8/8/2019 A Fala e o Rio

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Fonte Digital

Documento da Autora

2003 Priscilla Silveira

priscilla@integrafonoaudiologia.com

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PREFCIO

No h algum no mundo totalmente fluente. Todos ns, em determinados

momentos hesitamos, repetimos, bloqueamos, gaguejamos. A disfluncia o lugar de

subjetivao, o lugar onde a lngua, enquanto outro, faz efeito na criana, que joga com

as regras e levada a assemelhar-se fala do adulto. Esta disfluncia constituinte

do sujeito e permanece presente no discurso do adulto, uma vez que o conceito de

fluncia ideal.

Priscilla Silveira escreve seu segundo livro infantil, desta vez estabelecendo uma

analogia entre o rio e o movimento da linguagem e entre os troncos e as restries da

fala, a disfluncia, desmistificando a dicotomia fluncia x disfluncia.

Alm de ser uma deliciosa fonte de saber para as crianas de todas as idades,

este livro atinge, especificamente, a classe de profissionais e estudantes de

Fonoaudiologia e Letras, bem como o pblico em geral.

Nadia Pereira Gonalves de Azevedo

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Como costumam fazer todos os sbados, Pietra e seu av forampassear no bosque. Os dois adoram passar o tempo juntos porquePietra muito curiosa e seu av bastante sbio sempre respondesatisfeito as suas questes.

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Depois de discutirem sobre as cores das borboletas quesobrevoavam as plantas, Pietra correu para a beira do rio e admirou-se:

Vov, como esse rio bonito! Parece que tem vida! Eu queria queele falasse...Ele fala, Pietra. S no utiliza palavras como a gente. Respondeuo av a mais uma pergunta da curiosa menina.

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S que desta vez a garota no entendeu:Como assim, vov? Voc no esta ouvindo o barulho das guas? Perguntou o sbio

velhinho. Estou! Veja, vov, a gua bate naquelas pedras, naquele tronco,desce formando uma pequena cachoeira... Falou Pietra maravilhada. verdade disse o av h partes do rio em que a gua correfluente e em outras no.

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Fluente? Estranhou a garota. O que isso, vov? Fluente algo que ocorre sem interrupes. Quando falei que hpartes do rio em que a gua corre fluente porque no h, nestas

partes, pedras, troncos... que atrapalhem seu percurso. Veja aquelaparte do rio! Apontou o av um exemplo.

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Pietra ficou feliz por ter entendido e disse: mesmo, vov! Mas ainda bem que a nossa fala diferente dafala do rio. J pensou se tivssemos pedras,

troncos...Interrompendo as nossas palavras?!

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Os dois riram da comparao feita pela garota. Em seguida, o avaproveitou sua observao, para ensinar-lhe mais uma lio: Mas se voc acha que a nossa fala totalmente fluente est

enganada, minha neta.E no , vov? Mais uma vez ele conseguiu aguar a curiosidade damenina.

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O av comeou a explicar: Muitas vezes, ns tropeamos nas palavras*, quer dizer,repetimos, prolongamos ou fazemos pausas quando falamos. como

se estes efeitos fossem as pedras e troncos... que no nos deixamser fluentes totalmente. mesmo, vov! Muitas vezes, quando estou pensando no que falar,eu fao: .... Disse Pietra.

*Somos disfluentes.

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Muito bem, minha neta! A disfluncia nos ajuda a construir a fala e,alm disso, h outros momentos em que no somos fluentes: quandoestamos nervosos e ansiosos, ao falarmos uma palavra difcil, quando a

criana est aprendendo a falar...Poxa! Eu nem havia percebido isso! Admirou-se a garota.

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Pois , Pietra, e assim como as pedras no impedem o rio de correr,a disfluncia no nos impede de falar. Ela faz parte de nossa fala,assim como as pedras e troncos compem este rio que voc achou to

belo.

Ensinou o av.

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O sorriso abriu-se no rosto de Pietra. Ela havia aprendido mais umalio naquele dia.