A Experiência Amarga Do Cruzado

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  • 7/26/2019 A Experincia Amarga Do Cruzado

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    A experincia amarga do Cruzado

    Por Claudia Safatle

    Passados 30 anos do Plano Cruzado, o primeiro de uma sequncia de planos deestabilizao dos anos 80 para domar a inflao, a escalada dos preos continuaatormentando a vida dos brasileiros. No a superinflao da dcada de 80. !as oresistente "PC# $%ndice de Preos ao Consumidor #mplo& de dois d'(itos ) *0,+* em*- meses at aneiro ) no autoriza comemorao.

    / um consenso entre os economistas do pa's de que sem uma pol'tica fiscal que (eresupervit suficiente para reduzir a d'vida bruta como proporo do P"1 no 2aversucesso no combate inflao nem ta4a de uros civilizada.

    5ssa foi uma lio duramente aprendida durante o Cruzado. 6e l para c, entretanto, opa's teve importantes avanos e dramticos retrocessos que condenam a economia. /oeo 1rasil se encontra em uma lon(a e profunda recesso, com inflao alta e dficitnominal de 7 do P"1. dficit p9blico e o crescente endividamento voltaram aameaar a estabilidade da economia.

    6'lson 6omin(os :unaro, empresrio paulista, dono da fbrica de brinquedos ;rol,desenvolvimentista e obstinado, foi ministro da :azenda de a(osto de *78< a abril de*78+, per'odo que abran(eu da edio do Plano Cruzado, em -8 de fevereiro de *78=, morat>ria da d'vida e4terna, em -0 de fevereiro do ano se(uinte. !as era contra ambos.

    6ei4ou o (overno =0 dias depois de decretada a morat>ria, ao ser informado porbanqueiros e autoridades do (overno americano que o presidente da ?ep9blica, @osAarneB, 2avia desi(nado uma misso paralela para rene(ociar a d'vida e4terna. 6esde ofim de *78=, porm, 2avia no Palcio do Planalto severos reparos ao desempen2o doministro.

    # misso paralela, conforme informaes da poca, seria c2efiada pelo embai4ador do1rasil nos 5stados Dnidos, !arc'lio !arques !oreira. :unaro, que naquele momentoconduzia a rene(ociao com os credores e4ternos, ficou Eamar(uradoE e decidiu pedirdemisso, conforme relato de ?oberto !Fller, c2efe de (abinete do ministro que oacompan2ava nessa via(em. !arc'lio ne(a que ten2a c2efiado uma misso paralela.

    E 6'lson era contra o Cruzado porque considerava aquelas ideias muito fr(eis,precrias, como de fato eramE, conta Guiz Honza(a 1elluzzo, que foi c2efe da#ssessoria 5conImica da :azenda no per'odo. E5ra uma espcie de plano deemer(ncia, porque a inflao estava acelerando.E 5m aneiro de *78=, o %ndice Heral

    de Preos ) 6isponibilidade "nterna $"HP)6"& mensal, usado pelo (overno, atin(iu*+,+7 e o "PC#, *J,78. E:oi dif'cil convenc)lo de que era necessrio, porque n>s

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    sab'amos das limitaes. Con(elamento, c entre n>s, uma tra(dia. !as a2iperinflao se apro4imavaE, completa.

    E 6'lson era contra o Cruzado porque considerava aquelas ideias muito fr(eis,precrias, como de fato eramE, afirma 1elluzzo. #ndrea Calabi, secretrio)(eral do

    !inistrio do Planeamento sob a (esto de @oo AaBad, corrobora essa informao.ENo in'cio, o 6'lson resistiu adoo do Plano Cruzado. 6epois foi o (rande promotordo plano.E ministro passou a ser visto como o (arantidor da estabilidade e era2omena(eado por onde passava, Eo que, de certa forma, acabou (erando ci9mes noPalcio do PlanaltoE, diz ele.

    # :azenda alimentava o receio de que o con(elamento dos salrios pela mdia dos9ltimos seis meses subtrairia renda dos trabal2adores. E!uita (ente no entendia aindaque a pr>pria estabilizao de preos aumentaria a renda dos trabal2adores. "sso s>depois foi compreendido. Por causa dessa preocupao do :unaro e da equipe dele, o(overno terminou concedendo um reauste para o salrio m'nimo e para os salrios em

    (eral na sa'da do plano, o que aumentou a renda, a demanda e audou a desmontar oplanoE, e4plica Calabi.

    E 6'lson tambm no queria fazer a morat>riaE, asse(ura 1elluzzo. ministro insistiacom os credores privados e autoridades do (overno americano que se buscasse umaestrat(ia de sa'da da crise da d'vida ) que eclodiu com a morat>ria do !4ico em *78-), enquanto o que se notava por parte do (overno americano e dos bancos credores,naquele per'odo, era uma forma de convivncia com a crise at que o sistema bancrioabsorvesse as perdas.

    Para comear a rene(ociao era necessrio um acordo com o :undo !onetrio"nternacional $:!"&, cuos termos seriam recessivos. :unaro recusava um acordo com ofundo e defendia que o pa's no poderia cair em uma recesso econImica no momentoem que iniciava a sua democratizao.

    ano de *78< foi dramtico. 1rasil estava saindo de -0 anos de ditadura militar e aeconomia estava saindo de um auste e4terno brutal, decorrente da crise da d'vidae4terna. # inflao anual superava -00 ao ano e a 2iperinflao batia porta.

    # elaborao do Plano Cruzado foi tumultuada, marcada por profundas diver(nciasentre os economistas envolvidos na sua concepo. desfec2o do Ec2oque 2eterodo4oE

    foi a morat>ria da d'vida um ano depois, que suspendeu o pa(amento dos uros portempo indeterminado $o principal no era pa(o&.

    #p>s trs dcadas, ainda 2 2ist>rias mal contadas e ressentimentos no superados.Problemas econImicos que se ima(inava resolvidos foram ressuscitados, marcadamentea inflao e o desauste fiscal.

    A posse de Sarney

    AarneB assumiu a Presidncia da ?ep9blica como vice de ;ancredo Neves, eleitoindiretamente pelo Col(io 5leitoral. ;ancredo adoeceu na vspera da posse, marcada

    para *< de maro de *78< e veio a morrer em -* de abril daquele ano, mas AarneBmanteve como ministro da :azenda :rancisco 6ornelles, sobrin2o de ;ancredo, que

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    conduziu um pro(rama econImico duro, recessivo, nos primeiros meses do novo(overno.

    5m a(osto do mesmo ano, 6ornelles foi substitu'do por 6'lson :unaro, que ocupava apresidncia do ento 1N65 $1anco Nacional de 6esenvolvimento 5conImico& por

    indicao de ;ancredo, que o 2avia con2ecido durante a campan2a das 6iretas @. #inflao, a essa altura, apontava para 300 ao ano.

    Com apoio do P!61 e, mais especificamente, do presidente do partido, deputadoDlBsses Huimares, :unaro tomou posse da pasta responsvel pela conduo da pol'ticaeconImica com total aprovao da ind9stria paulista. AarneB o con2ecia dos tempos emque fora secretrio de Planeamento e de :azenda do 5stado de Ao Paulo no (overnode #breu Aodr, nos anos =0.

    :unaro, que 2avia se submetido a um tratamento de cKncer linftico detectado em *78-,era uma pessoa determinada e altiva, na avaliao dos que com ele trabal2aram.

