A Espada Elemental - Elton Moraes

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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando

 por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novonível."

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 A  Espada Elemental 

CRÔNICAS DE ONYX Livro 2

 

Elton Moraes 

Edição Digital2014

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 Copyright © 2014 by Elton Moraes

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode serutilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização do

autor. 

Diagramação e capaElton Moraes

 Imagem da capa

Dmitrijs Bindemanis – sob licença do site Shutterstock

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Para Thallya Sheron, prima que ajudou a criar os Soldados.E para Laísa Raupp, que deu vida à princesa Blair.

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Porém, quanto ao valor e aos brios d’alma,Invencíveis nós somos; dentro em breve

Recobraremos o vigor antigo,Inda que extinta jaz a nossa glória.Paraíso Perdido (John Milton)

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 Prólogo Rapto

 

Haveria algo mais chato do que ficar sentada ouvindo uma velha falando elhe impondo ordens? A princesa Blair Crystan não sabia, mas daria tudopara sair dali. Ela estava na sala das refeições, usava um vestido azulrendado nas mangas longas e da cintura para baixo, com sua professora deetiqueta, a Sra. Dambern. Esta tentava lhe ensinar sobre como se comportardurante as refeições do dia, mas a princesa odiava isso e mal prestava

atenção.  Blair não se sentia inteiramente uma princesa. Ela era muito moleca eadorava quando, ao contrário de sua mãe, seu pai, o Imperador AsrielCrystan, deixava-a sair para correr e brincar com as crianças camponesas doPovoado Imperial Crystan. Ela queria se divertir. Se pudesse passaria o diatodo correndo e se divertindo com as outras crianças. Mas isso era uma coisaque sua mãe, a Imperatriz Kassandry Crystan, não permitia. Esta queria quesua filha fosse uma verdadeira dama e se tornasse uma imperatriz derespeito. E para isso, também, teria de casar.  Contudo, casamento não estava nos planos da herdeira do Império de

Diamante. Mesmo com seus dezesseis anos, a idade média de se casar. Aocontrário de muitas garotas de sua idade, filhas de nobres, que já estavam secasando, repudiava a ideia. Uma vez sua mãe quis lhe forçar a umcasamento com o príncipe Danniel Gwey, para formar alianças com oImpério de Rubi. Mas a princesa foi teimosa e não se casou. Comoconsequência, ficou de castigo por vários dias, trancafiada nos interiores docastelo, sem ao menos poder respirar o ar límpido da natureza.  Quando Blair achou que começaria a cochilar em cima da mesa,enquanto a Sra. Dambern explicava como se manter numa posição ereta e

elegante, seus olhos verdes enxergaram um homem alto e corpulento queatravessou a entrada do salão, sem ao menos bater.  – Mas o que é isso? – protestou a professora, interrompendo-se. – Eupedi para que não nos incomodasse. Por favor, meu caro homem, queira seretirar. – Os olhos castanhos da velha senhora demonstravam um incrívelpoder de persuasão.  O homem se parecia com uma das sentinelas do castelo, mas Blair não oreconheceu. Apesar do olhar da professora, ele não se intimidou e lançouum olhar fulminante em resposta. A velha pareceu se amedrontar.

  – Desculpe-me, Sra. Dambern, mas o Sr. Crystan está esperando aprincesa neste exato momento no pátio central do castelo. – O olhar do

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mas só por hoje. Volte amanhã, pois teremos que recompensar o tempoperdido.  A princesa Blair assentiu, e seguiu o homem. A garota percebeu quenunca vira aquela sentinela antes. Ele possuía cabelos castanho-ruivos eseus olhos, com um tom avermelhado, pareciam que se incendiariam aqualquer momento. Ele era um pouco diferente demais dos moradores dopovoado. Deu de ombros, por fim, devia ser mais um contratado de outroreino ou império.  Quando eles chegaram ao pátio central – um espaço gramado encobertono meio do castelo imperial –, Blair estranhou, pois não havia ninguém ali,exceto por ela e a sentinela.  – Ué, onde andas meu pai? – indagou a garota.  – Resolvendo uns probleminhas, e eu, outros. – Com isso o homemagarrou a princesa por trás, passando seu braço pelo pescoço, conseguindo,assim, imobilizá-la.  O ataque súbito a surpreendeu e arregalou os olhos, sem compreender oque acontecia.  – Soco… – tentou gritar, mas era inútil. O homem, com uma mão livre,pegou uma mistura de ervas no bolso e ateou fogo, produzido pela própria

palma. Transformadas em cinzas, forçou a garota aspirá-las. Ao inalar ascinzas mornas, a princesa perdeu a consciência nos braços do desconhecido.  Estando ela desacordada, o homem pôs a garota nos ombros e esperoualguns segundos. Logo em seguida, ouviu-se um forte assovio de vento, e,subitamente, parte da cobertura em vidro do pátio desmoronou ao seuredor, despistando-o magicamente. Uma forte rajada tomou conta do lugar,cercando-os. Mas antes de ser carregado pelo vento, soltou uma pequenaplaca metálica no chão. Era um broche. E logo em seguida, segurandofortemente Blair, teve seu corpo erguido no ar e, lentamente, é carregado

para fora dali pelo vento.

 Um

Uma Lenda  

O vento brando e gélido do início do inverno não incomodava a EndrichRagrson. Porém, da sua capa já não podia dizer o mesmo que, enquanto

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atravessava a ponte sobre o Rio Coronal, que dá acesso ao castelo imperial,não parava de se remexer. Aquilo o estava irritando. Ele voltava do ReinoOureal, levando um pergaminho-resposta de fita azul escura ao ImperadorCrystan.  Em relação ao Rei e a Rainha Oureal, eles estavam bem. Há algumas luaseles haviam sido capturados por Trevys, o serafim caído, e tinham sido

levados para uma caverna próxima ao Reino de Ágata. Mas agora jáestavam recuperando o tempo perdido. Apesar de a rainha ter alguns surtosde histeria às vezes.  Mesmo aparentemente contente, o Guardião se sentia sufocado pelaspróprias angústias e deveres. Há alguns dias tivera um dos poucos sonhossobre o futuro que o deixara inquieto. Nele estava Luany MacAran,majestosa, brilhando a luz da lua. Entretanto havia uma sombra se erguendoatrás dela, algo que parecia ruim, tenebroso. Endrich não gostara daquilo.  Balançou a cabeça, afastando tais pensamentos.  Como sempre, ao chegar ao castelo, Endrich foi recepcionado porNestor Krísllan, secretário do Imperador e noivo de sua melhor amiga.Porém, diferente das outras vezes, o rapaz estava muito nervoso epreocupado, mal conseguindo falar.  – O que aconteceu, Nestor? – quis saber Endrich, percebendo o estadodo secretário.  – A princesa… A princesa Blair sumiu – respondeu ele.  – Como assim?  – Inicialmente, acharam que ela estava brincando com as criançascamponesas, como ela gosta de fazer. Mas… – Nestor engasgou. – Ao falar

com o a Sra. Dambern, ela nos disse que a princesa havia seguido umasentinela para o pátio central, onde, supostamente, o Imperador estaria lheesperando.  – Quando eu acompanhei vosso Imperador ao pátio – continuou Nestor–, foi encontrado muito estrago. Parte do teto que encobria o lugar haviasido levado a baixo. Só não consigo imaginar como isso tem a ver com o seudesaparecimento.  Endrich ouvira atentamente. Mas será que estão planejando algum tipo de

 guerra novamente? –  perguntou-se. As coisas estavam tão boas desde que Trevys

voltara para seu exílio no Reino dos Mortos. O que será que aconteceu?  – Endrich? – chamou uma voz forte e conhecida.  – Senhor?  O Imperador Crystan se aproximou do Mensageiro. Asriel parecia muitocansado, como se não houvesse dormido a noite toda. Ele estava usando suacapa azul escura e uma fina coroa de ouro com pedras de diamante. Seusolhos verdes tinham sombras de olheiras. Demonstravam preocupação.  Com um aceno de cabeça, Endrich o seguiu até a Sala do Imperador.Mas, para chegar até lá, foi necessário atravessar pelo pátio central, ondeEndrich viu a destruição. Grande parte do teto de vidro que antes encobriao pátio havia cedido e estava amontoado pelo chão, formando o equivalentea um círculo. O Mensageiro ficou imaginando o que poderia ter causado

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aquela destruição.  Contudo, em meio aos destroços do teto, estava um homem magricela,com os braços estendidos ao céu, clamando por algo que Endrich nãoconseguiu entender. Ele parecia concentrado no que fazia. Logo, percebeuse tratar de Bridian, o grão-sacerdote do império, que vivia no Templo do

Universo[1]

. Ele deve estar fazendo uma prece aos deuses para que tragam a princesa –  concluiu meio cético.  – O que você acha que pode ter causado isso? – perguntou Crystan,parando em frente aos destroços.  – Eu não imagino senhor. Também tento entender o que aconteceu.Procuro por uma solução em minha mente. – Endrich se sentia um poucomal pelo sequestro de Blair, mas não havia o que fazer. Bufou. A raiva lheinvadia por não ter sonhado nada que pudesse ter lhe adiantado sobre orapto.  Ultimamente seus sonhos futurísticos estavam mais fracos. E isso, de

certo modo, estava lhe incomodando, já que há algumas luas, pouco antesde lutar contra Trevys, fora a época em que ele mais teve visões. E agoranada.  O Imperador Crystan voltou para o caminho, pesaroso, e logo depoisentrou na Sala do Imperador. Sentando-se em seu pequeno trono, Endrichpôde perceber o quão velho estava ficando. Sua aparência estavadescaracterizando seu espírito jovial – apesar de estar com seus quarentaanos, não mais que isso. Provavelmente casado pelas preocupações e listasde deveres a cumprir.

  Asriel contou um pouco sobre o que acontecera a Blair, mesmo queEndrich já soubesse. E logo lhe pediu:  – Preciso que você descubra quem fez isso com minha filha. E quero quevocê acabe com ele. Esse escroto  deve pagar! – O sangue subiu para suacabeça.  Endrich nunca vira o Imperador com tanta mágoa e raiva, mas não oculpou por isso. Ele tinha todo o dever de ficar assim.  – Senhor, como eu poderei encontrar essa pessoa? Há algum tipo depista ou algo parecido?  O Imperador retirou do bolso de seu colete, que vestia por baixo da capa,um objeto metálico e pequeno. Era dourado e possuía quatro desenhos, quepareciam ser voltados aos quatro elementos naturais: água, terra, ar e fogo. Oobjeto se tratava de um broche. Crystan empurrou-o por cima da mesa.  – Será que isso serve como pista? – interpolou o Imperador.  Endrich o fitou por um momento, curioso. Pegou o objeto nas mãos e oanalisou. Ele não se lembrava de onde, mas já havia visto algo parecido comaqueles desenhos.  – Eu tentarei fazer de tudo para descobrir mais a respeito desse objeto, eencontrar o raptor da princesa Blair.

  Crystan assentiu com o esboço de um sorriso melancólico.  – Só não peço para um bibliotecário fazer a pesquisa – explicou o

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Imperador –, porque eu tenho medo ao que isso pode se referir, e não queroque os segredos do Império sejam revelados.  – Eu lhe entendo, senhor. – Afinal, apenas os cinco Guardiões Imperiais e oscinco Imperadores sabem todos os segredos de Onyx. Ou quase todos… – lembrou-se que pouco sabia ainda sobre os mistérios de seu mundo.  – Agora vá, e tente descobrir o máximo possível. E se algo descobrir

venha até mim e me fale. Agora, mais do que nunca, preciso de sua ajuda,Endrich.  O Guardião sentiu o peso nas costas aumentar. Aquela seria uma grandemissão. Caso ele não encontrasse algo parecido com aquilo e que não lhedesse nenhum tipo de dica… Era melhor nem pensar nisso.  O também Mensageiro Imperial se pôs de pé, e, com uma mesura,retirou-se da sala. Voltaria para casa e faria sua pesquisa. Era um casourgente de vida ou morte.

 –––– – Aconteceu o quê com a princesa? – indagou Luany, pasmada.  Endrich só chegara à casa dos MacAran e contara para a amiga o queacontecera no castelo imperial. Luany ficou boquiaberta ao ouvir o relato deEndrich. Muito mais que isso, ficou preocupada. Conhecia a princesa háalguns anos, desde que a ajudara a se levantar e limpar o vestido após cairde um cavalo. Desde então se tornaram amigas, porém, ao chegar aadolescência, a vida pomposa e corriqueira de Blair, o contraposto de Luany,além de sua mãe, afastaram-nas uma da outra. A camponesa ficoupensando a mesma coisa que o amigo: Será que alguém quer travar algum tipode guerra?

  – E o que vai ser feito agora? – indagou Luany.  – Bem, terei de descobrir algo sobre o raptor e de onde é. Isso não vai serfácil. Mas terei de tentar.  – Mas, Endrich, como você fará isso? Terá de ir atrás dessa pessoa, sejaela quem for?  – Sim, é bem provável que eu tenha que ir, sim – responde oMensageiro. – Espero que eu não demore a encontrar mais pistas a respeitodessa pessoa. O imperador está muito preocupado.  Luany estava segurando o broche nas mãos. Endrich havia lhe

entregado para que desse uma olhada e para ter certeza de que nuncativesse visto em algum livro. A garota virava o objeto de um lado para ooutro, também tendo a impressão de que já vira aquilo antes.  – Endrich! Eu já vi isso – exclamou ela, despertando a atenção do amigo.  – Onde?  – Em um de seus livros. Acho que em um contando as histórias de Onyx.O… – tentava se lembrar, mas sua memória lhe falhara.  Agora Endrich se lembrava de onde ele vira aqueles mesmos símbolosdesenhados no broche. Ele sabia do que Luany estava falando. Era um livroque continha muitos contos antigos.  – Arquivos de Onyx! – completou Endrich. – É esse o nome do livro.  Dando um salto, Endrich e Luany seguiram para o quarto dele, onde se

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sentaram na cama, rodeados de livros antigos e alguns novos. Por se tornarum Guardião Imperial há pouco tempo, ele ainda havia de aprender muitosobre o mundo em que morava – e os livros de registros era a forma mais fácile rápida de se ter conhecimento. Por isso, sem mais rodeios, foi em busca dolivro que teria suas respostas.  Porém, esse era justamente o livro que Endrich não estava encontrando.

Ele olhou em tudo quanto era canto de seu quarto, mas não o achou. Logo odesespero lhe invadiu. Além de ser um livro que conta sobre tudo de Onyx,era um livro antigo e de pouquíssimas cópias, tornando-se uma raridade.Apenas os Guardiões Imperiais possuíam uma.  Ele passou quase toda a sua tarde em busca desse livro, mas não oencontrou. Quando já estava perdendo as esperanças, Luany o encontrouem meio às coisas de sua irmãzinha, Luna, a pequena arteira. Devolveu-o aoamigo.  Endrich folheou o livro em busca de uma lenda. Até que, no meio dele,encontrou algo parecido com as gravuras do broche. Ele pegou o objetometálico e pôs perto do desenho do livro. As formas ilustradas eram iguais:uma lavareda representando o fogo, uma gota, a água; algumas linhascurvilíneas representavam o ar, e uma montanha, a terra. Finalmente elehavia encontrado.  – À Luzyos – abençoou Endrich, erguendo rapidamente as mãos.  – Veja. É aqui que começa – disse Luany, apontando para o título dotexto: A LENDA DA ILHA ELEMENTAR.  Endrich passou os olhos por cima do texto e começou a ler: 

Há milênios um povo chamado de elementais, viveuem uma ilha no Mar d’Oeste, no Império de Jade.  Dizem às lendas que a Ilha Elementar é o berço dacivilização onyxiana. Nela, teriam nascidos os cincoprimeiros imperadores, conhecidos de Os CincoGrandes, estes abençoados pelos anjos. Essa terra forapalco de inúmeras batalhas entre espíritos celestiais,demoníacos e os próprios habitantes locais. Sendoassim, centenas de anos após a morte de grande parte de

sua população, a ínsula fora amaldiçoada por uma dasmanifestações do próprio deus das trevas.  Toda a ilha foi submersa por uma enorme onda, quelevou toda a extensão de terras para o fundo do mar. Apóssua primeira submersão, ela renasceu novamente aocompletar setecentos anos. Porém, o esconjuro afetou nãoapenas a Ilha Elementar, mas também os cinco SoldadosElementares – pessoas que tinham o dever de proteger ailha, utilizando suas habilidades sobre os elementos da

Natureza. Desde então, quando a ilha ressurge, suasvidas voltam esperando pelo dia em que despertarão e

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sua maldição terá sido quebrada por aquele o qual foidestinado o futuro de Onyx.

 Endrich terminou de ler e ficou atônito. Se ele lesse isso algumas luas

atrás, com toda a certeza não acreditaria em nenhuma palavra daquelas.Mas desde que sua vida começou a mudar, passou a crer em qualquer coisa

que pareça impossível de acreditar.  – Se isso for mesmo verdade, então… – Luany se interrompeu. Nemmesmo ela estava acreditando que àquilo poderia ser verdade. Era muitacoisa para sua cabeça.  Endrich marcou a página que se tratava da Ilha Elementar com umapena de ganso, que repousava em meio aos seus livros. Ele gostaria demostrar ao Imperador.  – E o que você fará gora? – interrogou a garota.  Endrich olhou para a lua Cahim através do vidro da janela. Seu brilho

esverdeado iluminava as noites escuras e geladas do inverno.  – Hoje não há mais nada que eu possa fazer – respondeu o Mensageiroe Guardião. – Mas, ao amanhecer, irei avisar o Imperador o que descobri ecom certeza irei ao resgate da princesa Blair.  Luany assentiu. Estava com medo de deixar o amigo partir, assim, indoatrás de perigo. Ela sabia que Endrich já correra muitos perigos, mas nuncaimaginava que ele poderia estar passando por dificuldades. E agora eradiferente, ela sabia que o Guardião estava indo atrás de algo que poderia sermortal, por isso se sentia tão preocupada. Deixe de ser egoísta, Luany! – pensava. Isso não é egoísmo… é, é…

  – O que foi Luany? – indagou Endrich, tirando-a de seus devaneios.  – Oh, nada. Eu só… estou preocupada – suspirou.  – Entendo. Não precisa ficar assim. Eu ficarei bem – prometeu. Masnem mesmo ele tinha essa certeza. E para quebrar aquele clima tenso entreos dois, Endrich muda totalmente de assunto. – Bom, já está na hora deirmos deitar. Preciso descansar, amanhã será um longo dia. E por favor, nãoconte nada sobre a ilha a ninguém. Certo?  Luany assentiu, resmungando sobre Endrich não confiar nela e logodando uma risadinha irônica. Ela se inclinou e, após dar um beijo no rosto

do amigo, saiu do quarto fechando a porta logo ao passar. O rosto do rapazformigava. Era uma sensação tão boa!  Suspirou. Endrich não queria deixar Luany para trás mais uma vez.Mas ele sabia que tinha de seguir para um lugar onde nunca ouvira falar emuito menos chegara perto. Nem ao menos tinha a certeza de que tal lugarexistia! E se realmente existisse, poderia ser muito perigoso. Não arriscaria avida dela.  Por fim, guardou os livros e pôs o Arco de Diamante ao lado da cama,em cima de uma mesinha. Tocando-o, como uma forma de pedir para que

tenha uma boa noite de sono, ele se deita e dorme.  Seria mais uma noite sem sonhos.

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 Dois

O Cavalo Alado 

Mal amanhecera e Endrich já estava de pé, disposto a ir conversar com oImperador Crystan. Precisava contar o que descobrira. Mas antes pudesseseguir, Luany o interceptou na sala e o fez seguir para a cozinha Não sairiaenquanto não comece alguma coisa.  – Se você for fazer algum tipo de viagem – disse Luany, um poucosonolenta – me avise. Não quero ficar me preocupando com seus sumiços

repentinos.  Endrich estava sentando em frente a ela, mastigando um pão comqueijo. Ele a fitava com olhos brilhantes. Por que a vida tem de ser tão cruelcom nós, meros mortais? –  pensou ele.  – Endrich? Oi…  – Ah, desculpe-me Luany. Eu estava absorto em meus pensamentos –respondeu sem jeito. Precisava distrair a mente com outras coisas. – Mas,respondendo a sua questão, pode deixar que eu lhe aviso caso viaje. O que é

 bem provável.  – É bom mesmo – retrucou a garota, com um tom irônico, assentindo

por fim.  O Guardião apenas sacudiu a cabeça, com um leve sorriso no rosto. Nosúltimos tempos ele andava muito mais sorridente. Antes ele possuíamotivos para não o fazer, mas agora sua vida parecia estar tomando umrumo diferente, melhor. Apesar de ainda não ter desvendando o sonho quetivera com seu pai, ao fim do outono. E isso o incomodava. Muito mais doque não ter sonhos.  – Bom, preciso ir – falou Endrich, terminando sua refeição. – Tenho quenoticiar o Imperador e ver o que faremos. Se vou viajar ou o quê.

  Luany assentiu, mas no fundo não queria que o amigo ficasse searriscando tanto.  – Então está bem. Não se esqueça de me avisar – reforçou a garota. – Euestarei por casa, então será fácil me encontrar.  Endrich assentiu com a cabeça, e, dando um beijo afetuoso na fronte deLuany, pegou o Arco de Diamante, que deixara pendurado em umacadeira. Então seguiu para o castelo imperial. 

Endrich foi rapidamente recebido por Nestor, que o levou diretamente aoencontro do Imperador Crystan.

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  – Com licença, senhor – disse o secretário, entrando na sala. – Endrichchegou.  Crystan fez um movimento com as mãos, indicando para que mandasseo Mensageiro e Guardião entrar. Não sendo mais necessária sua ajuda,Nestor se retirou do aposento com uma leve mesura, voltando para a suasalinha, perto da entrada do castelo.

  – Sente-se, Endrich – convidou o Imperador. Hoje ele estava diferentedo dia anterior. Parecia um pouco mais renovado, usava vestimentas maissimples, sem a sua capa: uma camisa verde musgo e um colete de couro. –Então, encontraste algo? – Foi logo indagando, ansioso.  Endrich revirou sua bolsa ao lado do corpo. De dentro retirou o livro

rquivos de Onyx , e abriu na página marcada com a pena. Mostrou para oImperador.  – A única pista que consegui com aquele broche – explicou Endrich –,foi sobre uma antiga lenda, a respeito de uma ilha que renasce e morre acada 700 anos. Não sei se é o suficiente, mas é o que eu consegui.  – Entendo – comentou Crystan, enquanto lia alguns trechos do livro. –E por que você acha que tem relação com o desaparecimento de Blair?  Endrich foi pego de surpresa. Não tinha exata certeza do que iria falar.Mas, sem se dar por vencido, tenta explicar para seu senhor a ideia queacabou lhe surgindo:  – Bom, eu não tenho muitas pistas, a não ser pelo broche. Mas, se é queisso seja possível – analisou o Mensageiro, coçando a lateral do rosto –, achoque pode haver relação com algum dos Soldados Elementares, que, segundoa história, também foram amaldiçoados.

  Crystan franziu o cenho enquanto pensava na possibilidade. Seriapossível isso acontecer? Não havia muita lógica nisso.  – Não estou lhe entendendo muito bem, Endrich – questionou oImperador. – Você está querendo dizer que um dos Soldados renascidosestivera aqui na noite anterior, em busca da minha querida filha?  – É a conclusão em que eu cheguei senhor. – Endrich não estava muitoseguro sobre sua tese. – Caso contrário, o que se pode dizer?  O Imperador Crystan parecia meio confuso. Endrich tentava entenderseu senhor; devia ser muito difícil ter a filha levada por Soldados mortos-

vivos. Ele mesmo mal conseguia crer nas próprias palavras.  – Bem, se não há outra explicação – acedeu Crystan –, eu estarei deacordo com seu argumento. Porém, quero que você faça uma coisa. Comovocê se tornara o Guardião de Diamante, tem o dever de acatar as minhasordens. E mais do que nunca, preciso que você as siga.  – Sim, senhor – respondeu Endrich, já prevendo o que Asriel pediria.  – Então, preciso que você faça a viagem para a Ilha Elementar e resgatea minha preciosa filha. Não vejo o momento de poder tocá-la novamente,ver que ela está bem – devaneou Crystan, deixando uma lágrima escorrer.  Endrich sentiu um aperto no coração. Não parecia mais ser AsrielCrystan, um homem forte e monarca de um vasto império, em sua frente.O Imperador estava triste, abatido, pelo rapto de sua filha. E assim

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permaneceria enquanto Endrich não a encontrasse, sabia disso.  – Senhor, tenha certeza que eu encontrarei a princesa Blair – prometeuo Guardião. – E usarei de todas as minhas forças para que isso aconteça.Não voltarei enquanto ela não estiver comigo, sob minha proteção.  Um leve sorriso transpareceu na face do Imperador. Endrichmergulhara, mesmo sem querer, o monarca em um lago de esperança. E se

não cumprisse com sua promessa, poderia, além de perder a confiança deCrystan, mergulhá-lo num poço sem fundo, de largas tristezas e maussentimentos. Endrich tentava nem pensar no que o Imperador faria casosua filha não fosse trazida de volta. O peso sobre seus ombros se tornaramaior do que imaginava.  – Agora, Guardião, você deve voltar para casa e se arrumar. Leve tudoque acha que for necessário, e esteja de volta logo após o meio-dia. Ireiliberar para você um dos meus cavalos mais velozes e especiais –confidenciou Crystan.  – Um da Tropa Especial? – indagou Endrich.  O Imperador assentiu.  – Agora, vá. Quero você bem disposto para a enorme jornada.  Com uma leve mesura, Endrich se retirou do aposento e seguiu para acasa dos MacAran. Ele estava muito curioso para ver que tipo de cavalopoderia ser. Por mais que não tivesse tempo para ficar com os animais, eraum amante dos cavalos, e toda vez que possuía um curto tempo, ele ia até oestábulo para ajudar o senhor Hammer, um velho baixinho e rechonchudo,com os olhos afundados no rosto. Endrich tinha essa divida com o tratador.Há algum tempo ele abandonara seu cavalo favorito para poder seguir para

a Dimensão da Luz, onde descobriu um pouco sobre suas origens. Por sorte– ou por Luzyos – o animal voltara para o Povoado Crystan.  Antes de chegar à casa da amiga Luany, Endrich passou na tenda do Sr.Krísllan, onde comprou um larên – fruta típica do verão, mas que aindahavia em pouquíssimas unidades para a venda.  – Muito trabalho, senhor Guardião de Diamante? – perguntou Natan,filho do dono da barraca.  – Ah, até que nos últimos dias está bem folgado meu trabalho. Aocontrário do início do meu novo serviço – respondeu Endrich ao garoto. Ele

era o irmão mais novo de Nestor e era um ótimo rapaz. Era tão trabalhadorquanto o resto da família.  – E a princesa Blair? Como será que ela está?  – Pretendo descobrir isso em poucos dias. – Como as notícias se espalhamrápido!  Natan, aparentemente, não entendera o que Endrich quisera lhe dizer.Por isso ficou com uma expressão de dúvida. E o Mensageiro se submeteu aexplicar.  – É que eu pretendo ir à busca da princesa, ainda nessa tarde.  – Mas é perigoso, certo?  – Sim, mas eu me arrisco toda vez que saio para ir entregar ascorrespondências para o Imperador. E dessa vez será por uma boa causa.

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  Natan assentiu. E, após o garoto desejar-lhe boa-sorte, Endrich volta aoseu caminho principal.

 –––– Quando atravessou a porta de casa, trancou a respiração ao se deparar comuma belíssima visão. Luany trajava um longo vestido branco-perolado. Esteera rendado e possuía desenhos majestosos que se estendiam pelo busto,

pelas mangas três quartos e chegava à saia, que cobria seus pés descalços.Ela parecia uma verdadeira princesa. Melhor, parecia uma deusa.  – Uau… – suspirou o rapaz, fazendo-a se assustar.  – Ai, Endrich, que susto! – retrucou a garota, pondo a mão sobre o peito.– Você quer me matar do coração?  – Desculpe, eu… – Endrich estava sem palavras para explicar qualquercoisa que lhe viesse à mente. A beleza da amiga era tão estonteante, queEndrich não conseguia suprir a realidade de que era mesmo Luany dentrodaquele vestido.  Uma senhora, que estava acertando as medidas do vestido, olhou paraEndrich com um olhar fulminante, algo parecido com “saia daqui, éproibido olhar para a noiva”. Mas Endrich não se deu por vencido e seaproximou da jovem, pegando uma das mãos dela entre as suas.  – Você está linda, Luany – sorriu. – Nem parece que faz tão poucotempo em que éramos mais novos e costumávamos correr e brincar nascolinas.  Luany enrubesceu. Era difícil deixá-la sem fala, e aquela foi uma dasocasiões. Sua cabeça dava mil voltas. Não, eu não posso – disse a si mesma.Será que estou sentindo algo por… Endrich? Não! Remexeu-se e a senhora deu

uma alfinetada em sua cintura. Ela deu um pulinho, mas logo se aquietou.A senhora só faltava lhe bater com aquele olhar selvagem.  – Endrich, eu… Ai cheira um casco de cavalo! – respondeu ela, semencontrar o que dizer. Mas Endrich não deixou de rir pelo seu jeitodissimulado. Ela desviou o olhar, mas também não aguentou e riu.  Pelo os dois, ficariam ali rindo o restante do dia. Mas Endrich selembrou de sua missão, e Luany não se esquecera de que devia terminar asmedidas de seu vestido; o mesmo que usaria para se casar com NestorKrísllan. Revirou os olhos com a lembrança. Por que mesmo se casaria com o

secretário? Ah, claro, lembrou-se: Nestor estava interessado nela desdemuitos anos e prometeu trabalhar e juntar uma pequena riqueza pararealizar o casório com ela. Como seu pai concordava com a ideia de que ela

 já estava na idade de se casar, nada melhor que fosse com alguém quegostava dela e que lhe daria uma boa vida. Luany não pensava assim.  Endrich, por fim, contou a ela e sua mãe, a senhora Amélia MacAran –que estava ali próxima – que iria viajar em busca da princesa Blair. Eleafirmou para Luany, que estava indo para a tal ilha que eles pesquisaram nodia anterior.  – Sério?! – deixou escapar Luany.  – Sim – confidenciou Endrich. – Irei logo após o meio-dia e pretendodemorar a voltar. É só um aviso, certo? Espero estar de volta em poucos

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dias, mas tenho um mau pressentimento do que está por vir.  E era verdade. Há pouco, logo que saiu do castelo imperial, Endrichcomeçou a sentir um aperto no peito. Ele já sentira isso antes. Esse apertosignificava que algo de ruim estava para acontecer, e que, provavelmente,seria revelado em seus sonhos. Como já acontecera antes. Esperava queassim fosse.

  – Com licença – disse Endrich. – Vou arrumar minhas coisas.  Luany assentiu, enquanto Amélia e a senhora de olhos fulminantestagarelavam sobre o quanto ela estava linda.  Quando entrou no quarto, Endrich tinha a sensação de que ficaria um

 bom tempo sem ver seu lar. Ele não gostava daquela sensação, mas nãopodia fazer nada. Suspirou resignado.  Dando um descanso para o braço esquerdo, Endrich retirou o Arco deDiamante, pousando-o em cima da cama. Também retirou o leve peso daaljava da cintura. Pousando a bolsa na cama, o Mensageiro pegou umcasaco e algumas camisas do guarda-roupa. Sem se esquecer de umas duascalças. Apesar de que, provavelmente, no Império de Jade não estivessefazendo frio como no Império de Diamante, ele decidiu levar consigo umgibão e sua capa com capuz.  Naquela época, como era inverno no Império de Diamante e na metadeleste do Império de Cristal era outono, era verão no lado oeste do Impériode Cristal e primavera no Império de Jade. Os únicos dois Impérios que nãopossuíam verão de verdade  eram o Império de Rubi e o Império deEsmeralda, que ficavam nos polos extremos do mundo.  Estando pronto para partir, Endrich se dirige para a cozinha, onde

Luany já está despida do vestido de casamento e usando um dos seusvestidos surrados. Ela estava ajudando a mãe no preparo da mesa para arefeição do meio-dia.  – Você já está pronto? – quis saber Luany.  – Ah, sim. Só estou esperando a comida – replicou o Guardião.  – Por Luzyos. Esse rapaz precisa aprender a fazer alguma coisa da vida.  – Você não reclame, porque sou o Guardião de Diamante, viu?  – Cheira – respondeu a garota com seu típico “pedido” para se calar. –Grande coisa ser um Guardião. Aposto que eu seria uma grande Guardiã.

Muito melhor que você.  Endrich sacudiu a cabeça. Preferiu não retrucar, caso contrário adiscussão iria longe.  – Vocês dois, parem de discutir – interferiu a mãe de Luany,calmamente. – A refeição está pronta. Vamos?  Luany estranhou. Seu pai ainda não havia chegado.  – E o papai?  – Ah, ele não vai vir almoçar hoje. Ele tem muita coisa para resolver –respondeu a Sra. MacAran. – Acho que as sementes de inverno nãochegaram ainda.  A jovem assentiu. Voltou-se para Endrich e sorriu. O Guardiãomergulhou num vácuo de pensamentos, seus olhos presos em sua beleza. O

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 bater de palmas de Amélia o retirou dos devaneios. Voltou a respirar.  Então, com a comida na mesa, eles três almoçaram.

 –––– Endrich já estava se aproximando do castelo, quando avistou o ImperadorCrystan saindo pelo portal principal do mesmo. Ele trajava a mesmavestimenta da manhã e sua fina coroa pendia em sua cabeça. Os olhos

ansiosos estavam cabisbaixos.  O Guardião seguiu até seu senhor e, juntos, seguiram para os estábulos.  – Então Endrich, pronto para ver o cavalo da Tropa Especial? – indagouCrystan, pouco animado.  – Óbvio. Estou muito entusiasmado e curioso – respondeu o rapaz. –Mas o que há de tão especial nesse animal?  – Você verá – concluiu o Imperador.  O estábulo ficava afastado do meio comercial, próximo às plantações dopalácio. Era todo construído em grossas tábuas do mais puro carvalho.Crystan e Endrich atravessaram a grande porta e seguiram, até sedepararem com o Sr. Hammer, que estava tratando de um dos cavalos deum camponês. Ao ver a figura do monarca, o trabalhador fez uma mesurae, com um aceno do Imperador, ele os seguiu.  A cocheira era dividida em vários quartos, cerca de cinco em cada lado,onde os animais possuíam espaço suficiente para dormir e descansar. MasEndrich não estava preocupado com isso agora.  – Senhor, nós chegamos – anunciou o Sr. Hammer.  – Endrich prepara-se – disse Crystan.  O Mensageiro se empertigou, e, respirando fundo, ele acompanhou o

Imperador e o Sr. Hammer para dentro da área do tal cavalo especial.Porém, quando viu o animal, todo o ar de seus pulmões saiu em um únicosuspiro. Era inacreditável aos seus olhos. Definitivamente, ele passara aacreditar em tudo que lhe contassem.  Não era um simples cavalo das Tropas Especiais, como Endrichimaginara, mas sim era um belo alazão dotados de asas.  Asas!  Ele malconseguia falar. Por isso o Imperador fizera questão de fazer tanto mistério.  – Incrível! – exclamou Endrich, por fim. – Isso… isso…  – Isso  é um cavalo alado. Uma rara espécie de equino, encontrado

somente nas Ilhas Metruskas. E você sabe sobre as muitas lendas queenvolvem aquela colônia de ilhas, não sabe?  Endrich sabia pouca coisa a respeito das Ilhas Metruskas, mas pelo queentendia, aquele era um lugar infestado de assombrações e, também,morada das bruxas – das quais nunca mais gostaria de ver. Sim, ele já virauma, certa vez, e desejava não encontrar outra tão logo. Nem por issodeixou de se maravilhar por aquele cavalo. Porém não podia se esquecer desua missão.  – Você vai voar até o Império de Cristal e pedirá a ajuda de Raffy, certo– ordenou Crystan. – Ele deve saber muita coisa a respeito da IlhaElementar, e isso poderá lhe ajudar pela busca de minha filha.  Endrich assentiu. Ele tinha de ajudar, e era isso que iria fazer.

