura encontramos: 71% para o local; 85% para a

qualidade das instalações físicas; 94% para equipamentos utilizados nas aulas e 94%

para atuação da equipe de Coordenação do Projeto. Esses percentuais nos permitem

afirmar que no tocante à infraestrutura a avaliação da maioria dos participantes foi

muito positiva, sendo a média de 86%.

Tomando como referência as notas de 0 a 07, temos como pontos frágeis: as

aulas do evento 1 terem sido ministradas em dois prédios e em ambientes (Auditórios)

que não ofereceriam as condições ideais, bem como o almoço ser servido no Centro

Paulo Freire. Apesar de compreender que os pontos elencados não comprometeram

a qualidade da formação, essas considerações levaram a uma avaliação do

cronograma de execução do Projeto que deveria ser concluído até agosto de 2015 em

reunião da Coordenação do Projeto, com a equipe SEDES e o representante do MDS,

sendo definida a ampliação do prazo para que todos os eventos fossem realizados no

Centro Paulo Freire, o qual dispõe de salas de aula mais adequadas para o

CapacitaSUAS. Desse modo, um segundo Termo Aditivo encontra-se tramitando,

estendendo o prazo até dezembro de 2015.

12

Local de realização do curso; Qualidade das instalações físicas; Equipamentos utilizados nas aulas; Atuação da equipe de coordenação/ administração do curso.

13 Relevância dos conteúdos abordados no curso para a sua atuação profissional;

Encadeamento de apresentação dos conteúdos; Oficinas de aprendizagem encadeadas com os conteúdos desenvolvidos; Aulas Expositivas e Carga Horária do curso.

14 Este Bloco se subdividia em Aulas Expositivas e Oficinas de Aprendizagem. Os indicadores

das primeiras consistiam em: Apresentação do conteúdo de forma clara e objetiva; Apresentação de exemplos que ilustram bem o tema discutido; Indicação de fontes de pesquisa sobre os temas do curso; Capacidade de incentivar os participantes a tirarem suas dúvidas; Clareza das respostas às dúvidas apresentadas; Utilização de linguagem adequada e de fácil compreensão; Capacidade de estimular e manter o interesse da turma em relação ao assunto abordado; Capacidade de relacionar o conteúdo com a realidade profissional dos alunos.

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O segundo Bloco da Avaliação diz respeito aos procedimentos instrucionais

que tiveram como média 97%, de aprovação. Desagregando os percentuais temos:

relevância dos conteúdos abordados – 97%; encadeamento de apresentação dos

conteúdos – 97%; oficinas de aprendizagem encadeadas com os conteúdos – 96%;

aulas expositivas – 99% e carga horária do curso – 96%.

O desempenho dos professores foi avaliado considerando as Aulas Expositivas

e as Oficinas de Aprendizagem por Módulo. O eixo Aulas Expositivas teve excelente

avaliação se consideramos que o menor índice alcançado por Módulo foi de 98% de

aprovação, sendo esta também a média dos módulos. Nos Módulos I e II apenas três

indicadores tiveram nota inferior a 98%. No Módulo III, apenas um indicador teve

índice inferior a 99% e dois alcançaram 100% (apresentação de exemplos que

ilustram bem o tema discutido e utilização de linguagem adequada e de fácil

compreensão). O mesmo nível de avaliação se manteve para as Oficinas de

Aprendizagem que também tiveram média de 98% de aprovação. Nas oficinas apenas

o indicador “Capacidade de administrar o tempo para realizar as atividades previstas”

recebeu o percentual de 96%, os demais auferiram entre 98% e 99%.

Uma sistematização preliminar dos elogios mostra que eles se concentraram

na qualidade: dos professores; do curso; do trabalho da equipe de coordenação do

Projeto, mas também das instalações da UFMA, com destaque para o Centro Paulo

Freire, onde se localiza a Sala da Coordenação e onde foram realizadas as cinco

turmas do evento 2, bem como da alimentação (dois lanches, almoço e jantar).

O Curso foi muito elogiado em seu conteúdo denso, mas necessário devido ao

seu patamar de Curso Introdutório ao processo de educação continuada. Conforme

uma das participantes, os “Módulos desenvolvidos no Curso foram de grande

relevância para a melhoria da qualidade profissional e dos técnicos envolvidos no

trabalho da assistência social”. Essa afirmação é confirmada por alguns depoimentos

abaixo agrupados:

“Curso muito importante para os profissionais do SUAS”; “Estou muito agradecida pela oportunidade de participar desta capacitação. Volto para o meu trabalho com energias renovadas”; “Estes momentos propiciaram oportunidades muito ricas de aprendizagem e troca”; “Parabenizo a iniciativa de organizar uma capacitação para os trabalhadores do SUAS; “Conteúdo teórico muito bem trabalhado. Muito dinâmico e rico; Conteúdo de fácil aprendizagem; “Conteúdo e

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material ofertado de excelente qualidade; Apesar de o conteúdo ser muito extenso para o tempo do curso, os professores foram objetivos, claros e com ótima capacidade para ministrar os conteúdos, relacionar com a realidade profissional e manter o interesse da turma”; Achei o curso excelente e o manejo com o conteúdo ministrado foi muito bom pois houve uma tessitura entre teoria e prática profissional”. (Avaliação de Reação das 08 turmas, Coord. CapacitaSUAS, 2015).

A metodologia participativa, criativa e democrática foi considerada outro ponto

de destaque do Curso, o que se pode afirmar pela avaliação que revela: “Considero

que a metodologia utilizada contemplou e propiciou a construção do pensamento e

favoreceu a visualização da política pública no município e da nossa prática

profissional”.

“O curso foi muito proveitoso. As professoras conduziram o trabalho de forma dinâmica, propiciando a participação e o aprendizado dos alunos”; “O processo de aprendizagem da temática retrata a necessidade de uma maior leitura teórica para aplicação na prática. Essa possibilidade aconteceu devido à metodologia adotada pelas professoras”. Quero parabenizar as professoras pela excelente metodologia e linguagem usada nos cinco dias de curso; Quero parabenizar as duas pela belíssima metodologia. Desde já muito obrigada pela troca de conhecimentos; “Interação das experiências entre os municípios na perspectiva de formação dos grupos”; “A dinâmica utilizada pelos facilitadores tornou o curso eficiente e prazeroso”. (Avaliação de Reação das 08 turmas, Coord. CapacitaSUAS, 2015).

As avaliações das duplas de professores15 expressou o resultado esperado

pela Coordenação do Projeto: o domínio do conteúdo; a complementaridade de

conhecimentos e experiências; a relação democrática; a criatividade; o compromisso

em potencializar a oportunidade de contribuir com o avanço da formação dos

trabalhadores do SUAS no nosso Estado. Um dos participantes afirmou: “Equipe de

professores com didática muito boa e com proximidade com a prática profissional, o

que facilitou o repasse do conteúdo e esclarecimento das dúvidas. Possuíam notável

competência sobre o conteúdo do curso”.

“Capacidade de repassar os conteúdos de forma clara, associando sempre com a realidade vivenciada com diferentes municípios do Estado, observando-se o conhecimento da dupla de professoras sobre a Política de Assistência Social”; “Equipe de professoras ótimas, em

15

Cada turma funciona com uma dupla de professores em sala ao mesmo tempo, formada por um docente de IES na área da Assistência Social e um técnico com pós-graduação latu sensu e larga experiência de trabalho na área.

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sincronia com o conteúdo e entre elas”; “Professoras excelentes, muito boas mesmo, tanto que não tenho palavras para descrever. Excelentes profissionais”; “A dupla de professores tem uma bagagem de conteúdos muito interessante e são muito competentes. Todos os Módulos foram abordados com clareza e esclarecimento de dúvidas; “Foi muito interessante o “aprofundamento” dos assuntos ao invés de falar de muita coisa de forma vaga”; “Houve uma ótima articulação no trabalho realizado pelos professores e realidade de cada município”; “A interação dos professores refletiu no excelente desempenho da turma e possibilitou de forma positiva a troca de experiências e aprendizado”; Sairemos desse curso mais fortalecidos profissionalmente”. (Avaliação de Reação das 08 turmas, Coord. CapacitaSUAS, 2015).