    @oo AaBad, ministro do Planeamento, vin2a conduzindo discusses sobre a inflaoinercial antes da c2e(ada de :unaro ao (overno. Prsio #rida, um de seus assessores, foienviado a "srael para estudar o plano de estabilizao que 2avia sido adotado naquele

    pa's. # #r(entina, que 2avia feito o Plano #ustral em un2o de *78

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    Gara ?esende descreveL ENo !inistrio do Planeamento, 2avia pessoas que entendiamde macroeconomia, mas tin2am uma viso mais condescendente com a inflao e com aideia de que voc no precisava fazer um auste fiscal srio. ;anto que publicaram o talEGivro 1ranco do 6ficitE, sob inspirao do C2ico Gopes e do AaBad. 5ra um embateterr'vel. Na :azenda, as pessoas no entendiam de macroeconomia e eram, em

    princ'pio, a favor de um auste fiscalE.

    ENo in'cio, o 6'lson resistiu adoo do Plano Cruzado. 6epois foi o (rande promotordo planoE, conta #ndrea Calabi :unaro, na avaliao de Gara ?esende, Eera

    profundamente i(noranteE em macroeconomia. E;in2a uma viso que correspondia viso de empresrios paulistas da :iesp poca. 5le ac2ava, por e4emplo, que uros eracusto, t'pica coisa de empresrio, e diziaL El2a, subir os uros aumenta o custo dasempresasE. 5sse um efeito secundrio, desimportanteE, recorda)se. "sso, porm, nocomprometia outras qualidades do ministro, como Eseriedade e sentido p9blico demissoE, observa.

    descon2ecimento da macroeconomia no era apenas do ministro. Gara ?esende relatacom bom 2umor al(uns dilo(os que tin2a com @oo !anuel Cardoso de !ello quandoda elaborao do CruzadoL ) @oo !anuel, a sua i(norKncia em macroeconomia absurda, dizia. 5 ele respondiaL ) #ndr est braaavooo ) 2, @oo !anuel, voc leu esse livro assim, assimO per(untava. ) Muantas p(inas temO, devolvia. ) No sei.Por que, pIO 6eve ter umas 3 leio com mais de cem p(inas depois quevira um clssico. E5le era uma fi(ura. 5sse era @oo !anuel Cardoso de !elloE,comenta Gara ?esende.

    Muando Prsio #rida foi para o Planeamento, AaBad tambm convidou #ndr Gara?esende, que no aceitou. Com a c2e(ada de :unaro :azenda, :erno 1rac2erassumiu a presidncia do 1anco Central e c2amou Gara ?esende para assumir adiretoria de Pol'tica !onetria e o #rida para a diretoria de mercado de capitais. convite a #rida, no entanto, no se confirmou porque 2ouve uma presso de Guis Paulo?osenber( para pIr "bra2im 5ris e Guiz Carlos !endona de 1arros no 1C. !endonade 1arros assumiu a diretoria de mercado de capitais e Gara ?esende, a de pol'ticamonetria. #rida ficou no Planeamento at que, com o Plano Cruzado em est(ioavanado, 1rac2er conse(uiu lev)lo para a diretoria da rea bancria. 5ris no seincorporou quela equipe.

    E6epois que Prsio saiu do Planeamento, o ambiente piorou. /ouve um EsplitE entre a

    :azenda e o PlaneamentoE, conta Gara ?esende. Para comandar a Aecretaria do ;esouro) estruturada por @oo 1atista #breu ) o escol2ido foi Calabi.

    Eoc ima(ina o (rau de conflito e de atritos que isso produzia. 5ra desesperadorE,lembra)se Gara ?esende.

    # maioria dos economistas envolvidos na preparao do Cruzado era contra ocon(elamento de preos e salrios proposto por C2ico Gopes. !as aquela se mostrava a9nica Kncora dispon'vel, que o 1rasil no tin2a reservas cambiais nem flu4o demoeda estran(eira para optar pela Kncora cambial que anos depois, em *77J, veiosustentar o Plano ?eal.

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    5m meio a fortes embates naquela equipe, fatos prosaicos ficaram na mem>ria.1elluzzo lembraL E;eve uma reunio no apartamento em que eu e o @oo !anuelmorvamos. :oram todos, menos o 6'lson. # !aria, nossa empre(ada, confundiu oAaBad com o ator Cecil ;2ir 5la era muito en(raada, muito in(nua, e disse para eleLE5u veo o sen2or sempre na televiso, 2einOEE pa's vin2a da brutal crise da d'vida

    e4terna de *78-Q83, de duas ma4idesvalorizaes de 30 da ta4a de cKmbio parareverter o buraco das contas e4ternas e de uma inflao crInica. 6iante da fra(ilidadeda abertura pol'tica, naquele momento, era inconceb'vel para a Nova ?ep9blica impor

    planos ortodo4os e recessivos de combate inflao ) que, alis, vin2am sendoaplicados desde o in'cio dos anos 80, sem maior sucesso.

    debate se dava em torno de uma e4perincia totalmente nova, inspirada nos estudossobre inflao inercial elaborados por #rida, Gara ?esende e C2ico Gopes.

    No 2avia concordKncia, contudo, sobre o carter inercial da inflao brasileira.#limentada e realimentada pela correo monetria, a inflao, aqui, s> rea(ia para

    cima e aos saltos. s preos subiam 2oe porque 2aviam subido ontem. # inde4aoencarre(ava)se de perpetuar a inflao. tratamento, portanto, tin2a de ser de c2oque eno mais (radualista ) Eum c2oque 2eterodo4oE, com con(elamento de preos, comoC2ico Gopes 2avia descrito, ainda preliminarmente, em meados de *78J.

    1elluzzo no confiava na tese da inrcia. E!as inercial ou no, o problema quenaquele momento a traet>ria da inflao estava levando o pa's para uma situao2iperinflacionria. que 2avia de comum na equipe era o proeto de bloquear acamin2ada para a 2iperinflaoE, relata.

    6iante da fra(ilidade da abertura pol'tica, naquele momento, era inconceb'vel imporplanos ortodo4os e recessivos de combate inflao E5u sabia que 1elluzzo e @oo!anuel vin2am de Campinas Rda DnicampS e faleiL "2, a coisa vai ser muitocomplicadaE, conta Gara ?esende. EPara min2a surpresa, eu me dei muito bem com osdois, apesar das nossas diver(ncias conceituais, e, ao contrrio do que eu ima(inava,em uma primeira reunio com eles o @oo !anuel me disseL E#ndr, voc sabe que n>svamos ter que implementar al(uma coisa na sua lin2a, da sua ideia da moeda inde4ada.amos comear a fazer um (rupo de trabal2o para issoE. Gara ?esende e #rida 2aviamescrito sobre um plano de estabilizao cua proposta ficou con2ecida como EGaridaE.

    ri(inalmente, o plano contemplaria a coe4istncia de duas moedas. EN>s comeamos

    com a concepo de um pro(rama para ter duas moedas. !as o Aaulo ?amos, que era oconsultor ur'dico da Presidncia da ?ep9blica, nos disse que no podia, que erainconstitucional. 5nto passamos a desenvolver um proeto que 2avia sido adotado na#r(entina, com inspirao na moeda inde4ada, com as tablitas para fazer asconversesE, e4plica Gara ?esende.

