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A FAMÍLIA RBDACTORA: JOSEPHINA M AZEYIÍÍIO ANKO II Pio de Janeiro, 23 de Janeiro de 1890 ® Num. 46 K* Veneremos a mulher! Santifiquemol-a e glorifiquemol-a Victor Hugo. EXPEMKNTE ASSIGNATURAS CORTE Anno1?8000 PROVÍNCIAS Anno16Í00O COLLA.BOUAÇÃO São collaboradoras Jo nosso jornal, as Exmas. Sras. D.L). : Analia Franco, Ignez Sabino de Pinho Maia, Carmen Freire ( Baroneza de Mamanguape) Doutora Izabel Dillon, Marianna da Sii- veira, Mlle. Rennotte, Adelaide Peixoto, MariaZalina Kolim, Adelia Barros, Luiza Thienpout, Emiliana de Moraes, Maria Hamos, Paulina A. da Silva, Alzira Uo- driguez e Julia Cortines. A FAMÍLIA Rio, 23 de Janeiro do 1890. Mães e mestras capitulo xxin Educação Piiysica (Continuação) Juntas as mesmas causas á inércia do juizo produzem ainda outros defeitos: faz-se á cri anca uma pergunta muito simples e esta res ponde-uos de forma tão pouco clara que á força de palavras conseguiremos obter o dese- jado esclarecimento. Perguntaes a vosso filho ou filha :— « Está proiupto o carro?» —O Jaqucs está de con_ versa com um homem chegado á pouco.— « Eu pergunto se o carro está prompto.» Mas Ja- cques ainda está uo pateo... penso que vae apparelhar os cavallos... » Seta resposta di- recta esta ? Perguntaes a vossa filha : « Acabastes a bolsa, Nenc ? Oh! mamãe, que trabalho aborrecido, quanto me custa! Eu pergunto-te se aca- baste a bolsa ? Talvez falte a seda... será preciso mandar comprar mais...» E se pela vez terceira renovardes a pergunta, ella res- pondera : Espero acabal-a amanhã. » Se assim acontece em cousas ordinárias, que acontecerá quando se tratar de negócios series e compli- cados ? O espirito buscará rpdeios cm vez de ir direito ao alvo d'um tiro. Correcção e exactidão de linguagem são qua- lidades tão vantajosas no trato da vida, que as não podemos desprezar na criança sem a pre- judicarpara o futuro. Intimamente ligada a saude do corpo á da alma, prescreve muitas regras praticas que im- punes não podemos violar. A primeira é o exer- cicio ao ar livre. Um passeio quotidiano con- serva as forças dando aos membros flexibilidade r guiar e aos pulmões acção salutar. Principal- mente no campo, as emanações puras de que a athemosphera está embebida refrescam o san- gue ecommunicam existência. Não devem as intempéries das estações ob- stará mestra óu á discípula ; acostumando- se a affrontal-as é que se náo as sentem. Infe- lizes das crianças que por molleza e frouxidão, se conservam obstinadamente acocoradas ao do fogo, e se não podem acostumar a sup- portar chuvas, geadas, ou os calores do sol no verão ! Esse gosto pelo bem estar, dentro de casa, lhes será fatalmenta prejudicial ao desen- Tolvimonlo da intelligencia e do corpo. E' bom fatigar o corpo de tempo a tempo, com passeios longos e exercícios gymnasticos. A natação olferece, em idade mais adiantada, ás meninas fracas e languidas grandes van- tagens. Aquellas cujos hombros forem desi- guaes e conformados com pouca segurança, não tem mais que aprenderem durante alguns mezes a esgrima. Este exercício insensível- mente graduado por causa da lasoidâo que produz, é de effeito incontestável, porque dis- tende os músculos, fortalece-os e os põem em perfeito equilíbrio. Muita gente ha que reputa a dança, como prenda futil, com tempo para aprender, quando ella requer ser aprendida em idades differentes ; porque convém notar que a dança produz na mór parte das meninas, uma no- tavel mudança no garbo e maneiras. Os mem- broa ganham agilidade e os movimtntos jogo ma,s macio; o porte é mais aíroso, e a segu- rancaqueellaten.de si mesmo faz desappa-. recer o acanhamento que se não deve con- fundir com a timidez. Mas o essencial para isso é escolher um hab.1 profess„r, isempto d'affectaÇão, que co- "heça as maneiras da bda companhia, e as «.me com aquelle caracter de elegante sim- plictdade quo distingue a gente do munda, "Am de que a menina se nào torne ridícula era uma escola de máo gosto ! Tudo na mulher devo mostrar bôa educação, o modo de assentar, de compor os vestidos, de andar, de pôr os pé,, de trazer a cabeça e de a mover, de se col- '"car em um carro, apear-se, e até o mais insi- gnilicanle gesto e movimento. A reunião de Maslestas cousas faz que a rapariga possua aquelle encanto que attrahe e seduz, eque faz com q,e se diga: «Que bonita educação a daquella menina!» palavras que enchem de prazer o coração de uma mãe ! Algumas mais rebeldes ás liecões d'arte ou monos favorecidas pela natureza, juntam os deffertos do andar pesado-e constrangido,» inconveniente da respiração forte semelhante a de quem dorme. Aconselho-lhes a qu,, s9 reprimam, porque denotam certa vulgaridade o causam desagradável impressão. Outras capacilam-se de que dão mais ex- pressão e delicadeza a seus discursos empn*- gando o jogo mimico das feições e gestos ; torcem a bocca, cerram os dentes, gaguejam ;' dão aos olhos geitos de languidezoudeani'- mação arregalando-os, aus braços, cabeça e pescoço, movimentos desengraçados e áir-t, ciados. A estas direi simplismente que esco- lham bom modelo e imitem-no na reserva e gesto que devem presidir todos os seus act-js e maneiras. Se bem que seja necessário vestir e bem «gasalhar as danças, no inverno, e conser- val-as em bôa temperatura durante a refeição e o trabalho, deve não obtante ser o exercício para ellas o principal motor da circulação e do calor. Nos insupportaveis dias de frio, os movi» mentos da gymnastica oecuparam com boia êxito parte das suas distrações. (Continua)

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A FAMÍLIARBDACTORA: JOSEPHINA M AZEYIÍÍIO

ANKO II Pio de Janeiro, 23 de Janeiro de 1890®Num. 46 K*

Veneremos a mulher! Santifiquemol-a eglorifiquemol-a Victor Hugo.