No rol dos elogios, a Coordenação Nacional do CapacitaSUAS foi destacada

pela qualidade do Curso, com destaque para o material do kit do participante:

“Parabéns ao esforço da Coordenação Nacional do Capacitasuas em disponibilizar o

riquíssimo material (livros, apostilas, etc,), tendo em vista sobretudo os profissionais

que necessitam ser aprovados em concursos”. A Coordenação Local também teve

reconhecidos os esforços no sentido de proporcionar a qualidade dos eventos.

“Gostaria de parabenizar a Comissão Organizadora; A capacitação em si merece nota 10; No geral o evento foi excelente; “Equipe técnica organizada”; Parabenizar a equipe de coordenação do curso e os professores”; Parabenizar a equipe de coordenação pelo excelente trabalho; “Uma semana bastante produtiva, a organização e professores estão de parabéns.” (Avaliação de Reação das 08 turmas, Coord. CapacitaSUAS, 2015).

3.CONCLUSÃO: desafios e perspectivas da implementação

Considerando o desafio que foi o processo de contratação para a

implementação do CapacitaSUAS no Maranhão, vivenciado pelas equipes e relatados

acima, consideramos que algumas lições dessa experiência possam subsidiar outros

estados que porventura ainda não tenham conseguido viabilizar tal procedimento ou

esteja com ele em andamento. Ou ainda oriente a todos os agentes públicos, por

ocasião de lançamentos de Políticas, tão importantes quanto a Política de Capacitação

Permanente dos Trabalhadores do SUAS, no sentido de otimizar tempo e

procedimentos legais e operacionais. Nesse sentido destacamos aqui os principais

desafios enfrentados e as perspectivas que se nos apresentam, no momento:

- o lançamento da Política, em âmbito nacional, sem a realização de experiência

piloto ou, ainda, do conhecimento prévio de como se realizam os projetos no interior

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das Instituições de Ensino Superior – IES, sobretudo as instituições públicas,

observadas as modalidades de contratação possíveis. Assim, a experiência do

Maranhão aponta que a melhor modalidade para execução do CapacitaSUAS é o

Convênio, pois as Universidades Públicas não vendem serviços;

- os recursos disponibilizados para a capacitação estabelecida, considerando

quantidade de cursos e número de técnicos a serem capacitados não permitem a

descentralização dos cursos para ocorrerem nos municípios ou mesmo regiões do

estado. A descentralização é uma perspectiva que facilitaria a participação dos

profissionais e reduziria os custos para os municípios;

- o deslocamento dos técnicos para a capital fragiliza a participação dos técnicos

na quantidade estimada o que já se apresenta como um grande desafio para o

alcance da meta uma vez que do total de inscritos para as 08 turmas, 40 não

frequentaram e até agora atingimos apenas 1/3 do número de turmas do Curso 1.

- o não cumprimento do Termo de Aceite firmado entre a SEDHIC e as Prefeituras

em que os prefeitos se comprometeram a garantir a participação de suas equipes,

custeando o deslocamento e hospedagem. Vários técnicos inscritos arcaram com os

custos de deslocamento e hospedagem na capital. Isto nos coloca diante de outro

desafio: pensar que metodologia de organização deverá ser utilizada nas próximas

etapas do CapacitaSUAS. O ideal seria realizar as capacitações de forma

regionalizada, considerando a proximidade geográfica dos municípios.

As avaliações das 08 turmas, acima expostas, indicam que o CapacitaSUAS no

Maranhão encontra-se em andamento, tendo garantida a qualidade esperada. A

experiência em curso promove articulação relevante através da ação conjunta de

professores da UFMA e outras IES e técnicos que trabalham na Política no Estado,

além de alunos (monitores, estagiários e bolsistas). Por outro lado, embora seja

formalmente um projeto de extensão, tem contribuído para a articulação do ensino,

pesquisa e extensão dentro da UFMA, contribuindo para o cumprimento da função

social da universidade pública em nosso Estado.

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REFERÊNCIAS

Relatório sobre as Atividades do GDÈS no CapacitaSUAS/MA. UFMA, São Luís, 2014.

Relatório Preliminar da Avaliação de Reação dos alunos das 08 turmas realizadas.

Coordenação do CapacitaSUAS/MA. UFMA. São Luís. 2015.

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A FORMAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA DO SUAS: contribuições do

CapacitaSUAS para a qualificação da Gestão dos Serviços e Benefícios

Socioassistenciais.

Aurora Amélia Brito de Miranda 16

Marcílio Marquesini Ferrari17

RESUMO

Este artigo faz parte da Mesa Temática intitulada “A formação Permanente e Continuada no Sistema Único de Assistência Social (SUAS): a experiência do CAPACITASUAS no Maranhão”. Abordaremos o Percurso histórico da Política, o Programa no contexto da PNEP-SUAS e a sua contribuição para o aperfeiçoamento da gestão, dos serviços e benefícios socioassistenciais.

Palavras-chaves: Política de Educação Permanente do SUAS;

Gestão; Serviços e Benefícios Socioassistenciais.

ABSTRACT

This article is part of the Thematic Table entitled "The

Permanent training and continuing in the Unified Social

Assistance System (HIS): the CAPACITASUAS experience in

Maranhão". We will cover the history of the Policy Route, the

program in the context of PNEP-ITS, its contribution to the

improvement of management, services and social assistance.

Keywords: Politics of Permanent Education ITS;

management; services and social assistance benefits.

16

Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]

17 Mestre.

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1.INTRODUCÃO

Estamos vivenciando um momento de transição na Assistência Social,

entre um período marcado historicamente por ações assistencialistas, paternalistas,

pautado pela caridade, pela benesse e alicerçadas no trabalho voluntário, para passos

significativos em direção à consolidação desta Política, como primazia do Estado e

Direito reclamável do cidadão. Entendo, que o marco se efetiva, como processual

antes e depois da Constituição Brasileira de 1988 e da Lei n. 8.742, de 1993, Lei

Orgânica da Assistência Social (LOAS), e suas atualizações, quando a Assistência

Social foi elevada ao estatuto de política pública integrante da Seguridade Social e,

portanto, passou a constituir-se como um direito do cidadão e dever do Estado.

Mas foi a partir de outubro de 2004, com a aprovação pelo Conselho

Nacional de Assistência Social – CNAS, por meio da Resolução nº 145, de um novo

texto para a Política Nacional de Assistência Social – PNAS, que pela primeira vez se

discutiu a política de Recursos Humanos, em que chamava atenção, para as

“transformações ocorridas no mundo do trabalho e do encolhimento da esfera pública

do Estado, implicando precarização das condições de trabalho e do atendimento à

população” (PNAS, 2004: 53). Ou seja, o próprio Estado, reconhece a necessidade da

existência de uma política de recursos humanos, como estratégia para o trabalho e os

trabalhadores, sendo estes, o principal recurso para se assegurar os direitos

sociassistenciais.

Com a Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS/2005), revogada

e substituída pela NOB/SUAS/2012, a Assistência Social ganhou a configuração

institucional de um sistema descentralizado e participativo que, por meio de uma rede

socioassistencial, composta de órgãos governamentais e de entidades e organizações

de Assistência Social, oferta à população serviços, benefícios, programas, projetos e

transferências de renda, destinados à garantia da proteção social e ao atendimento

das necessidades básicas da população.18

18

Jaccoud (2009) conceitua proteção social como um conjunto de iniciativas públicas ou estatalmente reguladas para a provisão de serviços e benefícios sociais visando enfrentar

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Este artigo integra a Mesa Coordenada “A formação Permanente e

Continuada no Sistema Único de Assistência Social (SUAS): a experiência do

CAPACITASUAS no Maranhão” Na primeira parte procede-se a uma abordagem

histórica acerca da Política de Educação Permanente do SUAS. Em seguida trata-se

do programa capacitaSUAS no contexto da PNEP-SUAS.

1. PERCURSO HISTÓRICO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO

PERMANENTE DO SUAS/PNEP/SUAS

Visando a atender as exigências desse novo contexto e a promover a

profissionalização da Assistência Social, a LOAS coloca em evidência a necessidade

de implementação da Gestão do Trabalho e da Educação Permanente na Assistência

Social e atribui ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) a

responsabilidade de “formular política para a qualificação sistemática e continuada de

recursos humanos no campo da Assistência Social” (LOAS, art. 19, IX). Tal

perspectiva é reafirmada pelo Plano Decenal da Assistência Social (2005) e pela

Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS/2006).