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  – Está certo, senhor.  O Sr. Hammer deu uma rápida aula à Endrich de como “cavalgar”num cavalo alado. Estando bem preparado, o Mensageiro acompanhou oImperador até o campo, onde montou no lombo do animal.  – Espero que ele saiba voar muito  bem – brincou Endrich. O animalresfolegou em resposta.

  – Ah, sim, ele é bem treinado – confirmou Crystan. – Agora vá e, porfavor, traga minha filha de volta. Sua voz estava embargada.  O Guardião viu a súplica nos olhos verdes do Imperador e assentiu,apertando a mão do monarca. Incitando o cavalo alado, cavalgou para océu aberto. Lá de cima, ele conseguia ver parte das fronteiras do PovoadoImperial Crystan. Só esperava que ninguém o visse, mas não foi bem issoque aconteceu. Várias pessoas pararam de fazer o que estavam fazendopara ver o cavalo voador. Sem dar muita importância, Endrich e o cavalocontinuaram seu trajeto.  Agora o rapaz tinha uma verdadeira missão como Guardião Imperial. Ehavia de cumpri-la por completo, trazendo de volta a filha do ImperadorCrystan – a princesa Blair, herdeira do trono do Império de Diamante.

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 Três

Presa por Correntes 

Ela despertou do que parecia ser um pesadelo. Sua cabeça doía. Suas pernasdoíam. Seus pulsos doíam. Foi quando percebeu que quase todos os seusmembros estavam presos por correntes.  Seus pulsos e tornozelos haviam sido fortemente apertados por largascorrentes de ferro negro, um tipo de metal originário da Zona Oeste eCentral: aço-minério.

  Tentou gritar, mas estava quase sem voz; devia ser por causa do longotempo que ficou submetida à friagem, ou algo do tipo. Mas não estava frioali. O ambiente estava morno e iluminado – da forma que ela preferia.  Blair, que até então estava jogada no chão, levantou-se com um poucode dificuldade; as correntes que lhe prendia os braços e pernas estavamfixadas em um poste. Ela olhou em volta. A princesa nunca vira um lugardaqueles antes em sua vida de preparações e viagens com a Imperatriz,mas já estava se acostumando com ele. Estava numa espécie de altar, apoucos metros do chão de terra gramada. Logo a frente se estendia umavasta floresta, onde ela pôde distinguir uma forma de pedra em meio ao

verde que não fazia parte de seu tempo atual. Algo que se parecia com umtemplo antigo.  – Gostando da paisagem? – ironizou um homem alto e de cabeloscastanho-ruivos. Era seu raptor.  – O que… você quer? – conseguiu perguntar a princesa. Ela tremia demedo e mal conseguia sentir as mãos, que já estava formigando pelo longotempo presas.  – Eu? Bem, não sou apenas eu, mas ele  também quer. Ele  quer aindamuito mais que eu. Mas isso não vem ao caso agora – respondeu.

  Blair piscou. Há cinco dias estava sem se alimentar direito e sem uma boa água. Naquele massacrado momento, a princesa desejaria estar presadentro do castelo, sob a custódia de sua mãe, a estar presa àquelaindesejável situação.  – Eu… quero ir… embora! – exclamou ela. – Seu nojento!  – Como é? – O homem de olhos flamejantes deu um tabefe no rosto daprincesa, fazendo-a cair novamente. Aquilo estava se tornando rotineiro.Ele precisava parar de fazer isso, mas não conseguia se controlar. Ou você 

 para de enfrentá-lo, ou terá o rosto transformado em uma bola, de tão inchado que

icará –  criticou-se.  O raptor se agachou. Pôs a mão no queixo da garota e puxou seu rosto

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magrinho para próximo do dele. Beijando as duas faces da princesa, ohomem se afastou. Pensamento ardilosos pareciam percorrer sua mente.Dava para perceber em seu olhar que ela o desprezava.  – Está bem, então – disse ele –, irei lhe trazer um pouco de água ealgumas frutas e raízes para você comer. Isso deve ser o suficiente parapassar uns dois dias.

  – Mas e Gabrian? – a princesa indagou.  Ele deu de ombros. Assim, retirou-se, deixando a garota novamente.  A princesa Blair olhou para o lado, onde havia um trono, que seu raptorcostumava sentar nos fins de tarde, e, além dele, viu a figura distorcida deum garoto de mais ou menos a sua idade. Estava desacordado. Sabia que setratava de Gabrian Zackiel, filho do Imperador de Cristal. O que ele estáazendo aqui? Porém, também não tinha ideia de o porquê de estar ali.  Blair olhou para o horizonte, a Estrela de Fogo estava prestes a morrerao oeste. Ela não conseguia pensar em nada para escapar, então torcia paraque alguém viesse ao seu encontro para que lhe tirasse dali o quanto antes.Estava desesperada.  E, enquanto vislumbrava os raios de sol sobre sua pele clara, fantasiouem sua mente a chegada de uma tropa de guerreiros armados para lhessalvarem.

 –––– O raptor seguiu para um templo antigo, em meio à densa floresta. Ali, outrohomem estaria lhe esperando.  Quando o raptor entrou no templo, lá estava ele, vestindo um casaco,sobretudo preto, que chegava perto dos pés.

  – Então, tudo está saindo como o planejado? – perguntou o de preto.  – Ah, sim. A princesa e o príncipe já estão aqui.  – Ótimo, caso eles não venham em até sete dias, assassine-os, mas nãopermita que suas almas escapem de suas mãos. Caso o plano não saia comoplanejado, precisaremos utilizar de outras formas de conseguir a Espada, esuas almas serão uma boa fonte de poder para isso acontecer.  O raptor assentiu.  – Pode deixar comigo, senhor. Mas tenho certeza de que eles irãoaparecer.

  – Mas caso os Guardiões não  apareçam, você sabe o que fazer. – Ohomem de reto deu um passo a trás e se dissipou numa fumaça negra.  Agora sozinho, o raptor precisava concluir mais uma parte do plano.Por isso seguiu para o pequeno Condado da Terra.

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 Quatro

Sheron MacWyes 

Fazia cinco dias que Endrich saíra em viagem quando, em uma noite fria eestrelada, sua mente o levou a um lugar que ele nunca imaginara antes. 

Ele estava numa espécie de salão ou coisa parecida. Era alto e caberiam unscinco dele um sobre o outro. As paredes eram feitas de blocos de pedra amarelada,com traços e desenhos de pessoas e de uma ilha em alto mar.

  Naquele salão estava uma mulher de cabelos ruivos e olhos tão azuis quanto omar. Sua expressão não era muito animadora, apesar de esboçar um leve sorriso.  – Quem é você? – pergunta Endrich, aproximando-se da mulher.  Ela não respondeu. Logo as imagens foram se dissipando. O sonho estavamudando, dando origem a novas formas e imagens. Quando a imagem se fixou,Endrich levou um grande susto. À sua frente havia uma gigantesca cobra. Nãodava para se ver muito dela, mas pelos seus olhos amarelos, o Guardião pôde sentirum grande medo.  E no simples passo que o rapaz deu para trás, o imenso réptil se jogou contraele de boca aberta, e então tudo escureceu.

 –––– Despertou com um pulo. Ele secou a testa, que pingava em suor, com amanga de sua camisa. Quando eu pensei em sonhar –  disse a si mesmo, irônico–, pensei em sonhar algo bonitinho e fofinho. Ou algo que me levasse às pistas deonde a princesa Blair está. E não sendo devorado!  O Guardião de Diamante se pôs de pé e, fazendo um rápido desjejum,voltou a seu destino: o castelo imperial do Império de Cristal.  Ele preparou o cavalo alado que o Imperador Crystan lhe dera para aviagem, e, dando mais uma olhadinha para o lugar em que passara a noite,

montou no animal e seguiu voando para as terras da Zona Central.  Ele passara a última noite numa caverna nas mediações entre o Impériode Diamante e o Império de Cristal. Ele decidira voar por um tempo a mais,no dia anterior, para evitar chegar próximo à caverna em que passaragrandes apuros, na Mata Rusken. Um arrepio lhe percorreu a espinha coma lembrança. Como estava com certo trauma de fantasmas, decidiu nãoarriscar a se encontrar com eles novamente.  Endrich não imaginava que poderia ficar tão adiantado voando em umcavalo alado, como era o caso. Tudo bem que há algumas luas, no outono,

ele voara numa fênix para salvar seu povoado – o que não durou mais doque alguns minutos, graças ao poder mágico daquele belo pássaro. Mas há

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uma grande diferença entre as fênix e os cavalos, por isso Endrich já estavaachando que a viagem progredira bastante. No ritmo em que estava,chegaria ao castelo imperial antes do meio-dia.

 –––– Quando pousou o cavalo alado próximo aos estábulos, Endrich achou quedesabaria de cansaço e dor nas pernas e costas. Como o previsto, ele

chegara ao Povoado Imperial Zackiel antes do meio-dia, e agora só pensavaem descansar.  – Bom garoto – disse ele ao cavalo. – Você deve descansar agora, deveestar quase desmaiando pelo esforço que fez.  O cavalo respondeu com um relinchado meio melancólico. Seu peloespumava de suor e suas asas deviam estar tão doloridas quanto às pernasde Endrich.  Endrich pediu ao senhor de olhos esbugalhados que estava cuidandodos estábulos, um homem alto e magro, para que tratasse do animal como sefosse do imperador local. Ele explicou que aquele alazão era do ImperadorCrystan e que deveria ser tratado muito bem. O homem ainda um poucosurpreso com o pouso repentino, assentiu.  Estando tudo em ordem, o Guardião seguiu para o castelo imperial. Nomeio do caminho percebeu que vários olhos estavam colados nele, curiososcom sua chegada num cavalo voador. Ele apenas sorria e acenava. Algumassentinelas foram em sua direção para detê-lo, mas pararam aonde estavam,assim que perceberam de tratar do Guardião Imperial de Diamante.  Quando chegou ao castelo, foi recepcionado por Mikaell em suapequena sala.

  – Olá, Guardião, como… – Mikaell fez uma pausa para espirrar e tossir –Desculpe. Como você está?  Pelo visto, Mikaell ainda não melhorou de sua doença, ou então ele pegououtra.  – Eu estou bem, Mikaell, e você? – A resposta seria um tanto óbvia.  O secretário fez uma expressão cética ao visitante.  – Estou bem, tirando… – o secretário teve um acesso de espirros, e logose voltou a Endrich. – Certo, tirando essa doença maldita, que não sara,estou em perfeito estado.

  Mikaell fez uma pausa para assuar o nariz.  – Mas o que o trás aqui? – o indagou.  Endrich deu uma olhadinha em volta, preocupado.  – Eu gostaria de conversar com Raffy. É um assunto muito sério. Deextrema urgência – respondeu ele.  Raffy Di Akren era o Guardião de Cristal. Ele se tornara amigo deEndrich há pouco tempo, no outono passado, quando Endrich descobriusobre sua verdadeira origem e passado.  – Hum… Infelizmente você terá de aguardar mais um pouco –responde o rapaz, a voz fanhosa.  –   Ele saiu em uma busca, que tambémmerece atenção extrema.

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  – Certo. Mas o que aconteceu?  – Não sou apropriado para lhe revelar o assunto, mas você deve ser deconfiança… O príncipe Gabrian sumiu. Ele não foi encontrado em partealguma do castelo e do Povoado Zackiel. Agora foi liderada por Raffy uma

 busca para tentar encontrar o herdeiro do trono.  Endrich ficou pasmo. Será que era coincidência a princesa Blair e o

príncipe Gabrian terem sumido ao mesmo tempo? Será que alguém queriaver o mundo em guerra? Algo de muito errado estava acontecendo.  – E Raffy volta ainda hoje? – quis saber Endrich.  – É para voltar – confirmou Mikaell. – O grupo de busca saiu anteonteme ainda não retornou. Decerto estarão até o anoitecer.  Endrich assentiu. Sua cabeça mergulhou num mar de pensamentos.Dois sumiços aconteceram na mesma época. Duas viagens de busca; tantoele quanto Raffy estavam em busca dos herdeiros de seus imperadores.  – Sr. Ragrson? – Endrich estava tão absorto em seus pensamentos, quenem viu quando Mikaell o chamou. Sendo assim, o secretário teve derepetir: – Sr. Ragrson? Está me ouvindo?  – Ah, sim, desculpe-me. Eu estava distraído, pensando – respondeuEndrich, um pouco encabulado.  – Percebe-se. – Mikaell teve um ataque de tosse, mas logo se recompôscom a chegada do Imperador Zackiel.  – Ah, Mikaell, assim você não poderá trabalhar – disse o Imperador,solene.  Darian Zackiel possuía olhos que pareciam arder em chamas. Como daprimeira vez que Endrich o vira, o Imperador vestia uma capa cinza por

cima de um colete e usava uma fina coroa de prata com pequenas pedrasde cristal.  – Meu senhor, eu devo trabalhar – respondeu Mikaell, após fazer umamesura ao monarca. – Não posso lhe… – o secretário espirrou novamente.  Zackiel olhou para Endrich, cético e admirado, pelo desempenho deMikaell. O Guardião fez um movimento de cabeça ao Imperador e sorriu,concordando com ele.  – Sr. Ragrson, como estás? Fiquei sabendo que você se tornara oGuardião de Diamante oficialmente – interpolou Zackiel, curioso.

  Endrich assentiu.  – É verdade. Mesmo por que, caso contrário, eu nem aqui estaria.  O Imperador concordou. Os lábios levemente curvados.  – Bem, mas isso não ocorreu e agora deves estar todo atarefado. Bem…você está com fome, não é? Então me siga – falou ele a Endrich. – E você vátomar uns chazinhos, senão daqui a pouco receberei cartas e documentoscontaminados – concluiu virando-se para Mikaell.  Endrich achou aquilo um pouco duro demais da parte do Imperador,incomodando-o. Porém, nada poderia fazer em contradição. O secretário,de bom grado, assentiu, retornando aos seus fazeres enquanto o Imperadore o Guardião seguiam para o salão do refeitório.

 –––– 

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O Imperador Zackiel deixou Endrich almoçando sozinho no refeitório docastelo, enquanto fora cuidar de seus negócios políticos.  Endrich percebeu o quão frio o monarca conseguia ser. Como ele pode seinteressar com política numa hora dessas? –  ponderou o Guardião. – Ei, se elenão percebeu ainda, seu filho está desaparecido, ao que parece, há três dias! Certo,ele chegara à conclusão de que não gostava do Sr. Zackiel, nem um pouco. A

dureza daquele homem era no mínimo irritante.  Endrich tentava não pensar tanto nos desaparecimentos, mas suamente o deixava inquieto. Esperava que estivesse tudo bem com BlairCrystan, senão achava que Asriel enlouqueceria.  Após a refeição do meio-dia, o rapaz se dirigiu para o povoado quecercava o castelo imperial. O Povoado Imperial Zackiel se mantinha atravésda venda e consumo de animais, como porcos, vacas, bois e cavalos paramontaria; ao contrário do Povoado Imperial Crystan, que vivia basicamentede plantações e vendas de produtos, entre estes arcos e flechas.  Enquanto caminhava pelo mercado, sem querer, esbarrou-se em umamulher pouco mais velha que ele. Ela tinha olhos azuis e cabelo ruivo,estranhamente familiar.  – Oh, desculpe-me – disse Endrich.  – Olha por onde anda… Ah, perdão – respondeu ela, com uma rápidamudança de humor. – Você está bem?  – Ah, sim, estou. E você?  – Claro!  Endrich ia seguir seu caminho sem destino, quando a moça o chama devolta.

  – Senhor?  O Guardião se vira, achando a abordagem dela um tanto respeitosapara com ele, um simples Mensageiro – e importante Guardião, diga-se depassagem.  – Sim? – pergunta ele.  – Então? Você tem alguma coisa para fazer agora? – quis saber ela.  Achou estranho a mulher lhe perguntar isso. Mesmo por que os doisnunca haviam se visto antes. Mas, educadamente, respondeu-lhe aquestão:

  – Ah, não. Não tenho nada em mente para essa tarde, por enquanto.  A mulher assentiu. Endrich tinha a sensação de conhecê-la de algumlugar…  – Você se importa de seguir comigo? É que estou sozinha, meus paisviajaram.  Endrich deu de ombros. Acho que vai ser bom ter alguém para conversar.Sendo assim, os dois caminharam sem um rumo certo. Só esperava que elanão fosse de uma daquelas famílias em que uma simples troca de palavrasfosse o gatilho para um compromisso. Não achava isso certo.  – Então, como você se chama? – perguntou Endrich.  – Ah, sim, meu nome é Sheron MacWyes, prazer. E você, como sechama?

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  – Endrich Ragrson, Mensageiro Imperial da Zona Leste e GuardiãoImperial de Diamante.  Sheron fez uma expressão de surpresa.  – Você é um Guardião Imperial? Uau… Que demais!  Endrich sorriu pela forma que ela falou. Só faltou ela sair saltitandopelas ruas. Apesar de ser uma mulher com seus vinte anos, aparentemente,

seu espírito era o de uma garota de quinze ou dezesseis anos.  – É, mas quando eu fiquei sabendo que eu era um descendente deGuardião, odiei. Não queria me tornar um de forma alguma – ele contou.  – Mas por quê? – indagou-o, com uma voz forte e doce ao mesmotempo.  Endrich hesitou. Nunca mais pensara muito nisso. Mas havia deresponder a mulher.  – Eu não sei ao certo. Acho que tinha medo de me tornar imortal,apesar de que eu posso morrer a qualquer momento.  – Então você é sempre jovem?  – Sim. – Ele sorriu. Era incomum encontrar moças que se interessavamsobre tal coisa. Deveria ser como sua amiga Luany, que não gosta muito deficar falando sobre roupas, costuras e tecelagem.  A tarde seguiu rapidamente. Sheron MacWyes contara a Endrich quemorava com seus pais, ali mesmo, no Povoado Imperial Zackiel. Mas queeles, naquele dia, haviam saído para comprar alguns animais num reinovizinho.  Ao fim da tarde, eles se encontravam sentados à beira do lago Miragem,um pouco afastados do castelo imperial e do mercado. Ali perto havia mais

casas de camponeses, que não deixavam de trabalhar de forma alguma,encaminhando animais para chiqueiros e estábulos, antes que anoitecesse.  Endrich vislumbrava o lago Miragem. No reflexo das águas ele pôdedistinguir a face de Luany, sorrindo para ele. Ele se assustou. O que é isso?  Sheron vendo seu estado, pergunta:  – O que foi?  – Nada, acho que estou sonhando acordado – respondeu o Guardião,sem graça.  – Você viu a face de alguém nas águas do Miragem, certo?

  – É… Como você sabe?  – Bem, dizem que esse lago é mágico. Por isso o nome Miragem, por queele revela o rosto da pessoa que você sente um grande carinho e que maistem medo de perder. – Sheron também vislumbrava a água límpida eazulada do lago. Parecia estar vendo alguém também.  – Hm – murmurou Endrich, sem saber ao certo se aquilo que vira faziasentido com o que Sheron lhe falara.  – Bom, é o que dizem – concluiu ela sorrindo.  A Estrela de Fogo, o sol, estava se pondo, e a lua Cahim estava dando oar de sua graça, acompanhada por pequenos pontos de luz, as primeirasestrelas do firmamento.  – Endrich foi muito bom ter conversado com você, mas tenho que ir

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embora – disse Sheron, levantando-se de um pulo.  – Espera, mas já? – Endrich gostaria de ficar um pouco maisconversando com ela. Contar sua última aventura.  – Infelizmente, tenho que ir.  – Mas mal conversamos.  Ela sorri. Sheron então se vai em direção das casas camponesas, porém,

volve para Endrich com um último aviso:  – Não se preocupe. Isso não será um adeus.

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 Cinco

 A Rebelião em Etty Mallol 

Assim que Sheron foi embora, Endrich fitou um pouco mais o Miragem elogo voltou para o castelo imperial, onde tentaria encontrar Raffy. Porém, aochegar ao castelo, o amigo ainda não havia retornado de sua busca.Rapidamente a angustia lhe tomou conta.  Mikaell, percebendo que o Guardião de Diamante estava inquieto,levou-o para um quarto onde poderia descansar, já que ainda não tivera a

oportunidade naquela tarde. Quando Endrich deitou-se na cama, váriospensamentos e lembranças de casa lhe tomaram a mente. De certo modoera ruim ficar relembrando o lar, mas por outro era reconfortante memoraros bons momentos.  – Ai, ai, ai… Endrich, Endrich, o que você vai fazer de sua vida? –perguntou a si mesmo.  – Você pode me acompanhar. – Raffy entrou no quarto.  – Oh, Raffy! Que bom vê-lo.  – Também é bom em lhe ver – respondeu Raffy, dando um abraço emEndrich.

  Endrich não havia percebido quanto tempo havia passado desde quedeitara. Assustou-se com a ideia de ter se perdido entre as horas. Contudo,ele percebeu que o Guardião de Cristal estava com uma aparência horrível.Provavelmente ele não dormira quase nada; a busca deve ter sido bempesada.  – Estou sabendo o que aconteceu ao príncipe Gabrian – comentouEndrich.  O Guardião de Cristal assentiu.  – Bem, não consegui encontrá-lo, mas ainda o encontrarei. Fiz essa

promessa ao Imperador, e devo cumpri-la.  – Verdade. Também tenho uma promessa a cumprir, mas acho queprecisarei de sua ajuda.  – O que houve?  Endrich se sentou na cama e contou tudo a Raffy, desde odesaparecimento da princesa Blair ao mistério do broche, que foraencontrado no local onde o pátio central ficara destruído. Ele relatou o quedescobriu sobre a Ilha Elementar, e que concluiu ser o único lugar paraonde Blair poderia ter sido levada.

  – Você acha que essa ilha, realmente, existe? – indagou Raffy.  – Olhe Raffy, ultimamente eu não duvido de mais nada – ponderou

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Endrich. – Se algum tempo atrás eu duvidava de magia e fantasmas, hoje…Rá, eu não duvido mais.  Raffy assentiu e sorriu.  – Então, o que você acha que devemos fazer?

 –––– O Imperador Darian Zackiel estava saindo de sua sala para seus aposentos,

na ala nobre do castelo, quando foi abordado por Raffy e Endrich.  – Senhor, nós precisamos conversar – disse Raffy, fazendo uma levereverência.  – Mas agora? Isso é hora de vir me chamar? – reclamou Zackiel. – Vocêsdeviam ir dormir. Principalmente você Raffy, que terá de sair amanhã,novamente, para ir à busca de Gabrian.  Endrich percebeu Raffy enrubescer. Milagrosamente, ele parecia bravocom alguma coisa. Se fosse com o Imperador ele estaria totalmente deacordo; aquele homem merecia umas boas bofetadas.  – Mas é sobre isso que viemos conversar – respondeu o Guardião deCristal.  O Imperador suspirou, pondo uma mão na testa. Com um aceno daoutra, ele mandou Raffy e Endrich entrarem em sua sala. Seguiu-os deperto.  – É bom que seja importante – retrucou Darian, sentando-se em seupequeno trono, atrás de uma mesa de carvalho com desenhos filamentososem ouro.  A sala, Endrich percebeu, era tão grande quanto à sala do ImperadorCrystan, porém não possuía o mesmo aroma agradável. Ali o cheiro parecia

mais de óleo amadeirado, dando um toque rústico ao ambiente. E nas janelas no fundo da sala, ao contrário do tema religioso do Imperador Asriel,havia um tema mais centrado a lutas e revoltas.  – Bem, senhor – começou Raffy –, eu não consegui nenhum tipo depista para encontrar Gabrian, mas Endrich tem uma ideia e uma pista quepode nos levar a encontrar tanto o príncipe quanto a princesa Blair, quetambém desapareceu do Império de Diamante.  – Sim – concluiu Endrich. – O raptor deixou isso no local por onde,provavelmente, ele saiu. Trata-se de um broche. – Endrich entregou o

objeto metálico para o Imperador, que o analisou atentamente. – Pelo o quepude concluir, fazendo uma pequena pesquisa, esse objeto está ligado a IlhaElementar, uma antiga terra amaldiçoada.  O Imperador Darian ficou pasmo, voltando seus olhos profundos paraEndrich. Arrastando o broche de volta para ele, argumentou:  – Bom, isso é muito interessante, mas essa ilha não existe. É apenas umalenda. – Por um momento pareceu não confiar nas próprias palavras.  – Eu não diria isso, senhor – retrucou Raffy. Ele estava um poucocalado, mas sua expressão demonstrava certa angustia e atenção. Deviaestar preocupado com alguma coisa.  – Senhor, eu também não acreditava nessas coisas sobrenaturais – disseEndrich. – Mas quando passei a fazer parte delas, eu aprendi a conviver e a

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aceitá-las.  Zackiel pareceu pensativo. Além disso, nada mais aparecia. Nada,nenhum tipo de expressão. Ele era um homem muito cético e gélido,percebeu Endrich. Só agora notara o quanto ele havia mudado desde aprimeira vez que o vira – ou então, na ocasião, o Imperador estava apenasescondendo quem realmente era. Porém, passado algum tempo, o

Imperador solta todo o ar dos pulmões num único sopro. Pareciaprofundamente preocupado. Estaria demonstrando algum sentimento?  Endrich falou:  – Senhor, eu só desejo-lhe que permita a Raffy seguir comigo nessatrajetória, até as águas do Império de Jade. Caso não encontrarmos a ilha,voltaremos logo em seguida e daremos prosseguimento às buscas pelopríncipe e princesa.  Darian cofiou a barba castanha. Seu rosto esboçou algo parecido comum leve sorriso.  – Está bem, eu autorizo Raffy a ir com você – permitiu Zackiel. – E casoencontrem meu filho, quero que o tragam imediatamente, mas, casocontrário, deixem a ilha e voltem o mais rápido que conseguirem.  Endrich e Raffy assentiram.  – Ah, senhor – indagou Raffy –, teria como mandar um barco ainda essanoite para o Império de Jade?  O Imperador ajeitou sua coroa de prata sobre os cabelos castanhos. Seusolhos dourados pareciam faiscar.  – Eu não sei ao certo, mas, aparentemente, há um barco pesqueiro quesairá ao amanhecer. Se assim quiser, podem partir imediatamente –

respondeu ele. – Mas seria mais sensato se vocês perguntassem a Mikaellem que reino será a partida. Agora, desculpem-me, mas tenho que ir dormir.Amanhã há muito que fazer, ao contrário de vocês dois.  Sendo assim, Zackiel acompanhou os Guardiões até a porta, seguindologo depois para seus aposentos.  Enquanto Endrich e Raffy seguiam para a salinha de Mikaell, torcendopara que ele ainda estivesse acordado, Endrich reclamara:  – Como assim não temos nada para fazer? Se ele não percebeu, nós é quevamos procurar pelo seu filho, enquanto ele fica sentado em seu trono de

ouro e riquezas! – Endrich estava tão indignado quanto um mercador quetem suas frutas roubadas por outro comerciante.  – Acalme-se, Endrich – pediu Raffy. – Entenda meu senhor, ele é assimmesmo. – Mas Raffy falava mais para si. Também estava um tantoindignado.  Quando chegaram ao escritório de Mikaell, os dois deram graças por eleainda estar trabalhando. Eles perguntaram quando e onde sairia à próximaembarcação para o Império de Jade, e, olhando em um livro de anotações, osecretário lhes reponde:  – Bem, há um barco pesqueiro saindo do Reino Portuga, ao amanhecer.Mas para quê vocês querem saber? – perguntou após um acesso de tosse.  – É que nós estamos partindo para lá nesse exato momento – contou

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Raffy. – Temos uma pista de onde pode estar o príncipe.  – Ótimo! Mas como… – Mikaell espirrou. – Como vocês irão chegar atélá?  Raffy perdeu a cor do rosto. Como ele não pensara nisso? Se fossem a péchegariam apenas no outro dia, senão mais. Nem mesmo de cavalo dariatempo. Mas Endrich tinha a solução de seus problemas.

  – Eu sei como – revelou o Guardião de Diamante com um sorriso detriunfo. –––– 

– Por que você não falou isso antes? – indagou Raffy, enquanto deslizava amão através do pelo negro do cavalo alado.  – Desculpe, mas as coisas estão acontecendo rápidas demais –respondeu Endrich. Ele pôs as rédeas no animal e, selando-o, seguiu parafora do estábulo.  O senhor que cuidava do local não deu a mínima por tirá-lo dali, e,dando de ombros, seguiu para um canto onde recostou a cadeira na paredee começou a roncar.  – Você está pronto? – indagou Endrich ao Guardião de Cristal.  – Com toda a certeza.  Montados no cavalo, Endrich instigou o animal a seguir voo pelos ares.

 –––– 

Quando eles chegaram ao Reino de Portuga[2]

 , de madrugada, na costasudeste do Império de Cristal, o céu reluzia como uma cortina salpicada deestrelas. O ar gélido, que seguia pelo Império de Diamante e parte do

Império de Cristal, se desfez, dando lugar a um ar mais aprazível e morno.  Devia ser duas da manhã, mas, educadamente, foram recepcionadospelas sentinelas que guardavam a estrada principal que entrava no reino.As sentinelas se impressionaram com o cavalo alado e, apreensivos,deixaram Endrich e Raffy entrarem na cidade que cercava o castelo.  Rapidamente os dois foram dirigidos ao castelo real, podendo deixar ocavalo nos estábulos por quanto tempo quisessem. O secretário real, que sechamava Amael, ainda estava resolvendo alguns problemas quanto àscorrespondências em sua sala. Mesmo assim, ele recebeu muito bem aosGuardiões, apesar das olheiras que contornavam os olhos.  Os Guardiões pediram informações a respeito da embarcação que sairiaao amanhecer, e Amael confirmou que o barco pesqueiro partiria para oImpério de Jade, fazendo uma pequena parada em Etty Mallol, umapequena ilha ainda em águas do Império de Cristal.  – Se vocês quiserem estar revitalizados ao amanhecer, eu sugeria que osdois dormissem um pouco. É bom para manter as forças… – Amael bocejou.  – Eu sugeria que você também fosse dormir – questionou Raffy. – É bompara manter as forças – caçoou, e o secretário retribuiu com uma careta.  Logo em seguida, ao fechar um livro de anotações e escrever uma

autorização de embarque, Amael conduziu os Guardiões para um quarto dehóspedes, onde possuía duas camas. E ali, deitando um em cada cama,

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dormiram rapidamente. –––– 

O barco pesqueiro já estava quase partindo, quando Endrich e Raffydespontaram no cais do Porto Alexis. O dia estava lindo, o sol radiava nohorizonte.  – Da próxima vez sejam mais pontuais – censurou o barqueiro pegando

o documento assinado por Amael; um homem alto, magro e devia ter unscinquenta anos. A barba cinzenta, por fazer, lhe dava uma aparência aindamais velha.  – Desculpe-nos, senhor – respondeu Raffy, aparentementedesconcertado. – Acho que dormimos um pouco mais do que devíamos.  – Tudo bem. E, ah, meu nome é Tairos. Acman Tairos. Mas podem mechamar apenas de Tairos. – O velho sorriu, mostrando seus dentesamarelados.  Os Guardiões assentiram e adentraram no barco, sentindo um levecheiro de peixe podre. Era um barco pesqueiro de porte médio, e por issoera raro quando a proa e popa estavam sob condições extremamentehigiênicas. Endrich sentiu seu estômago enojar ao exalar o cheiro, mastentou não se incomodar com isso. Já Raffy quase não segurou o quecontinha em estômago, tendo que ficar o tempo todo na parede a estibordo,olhando e sentindo a maresia.  E assim o tempo foi passando, enquanto o barco seguia para o alto-mar.  Endrich ainda conseguia vislumbrar algumas montanhas nas terras doImpério de Cristal, e ficou se perguntando de onde seriam.  – Aquelas cadeias montanhosas vão desde o Reino Portuga até próximo

ao Povoado Imperial Zackiel – comentou Raffy, captando os pensamentosde Endrich. – São muito conhecidas pelo grande pico que duas delasdemonstram. – Raffy apontou para duas montanhas mais ao norte, que seelevavam a uma grande altura. – Essas são as Montanhas Gêmeas.  Endrich admirava seus altos picos enquanto seguiam para Etty Mallol.  Três dias se passaram desde que Endrich e Raffy haviam embarcado, eagora a embarcação já estava bem próxima da ilha onde o Sr. Tairos iriaatracar para deixar uma carga de peixe.  Enquanto a nau não chegava à ilha, Raffy, que já estava mais

acostumado ao mau cheiro do peixe, relatou à Endrich um pouco sobre ahistória de Etty Mallol.  – Antigamente a ilha era um grande porto de comerciantes, aondevários produtos vindos de todos os Impérios passavam por aqui. Mas hojeem dia esta está, bem dizendo, abandonada. Há ainda famílias pobres, quemoram aí por não terem condições para viajar e arrumar uma moradia nasterras do continente. – Raffy, indo para bombordo, apontou uma faixaamarela de terra no lado norte da ilha, onde havia algumas moradas velhase antigas. – Bem, eu ouvi dizer que nessas casas moram contrabandistas erebeldes, exilados dos continentes.  – Hum… Odeio contrabandistas – comentou Endrich. – Mas por quealguns são exilados?

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  – Os exilados dos continentes são alguns contrabandistas e outrosassassinos e ladrões, que tiveram como castigo viver as próprias custas nessailha – explicou Raffy.  Endrich assentiu.  – Mas não há perigo de eles roubarem ou matarem as pessoas “boas”, dolado onde é feito os comércios? Já que eles moram na mesma ilha.

  – Bem, na verdade não. Existe uma gigantesca muralha entre apequena floresta, dividindo a ilha em dois lados.  – Ah, entendi.  Não muito tempo depois, a embarcação saiu das águas do Mar do Sul eadentrou no Mar d’Oeste, ainda no Império de Cristal. Logo estavamdando a volta na ilha pelo lado leste, para chegar ao porto, ao sul. Endrich eRaffy estavam loucos para descer e tocar os pés em terra firme.

 –––– – Vocês podem ficar tranquilos, certo? – avisou o Sr. Tairos. – Ficaremos parafazer a refeição do meio-dia, e só então continuaremos viajem pelas águasdo Mar d’Oeste.  Os Guardiões assentiram e correram para a areia fofa da beira do mar eali se deitaram, sentindo o cheiro salgado da maresia adentrar em suasnarinas.  – Achei que nunca mais eu iria sair daquela embarcação – resmungouRaffy. – Minhas roupas ficaram com o cheiro do peixe grudado nelas.  Endrich riu, mas parou logo percebendo que suas roupas tambémestavam fedendo.  – Hum… Credo, esse negócio cheira mesmo mau.