EXPEMKNTE

ASSIGNATURASCORTE

Anno 1?8000PROVÍNCIAS

Anno 16Í00O

COLLA.BOUAÇÃO

São collaboradoras Jo nosso jornal, asExmas. Sras. D.L). :

Analia Franco, Ignez Sabino de Pinho Maia,Carmen Freire ( Baroneza de Mamanguape)Doutora Izabel Dillon, Marianna da Sii-veira, Mlle. Rennotte, Adelaide Peixoto,MariaZalina Kolim, Adelia Barros, LuizaThienpout, Emiliana de Moraes, MariaHamos, Paulina A. da Silva, Alzira Uo-driguez e Julia Cortines.

A FAMÍLIA

Rio, 23 de Janeiro do 1890.

Mães e mestras

capitulo xxinEducação Piiysica

(Continuação)Juntas as mesmas causas á inércia do juizo

produzem ainda outros defeitos: faz-se á crianca uma pergunta muito simples e esta res

ponde-uos de forma tão pouco clara que só áforça de palavras conseguiremos obter o dese-

jado esclarecimento.Perguntaes a vosso filho ou filha :— « Está

proiupto o carro?» —O Jaqucs está de con_versa com um homem chegado á pouco.— « Eu

pergunto se o carro está prompto.» — Mas Ja-cques ainda está uo pateo... penso que vaeapparelhar os cavallos... » Seta resposta di-recta esta ?

Perguntaes a vossa filha :« Acabastes a bolsa, Nenc ?— Oh! mamãe, que trabalho aborrecido,

quanto me custa! — Eu pergunto-te se aca-baste a bolsa ? — Talvez falte a seda... serápreciso mandar comprar mais...» E se pelavez terceira renovardes a pergunta, ella res-pondera : Espero acabal-a amanhã. » Se assimacontece em cousas ordinárias, que aconteceráquando se tratar de negócios series e compli-cados ? O espirito buscará rpdeios cm vez de irdireito ao alvo d'um só tiro.

Correcção e exactidão de linguagem são qua-lidades tão vantajosas no trato da vida, que asnão podemos desprezar na criança sem a pre-judicarpara o futuro.

Intimamente ligada a saude do corpo á daalma, prescreve muitas regras praticas que im-punes não podemos violar. A primeira é o exer-cicio ao ar livre. Um passeio quotidiano con-serva as forças dando aos membros flexibilidader guiar e aos pulmões acção salutar. Principal-mente no campo, as emanações puras de quea athemosphera está embebida refrescam o san-gue ecommunicam existência.

Não devem as intempéries das estações ob-stará mestra óu á discípula ; só acostumando-se a affrontal-as é que se náo as sentem. Infe-lizes das crianças que por molleza e frouxidão,se conservam obstinadamente acocoradas aopé do fogo, e se não podem acostumar a sup-portar chuvas, geadas, ou os calores do sol noverão ! Esse gosto pelo bem estar, dentro decasa, lhes será fatalmenta prejudicial ao desen-Tolvimonlo da intelligencia e do corpo.

E' bom fatigar o corpo de tempo a tempo,com passeios longos e exercícios gymnasticos.

A natação olferece, em idade mais adiantada,ás meninas fracas e languidas grandes van-tagens. Aquellas cujos hombros forem desi-guaes e conformados com pouca segurança,não tem mais que aprenderem durante algunsmezes a esgrima. Este exercício insensível-mente graduado por causa da lasoidâo queproduz, é de effeito incontestável, porque dis-tende os músculos, fortalece-os e os põem emperfeito equilíbrio.

Muita gente ha que reputa a dança, comoprenda futil, com tempo para aprender,quando ella requer ser aprendida em idadesdifferentes ; porque convém notar que a dançaproduz na mór parte das meninas, uma no-tavel mudança no garbo e maneiras. Os mem-broa ganham agilidade e os movimtntos jogo

ma,s macio; o porte é mais aíroso, e a segu-rancaqueellaten.de si mesmo faz desappa-.recer o acanhamento que se não deve con-fundir com a timidez.Mas o essencial para isso é escolher umhab.1 profess„r, isempto d'affectaÇão, que co-"heça as maneiras da bda companhia, e as«.me com aquelle caracter de elegante sim-

plictdade quo distingue a gente do munda,"Am de que a menina se nào torne ridícula erauma escola de máo gosto ! Tudo na mulher devomostrar bôa educação, o modo de assentar, decompor os vestidos, de andar, de pôr os pé,,de trazer a cabeça e de a mover, de se col-'"car em um carro, apear-se, e até o mais insi-gnilicanle gesto e movimento. A reunião deMaslestas cousas faz que a rapariga possuaaquelle encanto que attrahe e seduz, eque fazcom q,e se diga: «Que bonita educação adaquella menina!» palavras que enchem deprazer o coração de uma mãe !

Algumas mais rebeldes ás liecões d'arte oumonos favorecidas pela natureza, juntam osdeffertos do andar pesado-e constrangido,»inconveniente da respiração forte semelhante ade quem dorme. Aconselho-lhes a qu,, s9reprimam, porque denotam certa vulgaridadeo causam desagradável impressão.

Outras capacilam-se de que dão mais ex-pressão e delicadeza a seus discursos empn*-gando o jogo mimico das feições e gestos ;torcem a bocca, cerram os dentes, gaguejam ;'dão aos olhos geitos de languidezoudeani'-mação arregalando-os, aus braços, cabeça epescoço, movimentos desengraçados e áir-t,ciados. A estas direi simplismente que esco-lham bom modelo e imitem-no na reserva egesto que devem presidir todos os seus act-js emaneiras.

Se bem que seja necessário vestir e bem«gasalhar as danças, no inverno, e conser-val-as em bôa temperatura durante a refeiçãoe o trabalho, deve não obtante ser o exercíciopara ellas o principal motor da circulação e docalor.

Nos insupportaveis dias de frio, os movi»mentos da gymnastica oecuparam com boiaêxito parte das suas distrações.

(Continua)

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A FAMÍLIA

Paginas dum romance inédito

Naio tardou a cair á rua uma infinidade deobjectos.

— liom! pensou Miguel. Nada de perdertempo.

li levantam um presunto que lhe roçagava ospés.

Nisto, sentiu-se, ainda a distancia, ruido depassos e tinir de armas.

Imediatamente, avisados por um particularassobio, us que estavam em cima, reunindo-seaos companheiros e abandonando o roubo dei-taram todos a fugir,

Miguel não esteve por muito tempo indecisosobre o que convinha fazer. A lembrança deque ia talvez dar de rosto com «amigos» decaserna resolveu-o a confundir-se com os Iara-pias.

Segurando sempre o presunto, guiou seuspassos pelos passos deiles.

Seguiram por muitas ruas, atravessarammuitas viellas, saltaram muitos muros, até che-gar.una umas abandonadas minas.