Assim, em resposta a esses desafios, o Conselho Nacional de Assistência

Social (CNAS), com o apoio da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) e da

Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI), iniciou um amplo processo

de debate e de pactuação, envolvendo gestores das três esferas federativas, como

trabalhadores, conselheiros e usuários do SUAS, objetivando à elaboração do texto da

Política Nacional de Educação Permanente. Coube às equipes do Departamento de

Formação e Disseminação (DFD), da SAGI e do Departamento de Gestão do SUAS

(DGSUAS) a construção do primeiro arranjo do Programa. Ao Fundo Nacional de

Assistência Social, coube à tarefa de desenhar o modelo de financiamento do

Programa.

Entretanto, as diretrizes e princípios de orientação da Política de Educação

Permanente só foram discutidos, em 2011, no Fórum Nacional de Secretários de

situações de risco social ou privações sociais. Contribuindo com a definição da categoria, Sposati (2009) afirma que a ideia de proteção contém um caráter preservacionista – não da precariedade, mas da vida -, supõe apoio, guarda, socorro e amparo.

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Estado da Assistência Social (FONSEAS), sendo que as responsabilidades que ela

estabelece entre os entes federados foi pactuada, nesse mesmo ano, por ocasião da

108ª Reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Após essa pactuação, uma

versão preliminar desta política foi apresentada e discutida em uma reunião do CNAS,

a qual deliberou pela sua publicização e disseminação na VIII Conferência Nacional da

Assistência Social, realizada em dezembro de 2011.

A Política Nacional de Educação Permanente constitui, assim, uma

resposta às demandas por qualificação do provimento dos serviços socioassistenciais,

da gestão e do controle social do SUAS, visando à emancipação dos trabalhadores e

dos usuários do Sistema e a implantação da cultura da Educação Permanente no

âmbito do SUAS.

Em 2011, outros avanços foram conquistados, como a Lei n. 12.435, de 06

de julho de 2011, que alterou a LOAS, instituiu o SUAS e estabeleceu, dentre outros

objetivos, a implantação da Gestão do Trabalho e da Educação Permanente na

Assistência Social. Em consonância com as alterações promovidas, a LOAS passou a

garantir o que fora deliberado na VI Conferência Nacional de Assistência Social, em

2007, ao autorizar a utilização de recursos do cofinanciamento federal, destinados às

ações continuadas da Assistência Social, para o pagamento de profissionais efetivos

que integram as equipes de referência. Ainda neste mesmo ano, por meio da

Resolução n. 32/2011, o CNAS definiu que, para essa finalidade, poderia ser utilizado

até 60% do cofinanciamento federal, reforçando com isso a lógica do concurso público

e da formalização das relações de trabalho no SUAS.

Outra iniciativa importante registrada em 2011 foi à publicação da

Resolução CNAS n. 17/2011, que validou a composição da equipe de referência

definida pela NOB-RH/SUAS/2006 e reconhece as categorias profissionais com

Ensino Superior, necessárias ao atendimento das especificidades dos serviços

socioassistenciais e das funções de gestão no âmbito do SUAS.

Na VIII Conferência Nacional de Assistência Social, em 2011, foram

debatidos temas relativos ao trabalho e aos trabalhadores, tais como: a) a

estruturação da Gestão do Trabalho; b) os Planos de Carreira, Cargos e Salários

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(PCCS); c) o concurso público na área; d) a política de educação continuada e

permanente.

Em de março de 2012, foi instituído, por meio da Resolução CNAS n. 08, o

Programa Nacional de Capacitação do SUAS (CapacitaSUAS), visando: a) garantir a

oferta de formação permanente para qualificar profissionais do SUAS no que se refere

ao provimento dos serviços e benefícios socioassistenciais; b) capacitar técnicos e

gestores do SUAS para a implementação das ações dos Planos Estratégicos do

governo brasileiro; c) induzir o compromisso e responsabilidade do pacto federativo do

SUAS com a Educação Permanente junto às Secretarias Estaduais e ao Distrito

Federal; d) aprimorar a gestão do SUAS nos municípios, estados e Distrito Federal.

3.O PROGRAMA CAPACITASUAS NO CONTEXTO DA PNEP-SUAS E DO

APRIMORAMENTO DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS NO SISTEMA.

O avanço normativo da Assistência Social enquanto política pública

caminhou ao lado da construção e implementação da rede de equipamentos públicos

socioassistenciais e na criação de serviços que confrontam e enfrentam uma realidade

social cada vez mais complexa impactando diretamente nas condições de trabalho dos

trabalhadores do Sistema. Assim, conforme afirmam Vilas Boas et al (2015, 22-44):

(...) as atribuições profissionais desenvolvidas pelos trabalhadores do SUAS modificaram-se “vis à vis” a evolução normativa e institucional da Política de Assistência Social. Esta evolução resultou na instituição e estruturação dos meios de operacionalização de um conjunto de ações finalísticas (serviços, benefícios, programas e projetos) e um modelo de gestão e financiamento que representa uma ruptura paradigmática na Assistência Social que até então se caracterizava por ações voluntaristas, segmentadas e fragmentadas.

Nesse contexto, os desafios de se fazer frente à cultura da benemerência e da caridade e de operacionalizar o paradigma do direito à assistência social - por meio de um sistema único, descentralizado, participativo, com financiamento regular, que passou por um rápido processo de adensamento institucional -, exigem desses trabalhadores a apropriação de um conjunto variado de conhecimentos, habilidades e atitudes nos campos da gestão, do provimento dos serviços e benefícios sociassistenciais e do controle social.

Até 2012, as ações de formação e capacitação desenvolvidas pelos entes

federados no âmbito do SUAS caracterizavam-se pela fragmentação e

descontinuidade; ausência de um arranjo coordenado que definisse percursos

Page 21: A FORMAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA NO SISTEMA ÚNICO DE ... · ... sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social e ... Único de Assistência Social - CapacitaSUAS,

mínimos formativos e fragilidades na construção das necessidades de capacitação19..

Porém, este percurso teve uma importância singular no que se refere à reflexão e

problematização de seus avanços e limites por parte do Governo Federal, o que

possibilitou a construção de um novo arranjo que correspondesse de um lado às

deliberações históricas das Conferências de Assistência Social e de outro ao

aprimoramento da operacionalização de ações de formação.

Para sua operacionalização, foram definidos claramente os papéis dos

entes federados e um conjunto de mecanismos institucionais voltados o

aprimoramento das funções, capacidades e competências de gestão, provimento de

serviços, programas, projetos, benefícios e transferência de renda, além é claro do

controle social do SUAS.

Institucionalmente, a coordenação federativa do programa conta com as

equipes do DGSUAS e DFD, que, atuando em rede, articulam as equipes estaduais de

estados e Distrito Federal responsáveis pela Gestão do Trabalho e Educação

Permanente do SUAS. O processo de pactuação segue o rito normal do Sistema, com

amplas discussões na CIT e CNAS, em âmbito Federal e CIB´s e CEAS em âmbito

estadual.

O mecanismo institucional de financiamento, por sua vez, consiste na

transferência de recursos da União, a título de cofinanciamento federal das ações, por

meio do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) para os Fundos Estaduais de

Assistência Social (FEAS).

Por esse arranjo, fica sob a responsabilidade das coordenações estaduais

do programa: 1) formular os planos estaduais de capacitação, contendo diagnóstico de

necessidades e demandas de formação e capacitação, e enviá-los à coordenação

nacional; 2) montar arranjo de execução das ações em seu território; 3) gerir os

contratos ou quaisquer outros instrumentos usados para definir a relação com as

instituições executoras das ações do CapacitaSUAS; 4) pactuar com os municípios

19

Entre 2008 e 2012 podem-se destacar as seguintes ações de capacitação desenvolvidas

pelo MDS: a) Capacitação Descentralizada para Gerentes Sociais, que resultou na capacitação

de 1.531 gerentes de equipamentos públicos do SUAS; b) Capacitação de Conselheiros de

Assistência Social, que resultou na capacitação de 435 membros dos Conselhos Nacional e

Estaduais de Assistência Social e c) Capacitação para o Controle Social nos Municípios,

realizada entre os anos de 2010 a 2012, resultando na capacitação de 15.216 membros dos

Conselhos Municipais de Assistência Social (CMAS) e das Instâncias de Controle Social (ICS)

do Programa Bolsa Família (PBF).