  Os dois, cada um com sua bolsa, seguiram para um chalé, onde serviacomo bar. Ali, trocaram suas roupas mal cheirosas por outras novas. Nomesmo chalé, eles fizeram uma refeição; estavam com os estômagos vaziosdesde a noite passada. Depois de se fartarem, seguiram para a praia, ondecaminharam por um longo tempo sem compromisso.  – Você acha que conseguiremos salvar os herdeiros? – indagou Endrich,fitando o mar.  – Assim espero. O Imperador Zackiel está contando com minha ajuda enão posso decepcioná-lo. Senão é capaz de eu ter a cabeça arrancada – riu

Raffy. Porém, o Guardião de Diamante tinha quase certeza de que eleestava falando sério.  Endrich chutou um marisco grande e de casca branca com algumasmanchas amareladas. Sua cabeça trabalhava a mil, até que seuspensamentos se voltaram para Luany. Ah, como ele gostaria que elaestivesse ali com ele, ou que ele estivesse em casa com ela.  – Sei no que você está pensando, Endrich – interveio Raffy –, mas nãose preocupe. Nós não vamos demorar a encontrá-los.  – Não sei, não, Raffy. Há alguns dias, enquanto eu estava indo para oPovoado Zackiel tive um breve sonho com uma mulher, de olhos azuis ecabelos ruivos. E advinha, eu a conheci no povoado.  – Mas você sabe que seus sonhos lhe mostram imagens do futuro.

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  – Sim, eu sei – insistiu Endrich. – Mas há algo de errado. – Endrichcontou sobre o sonho que teve com Sheron MacWyes e de como a conheceuno povoado.  Raffy ouviu tudo atentamente, mas não tinha certeza se havia algo deerrado naquilo.  – Não estou encontrando o “erro” em seu sonho.

  Endrich voltou o olhar da areia molhada para o outro Guardião.  – Você não entendeu Raffy? – ponderou o Guardião de Diamante. – Osonho se passa em uma espécie de salão e não no povoado. Sei que ela aindafará alguma diferença em nossa busca. Posso sentir. – Algo em seu interior seremexia, deixando-o perdido.  – Se você diz…  Enquanto retornavam para a vila formada no litoral, Endrich sentiu oar pesar, tornar-se estático. Olhou para o céu e viu que nuvens carregadasse aproximavam rapidamente. Já havia percebido que o fenômeno estavaacontecendo cada vez mais que se aproximavam do Mar d’Oeste. Agora emsuas águas, as coisas pareciam piores.  Quando ele pensou ter um pouco mais de descanso, chegam à vila e sedeparam com casas sendo saqueadas e outras, em chamas. Pessoas corrempara todos os lados, comerciantes tentando salvar suas parcas mercadorias,enquanto homens de barba por fazer e maltrapilhos destruíam tudo o queviam pela frente.  Endrich e Raffy se entreolharam e sem delongas correram o máximoque podiam até alcançar um homem que lutava com um contrabandista,na tentativa de se proteger. Sem pensar duas vezes, o Guardião de

Diamante estaca e dispara uma flecha contra o bandido, acertando-o nascostas. O maltrapilho cai, sangue empapando sua vestimenta.  – Você está bem? – perguntou Raffy ao homem.  – Aham… – respondeu ele, olhando para o corpo sem vida docontrabandista.  – Ótimo. Agora vá, saia daqui. Proteja-se. Será melhor para você. E leveo máximo de pessoas que puder consigo.  Os dois Guardiões trocaram rápidas palavras, e Endrich seguiu para ochalé, enquanto Raffy foi ajudar os comerciantes, que estavam sendo

derrotados rapidamente.  Quando Endrich entrou no bar, o tumulto estava formado. Não se sabiaquem era bandido e quem era os moradores locais. Até o Guardião avistarum homem feio e barbudo segurando uma adaga com a lâmina desenhada;

era uma sereia – o símbolo dos contrabandistas[3]

. Sem muito tempo,Endrich encaixa uma flecha na corda do Arco de Diamante, puxando-a atéao lado da orelha direita. Com a corda bem tencionada e a mira pronta, elesoltou a seta, que voou em direção do homem numa velocidadeincalculável. Instantes depois o malfeitor estava caído no chão.

  Ao perceber o parceiro caído, vários outros homens magricelas edesdentados olharam em direção de Endrich. Oh-oh! Acho que me ferrei.

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Antes que dois deles se aproximassem muito, o Guardião de Diamante jáestava com duas flechas prontas para o disparo. Em pouquíssimos segundosos dois estavam derrubados, cada um com uma flecha alojada no peito.  Vários se apavoraram, mas alguns partiram para cima dele com suasadagas empunhadas. Dessa vez Endrich não conseguiu se defender apenascom as flechas, tendo de lutar corpo-a-corpo contra muitos deles.

  Quando já estava quase sem fôlego, com os pés cercados de corpos, umdestemido rapaz, de mais ou menos sua idade, correu em sua direção. Maso rapaz não teve muito que fazer. Endrich desviou do bandido e, voltando-se para ele, deu uma forte pancada com a haste do arco fazendo o rebeldedesmoronar no chão.  – Vocês estão bem? – perguntou Endrich ao dono e aos trabalhadores dochalé, que agora ficara parcialmente destruído.  – Sim… – assentiu o velho dono, aparentemente assustado.  Com um movimento de cabeça, Endrich deu as costas e seguiu para ocomércio. E ao chegar à rua percebeu que o estrago havia sido ainda maior.Raffy se dirigiu até ele pulando alguns corpos sem vida. Em volta, algunsgemiam e se contorciam de dor, perfurados ou sem algum membro.  – Bem, acho que não era realmente isso que eu estava pensando emfazer, mas… – Raffy olhou para Endrich, que estava com o rosto e as roupasmanchadas de sangue.  – Nossa, e eu achando que a minha luta havia sido feia – comentouEndrich. Olhando em volta, os vários corpos estirados na rua.  Quase todas as barracas do comércio haviam sido destruídas, einúmeras casas estavam incendiadas. Contudo, os rebeldes que não

estavam gravemente feridos escaparam: alguns conseguiram fugir,roubando barcos pesqueiros; enquanto outros retornaram para o ladoexilado da ilha.  – Raffy! Endrich! – chamou o Sr. Tairos. – Como vocês estão? Eu vi o queRaffy fez. Foi incrível! – O velho parecia bem empolgado com a luta.  Endrich fitou os vários rostos angustiados que os admiravam. Algunsestavam tristes por terem perdidos suas casas e suas tendas de vendas. Masoutros tentavam se contentar pelos contrabandistas terem caído. Agora operigo estava minimizado, mesmo não imaginando como eles haviam

transposto a grande barreira que os exilavam.  – Eu acho melhor nós todos partirmos daqui – falou o Sr. Tairos. – Nãohá muito que fazer agora. Já recebi meu pagamento pelo descarregamentodo peixe, então já estamos livres novamente.  Raffy ia protestar, mas não tinha o que argumentar e por isso se calou.Endrich olhou cético para o barqueiro, mas se segurou para não falar o quenão devia.  Em pouco tempo a embarcação estava de volta ao mar. E em poucosdias chegaria ao Império de Jade – destino principal dos dois GuardiõesImperiais.  Raffy voltou a se escorar na amurada, fitando o mar e sentindo amaresia, para não ficar enjoado. Já Endrich se deteve na proa, após trocar

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mais uma vez de roupa, onde ficou sentado até o anoitecer, pensando emtudo que já acontecera em sua vida, e no que ainda poderia vir a acontecer.Estava completamente inseguro.  Será que conseguiremos salvar o príncipe e a princesa? Será que eles estão bem?Espero que toda essa nossa viagem não seja em vão.  E assim, saindo do Império de Cristal, eles adentraram ainda mais no

Mar d’Oeste; agora nas águas do Império de Jade.

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  – Não é tão simples, os anjos podem avisá-los. Espere até que eles oachem. Caso isso não aconteça, eu farei com que façam isso. Mas suponhode que não será necessário. Eles são espertos. – Virou-se para a lua Nahim,que reinava ali. – Não podemos simplesmente matá-los. Blair ainda temcoisas a cumprir. E Gabrian, bem, ainda estou vendo se será tão importanteassim.

  – Está bem. Não acredito que ainda terei de cuidar desses  fedelhos – reclamou guardando a espada.  O demônio deu as costas para o raptor e, novamente, transformando-seem fumaça, foi embora, deixando-o com os jovens.

 –––– – Você acha que eles estavam falando de Endrich e Raffy? – indagou Blair aGabrian, ainda fraca, após seu raptor seguir para buscar algo que comer.  – Eu não sei, mas acho que sim. Por que senão quem iria se arriscar atéessa ilha pra nos buscar? Hão de serem os Guardiões Imperiais – respondeuo príncipe, tentando arrumar a franja de cor caramelo, sem sucesso.  Blair se ajeitou em seu lugar. Suas pernas, costas, braços, tudo doía. Elanunca havia se sentindo tão mau como naquele momento. Gostaria tantode poder se deliciar em uma banheira com água morna, comer um bom

 banquete… Então ela se lembrou de uma coisa que o homem de preto falarasobre seu destino. O que isso queria dizer? Não tinha certeza, e duvidavade que aquele ser asqueroso lhe contaria. Suspirou resignada. O melhormesmo é deixar a vida seguir em frente, ver onde irá parar.  – Só espero que esses homens não os matem – proferiu a princesa.  Gabrian assentiu. Ele, apesar de estar tão debilitado quanto Blair, não

demonstrava fraqueza; ao contrário, mostrava força, no intuito de darestabilidade à princesa. O príncipe tinha de permanecer em pé até achegada dos Guardiões, caso contrário não saberia se ela aguentaria sozinha.  – Mas pelo o que conheço deles – concluiu ele com um sorrisoesperançoso –, irão chegar a tempo de nos tirar daqui.

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 Sete

Princesa de Jade 

Passaram-se quatro dias após a saída de Etty Mallol, e Endrich se sentiacansado de correr de um lado para outro no barco pesqueiro, ajudandocomo podia. Raffy, no entanto, não fazia muito já que não aguentava mais ocheiro repugnante da embarcação e quase não tinha mais estômago detanto que vomitara.  Naquela última tarde de navegação, a embarcação foi pega por uma

terrível tempestade, que quase os tirou de rota. A ventania apareceu derepente, vindo do sul, quase os arremessando contra uma gigantesca rochaque se encontrava em alto-mar. De onde surgiu isso? –   perguntou-se oGuardião de Diamante. Mas com a agilidade do Sr. Tairos, o barco retornou àrota certa, levando-a para a costa do continente. Finalmente chegaram aosdomínios continentais do Império de Jade.  O mais estranho foi que, quando a embarcação chegou ao Porto dosTubarões – no Reino de Orion –, não demorou pra que longos raios do solatravessassem as nuvens, dissipando-as por completo. O céu estavanovamente azul.

  Endrich respirou o ar da maresia misturado ao fedor de peixe. Fez umacareta. Ao menos a atmosfera não estava carregada como antes. Porém,antes que ele pusesse o pé fora do barco, Raffy atravessou-o correndo, comose estivesse prestes a ganhar um filho – mas óbvio que isso era impossível.Vendo que o Guardião de Cristal não estava muito bem, Endrich seguiu atéele, aparando-o.  – Eu vou ficar bem – afirmou Raffy, após quase colocar seu estômagopra fora.  – Não sei não. Você já estava ficando verde – exclamou Endrich. – É

melhor você se tratar, pelo menos até amanhã, para depois seguirmosviagem até o castelo imperial.  Raffy balançou a cabeça negativamente.  – Não! Nós temos que seguir e ajudar aos herdeiros. Vamos, o castelonão fica muito longe daqui. Só precisaremos de cavalos.  – Ah, nisso eu posso lhes ajudar – interveio o capitão Tairos. – Conheçoum criador de animais que está me devendo. Posso arrumar dois cavalospara vocês.  Endrich assentiu.

  – Isso seria de muita ajuda – falou ele. – Obrigado.  Enquanto Raffy estava sentado no banco de uma tenda, tomando uma

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mistura de ervas compradas e preparada por ele mesmo, o Sr. Tairos voltoucom dois cavalos grandes e aparentemente fortes. Um era cinza malhado eo outro, todo marrom.  – Bem, isso é o que posso arranjar a vocês. E, claro, vocês não precisamme pagar, aceite isso como presente para a busca do príncipe Gabrian –disse o velho capitão.

  – Obrigado, Sr. Tairos. Que Luzyos o ilumine – abençoou o Guardião deCristal, um tanto pálido.  O capitão da embarcação fez uma leve mesura e se retirou com umsorriso no rosto. Voltou para seus negócios.  – Bem, agora já estou me sentindo melhor – afirmou Raffy devolvendoo copo da mercadora e a agradecendo. – Teremos uma viagem tranquila.  – Ótimo, precisaremos de toda ajuda possível. – Endrich e Raffy,enquanto navegavam, concordaram em passar pelo castelo imperial parapedir ajuda a Marinny Bellaire, a Guardiã de Jade. Isso se eles conseguissemfazer aquela mula – segundo Endrich – os ajudarem.  Despediram-se da mulher que os atendera com as ervas e, montandoem seus novos animais, seguiram pela rua de saída de Orion. EnquantoRaffy discorria sobre o caminho que pegariam, alguém se atravessou nafrente do cavalo de Endrich, que estacou de súbito, quase levando omontador ao chão.  – Que isso! – gritou Endrich, pendurado na sela do cavalo. – Você estámaluco?  A pessoa vestia uma capa verde-escura e, erguendo a cabeça, deixandocachos negros despontarem sobre os ombros, lhe lançou um olhar

fulminante, que dava a impressão de atravessar-lhe a alma. Ele conheciaalguém com aqueles poderosos olhos verdes.  – Marinny? – chamou Raffy, descendo de seu animal. – Você por aqui?  – Maluca é sua avó! – reclamou Marinny a Endrich, ignorando Raffy. –Você que foi burro em quase cair, pois um Guardião de verdade tem forçaem seu corpo suficiente para se controlar em cima de sua cavalgaria.  – Ei! Minha avó não é maluca! – replicou Endrich. – E desculpe-me senão sou um cavaleiro de verdade, duro e seco como um pedaço de pedra,igual você, Marinny!

  Ela se voltou para Raffy, desculpando-se a ele por tê-lo ignorado paradiscutir com o idiota de Endrich. Este tentava não estapeá-la.  – Ah, e só uma coisa: não, eu não estou por aqui, Raffy, e sim nos picosgelados do Império de Esmeralda –  caçoou ela, em tom sarcástico. –  É óbvioque estou aqui, rapaz.  Raffy não acreditara no que ouvira. Como Marinny não deixava passaruma coisinha sequer? Nem parecia mais a Marinny que conhecera anosatrás…  – Mas então, o que vocês querem aqui? – indagou a Guardiã,rispidamente.  Endrich pigarreou.

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  – Viemos em busca da princesa Blair e do príncipe Gabrian, os herdeirosdos Impérios de Diamante e Cristal, respectivamente – explicou ele,agradecendo por ela não tê-lo deixado conversando sozinho, comonoutrora.  – E por que vocês acham que eles estão aqui no Império de Jade? – quissaber a garota, impaciente.

  – Temos uma única dica – respondeu Raffy, e Endrich entregou aMarinny o broche dos quatro elementos.  Ela o avaliou em todos os lados.  – O que significa isso? É algum tipo de brincadeira? – parecia céticaquanto a possibilidade.  – Não! – interveio Endrich. – Não há brincadeira. Você conhece esseobjeto?  Marinny respirou fundo, acalmando-se. Por um momento ele achouque o olhar dela mudara para algo como sereno e puro.  – Já vi essa imagem antes – disse ela, referindo-se as imagens gravadasno objeto, retomando o tom sério. – São os quatro elementos da Natureza.Mas esse broche é raríssimo! Onde vocês conseguiram?  Endrich explicou rapidamente sobre o desaparecimento de Blair, ecomo seu imperador havia encontrado o broche.  – Interessante – ponderou a garota. – Mas você não possui um broche,não é, Raffy?  – Não, não possuo – respondeu o Guardião de Cristal. – Acho que quemraptou a princesa, já imaginava que Endrich iria pedir minha ajuda. Ecomo, provavelmente, o mesmo raptou o príncipe Gabrian, concluiu que eu

seguiria viagem junto dele. O porquê, não imagino.  Marinny mergulhou em pensamentos.  Endrich só esperava que a garota não estivesse pensando em como lhexingar melhor. Ele não imaginava o porquê aquela garota gostava tanto dese impor contra ele. Se não fizessem parte do mesmo grupo de Guardiões,provavelmente seriam arqui-inimigos. Todavia, havia algo nela que oincomodava. Por vezes era como se tivesse uma dupla personalidade.  – Respondendo a resposta do iniciante – falou Marinny, apontandopara Endrich –, eu já vi esses desenhos antes. Fazem parte da Ilha

Elementar. Uma antiga ilha lendária que fora amaldiçoada?  Raffy assentiu.  – Pois bem – continuou a Guardiã –, se estou certa, devemos começar aficar preocupados, pois uma ilha surgiu ao norte do continente.  Endrich gelou, despertando seus pensamentos para seu propósito. Seráque mais uma lenda seria verdadeira? Bem, se não fosse, ele estaria ali pornada. Mas caso essa ínsula da qual Marinny comentara fosse a IlhaElementar, toda sua viagem até ali não teria sido em vão. Sem entender,um aperto no peito se fez sentir.  – Nós precisamos de sua ajuda, Marinny – pediu Raffy. – Acompanhe-nos, por favor?  Endrich percebeu Marinny hesitar. Sua expressão não era muito

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agradável, mas também indecifrável. O Guardião não conseguia imaginar oque se passava pela cabeça dela. Na verdade jamais conseguiria descobrirquem realmente ela era, pensou.  – E então? – insistiu Raffy.  – Está bem, irei com vocês – respondeu ela, resignada. – Só preciso queesperem alguns minutos.

  Sem rodeios, Marinny dá as costas para os dois. –––– Enquanto Endrich e Raffy foram devolver os animais ao Sr. Tairos, queainda fazia seus negócios, Marinny se encaminhou até ao castelo real, ondepediria ao rei permissão para seu mensageiro partir, enviando umacorrespondência a Imperatriz Ennel – a grande monarca do Império de

 Jade.  Relutante, o rei autorizou que a Guardiã de Jade enviasse umacorrespondência por meio de seu mensageiro. E ela, com pouquíssimo sensode humor, deixou avisado ao jovem que se porventura ele abrisse a carta,quando retornasse de sua missão, iria arrancar-lhe os olhos fora – isso se nãoarrancasse algo ainda pior. O mensageiro arregalou os olhos e assentiu. Deforma alguma se arriscaria a fazer algo do tipo.  Quando retornou para o Porto dos Tubarões, onde Endrich e Raffy jáestavam lhe esperando, Marinny ria da expressão que o mensageiro fizeraao ela ameaça-lo.  – Você não fez isso, fez? – indagou Raffy, após Marinny lhes contar.  – Claro que fiz. E se ele abrir a carta eu arrancarei mesmo os olhos dele –ela confirmou.

  Uau! Com essa não se brinca  – pensou Endrich.  Raffy o fitou e assentiu com a cabeça. Provavelmente ele captara seuspensamentos. Endrich revirou os olhos. Pelo que bem lembrava, já pedirapara o amigo não ouvir sua mente.  – Ah, tenho uma boa notícia – revelou Marinny.  – E do que se trata? – questionou Raffy.  – O Rei Orion me falou que uma embarcação especial seria preparadapara nós. É um navio de verdade e não um barquinho  de pesca – zombouMarinny.

  Endrich fez que não ouviu e desviou o olhar para a costa. Uma nauestava se aproximando, vindo do sul. Era enorme, percebeu. Caberia, nomínimo, uma tropa inteira de soldados.  – Ah, que bom. Acaba de chegar nossa carona! – exclamou Marinny. Elaandou até o cais, onde a embarcação atracou, esperando pelos seuspassageiros. – Então, vocês não veem?  Endrich foi o primeiro a caminhar em direção ao cais. O navio era muitogrande, nem seria necessária algo daquele porte, segundo Endrich. Masapesar disso, era muito bonito; todo seu casco reluzia ao toque dos raios desol.  Raffy subiu a bordo, seguindo Endrich. Logo um homem com uma

 barba grisalha por fazer se aproximou deles. Ele mancava – tinha uma

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perna de pau, e isso deixou o Guardião de Diamante curioso.  – Sejam bem-vindos ao Princesa  de Jade , marujos – cumprimentou ohomem. – Sou o capitão Vorion, e serei seu guia pelas águas do Mar d’Oeste.  – Obrigado, senhor – agradeceu Raffy sorrindo e lhe apertando a mão.  Após todos os cumprimentos, os Guardiões guardaram suas bolsas nascabines destinadas a cada um deles. O capitão deu uma ordem a seus

marinheiros, e logo depois, com as velas içadas, o navio começou a sair dolugar. Do extremo leste do Império de Jade, agora iam rumo ao norte, àsterras misteriosas da Ilha Elementar, a bordo do Princesa de Jade.

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 Oito

 A Ilha Elementar  

Espero que consigamos encontrar a princesa e o príncipe são e salvos. Casocontrário, irei falhar em minha missão.  Os pensamentos de Endrich odeixavam inquieto.  Havia se passado dois dias desde que embarcaram no Princesa de Jade.Apesar de a ilha não estar localizada muito longe da costa norte do Impériode Jade, a embarcação teve de fazer uma parada obrigatória para a

manutenção de um dos três mastros que se partira com a queda de um raio.  Ultimamente, percebeu Endrich, o tempo estava ficando perigoso paraa navegação; mesmo ali estando na primavera, tempestades assolavam oambiente sem dó. Era estranho pensar que o clima piorara enquanto seaproximavam da ínsula.  Endrich e Raffy ajudaram no concerto do mastro e da colocação deuma nova vela, tão branca quanto às nuvens. Enquanto isso, Marinnyrevelou seus dotes culinários, pondo-se a preparar as refeições do dia.  Após o concerto do mastro e da vela, o capitão Vorion voltou a guiar onavio, cantarolando uma antiga canção, em rumo a Ilha Elementar. Ele

devia ter entre cinquenta e sessenta anos, mas seu espírito era de umhomem de vinte e cinco anos. Sua barba era longa e branca, assim como seucabelo. No ombro esquerdo carregava um tagarela papagaio verde, queadorava dar ideias loucas e cantar sobre o amor e revolução.  Certa vez o pássaro incomodou tanto que, se Endrich pudesse, iriatocá-lo no mar. Mas acalmando-se, apenas o ignorou, ficando na popa, ondegostara de ficar para escutar o som do mar ribombando no casco do navio.Ali conseguia pôr a mente em ordem.  Um dia antes de a embarcação ancorar próxima a ilha, Marinny, com

seu jeito pouco carinhoso, aproximou-se do Guardião de Diamante e lheperguntou:  – No que você está pensando, novato?  Endrich, que olhava para a paisagem a sua frente onde despontava ailha, voltou-se para a garota, surpreso, e lentamente respondeu:  – Estou pensando se a princesa e o príncipe estão bem. Se nós iremosconseguir salvá-los. Se vai dar tudo certo.  – Ah que tanto se – retrucou Marinny, revirando os olhos. – Você precisadeixar um pouco os pensamentos de lado e fazer acontecer, é necessário

agir! Olhe, eu não sou a pessoa mais otimista do mundo, mas também não sepode ser muito pessimista, sabia, novato? O negativismo traz as trevas e

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com ela, nossa destruição.  Endrich assentiu, fitando as poucas sardas que insistiam em aparecerem seu rosto.  – Sim, concordo com você. Só acho, às vezes, que não estou pronto paratudo isso. Para tantos compromissos. – Ele virou o rosto para o mar e,fitando-o, disse friamente: – Eu nunca deveria ter aceitado ser o Guardião

de Diamante. Eu não sirvo pra isso. Acho que teria sido melhor se eumorresse.  Subitamente, a Guardiã de Jade o puxou pela gola de sua camisaarremangada e o olhou fixa e profundamente nos olhos. Seu olhar verdeparecia um abismo de sabedoria. Parecia impossível que o olhar de umapessoa pudesse ser tão intenso.  – Aqui, novato, não fale uma coisa dessas jamais! Estais ouvindo? Vocêpode ter tido uma vida difícil, mas não chega aos pés da minha. Certo?  Endrich se assustou com a atitude da garota. O que havia levado elaaquilo? E como assim a vida dele não chegava aos pés da dela? Agora, maisdo que assustado, estava curioso; queria saber.  – Eu só mencionei o que estou sentindo! – protestou. Logo indagou semrodeios: – Mas o que aconteceu em sua vida para deixá-la assim?  Marinny hesitou, aliviando a pegada em sua roupa.  – Ah! Isso não vem ao caso agora. Você devia pensar muito antes deficar dizendo essas bobagens. – Ela soltou Endrich, sem tirar o olhar do dele.– Não é por que você é um pouco idiota que tem que dizer essas coisas sobreter morrido. Você ainda tem muita coisa pela frente e precisa enfrentá-lasde frente, de peito erguido.

  Endrich sentiu o coração parar por um momento. O olhar que Marinnylhe mandava reforçava a angustia que passou a sentir. Será que o que agarota lhe dizia era verdade? Há algum tempo ele teve um sonho com seupai de sangue – Hamiro Ragrson – que lhe disse ter muitas aventuras pelafrente. E Marinny, agora vindo com esse papo de que ele ainda teria muitacoisa para enfrentar de peito erguido. Será que tudo isso tinha mesmo a vercom ele? Sua cabeça rodopiava. Não sabia mais o que era certo. Estava commedo.  De repente Raffy se aproxima, cortando suas divagações.

  – Vocês dois conversando? – disse ele, sorrindo. – Esse mundo estáperdido.  – Mas você entendeu o que eu quis dizer, não é? – falou Marinny aEndrich, ignorando Raffy por um momento.  O Guardião de Diamante assentiu com a cabeça. Ele começou a aceitartudo o que Marinny lhe dissera. Entretanto, imaginava que tipo dehabilidade ela teria, já que falou tanto do futuro. Teria a mesma que ele?Quase improvável. E isso não vinha ao caso agora.  – Raffy, coisas estranhas às vezes acontecem – disse Endrich, emresposta ao comentário do Guardião de Cristal.  Os três riram – até mesmo Marinny, mesmo que fracamente. Olhandocom maior atenção agora, o Guardião de Diamante percebera que Marinny

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ficava um tanto encabulada na presença de Raffy. Não tinha certeza, maslhe parecia que o mesmo acontecera no ciclo passado, quando conheceutodos os Guardiões Imperiais, no Povoado Zackiel. Seria possível queMarinny Bellaire estivesse gostado do Guardião de Cristal?  Sentindo a brisa do mar, Endrich deu de ombros, deixando a ideia sediluir. Gostaria de voltar atrás de todas as suas escolhas – algo que se tornara

impossível. Mas, balançando a cabeça, e, desfazendo seus pensamentos,perguntou a Raffy o que ele sabia a respeito da Ilha Elementar.  Raffy explanou sobre, mas tudo se resumia ao que Endrich já haviaestudado. Entretanto, o Guardião de Cristal lhe revelou algo que, até então,não possuía conhecimento:  – Nessa ilha, dizem os antigos, há uma espada mágica e muito poderosa.Essa possui o poder sobre os quatro elementos naturais; sendo eles: água, ar,terra e fogo.  – Mas o que essa espada tem de tão especial? – indagou Marinny,parecendo um pouco confusa.  – Bem, dizem que ela foi forjada por um anjo. Feita totalmente de aço-celestial.  Marinny estremeceu com a menção “anjo”.  Em seus estudos, Endrich aprendeu que o aço-celestial fora criado apartir das estrelas, através de anjos. Eles utilizavam tal aço como materialpara a criação de armamentos celestes. Porém, quando essas armas e essetipo de ferro caíram sobre as terras s humanas, foram utilizados contra seuspróprios criadores, varrendo-os dos mundos. Afinal, o aço-celestial é o únicocapaz de matar um anjo. Por fim, após anos, as armas celestiais foram

arrancadas de Onyx e nunca mais foram vistas – com exceção das armasimperiais.  – Mas, Raffy, se essa espada foi feita de aço-celestial, ela pode mataranjos. Mas qual seria sua função sobre o nosso mundo? – quis saber Endrich.  Raffy pareceu estar vasculhando a resposta em sua mente. Entãorespondeu:  – Bem, segundo meus estudos, algumas armas feitas por anjos forjadorestinham poderes elementares. Sendo que a maior delas foi a EspadaElemental. Que, numa incrível batalha entre anjos e demônios, se perdeu

em nosso mundo, dando vida a ele.  Endrich tentava absorver aquilo tudo o mais rápido que conseguia.Então, segundo Raffy, aquele era o poder que dera vida a seu mundo. Eraincrivelmente arrepiante saber que tal arma teria tanta energia.  – Então foi, realmente, esse o poder que nos originou? – comentouMarinny estupefata.  – Não! – apressou-se em dizer Raffy. – Essa é uma das lendas queenvolvem a vida de nosso mundo. Mas existem muitas outras. Não creioque isso seja verdade. Por outro lado se for mesmo essa a verdadeira lenda,a espada somente deu vida ao mundo e não a nós  humanos. Mas isso éoutra história.  Enquanto o navio seguia em seu ritmo balançado, Raffy contou-lhes um

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pouco mais a respeito das terras misteriosas da Ilha Elementar.  – Bem, vocês sabem que a ilha fora amaldiçoada, mas sabem por que osSoldados foram juntos? – Vendo Endrich e Marinny balançar a cabeça,negativamente, Raffy prossegue: – Diz à lenda que após os SoldadosElementares recusarem a oferta de um ser demoníaco, este tentou de todasas formas pegar a Espada Elemental para si, mas um dos quatro Soldados,

sacrificando-se em nome de suas terras, ganhou um combate mortal,expulsando o demônio da ilha. Porém, para não sair totalmente derrotado,esse ser maligno lançou a maldição sobre a ilha: E de setecentos em setecentosanos, que a ilha renasça e pouco tempo depois se desfaça.  – E logo depois a ilha afundou – concluiu Endrich. – Sendo que amaldição se apegara a eles também.  Raffy assentiu, tristemente.  Bem, acho que teremos de lutar com mortos-vivos – pensou o Guardião deDiamante. E isso não está me animando muito.  Aquela noite foi longa aos Guardiões, que esperavam ansiosamente parachegar à ilha amaldiçoada. Endrich, então, nem sequer fechou os olhos paradormir. Ficou olhando a chama bruxuleante de a lamparina diminuir.  E assim seguiu a noite, morna e longa.

 –––– Endrich foi o primeiro a se jogar na areia fofa da praia. Os Guardiões recém-chegaram à Ilha Elementar. Ele respirava profundamente, sentindo amaresia e a brisa do mar.  O capitão Vorion ancorou há uma boa distância da praia, onde nãopoderia encalhar – caso a maré baixasse. Sendo assim, Endrich, Raffy e

Marinny tiveram de chegar à ilha por um barco a remo, tendo comoconsequência os braços doloridos dos Guardiões de Cristal e Diamante,causados pelas fortes ondas. Marinny disse que acima de tudo era umadama e que não remaria nem que Endrich estivesse se afogando. Quantoamor.  Endrich se colocou de pé, limpando-se da fina areia que ficara em suaroupa. Apesar de ter sido ótima a sensação de ter se jogado na areia macia,foi incrivelmente capaz de se sujar até mesmo por dentro da calça.  – Será que o capitão vai tentar ir embora sem nós? – perguntou

Marinny.  Raffy lhe lançou um olhar incrédulo.  – Se depois que você falou como uma mãe-mandona e disse que lhecassaria até no Reino dos Mortos caso ele se atrevesse a sair sem nós, e eleainda tiver coragem… Olhe, esse homem merecerá uma medalha por ser oprimeiro a lhe desafiar de tal maneira.  Endrich riu, concordando com Raffy; e Marinny lhe deu um cutucãocom o cotovelo, mandando ele se calar.  – Bem, acho que podemos seguir – disse o Guardião de Cristal, após omomento de raiva de Marinny.  Em poucos minutos, os três Guardiões estavam adentrando pela matafechada, onde poucos raios de sol conseguiam atravessar a copa das

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árvores. Depois de algum tempo, a ilha inteira tremeu. Os três seassustaram.  – O que foi isso? – disse Marinny.  – Raffy? – Endrich olhou para o Guardião de Cristal.  – Terremoto não é. Só pode ser a maldição, lembram? Não temos muitotempo. Se não formos rápidos, iremos afundar com essas terras, e, tenham

certeza, não iremos sobreviver.  Essa foi uma notícia que Endrich não gostou muito. Agora mesmo ele sesentia quase incapaz de fazer qualquer coisa em prol de ajudar alguém.  O tremor não levou mais do que pouquíssimos instantes e, com isso,voltaram a sua caminhada. Tentariam encontrar alguma pista que ospudessem levar até o príncipe e a princesa.  Com o Sabre de Cristal em forma de espada longa, Raffy abria caminhoentre a densa vegetação; enquanto Marinny, com sua Lança de Jadeempunhada firmemente, olhava atentamente em busca de algum perigo,cobrindo a retaguarda.  – Oh, novato – começou a Guardiã de Jade –, você não vai preparar seuarco, não? E se aparecer algum perigo de repente? Você estará ferrado, poiseu não lhe ajudarei.  Endrich revirou os olhos e preparou o Arco de Diamante – abrindo ealongando suas hastes magicamente – e posicionou uma flecha em suacorda, tencionando-a levemente. Ele balançou a cabeça, tentando afastaruma voz que o alarmava desde que entrara na floresta. Por isso esquecerasua arma. Cuidado! –  disparava sua mente.  Depois de seguir por mais alguns minutos, por fim, Raffy corta o último

galho que os separa de uma clareira e de algo que eles nunca pensariam emver na vida.

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 Nove

Cobra  

Quando os três deram um passo à frente, ouve-se uma movimentação brusca vindo das árvores mais a frente. Inesperadamente, uma gigantescacobra rasteja para o meio do círculo, saindo do paredão de árvores que davaforma a clareira. Os Guardiões recuaram, fitando o estranho animal.  A cobra era tão grande que Endrich não saberia compará-la a algumaoutra coisa. Porém, não era só isso que preocupava aos Guardiões Imperiais,

mas sim o fato dela ter duas cabeças, ao invés de uma. Cada cabeça possuíauma bocarra com duas fileiras de dentes enormes e pontiagudos. Suasescamas verdes azuladas cintilavam aos raios do sol, e seus olhos amarelosestavam fixos nos jovens.  – Estamos ferrados – cochichou Marinny. – Será que podemos fazer avolta, por favor?!  Endrich percebeu que o tom de voz da garota estava um poucosobressaltado, quase estrangulado, e que seu corpo tremia. Ou isso eraextrema raiva ou era medo. O Guardião ficou um pouco pensativo emrelação a ela: Será que Marinny está fugindo de uma luta?

  – Não consigo! – Marinny estava trêmula. Então desabou no chão,tapando os olhos com as mãos. – Não, não!  Endrich e Raffy se agacharam ao lado dela.  – O que houve? – indagou Endrich, enquanto tentava ver a cobra comsua visão periférica.  Marinny estava apavorada. Quando ergueu a cabeça, seus olhosmostravam um medo jamais visto por Endrich. Uma máscara de horror seformou no rosto da jovem. Essa não é a Marinny que eu conheço.  – C-cobra! – Foi só o que a garota conseguiu dizer.