    Naquele momento, Eparecia que no precisava de muito auste fiscalE, recorda)se. EAerias> uma questo de coordenao de e4pectativas, que n>s far'amos atravs das tablitas

    para a converso dos contratos.E # en(en2aria era de dif'cil compreenso. E# 9nicacoisa que os pol'ticos entendiam era o con(elamento. 5 o @oo !anuel, da :azenda,insistia que os salrios teriam que manter a inde4ao. Pronto, era o desastreE :unaro,

    porm, 2avia empen2ado sua palavra com o diretor de Pol'tica !onetria do 1C que ocon(elamento duraria apenas 70 dias. E;udo bem, so s> trs meses, a inflao vai

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    bai4ar muito, a (ente tem al(uma c2ance de se(urar isso com a pol'tica monetria e coma pol'tica fiscalE, pensou Gara ?esende, que passou a considerar a ideia de que ocon(elamento poderia funcionar como um catalisador das e4pectativas.

    O lanamento

    No dia -8 de fevereiro de *78=, uma se4ta)feira, o (overno decretou feriado bancrio eanunciou o Plano Cruzado, que compreendiaL a reforma monetria que mudou a moedade cruzeiro para cruzadoT a converso de todos os contratos pela mdia dos 9ltimos seismesesT o con(elamento de todos os preos e salrios, incluindo a ta4a de cKmbioT ae4tino da correo monetria.

    Aem ter a dimenso dos efeitos do fim do imposto inflacionrio, optou)se ainda por umapol'tica distributiva com as se(uintes decisesL reauste de *

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    AarneB e sua comitiva foram em avio da :#1 at 1arbacena, onde 2avia aeroporto, ede l se(uiram de Inibus para a cidade de ;ancredo. Por todo o camin2o entre as duascidades, fileiras de pessoas em ambos os lados davam vivas ao presidente. EAarneBestava ban2ado em uma popularidade e4traordinria naquele momentoE, recorda)se?icupero.

    5ntorpecidos pelo apoio que recebiam das ruas, (overno e partido levaram ocon(elamento lon(e demais.

    :unaro bem que tentou sair daquela armadil2a quando anunciou, em debate no Aenado,que o con(elamento no duraria mais do que 70 dias. ministro, porm, foidesautorizado pelo porta)voz da Presidncia da ?ep9blica, :ernando !esquita.

    #l(uns dos economistas que tambm e4perimentavam o recon2ecimento das ruasestavam incomodados.

    #o fim de 70 dias de con(elamento, :unaro c2amou Gara ?esende para l2e contar quesua tentativa de convencer AarneB a iniciar a liberalizao dos preos 2avia fracassadoLEl2a, eu l2e dei a min2a palavra, eu l2e disse que seriam s> trs meses. :ui falar com o

    presidente AarneB para acabar com o con(elamento e infelizmente no conse(uiconvenc)loE, disse. Eamos ter que prolon(ar esse con(elamentoE, completou. diretor do 1C, que considerava a possibilidade de dei4ar o (overno, retrucouL Eai seruma catstrofeE.

    economista no escondia a sua aflio. E5u fiquei de cabelo branco em trs mesesE,diz ele, que tin2a, ento, 3J anos. #o pai, o escritor tto Gara ?esende, desabafavaLE"sso uma impostura. N>s somos tratados como 2er>is nacionais, como se fIssemosmila(rosos, mas isso a coisa mais peri(osa que eu vi na min2a vida 5stou mesentindo... 5u no sei o que vou fazer. N>s vamos ser linc2ados ;oda essa idolatria vaise reverter contra a (enteE 5m un2o de *78=, foram todos para a reunio de Caras. #equipe do Cruzado e o presidente AarneB ficariam o fim de semana confinados na casade 2>spedes da ale, na prov'ncia mineral de Caras, para acertar a correo de rumosdo plano, pIr um ponto final no con(elamento e enfrentar o dficit p9blico que, com aqueda da inflao, comeou a aparecer e a se mostrar muito maior do que o ima(inado.Go(o na descida do avio, AarneB foi c2amado de E6eusE por trabal2adores das minas.

    EMuando fomos para Caras, o AarneB me c2amou e disseL E1elluzzo, voc precisa

    convencer esses meninos, eles so muito ovens, que n>s no podemos nos divorciar doPlano Cruzado dessa maneiraE. 5u disseL presidente, aman2 n>s vamos fazer umareunio e vamos apresentar os ar(umentosE, relata. 5stava comeando a Copa do!undo de 8= e 1elluzzo, um palmeirense apai4onado, ainda se lembraL E5u vi o

    primeiro o(o, ac2o que foi 1l(ica e !4ico, l em CarasE.

    que era para ser um encontro para colocar as cartas na mesa e definir as medidas pararetomar o controle da estabilidade, foi um verdadeiro fiasco. E5u fiz um discursodur'ssimo, voc me con2ece, todo mundo sabe que sou o E1eato AaluE, como diziam napocaE, afirma Gara ?esende. 1eato Aalu era um persona(em da novela E?oqueAanteiroE que a todo tempo profetizava o fim do mundo. E Prsio fez um discurso

    muito duro, coerente, combinado comi(o.E

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    Dma parte da equipe, no entanto, assumiu uma posio bem mais fle4'vel,principalmente AaBad e Calabi, se(undo Gara ?esende. 5 :unaro, embora ciente dosproblemas, era um incorri('vel otimista.

    Calabi tem uma verso um pouco distinta. Ae(undo ele, quando 2ouve a reunio de

    Caras, 1ac2a e Gara ?esende estavam convencidos da insustentabilidade do planopor causa da e4panso da demanda. E5les ac2avam que s> 2averia salvao se o(overno aprovasse medidas fortes de conteno da renda dispon'vel. # propostaapresentada foi um aumento do "mposto de ?enda para todos. AarneB no concordou,

    principalmente porque o pa's estava s vsperas das eleies. Nas discusses, o :unaroficou com AarneB. Na verdade, o :unaro foi uma das resistncias aos austes noCruzado. 5le e a equipe campineira dele.E E !endona de 1arros fala do canarin2o edo urubu. urubu vai l no presidente e falaL El2a, Et um desastre, tem que tomarmedidas durasE. 6epois c2e(a l o canarin2o e dizL ENo, Et tudo >timo, umamaravil2aE. presidente vai ouvir o otimista, vai se(uir o canarin2oE, diz Gara?esende. 5le conta que antes da reunio de Caras 2ouve um acerto para a equipe ir

    com um discurso fec2ado e Etodo mundo urubu, pois a situao era (rav'ssima quelaalturaE. acordo no funcionou.

    aumento dos salrios, a abrupta queda da inflao, a maior oferta de crdito e oprocesso de monetizao incitavam a demanda. con(elamento de preos com oconsumo nas alturas (erava (ios, sumio de bens nas prateleiras dos supermercados. con(elamento do cKmbio dava impulso ao aumento das importaes e queda dase4portaes.

    # ta4a de uros, por seu turno, era bai4a demais e c2e(ou a ser ne(ativa na 2ora em queera preciso esfriar a demanda. Aem uma institucionalidade para decidir sobre uros, a

    pol'tica monetria estava a car(o de Gara ?esende, na diretoria do 1anco Central. Noe4istia o Comit de Pol'tica !onetria $Copom& e os uros eram definidos nos encontrosda equipe que ocorriam nas noites de tera)feira na residncia do ministro da :azenda.

    dficit p9blico, retirada a nuvem inflacionria, era muito (rande. Ae(undo dados do"peadata, o dficit nominal alcanava -8,+3 do P"1 em *78

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    prefi4ados com compromisso de recompra caso a ta4a de uros subisse acima de umdeterminado patamar, o que era uma complicao.