Os que mais se haviam adiantado, levan-taram uma grande lagoa, e, num abrir e fecharde olhos, todos se introduziram em uma es-pocia de cisterna, para o fundo da qual escor-regaram seguros por grossas cordas.

Entraram em um largo compartiniento térreoonde bruxuleava a luz duma candeia, que logof.ii apagada.

Por alguns minutos, Miguel, que não fora<! 'S últimos a descer, nada mais ouviu duqueo respirar dos dez companheiros.

—Estarão todos? perguntou uma voz emf"m baixinho.

Responderam-lhe no mesmo tom :0 Ralo.O Gamo.O Furão.O Laparo.O Vè tudo.O Fuinha.O Mata mouros.O Cão de caça.O Invisível.Muito bem, continuou o primeiro. Não

ficou por Ia maroto nenhum que nos puzesse apelle em risco, E agora ?

Agora, capitão, toca a manducar. Sabe-!;em que já saímos a cair de lazeira.

Manducar ! manducar o que meus brutos ?Não vêem que ha oito dias se não pesca nem«.ferio» nem «isca?» Fizemos mal em nãodeixar entrar um dos da patrulha.

Assado nas brazas devia ser petisquinho.l.á os da África, donde a pouco vim, comemgente como quem come leitão.

-Capitão, se nos afianças que essa caçaboa...

Náo, nã", aceudiu o capitão bastante arre-pendido de haver innoculado no animo doscompanheiros uma ideia que Ih'' podia ser fatala elle. Ku gracejava, amigos eu gracejava

Gracejar, capitão! gracejar comnosco,quando rsUmos a rnnnvi' dc fume ! ? Cautella,capitão ! cautella ! Olhe que nós não somos me-lliores de que os da África !

Accendam a luz ! ordemnmi o capitão.iVlan ! mau ! disse Miguel comsigo. Estes

malditos famintos,sc me descobrem, papam-mecom toda a certeza.

E, tpalpando para ver se dava com qualqueresconderijo, encontrou uma porta, que abriucanil a maior precaução.

Conheceu qoe estava dentro de um grandearmário, formado pela parede, o qual continhaarmas de fogo e outros mortíferos instru-mentos.

Que magnífico achado ! pensou Miguel.E, apoderando-se duma comprida faca de

ponta, sahiu para fora.A luz, que um larapio acabava de accender,

deu-lhe de chapa no rosto.—Um espião ! exclamaram todos a uma voz.

A elle, amigos! a elle ! Eis a vossa ceia !clamou o capitão ipie s ejulgava salvo.

Sim, rapazes, disse Miguel, a vossa ceiatrago-a aqui. Mas o bruto do capitão não pro-vara delia, já que não vos arranja, para comersenão carne de gpnte.

E, antes que o capitão se mexesse, enter-rou-lhea faca 110 peito.

Toca a fazer-lhe o funeral, rapazes! cha-coteou, apresentando o roubado presunto, |queem poucos minutos foi devorado, junto do ca-daver do capitão, que os famintos olhavam coma máxima ind Iferença,

Somente depois de saciados é que um deilesperguntou a Miguel.

Quem és tu ? Oue vieste aqui fazer'?Que boa pergunta : respondeu zombatei-

ramonte o interrogado. Acabo-vos com a fomeque vosroia o estômago, livro-vos dum capitãoque era a vossa deshonra, e não sabem quemeu sou, nem o que vim aqui fazer, heim ? Entãoé necessário lembrar-vos o rifão que diz : «reimorto, rei posto ? Estaes sem capitão, e eu...

Vè lã em que té mettês ! Chefe que nãonos de que trincar todos os dias... Olha que esseque jaz alli estilado já não é o primeiro que,neste furna, eslica a canella, entendes?

Soccguem, disse Miguel, cujo'animo es-tava muito longe da tranqüilidade. Sou muitovelho no officio.

Nesse caso dá-nos as tuas ordens.Antes de mais nada tirem-me da vista o

diabo do morto que está alli a rir-se para mim.

Isso deita-se ao boqueirão que vae ter aorio. E depois ?

Depois, visto que têm a barriga cheia,deitem-se e durmam.

Sim, resmungaram alguns, mas estamoscom uma sede de todos os diabos.

Miguel fingiu que nada ouvia.Removido o cadáver do capitão, os bandidos

atiraram-se para cima de alguns montes depalha, onde não tardaram a adormecer.

Esta felicidade é que Miguel não conseguiu.Era a primeira vez em sua vida quo o somno

o abandonava.Via-se chefe de nove scelarados, á menor

falta por elle commettida, lhe tirariam a vidamais facilmente do que um cosinheiro a tira aum frango, e ignorava completamente a ma-neira de os dirigir.

Atormentavam-no estes cuidados ; e aindaem cima a imagem do capitão, que enviarapara a eternidade, lhe andava em volta dacama a fazer pirraças com os dentes arreta-nhados.

Grande patife! pensava Miguel, que já-mais ouvira tallar em remorso. Ora, se eu onão visse deitar pelo boqueirão.., E é princi-palmente quando fecho os olhos que melhorvejo o maroto ! Estarei a sonhar?

Sonhar é cousa que o miserável não conse-guiu, pois nem por um segundo poude ador-mecer.

Feia manhan estava desfallecidò, desgostosoe com grande desejo de sahir dalli.

Apenas a luz do dia entrou pelas fendas dasruínas, começou a olhar em todas as direcçõosa (im de verso descobria qualquer buraco poronde podesse escapulir-se,

lestas investigações furam interrompidaspelas vozes dos bandidos, que á uma gritavam:Capitão ! que ordens lemos ?

O' rapazes, deixem-me. Tenho uma dôrde cabeça que nem vos posso ouvir.

Doe-lhe a caheça ! Que diabo temos nóscom isso? Venham de lá essas ordens, vamos !As dores de cabeças almoço-as, se quizeres.Nós é que necessitamos de melhor alimento.Aqui não ha que metter pela gucla abaixo,salvo se forem os teus lombos. O defuneto ca-pitào teve hontem uma boa lembrança. Carnede gente, que tem isso? Os da África nãomorrem com ella. .

Dezembro de 1888.

Maria Margarida de Oliveira Pinto.

No mundo moral a verdade é comoo sol, que pode ser algumas vezesobumbrado,mas nunca exlincto.

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A FAMÍLIA

O primeiro beneficio(Continuação)

Não, meu velho ; ella vivo, ama-o«... quer reeonciliar-secom você.

Nunca ! Os mortos não resusci-lão.

Nâo diga isso tio Pedro — Vocôdiz que sente se morrer, mas paraquesu'alma possa apparecer sem manchajunclo ao throno de Deus que ao morrerperdoou lambem aquelles que lhe de-rão a morte, torna se mister vo:*e per-doul-a igualmente, sacrificando em pro-veito de sua vida futura cheia de deliciasno céu, o sou iiTior próprioe o seu or-gullio de pae, *,e bem que offendiiido...porém., que sempre tem occulto umpoucoxinho de clemência.