  Endrich se voltou para Raffy, que já estava de pé, olhando para algumlugar. Como não percebera sua movimentação?  – Raffy? Raffy?! – Endrich se pôs de pé e se juntou ao amigo. Ele olhavafixo para um único ponto. Era como se estivesse enfeitiçado…  Quando se virou para o lado em que Raffy não parava de olhar,Endrich teve um enorme susto. A cobra de duas cabeças havia percorridoquase todo o espaço que a separava dos Guardiões, e agora ela estava háalguns metros de distância. Os olhos fixos nos de seu amigo.  – Raffy! – Endrich gritava, enquanto chacoalhava o amigo. Mas de

nada adiantava. O Guardião estava sendo hipnotizado pela cobra.  Hipnotizado? Os olhos!

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  Uma das cabeças estava bem próxima ao Guardião de Cristal, com seusenormes dentes a mostra e com a língua bifurcada transpondo os lábios,

 balançando-a e produzindo um chiado ensurdecedor: Sshhh!  Endrich tentou, de todas as formas, retirá-lo daquele estranho transe,mas ele não acordava. Ela deve estar se preparando para dar o bote – pensou,ao perceber que a cobra estava se esgueirando para mais perto. Não tinha

mais tempo, e o medo o atingiu intensamente.  Sem pensar direito, Endrich, que já estava com uma flecha presa aoarco, tencionou a corda o máximo que pôde, trazendo-a para perto daorelha e, mirando-a como conseguia, soltou a corda, fazendo a flecha setransmutar no ar. A seta acertou entre as duas cabeças da cobra, onde seucorpo se bifurcava nos pescoços.  Com um imenso grito de dor e raiva, o animal parou de seguir,escancarando as bocas. Por sorte o alvo não era mais Raffy. Entretanto, setornara Endrich.  Percebendo que a imensa cobra não ficara nada satisfeita com seu feito,empurra Raffy para perto de Marinny, que ainda estava encolhida no chãocom os olhos arregalados. O Guardião de Diamante correu, dando a volta nacobra pelo seu lado esquerdo. As duas cabeças tentaram-no abocanhar, mas,sendo rápido e habilidoso, Endrich consegue se esquivar a tempo dosenormes dentes do animal.  Estando a uma boa distância da cobra, ele pôs duas flechas tencionadasno arco e, quando o animal se virou de súbito, ele se obrigou a soltar as setas,que voaram retas, transformando-se no ar. As duas cabeças se esquivaramrapidamente, abaixando-se.

  A cobra o fitou dentro dos olhos. Os olhos! – lembrou-se ele. Só pode ser osolhos que a fazem hipnotizar suas presas. Endrich desvia o olhar da cobra, e elacomeça a se rastejar em sua direção. Ele tentava não fitar o grande animal,mas como batalhar contra algo que ele não deveria olhar?  O Guardião começou a andar para trás, enquanto a cobra começou aseguir mais rápido em sua direção. Endrich estava desesperado. Pelo o quepercebera, o animal era muito mais esperto do que ele imaginara. Pegandouma flecha em sua aljava, presa a suas costas, Endrich tenciona novamentea seta na corda. Quando se preparou para atirá-la, uma pedra surge em seu

caminho e ele tropeça, desabando no chão. O ar foge de seus pulmões.  As duas cabeças da cobra estavam prestes a lhe fazer de refeição,partindo-o ao meio, quando pararam inesperadamente. Endrich estranhou,e, arriscando-se a olhar melhor, percebeu que as cabeças não estavam maisvoltadas para ele, mas sim para um ponto atrás dela. Por entre as cabeçasdo animal, o Guardião pôde distinguir Marinny, defronte para o animal,enfrentando o próprio medo.  – Marinny, saia daí! – gritou ele.  – Não! Eu vou enfrentá-lo! – respondeu ela, tremendo.  Marinny começou a correr contra a cobra, que iniciou seu trajeto emdireção a ela. Empunhando firmemente a Lança de Jade nas duas mãos, aGuardiã se lançou contra o animal, dando um imenso salto na altura de

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suas cabeças. Todavia, ela não terminou o movimento. A cobra fora maisrápida e, ao perceber a aproximação de Marinny, usou sua longa calda comoarma, atingindo-a em cheio, fazendo-a ricochetear contra uma árvore ecair.  Endrich se apavorou e tentou se aproximar da garota, mas fora barradopelo réptil, que lhe lançou um novo olhar, ainda mais penetrante. Ele se

sentiu como se estivesse solto no ar, voando, sentindo a leve brisa do mar.De repente ouviu-se uma voz ecoar em seus ouvidos: Hipnose… hipnose…Não queria ouvi-la. Queria saber de onde surgiam aqueles pensamentos queo ajudavam, mas não agora… Então a sensação de estar voando sedespedaçou como vidro atingido por uma pedra e Endrich pôde distinguiras fileiras de dentes bem próximas a seu rosto, prestes a abocanhá-lo.  Só houve tempo de o Guardião se jogar para a direita, quando a cobra

 baixou as duas cabeças ao mesmo tempo em sua direção. O animal bateucom os focinhos no chão, abrindo um buraco na terra. Mais do que nunca,percebeu Endrich, ela estava furiosa, podendo comer outro animal igual aela de tanta raiva que exalava. As línguas vibravam no ar numa dançamacabra.  Suas cabeças se ergueram rapidamente, arrancando um punhado degramíneas do solo, virando-se para Endrich, que estava pondo uma flechano Arco.  – Isso é para você! – gritou ele, enquanto a flecha se modificava aindaem suas mãos.  Endrich disparou a flecha, que penetrou no olho direito de uma dascabeças. Rápido e furiosamente, o Guardião pegou mais duas flechas e mal

as mirando soltou-as em direção as bocas abertas da cobra gigante. Aprecisão e a velocidade em que as setas voaram contra o animal foramtanta, que acertaram as gargantas da cobra, atravessando-as. Logo depois oanimal estava caído no chão, sem vida, os olhos perdendo a tonalidadeamarelada.  Exausto, o Guardião de Diamante correu até Raffy, que já havia voltadoao seu estado normal, por mais que parecesse confuso.  – Você está bem? – indagou Endrich.  Raffy assentiu, uma mão na cabeça.

  – Estou. Nossa, a sensação de liberdade era tão boa, Endrich – elecomentou.  – É. Eu também senti essa mesma sensação. Era deliciosamenteassustadora.  – Mas então como você saiu do transe?  – Nem eu sei. – Endrich ficou um pouco confuso, mas sabia a resposta.  – E Marinny? – perguntou Raffy, preocupado.  Os dois seguiram até a garota, que ainda permanecia inconsciente,deitada no chão.  – Nós precisamos tirá-la daqui – disse Endrich.  Raffy assentiu, e de repente olhou para onde a cobra estava caída.Endrich viu que o amigo estava vidrado. A cobra de novo não – pensou. Logo

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virou-se para onde ele tanto vislumbrava; foi quando seu queixo caiu.  Além da cobra e da vegetação verde que cobria o terreno, umaconstrução de pedra amarelada e maciça se erguia imponente, formandouma espécie de pirâmide escalonada.  – Isso não estava aqui. – Infelizmente Endrich tinha que concordar. –Deve ser algum tipo de templo antigo – comentou Raffy.

  – Aham… Eu pensei a mesma coisa – respondeu Endrich. – Então, oque vamos fazer?  – Não temos alternativa. Podemos encontrar algumas respostas aqui,não acha?  Assentiu. De alguma forma, O Guardião de Diamante sentia que ali eraonde realmente iniciaria sua jornada.

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 Dez

Templo dos Mundos 

Raffy pousou Marinny no chão de pedra. O templo por dentro era muitomaior do que parecia ser por fora. Suas paredes eram erguidas com grandespedras – que por dentro tinham um toque alaranjado –, onde seencontravam várias pinturas antigas. A maioria delas se referia aos mesmospersonagens – duas mulheres e dois homens.  – Nós precisamos de água – disse Raffy, sentando ao lado da Guardiã

desmaiada.  – Mas meu cantil está seco, sem uma gota. Não me lembrei de enchê-lono navio – respondeu Endrich, torcendo o semblante.  Ele olhava para as paredes do templo com atenção. Via cenas decongratulações, ao mesmo tempo em que via imagens de guerra edestruição.  – Eu vou ver se encontro alguma coisa – incitou Endrich.  – Encontrar o quê? Aqui só tem paredes de pedra e areia – replicouRaffy, mostrando a fina camada de poeira que encobria o chão também depedra.

  – Você, zombando de mim? Nã-nã-nã… Eu vou ver se encontro alguém– explicou o Guardião de Diamante. – Sei lá, vai que alguém mora aqui?  – Está bem – acedeu Raffy. – Vá, mas tome cuidado. E eu duvido deque alguém more aqui… E se morar deve ser deprimente.  Endrich se levantou e seguiu por um corredor. Ele não acreditara queRaffy estivesse falando como Marinny. Será que a personalidade de Marinnyestá passando para Raffy? – perguntou-se o Guardião.  Ah, decerto não; credo,ele deve estar tão zombeteiro por causa da pressão que está sofrendo imposta pelouramento que fez ao Imperador Zackiel. Ele o entendia. No entanto, algo que

não pensava sobre ele decidiu permear sua mente… Chacoalhou a cabeça,guardando isso num canto inóspito. Não queria ficar com dúvidas emrelação ao amigo novamente.  O corredor pelo qual Endrich caminhava, era largo e longo. Maispinturas apareciam pelas paredes, e ele ficou atônito ao perceber que podiavê-las claramente, sem o auxílio de alguma tocha ou lampião. Além de oArco lançar uma pálida luz pérola, algum tipo de iluminação constanteatravessava o teto alto do templo, dando a ele a possibilidade de enxergarsem dificuldade.

  O Guardião de Diamante procurava por qualquer pessoa – não sendo,claro, uma cobra gigantesca de duas cabeças com enormes dentes

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pontiagudos, querendo lhe usar como refeição.  Seguindo, Endrich desembocou numa espécie de salão. O teto era maisalto que o do corredor, porém, o que o impressionou não foi isso, mas sim orio que atravessava o meio do salão. No caso, havia sido aberta uma espéciede vala, abobadada, onde a água corria livre e ligeiramente, atravessandouma abertura na parede. Além dela não havia luz alguma e ele se

perguntou como aquilo seria possível.  Mesmo as dúvidas lhe rondando, Endrich se agachou na margem do rioe encheu seu cantil – revestido de couro de boi. Percebeu o quão a água eracristalina, não havia nenhum tipo de impureza, e um leve formigamentocruzou sua mão. Estando o recipiente transbordando, o Guardião voltoupelo mesmo corredor para perto de seus amigos. Antes de desembocar nocorredor, parou abruptamente.  Analisava um daqueles desenhos com maior interesse, e percebeu queali havia uma história maior do que poderia imaginar. Cinco pessoasrecebiam de cinco anjos, armas que brilhavam em tom de luz laranjaesbranquiçado. Suas mãos estavam estendidas, de costas para Endrich e defrente para os angelicais. A história dos Guardiões.  Seus olhos espreitaram o local a sua volta. Não havia ninguém ali perto.A voz novamente? Devo estar ficando maluco, isso sim! Chacoalhou a cabeçae resolveu que já era hora de se juntar novamente a seus amigos. Contudo,ao chegar ao hall, não acreditou em seus próprios olhos.  Raffy, que estava com a cabeça de Marinny apoiada em seu colo,sentado no chão, estava sendo ameaçado por uma mulher de cabelosruivos, que segurava um longo tridente de gelo, com as pontas tão afiadas

quanto as lâminas de suas flechas.  – Ei! – gritou Endrich.  Ele congelou quando a mulher se virou para ele. Várias coisas passarampela sua cabeça. O que ela está fazendo aqui? Como ela chegou aqui?  – Endrich? – espantou-se Sheron MacWyes.  – Vocês se conhecem? – exclamou Raffy, perdido.  Endrich assentiu relutante.  – O que você está fazendo aqui, Sheron?  – Eu que te pergunto Guardião.

  Hesitante, ele explicou que estava na missão de resgate à princesa BlairCrystan; que a única pista que conseguiram levou-os aquele lugar.  – A princesa não está aqui! – estourou Sheron.  Endrich hesitou. Como ela poderia ter tanta certeza? O que ela estavaescondendo?  – Você precisa ir. Não pode ficar aqui, é muito perigoso. Vá embora! –Sheron baixou sua arma de gelo.  – Não, Sheron. – Endrich se lembrou de seu sonho há alguns dias, ondeestava num ambiente igual aquele e a mulher lhe olhava da mesma formacomo no sonho. Agora a visão fazia sentido! Ele sentiu uma pontada demedo, mas não deixou isso transparecer.  – Você não entende Endrich – suplicou Sheron.

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  – Eu não estou entendendo mais nada! – Raffy parecia desesperado,com Marinny em seus braços murmurando algumas palavras sem sentido.  – Nós precisamos conversar – interveio Endrich.  Sheron se sentou num dos andares que levava a um altar. Ela pareciaaflita. Seu longo tridente magicamente se desfez em água; logo absorvidapelo solo. Enquanto isso, Raffy pôs um pedaço de pano umedecido na testa

de Marinny, após Endrich lhe entregar o cantil.  – O que você está fazendo aqui? Como chegou aqui? – indagou Endricha Sheron.  A mulher pareceu hesitar, mas respondeu, calmamente:  – Eu moro aqui, Endrich. Eu sou dessas terras amaldiçoadas.  – Como assim? – perguntou ele, incrédulo.  – Eu… eu sou um dos Soldados Elementares. Sou Sheron MacWyes,Soldada Elementar da Água.  Os dois Guardiões cientes arregalaram os olhos.  – Hmmm… – murmurou Marinny, desacordada.  Endrich se ajeitou.  – Você está me dizendo que…  – Que eu sou uma amaldiçoada – concluiu Sheron, secamente.  – Conte-me mais – pediu o Guardião de Cristal.  A Soldada Elementar negou com a cabeça.  – Quem sabe em outro momento. – Ela voltou os olhos para Marinny. –O que ela tem?  – Bateu a cabeça e as costas contra uma árvore, depois de tentar lutarcom uma cobre de duas cabeças – contou o Guardião de Diamante.

  – Ouvi dizer que os Soldados Elementares têm habilidades especiais, atémais poderosas que as dos Guardiões Imperiais – comentou Raffy,admirando a elementar. – E se você é água, suponho que pode usar ospoderes curativos desse elemento, assim como projetar um tridente de gelo!  Sheron assentiu. Relutantemente, aproximou-se de Marinny e, abrindoo cantil, fez a água expelir para fora do recipiente, dirigindo-se para o rostoda Guardiã de Jade. O líquido seguiu por uma das faces até a testa e nuca,onde estava machucada. Em poucos segundos, a jovem, resmungando,abriu os olhos, tomando foco. Ela respirou profundamente. Parecia melhor.

  – Obrigada… – murmurou ela a Sheron, que sorriu alegremente.  – Nossa! – exclamou Raffy, surpreso. O rosto iluminado em um sorriso. –Você devia ter sido uma ótima medicastra.  Sheron enrubesceu.  Enquanto Marinny se recuperava, Endrich, impaciente, fez umapergunta que estava o incomodando muito.  – De onde surgiu esse lugar?  A mulher de olhos azuis se virou para ele.  – O templo? Como vou dizer… Você tinha dito que Marinny lutaracontra uma cobra de duas cabeças, certo?  Endrich assentiu, incluindo sua parte na luta com o animal também.  – Certo. Shait é o nome da serpente. Ela protege, ou protegia… o

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Templo dos Mundos, que é onde estamos. Quando ela é derrotada por umdesconhecido, o templo se revela.  – E desconhecido, você se refere a mim e meus amigos?  – Desconhecido é todo aquele que não reside na ilha – explicou Sheron.– Como nós, Soldados e ex-moradores, moramos e moravam aqui, nãoprecisávamos lutar contra a imensa cobra. Ela era até bem carinhosa com

nós.  Raffy deixou o queixo cair.  – Aquilo era carinhosa?  A Soldada riu.  – Mas eu já ouvira falar dela – comentou Raffy –, da cobra. Eu li, certavez, narrada por um xamã, que dizia existir tal animal de duas cabeças,protetor de um portal que interligava os mundos. Uma espécie depassagem. Eu só não imaginava que poderia ficar aqui na Ilha Elementar.  Sheron assentiu.  – Shait é mais do que uma guardiã de portais, é também doconhecimento. Se vocês adentrarem os corredores do Templo, desvendarãosuas mais profundas raízes, e se tornarão donas de uma sabedoriagigantesca, como o próprio Rio Styx, onde você pegou a água, Endrich. Mas,sobre os portais, é apenas um conto, uma lenda. Eu sei disso por que todavez que renascemos com a ilha, moramos aqui. E vocês podem ter certezade que eu nunca vi nada do tipo.  – O Templo dos Mundos – continuou a Soldada – foi construído pornosso anfitrião, nosso pai. Mas hoje ele está morto; na verdade há séculos. –Sheron parecia um pouco emocionada. – Ele construiu isso para nós…

  Um frio percorreu a espinha de Endrich. Ele sabia o que era sentir aperda de um ente querido. Quando seu pai de criação, Ondrich Ragrson, foiassassinado, ele sentiu como se retirassem parte de sua alma. E agoraimaginava que Sheron sentia a mesma coisa, apenas fitando o olhar triste damulher.  Subitamente, a Soldada Elementar mudou sua expressão de tristezapara seriedade.  – Vocês precisam ir embora. Não vão querer entrar num conflito, certo?  – Que conflito? – perguntou Endrich.

  – Um que jamais será esquecido, que poderá mudar o rumo de nossasvidas, caso ocorra.  – Mas, Sheron… – O Guardião foi interrompido pela Soldada, quelevantou a mão em sinal de silêncio.  Raffy se empertigou.  – O que aconteceu? – sussurrou ele.  – É melhor vocês se esconderem. Está vindo alguém – comunicou ela. –Rápido! Vão!  Sem mais delongas, os três Guardiões se arrastaram para trás degigantescos pilares de pedras arredondados. Tanto Endrich quanto Raffy,ficaram pensando em como ela sabia que alguém estava se aproximando.  Sheron voltou a se sentar num andar das escadarias. Sua expressão não

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era muito contente. Foi quando, de repente, um homem alto entrou noTemplo dos Mundos, e se dirigiu até ela.

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 Onze

Um Pouco Sobre a Verdade 

O homem que se dirigiu a Sheron era alto e esguio. Seu cabelo castanho-ruivo parecia liberar ondas de calor. E Endrich, em certo momento, achouque ele teria uma combustão espontânea.  – Você está seguindo o plano? – perguntou o homem sem rodeios.  – Sim, Sheldon, eu estou seguindo o plano. Quantas vezes eu tenho delhe falar? – respondeu Sheron, amorosamente. Ela tentava controlar a voz

para não soar nervosa.  Sheldon deu uma olhadela na direção onde os Guardiões estavamescondidos. Endrich se empertigou. Um gelo percorreu sua espinha. Seráque o homem lhes vira ali?  – Precisamos dar um jeito nesses Guardiões Imperiais. – Sheldon cuspiuas últimas palavras. – Eu os vi chegando à praia nessa manhã. Dois rapazese uma garota.  Como assim “dar um jeito nesses Guardiões”? – pensou Endrich, aflito.  – O que vocês acham que ele quis dizer com isso? – cochichou Raffy.  – Eu não sei. Mas sei que, se ele fizer algo contra mim… Rá! Eu acabo

com ele – sibilou Marinny, em um murmúrio quase inaudível.  Endrich estava muito preocupado com a princesa Blair, e sabia que,para salvá-la, era necessário que ele não fosse morto. Por isso pediu para queRaffy e Marinny ficassem em silêncio para que pudessem escutar o resto daconversa. Precisava descobrir mais sobre aquele homem.  – Então, Sheldon, qual é o próximo passo? – quis saber Sheron, olhandode soslaio em direção à coluna em que eles se escondiam.  – A princesa e o príncipe já estão sobre nosso domínio. Eu mesmo ostrouxe para cá. Agora é só esperar os Guardiões nos alcançarem e dar um

 jeito de pegarem a Espada – lembrou Sheldon.  – Você tem certeza de que eles poderão pegá-la para nós?  – Tenho sim. – Sheldon parecia muito confiante. – Se o arqueiroconseguiu derrotar Trevys, praticamente sozinho, conseguirá encontrar aEspada.  Sheron assentiu com um sorriso nervoso.  – Espero que você esteja certo.  – Eu sempre estou certo.  Com isso, Sheron foi envolvida pelos braços de Sheldon e beijada nos

lábios.  –––– 

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Sem hesitar, Endrich sai de seu esconderijo no exato momento em queSheldon pôs os pés pra fora do templo. Ele estava enrubescido de raiva eindignação. Pesadamente, ele caminhou até a Soldada Elementar, que, depé, o olhava apreensiva.  – Você está nos enganando! – explodiu o Guardião de Diamante. – Essetempo todo, só esteve fazendo a gente acreditar em você! Desde o começo,

quando você me conheceu no Império de Cristal. Tudo já era uma farsa!  – Não, espere – interveio Sheron. – Eu posso explicar.  – Então é bom começar!  Sheron hesitou. Endrich percebeu que por mais que seus olhostransparecessem segurança e coragem, no fundo, ela estava um poucoassustada. Ele só não sabia se era por sua causa, ou se era por outra coisa.Tinha medo que fosse por causa dele.  – Vamos, explique – insistiu o Guardião.  – Certo. Queremos que vocês recuperem uma arma muito valiosa paranós. A Espada Elemental uma…  – Eu sei sobre a espada. Conte-me o porquê vocês a querem.  Sheron hesitou novamente. Suas sobrancelhas se uniram. Ele pareciaindignada e com raiva. Endrich não saberia dizer o que ela estava sentindonaquele momento.  – Certo – suspirou. – Tentaremos fazer uma oferenda aos deuses.Entregaremos a Espada em troca de nossa liberdade. O poder de andarsobre a terra dos humanos sem que morrêssemos.  Endrich sentiu um aperto no peito. Imaginou o quão seria horrívelrenascer e morrer a cada setecentos anos. Ele não gostaria de passar por algo

desse tipo. Afinal, os motivos de Sheron não pareciam tão maléficos,tampouco totalmente benevolentes.  – Bem, se estou certo – interrompeu Raffy, caminhando até Sheron –,caso vocês entreguem a Espada, nosso mundo estará perdido. Grandescatástrofes ocorrerão, e toda a vida em Onyx vai se perder.  – Mas é um preço a se pagar – respondeu Sheron, seca.   Mas o que adiantaria ter a vida retomada se em alguns dias ela morresse?  –pensou Endrich, pasmo.  – O problema é que já está acontecendo mudanças no clima de Onyx –

continuou a Soldada. – Aqui, nessa parte do Império de Jade, que era paraser um verão de céu azul, está se transformando em um céu detempestades.  – Verdade – concordou Endrich, lembrando-se da viagem até ali.  Marinny, já recuperada, seguiu até Sheron e falou disposta:  – Certo. Nós vamos pegar essa tal de Espada Elemental. Agora, sevamos deixar vocês nos matarem, eu não sei. Isso é outra história. Se ela estáperdida, e por causa disso que o clima está mudando, nós a encontraremose a colocaremos em seu lugar.  Endrich franziu a testa. Nunca vira Marinny tão disposta – mesmo porque nunca havia saído com ela numa missão tão grande. Acho que ela bateu acabeça com muita força.

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 –––– Os quatro seguiram por uma trilha entre a mata, na direção norte da ilha,local onde, supostamente, Sheldon estaria fazendo seus planejamentos.Enquanto caminhava, o grupo ouviu o som de arbustos se mexendo e degravetos sendo partidos. Endrich estava tão preocupado e distraído, quenem deu atenção a isso. Deveria ser apenas algum animal…

  Após o ataque de disposição em Marinny, decidiram seguir ao encontrodo Soldado Elementar do Fogo – como Sheron descreveu Sheldon Brand.Marinny havia desconfiado muito do jeito de Sheldon, por isso impôs aoscompanheiros para que seguissem seu rastro até ele, onde poderiam“conversar”.  – Sheldon não vai gostar nada disso – comentou Sheron.  Marinny revirou os olhos.  – Ah, por favor, ele que aguente. Vamos ver se esse homem é tãoresistente.  – Sheron, conte-me um pouco mais a respeito de Sheldon – pediu Raffy,evitando um galho com a mão. – Eu só li algumas coisas a respeito de vocês,mas não o suficiente para saber a respeito de suas personalidades.  Sheron hesitou. Endrich percebeu que a Soldada tinha medo de revelara respeito dele. Era como se ela quisesse proteger um bem precioso.  – Certo – ela começou a dizer. – Sheldon sempre foi o líder dos SoldadosElementares, sempre muito autoritário. Mas ao mesmo tempo, ele écarinhoso e dócil comigo. Acho que vocês puderam notar lá no Templo.  – Isso ficou bem claro para mim – concordou Marinny.  – Porém, com o tempo, principalmente depois que fomos amaldiçoados,

Sheldon começou a ficar paranoico com a possibilidade de voltarmos a tervidas normais – continuou ela. – Mas seria impossível, pois não sabíamosonde a Espada Elemental estava escondida. – Sheron parecia prestes achorar. – Então, pouco antes da ilha morrer da última vez, há setecentosanos, um ser maligno, Trevys, um anjo caído, esteve a sua procura e lheindicou onde encontrar a Espada que há tanto tempo ele procurava.  Endrich tremeu a menção do nome Trevys. Então, finalmente entrouna conversa:  – E você sabe onde a espada está?

  Sheron balançou a cabeça negativamente.  – Apenas Sheldon sabe onde procurá-la, mas ele me disse ser muitoperigoso ir à busca dela. Por isso, em forma de vingança, ele quer que vocêvá encontrá-la.  – Vingança? Não estou entendendo. – Endrich ficou meio perdido nahistória.  – Eu não sei muita coisa. Mas sei quem poderia lhe revelar um poucomais sobre a verdade.  O Guardião assentiu com a cabeça, concordando.  – Não acredito que nós não vamos ao encalço de Sheldon – protestouMarinny. – Argh! Eu queria tanto dar uns bons tabefes nele.  Endrich revirou os olhos. Definitivamente, ela não fora com o jeito dele.

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  Sheron não pareceu muito feliz com o comentário da Guardiã. Por sortedeixou isso de lado e, fungando, acenou por onde deviam seguir. Elesviraram na direção oeste. Agora, segundo ela, eles estavam indo para oCondado da Terra, onde o Soldado da Terra, o único com as respostas,estava perecendo.

 –––– 

Depois de um longo tempo de caminhada, o grupo despontou numpequeno condado onde havia chalés e casas em ruínas e tudo estava emtotal silêncio. Endrich ficou apreensivo, mas não deu atenção ao seupossível medo.  – Onde mora o Soldado da Terra? – ele indagou.  – Lá – respondeu Sheron, apontando para uma montanha além dopequeno condado.  Em pouco tempo eles alcançaram a boca de uma caverna no meio damontanha. O grupo estava muito cansado, mas a vista privilegiada quetinham lá de cima compensava o esforço. A um bom passo de distância,Endrich pôde avistar o Templo dos Mundos, sua coloração douradareluzindo fracamente a luz do sol, e mais ao sul pôde distinguir uma clareiraem meio a uma densa floresta. Havia alguma coisa nessa parte que deixouEndrich um pouco alarmado.  O grupo entrou na caverna.  Quando Endrich viu um homem sentado sobre as pernas no meio dacaverna, sentiu uma imensa tristeza lhe tomar o corpo. O Soldado da Terrapossuía um olhar triste, sem rumo. Estava usando um manto sacerdotalmarrom sobre uma calça e uma simples camisa.

  – Sheron? – espantou-se o Soldado, erguendo o rosto moreno para amulher.  – Dylan está tudo bem? – indagou Sheron, com um olhar preocupado.Aproximando-se do amigo, agachou-se, pousou a mão em seu ombro.  Dylan desviou o olhar para os três Guardiões. Seus olhos castanho-escuros não tinham sentimentos, e sua expressão era um tanto doentia. Suapele lembrava café com leite.  – Quem são eles? – quis saber ele, voltando o olhar a Soldada da Água.  – São os Guardiões Imperiais – apresentou Sheron. – Eles vieram buscar

os príncipes raptados por Sheldon.  Dylan assentiu. Havia nele algo que incomodava Endrich. Sheron oapresentou:  – Ah, Guardiões, esse é Dylan Dunlok, o Soldado Elementar da Terra.  Endrich, Raffy e Marinny o cumprimentaram com um aceno decabeça. Dylan também os cumprimentou, um pouco relutante.  – O que vocês querem? – perguntou o Soldado, um tanto severo.  – Endrich, o Guardião de Diamante, precisa de sua ajuda. Ele quersaber um pouco mais a respeito da vingança  que Sheldon está tramandocontra ele – interpolou Sheron.  Dylan se pôs de pé, lentamente. Dirigiu-se até uma pedra, próxima aentrada da caverna, e nela se sentou. O Soldado parecia absorto em seus

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pensamentos. Endrich reparou que ele, de certa forma, parecia-se comRaffy num aspecto: gostava de se sentar num canto e pensar em históriaspara contar aos outros. Porém, o Guardião não era tão moreno quanto Dylane nem tão vago.  – O que eu posso dizer – começou Dylan – é que Sheldon está seenvolvendo com demônios e anjos caídos. É isso o que eu sei.

  Endrich não estava satisfeito. Ele olhou para Marinny, que estacou aoseu lado. Ela parecia tão desconfiada quanto ele.  – Sei que você tem algo mais a dizer – disparou ela com um olharperscrutador.  O Soldado da Terra olhou de um lado a outro, procurando uma formade escapar deles. Mas era impossível.  – Está bem – ele retrucou, fitando os Guardiões. – Sheldon, poucodepois que renasceu com a ilha, assim como todos nós SoldadosElementares, encontrou-se com um demônio muito poderoso – continuouDylan. – Este disse a ele que o novo Guardião de Diamante havia sidoencontrado. O demônio afirmou a Sheldon que esse Guardião possuíamuitas habilidades e que, quase sem a ajuda dos outros, foi capaz dederrotar Trevys, um dos serafins caídos mais poderosos.  Marinny olhou para Endrich um pouco consternada e cética. Endrichnão podia fazer nada a respeito do que Dylan estava contando sobre eles.  – E sobre a vingança, eu não sei nada a respeito. Isso é verdade –conclui Dylan.  Marinny, ainda intrigada com sua história, aproximou-se do Soldado,que estranhou a garota. Seus olhos pareciam duas bolas de jades, prontas

para lhe invadirem a alma.  – Sei que você esconde mais alguma coisa – disse Marinny num mistode afeto e raiva.  – Como assim… – Dylan não concluiu a frase, pois Marinny tocou nele eseus olhos se arregalaram.  Endrich, sobressaltado, não entendeu o que a Guardiã estava fazendo.Ele olhou para Raffy, que estava com a expressão inalterada.  – O que ela está fazendo? – perguntou o Guardião de Diamante.  – Ela está usando de suas habilidades – respondeu o outro.

  Fitando Marinny, tentou imaginar o que ela estava fazendo. Até então,ele não sabia quais eram os poderes dela.  Subitamente a garota largou o braço de Dylan. O Soldado da Terravoltou ao normal, e Marinny se voltou para Endrich e Sheron, com olhosque indicavam suplica.  – O que você fez? – indagou Dylan, incrédulo. Arfava.  – Agora sei tudo o que você sabe – respondeu a Guardiã de Jade,secando o suor que brotou em sua tez. Sua expressão se tornara por ummomento mais calmo e sereno.  Endrich não tirava os olhos dela. E, percebendo a indagação em seusolhos, Marinny explica a Endrich que, ao tocar em Dylan, ela foi capaz decaptar todas as lembranças e sentimentos que ele já vivera.

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  – Sério? – Endrich estava boquiaberto.  – Sim, novato – confirmou Marinny, acenando com a cabeça. Nãoparecia preocupada em lhe dar uma resposta cínica.  Sheron olhou para Dylan, que estava escorado na pedra que até poucoestava sentado. O rosto dele mostrava um tipo misturado de expressões:indignação, seriedade, medo. Tudo estava mesclado numa máscara.

  – Você não tinha o direito de fazer isso comigo – protestou Dylan.  – Mas se eu não fizesse – retrucou Marinny, tranquila –, eu não teriadescoberto mais coisas a respeito de Sheldon.  – Como assim? – interveio Sheron.  Endrich viu nos olhos da Soldada da Água uma curiosidade aflorar.  Marinny se empertigou. Ela fechou os olhos em busca de uma daslembranças de Dylan. As caretas que ela acabou fazendo seriam atéengraçadas, se não fosse pelo momento tumultuoso.  – Como vocês sabem, foi Sheldon quem raptou a princesa Blair e opríncipe Gabrian. Ele quer usá-los para atrair Endrich e Raffy para umaarmadilha. Endrich será usado para encontrar a Espada Elemental, massobra Raffy… não encontro nada nas lembranças de Dylan.  – É por que não há o que encontrar – replicou o Soldado da Terra. –Sobre a armadilha que está sendo preparada para Raffy eu não sei de nada.  Raffy estremeceu ao lado de Endrich.  Marinny revirou os olhos. Aparentemente sua calma estava seesvaindo.  – Cale a boca – vociferou a garota. – Deixa-me ver… Sheldon não querapenas viver nas terras mundanas. Ele quer poder e mais poder. Quer ser

um dos futuros dominadores de Onyx ao lado de um poderoso ser. O líderde uma ordem de seres devastadores, capaz de destruir o Universo!  Endrich sentiu um gelo percorrer a espinha e se alojar no coração.  – Ele quer o quê? – indignou-se Sheron.  Marinny voltou os olhos a Soldada.  – Ah, claro…  – Não! – berrou Dylan. – Não termine de falar!  – Conte-me. Fale tudo! – insistiu Sheron. Seu corpo tremia, o punhofechado.

  Marinny pareceu um pouco confusa. Mas, somando as circunstânciasem que eles se encontravam, ela decidiu revelar a Soldada da Água outracoisa que descobrira.  – Sheldon… ele não está sendo fiel com você. Ele está te traindo. OSoldado está te usando apenas como um objeto. Ele não te ama comoimagina. Desculpe…  – Ele o quê? – berrou Sheron. Sua voz ecoou por toda a caverna. – Porquê?  Dylan parecia desconsolado.  – Você era um peão, apenas mais uma peça no tabuleiro do jogo quecriou. Agora que ele sabe quem é Endrich graças a sua visita no PovoadoZackiel, você é completamente descartável – concluiu a Guardiã.

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  O ar pareceu seco, difícil de respirar. Endrich percebeu que Sheronperdera o chão e isso estava deixando seus poderes fora de controle. Elaestava boquiaberta. Não conseguia entender mais nada. Parecia prestes aexplodir.  – Ele verá do que merece! – Sendo assim, a Soldada saiu correndo,desesperada.