    :unaro s> concordou com a elevao dos uros quando estava tudo e4plodindo,depois do Cruzadin2o de ul2o. ENo posso subir a ta4a de uros a(ora porque vamos

    criar a G:; RGetra :inanceira do ;esouro, p>s)fi4ada com base na ta4a AelicS. amosemitir um t'tulo com inde4ao financeira, inde4ado ao overni(2tE, rea(iu Gara?esende.

    e4)diretor do 1C e4plica que na verdade (ostaria de ter criado uma coisa a mais, ques> recentemente foi feita pelo :edL o dep>sito de reservas remuneradas no 1ancoCentral. "sso, pensava ento, iria reduzir a d'vida ) Ea d'vida vai desaparecerE. #ridaconsiderou a ideia ousada demais e a opo foi lanar a G:;, cuo efeito era muito

    parecido. E"sso reduziu o custo de carre(amento da d'vida. mercado, que (an2ava3,+0 em cima daquilo, passou a (an2ar 30 pontos)base. 5videntemente, o mercadofinanceiro, o open marVet, todo ficou com >dio da G:;E, afirma Gara ?esende.

    O Cruzadinho

    Para comear o descon(elamento era necessrio, antes, desaquecer a demanda. Casocontrrio, a inflao voltaria com toda fora. 5stava criado mais um problema para osidealizadores do Plano Cruzado.

    #s diver(ncias eram profundas. AaBad, por e4emplo, ac2ava que o consumoe4acerbado era uma Ebol2aE que desapareceria naturalmente. No era. :azenda e 1ancoCentral e4i(iam uma resposta fiscal, com cortes de (astos p9blicos como instrumento

    para o desaquecimento da demanda. Planeamento no acreditava na eficcia doscortes, pois o (rande buraco nas contas p9blicas era financeiro, ar(umentava. in2a dad'vida e4terna e dos uros internos.

    E AaBad nunca acreditou na correlao entre dficit p9blico e inflao. :omos cole(asde faculdade e um dia, ainda na (esto 6elfim, em *783, estvamos eu, o Aavasini R@os#u(ustoS e o "bra2im 5ris na nossa sala no Planeamento. No quadro)ne(ro uma dasequaes que 2av'amos descrito era do dficit p9blico e da inflao. AaBad estava em1ras'lia e passou para nos ver. Muando ele viu a equao, levantou)se, apa(ou o quadroe disseL E1abacas, no tem nada a ver uma coisa com a outraEE, conta ?osenber(, rindoda 2ist>ria.

    # rene(ociao da d'vida e4terna, necessria para restabelecer flu4os de capitaise4ternos e para atenuar os (astos com os pa(amentos de uros que pressionavam odficit p9blico, estava paralisada. s credores e4i(iam um acordo com o :!" paraavalizar qualquer ne(ociao. :unaro recusava)se a buscar um acordo com o :!".

    #s contas e4ternas eram fr(eis. #s reservas cambiais estavam min(uadas e um bompedao no tin2a liquidez al(uma. plano escapava entre os dedos de seusidealizadores, mas o ministro da :azenda procurava espantar o pessimismo doseconomistas.

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    AarneB se aproveitou das diver(ncias em Caras, descon2eceu a conversa do urubu eficou com o canarin2oL E5nto, continuamos em lua de mel com o Plano CruzadoE,disse, ao trmino daquele encontro.

    (eneral "van de Aouza !endes, c2efe do e4tinto Aervio Nacional de "nformaes

    $AN"&, que estava ao lado de AarneB, ol2ou para al(uns daqueles assessores perple4os ecomentouL E#c2o que no foi bem isso que vocs disseram aquiE.

    6aquele fim de semana saiu o Cruzadin2oL um modesto pacote de medidas editado emul2o que criava emprstimos compuls>rios sobre (asolina, lcool, autom>veis evia(ens internacionais. 5ra uma iniciativa para esfriar a demanda e levantar recursos

    para estimular os investimentos p9blicos, conforme o deseo de AarneB.

    s economistas apresentaram uma proposta bem mais ambiciosa, que representaria CzU* concordou com CzU J0 bil2es. din2eiro serviu para criar o:undo Nacional de 6esenvolvimento $:N6&, que financiaria investimentos p9blicos.

    pacote era t'mido demais para conter o consumo. Com a liberao de importaes ereduo das e4portaes para abastecer o mercado interno, a partir do se(undo semestrea balana comercial passou a acumular dficits. s dados de comrcio e4teriorcomearam, ento, a ser obeto de manipulao para mascarar o dficit pela subtraodas importaes. 5sse epis>dio relatado pelo ento embai4ador do 1rasil nos 5D#,!arc'lio !arques !oreira, que era muito pr>4imo a AarneB e teve participao ativa naquesto da morat>ria que seria decretada em *78+.

    Es dados do intercKmbio comercial foram adulterados pela Cace4E, confirma oembai4ador que veio a ser ministro da :azenda no (overno Collor de !ello. # Cace4era a Carteira de Comrcio 54terior do 1anco do 1rasil, encarre(ada do licenciamentode e4portaes e importaes e das estat'sticas de comrcio e4terior do pa's. E#adulterao foi feita por seis meses a partir de a(osto de *78= e sua correo afetou asestat'sticas por um anoE, diz !arc'lio. 5le 2avia narrado essa manipulao dasestat'sticas em depoimento ao CP6C da :undao Hetulio ar(as. # mesma 2ist>riaconsta do Edirio da morat>riaE do embai4ador ?ubens ?icupero, que era assessorespecial do presidente AarneB. 5m uma a(enda manuscrita, o embai4ador anotou todosos eventos que presenciou nos dias que antecederam a suspenso do pa(amento dos

    uros da d'vida e4terna.

    Com a subtrao de importaes realizadas as reservas cambiais pareciam maiores doque de fato eram. Na verdade, as reservas com real liquidez se apro4imavam de zero eisso acabou sendo confirmado pelo presidente do 1C, de acordo com !arc'lio.

    Cruzado II o estelionato

    @ descrentes com os rumos que o plano econImico tomava e com a acelerao dainflao, que encerraria *78= em = seria anunciado seis dias depois das eleies de novembro.

    Na preparao desse pacote sur(iram trs propostas. Planeamento queria fazer ocontrole da demanda por meio de um auste fiscal pelo "mposto de ?endaT a :azenda

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    advo(ava o aumento de preos para produtos selecionados, de consumo de elite, e aelevao de impostos indiretosT o 1anco Central era favorvel ao aumento do "mpostode ?enda e ao corte nas despesas p9blicas. "mpasse.

    AarneB arbitrou a favor da :azenda. 5ra o Cruzado "", que foi considerado um

    estelionato pela sociedade. pacote trazia um aumento de mais de *00 na al'quota do"mposto sobre Produtos "ndustrializados $"P"& cobrado sobre o preo final dosautom>veis, bebidas alco>licas e ci(arros. #lm de uma lista de aumento de preosL=0 para a (asolina e o lcoolT 80 para os autom>veisT -ria da d'vida e4terna. 5m -< de maro, AaBad pediu demisso.:unaro saiu em -7 de abril.

    No fim de aneiro, o embai4ador ?ubens ?icupero ouviu do assessor econImico doPalcio do Planalto, !ic2al HartenVraut $que substituiu ?osenber( na funo&, que asreservas cambiais 2aviam ca'do abai4o de DAU 3,8 bil2es. HartenVraut, en(en2eiro

    pelo "nstituto ;ecnol>(ico de #eronutica $";#& e P2.6. em sistemas de en(en2aria eeconomia pela Atanford DniversitB, era um e4periente funcionrio que 2avia trabal2ado

    com 6elfim Netto e naquele momento descobriu que as estat'sticas que c2e(avam aAarneB eram inver'dicas.