Do quarto próximo ouvio-se um so-luço.

Diga á Joanna que não chore.Quem chora é a Rozinha, bom

homem, faça-lhe a vontade ; seja ge-neroso, não desminta agora o bom con-ceito que sempre formei de si .. per-dou... sim ?

O mísero fez vagarosamente com acaiieça um signal negativo.

liu estava oppressa: via esgotadostodos os meus recursos, sahiria d'acolatransida de dôr e sem ler aproveitadaas primicias que tanto almejava para obem estar de miniralma e da diree-ção que tencionava dar ao começo deminha vida.

Reuni as minhas forças e olhei de-salentada para a amiga que igualmentemo Aclara cun desanimo.

Quer-se confessar? perguntei eua elle.

Queria, mas... é tarde!Não; se em vez de o fazer a um

padre que aqui lhe falta, o fizer simplesmente á Deus—Reze com fervor e peçaperdão de suas culpas; e, para ficarsem 'emersos, perdoe logo.

Escute; não continua a ouvir cho-rar ? li' ella, a sua filha única, queespera a sua benção, que não quermais acarretar com o remorso de semostrar desohediente e má, desejandobeijar ainda eslas mãos honradas queeu agora apeito com amizade. Ande,seja bom, eu lhe peço por Deus, pormim, per ella e... por minha mãe quetão sua amiga é que tanto tem feitoá si.

O pescador quasi sem consciênciadeixou escapar dos cilios duas lagrimas

lentas e com a mão procurava sem abriros olhos um objeclu qualquer.

Aproveitei a situação.—- Quer ella, não é ? Faz-me a vou-

tado, perdoa ?— Sim, respondeu o velho muito

anciado, para que o Senhor me perdoea mim, igualmente.Exultei.Chamei a rapariga que cahiu de joe-lhes junclo ao pobre leito. Amim, nada

mais restava fazer acolá.A minha misssão está comprida.

(Continua)

Ignez Sabino.T«r<!»rf«*-~

Coração de paeSi ao pobre velho tropega estendiaLoura creança a compassiva esmola —lítle a tremer abria-lhe a saccolaE, escondendo uma lagrima, seguia...

Também elle, o mesquinho, o mendicante,Tivera uma lilhinha ingênua e pura ;Tinha do lyrio a immaculada alvura,E a alegria d'aurora.no semblante...

Depois... a filha, o anjo, a luz querida,Sem ter da mãe a voz que o pae aquece,Perdeu-se nos desvios d'esta vida...

E o triste,—o miserando pae, eni vão(iemia amargamente : Ali! si ella viesseTeria, d Deus do céo, o meu perdão !...

Maria Zalina Hoi.im

Os escravosSeguimos por uma grande rua de

bambus cerrados eumo enormes pere-des de verdura e fomos ter á horta.No chão estendia-se uma renda desombras das folhas das parreiras e daslatadas de maracajú. As ramas vapo-rosas dos espargos ondulavam branda-mente.

Os grandes repolhos de um verdeazulado erguiam as cabeças redondaseduas d'entie as largas folhas arro-\adas das belerrab is, pendiam carre-gadas as hostes dos guandos. Da hortapassamos ao jardim, atravessando pe-Ias ruas de jasmins do Cabo e peloscanteiros gramados, onde se destaca-vam alegremente as grandes rosas ver-melhas e os bouquets azues das nor-tencias.

Entramos de novo em casa, e umahora depois sentavamo-nos a mesa dojantar. Quando nos levantamos emquasi noite. Os negros dançavam Iafóra, acompanhados pelas pancadassurdas do batuque.

No terraço, ao fundo, estava ja pos-Ia uma grande ceia. Cessou então adança e começaram os brindes. 0*5arrojados romperam nos mais besl'aln~gicos discursos que imaginar se pos-sam.

Os menos afoitos e mais delicadospartiam á faca, espetando com o garfo,o pão no prato. Outros, mais philoso-phos, comiam vorazmente, sem seperturbarem com aquelle scenario tãoextraordinário para elles, e ainda ou-tios, depois de terem saboreado docesd'ovos, de leite ou de batatas em ca-lices, acceitavam umas empadas dogallinha ou um boceado de leilão. A'-guns recitavam versos, e faziam sau-des cantadas ; raros eram os que sedeixavam em silencio. Mas onde esta-va a Rosalia, que por ninguém toivista ?

Acabou-se a ceia, e sahirain iodossem pensar na velha ! Voltaram paraa dança ao ar livre, illuminadas pelaslabaredas avermelhadas das fogueiras,onde ns criançasfassavam canas e ca-rás. Os parente- e convidados da casajogavam e dançavam nas salas. Eupreferi debruçar-me na grade de ma-deira da varanda fora, apezar do frio,a vêr dançar os negros.

Elles, possessos, cantando n'umatoada, melancholica, exeutando as maisextravagantes posições, desenhavam-secomo sombras phanlasticas noclarãiavermelhado das luzes. As mucamasrequebruvam-se, inclinando sobre ohoinbro a cabeça bem penteada de ca-rapiuha fofa, enfeitada de borboletas eeslrtllas de aço, e levantando de vezem quando os braços arqueadameute.Depois sabiam os pagens, dançandocom uns paços miudinhos, de calea-nhares quasi unidos, recuando, avau-çundo e torcendo, para acabar, o cor-pon'uma volla rápida ; os outros pa-ravani fazendo circo e rompiam depoisem saltos e cabriolas.

E são h- meus! Sanlo Deus I pensa-va eu contemplando esses vultos ne-gros, nervosos, que se crusavam nasmais absurdas reviravoltas, eum umaalegria brutal.

Julia Lopes de Almeida.

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A FAMÍLIA

Oonflicto entre Portugale Inglaterra

Suscitou-se ultimamente grave con-

ílicto entre Portug d e Inglaterra, do

qual tem resultado aos dois paizes unia

altitude hostil, capazes de leval-os á

solução fralercida di uma guerra ter-

rivel.Portugal, velho coni|iiislad.ji-, apis-

sado ha séculos do to IJ o território co-

lonisado em África, possuiu ás margens

do Zambeze grande extenção tle Iorn-

torio, que civilisava e geria com a sua

reconhecida competência e autoridade.