  – Você viu o que fez? – disse Dylan a Marinny. – Você não devia…  – Você não tem que ficar me dizendo o que devo ou não fazer –estourou Marinny. – Eu sei muito bem o que faço.  – Pois não parece.  Por uma fração de segundos, a Guardiã de Jade pareceu se culpar peloo que havia dito. Logo ela balançou a cabeça, limpando sua mente de taispensamentos. Fizera aquilo pelo bem deles – e de Sheron.  Endrich olhou para Raffy e Marinny, e, acenando para o SoldadoElementar, eles correram ao encalço de Sheron.  Em poucos minutos eles alcançaram a Soldada. Ela havia descido para ocondado, onde estava sentada sobre um banco qualquer chorando etremendo.  – Por que ele fez isso comigo? – perguntou ela mais a si mesma.  – Não fique assim – tentou consolar Raffy. – Pode ser que Marinnyesteja errada.  – Não, eu não estou errada – retrucou a Guardiã. – Eu sei o que vi. Anão ser que as lembranças dele estivessem erradas. Mas isso eu acho umpouco difícil. Sheldon o visitou há alguns dias.  Raffy não sabia mais o que fazer.

  Endrich que até então estava em silêncio, olhando para a floresta poraonde chegaram ao Condado da Terra, suspirou profundamente. Algoestava o incomodando.  – Há algo de errado aqui – ele comentou.  – Às vezes acho que você também tem as habilidades de Tannael – disseRaffy, lembrando-se do Guardião de Esmeralda.  Endrich caminhou em direção à floresta, mas antes de chagar perto osuficiente, uma casa ao seu lado explodiu em chamas. Ele quase caiu porcausa do susto e da movimentação do ar. De repente todas as outras casas,

que seguiam lado a lado e em paralelo, romperam-se em chamas. O fogo sedeliciava delas. Logo a floresta a frente do Guardião de Diamante tambémexplodiu e ele correu, juntando-se aos seus amigos novamente.  Em questão de segundos, o grupo estava rodeado por chamas.

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 Doze

Brincando com Fogo 

Endrich tinha a sensação de estar dentro de uma fornalha – não que ele jáestivesse numa. O calor que os assolava parecia fazer seu corpo derreterigual a gelo. Olhando para os lados, encontrou os olhos assustados de Raffy eos de raiva de Marinny.  Mas o Guardião de Diamante pôde perceber algo que Marinny nãoqueria demonstrar: assim como Raffy, ela estava passando mal, causado pelo

excesso de calor a que eles estavam sendo expostos. Porém Sheron nãoparecia nem um pouco mau, e Endrich também não. Estava disposto adescobrir do que se tratava aquilo. Era como se sua força de vontade oprotegesse.  Ele podia ver nos olhos da Soldada da Água que ela sabia de ondevinham todas aquelas chamas, e quem a causara. Ela olhava firme parafrente, parecendo disposta a atravessar aquela imensa parede de fogo.  – O que é isso? – perguntou Endrich, um pouco ofegante.  – Sheldon – respondeu Sheron, pouco mais que um sussurro. Suaslágrimas haviam secado. Isso respondia muita coisa. Endrich concluiu que

toda aquela chama estava sendo produzida pelo Soldado do Fogo.  Endrich volveu para Raffy e Marinny. Os dois já estavam se apoiandonos joelhos para não desabarem de uma vez. E, concluindo, o Guardião deDiamante percebeu que seria o próximo a desfalecer assim como os amigos.Não teria forças para aguentar muito mais. Começava a sentir o corpo secarcomo fruta ao sol.  – Sheron? – Ele olhou para a mulher. Ela havia fechado os olhos; estavase concentrando em algo.  Endrich olhou para as chamas e seu coração quase parou. Percebeu que

a parede de fogo lambia algumas árvores sem dó, produzindo o ruído demadeira estalando e que se aproximava rapidamente. Em questão deminutos os alcançaria, e com certeza o estrago não seria pequeno.  Contudo, logo pôde ouvir o que parecia o barulho de ondas marinhas, e,subitamente, uma explosão de água rompe entre a floresta, atingindo aslabaredas. Para Endrich era assustador ver tanta água andando entre o fogocomo se possuísse vida própria. Olhando para a Soldada da Água, tãoabsolvida e séria, ele deduziu que a massa líquida estava sendo manipuladapor ela. Quanto poder!

  – Rápido! Vocês precisam correr! – gritou Sheron, acima do barulho daágua.

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  Lentamente a temperatura parecia baixar no ambiente, e não demoroupra que Endrich puxasse Raffy e Marinny pelos braços. Enquanto seaproximavam da floresta, Endrich sentiu o cheiro da maresia. Era água domar. Como Sheron conseguiu trazer a água do mar até nós?  – perguntou-se oGuardião.  Porém, quando os três estavam quase chegando à entrada da mata, a

parede de chamas se reergueu, impedindo a passagem do grupo. Eles sevoltaram para Sheron, que parecia atônita e muito cansada – suor escorriapor seu semblante.  – Não há como passar! – exclamou Marinny, recuperando-se, ainda compouco fôlego.  Endrich não sabia mais o que fazer. Será que agora seria só parar eesperar a morte chegar? Não, devia haver alguma forma deles se salvarem.Ele só não imaginava como, já que o fogo antes apagado retornara a vidanum passe de mágica.  – Sheldon! – esgoelou-se a Soldada da Água. – Sheldon, eu sei que vocêestá aqui, desgraça!  Endrich até achou que a Soldada não iria se aguentar e entraria chamasà dentro. Mas em vez disso, ela permaneceu estacada em seu lugar, com aexpressão sólida. Parecia uma máscara de ódio e desprezo. Ela estavatransformando seu cansaço em pura raiva.  De repente, a muralha de fogo se rompe, surgindo à silhueta de umhomem. Ele era alto, forte e bem vestido. Seus cabelos castanho-avermelhados se fundiam ao fogo de intenso vermelho.  – Olá, minha querida – disse Sheldon Brand, desdenhoso.

  Endrich deu uma olhada para os dois Guardiões, que pareciam suar atéos ossos – assim como ele, percebeu. Voltando-se para Sheron, teve aimpressão de que ela iria se jogar contra Sheldon de unhas e dentes. Estenão parava de fitá-la com um sorriso nos lábios. Não sabia se era defalsidade ou pura diversão. O calor o estava deixando lento.  Sheldon se aproximou de braços estendidos.  – Você me traiu! – cuspiu Sheron, dando um passo para trás.  – Não… Eu só não confiei totalmente em você  – respondeu Sheldon,calmamente. – Você é muito emotiva, eu não poderia confiar totalmente

meus ideais. Se abrisse a boca, meus planos estariam perdidos!  Não suportando mais, Sheron se jogou contra o Soldado; não aguentavamais olhar para seu rosto. Ela soqueou seu peito, mas foi como se suas forçasestivessem sumindo, e, quando estava sucumbindo, Sheldon agarrou seuspulsos e a jogou contra o chão.  – Você é desprezível – xingou ele, a voz controlada.  Raffy, quase não aguentando o peso do próprio corpo, dirigiu-se atéSheron e a ajudou a ficar de pé. Ela estava pálida, com as mãos trêmulas, oscabelos grudando no rosto suado.  Endrich olhou em volta, e viu que toda a água salgada havia sumido.Provavelmente voltara para o mar.  – Com licença, mas isso não se faz com uma donzela – falou Raffy a

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Sheldon.  – Cale a boca, verme – depreciou o Soldado. – Não é por que você é umGuardião Imperial que acha que pode impor algum tipo de autoridade.Nós, Soldados Elementares, viemos primeiro do que vocês, e temos todo odireito de mandar neste mundo.  Raffy se calou instantaneamente com a autoridade agressiva imposta

na voz de Sheldon.  – Ei, vamos com calma – interveio Endrich, a respiração pesada. – Devehaver uma explicação para tudo que está acontecendo.  – Claro que há – respondeu Sheldon, com escárnio.  – Então explique – intrometeu-se a Soldada da Água. – Eu quero ouvirtudo o que você tem a falar. Sei que mentiu!  Sheldon não desfez seu sorriso irônico. Porém, uma sombra de dúvidaatravessou seu rosto, fazendo-o hesitar. O que estaria passando em suamente? Será que Raffy consegue ouvir o que ele pensa? –  ponderou o Guardiãode Diamante.  Após um minuto de puro silêncio, Sheron o quebra, sibilando:  – Endrich, saia da minha frente – ordenou. – Já que ele não quer falar,eu irei tirar a verdade dele.  Endrich só percebeu que estava no meio do caminho quando ela falou.Aproveitou isso e não permitiu que Sheron passasse; ele estava com medode que Sheldon fizesse mais alguma coisa contra ela. Sheron enrubesceu deraiva. Ela bufava.  O Soldado desfez seu falso sorriso. Sua expressão ficou sombria; seusolhos voltados para Endrich. O Guardião de Diamante percebeu que não

havia sentimento algum ali. Parecia frio e calculista.  Subitamente, uma visão veio aos olhos de Endrich. Diferente de tudoque já vira. Não havia luz, nem sons, nem pessoas. Não existia ar. Estava

 banhado pela escuridão.  Quando seus sentidos voltaram ao normal, Endrich sentiu uma grandemão tomar-lhe o pescoço. Sheldon estava com uma das mãos lhesufocando. O Guardião arregalou os olhos, enquanto era erguido do chão.Como alguém podia ser tão forte? O homem estudava-o atenciosamente,enquanto Raffy se armava.

  – Você não ouviu o que ela disse? – perguntou Sheldon, referindo-se aoque Sheron havia ordenado a Endrich. – É para você sair da frente.  Endrich tentou se desvencilhar, mas estava numa situação difícil.Sheldon era muito forte, e ele não conseguia alcançar as flechas em suaaljava. O Guardião se debateu, mas de nada adiantava. Deu uma olhadelade canto para Raffy, que já estava empunhando o Sabre em forma deespada.  – Nem tente – disse Sheldon. – Ou esse seu amiguinho Guardião irávirar churrasco.  Raffy hesitou. Ele não poderia se arriscar, caso contrário poderia levarEndrich à morte. Mas Marinny, ao contrário dele, não titubeou ummomento se quer.

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  – Ei! – exclamou ela, atingindo Sheldon na nuca com o cabo de sualança, levando-o ao chão, consigo Endrich, que se estapeou enquanto eraesmagado contra o solo.  Endrich achou que iria morrer esgoelado, mas, quando menos esperou,uma força invisível tomou conta de seu corpo, fazendo-o se levantar.Sheldon, que a todo custo tentava segurá-lo, não deteve a nova força, e

acabou tendo sua mão solta do pescoço dele. Sua expressão era deincredulidade.  – Você se acha tão forte assim? – resmungou Sheldon, ficando de pé eagarrando Endrich novamente. Agora ainda mais forte.  – Eu posso não ser mais forte, mas com certeza mais esperto.  Endrich se lembrou de um momento em sua vida, que acontecera hápouco tempo, quando ele se dirigia para o Império de Cristal para salvar seumundo das garras de Trevys. A cena lhe veio à cabeça como uma facadamomentânea. Fantasmas, uma intensa luz… Raffy!  – Raffy! – gritou Endrich. – Sheldon precisa de luz!  No exato momento Raffy entendeu o que Endrich quis lhe dizer.  – Sheldon, essa é pra você! – berrou o Guardião de Cristal. – LysBeskyttelse!  – De repente, após ele girar a espada uma vez no ar, umaimensa faixa de luz esbranquiçada se dirigiu ao encontro do Soldado,acertando-o em cheio.  Endrich, que ainda estava sob os poderes do Soldado do Fogo, se soltouassim que o poder se expandiu, ofuscando seus olhos momentaneamente.  Quando a luz cessou, Endrich se viu sentado no chão com as vistasardendo e o pescoço ardendo. Ele nunca se sentira tão mal em uma única

vez. Sua cabeça rodopiava, mas aos poucos voltou à consciência normal.  – Você está bem? – perguntou Raffy, agachado ao seu lado.  – Ah, sim. Obrigado.  Ele se pôs de pé, olhando para onde Sheldon estava há algunsmomentos. Sorte que ele se foi embora  – pensou ele, não encontrando oSoldado em parte alguma. Apesar do positivismo, não compreendia comosumira tão rapidamente. Endrich então percebeu que Raffy vasculhava olocal. O que ele tanto olhava?  – O que você está procurando, Raffy?

  O Guardião de Cristal não respondeu no momento.  – Marinny… Ela sumiu! – exclamou por fim.  – Como assim? – Endrich estava incrédulo. Levantou-se de um salto.Olhando em volta percebeu ser verdade. Estava tão atônito que não sentirasua falta.  – Marinny sumiu. Marinny!  Sentiu o coração congelar.  – Sheldon deve tê-la levado – explicou Sheron, pondo-se de pé. –Perdoe-me. Tudo isso é por minha causa.  Endrich viu quando uma lágrima escorreu pela face da mulher. Elaparecia, mesmo, muito machucada pela traição de Sheldon. E pior: sentia-se culpada por algo que não tinha total culpa. Afinal, ela fora manipulada

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pelo Soldado.  – Não fique assim, Sheron – falou Raffy, tentando acalmar mais a si doque a Soldada. – Nós vamos dar um jeito de enfrentar Sheldon, derrotá-lo esalvar o príncipe e a princesa. Certo, Endrich?  O Guardião de Diamante não respondeu de imediato. Ele fitava Raffy,pensando se apenas eles três seriam capazes de derrotar alguém tão forte

quanto Sheldon. O Guardião de Cristal deveria ter captado seuspensamentos, pois, por um momento, pareceu tão incerto quanto ele.  – É, acho que iremos conseguir derrotá-lo – respondeu Endrich,finalmente, sem muita convicção.  Sheron secou as lágrimas.  – Sim, acho que podemos derrotá-lo – confirmou com tom vingativo. –Só precisaremos de mais ajuda. Está na hora de vocês conhecerem PolianaWinster, a Soldada do Ar.

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 Treze

O Confronto de Marinny  

Marinny acordou. Até então ela estava desmaiada, perdida em seusubconsciente, onde tinha belos sonhos. Ela se encontrava acorrentada auma coluna de madeira. Olhando para as correntes, pôde distinguir o tipode metal usado: aço-minério.  – Onde estou? – perguntou-se.  – Está numa ilha. Mas não sei em que Império exatamente – respondeu

uma voz doce e fina.  – Ah, eu sei que estou numa ilha… – Marinny se calou ao olhar para olado. Quem respondera era uma bela garota de vestido azul. – Você é Blair,filha do Imperador Crystan?  A garota assentiu.  – E aquele é Gabrian, filho do Imperador Zackiel – apresentou Blair,indicando com a cabeça o rapaz mais adiante, do outro lado de um trono.  Marinny enrubesceu.  – Desculpe-me por ser tão grosseira. É de minha natureza, sabe? – Algopor trás dessa simpatia pinicava em seu interior.

  Blair sorriu, assentindo com a cabeça.  – Você é uma Guardiã Imperial? – quis saber Gabrian.  Marinny olhou incrédula para o rapaz.  – Claro que sou. Sou Marinny Bellaire, Guardiã Imperial de Jade. Vocênão está me achando com cara de Soldada Elementar, né?  – Soldada quem?  A Guardiã revirou os olhos e contou ao príncipe e à princesa a respeitodos Soldados Elementares e sobre a ilha, que não duraria muito tempo. Osherdeiros se apavoraram com a história, mas tentaram não esboçar tal

reação. Marinny imaginou que eles já haviam sofrido um bocado estandopresos ali – consequentemente, já estavam fortalecidos.  – Mas me contem – perguntou Marinny, após a história estar clara paraos jovens – como eu cheguei até aqui.  Os herdeiros se entreolharam, decidindo quem iria começar a contar.  – Nosso raptor lhe trouxe para cá – começou Blair. – Ele lhe carregounos ombros, e depois, lhe jogou violentamente, e você bateu com a cabeçano chão.  Marinny levou a mão à cabeça procurando por algum machucado e,

realmente, ali estava, um inchaço se formara no alto de sua cabeça.  – Ele reclamou que você era muito pesada e que só era um encosto –

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continuou Gabrian. – Ele disse também, que tinha uma surpresa muitoespecial para você. E que jamais iria esquecer. Mas não mencionou o quepoderia ser.  A Guardiã fez de conta que não ouvira essa última parte do relato.Sentia uma forte dor, não só na cabeça, mas em todo o corpo também. Elaprecisava achar um modo de sair dali e tirar o príncipe e a princesa. E

rápido! Está na hora de ser calculista, Marinny.  – Aquele Sheldon, ele me paga! – exclamou ela.  – Quem? – indagou Blair.  A Guardiã de Jade pareceu surpresa.  – Quem? Sheldon… Foi ele quem raptou vocês dois – ela respondeu.  Blair se ajeitou em seu lugar. Marinny reparou que os pulsos da princesaestavam arroxeados, causa da fricção constante com as algemas apertadas.Ela queria se soltar dali e ajudar a herdeira, mas mal conseguia se mover.Também se encontrava em um estado nada prazeroso.  – E conte-me – pediu a Guardiã –, Sheldon falou algo mais sobre o queela irá fazer comigo?  Gabrian se apressou em dizer:  – Não. Se bem que, na verdade, ele não contou nada a nós, e sim eu eBlair que ouvimos o raptor resmungar isso pra você, enquanto estavadormindo.  – Eu não estava dormindo, estava desmaiada – retrucou Marinny.  A Guardiã olhou em direção a floresta. Ela conseguiu distinguir umaclareira em meio à mata, onde havia uma construção de pedra. Era oTemplo dos Mundos. A pirâmide escalonada ficava quase que totalmente

escondida pelas árvores do lugar em que estava. Ela só não saberia dizer se opríncipe e a princesa também poderiam avistá-la.  – Olhando para a construção de pedra? – perguntou Blair, quebrando osilêncio.  Marinny voltou os olhos para a princesa.  – Você consegue ver o Templo?  – Sim – respondeu a princesa. – Claro que podemos. Apesar de quemuitas vezes ele some dos nossos olhares.  A Guardiã pareceu confusa.

  – É que muitas vezes a pirâmide se torna invisível, como se nuncaestivesse ali – explicou Gabrian.  Marinny olhou para a construção novamente. Será que era porqueEndrich matara Shait, a cobra que protegia o Templo dos Mundos, que osherdeiros passaram a vê-lo diretamente? Se fora mesmo o pai de Sheron que oconstruiu, deve ter incutido muita magia durante o processo para torná-lo umaortificação invisível.  – E há quanto tempo vocês a veem? – quis saber ela.  – Desde que chegamos neste lugar – respondeu Blair.  O tempo passou e logo o sol se pôs, dando espaço para a noite nublada.O céu estava pouco estrelado, mas a brisa do mar que os alcançavam eraagradável. As folhas das árvores farfalhavam numa canção leve e suave.

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  Marinny estava impaciente, sem dizer que seus braços doíam. Elaqueria sair dali, poder ajudar o príncipe e a princesa, mas como, se nem elaconseguia se ajudar? Ela se contorceu. Suas costas estavam começando adoer também. Sua cabeça estava trabalhando a mil por hora, buscando umaforma de se soltar e resgatar os herdeiros. Por Luzyos, preciso fazer algumacoisa!

  – Você parece tensa, Marinny – comentou Blair, carinhosamente.  Demorou para responder.  – É. Estou pensando em uma forma de nos tirar daqui, mas não estánada fácil pensar com essas algemas. Isso está deixando meu braço roxo.  – Isso é normal. – Gabrian deu um sorriso irônico. – Já estamos há tantotempo aqui, que nem sentimos mais os braços doendo.  As luas pairavam sobre a cabeça dos três acorrentados; sendo queNahim é que mais brilhava naquela parte do mundo, o seu tom alaranjado

 banhando a noite. A Guardiã se lembrou das chamas de Sheldon echacoalhou a cabeça, lançando sua imagem para um canto inóspito damente.  – Como você chegou aqui, Gabrian? – indagou Marinny.  – Eu estava na aula de esgrima, quando uma “sentinela” me chamou.Até então eu não sabia que se tratava desse tal de Sheldon, e o segui. Eledisse que meu pai queria falar comigo. No entanto, ele me carregou paratrás do castelo e, quando percebi que estava sendo enganado, já era tardedemais. Ele me sedou com uma mistura de ervas. Quando abri os olhos,estava aqui, amarrado.  Marinny assentiu. Blair comentou que ele havia feito o mesmo com ela,

porém, ainda dentro das mediações do castelo, no pátio central. Realmente,ele não tem escrúpulos –  ponderou a Guardiã.  Quando menos se esperou, um homem alto e corpulento surge, subindoa escadaria que dava ao altar onde os acorrentados estavam. Era Sheldon,com seu sorriso irônico e o olhar profundo e sem sentimentos.  – Ora, ora… Achei que você não iria acordar tão cedo – comentou ohomem.  – Você é um idiota! – cuspiu Marinny. – Solte-me agora mesmo, ou…  – Ou o quê? – Sheldon segurou o queixo da Guardiã e elevou seu rosto.

– Você vai me matar? Eu duvido muito. Você não passa de uma simplesgarota com algumas centenas de anos, mas que não deixou de ser uma jovem birrenta, abusada e fraca.  Marinny enrubesceu de raiva. Não sou tão velha a ponto de ter umacentena de anos! A vontade dela era de se lançar de unhas e dentes contra oSoldado, mas as correntes a impediam de fazer qualquer movimento brusco.  – Pelo menos não sou tão desprezível quanto você – replicou Marinny. –Não sou eu que quero ser um dos líderes do mundo e acabar com osGuardiões. Não  sou eu que estou fazendo pactos com criaturas horrendas,como demônios.  Sheldon, furioso, deu um tabefe no rosto de Marinny. Ela o olhou comraiva e, sem pensar muito, cuspiu em seu rosto. Seria capaz de matá-lo caso

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conseguisse escapar.  – Isso não vai me afetar – resmungou Sheldon, limpando a face com ascostas da mão. – Agora você verá o que é bom!  O Soldado se pôs de pé. Soltando a corrente do poste, mas sem libertar aGuardiã das algemas, Sheldon deu um puxão em Marinny que seria capazde arrancar os ossos do braço, caso ela não fosse uma Guardiã.

  Consumida pela dor e relutante, Marinny ficou de pé. Ela começou aseguir Sheldon, que praticamente a arrastava pelos degraus abaixo. Quandochegaram ao gramado seus braços estavam tão doloridos que ela mal ossentia.  – Entre no círculo – ordenou Sheldon, empurrando Marinny.  A Guardiã se viu dentro de um imenso círculo desenhado na terra.Aparentemente o desenho havia sido feito com alguma lâmina,demarcando o solo. Ao redor do grande círculo, havia tochas acesas,iluminando a noite; esta que se tornava fria a cada instante.  – O que você pensa que está fazendo? – exclamou Marinny.  – Que tal um duelo? – respondeu Sheldon com outra pergunta.  – Entre mim e você? – riu debochada.  Sheldon jogou a cabeça para trás e a seguiu rindo.  – Como se eu quisesse duelar com você, sua imprestável!  Marinny bufou de ódio. Ela gostaria de torcer o pescoço daqueleSoldado infame.  – Bem, tome isso. Vai lhe ajudar, se é que isso é possível. – Sheldonlançou um cabo de tamanho médio. Era a Lança de Jade de Marinny.  Até aquele momento, a Guardiã não reparara que estava sem sua arma

mágica e detestou não ter prestado a devida atenção a sua relíquia. Aquelaarma era uma extensão de seu corpo.  A Lança caiu próximo aos pés da garota. Mas como ela iria pegar se suasmãos estavam algemadas? Ela não conseguiu pensar nisso, pois, logo que aarma atingiu o chão, o círculo desenhado no solo entrou em combustão,formando uma parede de fogo envolta dela. Marinny levou um grandesusto no momento, mas logo se regozijou ao ver que, magicamente, asalgemas se soltaram de seus pulsos, esfarelando-se enquanto caíam no solo.  Porém, no minuto seguinte o ar tremeluziu a sua frente. Pensou se

tratar da aparição de um fantasma, mas se corrigiu ao ver que uma fumaçanegra surgida no vácuo tomara forma física. Era um demônio, concluiu ela.  – Você deve ser Marinny, certo? – perguntou o demônio. Ele vestia umacapa negra que chegava perto de seus pés. Ele não era tão alto quantoSheldon, mas era tão forte quanto, e possuía um olhar negro, vazio eassustador.  Marinny assentiu.  – Quem é você? E o que querem comigo?  O homem jogou o peso de um pé para o outro.  – Você sabe demais, garota – informou ele. – Se você não tivesse tocadoem Dylan, quem sabe, você não teria de estar passando por tudo isso. Mas,como você não consegue se segurar, agora terá de passar por este desafio. –

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Fez uma pausa e concluiu: – E, ah, pode me chamar de Maligno.  Marinny praguejou sua própria personalidade e desejou não teraceitado ir naquela missão junto de Endrich e Raffy. Ela preferia estarlutando com mil guerreiros a ter de lutar contra um demônio. Mas umaparte dela dizia que agora já era tarde. Precisaria passar por aquilo.  – E o que eu ganho caso vença essa disputa? – quis saber a Guardiã.

  – Você ganha liberdade – respondeu o demônio.  – E os herdeiros também.  O demônio de capa preta negou com a cabeça.  – O príncipe e a princesa continuarão sobre nosso domínio. Apenasvocê estará liberta. Caso vença.  Marinny sentiu um leve medo percorrer seu corpo. E se caso nãovencesse, o que lhe aconteceria? Porém, a Guardiã não teve tempo paraperguntar essa questão, pois Maligno investiu contra ela em um ataquesúbito.  Vendo que o tempo de conversa encerrara, catou sua lança do chão omais rápido que pôde, e, esquivando-se para a direita, evitou levar um fortesoco, que foi capaz de fazer a terra tremer quando atingiu o solo. Ela ficouimpressionada com a força do impacto.   Agora vejo que a briga é séria – pensou ela.  Rapidamente, sem hesitar, a Guardiã contra-ataca, aumentando o cabode sua Lança magicamente e a investindo contra a lateral do demônio. Alâmina perfura a carne e atinge um osso de Maligno. Ele guincha, mas,virando-se para Marinny, demonstra um sorriso irônico como se ele nãosentisse dor.

  O demônio retirou a lâmina de seu corpo, e Marinny pôde perceber, derelance, que ele não sangrava. Como aquilo era possível? A Guardiã sentiu omedo lhe atingir as mãos. Ela precisava reagir. Mas antes que pudesse fazerqualquer coisa, o demônio, segurando o cabo da Lança, bateu com a base damesma em suas costelas, fazendo-a cair gemendo de dor.  Sua forma humana devia sangrar! –  pensou rapidamente.  Percebendo que a Guardiã não havia libertado a Lança, o demônio deuum puxão, assim a garota voou para o lado, escorregando as mãos de suaarma. Estando apoderado da arma imperial, o demônio se dirigiu a passos

lentos em direção de Marinny, enquanto esta se levantava pesarosamente.  – Você vai me matar? – perguntou a garota, com uma das mãos sobre acostela fraturada.  Maligno balançou a cabeça, pensativo.  – Acho que ainda não. Pretendo brincar um pouquinho mais com você.  Sendo assim, Marinny foi usada como um brinquedo para a diversão dodemônio. Ela foi arrastada, jogada e arremessada. Nunca havia passado poruma situação, nem mesmo parecida, como aquela. Pela primeira vezMarinny estava perdendo uma luta. E o pior de tudo: ela estava sem suaarma – a coisa mais valiosa que ainda podia manter.  Num certo momento, a Guardiã relembrou de uma parte de sua vida,há pouco mais de trinta anos, quando jurou pelo Acordo dos Serafins. Neste

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ínterim, ela mal conseguia relembrar o que fora de melhor, quando deu aluz a uma criança. Seu filho que há muito morrera, quando ainda era

 jovem. Até então, aquele havia sido seu único herdeiro, e caso morressenaquela luta, sua linhagem como Guardiã seria perdida. Contudo isso nãoimportava naquele momento. As emoções e recordações quetransbordavam em dor e tristeza a tomavam de uma forma avassaladora,

destruindo os cacos que tentavam resistir. Lute,  Marinny! –   sua voz interiorgritava. Todavia não sabia quanto mais aguentaria. O confronto não eraapenas externo, mas também em seu âmago.  Marinny, jogada no chão, reuniu todas as suas forças e lentamente pôs-se de pé, respirando profundamente. Todo seu corpo estava latejando,porém isso não a fez desistir de um último ataque. Ela olhou para odemônio, que não parava de fitá-la, incrédulo.  – Você ainda se atreve a resistir? – perguntou ele. Em passos lentos,aproximou-se da Guardiã. – Caso você continue, você irá morrer. Esuponho que não seja isso que você queira, certo? Ou que ela queira.  Marinny recebeu o choque arregalando os olhos. Como ele poderia saberde seu maior segredo? Assentiu, baixando a cabeça. Em seu interior, sabiaque não poderia desistir, por isso, sem hesitar, se lançou contra Maligno,agarrando-se a ele e a Lança de Jade. O demônio deu um passo para trás,sem acreditar no que estava acontecendo.  – Não sou tão fácil de derrotar – afirmou Marinny, rangendo os dentes.A dor atravessando seu peito.  – O quê?  – O demônio parecia incrédulo com toda àquela situação. –Você não pode…

  – Isto é pra você – ela interrompeu. – Lys Beskyttelse!  A Lança reluziu fortemente nas mãos do demônio e da Guardiã,liberando uma grande rajada ofuscante. Maligno foi arremessado para trás,assim como Marinny, que caiu com toda a força contra o chão, fazendo-aperder o ar dos pulmões. A Lança pairava, fincada no solo, entre os doisduelistas.  Quando recuperou o fôlego, pôs-se de pé. Apesar de quase não suportaro peso do próprio corpo, ela se sentia mais forte pelo júbilo de ter ganhado adisputa. Agora ela poderia seguir livre e encontrar seus companheiros. A

Guardiã se aproximou e pegou sua arma mágica. Fitou o corpo inerte dodemônio, que logo se desfez em fumaça negra. Estava acabado.  Quando se virou para a princesa e o príncipe acorrentados, sorrindo,Marinny foi pega de surpresa. Sendo atingida com toda a força na cabeça,apagou instantaneamente.

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 Quatorze

Lago de Gelo 

Às margens do Lago de Gelo, no Império de Esmeralda, ele achava que o solnão queria tocar o horizonte. O vento gélido e seco cobria todo e qualquerlugar naquelas terras conhecidas como Reino de Magnólia.  Tannael Esmainn, Guardião Imperial de Esmeralda, olhou apreensivopara o outro lado do Lago tentando avistar o que o inimigo estavapreparando. Não conseguia ver nitidamente, mas podia pressentir cada

movimento que eles faziam. Não era nem de longe uma habilidade parecidacom a de Endrich, de ver o futuro, porém Tannael conseguia sentir cadacoisa que lhe rondava, os sentidos apurados muito mais que os normais,muito além de um Guardião qualquer; além disso, podia encontrar umapessoa seja lá onde estivesse no mundo.  Contudo, naqueles minutos em que estava prostrado atrás de umatrincheira de gelo, ele não pôde sentir nenhuma alma conhecida… E,definitivamente, nenhuma alma viva perambulando do outro lado.  – Como eles podem caminhar e fazer tudo, se não possuem uma alma? –indagou Atos, ao seu lado.

  Atos era um homem alto e largo como uma árvore. Seu rosto de feiçõesduras dava-lhe um ar de arrogante e perigoso – o que para Tannael nãodeixava de ser verdade. Em compensação, Atos era um grande guerreiro,tendo participado de grandes guarnições e infantarias pelos seus longos eduros 40 anos. E mesmo tendo sofrido perdas e ganhado guerras e batalhas,ele era alguém que nunca perdia a vontade de aprender; e acima de tudo, afé – o que lhe guiava em momentos difíceis, como este.  – Eles não precisam de uma alma como a nossa para fazer o que fazem –respondeu Tannael, sério.

  – Então como estão vivos? – Atos insistiu.  – É por que são espíritos malignos, demônios numa forma humanizada.  O guerreiro pareceu ficar chocado. Ele olhou para o céu, sinal de que

 buscava algo na memória.  – Você não diz daqueles mesmos demônios que ouvimos falar deantigamente, certo? Ou dos que Perília, a Profetiza, tanto diz?  O Guardião de Esmeralda se voltou para Atos. Ele estava cansado, afinala noite anterior havia sido de intensa batalha, perderam muitos homens.Agora com aproximação do anoitecer, Tannael tinha receio de que os

demônios atacassem novamente.  – Sim, Atos, esses mesmo que Perília tanto menciona – suspirou ele,

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exasperado.  Perília era uma grande sacerdotisa e profetiza do templo do deus dasprevisões, no Povoado Imperial Faqualey. Segundo suas visões, o Império deEsmeralda estaria prestes a entrar numa guerra que envolveria todo omundo de Onyx. Parte da profecia estava se cumprindo, pois Esmeralda jáestava numa situação pesarosa.

  Com os constantes ataques de demônios na região, todas as pessoas queconseguiram permanecer vivas no Reino de Magnólia decidiram partir oquanto antes para outros reinos, onde o perigo não era tão iminente. Ali noextremo oeste do Império, Tannael tinha a sensação de que o PovoadoImperial é que poderia sofrer grandes consequências; mas não tinha comosaber disso neste momento.  Enquanto analisava o que os demônios faziam, tentando captar algumindício de que atacariam, Tannael lembrou vagamente de como fora a

 batalha na noite anterior…  Seguia contra demônios e mais demônios. Sua perna ferida no outono deDiamante, na luta contra Trevys, vez ou outra fraquejava. Mas não sedeixava abater por isso. Eles pareciam não ter mais fim; era como se, a cadaum que matasse, surgissem dois. Era assustador. Tannael gostaria que seusamigos Guardiões estivessem em sua companhia, assim seriam fortes osuficiente para derrotarem de vez aqueles seres malignos.  Enquanto corria abrindo caminho com o Escudo de Esmeraldaempunhado, Atos puxava uma ordem de guerreiros atrás de si,arrebentando com todos os demônios que atravessavam sua frente. Vez ououtra o Guardião olhava pra trás para ter a certeza de que seus homens

ainda estavam vivos. E graças aos deuses, sim, eles ainda estavam vivos – aomenos uma boa parte. Nem mesmo as garras asquerosas daquelas bestas osdeteriam facilmente.  Enquanto corria e cortava membros com a borda do Escudo, Tannaeltinha a vaga sensação de que nada mais seria normal após aquele dia. Porque demônios estavam atacando em tão larga escala? Algo estavaterrivelmente errado, e ele gostaria de saber. Mas nem mesmo Perília, queera tão adorada, conseguira adivinhar, e não seria ele que conseguiria.  Quando deram por si, metade das tropas demoníacas havia desabado,

assim como um terço das tropas de Tannael, e a outra parte se afastara parao outro lado do Lago. No fim das contas, valera o esforço. Uma morte embatalha é considerada honrosa – diziam os soldados.   Minha pessoa só espera que isso acabe o quanto antes –  pensou, enquantolimpava seu escudo, após a batalha. Precisais descobrir o que está havendo!  Um sobressalto levou Tannael de volta para o presente. O que havia sidoaquilo? Ele tinha sentido uma movimentação estranha entre os demônios,como se eles estivessem se preparando para…  – Atos… chame-vos os homens e mande-os se prepararem – ordenou oGuardião, rapidamente. – Os demônios hão de iniciar um novo ataque.