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sob sua jurisdição a distribuição das metas de capacitados e responsabilidades

relativas à execução do programa em nível local.

Por sua vez, a coordenação nacional do Programa responsabiliza-se pela

identificação das demandas comuns e mais recorrentes dos Planos Estaduais de

Capacitação, pactuação com estados e Distrito Federal das metas de técnicos a

serem capacitados, a definição do montante de recursos a serem transferidos pelo

mecanismo fundo a fundo, elaboração de projetos pedagógicos dos cursos pactuados

e disponibiliza-los a todos os estados e Distrito Federal.

A figura que se segue resume o fluxo das ações desenvolvidas para a

execução do Programa:

FIGURA 1: FLUXOS DE COMUNICAÇÃO ENTRE SUJEITOS INSTITUCIONAIS ENVOLVIDOS NO PLANEJAMENTO DAS AÇÕES DO CAPACITASUAS

Page 23: A FORMAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA NO SISTEMA ÚNICO DE ... · ... sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social e ... Único de Assistência Social - CapacitaSUAS,

Fonte: Vilas Boas et all (2015)

Uma ação realizada pela coordenação nacional do Programa merece

destaque: ofertar as Oficinas de Alinhamento Pedagógico e de Conteúdos para as

equipes estaduais e Instituições de Ensino selecionadas pelos estados visando a

execução do Programa.

As oficinas, tarefa obrigatória a todos os ofertantes do Programa, podem

ser definidas como espaços formais de encontro entre o MDS, IES executoras e

equipes estaduais responsáveis pela execução do Programa CapacitaSUAS cujo

objetivo é possibilitar a apropriação, discussão, reflexão, problematização de

conteúdos e projetos pedagógicos a serem trabalhados em sala de aula20. A estrutura

mais comum das oficinas de alinhamento pode ser visualizada no quadro a seguir:

QUADRO 1: ESTRUTURA PADRÃO DAS OFICINAS DE ALINHAMENTO DO

CAPACITASUAS

20

Tais projetos publicizam a perspectiva pedagógica dos cursos; as competências a serem

adquiridas pelo profissional participante; a ementa dos conteúdos; os objetivos instrucionais; o

enfoque dos módulos e unidades, bem como sugestões de recursos didáticos e pedagógicos que

podem ser utilizados na mediação do processo de ensino aprendizagem em sala de aula.

Momentos Participantes Atividades

1

Conjunto completo dos

participantes

Recepção e boas vindas

Momento de sensibilização e contextualização

Palestras institucionais - apresentação das

agendas estratégicas do governo

Momento de discussão e debates

2

Subgrupos formados por

participantes de acordo com o

curso que irão ministrar ou

realizar a gestão.

Apresentação e discussão dos projetos

pedagógicos de cada curso que será ofertado

Apresentação dos conteúdos e das

metodologias previstos, incluindo as oficinas de

trabalho, módulo a módulo, em cada um dos

cursos.

Page 24: A FORMAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA NO SISTEMA ÚNICO DE ... · ... sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social e ... Único de Assistência Social - CapacitaSUAS,

Fonte: Vilas Boas et all (2015)

Ao avaliar a execução do Programa CapacitaSUAS na Região Norte e todo o

processo metodológico de sua construção, incluindo as oficinas de alinhamento, Barata (2015)

afirma que:

Foi providencial, na fase preparatória, a organização dos Encontros de

Alinhamento, em que estavam presentes docentes das Instituições de

Ensino Superior (IES), gestores estaduais e gestores e técnicos do MDS. O

trabalho precedente de construção de matrizes pedagógicas para cada

curso, com orientação de conteúdos para aulas dialogadas e para oficinas,

contribuiu sobremodo para manter a unidade nacional do Programa

CapacitaSUAS, sem prejuízo para aspectos específicos decorrentes das

diversidades culturais, econômicas e territoriais regionais. (Barata, 2015;

p.88-89)

Ainda cabe mencionar que o desenho de execução do Programa, prevê a

formação e constituição da Rede Nacional de Capacitação e Educação Permanente do SUAS

(RENEP-SUAS). A Rede foi constituída em 2012 por meio de publicação de edital de chamada

pública e ampliada em 2014, obtendo formalmente o credenciamento de 121 Instituições de

Ensino Superior da maioria dos estados brasileiros. A formação da Rede objetivou garantir o

credenciamento de Instituições de Ensino com vasta expertise na área de políticas sociais,

ampliando a qualidade da execução dos cursos previstos no Programa.

Em relação à execução do Programa, em sua primeira etapa21

, foram pactuadas

as ofertas de três cursos com públicos e objetivos distintos que, inicialmente respondiam às

demandas previstas nos Planos Estaduais de Capacitação:

21

Foram repassados entre 2012 e 2013 R$ R$ 54.389.808,00 para a execução da primeira etapa

do Programa, sendo que o valor unitário base do cofinanciamento federal, por capacitando

(vaga), é de R$600,00, com a ressalva de que os estados da região norte recebem R$ 720,00.

Esse acréscimo de 15% se dá em razão das especificidades regionais, buscando equidade na

oferta.

Momento de discussão e debates

Encerramento

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QUADRO 2 - CURSOS OFERTADOS PELO PROGRAMA CAPACITASUAS 2013-2014.

Cursos Público Objetivo

Curso 1:

Introdução ao Provimento dos

Serviços e Benefícios

Socioassistenciais do SUAS e

à Implementação de Ações do

Brasil Sem Miséria (BSM)

Profissionais de nível

superior que atuam na

provisão dos serviços

socioassistenciais no âmbito

dos CRAS, CREAS, Centros

Pops, Serviços de

Acolhimento Institucional e

Serviços Volantes.

Realizar nivelamento dos profissionais

de nível superior que atuam no

provimento dos serviços

socioassistenciais quanto aos

conhecimentos, habilidades e atitudes

necessários ao provimento dos serviços

e benefícios socioassistenciais e à

implementação das ações do BSM.

Curso 2:

Atualização em Indicadores

para Diagnóstico e

Acompanhamento do SUAS e

do Brasil Sem Miséria (BSM)

Gestores e técnicos de nível

superior das secretarias de

assistência social dos

estados, do Distrito Federal

e dos municípios e

coordenadores de CRAS e

CREAS.

Capacitar gestores e técnicos estaduais

e municipais para realizar diagnósticos,

levando em consideração o contexto

socioeconômico e a dimensão da

pobreza nos estados e municípios, de

forma a subsidiar a elaboração dos

Planos Municipais de Assistência Social,

bem como o acompanhamento dos

programas e ações do SUAS e BSM.

Curso 3:

Atualização em Gestão

Financeira e Orçamentária do

SUAS

Técnicos de nível médio e

superior que atuam

diretamente nas atividades

de gestão dos fundos de

assistência social.

Fornecer aos trabalhadores que atuam

diretamente nas atividades de gestão

dos Fundos de Assistência Social

subsídios conceituais e tático-operativos

atualizados quanto aos processos e

procedimentos relacionados ao sistema

de planejamento orçamentário brasileiro

e à gestão financeira e orçamentária do

SUAS.

Fonte: Vilas Boas et all (2015)

Em relação às ações de monitoramento e avaliação do Programa, sua

estruturação leva em consideração a execução descentralização e a cooperação

federativa. Vários atores com diferentes responsabilidades e em diferentes momentos,

contribuem para monitorar e avaliar o Programa em tela.

Do ponto de vista do Governo Federal, a SAGI cumpre seu papel de

acompanhar sistematicamente o Programa e todo o processo de execução por meio do

SIGE (Sistema de Monitoramento de Programas e Projetos) que possibilita aos gestores

nacionais do Programa o acompanhamento sistemático da execução em cada estado. As

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informações são alimentadas a partir das atualizações encaminhadas formalmente pelos

estados ao ponto focal do DFD e do SIMA (Sistema de Monitoramento Acadêmico) é um

sistema desenvolvido e mantido pela SAGI, capaz de receber as informações das

capacitações executadas pelos parceiros da RENEP-SUAS, tratá-las e gerar relatórios

que abordem o planejamento da oferta, a estrutura dos cursos, o cronograma de

execução, a composição das turmas, o controle de desistências, substituições, evasões e

frequência dos participantes, o local de realização, o Cadastro do Perfil dos Participantes.