A Inglaterra, que, de ha muilo, se

acostumara a augment.ir a sua exigui-

dade á custa das grandezas conquista-

das pelos portuguezes tentou despoja-

lal-03 d'esse território. Armou ciladas-,

criou emprezas e esquadras; enviou

para lá colonos e soldados; traçou li-

mitos, fez tratados, inventou pmteelo-i';uS js ; o ao fim de toda a sua manha

política, eil-a tentando desalojai os le-1

gilimos possuidores para tomai' couta

da terra oecupada, ameaçam! de guer-ra os seus adversários.

A' Ultimação do gabinete de S. .la-

mes |iara evacuar os territórios cobiça-

do' ou sujeitar-se á .sua uzucpação,

ro-spondeu-lhe Portugal eom a exalta-

cão do seus filhos, cl.imautes, desvel-

jtll|ijs, e cheios do ardor patriótica,batendo o pé ao ou-ado e désabusadu

bretão.L'm governo fraco que cedera á iuli-

inação inimiga, foi apeado do poder e

posto pela rua da amargura.

Corajoso e patriota, manifestou-se o

-rei ü povo rugiu ameaças. As colônias

bateram o pé ! E os inglezes á estas

horas reconsideram a sua ousadia, bem•«renlcs de que, emb.ram façam crusar

os mares poderosas esquadras, não se-

rão capazes de internar soldados pela

África, porque lá encontrarão a iulre-

imlez dos portuguezes, e a coragem in-

domável .Jos negros.Tiiil,, isso não esperava a Inglaterra.

Vcostumada a tomar a si a p .ssu do

que c-jiiquisliiram os outros, hão seria

capaz de julgar que um paiz (pie olla

fez pepiouü, se atrevesse a ultronlar o

seu grande poder.Ma* cngaimu-se, p >rque os portu-

guezes identifica hsVu.i só pensa-menlode defender os seus direitos, re-

v-Iam o disiguio de rechaçar o inimigo

um loios os l.-rren is.Bello exemplo de patriotismo d esse

povo, que e na hi-toria exemplo de ci-

vistnoe inlrepidez!Bem haja a providencia que vos en-

siuuu o caminho dos mares, na desço-

berta de continentes -, porque os paizes

que descobristes, podem ufauos alçar o

pavilhão das quinas, certos de que, onde

for sacrificado um de seus direitos, cor-

i-erá o sangue portuguez em defeza das

conquistas da caia pátria!

•JOSEPUINA DIS AZHVBDO

O futuro "presidente

(Conclusão )

Fallavam de pessoas de condição

humilde, quasi desprezíveis muitas

vezes, mas cuja intelligencia, aclivi-

dade o forço conquistaram cousas es-

tupendas no mundo das artes, no inun-

do das"iencia e no mundo da política !

\lludiam etieomiasticamcnle a um ra-

chador de lenha que foi chefe de esla-

do; a um lilhu de um tanoeiro quechegou a marechal de campo a prin-ripe; a um teeelão, nascido n'uin sub-

terraneo, que foi um grande botânico,

e a outros assim.Essa gente toda era apontada na

historia pelo seu valor extraordinário,

lendo alcançado, a par de grandes for-

tunas, o respeito universal 1

Emquanto osperava que lhe rece-bessem o numoro, no Arsenal, iare-

polindo de si para si a conversa dosvelhos, a tal ponto que a chamaramde distrahida...

Distrahida ! O (pie ella estava eracogitundj no futuro do filho !

Interrompeu de novo a costura,deu mais luz ao candieiro, dobrouumas camisolas já promptas e recos-lou-se um pouco, descançando as cos-

tas que lhe doiani. O pequenito mo-veu-sc ; ella arranjou-lhe a coberta

delicadamente, para o não acordar,e poz-se a olhar para ello u'um ex-

tase.— lia de ser formoso, ha de ser

amável ! virá uai dia em que o soli-citem outros amores, em que a paixãodc uma mulher o attraia a ponto de

esquecer-me ! O sacrifício que eu fa-

co, as dores que soííri, as forças queeu esgoto amamentando-o, ten Io o ao

collo, perdendo com ello as noites,

serão cousas ignoradas, ou de queelle não laça senão uma idéa iucom-

pleta ! Meu liiho ! como ou já lenho

mimes (rêssmnrtra—que—eUe—Iwuie —

absorver ioda a intensidade da seu

affecto ! Mas não ; ella será toda mei-

guice o amor, ella ajudar-mu-ha afazel-o feliz I... Elle é iiileliigsnte...elle lera mesmo um talento notável !

Será grande; será respeitado... as-sumirá o cargo mais alto... meu íi-lho I como elle é imiocenle ! cum elleé puro !

Qual será o meu orgulho ouvindochamarem-no : « Senhor daut >r ! » evendo-o depulado, a falar nas cama-ras, com muita nobreza e dislincçao*.correcto, sympalhico e ju-to! De-

pois... se is4o chegar a ser republica,cumo andam a dizer por ahi, porquenão será meu filho o presidente ?

N'e-le ponto os olhos da pobreidearia ; asmulhi-r Lsiiipejaram de

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A FAMÍLIA

suas grandes pupillas verdes torna-ram se verdadeiramente luminosas,atravessadas por uma alegria offuscaii-le, como se a sua alma fosse uni in-tenso foco de luz!

— Presidente !... presidente !...Sim, elle será presidenle! Quandopassar pelas ruas toda a genlo o com

primentará ; e os minislros fardadoe veneraveis, curvar-se-hão diante deile com o re-peilo devido a um supe-rior, nos grandes salões tle um palacio onde elle habite. Terá carro.! luxuosos, cavallos e criados... A' suavoz abrir se hão as prisões, os hospitaes, os asylos, Iodos os edifícios ondea desgraça more ! Clemente, consolaráos tristes levando-lhes o sen conselhoou no seu perdão a espoiança o a ven-tura ! As mães atirarão flores a seus

pées; os moços saudal-o lião alegre-menle e as creanças cantarão hymnosagradecoiido a sua protecção, o seuamparo, a sua sympalhia. A todos osrecanlos escuros descerá o seu olharluminoso ! para cada chaga lera umbalsa mo, para cada magna um conso-io, para cad;iQÍijpoLtiU-oJt aÍMUt-açãe-4-A cadeira de velludo que lhe destina-rem em todos os lugares em que tenhade comparecer, quer seja um lugar•de festa, quer seja um lugar dedos,será sempre cercada de íi -ros atiradasahi pela multidão compacta do povo,que o proclamará unanimemente, omelhor dos homens !