 –––– Não demorou em a batalha reiniciar. Porém, desta vez, ela ocorria sobre o

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Lago de Gelo – como o nome já diz: um extenso lago com uma grossacamada de gelo lhe cobrindo a superfície. É quase inquebrável. Quase…  Tannael, desta vez, permaneceu na linha de defesa, logo atrás das cincoprimeiras fileiras de ataque. O massacre seria grande dessa vez. Demônioseram rasgados e mutilados, ao mesmo tempo em que o mesmo acontecia aosguerreiros impacientes que tentavam cortar e estocar aqueles seres grotescos

de dentes e unhas longas e pontiagudas. O que no fim resultava em suasmortes. O gelo se transformara em sangue.  O Guardião tinha uma simples explicação para o porquê de tantaimpaciência: eles estavam cansados e angustiados da noite anterior. Eles nãotinham nem ganhado nem perdido, o que os deixavam preocupados.Tannael podia compreender o que sentiam. Mesmo por que já passara porisso algumas vezes. A frustração podia levar qualquer um a loucura.  A batalha continuou, e o Guardião de Esmeralda ainda tentavacompreender se tudo o que acontecia era por causa do que Perília lhe falaratantas vezes antes:  Mesmo que vossa pessoa tente sozinho, nunca conseguirá

 ganhar a guerra contra as Trevas. Mesmo que passe por batalhas independentes, odia em que precisarás se unir aos outros chegará.  A voz da mulher retumbavaem seus ouvidos, deixando-o pirado. Percebeu que não podia perder deforma alguma, então saiu da linha de defesa e se engalfinhou por entre aslinhas de ataque. Daria fim naquilo.  Um demônio esviscerou um de seus soldados e partiu ao seu encontro.Nunca vira seres tão diabólicos como agora. Quando enfrentara o primeiro,séculos atrás, possuía uma forma humana, podia se passar por qualquerpessoa. Mas estes não se pareciam nem um pouco com mundanos. Sua

aparência grotesca o incomodava, e isso era a combustão principal paralevá-los a cabo; não sentiria o peso de matar alguém a sua semelhança.Ergueu o braço esquerdo na altura da cabeça, protegendo-a com o Escudodas garras que lhe cortariam o rosto. Esquivou o corpo para a esquerda e,

 brandindo o braço de fora para dentro em um arco lateral, atingiu o ser coma borda da arma imperial, arrancando-lhe um grunhido. Sangue negro selançava da abertura.  Tannael flexionou as pernas, esperando o demônio revidar, quandopressentiu a movimentação de um segundo as suas costas. Girou sobre os

calcanhares na tentativa de acertá-lo com a borda também, mas foiimpedido por garras largas e negras que seguraram o Escudo de Esmeralda.Surpreso, puxou o braço rapidamente após um pensamento, soltando aarma de seu braço no instante em que o enorme demônio se curvava paralhe abocanhar a cabeça. Caiu no chão, a respiração entrecortada.  Com a arma nas mãos, a besta se aproximava a passada rápidas. Os lábiostortos pareciam dizer que ria de sua cara. Franziu o cenho e, com umimpulso, ficou de pé novamente. Pressentindo a aproximação do primeiro,retesou o corpo esperando o impacto que viria a seguir. Quando o demôniose aproximou, saltou e pisou em sua cabeça, lançando-a para baixo e emdireção do segundo. Assim que os dois se trombaram, o Guardião correu deencontro ao Escudo, ainda em posse do ser maior, e o agarrou assim que se

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 jogou no ar. Enquanto girava sobre a cabeça do demônio, arrancou a arma desua mão. Pousou com um joelho no chão, girou e cortou o monstro no meiodas costas com a borda; a coluna fora destruída e sangue jorrava enquantodesabava e esmagava o primeiro demônio.  Respirou pesadamente e sem demora seguiu para a linha de encontro.Ao máximo que pôde, conseguiu separar as duas formações de batalha – os

humanos e os demônios – com a ajuda mágica de seu escudo. Os demôniosrugiam ferozmente, ensandecidos por mais sangue e carne humana. Semtemê-los, Tannael se posicionou sobre o Lago de Gelo; tinha uma ideia loucae genial.  – Vós quereis nosso Império, nosso mundo! – gritou para os demônios. –Mas vós jamais os tereis, pois minha pessoa os impedirás de qualquer coisaque tentem contra nós!  E com isso gritou “Lys Beskttelse”,  concentrando uma energiaesverdeada em sua arma, bateu com a borda do Escudo contra a camada degelo sob seus pés, lançando uma onda descomunal para o ar e ao longo dolago. Toda a superfície trincou. O silêncio caiu sobre o ar rapidamente. Osdemônios gritaram de indignação e tentaram contra-atacar. Vendo o perigoiminente, Atos começou a carregar alguns homens para o campo de batalhanovamente, mas foram impedidos pelo Guardião, que, ao perceber amovimentação dos demônios, recuperou seu escudo e deu alguns passospara trás rapidamente.  Antes que os demônios pudessem sequer chegar a cinco passos deTannael, o gelo sob seus pés cedeu, espatifando, rachando e rasgando comoum raio corta o céu, até se desfazer quase que por completo. Os demônios

haviam sumido.  – Espero que esteja suficientemente gelado lá embaixo para que nuncamais voltem a nos incomodar – comentou Atos.  – Estes podem ser que não verás mais, mas podes ter certeza de queainda há de vir mais por aí – objetou Tannael, pouco contente.  Naquele momento, instantaneamente, aos olhos de todos os presentes, ogelo que havia se desintegrado voltou a se juntar, congelando-senovamente. A força do vento aumentou, e logo havia neve caindo do céu.Os pinheiros ali perto envergavam um pouco, e os homens já não

conseguiam se manter de pé por muito tempo.  – Temos que sair daqui! – bradou Atos, confuso com a mudança drásticado clima.  Enquanto corria com seus homens para o acampamento há algumascentenas de metros dali, Tannael tinha a vaga sensação de que aquelatempestade repentina não devia estar acontecendo com tanta intensidade.Foi quando recordou de outra coisa que Perília havia lhe ditado: Cuidado,

 pois Onyx sofrerá com a natureza. Os elementares estão se reerguendo e a Espada é a única coisa capaz de cessar as catástrofes.  Ele forçou a mente e sentiu a aura de cada Guardião. Três deles estavamem alto-mar, no que parecia ser uma ilha… Se for o que estou pensando, esperoque Marinny e os outros Guardiões consigam dar um jeito nisso sem minha ajuda – 

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ponderou, enquanto se lembrava da lenda da Ilha Elementar.

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 Quinze

 A História dos Guardiões 

Os Guardiões Imperiais e a Soldada da Água decidiram passar a noite numacaverna subterrânea, antes de seguirem para o encontro de PolianaWinster, a Soldada do Ar. Endrich só esperava que essa Soldada não fosseparecida com seu colega Dylan: excluída do mundo e sempre desanimada edoentia. Ou pior, como Sheldon: fria e calculista.  Depois de procurarem um bom tempo por raízes e frutas comestíveis, os

companheiros se dirigiram a caverna, próximo ao Condado da Água – parteda ilha em que Sheron fora havia muito tempo protetora e onde, segundoela, seus poderes se intensificavam. Se longe de seu espaço, Sheron já fora capazde mover a água do mar para dentro da ilha, imagina o que ela pode fazer em suasterras? –  devaneou Endrich.  – Então a ilha é separada por condados? – comentou Raffy, engolindoum pedaço de raiz.  Sheron assentiu.  – Sim, como a ilha é pequena para abrigar um reino, ela foi dividida emquatro condados, onde Sheldon, Dylan, Poliana e eu tínhamos de cuidar de

cada um onde se encontram as matrizes de nossa natureza elementar. Essasnos escolheram… E isso só até a ilha ser amaldiçoada e todos os habitantesdesta terra morrerem; exceto por nós, Soldados – explicou a mulher, a luz

 bruxuleante da fogueira tornando sua expressão ainda mais tensa.  Endrich fez toda a refeição da noite em silêncio. Seus pensamentosestavam o deixando perturbado. E se algo acontecer à princesa Blair? O que eudirei ao Imperador Crystan? Depois do que enfrentara até ali, descobrir quenão era páreo para Sheldon o deixava enlouquecido.  – Não se incomode com tais pensamentos – interveio Raffy, após captar

suas ideias. – Eu sei que é assombroso, mas…  – Raffy, por que você faz isso? – replicou Endrich. – Você sabe que nãogosto quando fica captando meus pensamentos. Já lhe pedi mais de umavez que não faça isso!  – Desculpe-me.  Endrich se levantou. Caminhou, subindo pelo leve declive até a bocada caverna, onde pôde admirar as poucas estrelas que teimavam emaparecer entre uma nuvem e outra. Muitas vezes ele pensava se não forauma decisão errada aceitar o Acordo dos Serafins. Mas logo outros

pensamentos lhe invadiam a cabeça, dizendo-lhe que, se ele não tivesseaceitado esse cargo como Guardião Imperial, quem teria se arriscado para

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encontrar a princesa Blair, e, há algum tempo atrás, ter se arriscado parasalvar seu mundo das garras de Trevys? Ele sabia: tinha de continuar seucaminho e mostrar mais coragem do que estava demonstrando. Onde estátoda aquela garra que eu tinha quando nem imaginava que era um Guardião?  – elelembrou. Por um momento a ideia do terror causado pelo serafim caídoainda permear seu corpo atravessou sua mente. Estaria ainda sofrendo as

consequências das trevas?  – Não foi a melhor refeição que já fiz, mas acho que estava boa. Já comide coisas piores – arriscou Raffy, enquanto Endrich passava por ele.  – Perdoe-me se não consegui encontrar mais nada para comermos –pediu Sheron. – É muito ruim encontrar algo de boa qualidade nesta ilhaapós ser inundada. Não imagino o porquê tudo ficou tão escasso para nós.  Sem ao menos dar boa-noite, Endrich se aninhou num canto dacaverna, tapando-se com sua capa para se proteger de insetos e outrospequenos animais. Imagens da princesa Blair perambulavam por suamente, deixando-o meio confuso. Ele sentiu um arrepio pela espinha, ecomeçou a imaginar do que se tratava.  Por isso, sem mais delongas, fechou os olhos a espera do sono.  E sonhou…

 ––––   Endrich estava em frente a um altar, onde havia um trono feito de pedra comadornos em folhas de carvalho e outros. Sentado sobre ele, estava Sheldon, com seuolhar arrogante e sorriso irônico. Seus olhos nem sequer piscavam.  O Guardião se viu numa luta, em meio a um campo aberto, cercado porárvores. Havia uma mulher cercada por uma espessa névoa e que, com movimentos

dos braços, fazia o ar se mover ao seu redor, formando correntes de vento. Essasque atingiram Sheron e Raffy. A mulher só poderia ser Poliana Winster, a Soldadado Ar!  Enquanto isso, Endrich, percebendo um leve farfalhar próximo de onde osGuardiões tinham caído, um homem, entre as árvores, gesticulava rapidamente.Logo, a terra treme e a mulher que estava controlando o ar se vai ao chão. Ela

 pragueja e se põe de pé. Mas, com o homem ainda gesticulando, um pedaço se terrase desloca do solo, atingindo Poliana, que volta a beijar a terra e a grama fofa.  De repente, como um lampejo, tudo se torna escuro, e, em questão de segundos,

novas imagens começam a tomar conta. Logo, Endrich se encontra num lugar claroe, ao seu lado, estava um homem alto, muito parecido com ele. Era HamiroRagrson, seu pai de sangue.  Hamiro falava:  – Você deve tomar o rumo que seu coração mandar. Não importa o que osoutros vão dizer. Você tem suas próprias escolhas.  – Não estou lhe entendendo, pai – interveio Endrich, olhando nos olhos clarosde Hamiro.  – Eles tentarão lhe enganar. Mas não permita que isso aconteça. Você pode sermais forte. Sei que as dúvidas e a insegurança, nem sempre são escolhas, mas você é orte!  – Mas, pai, eu não sei mais se sou capaz de lutar. Minhas forças, minha

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coragem estão se esvaindo cada vez mais! Sinto que não devia ter aceitado ocordo.

  Hamiro sorriu fracamente. Olhou para o horizonte de luz. Parecia preocupado.  – Não permita… – A voz de seu pai foi se afastando. – Ele quer te enganar…  Endrich não queria que aquele momento acabasse.  – Pai! Hamiro! Ele quem? – indagou. Todavia, conseguia imaginar do que se

tratava. Um rápido lampejo carregou sua mente para o primeiro sonho com seu pai. Seria possível? – Treva está se reerguendo, foi o que disse. Esse ele que tantoouço, trata-se do Senhor das Trevas?  O horizonte se tornou mais brilhante, consumindo tudo que tocava. Em meio àluz havia escuridão, como um buraco negro. Trevas entre a luz? Por fim, Endrichapenas conseguiu ouvir seu pai dizer:  – Nos encontraremos mais tarde, filho…  E, de repente, o brilho se intensificou, abraçando-o para o interior do vácuo deescuridão.

 –––– 

Seus olhos se abriram, estava trêmulo e suava. Secou a testa com a mangada camisa e se levantou. Tomou um gole de água do seu cantil e se dirigiu àsaída da furna. Sentou-se na grama, escorado a uma árvore, e ficou olhandopara o céu. Diferentemente de mais cedo, as estrelas haviam sumido porcompleto. A abóbada celeste estava completamente encoberta por nuvensnegras. Não são simples nuvens de tempestade.  – Não consegue dormir? – a voz feminina o despertou dos devaneios.  Voltou-se para Sheron.  – Não. Acabei de ter um sonho. Acho que uma visão… Estou

preocupado, e há tantas coisas para responder…  – Entendo.  Endrich suspira. Enquanto troca um ligeiro olhar com a Soldada,lembrou-se de uma pintura que encontrara no Templo dos Mundos eresolveu questionar:  – Encontrei um desenho do Templo. Cinco pessoas recebendo armasque brilhavam. É a História dos Guardiões, não é? Li algo que diz que acivilização de Onyx surgiu daqui. Isso tudo é verdade?  A Soldada anuiu.

  – Fui eu quem fez aquelas gravuras. Faz tanto tempo…  – Você poderia me contar a história?  Assentiu e começou:  – Os Guardiões Imperiais surgiram há milênios, não tem uma dataçãoespecífica, mas foram os cinco filhos do grande sacerdote de Elementar.Elyanor fundou a Ilha Elementar e a dividiu em condados. A magia queexistia aqui era tão forte que o tornou um grão-sacerdote, um poderosohomem. O primeiro, aliás. Logo depois, quatro crianças especiais nasceramdestinadas a serem os Soldados Elementares.  – Esses são vocês?  – Sim. Somo imortais como os Guardiões – respondeu. Inspirou econtinuou: – Elyanor se empenhou em nos treinar e desenvolver nossos

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poderes. Anos se passaram, e junto de Jeíne, teve cinco filhos. Quandoadultos, os cinco decidiram sair da ilha e desbravar as terras que seestendiam por Onyx. Diemon fundou o Império de Diamante; Crinton, oImpério de Cristal; Esméliun fundou o Império de Esmeralda; Runni, oImpério de Rubi; e Jadyon, formou o Império de Jade. Antes de sair, porém,seu pai os abençoou com uma incrível habilidade: a imortalidade.

  Endrich estava interessado. Ficou em silêncio enquanto a Soldadanarrava.  – Os cinco filhos de Elyon se tornaram grandes pessoas e seus atos de

 bondade e perseverança se espalhavam por todos os cantos de Onyx. Até osmais obscuros  – fez uma pausa, inquieta. Retomou: – Com odesenvolvimento se instalando em Onyx, as trevas começaram a surgir commaior intensidade e os anjos se viram prensados a fazer alguma coisa.Deram então aos cinco imperadores as armas imperiais, moldadas pelaspedras sagradas de cada império, e uma habilidade específica, o que ostorna tão especiais. A partir daí as gerações seguintes dos grandes monarcastambém conservaram seus poderes, principalmente após suas mortes,tomando assim o lugar do Guardião anterior. Por fim, tornaram-se osprincipais protetores de Onyx.  – Impressionante – comentou Endrich, estupefato. – Eu não imaginavao quanto a História dos Guardiões era tão rica e impressionante.Primeiramente pelo fato de terem nascidos nesta ilha – sorriu. – Espere, seeles eram os primeiros imperadores de Onyx, significa que, de algumaforma, Raffy, eu e os outros temos sangue imperial?  Sheron concordou.

  – Será que sou parente do Imperador Asriel? –  Não  – a resposta surgiu imediatamente.  Remexeu-se no lugar e fitou Sheron com curiosidade.  — Mas Sheron, de onde surgiram os poderes dos Soldados?  — Quando a Espada Elemental atingiu esta ilha, ela se carregou deenergia elementar, foi o que a fortaleceu de magia e espalhou vida porOnyx, que antes disso era um mundo qualquer no Universo. Foi isso quetransformou Elyanor num poderoso bruxo e sacerdote após ser originado daunião entre água e terra, os moldadores da emoção e da razão,

respectivamente. A natureza escolheu, por fim, seus quatro filhos para quea protegessem do mal.  Endrich assentiu e sorriu. Estava tão interessado na história que seesquecera completamente do tempo. Os dois conversaram por mais algunsminutos e então voltaram para a caverna. O Guardião se deitou em seucanto, cobriu-se com sua capa escura e tornou a dormir, sem entender oporquê de estar com um sorriso nos lábios.

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 Dezesseis

O Condado Fantasma  

Quando Endrich despertou, os raios do sol já estavam adentrando nacaverna. Sua cabeça e costas doíam levemente – nada muito grave. Depoisde uma leve refeição à base de frutas e água cristalina, seguiam em direçãoao Condado do Ar pela mata fechada, mesmo após os protestos do arqueiroem relação ao sonho. “Ficará tudo bem”, assegurou a Soldada. O grupo sedirigia para o lado sul da ilha.

  Segundo Sheron, o Condado do Ar era a parte da ilha em que Polianaprotegia a centenas de anos. Contou que esse fora um dos melhores, umavez foi grande produtor de matéria-prima para os outros condados.  Quando chegaram do outro lado da floresta, o grupo encontrou umcondado em ruínas. Aquele havia se tornado uma vila fantasma. Endrichnão gostou muito da ideia. Só esperava que nenhum outro espectrotentasse tomar seu corpo; a primeira experiência já valera por um bomtempo.  – Mas onde é que a Soldada do Ar vive? – quis saber Endrich.  – Ela mora no Morro dos Uivos – respondeu Sheron, apontando para

uma elevação que se estendia ao longo do Condado.  Em pouco tempo eles alcançaram o pé do morro e iniciaram a subida.Enquanto subiam, um vento forte começou a soprar, quase impossibilitandoos companheiros de continuarem. Sheron explicou que isso era normal, poisem cada casa dos Soldados há uma proteção mágica relacionada com seuspoderes.  Após a tortuosa escalada, Endrich avista a casa onde, supostamente,morava Poliana. Mas, ao se aproximar da moradia, não percebeu nenhumtipo de movimentação. Quando entraram na residência, após bater na

porta e ninguém atender, o Guardião teve a certeza de que não havianinguém ali.  – Onde está essa mulher? – perguntou-se Sheron, vasculhando apequena casa.  – Não acredito que viemos até aqui, enfrentando todo aquele ventomágico, para ter que voltar tudo novamente e sem Poliana – resmungouRaffy, cansado e estressado.  Endrich entendia Raffy, sentia-se tão cansado quanto ele. Suarespiração ainda estava um pouco ofegante.

  – Bom, acho melhor voltarmos – disse Endrich. – Vamos pedir ajuda aDylan, quem sabe ele nos ajude?

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  – Não sei se ele vai querer cooperar – respondeu Sheron, enquantofechava a porta da casa de Poliana atrás de si. – Ele anda muito estranhonos últimos anos.  – Você quis dizer milênios, certo? – corrigiu Raffy.  Sheron lhe lançou um olhar de esguelha.  Enquanto desciam pelo mesmo caminho do morro, Endrich sentiu um

aperto no peito e um frio na espinha que pareciam congelar seu coração. Jáhavia sentido algo parecido, mas não se lembrava no momento. Porém,quando desceram todo o declive até o Condado do Ar, descobriu o porquêestava daquele jeito. O Guardião agarrou o Arco de Diamante enquantogelava até os ossos.

 –––– O Condado não estava mais silencioso, calmo e tranquilo, mas sim,turbulento, invadido por sussurros; o que fez o coração de Endrich saltitarno peito. Toda a região da vila estava tomada por uma espessa névoaacinzentada que se contorcia em sua direção.  – Fantasmas – murmurou Endrich, de olhos arregalados.  – São alguns espíritos inquietos – comentou Sheron, dando de ombros. –Porém, eu nunca vi tantos juntos.  O rapaz tentava não demonstrar medo, mas, em seu íntimo, sabia queestava quase tendo um ataque histérico. Será que esses fantasmas são osmesmos que enfrentei na Mata Rusken? Essa pergunta vagava por sua mentetentando encontrar uma resposta. Olhava para aquela forma espectral quecomeçava a tomar corpo. De alguma forma, sabia que aqueles espíritos nãoeram simples fantasmas.

  Espíritos vingativos –  disse uma voz na mente do Guardião. Tome cuidadocom eles, esses abantesmas são mais poderosos.  – Espíritos vingativos? – perguntou Endrich a ninguém em especial.  – Do que você… – Raffy se interrompeu ao perceber que o exércitorecém-formado de espectros estava se aproximando rapidamente.  Endrich deu uma rápida olhada para Sheron, que parecia atônita, semacreditar em seus próprios olhos. Ela devolveu o olhar ao Guardião.  – Eles estão avançando? – Ela não acreditava naquilo. – Mas são apenasespíritos de pessoas que já viveram aqui nesta ilha, como podem avançar

desta maneira, tão decididos?  – Eles querem vingança. – Endrich deu um passo atrás. Os fantasmasestavam tão perto que ele já podia sentir o frio do qual emanavam invadirseu corpo e tornar seus músculos em gelo.  O Guardião de Diamante distinguiu a forma de três guerreiros vestidoscom armaduras completas. Esses eram espíritos mais fortes, emanavam umafraca luz dourada a sua volta.  – Endrich Ragrson, você será destruído  – disse um dos fantasmasguerreiros, com a voz parecendo uma faca que rasgava seus ouvidos.  Agora o medo se espalhara por todo seu corpo, e ele não sabia mais seconseguiria resistir. Espera! Eu tenho de ser forte. Tenho que enfrentar meusmedos. Preciso enfrentar esses espíritos. Preciso!

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  – Você irá definhar no Labirinto das Almas, onde nunca, jamais, encontrará asalvação de sua alma – continuou o fantasma. – Seu espírito será sucumbido aos

 prazeres do Senhor das Trevas. Ele irá lhe escravizar! –   O fantasma lançou acabeça para trás e soltou o que parecia ser uma gargalhada.  Raffy se aproximou de Endrich e, sério, sussurrou:  – Temos de exorcizá-los. Só assim para irem para o Reino dos Mortos.

  Endrich se recuperou. As palavras do Guardião de Cristal havia lhedado mais ânimo. Sim, existia uma forma de derrotar os fantasmas. Ele nãose lembrara antes porque o medo o tomara de tal forma, que fizera suacabeça parar de funcionar momentaneamente. O medo é uma queda que nosleva à escuridão.  – Você se lembra das palavras? – indagou Raffy.  – Sim – acedeu Endrich, franzindo a testa.  Segurando fortemente o Arco de Diamante, suas hastes alinhadas notamanho máximo, preso a seu braço, Endrich sacou duas flechas da aljava.Enquanto isso, os fantasmas começaram a avançar em direção ao grupo. OGuardião de Diamante posicionou as flechas firmemente ao arco.  – Se vocês estão pensando em algo – disse Sheron –, então é bom fazerlogo.  Raffy desembainhou o Sabre de Cristal e, girando-o no ar, transformou-o numa espada longa. A lâmina refletiu a luz do sol, e logo estavaproduzindo o próprio brilho. O Guardião de Cristal olhou para Endrich, e,assentindo, os dois correram na direção dos fantasmas. Endrich resolveuignorar o tremor das pernas.  Use todo seu poder –   a voz na mente de Endrich disparava. Diga as

 palavras com vontade!  Quando estavam em meio aos fantasmas, o medo corroendo a mente deEndrich, ele e Raffy gritaram juntos:  – Lys Beskyttelse!  No mesmo instante os dois estacaram em meio ao aglomero deespectros. As setas de Endrich foram disparadas, indo em direção a umaimensa tropa de fantasmas. A lâmina de Raffy disparou uma rajada de luzcontra os três fantasmas guerreiros. Nada mais foi visível senão umaexplosão de luz perolada com fachos dourados, que tomou conta de todo o

Condado.  Em meio à expansão de luz, Sheron teve de fechar os olhos e esperarque tudo voltasse ao normal. Até mesmo Endrich e Raffy fecharam os olhospor um momento. Entretanto, o Guardião de Diamante não sentia anecessidade de fazê-lo. Era imune ao poder.  Aos poucos a luz se esvaiu e todos puderam enxergar. O Condadoestava livre. Não havia mais avantesmas. Agora, havia apenas silêncio. E osilêncio era o grito dos mortos.

 –––– Quando os Guardiões Imperiais e Sheron estavam de volta à caverna ondepassaram a noite, no Condado da Água, já estava entardecendo. O grupolevara um pouco mais de tempo para chegar, pois passou em alguns lugares

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da mata aonde conseguiram provisões para passar aquela noite.  – Eu não entendo – comentou Sheron. – Onde está Poliana?  – Ela devia estar… caçando? – sugeriu Raffy.  – Na verdade, não – respondeu uma voz rouca e calma, aproximando-se dos companheiros. Era Dylan. – Eu sei o que eles estão tramando, e o queaconteceu a Marinny.

  De onde ele surgiu? –  indagou-se Endrich. Dylan não parecia tão decaídocomo da primeira vez que o vira.  – Espere, você falou “eles”? – indagou Sheron. – Isso quer dizer quePoliana também está participando dessa traição?!  O Soldado da Terra assentiu e olhou de canto para a Soldada indignada.  Então meu sonho está correto –  pensou o Guardião de Diamante.  – Não é só isso. Sheldon começou com essa história de conquistar omundo após concordar em fazer um pacto com um demônio, quedesconheço o nome.  Percebeu que Sheron estava desmoronando. Ele queria poder fazeralguma coisa para ajudá-la, mas não conseguia pensar em nada.  – Bem, nós precisamos detê-lo – comentou, sem ter plena certeza doque dizia.  – Não é tão simples assim – respondeu o Soldado da Terra. – Seria maisfácil se já estivéssemos com a Espada Elemental em mãos. Assimpoderíamos derrotar o demônio e fazer com que Sheldon deixasse esseplano maluco de querer ser um dos donos do mundo.  – Eu quero saber por que Sheldon está fazendo isso comigo! – Os olhosde Sheron se encheram de lágrimas. Endrich sabia que ela era uma mulher

forte, mas, pelo visto, amava Sheldon e se entristecia com seus atos infames.Para piorar, não era só isso. A Soldada era instável, já percebera. Em ummomento queria destroçar o Soldado do Fogo e em outro, chorava por ele.  Raffy se aproximou de Dylan. Uma expressão de pensamentotranscorreu por suas faces. Parecia que o Guardião estava tentando captaros pensamentos do Soldado, mas não demonstrou isso, pois logo perguntoualgo de extremo valor a ele:  – O que exatamente esse demônio quer?  Dylan hesitou, mas, pacientemente, assentiu e explicou o que sabia:

  – Com a Espada Elemental, o demônio pactuante com Sheldon, poderárasgar o véu natural que separa a Dimensão da Luz, um lugar sagrado eproibido a seres malignos, e devastar toda a ordem de anjos aindaexistentes. E o pior: tendo a relíquia em mãos, poderá forçar os humanos aescravidão, sendo que terá o controle sobre os quatro elementos que regem anatureza. Suponho ainda que possa utilizar de tal arma para abrir passagemao Senhor das Trevas.  – Porém – continuou o Soldado –, não poderíamos destruí-la caso aencontrarmos. Pois, se isso acontecer, Onyx entraria em colapso e seautodestruiria, isso porque os elementos da Natureza estariam livres nomundo, sem rédea alguma. Seria um prato cheio para as trevas.  Endrich e Raffy assentiram com a cabeça. O Guardião de Diamante já

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não tinha mais ideia do que poderiam fazer para salvar os herdeiros e omundo – novamente. Sentiu os joelhos fraquejarem. “Suponho ainda quepossa utilizar de tal arma para abrir passagem ao Senhor das Trevas”. Istofez com tivesse certeza do que seu pai já havia lhe avisado em sonho.Estava cada dia mais próximo do penhasco e ainda não compreendia comoe por que fora parar no meio de tudo aquilo.

  – Mas e Marinny, o que aconteceu a ela? – quis saber Raffy, preocupado.  – Ah, sim, Marinny? Ela está… digamos… meio má – respondeu Dylan.  Raffy expressou indagação.  – Má? Má em que sentido?  – Ela apanhou feio do demônio pactuante. – Dylan se empertigou. –Parece que ela foi desafiada em um duelo e perdeu. Mas está bem, nosentido de estar viva; e má, no sentido de estar machucada.  Endrich sentiu um aperto no peito. E pôde distinguir, pela expressão deRaffy, que ele sentia a mesma coisa. Não, espere. Conseguia sentir que algomuito além de raiva ou dor povoava a mente do amigo. Uma energiairreconhecível emanava de seu corpo. Um sentimento intenso, antigo eviolento saltava por seus poros.  – E o que nós podemos fazer? – perguntou o Guardião de Cristal.  – Eu não sei. Só sei que… – Dylan se interrompeu com o soar de um

 barulho de terra sendo remexida.  – O que foi isso? – quis saber Endrich, perguntando mais a si do que aoscompanheiros.  Dylan apontou para um dos cantos da caverna.  – Nós já vamos descobrir.

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 Dezessete

Revelações 

Um buraco estava se abrindo na parede de pedra. Parte da rocha sedesprendeu, dando passagem para o que parecia ser um focinho. Logo,redondos olhos ligeiros despontaram, vasculhando tudo a sua volta.Endrich, assim como todos que estava na caverna, assustou-se ao ver oanimal. Era uma espécie de roedor, com uma imensa cara e longos bigodes

 brancos.

  – Vocês foram ficar justo numa caverna de roedores – retrucou Dylan,numa expressão inflexível.  – Há séculos eu não via tal ser – replicou Sheron. – Achei queestivessem extintos por causa da maldição!  – Ele deve ter renascido conosco desta vez ou alguém o ressuscitou!  Endrich deu um passo atrás, pegando uma flecha na aljava. Era umaflecha curta, com penas de ganso em sua extremidade. A ponta era deferro, possuindo três lados.  – Ei, se vocês não perceberam, há um rato gigante na nossa frente –vociferou nervoso, enquanto procurava encaixar a seta na corda. Mas fazer

isso estava custando tempo demais. Suas mãos tremiam, percebeu.  O roedor farejou o ar, e, instantes depois, lançou-se contra os Guardiõese Soldados, saindo do buraco que produzira na parede. Raffy e Sheron se

 jogaram para a esquerda e Dylan para a direita. Porém, Endrich, sem sorte,caiu para trás, ficando na reta do animal. Por que me desconcentrei enquanto

 posicionava a flecha?  O Guardião de Diamante sentiu seu coração parar. Será que tudo estariaacabado? Ele se arrastou, recuando de encontro à parede; ficou sem saída.O rato estava em cima dele, com a boca entreaberta, e Endrich pôde sentir

um leve bafo desagradável escapar por entre os dentes amarelados doanimal.  – Use o arco, Endrich! – gritou Raffy, empunhando o Sabre de Cristal.  Endrich não respondeu. Olhou para a mão direita e viu que aindasegurava a flecha que pegara na aljava. A ponta de três lados era feita deaço-minério e seu corpo, de teixo. Empunhando a seta, e sem pensar duasvezes, o Guardião a penetra no queixo do gigantesco animal. O roedorguinchou, fazendo a terra estremecer, virando-se em seguida para Dylan,que até então estava de encontro à parede oposta a em que Endrich se

encontrava.  Enquanto sangrava, o rato revelou olhos negros de fúria para o Soldado

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da Terra. Agora quem estava em perigo era Dylan, e se não se prontificasse asair dali o mais rápido possível, poderia ser tarde demais.  – Dylan, saia daí! – berrou Endrich, no instante em que o roedor selançou contra o Soldado.  Mas Dylan não se moveu.  O Guardião de Diamante, sem entender muito que acontecera, jogou-se

para o lado no instante momento em que uma pedra se desprendeu do tetoda caverna. O que foi isso? –  perguntou-se. E, quando a nuvem de poeira sedissipou, ele distinguiu o enorme roedor debaixo da gigantesca pedra que sesoltara. O Guardião olhou para Dylan, que estava com as mãos esticadaspara frente, sem entender nada.  – O que aconteceu? – indagou Raffy, pondo-se de pé. Tanto ele quantoSheron tinham indo ao chão no instante em que o rato fora preso.  – Fui eu – respondeu o Soldado.  Endrich pôde ver as expressões dos outros dois. Ele estava boquiaberto eela, sorridente.  O homem passou pela lateral do rato, evitando tocá-lo.  – Vamos, é melhor sairmos daqui – ordenou Dylan. – Não sei se essapedra vai segurar o roedor por muito tempo – afirmou, vendo o animal darsinais de reação.

 –––– Após um tempo de caminhada, o grupo havia chegado à frente do Templodos Mundos. Tanto os Guardiões quanto os Soldados estavam tão cansados,que desejavam se jogar numa cama macia. Mas, não tendo nada parecido, ochão de grama fofa fora mais que suficiente.

  – Mais que nunca, nós precisamos fazer alguma coisa para deterSheldon – comentou Raffy, após um tempo de silêncio.  Endrich fitou o amigo por um tempo. Por que ele não conseguia crerpiamente em suas palavras? Sabia que ele nutria algum tipo de sentimentopoderoso por Marinny, mas sua expressão não parecia transmitir tudo aquiloque dizia.  – Mas o quê? – interveio Sheron. – Nem mesmo um plano nós temos. Se

 bem que eu tentaria amassar a cara de Sheldon da mesma forma. – A mulhercuspiu o nome do Soldado.

  O Guardião de Diamante permaneceu em silêncio. Tentava esquecer,ao menos por um momento, o quanto estava perdido. Às vezes só queriaesquecer tudo de mal que o rondava e viver tranquilamente. Uma vidanormal ao lado de Luany seria pedir demais? Contudo essa não é a vida de umprotetor de Onyx. Bufou. Por vezes a escolha que fizera o deixava irritado eem dúvida, por outra achava que acertara na decisão. Resolveu que omelhor seria chacoalhar a cabeça e tentar esquecer tudo isso de uma vez.Ou então não seguiria em frente. Preciso aceitar os fatos e ser feliz da forma queme for possível.  – Ah, há uma coisa que eu não contei – interveio Dylan. Ele parecia umpouco perturbado. – Sheron, sabe o portal, no Templo dos Mundos, poronde atravessamos para ir a outros lugares de Onyx?