Aliado a isso, o processo conta com momentos presenciais por meio do qual

gestores, técnicos ou consultores podem verificar como a implementação está sendo

realizada, se está atingindo seus objetivos e metas, além de verificar que problemas estão

interferindo nas ações, processos e consecução dos objetivos previstos. Nessa

perspectiva, as ações de monitoramento presenciais do CapacitaSUAS podem ser assim

caracterizadas: a) construção de instrumento próprio de monitoramento para execução

presencial dos cursos, contemplando basicamente dois itens: infraestrutura (condições

físicas das salas de aula, acessibilidade, alimentação, alojamentos), e aspectos

pedagógicos (respeito à matriz pedagógica acordada, dialogicidade, atividades

pedagógicas desenvolvidas, favorecimento da aprendizagem significativa); b) visitas

técnicas de monitoramento para aplicação do instrumento; c) elaboração e sistematização

de relatórios de monitoramento.

Os atores envolvidos no monitoramento presencial são técnicos do MDS

(SAGI, SNAS), consultores externos e representantes das coordenações estaduais do

Programa. O resultado deste trabalho consolida-se na produção de relatórios qualitativos

e relatórios estaduais de execução do Programa. No tocante à avaliação, conforme

afirmam Vilas Boas et al (2015 ):

(...) considerou-se importante avaliar o Programa nos níveis de política pública (eficácia, eficiência e efetividade) e também como ação de Treinamento e Desenvolvimento (T&D), que abarca os seguintes aspectos avaliativos: (1) reação – verifica satisfação do indivíduo com diversos aspectos do evento instrucional; (2) aprendizagem – verifica a ocorrência de diferenças entre o grau de assimilação do indivíduo antes e depois do treinamento; (3) comportamento no cargo – utilização, no trabalho, de habilidades, conhecimentos e atitudes adquiridos no treinamento; (4) organização – mudanças ocorridas no funcionamento da organização em decorrência do treinamento; (5) valor final – avalia alterações na produção ou em serviços prestados e em benefícios sociais e econômicos. (Vilas Boas et al 2015, p.36 ).

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Atualmente, dois tipos de avaliação são utilizados no Programa: a

Avaliação de Reação e a Avaliação de Aprendizagem. A Avaliação de Reação é

disponibilizada aos estados para aplicação junto aos participantes do curso, ao final da

execução de cada turma e tem por objetivo captar a percepção dos discentes acerca

dos aspectos pedagógicos, didáticos e de infraestrutura que envolvem toda a

execução dos cursos. O seu preenchimento é voluntário e anônimo. A partir de seus

resultados é possível corrigir rumos da execução e aprimorar a oferta das novas

turmas, quando necessário.

Por sua vez, a Avaliação de Aprendizagem é aplicada pelo professor

durante a execução das aulas e é compreendida como uma ação processual a ser

construída conforme o desenvolvimento das aulas. Sua construção é dada pelo devido

registro das atividades pedagógicas propostas para cada módulo e unidade. Ao término

das atividades, os professores lançam as avaliações finais no SIMA. Essas atividades,

definidas como oficinas de aprendizagem, permitem a reflexão coletiva da prática

profissional e a problematização de situações concretas vivenciadas pelos profissionais

do SUAS e caminhos a serem construídos visando à superação das dificuldades.

Destaca-se que a SAGI está elaborando uma metodologia de Avaliação de

Efeitos do Programa a ser implementada ainda no ano de 2015 junto aos trabalhadores

que já participaram dos cursos da primeira etapa. A adesão ao Programa totaliza todos

os estados da Federação. Até dezembro de 2014 foram certificados 13.568

trabalhadores e 10.728 estavam em processo de capacitação. Esse conjunto de

24.296 trabalhadores representa 65,55 % do total da meta de 37.062 trabalhadores

capacitados, estabelecida na primeira etapa de pactuação com os estados.

A partir do acompanhamento sistemático realizado pelo DFD no tocante ao

status de execução, é possível afirmar que: a) a execução dos primeiros cursos foi

concluída em 10 estados: Acre (AC), Distrito Federal (DF), Espírito Santo (ES), Mato

Grosso (MT), Minas Gerais (MG), Paraíba (PB), Sergipe (SE), Rio Grande do Norte

(RN), Roraima (RR) e Santa Catarina (SC); b) 6 estados estão em fase de conclusão:

Amazonas (AM), Bahia (BA), Mato Grosso do Sul (MS), Pernambuco (PE), Pará (PA)

e Paraná (PR); c) 7 estados se encontram no início da execução: Alagoas (AL), Goiás

(GO), Maranhão (MA), Rio de Janeiro (RJ), Piauí (PI), Rio Grande do Sul (RS) e

Tocantins (TO); d) 4 estados ainda não conseguiram concluir o processo de

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contratação das IES: Amapá (AP), Ceará (CE), Rondônia (RO) e São Paulo (SP).

3.CONCLUSÃO

A contribuição do CAPACITASUAS e outras fontes de informação e gestão

se colocam exatamente, no contexto da luta contra o voluntarismo e clientelismo

presentes historicamente na Assistência Social. Assim, o protagonismo dos

trabalhadores do SUAS poderá ser exercido a partir das múltiplas determinações que

os constituem enquanto trabalhadores em sua dimensão de sujeitos e os papéis que

desempenham a partir da articulação entre os projetos profissionais particulares das

diversas profissões e os projetos societários em disputa.

O que exige dos trabalhadores da Assistência Social, conforme, coloca

Yazbek (2014. p. 135),

sejam sujeitos de sua própria educação e não objeto dela. Portanto, sujeitos ativos na construção do seu conhecimento, responsabilizando-se por sua educação, procurando meios que levem ao seu crescimento e aperfeiçoamento de sua ação.

Tendo em vista que educar é fazer emergir experiências de aprendizagem

e criatividade para a construção de novos conhecimentos. E a questão não é apenas

de adquirir conhecimentos já prontos e disponíveis, como se estivesse no mercado,

mas da capacidade de aprender a apreender, para construir novos caminhos e

habilidades, acessar fontes de informação sobre as realidades, considerando sua

diversidade e particularidades.(YAZBEK, 2014).

O que exige no processo de educação permanente, sua vinculação à

realidade, a clareza na construção de explicações, na perspectiva de delinear

resistências, construir novos caminhos, perspectivas, alternativas e utopias coletivas.

Assim, é pressuposto fundamental a dimensão política do trabalho

profissional no processo de educação permanente, tendo em vista que não basta

“saber” ou “fazer”, é preciso não separar conhecimento, ação e direção política da

ação. Pois entendemos que o SUAS está permeado por tendências tanto

conservadoras como emancipatórias, e assim, é necessário fortalecer àquelas que

operam com sua formulação como Política Pública em construção a partir de

princípios universais dos direitos da cidadania.

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O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTENCIA SOCIAL NO BRASIL:

Construção Sócio-Histórica, Concepção e Estrutura.

Célia Maria Brandão Salazar Soares 22

Jisselda de Oliveira Gonçalves da Silva 23

RESUMO

O texto faz uma abordagem sobre o Sistema Único de

Assistência Social no Brasil, como estratégia de

implementação da Politica de Assistência Social, politica

pública de seguridade social integrante do sistema de

Proteção Social no Brasil, faz um resgate da implantação

do Estado de Bem Estar no Brasil e traça um percurso

histórico da Política de Assistência Social ao Sistema

Único de Assistência Social, aponta concepção e a

estrutura organizacional do SUAS.

Palavras-chave: Assistência Social, PNAS, SUAS.

ABSTRACT

The text makes an approach on the Single Social

Assistance System in Brazil as implementation strategy of

the Social Assistance Policy, public policy social security

member of the social protection system in Brazil, is a

ransom of implementation of the Welfare State in Brazil

and traces a historical path of the Social assistance Policy

to the Unified Social assistance, points design and

organizational structure of the ITS.