Sim ! meu filho será o melhor doshomens ! Tritimphaute, poderoso,aclivo, bello, adorado, rio, hu tle It-var-iiie pelo braço, a mini, velha, can-cada, tremula, hesitante, e dirá ávista de toda gente, sem se envergo-nhar da minha ligura e da minha

.ignorância :« lista é minha mãe ! »A costura do Ar.-cnal chira no

chão, a visionária mulher tinlia lagri-

mas nas faces, lagrimas de júbilo, queaquelles pensamentos lhe davam. Ner-vosa, hysterica, doente, deixára-seembalar de tal maneira pelas douradaschimeras d'aquelle sonho irrealisavel,

que o julgava já exeqüível, certo.Voava pelo azul da sua fantasia,

quando ouvio na escada os passos irre-

gulares do marido, batendo com a sua

perna de pau. Correu a abrira porta.O homem entrou carrancudo, cou-

fossando logo, á queima roupa, estarsem emprego... Implicâncias e quei-sas do um fiscal... guardava as ex-

plic-ações para o outro dia; eslava cau-

çado. Deitou-se e adormeceu.A esposa, arrefecida, gelada por

semelhante noticia, vollou para a cos-tura ; duplicaria o seu esforço, fariaserão até mais larde e talvez Ioda a

noile.No entanto o relógio cançado ia ba-

tendo, uma... duas.,. tres... qua-tro... até a décima segunda pancadada meia noite; e uo berciuho de vime

dormia regalado o futuro presidente,com a cabeça enterrada na almofada eas ui___o*-jlnhiiS_4iaiiii.ilii,s espalmadas so-

bre a colcha de cor.

jUl.l.V L)1*1SS DE AlIÜSIDA.

Pensamento

Como o nauta ama a estrella fulgurante

Que sorri ü'entre o véo celestial

Como a casta donzella terna, amante,

Ama a cândida flor do laranjal;

Como a hera ama o tronco do carvalho,

Como o regalo liso o poado em Uòr,

Como o pranto da aurora o verde galho,Crisol esmeraldino e seduetor ;

Como o poeta a inspiração ardente,

Esse fogo do ceo brilhando além

Assim ama saudoso o filho ausente

Tudo o (jue lhe fallou do pátria, uu mãe.

Uermbnegilda Lacerda

Economia domestica

E' ella indubitavelmente uma dasbases principaes da felicidade do lar.

Não somente a casa do proletáriomais ainda a do abastado tem d'ellaneeesidade.

As despezas devem ser pauladassegundo as rendas de cada um.

A economia domestica pertence mui-to particularmente á mãe de familia.

A bôa dona de casa regula os gastosurgentes, de forma que o esposo nãopossa notar desperdício com o quemuitas vezes é fructo de um continuoe pesado trabalho.

Se dois mil reis forem suficientespara alimentação da familia, porquegastar tres ?

Seos vestidos podem ser -feitos emcasa, para que mandal-os á modista ?

Se a mãe pode e até deve ter gostoem amamenlar o filhinho, qual ó a ra-záo pur pie ha de dal-o a criar, a ou-Ira mulher, que, certamente, não iráprodigalisar-lhe os carinhos, e cuida-dos lão precisos ás criancinha.-' ?-"oV-iTToãlíõ luxo, da ostent.içâo, éuína|pes*-ima conselheira.

Se as senhoras, tanlo mães de fami-lia como as meninas solteiras, sou-bessem o quanto é bonito e apreciado,vel-as roto um traje de goslo, cortado ecosturado pelas suas próprias mãos,por certo não o mandariam á costurei-ra ; mesmo porque muitíssimas vezeso custo do feilio excede ao da fazenda,e está claro que, feila esta economia,em ve/. de um, s Tãod >iso.; vestidos acoinpivr.

Não concordamos nem parece nosbem «jue, com o fito ds agglomerar for-tuna, passemos mal, privando-nos ásvezes até do indispensável pura a ma-nutenção.

Eesse procedimento que uão mereceoutro nome senão o de — miserável,—

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6 A FAMÍLIA

não eslá adequado ao nosso modo de

pensar.Da economia á avareza cremos gran_

de distancia.

Comer pão du:'0 porque ficouda ves-

pera, é uma economia ridícula ; poisnão será melhor comprar Iodos os diasapenas o preciso'?

A economia tamb.m precisa ser os-tudada; lem como tudo regras indis-

pensaveis; nem todos sabem a arte deeconomisar, ainda que muitos desejemsabel-a e oulros jaclem-se do pol-a em

pratica de uma maneira admirável.

A uma senhora ouvimos nós dizerha tenpjs:— Ku nâo mando meus fi-lhos á essola porque não tenho meiosapra isso; o ordenado de meu maridonão chega para tanto, eu mesma lhesdou lições.

E nós que por alguns momentos a

julgamos uma verdadeira mãe de fami-lia, bôa, activa, ajuizada e econmica,tivemos d'ahi á poiro o desgosto de co-nhecerquo ella, n_qm. nãn sahiu a '!""-ca aprendera, era a arte de econonii-sar, visto que mandava costurar fora aroupa da familia, porque dizia ella:—Os arranjos do lar e os filhos não medão tempo para isso t

E' porlanlo esta uma das economia'7de que tratamos já, que classificamosde ridículas.

Imaginem que os pequenos a educareram apenas dois, pois que o terceiroíilhinho ainda estava no berço, — amensalidade paga geralmente aos pro-fessores de primeiras lettras é de cinco

"npil réis mensaes, logo, aquella senhora

para poupar dez mil réis gastava talvezo duplo com o trabalho que deixava deexecutar!

Isto além de que, economia em ma-teria de instrueção, raras vezes é ac-ceitavel.

Menos «toilettes» e mais professores,

dizia muitas vezes um bom e sábio ve-lho que oufora conhecemos.

Persistimos pois, em que, a econo-mia é uma das mais sólidas bases so-bre que pode descimçar o grandiosotemplo chamado—lar doméstico.

Riivoc.vTA de Mello.

secgAo alegueNuma reunião de andaluzts trata-se

de homens altos.Havia um na visinha terra que

para entrar em casa tinha de andard*3 gatas.

E eu conheço um. replicava osegundo, que para ouvir o que osmais dizem, tem de voltar-se de pernaspara o ar, e ainda assim é necessáriofaltar-lhe alto

Pois tenho um amigo, aceressen-tou o terceiro, tâo extraordinariamente

alto, que para assoar-se tem de subira uma escada e espetar o lenço numabengala, porque ne n assim é capaz dechegarão nariz.

*

Um saloio; prestes a morrer, man-dou chamar o prior da freguezia.

Havia duas horas que o portador ba-lia de mansinho á porta do padre,quando este despertou.

Venha depressa, Sr. prior, hauma pessoa que desde hontem á noiteestá para morrer.

Porque não bateste com maisforça? disse o prior, o homem já temtempo de estar morto quando eu láchegar.