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  – Não! – gritou Sheron, num som abafado.  – Que história é essa de portal? – Endrich despertou de seus devaneios,voltando-se para Sheron, incrédulo. – Você me disse que não havianenhum portal.  A mulher se pôs de pé, insegura.  – Eu, eu… não quis lhe envolver nisso…

  – Você não contou a eles? – indagou o Soldado da Terra, sentando-se. –Achei que você estivesse ajudando eles.  Sheron assentiu. Raffy assim como Endrich, que estava enrubescendode raiva, pôs-se de pé.  – O que é tudo isso? – quis saber o Guardião de Cristal. – Por que mentiupra nós?  A Soldada da Água hesitou.  – Isso foi antes de eu saber que Sheldon estava me traindo. – Sheronestava nervosa, mas ficou séria e dócil ao mesmo tempo. – Ele havia pedidopra eu não contar a vocês.  Endrich ficou mais confuso.  – Hein? Como assim não contar a nós?  Dylan também pareceu perdido. Sheron contou relutante, que, quandoparticipava do plano de Sheldon, tinha o dever de se tornar amiga dosGuardiões e levá-los até o Soldado do Fogo, onde Endrich devia serintimado a procurar a Espada Elemental. A Soldada revelou que, para tercerteza de que Endrich estaria indo para a ilha amaldiçoada, ela devia usaruns dos portais mágicos do Templo dos Mundos que a levou ao Império deCristal, onde fez certa amizade com o Guardião de Diamante, enquanto

aguardava a chegada de Raffy.  Endrich estava atônito. Por que ela escondera isso, se decidira ajudar osGuardiões em sua missão?  – Você mentiu! E eu detesto isso – exclamou ele, não sabendo ao certo oque sentia.  Sheron apenas baixou a cabeça.  Endrich se virou para Dylan.  – Você disse algo sobre os portais. O que têm eles? – perguntou.  O Soldado da Terra suspirou.

  – Está bem, você quer mesmo saber?  O Guardião de Diamante assentiu.  – Certo. Os portais são cortes entre mundos e no tempo-espaço, que nospermite viajar não só dentro de Onyx, como para qualquer outro lugar.Entretanto, nós Soldados, só conseguimos sair por alguns poucos minutos. Epelo que vi, quando atravessei a floresta hoje cedo, perto do Templo,Poliana estava seguindo para próximo da entrada. Segui-a. Esperei um bomtempo, e, quando estava me preparando para seguir meu caminho, ela saiuda construção carregando uma garota pelo cotovelo. – Dylan tomou fôlego.– Ao que pude ver a jovem era pouco mais baixa que você, Endrich, tinhaolhos verdes e cabelos loiro-escuros. E falava mais que uma gralha.  Endrich ouviu todo o relato atentamente, mas, quando chegou à parte

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final, sentiu como se seu coração fosse sair pela boca. Não pode ser – pensou,o desespero tomando conta.  – O que foi Endrich? – indagou Raffy, após captar os pensamentosaflitos e ver a expressão de Endrich.  O Guardião de Diamante estava assustado. Ele nunca quis botá-la emperigo, mas também nunca imaginara que tudo aquilo fosse acontecer. Por

que a envolveriam nisso?!  – Acho que sei quem é a nova raptada – afirmou ele, a voz pouco maisde um sussurro.  – Quem poderia ser? – indagou Dylan, aparentemente preocupado coma expressão que surgira na face do Guardião.  Endrich não queria dizer o nome dela, não queria acreditar napossiblidade. Porém, se as características eram idênticas, então só poderiaser uma pessoa. Um bom tempo depois, ele respondeu:  – Luany.

 –––– 

O choque da realidade ainda vibrava por seu corpo. Como a missão chegaraaquele ponto? Endrich percebera que não poderia mais pôr em risco aspessoas que amava. Duas eram suficientes para deixá-lo desprevenido; umahavia morrido: seu querido professor Stuarck, e isso por ter enfrentadoTrevys. Não queria de forma alguma que Luany tivesse o mesmo fim.  Levantou-se, pesaroso, e se dirigiu até a mulher, que soluçavaencostada em uma árvore. Parecia derrotada.  – Desculpe-me – pediu ele, calorosamente. – Sei que fui rude, maspreciso de sua ajuda neste instante, mais do que qualquer coisa.

  Sheron o fitou com olhos vagos. Parecia hesitante. Endrich não saberiadizer, mas logo em seguida ela assentiu. Demonstrava se sentir culpada.  – O que posso fazer? – perguntou ela, a voz meio engasgada, mas com oolhar determinado.  – Onde Sheldon está?  – Deve estar próximo ao condado que ele protegia, onde seus poderessão mais fortes. O Condado do Fogo, na parte norte da ilha.  – Leve-nos até lá, por favor – suplicou o Guardião de Diamante.  Sheron consentiu, secando as lágrimas. Endrich esboçou um sorriso.

  – Você vem com nós? – indagou Endrich a Dylan.  O Soldado pensou. Respondeu:  – Não. Minha cabeça ainda está um pouco confusa com tudo queaconteceu. E tenho medo que as coisas possam se repetir.  – Se repetir? Como…?  – Esqueça isso. Tudo bem?  Endrich, preocupado, assentiu e se distanciou.  – Você tem certeza? – insistiu Sheron. Vendo a afirmação de Dylan, aSoldada continuou: – Certo. Então, tome cuidado meu amigo.  – Você também, Sheron – lembrou Dylan. – Sei que você quer vingança,mas não a deixe tomar conta de seu corpo e espírito. Ela pode ser pior queuma faca atravessando o próprio coração. Não seja má. E não se iguale a

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Sheldon. Mostre que está no controle das próprias emoções – sorriu. –Elyanor sempre lhe dizia: “Volátil como a água é, às vezes torna-senecessário o congelamento para apaziguá-la”.  A Soldada assentiu.  – Jamais serei igual a ele.  Dylan anuiu e esboçou um leve sorriso.

  Sendo assim, após um rápido abraço entre os Soldados, Endrich e Raffyseguiram Sheron pela mata em direção ao Condado do Fogo. O Guardião deCristal utilizava seu sabre para abrir caminho onde os galhos e cipós erammais densos pelo caminho. Muitas vezes deixando um galho escapar ericochetar no rosto de Endrich, que seguia em seu encalço, fazendo-oreclamar por um bom tempo. No fim das contas, acabava com um risoentredentes.  O Guardião de Diamante tinha esperança de conseguir resgatar aprincesa Blair e o príncipe Gabrian junto de Raffy, principalmente agoraque ficara com o coração entalado na garganta. Luany também foracarregada para a ilha, e isso era mais do que motivo para tentar qualquercoisa que a tirasse de lá. Por mais que não tivessem um plano, ele tinha quevencer Sheldon. Mesmo que isso, no fim, resumisse-se em grandesconsequências para ele.

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 Dezoito

Sem Escolha  

A camponesa olhava atentamente a mulher que havia lhe raptado. Estavaescondida atrás do altar, junto de um homem alto e corpulento, que Blairinformou ser seu raptor. Sheldon era o nome dele. Ela estava acima dacabeça dos Soldados Elementares, por isso conseguia os ver tão claramente.  Luany havia sido acorrentada por Poliana, como entendera Sheldonpronunciar; quem a conduziu até ali. A jovem não gostara nada, mas não

havia o que fazer. Estava ao lado da princesa Blair Crystan, do príncipeGabrian Zackiel e de Marinny Bellaire, que, pelos hematomas espalhadospelo rosto e braços e a boca inchada, concluiu ter sido espancada.  Suspirou, repetindo mais uma vez em mente o que acontecera. Estavapegando água num poço para sua mãe, que naquele momento devia estartendo um ataque do coração por sua filha ainda não ter dado notícias.Luany se lembrava de pouca coisa, mas o que ainda lhe vinha à memóriaera o momento em que ela atravessou uma porta no meio do nada, próximado Rio Coronal, ao ser puxada pela Soldada. Ela só queria entender comoaquilo poderia ser possível – e de onde aquela mulher teria vindo.

  Já havia passado do meio-dia e Luany estava com fome. Sentia que seuestômago iria derreter a qualquer momento. Desde que chegara naquelamanhã, ela não havia posto nada na boca, nem mesmo um pouco de água –que, lembrando isso, a fez ficar com mais sede.  Endrich! – pensou. Como eu queria que ele estivesse aqui comigo. Será que é 

 para esse lugar que ele viajou? Ao menos ela torcia que sim. Ou não. Pensar emvê-lo duelando com os raptores não seria nem um pouco agradável.  A jovem, naquele momento, gostaria de estar em segurança, sob aproteção de seu melhor amigo e Guardião de Diamante. Nada mais lhe

vinha à mente, senão a imagem do rapaz. Ela queria estar ao seu lado.Precisava dele naquele exato momento. Apenas ele. Como fazia falta!Nunca achou que seus sentimentos mais íntimos explodiriam em ummomento como aquele. Deu! Estou me afundando em pensamentos indevidos!Mas sabia que era inevitável.  Foi quando, ao olhar para a floresta a sua frente, percebeu um farfalharestranho. Galhos e folhas se moviam lentamente, revelando um rostofeminino. Luany nunca vira a dona daqueles cabelos ruivos, mas, quandoum dos companheiros da mulher se revelou, a garota sentiu seu coração

 bater mais rápido. Suspirou ruidosamente. Sua vontade era correr até ele egritar seu nome, mas se conteve em apenas murmurar:

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  – Endrich! – Agora, Luany sentia sua esperança lhe tomar a alma e ocorpo, revitalizando-a.  Quando Marinny ouviu, levantou a cabeça rapidamente, avistando ogrupo. Sheron e Endrich saíram do meio das árvores, e logo atrás veio Raffy.Ela se sentiu preencher por dentro; uma curiosa felicidade.Instantaneamente, o Guardião de Diamante avistou os herdeiros, a Guardiã

e a amiga no altar. Todos estavam acorrentados. Ele deu uma espiada emtodas as direções em busca de Sheldon, mas parecia não haver ninguém ali.Começou a se aproximar, cauteloso.  – Não! – gritou Luany, ao perceber que Sheldon se esgueirava pelalateral do altar. Foi quando, subitamente, uma parede de fogo se elevouentre Endrich e os acorrentados.  – Não, seu novato idiota! – gritou Marinny, com o que lhe restava deforça. – Será que você não sabe que tem de tomar cuidado… porque podehaver alguma armadilha?  Endrich se afastou rapidamente para não ser queimado. Ele viu o quãomachucada Marinny estava, e admirou a força que ela ainda possuía paragritar com tanta ênfase apenas para lhe xingar. Preocupado, Raffy seaproximou do Guardião de Diamante perguntando se ele estava bem.  Endrich assentiu.  – Sim, estou – respondeu ele. – Mas se Sheldon acha que isso será osuficiente para me deter, então ele está muito enganado.  Após muito tempo, Endrich sentiu sua coragem renovada e uma raivaque há muito não sentia. Não poderia mais ser fraco e inseguro como nosúltimos dias. Precisava enfrentar seus medos e, principalmente, o infame

Sheldon.  A parede de fogo se rompeu ao meio, de onde surgiu o Soldado do Fogo,com a expressão fria de sempre. Porém, dessa vez, seus olhos brilhavam tãointensamente, que, ponderou Endrich, poderiam iluminar boa parte domundo. Com seu sorriso irônico, Sheldon se aproximou.  – Ora, ora… Então vocês viveram e vieram. Achei que não iriamsobreviver aos desafios da ilha para me encontrar – disse ele.  – Solte Luany e os outros! – exigiu o Guardião de Diamante, semdemora.

  – Ah, então é Luany o nome dela… Prazer em conhecê-la, Luany –cumprimentou o Soldado do Fogo, voltando-se para a jovem enquanto aparede de fogo se extinguia. Em resposta, a camponesa revelou umacarranca para Sheldon, mostrando a língua. Ele deu de ombros e se viroupara Sheron. – Então você também veio me visitar!  Sheron enrubesceu de raiva.  – Visitar? Eu vim para lhe matar, seu desgraçado! – explodiu ela. –Mentiroso covarde!  – Covarde mesmo – interveio Marinny, um pouco ofegante. – Olhe oque ele fez a mim!  Raffy se enraiveceu. Deu um passo a frente.  – Não acredito que você fez isso com ela! Por quê?!

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  Sheldon trocou o peso de um pé para outro, tranquilo. Deu de ombrosnovamente, e, calmamente, respondeu:  – Primeiro: não fui eu quem fez àquilo a ela; e sim um grande amigo. Esegundo: ela merecia, pois agora sabe demais sobre nosso plano. E isso éimperdoável.  – Assim como sei que você vendeu sua alma para um demônio! –

exclamou a Guardiã de Jade, não suportando mais tudo aquilo.  – Isso é mesmo verdade? – quis saber Sheron, nervosa.  Ela ainda tinha dúvidas sobre isso.  – Isso não é de sua conta! – vociferou o homem.  Endrich, não aguentando mais o Soldado do Fogo, entra na conversa,explodindo:  – Não me importa se você vendeu ou não sua alma, mas, se quiser sairimpune, então também terá de nos espancar e até mesmo matar, poissabemos todo o seu plano! E mais: podes ter certeza de que nós não iremosajudá-lo!  Sheldon sorriu sarcasticamente. Endrich passou a odiar quando elefazia isso; mostrava o quão ruim ele era.  – Ah, é? Você que pensa idiota!  O ar pareceu carregado de calor e por um peso que desconcentrava atodos. Então, subitamente, um fio de fogo é lançado contra Endrich, que se

 jogou para o lado, tentando fugir o quanto antes das chamas. Logo oGuardião se pôs de pé, vendo que parte de sua capa e de seu coleteestavam em chamas.

 –––– 

Antes isso, Luany observava Sheldon e Endrich em uma rixa que para elanão fazia muito sentido. Entretanto, se parasse para pensar, apenas porterem raptá-la, Endrich lutaria contra todas as tropas de soldados eguerreiros do mundo para salvá-la. Modéstia parte, ela tinha certeza disso.  – O que Endrich quis dizer quando falou que não iria ajudar Sheldon? –perguntou Luany a Marinny. Ela ouvira toda a conversa entre os Soldados eGuardiões, e sabia que a Guardiã de Jade teria a resposta na ponta dalíngua.  – O que isso quer dizer? Bem, é por que Sheldon quer que Endrich se

arrisque para ir atrás de uma espada mágica, que está perdida nos confinsde sabe-se lá onde… – A Guardiã se ajeitou, resmungando. – E, óbvio,Endrich não vai fazer isso… pelo menos é no que acredito.  – Mas por que a tal espada está perdida? E por que tanto interessenela?  – Sheldon quer usar a Espada para dominar o mundo e destruir a nós,Guardiões Imperiais. Ele se acha superior porque os Soldados Elementaresnasceram primeiro que os Guardiões, em um tempo anterior ao qual anjosvagavam pela terra. E tudo isso não é bom…  Luany franziu o semblante. A Guardiã sabia das coisas, concluiu ela, egostaria de saber como ela poderia ter tantas informações sobre o plano doSoldado do Fogo.

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   Ah, meu querido Endrich, onde fomos nos meter?  Estava com medo do que poderia acontecer a seu amigo. Quando elaouviu Sheldon com seu sarcasmo:  – Ah, é? Você que pensa idiota!  E logo depois um chicote de fogo estava em cima de Endrich. Luanysentiu um gelo tomar-lhe o corpo, enquanto ele se jogava para o lado. Ela

não sabia como, mas tinha certeza de que a luta começaria de verdadenaquele momento. –––– 

Raffy e Sheron correram até Endrich para ajudá-lo, enquanto tentava selivrar da capa em chamas e do colete chamuscado. Porém, de súbito, foraminterrompidos por uma forte rajada de vento. O Guardião de Diamantepôde ver pelo canto do olho que o outro Guardião e a Soldada foram

 jogados de volta para o lugar de onde tinham saído próximo às árvores.Subitamente, uma mulher pousa no chão. Endrich ficou atônito. De ondeela teria vindo? A mulher era alta, magra, cabelos louro-claros e olhos de corcinza. Sua expressão parecia a de uma criança pronta para fazer algumacoisa maldosa.  – Poliana?! – exclamou Sheron, pondo-se de pé, ainda que o ar a suavolta parecesse pesar uma tonelada.  – Olá, amiga. – Poliana tinha a voz calma e serena. Não parecia ser mau,mas o sarcasmo em sua voz a revelou. Sem dúvidas, ela estava ao lado doSoldado do Fogo.  – Como você pôde se juntar a Sheldon?  Poliana sorriu.

  – Bem, seus planos são bons. Após derrotarmos vocês e sairmos destailha, mataremos os outros Guardiões Imperiais e, junto do Senhor dasTrevas, dominaremos o mundo! – Ela gargalhou feliz, enquanto Sheronestava tão pasma, que mal conseguia se mexer. – Além, é claro, de Sheldonser um ótimo companheiro.  A Soldada da Água piscou. Ouvira bem?  – Espere aí, você está dizendo que Sheldon e…  – Sheldon e eu tivemos um lindo caso – completou a outra Soldada. –Ora, Sheron, convenhamos, o fogo e a água nunca se dão bem. Apesar das

chamas serem o combustível dos sentimentos, uma parte das emoçõeshumanas criadas pela água, todos nós sabemos que vocês dois não teriamfuturo. Ele quer crescer, conquistar; você quer se autopreservar e controlar,além de manter a paz e o amor no mundo – revirou os olhos.  Seus olhos queimavam, lágrimas insistiam em escorrer. Não se permitiriaa humilhação em frente à inimiga.  – Eu deveria usar o ar para apagar suas memórias, talvez assim sofressemenos – continuou Poliana. – Contudo, não o farei, pois quero sentir sua iracom tudo isso. Vê-la sofrer por algo há muito perdido será um prato cheiopara mim.  Trincou os dentes. Segurava-se para não cometer uma loucura.  – Mas então, como vocês pretendem dominar o mundo? – mudou de

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assunto.  – Endrich é a resposta. Ele irá buscar a Espada – concluiu a Soldada doAr com um sorriso cínico. – Agora eu fico pensando: como serão meus filhoscom Sheldon?  Fora a gota d’água que Sheron precisava para sentir como se houvesseum mar inteiro em seu interior, prestes a transbordar, intimando-a atacar.

Perguntava-se por que a Soldada do Ar, que uma vez fora uma grandeamiga sua, estava se voltando para o lado mau. Será que ela poderia estarsobre algum encantamento? Ou ela também tinha vendido sua alma?Sheron ainda estava chocada com tudo aquilo.  Como se lesse sua mente, Poliana ri e retoma:  – Você devia ver sua cara, está ótima! Nunca fui sua amiga de verdade,Sheron. Podemos ser todos irmãos por parte de Elyanor e Jeíne, a únicamulher que respeitei, mas somos totalmente o oposto uma da outra. É comoo ar e a água: tão próximos um necessitando do outro, mas tão distintos!Bem, chega de enrolação, está na hora de vocês morrerem! – dissecalmamente. Movendo os braços de um lado para o outro, formou-se umcone de nuvens de vento que em pouco atingiu o chão.  Endrich olhou do braço, que ardia com uma queimadura, para o céu.Nunca presenciara algo parecido com um tornado. O incrível era que aSoldada não tinha sua localização alterada; ela estava com os pés firmes nochão, ao contrário de Raffy e Sheron, que em pouco tempo estavam sendoarrastados para dentro do cone de vento. O Guardião de Diamante nãosofria quase nada com a ondulação do vento, que pouco o atingia. Nesseínterim, Sheldon aproveitou para atacar.

  Sem tempo para sacar uma flecha de sua aljava, Endrich usa o arcopara atingir Sheldon, com as hastes abertas. O Soldado desvia do ataque e,incendiando suas mãos, saca uma espada média de lâmina prata, que autiliza para investir contra o Guardião. Endrich utiliza o encaixe que o Arcopossuía para se prender ao braço, como um bracelete, para defender osgolpes da espada flamejante. Entretanto, mesmo defendendo os ataquespoderosos, Sheldon impele contra ele, que se vê contra o chão, há algunspassos de distância. Tenho que continuar lutando!  Endrich se pôs de pé econtra-atacou o Soldado do Fogo, pondo uma flecha rapidamente no arco e

disparando.  Enquanto isso, Sheron e Raffy estavam passando por dificuldades.Poliana parecia feliz pelo fato de estar controlando um tornado contra oGuardião de Cristal e sua “amiga”. O vento estava tão forte que os dois nãotinham certeza se conseguiram permanecer com os pés junto ao chão – elesestavam constantemente sendo arrastados para o cone de vento.  Raffy, empunhando o Sabre de Cristal já na forma de espada longa,investiu contra a Soldada do Ar. Ele não estava mais aturando aquelamulher. Mas, com um rápido movimento dos braços, Poliana fez o ar a suavolta se mover, atingindo o Guardião de Cristal em cheio. Raffy foi lançadocontra uma árvore e logo começou a ser carregado pelo forte ventonovamente. Sheron se aproximou a passadas largas e rápidas, impedindo

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que o Guardião fosse sugado pelo tornado, segurando-o pela gola da camisa.A Soldada da Água estava quase sendo levada junto, quando pegou aespada na mão de Raffy e a ficou na terra seca.  – Raffy, Raffy! – chamou Sheron. O Guardião de Cristal abriu os olhos,fazendo uma careta de dor. – Você está bem? – indagou-o.  – Sim… Eu acho – respondeu Raffy, quase sem ar.

  – Ótimo, pois precisamos continuar lutando.  Sheron, usando de toda sua força, tenta fixar os pés no chão, mas ovento está se tornando cada vez mais forte, tentando tragar ela e Raffypara seu interior. Sem ter muitas escolhas, ela se concentrou o máximo quepôde. Água… Água venha até mim! –  pensava ela. De repente havia chuvacaindo. Não, não era chuva. Tinha algo de estranho acontecendo. Polianasó foi perceber que havia algo de errado quando uma coluna de águasalgada estava se movendo em sua direção.  – O quê? – disse ela, incrédula.  Endrich viu quando a água começou a circundá-los. Ele nunca viraalgo parecido, a não ser quando Sheron controlou uma massa de água paraapagar a parede de fogo que os ameaçava no Condado do Ar. Mas agora eradiferente. Parecia que aquele círculo de água possuía vida própria, era algofantástico e assustador ao mesmo tempo.  Distraído pelo poder elementar da água, o Guardião de Diamante se viucaído mais uma vez, a lâmina de Sheldon quase lhe ceifando a vida. Agora,a ponta da espada estava mirada contra sua garganta. Ele não tinha certezase o Soldado do Fogo iria lhe matar ou lhe manter vivo, já que tanto queriaque fosse à busca da Espada Elemental. Porém, o Guardião já estava

achando que a segunda alternativa seria a mais válida naquele momento.  Endrich deu uma olhadela para Luany. Apreensiva, ela assistia a cenaem que ele estava submetido. Começou a recordar dos bons momentos quetivera com a jovem camponesa. Seus belos olhos-verdes e seu cabelo loiro-escuro. Ele tinha tanta coisa para dizer a ela, mas não conseguia libertar aspalavras. Por que tudo há de ser assim? – perguntou-se. Tão complicado!  Ele desviou o olhar da jovem para a mata logo as suas costas. Não queriaestar olhando em seus olhos quando a lâmina descesse contra sua garganta.Contudo, viu algo se mover entre as árvores. Seria mais algum dos animais

medonhos que habitavam a ilha? Não. Havia mãos humanas, pelo queEndrich pôde perceber, saindo entre os galhos das árvores. Logo os galhosderam passagem a um rosto familiar.  Um sorriso passou a moldar seus lábios.

 –––– Pouco tempo após Endrich, Raffy e Sheron terem partido, Dylan resolveuvoltar para sua caverna. Mas um sentimento de culpa lhe tomou conta. Elenão sabia o porquê, mas isso estava lhe corroendo por dentro.  O Soldado da Terra decidiu continuar seguindo para o Condado daTerra, quando percebeu que não poderia deixar sua amiga e seus novosparceiros seguirem sozinhos para uma luta. Ele parou. Devia voltar. Mas porquê? Não tinha certeza, mas concluiu que, se não fizesse algo naquele

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instante, nunca mais poderia fazer algo bom a favor de Onyx novamente,caso Sheldon vencesse a batalha.  Dylan deu meia-volta e seguiu por onde o grupo havia ido, em direçãoao Condado do Fogo. Sheldon devia ser contido, e ele deveria ajudar osGuardiões nessa conquista. Será que mais uma vez deveria… Não, ele nãopensaria nisso por enquanto.

  Enquanto se movia, recordou dos tempos de outrora, quando a ilha nãoera amaldiçoada e ele possuía sua família e era responsável pelo Condadoda Terra. Família… Fora criado com seus irmãos e pouco viu da vida senão odever de manter a ilha intacta. E agora? Ele não poderia trazer de voltatudo o que perdera, contudo, poderia concertar os erros causados nopassado. Aquele seria o momento em que a autoconfiança, que há temposperdera, tomaria conta de seu corpo e lhe permitiria ajudar a salvar ummundo em que ainda fazia parte, mesmo mal podendo andar sobre ele.  Mundos. Claro, ele já visitara outros mundos. Ele só não se lembravacomo era caminhar sobre terras distantes e desconhecidas. Ele já fora a umlugar onde existiam coisas inimagináveis para ele, onde estes objetos nãofuncionariam em Onyx.  O Soldado sabia que o tempo estava acabando. Em pouco tempo, aoanoitecer daquele mesmo dia, a ilha seria tragada pela água, onde iriapermanecer por mais setecentos anos. E seriam longos, recordou-se. Só emimaginar que teria de renascer novamente, retomar as lembranças que apouco ficariam submersas, deixava Dylan num estado de incerteza. Incertosobre seu futuro. Incerto sobre as coisas que estavam acontecendo ao redorda ilha e ele não poder ter conhecimento. Um exemplo: a civilização evolui,

enquanto eles ficavam presos, mortos, a uma incalculável distância abaixodas águas salgadas. Aquilo era, no mínimo, injusto – e era tudo culpa sua.  Pensativo, Dylan estacou. Há poucos passos ele estaria no meio da

 batalha. Sentira o ar gelar à medida que se aproximava do altar onde erammantidos os acorrentados. O farfalhar das árvores tocava uma melodiahedionda. Respirando fundo, o Soldado espiou, por entre galhos, a lutaacirrada que estava acontecendo.  Raffy e Sheron estavam impossibilitados de lutar por causa damanipulação do ar que Poliana estava impondo. Já Endrich estava caído de

costas no chão, com uma ponta de espada a meio palmo de distância de suagarganta. Caso ele não fizesse alguma coisa, e rápido, não tinha certeza deque os amigos sairiam vivos dali.   Amigos é uma palavra forte. Mas pela primeira vez sabia o que era ter umvínculo de amizade. Porque se sentia dessa forma? Nem mesmo ele saberiaexplicar; era como se o destino lhe guiasse por esse caminho.  Sem pensar, o Soldado da Terra afasta os galhos e, murmurando umasérie de palavras no idioma dos deuses, ergue as mãos na altura do peito.Subitamente a terra começou a tremer. A ilha inteira vibrava junto, elepodia sentir. Dylan tinha a sensação de que ele e a ínsula eram apenas um;um completava ao outro. A terra é a maior ligação com a vida.  O solo rachou próximo aos pés de Poliana, e logo ela estava jogada ao

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chão. O vento parou de súbito. O mesmo aconteceu com Sheldon, que caiulogo que a terra o afastou de Endrich. Sua espada derrapou para o fossoaberto entre eles.  A terra parou de tremer. E, encorajado e com ar de esperança, Dylansaiu de seu esconderijo.

 –––– 

Endrich não imaginava o que fez Dylan seguir até ele e seus amigos, masagradecido com a chegada do Soldado da Terra. Todavia, a luta ainda nãohavia acabado e Sheldon e Poliana estavam se pondo de pé novamente.  – O que você está fazendo aqui?! – exclamou Sheldon, raivoso.  – Oi, pra você também, Sheldon – respondeu Dylan, inalterável.  – Ah, seu filho da mãe… – Poliana correu em direção a Dylan, enquantomurmurava palavras no idioma antigo.  Endrich se armou com uma flecha para disparar contra a Soldada doAr, quando, inesperadamente, Poliana é acertada em cheio por uma trombad’água que a arremessa contra as escadas do altar. A única coisa que se pôdeouvir da mulher foi um guincho de dor e fúria, logo abafado pela água quea afogou. Agora, seu corpo jazia sem vida, quebrado contra os degraus.  – O quê?! – Sheldon ficou atônito e apavorado ao mesmo tempo, olhavapara Sheron. Ele não acreditava que estava começando a perder. – Vocêsacham que ainda podem me vencer?  Endrich, com a flecha preparada no Arco de Diamante, assentiufirmemente. Raffy empunhou o Sabre de Cristal, desenterrando-a da terraseca. A lâmina brilhava aos raios do sol.  – Se eu fosse você, iria correndo encontrar a Espada – disse uma voz

rouca e surreal, que fez o corpo de Endrich tremer. – Escute-me e ela nãomorrerá.  O Guardião se voltou para o altar e sentiu seu coração parar. O tempoparecia ter congelado; nada mais importava. Seus olhos arregalados traíam acoragem e determinação que encontrara há algumas horas.  Parado ao lado de Luany estava um homem usando um longo casacopreto, empunhando uma faca de lâmina curvada e rajada de alaranjado. Ocurvado externo, onde a faca aparentava ser mais longa, estavapressionada contra o pescoço da jovem camponesa. Ela, com o queixo

erguido, tinha lágrimas escorrendo pelo rosto, marcando-o entre uma finacamada de poeira.  – Solte-a – exigiu Endrich, trêmulo, na tentativa de reaver suas forças. –Deixe-a em paz. Ela é só uma amiga, que não tem nada haver com isso.Solte-a!  Os olhos de Endrich começaram a arder. Não conhecia aquele ser, mastinha certeza de que era um demônio. Subitamente uma rápida imagem lhevem à cabeça. Era o homem de preto. Este segurava uma espada longa;uma espada de guerra, concluiu. Só poderia ser a Espada Elemental. Eramais uma das visões incertas do Guardião, que o deixava confuso. Ele deviafazer algo. Coçou os olhos e a vista retornou ao normal.  – Caro Endrich… Você não está em posição de exigir nada – respondeu

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o homem. – Luany poderá ser muito importante para nosso futuro plano;ela é mais especial do que você imagina. Tem um dom divino.  – Não importa. Apenas a deixe ir! – exclamou o Guardião, contudo, nãoestava tão certo sobre não querer saber do que o demônio falava.  – Quem sabe um dia vocês descubram, não? – Um sorriso medonho seformou em seu rosto pálido, como se ouvisse sua angústia. – Agora você irá

fazer o que eu lhe mandar e ponto final. Caso contrário… – Ele pressionouum pouco mais a faca contra o pescoço de Luany. Ela gemeu. Um fio desangue escorreu por sua pele rosada.  Endrich estava ficando sem opções. Deveria fazer aquilo que o demôniolhe pedisse. Seus olhos faiscaram de raiva.  – O que você quer? – perguntou ele, impaciente.  – Simples. Você vai buscar a Espada Elemental, ou sua amiga morre

 junto dos herdeiros e desta aí. – O demônio dá um chute na perna deMarinny, que rosna em resposta.  Endrich fitou a princesa e o príncipe por um momento, elesaparentavam estar com medo, queriam sair dali. Lembrou-se de suapromessa para com o Imperador Crystan. Não poderia falhar. Ele teria quecorrer todos os riscos para salvar Blair, e, se morrer fosse um deles, também ofaria. Agora não importava mais nada, apenas a salvação dos herdeiros e daamiga Luany.  – Você não pode… – murmurou Raffy, estupefato, enquanto Endrich sevirava para a floresta.  Ele chacoalhou a cabeça.  – Eu devo – disse por fim.

  Sem escolha, Endrich troca um último olhar em desespero com Luany, esegue para o Templo dos Mundos.  Pela primeira vez desde o Acordo dos Serafins compreendeu realmenteo que é ser um Guardião Imperial. Acima de qualquer coisa: nunca quebraruma promessa.

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 Dezenove

 A Proposta  

Antes que Endrich continuasse até o Templo dos Mundos, Dylan o chamoupara dar algumas dicas. O Soldado mencionara qual porta deveria tomarpara encontrar o portal principal, o qual apostava onde poderia seencontrar a Espada. Ele assentiu e rapidamente seguiu para a construção.  Agora, o Guardião de Diamante estava na entrada da pirâmideescalonada. Subitamente, a ilha inteira tremeu. Não tenho muito tempo – 

lembrou-se Endrich. Dylan também mencionara para ser rápido; a ilha iriasubmergir ao pôr do sol. Olhando para a Estrela de Fogo, o Guardiãoconcluiu que teria apenas metade de uma tarde para encontrar a Espada.  Endrich seguiu por um corredor estreito – muito mais do que aqueleque seguira ao chegar ao Templo dos Mundos na primeira vez. Nas paredesao seu redor, o Guardião podia ver mais um pedacinho da história contadahá centenas e milhares de anos, quando a Ilha Elementar era um lugartranquilo. Endrich não conseguia entender muita coisa, mas ele distinguiuos quatro Soldados Elementares com seus povos, em cada canto da ilha,vivendo em harmonia. Quem sabe um dia eles voltem a viver como antes – 

pensou.   Mas nem tudo volta a ser como nos tempos de outrora. O passado é passado, enão pode ser modificado. Esse pensamento ecoou por sua mente por um bomtempo.  Endrich chega ao lugar que Dylan lhe dissera. Estava no final docorredor, e ali não havia mais nada a não ser pelo o que parecia ser umagrande porta de pedra. No meio da rocha havia um desenhorepresentando os quatro elementos da ilha: fogo, água, terra e ar. OGuardião olhou em volta da porta, procurando por alguma inscrição em

outra língua, que poderia ser a forma de abrir a porta. Mas não havia nada.  O Guardião deu as costas para o portal. Estaria tudo acabado? Não, nãopoderia estar. Mas como abriria algo mágico que nem inscrições mágicaspossuíam? Endrich vasculhou a cabeça em busca de mais algumainformação que Dylan tenha lhe dado.  – Ao chegar à porta apenas diga o nome dos quatro condados da ilha –dissera Dylan. – Pense na Espada e diga uma frase.  – Mas que frase? – perguntara Endrich.  – Você saberá na hora. Agora corra!