Keywords: Social Assistance - SUAS - PNAS

22

Assistente Social

23 Assistente Social

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil, as políticas sociais foram historicamente executadas de forma

fragmentada, focalizada, insuficiente e descontínua, associada aos interesses da

burguesia e do grande capital, buscando legitimar o Estado frente aos conflitos de

classe. A Assistência Social percorreu trajeto similar, foi da prática assistencialista,

com ações de perfil caritativo, de benesses, perpetrado pela igreja e cidadãos de boa

vontade, com perfil arcaico e conservador, sendo direcionada aos pobres e miseráveis

que viviam à margem do consumo, chegando ao campo do direito e concebida como

Política Pública.

Para Pereira (2006), no campo das relações sociais, a assistência ou ajuda

mútua, decorre da solidariedade social, é um tipo de ação presente em qualquer

sociedade, mas que toma formas distintas em cada uma delas de acordo com o seu

sistema socioeconômico, político, cultural. Ainda de acordo com a autora, a

Assistência Social foi mudando ao longo da história da humanidade, passando pelos

laços da solidariedade entre os grupos à caridade praticada pela igreja até chegar à

contemporaneidade, em que o Estado assume essa responsabilidade como garantia

de direitos.

Esse novo modelo tem como primeiro e importante marco legal a

Constituição Federal de 1988, que assegura direitos sociais historicamente

demandados. Em seu artigo 194, define a Assistência Social como direito de todos

que dela necessitar e integrante do Sistema de Seguridade brasileiro junto com a

Saúde e Previdência Social. No artigo 203, estabelece que o direito à assistência

independe de qualquer contribuição, ou seja, define os seus objetivos centrais como

proteção, amparo, promoção, habilitação, reabilitação à pessoas em situação de

vulnerabilidade em decorrência da pobreza. E, no artigo 204, estabelece duas

importantes diretrizes para a organização das ações dessa política: a descentralização

política administrativa e a participação da população através das suas organizações,

ou o que se pode denominar de controle social.

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No seu processo de construção em 1993 foi promulgada a Lei Orgânica de

Assistência Social – LOAS, regulamentando o estabelecido na Constituição Federal de

1988. A LOAS foi alterada em 2011 pela Lei 12435 que assimilou o Sistema Único de

Assistência Social – SUAS, em processo de construção a partir de 2005.

Este artigo compõe a Mesa Temática intitulada “A formação Permanente e

Continuada no Sistema Único de Assistência Social (SUAS): a experiência do

CAPACITASUAS no Maranhão”. Na primeira parte aborda-se o processo de constituição

da Política de Assistência Social no Brasil e em seguida discorre-se sobre o processo

de construção e implementação do Sistema Único de Assistência Social. A conclusão

destaca os desafios que o SUAS tem encontrado para sua consolidação apontando

para as potencialidades do CapacitaSUAS nesse âmbito.

2. A POLÍTICA DE ASSISTENCIA SOCIAL: construção sócio-histórica.

Após a Segunda Guerra Mundial instalou-se nos países capitalistas mais

avançados o chamado Estado de Bem Estar Social, ou Estado providência, também

conhecido como Walfare State. Essa nova forma de intervenção teve como estratégia

a implementação de Políticas Públicas que garantissem minimamente o bem estar às

famílias e indivíduos em situação de pobreza em decorrência da crise econômica.

Para Briggs, 2006 apud Benevides, 2010, o Welfare State é um Estado no qual se usa

deliberadamente o poder organizado em um esforço para modificar o jogo das forças

do mercado considerando pelo menos três direções: primeiro, garantindo aos

indivíduos e às famílias uma renda mínima, independentemente do valor de mercado

de seu trabalho ou de sua propriedade; segundo, reduzindo a exposição à

insegurança, colocando os indivíduos e famílias em condições de enfrentar certas

contingências sociais que, de outro modo, levariam a crises do indivíduo ou de sua

família; e, terceiro, assegurando que a todos os cidadãos, sem distinção de status ou

classe, sejam oferecidos os mais altos padrões de um conjunto reconhecido de

serviços. Para Benevides (2011) “O Estado de Bem-Estar Social pressupõe o

reconhecimento do papel do Estado na busca do bem-estar dos indivíduos, baseando-

se nos direitos sociais dos mesmos”.

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No Brasil, o Sistema de Proteção Social, implementado a partir da Era

Vargas, na década de 1930, começa a ser estruturado no sentido de construir uma

mediação dos conflitos existentes entre os detentores do capital e a classe

trabalhadora. As ações empreendidas naquele momento procuraram principalmente

atender reivindicações trabalhistas, mas fincado nas questões relacionadas à

Previdência Social. Para além das questões trabalhistas foram criados os Ministérios

da Educação e Saúde.

Com a ditadura iniciada com o golpe militar de 1964, houve uma ampliação

da cobertura das políticas públicas para reduzir os impactos da repressão, mas apesar

da ampliação das ações do Estado, ocorreu uma acentuação das desigualdades

sociais motivada principalmente pela concentração de renda, favorecendo o aumento

da clientela à procura de serviços públicos. Como bem colocou Viana (1988), o

sistema público foi se especializando cada vez mais no atendimento precário dos mais

pobres, enquanto que a provisão privada de bem-estar conquistava adeptos entre a

classe média. Enfim durante a ditadura militar aumentou quantitativamente as políticas

públicas direcionados à população, mas que não cobria a demanda por conta do

crescente aumento de pobreza e exclusão social em que vivia grande parte da

população do país.

Para Draibe (1990), o Sistema de Proteção Social, da Era Vargas, do

período desenvolvimentista, ao regime militar, foi conservador, tendo como

características principais: a centralização política e financeira do governo federal nas

ações realizadas; as ações desenvolvidas de forma fragmentadas e por várias

instituições o que era desfavorável à coerência técnica, e à articulação; a falta de

participação social; os recursos para realização das ações vinham das contribuições

dos próprios beneficiários das ações (os trabalhadores); o fornecimento de serviços

clientelistas, dentre outras.

Todo esse contexto indica que no Brasil nunca se teve um Estado de Bem-

Estar, pois as políticas públicas dirigidas aos direitos sociais não foram prioritárias,

mas nas décadas de 1970 e 1980, o estado brasileiro buscou organizar o que se

poderia chamar de um arranjo de Estado de bem estar social. Entende-se que o

propósito era o de atender a algumas demandas advindas da população mais pobre,

sendo, portanto, o sistema de proteção social brasileiro fortemente marcado pela

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tradição e pelo conservadorismo, executado durante décadas de forma fragmentada e

pontual, não reconhecendo a proteção como direito do cidadão.

Com a Constituição Federal de 1988, a proteção social foi assegurada

como direito de cidadania, e as Políticas Sociais responsáveis pela sua

implementação passam a ser dever do Estado. Ao instituir propostas de políticas

universais e igualitárias, objetivou promover a inclusão social de toda a população que

dela necessitar, sob a ótica do direito. Neste momento foi garantida a ruptura legal

com o modelo tradicional e conservador executado neste país por todas as políticas

públicas, particularmente as políticas sociais

No Brasil, a Assistência Social percorreu uma trajetória que vai do

Assistencialismo, como prática arcaica, conservadora e tradicional, à Assistência

Social, como prática inovadora concebida como política pública, integrante do campo

de direito.

Nesta caminhada registramos: a criação da Legião Brasileira de

Assistência – LBA, órgão criado no Governo Vargas, em 1942, com o propósito de

atender aos mais necessitados. A LBA teve como sua primeira presidente a Sra. Dercy

Vargas (esposa de Getúlio Vargas), desde então, sempre teve uma primeira dama

como presidente, dando origem a uma prática historicamente utilizada por gestores

estaduais e municipais, ainda nos dias atuais: o “primeirodamismo”. Apesar de ser um

órgão federal, a LBA poderia ser caracterizada como uma agência de serviços sociais,

pois suas atividades eram organizadas por objetivos específicos, para segmentos por

faixa etária, sem articulação uns com os outros, e o seu principal foco era a prática

assistencialista. Em sua trajetória, fortaleceu o voluntariado, a parceria público x

privado, criou escritórios em todos os estados brasileiros.