Oh ! não, retrucou o saloio,os visinhos prometteram entretel-o,até que vossa reveremlissima che-gasse. *

Uma mulher leva um lombo na rua.Alguns gaiatos põem-se a chacotear.Um indivíduo que passava, indignado

Radiação final

(A MINHAS FILHAS)

Fnqnero^Jjjhas^qiifl da minhh lyraTãríTvos seja o derradeiro accordo;

E que este canto qne de vós se inspira,Meu grande affectu matei nal recorde.

.Imitei n'urn livro a traducção sinceraDe ludo quanto na minha alma estava ;E, como ás rochas se enrascou a hera,Ao meu cantar o nosso amor se trava.

Os desenganos da experiência dura,Mestra implacável que a chorar ensina ! —Niwa vos firam, na cruel torturaQue a mim me coube em aziaga sina...

Vi-me só-inha, sem ter longe ou peitoNinguém que ás dores me pozesse termo ;Tendo a tristeza no meu lar deserto,Tendo a saudade no meu peito enfermo.

Hoje que tenho a suavisar-me agrurasVosssos sorrisos que iunocencia inílora ;Hoje, que as vossas affeieões lão purasTornam-me a vida, desejada agora,

Sinto a existência a abandonar-me breve !Vejo o meu sol que empallidece e linda !F.' vosso, filhas, pertencer-vos deveEste reverbéro que expede ainda.

Sinto os enlevos da paixão mais nobre,Pois vós, queridas, sois o meu thesouro;E, se este cofre é tão singelo e pobre,Terá ao menos duas chaves de ouro !

D. Marianna Angélica oe Andrade.

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A FAMÍLIA

tfom aquillo, distribue algumas valeu-tes bengaladas nos gaiatos, pelo quevai preso.

Apresentado á autoridade, pergun-tou esla:Porque motivo estava o senhor

a dar pancada nos outros ?Porque não se deve insultar uma

mulher que cáe.Quem foi quo lhe disse islo ?Foi Victor Hugo.Ah, sim? Soldados procurem o

tal Victor Hugo e incitam os dous ua¦cadêa.

*Numa phurmacia:O' Sr. F., laça o favor de dar-

me uma porção de arthesivo.£' cousa que não tenho.

. — Lm pouco ao menos, que ó paracurar um golpe.Já disse que não tenho.Com a proclamaçao da Republica

acabou-se o adhesivu nas pharma-cias.

Amor d'um valenteHavia n'essa noite um vago odor

•d'occuIta ambrosia, forte, voluptuosa,que faz a pobre Julia arfai'd'amorcurvada na janella, toda anciosa.

Em baixo alguém chegou. Houve um rumore uma voz doce, meiga, setinosa :—K's tu ? diz para cima com ardor.E olla: Sou, Jesus, olha, estou medrosa !

—Porque,«migncn?» debaixoooutroobjecta.—Nem o pae se deitou nem in ia o mano.- Quo importa, minha q'rida JuPeta ?

se sou valente ! diz eom ar ufano.Mas fez-se um leve ruido o o grande athfetafoge, suppondo chegar o pae tirano !

1). Elisa Caodur.

A terrina fluminenseVisitamos hontem o grande estabelecimento

dos Srs. Custa & Comp., á rua da Assembléan. 104, e verificamos o rico sortimento quepossuem de porcellanas, crystaes, objectos paratoilette, louças, trens de cosinha, espanadores,vassouras e mais utencilios próprios para umacasa de família. Neste gênero é a casa que me-lhor se recommenda, quer em preços, querembom gosto, no fornecimento do taes objectos.

llecoi-.iiendamos pois com todo o prazer essacasa ás nossas leitoras, que não podem encon-trar no gênero outro estabelecimento que me-lhor lhes possa servir.

Com o CorreioNa minha digressão pelo Estado de

S. Paulo, lenho tido o desgosto de re-ceber muitas reclamações de faltas dosns. distribuídos d'/i Família.

Tendo-os eu feito expedir com regu-laridade e em boas condições, nãoposso senão attribuirao Correio da Ca-pilai Federal essa grave falta.

Em S. Paulo, por exemplo, númeroshouve-que deixaram de ser distribui-dos por alguns assignantes, ao passoque oulros os receberam.

Ao digno director da repartição doscorreios, pois, reclamo serias próvideu-cias no sentido de corregir essas faltasque são prejudiciaes á minha folha e atóao bom conceito dessa repartição.

COMO NOS TRATAM

MOTAS DOMESTICASPara se reliescar a agua, o vinho ou

qualquer bebida ou qualquer prepa-rado, basta mergulhai- o recipiente emque esteja o liquido em uma vasilhacontendo: sal amoníaco 5 partes, ui-trato de polassa 5 partes, agua lü par-te .

¥

Contra os accessos de febre intermit-leme, que tenham resistido a medica-ção apropriada, convém fazer uso to-dos os dias, pela manhã, de uma mis-lura de salsa da burla o leite ferventedeita-se um punhado de salsa cortada ;depuis de fria a mistura, filtra-se atra-vez de um panno, eo doente deve lo-mar em duas porções, com o inlervallode meia hora entre a primeira e a se-giiuda.

Com este singello tratamento, segui-do por espaço Ue Ires dias, consegue-sedebelar febres inteniiillenles que te-nliam zombado das preparações adi-vas de quina.

— I'.' perigoso forrar com p p 1verde (juaitus de dormir, gabinetes detrabalho e quaesquer aposentos de casaonde se tenha de passar grande partedo dia. Os papeis verdes de forrar ca-sas são geralmente tintos com verde deSchweinfurt ou com verde de Scheele,com base arsenical, e a poeira qued'elles se desprende é nociva á saude emuito loxica para pessoas fracos. Ospapeis avelludados são os mais peri-gijSOS.

Fiel ao seu programma, o n. 41 dosemanário 4 Família, que hoje se des-lijbue, traz muitos e bons artigos dou-liinarios sobre educação e interessesda mulher, variada collaboração emprosa o em verso, conselhos é liçõesproveitosas, secções humorísticas,

"etc.

ü'0 Paiz.*A FAMÍLIA

Esta excellente revista, dedicada ;íeducação da mãe de família, redigidapor senhoras, e de que ó proprietária eredactora principal a Exma. Sra. D.Josephina Alvares de Azevedo, deu-nos o prazer da sua 22' visita.

Josephina de Azevedo, Zalina Ro-lim, Guiomar Torrezão, Maria Ama-lia Vaz de Carvalho, Analia Franco,Jeanno Thild , Maria Freitas, Marialiamos e Luiz i Thiempout, são os es-pintos emancipados de velhos e tolospreconceitos —que julgam a mulheradslricta unicamente aos deveres depregar botões e fundilhos ás ceroulasdo marido — que com as sjintilaçõesdo seu lalonlo nos vêem provar que amulher hoje não satisfaz só como donade casa econômica e .uceiada, masque e apta também para ser a compa-nbeira espiritual do seu mari lo e aeducadora de seus filhos na aecepçãoem que essa palavra deve ser tomada.