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    ?icupero avisou o presidente sobre aquela informao estrat(ica. ENesse particular damorat>ria eu acabei tendo um papel fat'dico, inconsciente. Porque em uma determinadaman2 eu levei ao AarneB, a pedido do HartenVraut, a not'cia de que as reservas tin2amca'do enormemente. 5le no acreditou. !e disseL ENo, no pode ser, no verdadeE5u disseL ol2a, o n9mero DAU 3,8 bil2es. AarneB, ento, me disse uma coisa curiosaL

    E5sto me en(anandoE 5u no entendi bem e ele me e4plicou.E /avia, conta ?icupero,uma combinao entre o presidente e seu ministro da :azenda de que se as reservas, queem *78< eram de apenas DAU + bil2es, ca'ssem abai4o de DAU < bil2es, os

    pa(amentos dos uros da d'vida seriam suspensos. 1elluzzo tem na lembrana que opiso das reservas seria de DAU = bil2es. !as o fato que em aneiro de *78+ ele estava em DAU 3,8 bil2es. EMuando AarneB me disse isso, levei um susto, porque,como eu l2e disse, o meu papel na verdade foi apenas de levar a informaoE, diz?icupero.

    ?osenber(, assessor especial da Presidncia no primeiro ano do (overno AarneB,presenciou bem antes uma deciso 2ist>rica. E5m outubro de *78ria da d'vida. 5sse era opacote completo do presidente da ?ep9blica.E 6epois de ser informado das intenes deAarneB, ?osenber( comunicou ao presidente que dei4aria o (overno. EPara fazer merdao sen2or no precisa de mimE, disse ele a AarneB. presidente pediu)l2e que

    permanecesse at a semana entre o Natal e o ano)novo para sair do (overno, pois nessapoca no 2averia (rande repercusso. 5 assim foi feito.

    ?osenber( conta ainda que no dia e4ato da sua nomeao teve a clara demonstrao decomo o presidente pensava. EC2e(uei min2a sala e o telefone tocou. 5ra @acques deGarosiXre, diretor)(erente do :undo !onetrio "nternacional, com quem eu tin2adiscutido muito na poca do 6elfim.E ?osenber( 2avia participado de todos os acordoscom o :!" feitos durante a (esto de 6elfim Netto no Planeamento. E GarosiXreento me disse que podendo contar comi(o no palcio e com 6ornelles na :azenda noseria dif'cil fec2ar um acordo. 5 su(eriuL pe(a um avio e vem para os 5D# que emuma semana fec2amos um acordo.E 5ntusiasmado, o assessor foi imediatamentecomunicar ao presidente que as portas do :!" se abriam para o pa's. E:ui todo felizfalar com o AarneB, que me disseL E#ssessor meu no pe(a o avio para ir ao :!". ocest proibido de ir ao :!"E.E 6a convivncia diria com o presidente da ?ep9blica,?osenber( pIde observar que o modelo de liderana que inspirava AarneB na poca era#lan Harc'a, presidente do Peru.

    6epois que HartenVraut descobriu que as estat'sticas das reservas cambiais que opresidente recebia da rea econImica no eram as fidedi(nas e ele estava sendoen(anado, o (enro de AarneB, @or(e !urad, or(anizou uma reunio entre a equipe da:azenda e o presidente no Palcio da #lvorada.

    E (enro do AarneB nos telefonou para que fIssemos a um antar com o presidente noPalcio da #lvorada. 5u disse que no iria, de forma al(uma, sem falar com o 6'lsonR:unaroS. Muando fui falar com ele, ele me disseL E5u ac2o que voc deve irE.E 5stavam

    presentes nesse antar o c2efe de (abinete da :azenda, ?oberto !Fller, @oo !anuelCardoso de !ello e Paulo No(ueira 1atista, que tambm assessorava :unaro. ministro no foi convidado. ;erminado o antar, AarneB comunicou sua decisoL El2a,

    n>s precisamos fazer a morat>riaE.

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    1elluzzo, Paulo No(ueira e o embai4ador Ylvaro #lencar, da #ssessoria "nternacionaldo !inistrio da :azenda, foram encarre(ados de preparar a deciso. !Fller aindacomentou que 1rac2er no aceitaria a morat>ria, ao que AarneB respondeuL E 1rac2er problema do :unaro. Muem pariu !ateus que o embaleE.

    1rac2er dei4ou o (overno em ** de fevereiro de *78+, nove dias antes de declarada asuspenso dos pa(amentos dos uros da d'vida e4terna. :rancisco Hros assumiu nomesmo dia, em uma rpida operao de substituio. Hros estava fora do pa's, em umaestao de esqui na Au'a, quando foi alcanado por !Fller, que, sem entrar emdetal2es, l2e disse que ele estava sendo esperado em 1ras'lia. No dia se(uinte Hrosdesembarcou no aeroporto do Haleo, no ?io, ainda na pista de pouso trocou de avio ese(uiu para 1ras'lia. C2e(ando capital, diri(iu)se casa de :unaro e foi informado deque em poucas 2oras assumiria a presidncia do 1C. Hros s> ficou sabendo da opo

    pela morat>ria depois de nomeado, se(undo !Fller.

    #s poucas reservas que ainda restavam ) como t'tulos da d'vida da PolInia, as

    polonetas, sem nen2uma liquidez ) tin2am que ser prote(idas do arresto dos credores.:oram transferidas para o 1anco de Compensaes "nternacionais $1"A, o banco centraldos bancos centrais& e para o :ederal ?eserve $o banco central americano&.

    EAeparamos as reservas e avisamos os bancos nacionais e estran(eiros da situao. :oium pampeiroE, conta 1elluzzo.

    Poucos dias antes da divul(ao da morat>ria, ?icupero su(eriu a AarneB que eleconsultasse o embai4ador !arc'lio !arques !oreira. E5u tin2a a esperana de que o!arc'lio o dissuadisseE, relata.

    Na campan2a de *78=, restes Murcia, candidato ao (overno de Ao Paulo peloP!61L pacote de medidas duras foi anunciado seis dias depois das eleies denovembro !arc'lio desembarcou secretamente no aeroporto do Haleo e embarcou emum atin2o da G'der para 1ras'lia. piloto contou, ento, que 2avia acabado de c2e(arao ?io trazendo um cidado americano que tin2a ido a 1ras'lia conversar com :unaro.5ra o EAombraE, tambm con2ecido como EPombo)CorreioE, apelidos de um assessor dePaul olcVer no :ed que intermediava tambm os contatos com o :ed e o :!", 5dZin[o.

    E!e lembro bem desse dia porque o AarneB deu um aviso prvio da deciso pela

    morat>ria a al(umas pessoas. Dma delas foi o ?oberto !arin2o, que estava no Palcio. AarneB me pediu para ficar com ele enquanto conversava com o embai4ador recm)c2e(ado. E !arc'lio tentou dissuadi)lo, mas no conse(uiu porque ele estava muitodeterminadoE, conclui ?icupero. Na verdade, o que !arc'lio tentou foi evitar amorat>ria com estardal2ao pol'tico, porque a suspenso dos pa(amentos seria feita porabsoluta falta de din2eiro. que se discutia, na ocasio, era a morat>ria unilateral comouma deciso pol'tica ou a morat>ria previamente ne(ociada com os credores.