Apesar desse perfil da LBA, não se pode desconhecer a contribuição que

essa instituição deu para a implantação da Política de Assistência Social,

particularmente no que se refere a sua equipe de profissionais (Assistentes Sociais e

outros), que contribuíram ativamente nesse processo de construção da Assistência

Social sob a ótica do direito.

Conforme Santos (2000), a década de 1980 foi marcada pelos movimentos

sociais e pela democracia. O autor ressalta a importância desses fatos para o

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amadurecimento da participação social e política dos cidadãos. A retomada da

democracia, pós-ditadura militar, significou uma redefinição dos princípios das políticas

sociais, da participação popular, do papel do Estado e da legitimidade deste papel.

Neste contexto o principal marco nessa década foi a Carta Constitucional de 1988, que

consolida do ponto de vista legal o regime democrático no Brasil.

A nova Constituição é fruto de ampla mobilização e participação de vários

setores organizados da sociedade, que na década de 1980, vivia um intenso processo

de revitalização, questionando o Estado ditatorial brasileiro e as redes de instituições

autoritárias fincadas na sociedade que regulavam a relação Estado x classes social.

Enfim, a Constituição de 1988 é um marco na democratização, compatibilizando

princípios da democracia representativa e da democracia participativa, reconhecendo

a participação e organização das políticas públicas.

Um dos avanços dessa Constituição foi a definição de um conjunto de

direitos sociais, demarcando um novo patamar para as políticas públicas de uma

maneira geral, dentre elas, a Política de Assistência Social, incluindo seguridade

social, saúde e previdência. Esse novo modelo define princípios de gestão pública,

democratização, descentralização e controle social. De acordo com o Art.194 da

Constituição Federal, a seguridade social compreende um conjunto integrado de

ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinado a assegurar os

direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (BRASIL, 2003:193).

Todavia, entre o reconhecimento legal e a efetivação da Assistência Social

como Política Pública, um longo caminho foi percorrido, os governos que se

sucederam após a Constituição de 1988 não viabilizaram de imediato as condições

para a implementação da política. O governo Sarney, primeiro governo civil pós-

regime militar, convocou e sancionou a Carta Constitucional, com o lema “Tudo pelo

Social”, mas nada fez para sancionar uma lei que regulamentasse a política, continuou

a desenvolver ações assistencialistas através da LBA. No Governo Collor, seguiu-se o

mesmo caminho, com o lema “Minha Gente”, desenvolvendo ações assistencialistas

via LBA.

A regulamentação da Política de Assistência Social só ocorreu no governo

Itamar Franco em 1993, com a promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social -

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LOAS, a qual define a Assistência Social como Política de Seguridade Social não

contributiva, de responsabilidade do poder público em conjunto com a sociedade civil,

dispondo sobre o conjunto de benefícios, de programas e de projetos, definindo as

diretrizes para a descentralização político-administrativa das ações. Também

estabelece comando único da política em cada esfera de governo; institui o controle

social através da participação da população; define a competência das três esferas do

governo no financiamento e execução da política, enfim, altera o modo de se fazer

Assistência Social no Brasil.

No ano da promulgação da LOAS, a LBA estava ainda em pleno

funcionamento, com forte influência nos estados e municípios, que dela dependiam

política e financeiramente. Assim, neste contexto, a Política de Assistência Social foi

sendo processualmente implantada, herdando as estruturas físicas da LBA. A política

mantém também a marca assistencialista das suas ações, assim como o

primeirodamismo (as gestoras dos órgãos responsáveis pela implementação das

ações quase na sua totalidade eram as esposas dos prefeitos e governadores) em sua

maioria sem nenhum preparo técnico, imprimindo às ações um caráter de benesses,

de favor.

Em 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso a LBA foi extinta, e

criado o Ministério do Bem Estar Social e na sua estrutura a Secretaria Nacional de

Assistência Social, órgão responsável por coordenar nacionalmente a Política de

Assistência Social. Essa era uma atitude que passava para a sociedade a certeza da

evolução da política, apesar da prática neoliberal do governo, cuja meta partia da

minimização do Estado no que diz respeito ao financiamento das políticas sociais. O

que ocorreu logo após foi que o governo em total desrespeito à LOAS, no que tange à

definição de um órgão para comando único da Política de Assistência Social em cada

esfera de governo, criou o programa “Comunidade Solidária” cujo perfil e ações

resgatavam a forma assistencialista de se fazer assistência social no Brasil.

As ações do Programa “Comunidade Solidária” iam além da assistência

social, perpassavam por outras políticas, como por exemplo, a do esporte. Todos os

programas e projetos sempre tinham nas suas denominações o nome solidário, essa

era uma estratégia para resgatar e reforçar o voluntariado, tirando assim a

responsabilidade do Estado no que tange ao financiamento dessas ações. Essa

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atitude do governo FHC foi seguida por vários governos estaduais e até municipais,

gerando consequências negativas no momento inicial de implantação da política de

Assistência Social. No Maranhão, o governo José Reinaldo criou a Secretaria

Extraordinária da Solidariedade Humana, órgão com perfil similar ao do governo

federal.

Em 1995, também foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Assistência

Social, e como produto das suas deliberações foi elaborada a 1ª Política Nacional de

Assistência Social e a 1ª Norma Operacional Básica da Assistência, este último,

documento orientador e normatizador da PNAS. Em 1999, no segundo governo FHC,

fruto da pressão de vários segmentos sociais e por conta da deliberação da

Conferência foi extinta a Secretaria Nacional de Assistência Social e criada a

Secretaria de Estado de Assistência Social - SEAS, órgão com status de ministério.

Essa nova estrutura do órgão de gestão nacional da política garantiria

assegurar assento do gestor da política na estrutura ministerial assim como recursos

orçamentários específicos para a implementação da política assistencialista. É

importante salientar que essa não foi uma atitude de bondade ou de compromisso do

governo com a Política, visto que o Programa “Comunidade Solidária” permanecia,

mas significava um avanço em decorrência da pressão de vários segmentos sociais.

Destaca-se que durante o último governo FHC foram criados os primeiros programas

de transferências de renda do governo federal, como Bolsa Escola, Vale Alimentação,

Vale Gás, que deram origem ao atual Programa Bolsa Família que assimilou e unificou

os programas anteriores.

No primeiro governo Lula, no ano de 2003, na sua estrutura administrativa

foi criado o Ministério da Assistência e Promoção Social, substituindo o SEAS, órgão

de comando da política a nível nacional, com orçamento próprio, decisão seguida pela

maioria dos estados e municípios. Essa nova estrutura de comando da Política

significou um avanço, considerando que o órgão de gestão da Política de Assistência

era um Ministério, com estrutura, pessoal e recursos próprios para executar as suas

ações.

Em 2004, foi criado o Ministério do Desenvolvimento Social, neste ano

também é instituída uma nova versão da Política Nacional de Assistência Social –

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PNAS (2004) que no seu texto busca incorporar novas demandas presentes na

sociedade, principalmente no que tange à responsabilidade do Estado, define os

destinatários e os princípios da política, o que está estabelecido no artigo 4º da LOAS.

Art. 4° A assistência social rege-se pelos seguintes princípios:

I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as

exigências de rentabilidade econômica;

II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário

da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;

III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito

a benefícios e serviços de qualidade, bem como a convivência familiar

e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de

necessidade;

IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem

discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às

populações urbanas e rurais;

V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos

assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e

dos critérios para sua concessão.

As diretrizes definidas na PNAS se baseiam na Constituição Federal e na

LOAS, sendo:

I – descentralização político-administrativo, cabendo a coordenação e

as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos

respectivos programas às esferas estaduais e municipais, bem como a

entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando

único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as

diferenças e as características socioterritoriais locais;

II – participação da população, por meio de organizações

representativas, na formulação das políticas e no controle das ações

em todos os níveis;

III – primazia da responsabilidade do Estado na condução da política

de assistência social em cada esfera de governo;

IV- Centralidade na família para concepção e implementação dos

benefícios, serviços, programas e projetos.

A PNAS, revista em 2004, e atualmente em vigor, também classifica os

municípios por população, denominando-os por porte da seguinte forma: Pequeno

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Porte I (até 20.000 hab.), Pequeno Porte II (de 20.001 a 50.000 hab.), Médio Porte (de

50.001 a 100.000 hab.), Grande Porte (de 100.001 a 900.000 hab.) e Metrópole (Mais

de 900.000 hab.).