Cumprimentamos as gciililissitiiasoollaboradoras d'A Família a agrade-cemos a delicadeza da visita.

Oo Lcopoldinente.

I). JOSEPHINA DE AZEVEDOAnte-hontem esteve nesta cidade a

Exma. Sra. I). Josephina de Azevedo,que anda em excursão por este Estado,tratando da collocaçãodW Família»,primorosa revista liíteraria e recreati-va «pie a talentosa Sra. redigi no iliode Janeiro, e que dedica-se com vehe-li.eucia aos interesses da mulher, aquem deseja collocaruo degrau em quese acha o homem, no sentido de exer-cer toda e qualquer funeção da vidaactiva. que até hoje lem sido privilegiodo sexo barbudo.

Cordialmente agradecemos a honro-sa visi Ia que se dignou dispensar-nos agentil D. Josephina, desejando-lheprospera viagem e bom acolhimento.

Da Gazetinha.

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A FAMÍLIA

A FAMÍLIA

Becebemos o n. 45 do segundo an-

no do jornal que se intitula ,1 Famiha

e dirigido pela conhecida e distincta

escriploraaKxma. Sra. D. Josephiua

de Azevedo. E' o único jornal que

possuímos collaborado unicamente por

senhoras, que demonstram pelos seus

escriptos os recursos inlellecluaes de

que dispõem e o adianlaiUamenlo da

educação feminina entre nós.

Tom e<se jornal, que merece ser

lido, por quantos presam ns lettras,

como esciipturas as Exmas. Sras. D.

Analia Franco, D. Maria Zalina Ho-

Iim, D. Ignez Sabino de Vinho Maia,

Baronesa de Mamanguape, 1). Adelia

de Barros, D. Marianna da Silveira,

Mlle. itennottb, D Maria Ramos, I).

Paulina A. da Silva, 1). Emiliana de

Moraes, I). Alzira Rodrigues e a Dou-

tora D. Izabel Dillon.

Este numero, na sua Galeria Espe-

ciai, traz o perfil do nosso collega

Souvenir.

Do Diário do Commercio.

A Familia

D'esta vez A Familia, que. como

sempre, nos apparece toda calila, ca-

plivandoa gente, dedica o 7° quadroda sua Galeria Especial ao Souvenir.Como deve estar inchado da retrataçãoo cidadão Gregorio ! Ter assim umaslinhas Ião amáveis, tão mimosas, damimosa e da amável Ufa, pseudony-mo que oceulta o nome de uma gentilescriptora ! E' para fazer estalar deinveja I

« O Souvenir é a abelha altica dasmodas e dos olhares.» E' 'Ufa,

quemdiz. E Zéfa que o diz, é porque é. Fe-liz Souvenir I

Alem da sempre espiriluoí-a Zéfa,oecupam as columnas d'esle ultimonumero da Familia, as illustres cs-criptoras Julia Lopes de Almeida, Ju-lia Cortines, Analia Franco, MariaII,Iim, Izabel Dillon, lgnez Sabino,Leonor Adelaide de Figueiredo o Bran-ca da Luz.

Da Gazela de Noticias.

INDICADOR

Médicos

Dr. Acacio m Araújo. — Medicohomoeopalha. — Especialista das mo-leslias de senhoras e crianças, cônsultorio, rua da Quitanda n. 59, das 10ás 12 horas d,i manhã.

Dn. Mormua Guimarães—Medicoc o ulista; consultas, rua do Ouvidorn. 145, das 9 ás 10 da manhã e í ás-4 da tarde, residência, rua ConselheiroPereira da Silva n. 'i.

Dn Rodrigues Barcellos — Medi-co e parleiro. Consultório e residênciaã rua da Prainha n. 82.

Dn. Daniel De Almeida, pai teiro—Consultório, rua do Ouvidor n. 41, das

ás 5 horas da (arde; residência,Yilla Izabel — Asylo dos meninos des-validos.—Chamados a qualquer hora

Dr. Souza Dias — Medico e opera-dor —Cons. das 12 ás 2, rua de S.Pedro ii. 53. Residência rua da Igre-jiuhan. 1.

Dn. Eduardo de Magalhães —Tra-lamento dc febres, lendo longa pralicana casa dc saude de Nossa Senhorad'Ajuda. Vaccina aos sabbado». E'en-con Irado á rua dos Ourives n. 153,onde recebe chamados a qualquer horado dia ou da noite.

Dn. Queiroz Rirmos — Medico e operador,devolta de sua viagem, dá consultas das3 ás

horas da tarde á rua Primeiro de Março n 21Itesid. Praia de Botafogo, 60.

Dr. Rebello — Consulíorio, rua daQuitanda n. 47.

Dr. Bulhões Marcial - HesjdS. Januário n. 251). Consult S. Pe-dro n. 53, das 2 ás 4.Da Eduardo Moscoso. - Esp, Operaçõese moléstias de crianças. Cons. Primeiro defcço 103. fies. Malvino Reis 6 A _ Teleph.

Dil Airerto de Seoue.ra-Medico c ono-«dor. Especialidade.- febres, sypbiles, affec-coe8cardi.ee pulmonares. Itesid. e consult-"na do (.onerai Camara n 74, das 12 ás 3.'

Dr._Mi!NDWçA--Mediro e opera-dor-Cirurgia geral, moléstias dos ossose vias ounuarias. Cons. Rua da Al-;"Hlega n. 65. Ros. rua Souzafranco n. 28 0. (Villa Izabel)

ADVOGADOS

De. Xaf.br SnvimA-Eecriptorio, rua dofiosar.o,44, das 9 ás 4 horas da tarde, resi-dencia, Praia do Hussell, 16 D.

Con. Saldanha Marinho— rua doRosário n. 57, das 10 ás 2 da tarde.Dr. Pediu. Soares - Escriptorio rua de S

Pedro 23, das 11 hora. ás 3 da tarde, residen-cia, Olinda 24.

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Dr. L. 1». Costa—Cirurgião den-lista.Ouvi lorl45. Ext. e obtur. abso-lutainenle sem dor, (Anest. local).Dentaduras por todos os svstemas, tra-"alhos garantidos, preços ao alcancede todos.

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Dr. Mart.ns Cardo/o, formado pela facul-dade de medicinado Riode Janeiro, tem o seuconsultório á rua dos Ourives 55, 1». andar,das 10 ás 4.

Cartomante — Mme. Mercedes me-dia vidente e de transporte para qual-quer descoberta: rua do Regente n. 17,sobrado.

Typographia d' A Familia