    :unaro viaou a \as2in(ton al(umas semanas antes da morat>ria, lembra)se !arc'lio.E ministro me telefonou para dizer que usaria a audincia que eu 2avia marcado comolcVer, presidente do :ed, e pediu que eu no comparecesseE, relata. 5m se(uida,

    1rac2er telefonou para o embai4ador su(erindo que ele fosse mais tarde ao 2otel!adison, onde ministro e presidente do 1C estavam 2ospedados, para ouvir um relato

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    da reunio. EMuando c2e(uei ao 2otel, vi o 6e GarosiXre, do :!", saindo e lo(o depoissaiu o Aombra, assessor do :edE, diz !arc'lio.

    Pouco depois do Natal de *78=, 1rac2er, que 2avia estado nos 5D# para conversarsobre a d'vida e4terna, confidenciou a !arc'lio que pensava em dei4ar o (overno.

    ambiente era frentico. No fim de aneiro, em uma reunio do Clube de Paris, (rupode (overnos credores, estava presente do lado brasileiro o assessor para assuntosinternacionais do !inistrio da :azenda, embai4ador Ylvaro #lencar. (overnoamericano continuava com uma posio firme em relao ao 1rasil, que resistia emfazer acordo com o :!", premissa para avanar as conversas com os bancos privados.

    #lencar telefonou para :unaro e relatou as conversas. ministro da :azenda li(ou para@ames 1aVer, ento secretrio do ;esouro dos 5D#, e dei4ou claro que se o (overnoamericano no cedesse na questo do fundo monetrio ele decretaria a morat>ria.6epois desse telefonema, na sa'da da reunio do Clube de Paris, #lencar deu uma

    EbananaE para as autoridades presentes, conta !arc'lio.

    AarneB repassou a !arc'lio o te4to preparado pela :azenda anunciando a morat>ria paraque ele e ?icupero fizessem a reviso. presidente considerou al(uns termos usadosnaquela carta muito radicais, mas continuava bastante animado com a repercusso que adeciso teria sobre sua popularidade e liderana pol'tica, ento es(arada. EAerfantstica a repercusso pol'ticaE, disse AarneB a !arc'lio.

    documento comunicava aos credores que o pa's dei4aria de pa(ar os uros da d'vida,que no recon2eceria os crditos e avisava que os contratos estavam, assim, revo(ados.E5ra uma declarao de (uerraE que !arc'lio e ?icupero EcopidescaramE. te4toori(inal falava em suspenso dos pa(amentos por tempo indeterminado. # 9ltima versoque c2e(ou s mos do assessor presidencial, Het9lio 1ittencourt, citava a morat>ria porum prazo de 70 dias. "nformado da mudana, o !inistrio da :azenda fez voltar o prazoindeterminado, relata !Fller.

    ?ubens 1aBma 6enBs, ministro)c2efe da Casa !ilitar, convocou uma reunio doConsel2o de Ae(urana Nacional para aprovar a morat>ria na tarde daquela se4ta)feira,antes de o (overno disparar tele4 para os bancos credores informando a deciso.

    # reunio no foi boa. AarneB e :unaro no estavam nos seus mel2ores dias e o clima,

    se(undo relato de participantes, era de temor e desconfiana. #o final, #ntInio Carlos!a(al2es providenciou o desfec2o daquele encontroL a deciso era pol'tica e AarneBmerecia a solidariedade e o apoio de todos, disse.

    # not'cia foi dada pelo presidente da ?ep9blica em um pronunciamento de *< minutosem cadeia de rdio e ;, depois de sacramentada pelo Consel2o de Ae(urana Nacional.Aem dizer a nin(um, AarneB incluiu no seu pronunciamento uma frase despropositadaLENada de traio ptria sob prete4to de cr'tica ao (overnoE.

    Eoc precisa convencer esses meninos que no podemos nos divorciar do Cruzadodessa maneiraE, disse AarneB para 1elluzzo #o contrrio do que o Palcio do Planalto

    a(uardava, no 2ouve manifestao popular de apoio suspenso dos pa(amentos dad'vida e4terna no decorrer dos dias, embora aquela medida fosse bandeira de

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    praticamente toda a esquerda. P; considerou que se tratava de uma Emorat>riatcnicaE, sea l o que isso for.

    No in'cio de maro de *78+, 2ouve uma nova descoberta. #s reservas eram aindamenores do que o informado, pois 2avia DAU J-0 mil2es de recursos de curt'ssimo

    prazo do 1anco do 1rasil contabilizados pelo 1anco Central para mel2orar aperformance daquele colc2o e4terno.

    E#s reservas davam para pa(ar trs meses de importao. :ui aconsel2ado a decretar amorat>ria. :alei com presidentes de vrios pa'ses da #mrica do Aul. 5les apoiaram aideia, mas depois dei4aram o 1rasil sozin2o com a morat>ria na moE, lamentou AarneBanos depois. E certo era ter c2amado os bancos para ne(ociar.E # situao, para o(overno, s> piorava. 5m -< de un2o de *78+, o Inibus em que o presidente da?ep9blica e sua comitiva estavam em visita ao ?io foi apedreado por populares,militantes de movimentos sociais e de partidos de oposio, como P; e P6;. #os (ritosde E:ora AarneBE, a manifestao ocorreu na sa'da do Pao "mperial, onde o presidente

    participava da cerimInia de aniversrio da Gei AarneB. 5sse epis>dio ficou con2ecidocomo EPicaretaoE porque um manifestante usou uma picareta para quebrar os vidros doInibus.

    E:unaro era um democrata e um patriota. 5le queria mudar a viso do (overnoamericano e dos bancos credores. 5le dizia ao @ames 1aVerL Eocs criaram umasituao de convivncia com a crise. 5u quero uma estrat(ia de sa'da da crise. 5 novamos ao :!" porque o pa's em transio para a democracia no pode ter recessoEE,conta !Fller.

    5m mais uma via(em a \as2in(ton, depois de -0 de fevereiro, o ministro recebeu o(olpe final. ] espera de uma audincia com 1aVer, viram um recorte de ornal com anot'cia de que 2avia uma misso paralela de ne(ociao da d'vida, diz !Fller. 1elluzzoestava nessa via(em e ouviu de olcVer a per(untaL E#final, quem ne(ocia pelo 1rasilOE#li a equipe da :azenda ficou sabendo que 2avia uma misso paralela, sob orientaodo presidente AarneB, encarre(ada de retomar as conversas com os bancos credores e o(overno americano. #t onde tomaram con2ecimento, essa misso era coordenada por!arc'lio e dela participava ?icupero.

    E5u sei que muitas pessoas que trabal2aram com :unaro me atribu'ram, inustamente,uma influncia nesse sentido ) de fritura dele. No tive nen2uma influncia nisso porque

    o pr>prio AarneB e as pessoas do Palcio estavam convencidas de que ele tin2a quesair e apenas estavam procurando um substitutoE, pondera ?icupero.

    !arc'lio asse(ura que no 2avia misso paralela al(uma e no tentou abrir a ne(ociaocom o :!", com os bancos, nem com o (overno americano.

    que 2ouve, se(undo o embai4ador, foi uma 2ist>ria Esem p nem cabeaE. Dm ami(ode !urad, o (enro do presidente, tin2a uma proposta e queria ser apresentado a 5dZin;ruman, do :ed, para e4por aquela sua ideia. E# pretensa alternativa de soluoresumia)se na proposta de criao de uma rede de Ezonas de e4portaoE, livres deimpostos. # d'vida e4terna seria pa(a (radualmente pelo valor da e4portao resultante.