Com o entendimento de que as pessoas residem nos municípios e que,

conseqüentemente, é neles que ocorrem as maiores demandas por serviços públicos

e outros direitos, a municipalização no contexto das políticas públicas deve ser

entendida como uma decisão de levar os serviços e as decisões da política à

população, e não apenas repassar encargos e ônus para os outros entes federados.

É com este entendimento que a PNAS, define no seu texto como uma de

suas diretrizes a descentralização política administrativa e que a responsabilidade pelo

financiamento da Política é das três esferas de governo. Neste contexto é importante

observar o que prevê o artigo 15º da LOAS, no que define como competência dos

municípios.

Art.15°. Compete aos Municípios:

I – destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dos

auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos

Conselhos Municipais de Assistência Social;

II – efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e funeral;

III – executar os projetos de enfrentamento da pobreza, incluindo a

parceria com organizações da sociedade civil;

IV – atender às ações assistenciais de caráter de emergência;

V – prestar os serviços assistenciais de que trata o art. 23° desta lei.

Um dos grandes avanços da PNAS foi a instituição do Sistema Único de

Assistência Social - SUAS, definido como “um sistema público, não contributivo,

descentralizado e participativo, que tem por função a gestão do conteúdo especifico da

Assistência Social no campo da proteção social brasileira” (NOB/SUAS, 2004).

Uma das principais funções deste sistema é organizar e dar coesão

aos serviços, projetos, programas e benefícios da Política de

Assistência Social, implementado pelos municípios, Estados e União,

visando a garantia de direitos básicos da sociedade, particularmente

dos segmentos mais vulnerabilizados sócio e economicamente,

obedecendo assim ao estabelecido na LOAS. “[...] Regulando em todo

território nacional e hierarquia, os vínculos e as responsabilidades do

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sistema de serviços, benefícios, programas e projetos de assistência

social [...]” (HEIN; BATISTA, 2007, p.06).

Para dar concretude ao SUAS instituíram a Norma Operacional Básica do

SUAS (NOB-SUAS), instrumento legal estruturante que normatiza o sistema e orienta

os três entes federais a como implantá-lo. Após dez anos de instituição do SUAS, a

NOB está em sua segunda versão, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência

Social em 2012, após amplo debate e pactuação na CIT. Esse novo formato

demonstra na sua composição os avanços alcançados pelo Sistema nos oitos anos de

implantação, também busca dar conta a demanda identificadas na execução da

Politica não contempladas pelos marcos legais e regulatórios existentes.

Fundamentado na gestão participativa e cooperação entre os entes

federados, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, o Sistema Único de

Assistência Social está presente em quase todos os municípios da Federação, e esta

nova NOB, assim como a “nova” LOAS, têm como foco central o aprimoramento e

consolidação do SUAS e consequente avanço da Politica de Assistência Social

3. O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: estruturação e organização das

ações.

A Norma Operacional Básica (2005) define onze objetivos do SUAS,

dentre eles destaca-se o primeiro que sintetiza o objetivo maior do Sistema que é

“consolidar a gestão compartilhada, o co financiamento e a cooperação técnica entre a

União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, de modo articulado, operam

a proteção social não contributiva e garante o direito dos usuários”. Esse mesmo

documento aponta também os princípios organizativos do Sistema que é a

Universalidade, a gratuidade, a integralidade da proteção social, a intersetorialidade e

a equidade.

As Diretrizes estruturantes do SUAS, têm como referência o que

estabelece a PNAS e de acordo com a NOB, são: primazia da responsabilidade do

Estado na condução da Política de assistência social; a descentralização politica

administrativa; o financiamento compartilhado entre os entes federados; a

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matricialidade sociofamiliar; a territorialização ; o fortalecimento da relação

democrática entre Estado e sociedade civil e o controle e participação popular.

O SUAS obedecendo ao estabelecido na PNAS organiza as ações da

Assistência Social em dois níveis de proteção: Básica e Especial.

As ações de Proteção Social Básica:

[...] têm como objetivo prevenir as situações de risco por meio de

desenvolvimento de potencialidades e aquisições, o fortalecimento

dos vínculos familiar e comunitário. Destina-se à população que vive

em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação

(ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos,

dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos-relacionais e de

pertencimento social (discriminação etárias- étnicas - de gênero ou por

deficiência entre outras) (PNAS-2004, grifo nosso).

As ações de proteção Social Básica são executadas dentro de uma

Unidade Pública Estatal denominada, Centro de Referência de Assistência Social –

CRAS, que deverá estar localizado em um território/área de vulnerabilidade social, e

abrange até um total de 1.000 famílias/ano. Além disso, deve ser instalado em local

conhecido e de fácil acesso por parte da população do território onde o mesmo está

instalado. A Proteção Social Especial,

[...] é a modalidade de atendimento assistencial destinada á famílias e

indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social,

por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e ou psíquicos, abuso

sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas

sócio educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil dentre

outras (PNAS-2004, grifo nosso).

Esse tipo de proteção subdivide-se ainda em: Proteção Especial de Média

e de Alta complexidade. As ações podem ser implementadas no Centro de Referência

Especializada de Assistência Social – CREAS e outras Unidades Públicas de

Atendimentos, como: Casa Lar, Repúblicas, Casas de Passagem, Residência

inclusiva, Centro Pop, Abrigos para crianças e adolescentes, Albergues, dentre outros.

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4. CONCLUSÃO

O SUAS ao longo desses dez anos de existência vem passando por

transformações, sendo notório seu processo evolutivo e a busca do seu fortalecimento

e consolidação como Política de Estado. No cenário político da Assistência Social, a

questão Recursos Humanos foi a que menos sofreu avanços, pois apesar da

elaboração da Norma Operacional Básica dos Recursos Humanos em 2006 os entes

federados (união, estados e municípios) não a implantaram como estabelece esse

marco legal, e os trabalhadores do SUAS ainda não ultrapassaram o legado da

precarização, da improvisação e da omissão. Esse é um item importante que se não

for enfrentado poderá comprometer sobremaneira o desenvolvimento do SUAS.

Segundo Yazbeck et. al. (2010), a questão dos recursos humanos é um

desafio para toda administração pública, mas assume características específicas na

Assistência Social pela sua tradição de não política, sustentada por estruturas

institucionais improvisadas e reduzido investimento na formação das equipes

profissionais permanentes e qualificadas para efetivar ações que rompam com a

subalternidade que historicamente marcou o trabalho desta área.

Ainda de acordo com a autora, a implantação do SUAS, exige novas

formas de regulação e gestão do trabalho e ampliação do número de trabalhadores

com estabilidade funcional através de concurso público, sistema permanente de

formação e qualificação profissional, implantação do plano de carreira cargos e salário

e estabelecimento de remuneração compatível com a formação e ações

desenvolvidas.

Pesquisas nacionais recentes dão conta dos desafios que o SUAS tem

encontrado para se consolidar. Apesar de níveis diferenciados de implementação e da

qualidade dos serviços e benefícios ofertados, os CRAS já se encontram instalados

em todos os municípios brasileiros e os CREAS também avançam em seu processo

de implementação. Entretanto, um conjunto de demandas se colocou para as três

esferas de governo que só poderão ser enfrentadas conjuntamente através do

cofinanciamento.

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Destacam-se nesse conjunto de demandas, a constituição das equipes de

trabalhadores, mediante realização de concurso público, salários justos e demais

condições de trabalho, que passam por sua vez, por instalações físicas e

equipamentos das unidades públicas. Que é atravessado pela necessidade de

formação continuada e permanente dos trabalhadores do SUAS. No que tange ao

processo de capacitação dos trabalhadores, importante iniciativa do governo federal

foi a instituição do Programa Nacional de Capacitação do SUAS – CapacitaSUAS, o

qual vem sendo desenvolvido a partir de 2013 nos Estados brasileiros, objetivando

contribuir com a qualificação da gestão e dos serviços e benefícios socioassistenciais.

O nível comprometimento das três esferas de governo com o financiamento e gestão

do SUAS darão o ritmo em que o sistema continuará avançando no sentido de sua

consolidação em todo o país.

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