A fabula dos feijoes cinzentos
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A fábula dos feijões cinzentos
Em tempos que já lá vão existia um reino chamado
“Jardim-à-Beira-Mar-Plantado”, que era Portugal.
Neste reino todos se conheciam pelos seus nomes e
viviam em paz e sossego uns com os outros.
Tudo aconteceu porque
o feijão Carrapato tomou
conta do Sol, que para
ele simbolizava a
liberdade de criar. O
feijão Fidalgo desviou a
Água, que deveria ser
distribuída por todos. O
feijão Frade tomou
conta do Ar, que deveria
dar o direito de pensar.
Certo dia, ao lavarem
a cara nas gotas de
orvalho, os feijões
deram um grito de
aflição, ao verem-se
estragados e doentes.
Tristes e coitados,
viveram assim durante
48 anos.
O tempo ia passando, sem que nada mudasse a cor
do reino, até que o feijão Vermelho, que era o mais
refilão, começou a falar baixinho aos ouvidos dos
outros, dizendo que o Sol, a Água e o Ar eram de
todos eles.
O feijão Canário semeou no vento canções
proibidas no reino que falavam de liberdade,
igualdade, fraternidade, justiça e democracia.
O feijão Catarino escrevia nas folhas de couves que
eram os jornais do reino.
Os feijões Fidalgo e Carrapato sentiam-se
ameaçados e pediram apoio ao feijão Frade. E
quando estes três mandões berravam, alguns feijões
ficavam com medo.
Os mandachuvas do reino tinham ao seu serviço os
feijões Rajados e Verdes que eram os seus olhos e
ouvidos a quem prometeram um raio de sol e uma
gota de água de vez em quando.
As vozes dos que discordavam
começaram a engrossar e os
mandachuvas cada vez ficavam
mais fraquinhos e desesperados.
O feijão Carrapato inventou um lápis com dentes
afiados e azuis que se divertia a abocanhar as
palavras proibidas que se encontravam nos livros,
nas músicas, nos jornais e levou-as amarradas de
pés e mãos para a prisão.
O feijão Carrapato não gostou
dessa reação e mandou muitos
feijões brancos e rajados para
combater os primos dos feijões
pretos nas terras de além do
mar. Muitos morreram nessa
guerra em África.
No reino, alguns feijões calaram-se com medo, mas
na terra do avô do feijão Preto, os seus primos
levantaram a voz contra os que mandavam no reino
porque estes também queriam mandar na sua terra
.
Alguns desses feijões rajados decidiram deixar de trabalhar para
os ladrões do Sol, da água e do ar e reuniram-se nas noites sem
lua. Como as raízes dos feijões Carrapato, Frade e Fidalgo
estavam cada vez mais podres, deram-lhes um empurrão que os
fez cair por terra e nunca mais se levantaram. A partir desse
momento ninguém mais roubou o Sol e o Ar aos outros e a Água
começou a ser repartida por todos.
Daí nasceu a revolução dos Cravos.