    No era para levar a srioE, comenta !arc'lio.

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    AarneB 2avia solicitado ao embai4ador que apresentasse esse ami(o de !urad para;ruman, para dar uma satisfao. pedido no foi atendido. !arc'lio disse queconsiderou a tal ideia Ecompletamente estapaf9rdiaE.

    O desmonte da e"uipe

    5m maro de *78+, AaBad pediu demisso. :unaro saiu em abril, =0 dias depois damorat>ria. s principais assessores do ministro, 1elluzzo e @oo !anuel, passaram aaconsel2)lo a sair depois da mal e4plicada misso de rene(ociao da d'vida e4terna.

    E5le foi ao Palcio do Planalto com a carta de demisso e falou com o (eneral "van.#mbos foram ao (abinete do AarneB. 5ra uma se4ta)feira e AarneB pediu que :unaro s>anunciasse a sua sa'da na se(unda)feira. No domin(o, AarneB ainda o convidou paraassumir o "tamaratB. 5le disse que no estava procura de empre(oE, relata !Fller.Eim para ser uma soluo e no para ser um problemaE, :unaro respondeu ao

    presidente.

    #ancredo e a d$%ida

    5leito pelo Col(io 5leitoral, ;ancredo fez uma lon(a via(em pela 5uropa, pelos5stados Dnidos e pela #mrica Gatina antes da posse. Na visita a \as2in(ton, em * defevereiro de *78dio o abalou muitoE, conta ?icupero, que acompan2ava;ancredo e escreveu um Edirio de bordoE com a 2ist>ria da via(em. ;ancredo tin2aesperana, talvez irrealista, de que o (overno :i(ueiredo conse(uisse pelo menosencamin2ar de uma maneira avanada as ne(ociaes da d'vida e4terna, de forma quequando ele tomasse posse, em maro, encontrasse os acordos definidos e pudessedizer que a ele restava respeitar, porque era uma questo do 5stado.

    presidente eleito tin2a receio de que o P!61 quisesse reabrir os acordos sobre ad'vida, denunciar os contratos. /avia, naquela poca, uma demanda das oposies parafazer auditoria na d'vida e4terna.

    pa's vin2a de uma srie de acordos no cumpridos com o :!" durante a (esto6elfim Netto. E ;ancredo queria que o :!" desse um aval ao 1rasil e ele pudesse ter,antes da posse em *< de maro, pelo menos um acordo em termos (erais com os bancoscomerciais credores do 1rasilE, conta ?icupero.

    6e GarosiXre 2avia endurecido com o 1rasil depois de tantos acordos no cumpridos ecartas de inteno reescritas. No aceitou conversar com emissrios do (overno:i(ueiredo para um acordo prvio que audaria ;ancredo Neves. 5ra preciso, portanto,contar com o apoio do (overno americano para destravar as conversas com o fundo.

    # comitiva presidencial foi primeiro 5uropa e ;ancredo, deliberadamente, austou suac2e(ada a \as2in(ton para o dia em que o diretor)(erente do fundo viaaria :rana.E presidente, por questes de pol'tica interna e de impacto, no queria ser visto em\as2in(ton em uma ne(ociao com o diretor)(erente do :!"E, afirma ?icupero, que

    participou de todas as conversas e encontros do presidente eleito nesse percursointernacional.

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    ;ancredo c2e(ou a \as2in(ton no dia * de fevereiro e recebeu a visita de Heor(eA2ultz, secretrio de 5stado, no 2otel !adison, onde estava 2ospedado. secretrioamericano no tin2a a menor pacincia com o 1rasil.

    EHeor(e A2ultz disse com todos os termos que sabia da ttica do presidente de tomar

    posse com a rene(ociao da d'vida mais ou menos encamin2ada. 5le deu a entenderque sabia que ;ancredo tin2a evitado falar com 6e GarosiXre. No disse abertamente,mas fez sentir isso. 5 disseL El2a, eu lamento muito, eu ven2o aqui apenas comomensa(eiro de GarosiXre, porque eu (ostaria que o sen2or tivesse conversado com ele.!as vou l2e dizer que no vai ser poss'vel um acordo porque o 1rasil no estrespeitando as condies das cartas de intenoE,E conta ?icupero.

    ;ancredo fez um apelo para que Ac2ultz o audasse a evitar que isso acontecesse. secretrio no arredou p da sua posioL E5u sou apenas o mensa(eiro e no possofazer nada. 5u compreendo e (ostaria de aud)lo, mas no vai dar. oc no vaiconse(uirE. #quela era, portanto, a posio do (overno americano.

    # certa altura da conversa que muito o abalou, ;ancredo disseL E"sso para mim terr'vel, porque ten2o muito medo de que 2aa setores do meu partido que queiramreabrir tudo. 5u vou fazer tudo para evitar. 5u (ostaria de ter um comeo de (overno

    pelo menos com isso encamin2ado. Ae acontecer o pior, no o que eu deseo, mas n>spodemos at ser obri(ados a suspender os pa(amentosE. :oi o que AarneB acaboufazendo dois anos depois.

    E# min2a interpretao que o (overno americano e o :!" queriam arrancar do;ancredo concesses que eles ac2avam que o 6elfim Rministro do PlaneamentoS nuncadaria, at porque estava no fim do (overno :i(ueiredo. Creio que eles fizeram isso

    porque ac2aram que um (overno novo estaria muito mais vulnervel. 5 naquela poca aideia da morat>ria no era uma coisa to e4traordinria, porque depois de \as2in(tonn>s fomos a 1uenos #ires e o presidente ?aul #lfons'n, que estava no poder faziaal(um tempo e se encontrava em apuros, tambm namorava essa ideia de, com o 1rasil,fazer um movimento conunto, mas o ;ancredo tirou o corpo foraE, relata ?icupero.

    1elluzzo lembra)se de que teve um encontro com ;ancredo to lo(o ele retornou dessavia(em e ouviu do presidente eleito que o resultado da ida aos 5stados Dnidos 2aviasido Emuito ruimE. ER;ancredoS fazia caretas que depois eu percebi que eram por causada doenaE, diz 1elluzzo. Na noite anterior ao dia da posse, o presidente eleito foi

    internado com diverticulite no /ospital de 1ase, em 1ras'lia. Gevado para Ao Paulo,foi submetido a diversas cirur(ias, mas no resistiu.

    # sucesso de :unaro AarneB tin2a uma lista de quatro nomes para suceder 6'lson:unaro no !inistrio da :azendaL ;asso @ereissati, @os Aerra, Celso :urtado e GuizCarlos 1resser)Pereira.

    Primeiro, convidou @ereissati, que 2avia sido eleito (overnador do Cear no anoanterior. Na conversa com o presidente, @ereissati ar(umentou que no entendia nada deeconomia para ser ministro. AarneB o aconsel2ou a conversar com #ndr Gara ?esendee Prsio #rida, que estavam fora do (overno, e convid)los para voltar, porque ambos

    fariam a pol'tica econImica para ele.

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    #rida e Gara ?esende foram a 1ras'lia com o ento (overnador e os trs passaram todoo dia conversando. #mbos convenceram @ereissati a no embarcar naquela que Eera umacanoa furadaE, conta Gara ?esende.

    @ereissati recusou o convite e, um tempo depois, a(radeceu a Gara ?esende por t)lo

    aconsel2ado a no aceitar o car(o. AarneB acabou escol2endo 1resser)Pereira.

    novo ministro assumiu no dia -7 de abril de *78+ e ficou frente da pasta da :azendaat dezembro daquele ano. 5m un2o, editou o se(undo pro(rama de estabilizao do(overno AarneB, o Plano 1resser, sem sucesso.

    EMuando 1resser saiu, o presidente c2amou de novo a mim e ao Prsio. N>s fomos aoPalcio da #lvoradaE, relata Gara ?esende. EN>s dissemos a ele que 2avia um (rave

    problema fiscal e sem enfrent)lo no e4istiria pro(rama de estabilizao poss'vel. dficit fiscal era (rav'ssimo. 5le estava mascarado pela inflao.E Mualquer novoministro teria, portanto, que comear com um auste fiscal. E AarneB, ento, fez a

    se(uinte fraseL El2a, mas para fazer auste fiscal eu no preciso de economistasbril2antes como vocsE. ?ealmente ele acreditava que faz'amos mila(reE, observa Gara?esende.

    5sse foi um aprendizado levado para a elaborao do Plano ?eal. No adianta primeiroestabilizar a inflao e depois propor o auste fiscal. Com a inflao bai4a, nen2um

    pol'tico vai querer aprovar medidas de corte de (astos ou aumento de impostos.

    5ssa foi, alis, a observao de GarrB Aummers, quando o pro(rama de estabilizaoconcebido por Prsio #rida e #ndr Gara ?esende foi apresentado em um seminrio no!"; $!assac2usetts "nstitute of ;ec2nolo(B&.

    Aummers, economista que foi secretrio do ;esouro no (overno Clinton, disseL E!uitointeressante essa proposta de vocs, mas ela tem um problema seri'ssimoL a mensa(emque ela vai passar aos pol'ticos que poss'vel inflacionar e ter uma soluo fcildepoisE. 5le foi proftico.

    No Plano ?eal, o processo foi invertidoL primeiro se criou o :undo Aocial de5mer(ncia, para desvincular um pedao das despesas obri(at>rias. fundo foi amedida fiscal que deu um fIle(o ao pro(rama econImico, embora ten2a se mostradoinsuficiente com o tempo.

    AarneB ainda aprovaria a terceira tentativa de estabilizaoL o Plano ero, em *< deaneiro de *787, preparado por !a'lson da N>bre(a, que sucedeu a 1resser)Pereira.

    # inflao acumulada de maro de *787 a maro de *770, quando AarneB passou a fai4apresidencial para :ernando Collor de !ello, c2e(ava a J.8

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    moravam no mesmo endereo, na alameda @oaquim 5u(nio de Gima, no bairropaulistano dos @ardins. E5u ia visitar meus pais e me encontrava com eleE, diz 1elluzzo,que 2avia trabal2ado com o empresrio durante o (overno #breu Aodr, nos anos =0.5ram ami(os desde ento.

    :unaro fez o tratamento e a doena estava bem controlada quando foi para o (overnoAarneB. No fim do seu per'odo como ministro da :azenda, o cKncer voltou. 1elluzzo dizque o ministro se descuidou do tratamento, que no tomava os remdios direito.

    #pesar do des(aste provocado pelo fracasso do Plano Cruzado, :unaro dei4ou o(overno, mas no perdeu a admirao do povo. Pesquisa do "nstituto Hallup, feita

    poucos meses depois de sua sa'da com eleitores paulistas, apontava =+ da inteno devotos para o e4)ministro caso ele se candidatasse sucesso do presidente @os AarneB.

    empresrio que 2avia se colocado frente do plano de estabilizao como seu avalistapoderia ter tril2ado o mesmo camin2o que :ernando /enrique Cardoso percorreria nos

    anos *770, quando saiu da pasta da :azenda coroado pelo Plano ?eal e se candidatou Presidncia da ?ep9blica por dois mandatos, em *77J e *778.

    E!eu patriotismo est muito frente da min2a bio(rafiaE, respondeu certa vez :unaro,quando questionado sobre se pretendia se candidatar Presidncia da ?ep9blica.

    #s opinies sobre o ministro no eram unKnimes. E R@ooS AaBad Re4)ministro doPlaneamentoS no tin2a pacincia com o 6'lson, ento eu que o recebia e conversavacom eleE, diz #ndrea Calabi, secretrio)(eral do !inistrio do Planeamento na (estode AaBad. Como presidente do 1N65, :unaro era li(ado ao Planeamento. E5le tin2averve. 5ra um conquistador e encantou o AarneB. /avia nele uma coisa meio m'stica,meio reli(iosa, que era muito cativanteE, comenta Calabi. Ae(undo ele, o empresrio fezuma espcie de s'ntese da escola desenvolvimentista com os anseios dos industriais pormais crescimento, por modernizao.

    No Palcio do Planalto, porm, incomodava a e4cessiva e4posio do ministro como o(arantidor da estabilidade e da prosperidade dela decorrente. :rota Neto, que substituiu:ernando !esquita na Aecretaria de "mprensa da Presidncia da ?ep9blica, descreve, nolivro EAarneB, 6emocracia e GiberdadeE, o sentimento que predominava sobre a

    presena Edemasiado salienteE do ministro nas 2ostes palacianas. E:unaro pareciama(netizar e atrair para a banda em que estava mais vis'vel as correntes anti)

    sarneBsistas, mesmo quando ele, ministro, ami(o pessoal do presidente, mas sedistanciando, atropelando e se c2ocando com o primeiro c'rculo presidencial.E #ntes,como presidente do 1N65, o empresrio, sempre que ia a 1ras'lia, ficava no (abinetede @or(e !urad, (enro do presidente, e raramente era recebido por AarneB, diz o livro.EMuando assumiu o !inistrio da :azenda, comeou a evidenciar a metamorfose, comose tocado pelo p> de pirilimpimpim. Parecia, no raro, que se sentia intocvel atmesmo pelo presidente ) at que uma descar(a do E6irio ficialE fulminou seu cometa$...&E, escreve o porta)voz. 5 completaL E:unaro batia (rosso l fora contra os credores

    brasileiros, sem uma estrat(ia ou mesmo uma ttica que o enveredasse em opes desa'da. 5, aqui dentro, atropelava eventos e diretrizes presidenciaisE.

    ] certa altura, o porta)voz de AarneB diz que E$...& se dizia que ele $:unaro& pensava queia ser o futuro presidente da ?ep9blicaE.

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    des(aste da ima(em do ministro comeou em novembro do ano anterior, quando dodesastrado Cruzado "". #li teria sido o in'cio da EfrituraE de :unaro. E 6'lson era umsueito que tin2a esperana de que o pa's podia sair daquela encrenca. 5le ac2ava que o1rasil tin2a que dar certo, que a industrializao 2avia sido um sucesso at umdeterminado momento e a (ente ia sair daquilo. 6i(amos que no seria mal se o 1rasil

    tivesse um 6'lson :unaro 2oe, porque ele era uma pessoa muito corretaE, atesta1elluzzo.

    5m *- de abril de *787, a doena venceu :unaro, um empresrio Edesenvolvimentistadesde a raiz do cabeloE, na definio de 1elluzzo. E#c2o que ele (ostava de mimE, diz#ndr Gara ?esende, ao contar que, no enterro do e4)ministro, Eo fil2o dele comentouLEAabe que o papai me disse que, se ele fosse presidente, voc seria o ministro da:azendaOEE 5lo(iado e criticado, amado e odiado, messiKnico ou no, o certo que6'lson :unaro dei4ou muito boas impresses em quem o con2eceu. 5m -00