  Pensando intensamente na Espada, e sem muita certeza, Endricharriscou:

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  – Fogo, água, terra, ar! –  falara no antigo idioma.  Nada acontecera. Qual seria a frase que Dylan mencionara? Forçou amente.  – Entre o nascimento e a morte, abra-te para um novo mundo.  De imediato nada aconteceu. O Guardião começou a perder asesperanças, quando, de repente, a rocha se partiu. O desenho gravado na

rocha se dividiu em quatro. Toda a área da porta a sua frente estalou, eruiu; o resto da parede foi tragado por uma luz que vinha do outro lado. Porreflexo, Endrich protegeu os olhos, e, quando a luz repentina tornou-sefraca, abriu os olhos e pôde ver uma bela paisagem.  Do outro lado da porta, havia um campo verde, cercado de árvores.Parecia um lugar desértico, inabitado. Então, um pouco relutante, oGuardião atravessou a divisão entre o seu mundo e o outro. Pousou no queparecia ser um penhasco. Estava ensolarado, e Endrich pôde sentir o calorlhe envolver.  Olhou em volta. Será mesmo que a Espada está a… – Quando Endrich iaconcluir seu pensamento ,  interrompeu-se ao avistar o que procurava. Elesorriu. A Espada Elemental estava fixada numa larga rocha pontuda, na

 beira do precipício. Começou a correr até ela, quando um grande rugidotomou conta do ambiente. Era tão alto e assustador, que ele achou que seusouvidos explodiriam. O Guardião correu os olhos de um lado para o outro, enovamente se pôde ouvir o rugido. Endrich olhou para trás, arrependendo-se logo depois. Não sabia dizer se era um animal ou um monstro. Nuncavira nada parecido na vida.  O ser de característica reptiliana rugiu novamente. Endrich se

encolheu, não deu um passo sequer. Fitou a fera, que devia ser umas trêsvezes maior que ele. Seus olhos eram amarelados com duas fendas negrascortando-os ao meio, possuía duas grandes fileiras de dentes, mas seus

 braços eram curtos; sendo insuficiente para alcançar alguém ou qualqueroutra coisa no chão. Porém, para Endrich, somente os dentes pontiagudos

 já eram mais que suficientes para lhe destroçar.  O Guardião deu um passo atrás. Ele não podia sentir medo, mas nãoteve tanta certeza logo depois que quebrou um galho sob seus pés. O animallhe olhou com olhos famintos e investiu com a mandíbula arregaçada. Sem

muito que fazer, Endrich se joga para a direita, rolando alguns passos. A feradeu uma bocada no ar vazio.  Sacou uma flecha de sua aljava. Usar as setas seria sua única esperançacaso quisesse retardar o ser gigante ou até mesmo matá-lo. Sem hesitar, oarco com suas hastes abertas, tencionou a corda ao máximo, a flecha nolugar. O animal investiu contra ele novamente. O Guardião a liberou,deixando a seta de ponta larga voar em direção à cabeça da fera.  Endrich rolou para a direita novamente quando o réptil passoucorrendo por ele. Ainda estava de pé com a flecha cravada entre seusolhos. O ser guinchava de dor e ódio. Ele sacou outra flecha e, vendo atransformação da mesma, por meio do poder do Arco, retesou a corda edisparou a nova seta, ao mesmo tempo em que o animal deu os primeiros

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passos.  A flecha se alojou no coração da fera. Endrich se aproximou do réptiltombado, que deu um último suspiro e se calou.  Caminhou até a Espada fincada na rocha e, contando com muita força,retirou a lâmina encravada. Percebeu, à luz do sol, que a lâmina não possuíauma única cor, mas sim um misto de tons, imitando um arco-íris. Além

disso, possuía garras que saltavam da base da lâmina. Era uma arma deguerra. Por um momento, gostaria de descobrir a história daquela relíquia.  A única coisa que Endrich devia fazer naquele instante, era voltar até oaltar e entregar a Espada Elemental a Sheldon e ao demônio. Ao mesmotempo sabia que não devia fazer isso, pois poderia acarretar na destruiçãode toda Onyx! Porém, era a única forma de salvar as vidas de Luany, Blair,Gabrian e Marinny. Valeria a pena sacrificar o mundo para salvar a vidadaqueles que mais ama?  Sem mais delongas, Endrich voltou pelo caminho que seguira até aEspada, e, respirando fundo, atravessou o portal que o levaria a seu mundo.Na cabeça, um conflito se formara: afinal, não estaria fazendo o mesmo queSheldon?

 –––– Enquanto isso, Raffy e Sheron fitavam Sheldon, que empunhava a faca queo demônio usara para ameaçar Luany contra o pescoço de Marinny. Estagritou para Raffy lhe tirar dali, mas o Guardião nada pôde fazer, a não serter a incrível sensação de formigamento nos braços após ou vir sua voz.Dylan fitava Marinny com olhos curiosos, procurando uma solução.  – Como você imaginou que eu descobrira sobre seu plano? – perguntou

a Guardiã de Jade a Sheldon, tentando soar tranquila.  Sheldon riu irônico.  – Simples – respondeu ele –, já ouvisse algo chamado seguir? É… eu ossegui quando foram ao Condado da Terra em busca de Dylan. Seu amigoEndrich, que neste momento deve estar ganhando uma bela surpresa domeu parceiro demônio, que foi matá-lo, ouviu algo na mata enquanto eu osseguia. Mas pelo visto não dissera nada.  Um rápido silêncio reinou no ar.  – Bois bem – continuou o Soldado –, enquanto você absorvia as

informações da mente de Dylan aquele… FILHO DA MÃE… – gritou emdireção ao Soldado da Terra – eu estava lá o tempo todo, observando-osenquanto você contava tudo. Eu estive pensando em matar Dylan, masmudei de ideia e resolvi te raptar para torturar um pouco e ameaçar aindamais nossos queridos amigos Endrich e Raffy.  Marinny revirou os olhos. A vontade dela era de socar a cara do infame,até que ele expelisse sangue. Entretanto, não imaginava como poderiamafetar o Guardião de Cristal. Ou sei?  – Mas você é muito ruim mesmo – comentou Marinny. – Como é quevocê foi capaz de trair seus amigos, sua família!  – Eu não tenho família! – berrou Sheldon, mostrando sua ira. – Podemoster sidos gerados pelas mesmas pessoas, mas a Natureza nos fez opostos uns

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contra ela novamente, puxou o Sabre de suas mãos e a penetrou noatacante, atravessando-o completamente. A Soldada olhou a pontavermelha da lâmina se projetando do outro lado do corpo do homem; nemela conseguia crer no que fizera. Mas era necessário; ela precisava. Agora sesentiria vingada e totalmente livre.  – Você e Marinny ainda sofrerão – resfolegou o Soldado, rindo. Sangue

escorria entre lábios. – Ele  não se esqueceu de sua promessa. Além disso,Marinny não conseguirá manter seu segredo por muito mais tempo.  Assustado, engoliu em seco. Como Sheldon poderia saber de tudo isso?  Sheron pisou em seu peito e puxou a lâmina. Sheldon arfa uma últimavez, o pavor o abraça, então desaba sem vida. A Soldada analisou o corpopor um momento. Suspirou ruidosamente. Estava acabado. Ao menos pelospróximos setecentos anos.  – Desculpe por isso – disse ela, trêmula, entregando a espada a Raffy.  – Tudo bem – assentiu ele um tanto irônico. – Só terei que limpar osangue de um cara que tentou nos queimar vivos e que era um mentirosodesgraçado, nada mais.  Sheron se permitiu rir um pouco. Finalmente poderia esbanjar de umsorriso alegre.  Raffy arrebentou as correntes que prendiam Marinny com sua arma. Oprimeiro ato da jovem foi lhe abraçar. Permitiu que poucas lágrimasescorressem contra o peito largo do rapaz.  – Obrigada! – exclamou ela. – Eu achei que iria morrer!  – Shh, agora está tudo bem – apaziguou.  – Ei! Tirem-me daqui! – exigiu Luany. Sentia que iria perder os punhos

caso ficasse mais um pouco naquele estado.  Dylan se aproximou dela e, sem precisar de força, arrebentou ascorrentes que a prendiam utilizando as mãos nuas. Agora a camponesa sesentia parcialmente aliviada. Parcialmente…  – Cadê o Endrich? – quis saber ela em desespero.  – Neste momento já deve estar com a Espada Elemental em mãos.Posso sentir suas vibrações – respondeu Dylan, taciturno.  – Eu também – concordou Sheron.  Após Raffy quebrar as correntes que prendiam a princesa Blair e o

príncipe Gabrian, que estavam exaustos, precisando ser carregados pelosSoldados, o grupo desceu do altar e entrou na mata. Seguiam para a clareiracentral da ilha.  – Você acha que Endrich ainda está vivo? – indagou Blair a Luany,preocupada.  – Eu espero que sim – respondeu ela, com o coração apertado. – Euespero que sim.

 –––– Endrich arrastava a Espada Elemental pelo corredor que o levaria ao hall deentrada do templo. Sentia-se extremamente cansado… E com razão. Afinal,lutara com Sheldon e uma fera de outro mundo do dobro de seu tamanho.A Espada era pesada, o que não ajudava, e por isso mal conseguia sustentá-

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la no ar.  Devo ou não devo entregar a Espada? Já estava ficando louco – de novo.  Ao chegar ao hall de entrada, seus pensamentos foram afastadosrapidamente. Ele parou abruptamente. O coração bateu mais rápido, o friolhe percorreu a espinha, como se dedos congelados tamborilassem em cadauma de suas vértebras.

  – Quem diria? Você conseguiu mesmo pegar a Espada – disse o demônio,que quase matara Marinny.  – É isso aqui que você quer? – Endrich ergueu a ponta da lâmina, logo adeixando bater no chão novamente.  O demônio assentiu.  – Claro. E você fez tudo certinho.  – Como vou saber se meus amigos estão libertos? Porque só irei lheentregar a Espada caso eles estejam todos bem.  A capa negra do demônio oscilou como se tivesse vida própria. Elesorriu. Por um ínfimo momento, aquilo o lembrou de Trevys. Retorquiu opensamento. Não entraria em desespero agora; recusava-se a passar porisso.  – Você não está em condições de exigir nada, lembra? Mas não sepreocupe. Seus amigos estão ótimos, já que mataram o imprestável doSheldon.  Endrich se retesou. Seria verdade o que o homem de negro falara? Nãotinha certeza, mas não poderia perder mais tempo. Olhou para o sol atravésda entrada do templo. A Estrela de Fogo estava quase morrendo, e não teriamais chances de tentar qualquer coisa caso a ilha afundasse com ele nela.

  – Bem – continuou o demônio em tom altivo –, admiro sua coragem esua boa educação. Você é obediente, pelo que vejo, e serviu a mim, que sousuperior, com total disciplina. Tal como gosto!  Endrich se anojou das palavras do ser.  – Mas agora, seja obediente mais uma vez e me entregue a Espada.  Então seria apenas isso? Se entregasse a arma para o demônio Onyx seperderia. Caso não o fizesse, seus amigos ficariam em perigo. Não sabia oque mais daquela ilha. Entretanto, hesitando por um momento, o Guardiãonegou com a cabeça.

– Não vou lhe entregar nada – decidiu.  – Como assim! – vociferou o demônio, os dentes amostra. Eram todospontiagudos e amarelados. – Você acha que pode se igualar a mim? – Asmãos dele se torceram, transformando-se em garras. Os olhos negros setornaram injetados de vermelho. As veias de seu pescoço saltaram,pulsando intensamente.  – Não estou me igualando a ninguém – respondeu Endrich, recobrandoo vigor. – Mas apenas não permitirei que meu mundo seja destruído por umdemônio.  Quando respondeu, a voz do demônio havia se transformado nummisto de duas vozes roucas e turbulentas.  – Primeiro: não sou um demônio qualquer, sou Maligno, o braço direito

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do próprio Treva. Segundo: você acha que tudo isto é para mim? Eu souapenas um soldado leal, que está seguindo ordens superiores, meu caroGuardião. Não pense que existem apenas anjos e demônios vivendo porentre os mundos e suas dimensões. Você não tem noção do poder superiorexistente sobre sua cabeça e em seu próprio coração. Espere até o dia emque os deuses se rebelarem! – Pausou e concluiu: – Seu destino neste

momento foi encontrar a Espada, meu caro, e se, por algum motivo doUniverso, não o fizesse, teria eu de matar os herdeiros. Um sacrifíciohumano seria o suficiente para me ligar a arma dos anjos e logo teria poderpara abrir uma passagem entre Onyx e o Reino dos Mortos. Interessante,não?  Endrich fechou a expressão, mas seu interior era uma mistura de raiva,medo e apreensão. Não sabia se acreditava no demônio ou se simplesmenteignorava cada palavra que ele dissera. Porém, não conseguia simplesmentedesacreditar naquilo. A recordação do primeiro sonho com Hamiro veio àtona, reforçando a ideia: “pode ter certeza de que você passará por grandesprovações. Afinal, Treva está se fortalecendo e pretende retornar”. Ele nãoteve tempo para absorver tudo, porque o demônio o atacou.  Voar contra uma parede não estava nos planos de Endrich. Mas o serdas trevas fora tão rápido, que ele mal teve tempo para respirar. O Guardiãose encontrava pressionado contra a parede de pedra maciça por umdemônio, os pulmões afetados, sem ar.  – Você não conseguirá me matar! – exclamou Endrich, os olhos fixos nosde Maligno.  – Por que você acha isso? – perguntou o demônio. Ele cravou as unhas

da mão esquerda entre o ombro direito e o pescoço do Guardião. O gritouecoou por todo o salão. – Você se acha especial para não morrer, hein? Eunão sei por que tanto interesse dele por você, mas… – O demônio suspirou. –Não posso lhe matar sem saber de uma coisa.  Endrich cuspiu xingamentos por causa da dor que sentia. As garras deMaligno pareciam lhe queimar não só a pele, mas também a alma. Elerespirou fundo, tentando esquecer a dor. Pensar em algo bom era umaescapatória, mas nada chegava a sua mente.  – Na verdade – continuou o inimigo –, eu tenho uma proposta para lhe

fazer. Diferente do que estavas achando, isso não é um tipo de vingança.Não gostaria de sentir a ira dele. Meu mestre o quer como aliado. Quemsabe se você se juntasse a ele… Meu senhor iria adorar ter sua companhia, evocê poderia ser muito poderoso, ter riquezas inimagináveis, ser mais que oMagno! – riu. – Então, o que achas?  Endrich pensou. Ele não gostara nada da proposta, e ao mesmo tempogostara. Riquezas inimagináveis? Tentou se imaginar ao lado de Luany, seugrande amor. Ter uma vida inteira ao seu lado, sem maiores preocupações, ea custo de quê? Não!  Nem fazia ideia de quem se tratava o senhor dodemônio (ou fazia?); não podia se aliar as forças das trevas. Tinha queresistir!  – Então? – repetiu o demônio. As garras estavam mais fundas na carne

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de Endrich, fazendo-o se contorcer de dor.  O Guardião respondeu entredentes:  – Eu quero que você vá para o Reino dos Mortos, e que nunca mais saiade lá. Jamais me aliarei a seres da sua raça. Vocês são maus e cruéis. Vocêsnão deviam existir!  O demônio sorriu. Parecia se divertir com a situação.

  – Na verdade existimos justamente por causa dos humanos. Somos osrestos de suas vidas desgraçadas, suas injúrias e pecados. Somos a sobra, oque não se aproveita de uma pessoa. Acima de tudo, nós somos as almascorrompidas. – Por fim, concluiu com um riso: – Bem, aceitarei sua respostacomo um não. Ótimo, agora posso lhe matar!

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  Vinte

O Poder da Espada  

A ilha tremeu. O sol estava se pondo.  Endrich sabia que não tinha mais tempo. Mas como salvar os amigos senem a si mesmo conseguia salvar? Toda a esperança e coragem que eleconseguira reunir para derrotar o mal e salvar os herdeiros estavam seesvaindo. Falando a si mesmo ele prometeu que, se saísse daquela ilha vivo,de missão cumprida, nunca mais sentiria medo. Em silêncio ele rezou a

Luzyos.  O demônio estava prestes a penetrar suas garras afiadas no peito deEndrich e lhe roubar a vida, quando a terra tremeu ainda mais forte. Asparedes abalaram, nuvens de poeira se ergueram. O Guardião imaginavaque o Templo dos Mundos não se despedaçaria, no entanto, parecia que issoiria acontecer a qualquer momento.  – O que…? – começou o demônio, lembrando-se em seguida: – Ah,droga, a ilha está começando a submergir. É a maldição.  O momento seria aquele.  Utilizando toda a sua força – ou o que restara dela –, empurrou o

demônio, suas garras deixando um rastro de dor no ombro, que cambaleoupara trás. O Guardião saca rapidamente uma flecha da aljava e, ao passo deMaligno se aproximar, penetra a seta no peito dele sem o Arco. Nadaaconteceu. O demônio sorriu, mostrando seus horríveis dentes. Um mistode espanto e surpresa, em fingimento, transpassou a face de Endrich, quelogo sorriu. Seus olhos verdes-acinzentados viram a dúvida no rosto pálidodo demônio.  – Isso é para você aprender a nunca mexer com um Guardião Imperial– cuspiu Endrich. – Lys Beskyttelse!

  Maligno olhou para o peito e arregalou os olhos ao ver a luz seprojetando da seta. De repente uma explosão de luz tomou o ambiente e odemônio é arremessado para próximo à entrada do templo.  Endrich esfregou o ombro dolorido que sangrava torrencialmente, masaliviado por não ter mais que sentir aquela queimação causada pelas garras.Ele fita o demônio em sua forma humanizada, sem as garras e olhosvermelhos. Apenas parecia um homem de casaco preto malvado e cruel.  Em nenhum momento o Guardião largara a Espada Elemental, e agorapercebia o quanto estava esquentando, como se pedisse por seu posto.

Endrich não sabia o que fazer a seguir. Sentia-se cansado e desanimado.  – Ha-ha-ha – riu o demônio, subitamente, levantando-se. – Achou que

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isso seria o suficiente para me matar? – A surpresa o atingiu como a lâminade um machado. – Engano seu. Sua parceira Marinny também pensou amesma coisa, o que foi um erro, e você fez o mesmo.  Maligno limpou a poeira do casaco e seguiu em direção a Endrich,caminhando lentamente, com um sorriso estampado no rosto. Há poucospassos do Guardião ele parou e se arremessou contra ele numa velocidade

incrível. Mas rapidamente foi impedido ao tentar matá-lo com suas garras.  Endrich viu a ponta da lâmina transpassada no corpo do demônio. Esteolhou incrédulo para a Espada Elemental e depois para ele. A raiva doGuardião se amalgamara a dor e ao medo, descarregando uma coragemrepentina, sem freios. Subitamente um vento brando soprou dentro dotemplo e a lâmina da Espada entrou em chamas. O demônio gritou.  – NÃÃÃO!  O Guardião puxou a arma do corpo do ser das trevas, que gritavafreneticamente enquanto queimava rapidamente. Ele cambaleou pelo salãoensandecido, e logo estava caído no chão de pedra, transformando-se emum monte de cinzas velozmente. Por fim, um último guincho de fúria sefez ouvir, penetrando fundo nos ouvidos de Endrich.  Está tudo acabado –  pensou ele, suspirando.  A Espada tombada a seu lado, recordou-se de que ainda não haviacolocado ponto final nesta missão. Correu ao encontro dos amigos. A únicacoisa que sua mente gritava era: Luany!

 –––– Quando os viu, Endrich correu pela vegetação baixa, chegando até eles aostropeços. O Guardião de Diamante abraçou Luany. Ela estava viva, e isso

era o que importava.  – Você está ferido! Mas que bom que sobreviveu – falou ela aos prantos.– Estive com tanto medo de que você fosse morto.  – Eu estou bem – respondeu Endrich. – Não pense que é tão fácil mematar. Jamais irei lhe abandonar. Podem tentar qualquer coisa, mas nuncairão nos separar.  Luany sorriu, aliviada. Ela beijou suavemente o rosto do amigo.  Quando se afastou, a princesa Blair o agarrou no ímpeto, um abraçoapertado, desesperado. Ela agradeceu – inúmeras vezes. Lágrimas

escorriam por seus olhos.  – Está tudo bem – assegurou Endrich.  Sorrisos estampavam as faces dos outros presentes. Mas a alegria nãoduraria muito mais.  Novamente a ilha tremeu por completo. No horizonte a oeste o solestava se pondo. Aparentemente, uma gigantesca tempestade se formavaao sul e ao norte. O tempo se esgotara.  – Pegue – disse Endrich, entregando a Espada Elemental a Sheron. – Éde vocês por direito. E também é a única coisa que manterá nosso mundovivo e longe de catástrofes. Quero que você e Dylan corram o mais rápidopossível até o altar da Espada e a fixem lá. Entendido?  Sheron assentiu. Ele não tinha certeza de onde surgira aquele

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conhecimento sobre o altar, mas a mulher não pareceu notar.  – Obrigada por tudo – disse ela.  – Obrigado, e desculpe por algumas coisas – falou Dylan, os olhos baixos.  Endrich acenou com a cabeça afirmativamente.  – Só uma coisinha – interveio Marinny, voltando-se para o Soldado daTerra. – Desculpe por ter usado minhas habilidades em você, Dylan, mas foi

o suficiente para me mostrar a realidade de algumas coisas não explicadas.E agora sei o que você fez por toda essa ilha, e me sinto honrada em ter lheconhecido.  Dylan corou um pouco. Não sabia o que dizer exatamente, por issoagradeceu a Guardiã pela ajuda que também dera para a ínsula, eacrescentou:  – Quando fiz aquilo, foi para proteger meu povo e meus amigos, mas mesinto culpado pela maldição. Afinal, se não fosse por mim, se tivesseentregado a Espada para as Trevas, jamais estaríamos na situação na qualnos encontramos hoje.  – Não se crucifique por isso, Soldado – replicou ela. – Sei que quando sesacrificou foi com o ideal de manter a todos em paz. E foi a coisa mais lealda qual eu vi. Além disso, se não o fizesse, com certeza estaríamos todosmortos neste momento.  Logo, dizendo um último adeus, os Guardiões Imperiais, os herdeiros e acamponesa, correram em direção à praia por entre a floresta fechada.Endrich estava guiando o grupo pelo mesmo caminho que fizeram aochegar à Ilha Elementar, que agora era atacada por fortes ondas eterremotos.

  No caminho, Luany tropeçou e caiu, por conta do longo vestido queusava, mas Endrich a ajudou a ficar de pé, puxando-a pelo braço. Lado alado eles continuaram seu trajeto até a beira-mar, próximo ao Condado daÁgua, ao leste. Ficou aliviado ao ver que o barco a remo que ele, Raffy eMarinny tinham utilizado para chegar até a praia ainda estava ali,esperando-os, apesar da maresia já estar quase alcançando as árvores.Olhou para o mar e avistou o navio Princesa de Jade.  Os Guardiões de Diamante e Cristal carregaram o barco a remo até certaprofundidade, enquanto os outros já estavam a bordo. O mar estava

ficando cada vez mais tumultuoso e furioso. As ondas começavam ainundar a praia e tomar conta da ilha. E acima deles, no céu, uma imensatempestade começava a se formar.  Só espero que Sheron e Dylan consigam pôr a Espada Elemental em seu altar – pensou Endrich, enquanto pulava no barco e começava a remar.

 –––– Sheron MacWyes e Dylan Dunlok subiam os enormes degraus o mais rápidoque podiam. Tanto um quanto o outro já estava sem fôlego.  Sheron deu uma espiada para baixo; a água estava inundando a ilha e

 já chegava ao Templo dos Mundos. Bem que ela gostaria de ter acesso aoaltar da Espada Elemental pelo interior do templo, mas isso era irrealizável.  – Sheron há como você impedir que a água nos alcance antes de

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chegarmos ao altar? – indagou Dylan, ofegante.  Sheron negou com a cabeça.  – Se eu fizesse isso, não aguentaria dar mais um passo – respondeu ela.Sentia seus poderes morrendo por causa da maldição.  Dylan não sentia mais medo de morrer, algo que se tornara comum aele. Apesar das formas horríveis em que ele era apresentado a morte.

Compreendia que mais uma vez seria afogado pela água, mas que seu corpoiria permanecer intacto, mantido numa espécie de casulo mágico, que oprotegeria da pressão aquática.  Apesar de ser o sonho mais estranho que uma pessoa poderia ter, o seue de Sheron era poder conhecer o Reino dos Mortos – um lugar que ele

 jamais visitara mesmo depois de perder a vida tantas vezes. E quantasforam essas vezes? Umas cinco? Talvez. Não lembrava com exatidão.  Os Soldados chegaram à entrada do altar. Sheron se apressou em fixar alâmina em seu pedestal, travando-a no chão maciço. A arma multicoloridaestava totalmente enterrada na rocha, e apenas seu cabo estava à mostra,as garras servindo como um engate. O punho brilhou numa luz douradaintensa, apagando-se logo em seguida.  Ao longe, avistaram as nuvens de tempestade retrocedendo e sedissipando. O mundo retornaria ao seu normal, estando a salvo decatástrofes sobrenaturais. Esperavam que para sempre.  Os dois Soldados Elementares se aproximaram da entrada e ficaramolhando a água do mar tomar conta das terras, enquanto eram assoladas porum terremoto e afundavam. Além da ínsula, eles puderam avistar um

 barco a remo seguindo até um grande navio que o esperava.

  – Adeus novos amigos – disse Sheron, enquanto uma lágrima escorriapor sua face.  – Será que iremos vê-los novamente? – perguntou Dylan, um tantocético da própria ideia.  – Eu acredito que sim. – Ela secou o rosto. – Mas enquanto isso…  A ilha começou a fundar mais rápido. O mar tomou conta de toda aterra amaldiçoada. A última coisa que Sheron e Dylan puderam ver fora aexplosão de água contra a sala do altar da Espada Elemental, enquanto umúltimo pensamento, já tantas vezes repetido por Elyanor, discorria em suas

mentes: A vida é uma incógnita não resolvida.

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  Vinte e Um

Uma Profecia  

Nada como um belo dia de folga –   pensara Tannael, antes de receber umpergaminho.  Alguns dias haviam se passado desde a batalha contra os demônios noLago de Gelo, o que deixou não só a ele, como também os guerreiros,assustado. Ponderou por horas se ele  não estaria retornando. Não, nãopoderia ser, pensava. Ele  estava muito bem preso e selado. Mas com a

aproximação dos demônios… O Guardião interrompeu o pensamento aí; jánão tinha certeza de nada.  Logo depois que retornaram da batalha ele havia instruindo váriassentinelas a permanecerem de olhos bem abertos para o caso de algumpossível ataque. Esperava que isso não acontecesse. Mas sempre é bom estarpreparado para alguma eventualidade.  Com sua chegada, teve-se início o Conselho do Império com osmonarcas de cada reino, junto do Imperador, onde fora debatido o queestava acontecendo e quais medidas deveriam ser tomadas pelo Impériopara que não houvesse mais graves danos. Então, após a cansativa reunião,

Tannael só pensava em descansar.  Porém, quando entrou em seu quarto, encontrou sobre sua cama umpergaminho com uma fita branca-perolada – era um pergaminho do anjoguardião Luzyos, protetor de Onyx. O Guardião fez uma careta de desgostoe abriu a correspondência. Quando as palavras surgiram sob seus olhos, eleleu calmamente. No pergaminho, Luzyos relatava que uma força de várioshomens estava sendo ministrada novamente em direção do Império deDiamante. Mas que o assunto principal não era esse. O anjo queria seencontrar com ele, e providenciou para que levasse consigo a profetiza

Perília.  Resignado, Tannael guardou seus pertences, lavou-se e foi ao encontrode Perília.

 –––– – Não. Não quero ir! – falou a mulher.  Tannael Esmainn mal entrara em sua tenda e a profetiza já estavarespondendo a pergunta que formulara em mente. Ele hesitou ao vê-lasentada sobre os pés, de olhos fechados, murmurando algumas palavras queo Guardião não conseguia entender.

  Perília abriu os olhos, parando de murmurar. Seu olhar leitoso fitavavagamente o espaço a sua frente, diretamente em direção a Tannael, que

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sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Mesmo sabendo que a mulher eracega, às vezes tinha certeza de que ela podia enxergar até mais do que elemesmo. E, de alguma forma tinha certeza, pois ela enxergava a verdade dascoisas.  – Perília, vós poderias, pelos deuses, acompanhar minha pessoa até oVale Antigo para falareis com Luzyos? – pediu Tannael.

  – Não – respondeu ela. – Já disse que não quero ir.  Apesar de ser basicamente um esqueleto ambulante, Perília possuía umaforma altiva de se arrumar e tratar os outros. Ela sempre usava aquelevestido vermelho-vivo, com argolas e correntes pendendo de suas orelhas eseu pescoço, além de pulseiras caríssimas que adornavam seus pulsosmagricelos. Os cabelos com mechas brancas, trançados até a altura dacintura, não diminuíam a aparência de uma saudosa majestade.  – Por favor, profetiza, em nome dos deuses! Acompanhe minha pessoaao encontro de Luzyos – insistiu Tannael, dando um passo à frente.  – Não precisa se aproximar mais – cortou a mulher. – Do que se trata oassunto?  Por um momento o Guardião pareceu inquieto. Achava que Perília seriacapaz de desvendar os segredos mais ocultos, até mesmo o assunto de umpergaminho enviado por um anjo.  – Não me olhe com essa cara de bobalhão, Tannael – disse a mulher. –Não sei de tudo  que acontece no mundo, certo? Os pergaminhos divinos,como são chamados esses que os Guardiões Imperiais recebem, sãoprotegidos magicamente para que nós, simples profetas, não possamosdesvendar o que está escrito.

  Simples profeta? Tu és a profetiza de maior importância, até mesmo para todaOnyx! – pensou Tannael. Pigarreou.  – Sendo assim… Ahn, o anjo guardião quer se encontrar com tua eminha pessoa, e parece a mim que o assunto é importante. Tu seguiráscomigo?  Perília pensou no assunto. Bufando logo em seguida.  – Bem, se o assunto parece importante, por que não? Mas espero queseja rápido.

 –––– 

O Vale Antigo não passava de uma depressão rochosa a beira de uma cadeiade montanhas cobertas de neve. Algumas coníferas se estendiam para alémdo vale, formando uma pequena floresta na base das montanhas maisdistantes. O Vale Antigo tinha esse nome há séculos, quando se deu a

 batalha entre humanos e anjos, que aconteceu na sua maior parte ali noImpério de Esmeralda. Marcas do passado ainda se fixavam no lugar. Algunsfantasmas que mais pareciam sombras de suas próprias vidas vagavam deum lado a outro. Sempre repetiam os mesmos golpes, as mesmas reações.  Tannael e Perília esperavam sentados num banco de madeira projetadosob um pinheiro, sem dar importância aos espectros. Por sorte parara denevar rigorosamente, não tendo o risco de eles serem atingido por umacascata de neve escorregada dos galhos da árvore.

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  A mulher já estava perdendo a paciência, e Tannael tentava de todas asformas fazê-la se acalmar. Mas no fim, até ele estava ficando impaciente. Aomenos até o momento em que uma brecha de luz se abriu no ar à sua frente.Tanto ele quanto a profetisa ficaram de pé abruptamente, assustados.  Quando a luz minguou, um homem alto e bonito estava de pé, fitando oGuardião e Perília com olhos azuis-céu. Seu manto branco parecia ter vida

própria, movendo-se no ar parado em volta dele.  – Luzyos – murmurou Perília.  – Como vai Perília? Tannael? – cumprimentou o anjo. Sua formahumana lançava uma aura majestosa e de intensa pureza. O Guardiãopodia sentir como se estivesse flutuando em meio às nuvens.  Ele e Perília fizeram uma leve reverência ao anjo, que ergueu as mãosnum ato de “deixe isso para lá”.  – Vós pareceis mais forte do que a última vez que te vi – comentouTannael.  Luzyos assentiu calmamente.  – Ah, sim, Tannael. Depois que meu irmão Trevys deixou este mundonovamente, minhas forças se renovaram ao máximo.  – Hum… Entendo.  – Bom, mas não estamos aqui para falar de Trevys, certo? – O anjo fitou aprofetiza por um momento, que sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha.  – A trouxe como vós ordenou. E agora? – quis saber o Guardião deEsmeralda.  – Antes, saiba que a Espada Elemental foi recuperada e entregue ao seulugar certo. O mundo não sofrerá mais com catástrofes. Endrich e Raffy já

resgataram os príncipes Gabrian e Blair, e já retornam para casa.  – Os príncipes haviam sido raptados? Pelos deuses! – assustou-seTannael. – Ao menos este mundo não sofrerá mais.  O anjo assentiu.  – Não tenho certeza, Guardião. Isso tudo está me parecendo um jogodas Trevas para voltar a este mundo.  – Vós achais mesmo, Luzyos?  – De nada duvido, Tannael. Esses ataques malignos estão se tornandocada vez mais constantes. O caos está se adensando por todo o Universo.

Nenhum mundo está a salvo.  Perília ouvia tudo com atenção, mas ainda não entendia o que estavafazendo ali, então resolveu perguntar:  – E onde eu entro nessa história?  Por um momento Tannael quase se esquecera da mulher ao seu lado.Então se voltou a Luzyos, esperando a resposta do anjo.  – Ah, sim, bem… Aparentemente você será mais importante do queimaginávamos, Perília. Você tem um papel fundamental a cumprir.  – Mas já estou velha, não tenho mais o que fazer além de profetizar!  – E é justamente isso que você fará – respondeu Luzyos, seriamente. –Você é dona de uma profecia que há anos está incomodando os deuses e osanjos. Você foi capaz de adivinhar o retorno de um onyxiano há muito

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perdido. Você sabe o que quero dizer.  Perília pareceu estar congelada por um momento. Não piscava. Malrespirava. Alguma coisa a abalara por dentro, disso Tannael tinha certeza. Oque ele não sabia, nem tinha certeza, era do que Luzyos falara. Uma profecia?Sobre um onyxiano perdido? Ele nunca ouvira falar de tal coisa.  – Perília, você sabe o quão tudo isso poderá mudar nosso mundo,

futuramente. Você pode ver – continuou Luzyos. – E também sabe que avida desse jovem perdido está entrelaçada a vida de um dos nossosGuardiões Imperiais.  Um jovem perdido com a vida ligada a de um Guardião? Isso tudo me parecesestranho… – pensava Tannael. Queria descobrir quem é esse jovem perdido,e como, quando e por que ele apareceria e teria a vida entrelaçada a de umGuardião Imperial. Nada daquilo fazia o menor sentido ao Guardião deEsmeralda.  – Não pergunte sobre o que estamos falando – interpolou Perília,voltando-se a Tannael.  – Como…? Ah! Esqueças.  – Cada coisa há seu tempo.  Luzyos concordou com a cabeça.  – Sei no que você está pensando, Sr. Esmainn, mas cada coisa precisa deseu tempo certo. Não podemos romper essa barreira e desvendar umsegredo sem ser ao menos revelado.  – Hã? Como vos irei desvendar um segredo após que sejas revelado? –questionou Tannael. – Se estiver revelado, não há mais o que dizer.  – Errado, meu querido Guardião. Entenda uma profecia como uma

espécie de “segredo revelado”. Ela lhe revela o que irá acontecer, na formade pistas, mas sempre há alguma coisa que você não sabe. Sempre haveráalguma coisa por trás desses versos.  Tannael ficou um pouco confuso, mas logo sua mente clareou. Eleestava entendendo o que queria dizer.  – Mas… Afinal, quem ser este perdido? – perguntou ele.  – Ninguém sabe – interpolou a profetiza. – Nem mesmo eu, que o vejoem meus sonhos, sou capaz de dizer.  – Certo… – murmurou o rapaz, insatisfeito.

  – Espero que vocês encontrem o caminho certo a percorrer – disseLuzyos, distanciando-se. – Verei vocês em breve novamente.  – Luzyos, espere – pediu Tannael, dando um passo em frente. – Essesdemônios, minha pessoa deves se preocupar mais?  – Por enquanto não, Guardião. Mas fique esperto.  Antes que Luzyos fosse embora, porém, voltou-se ao Guardião eperguntou:  – Tannael, você já ouviu falar em algo chamado “padrões que serepetem”?  – Padrões que se repetem? – Tannael ponderou. – Não, nada dessetipo… O que queres dizer?  Luzyos hesitou em contar, mas o fez:

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  – Então você deve se preocupar com isso. O que aconteceu uma vez,poderá se repetir – isso é um padrão que se repete.  – Como assim?  – Não só as ações das Trevas que se reerguem cada vez mais, como suasconsequências se repetirão. E isso inclui um de vocês, Guardiões.  Tannael não tinha certeza de que tinha entendido alguma coisa, mas

não ousou perguntar.  Assim sendo, uma brecha de luz se abriu atrás do anjo e ele desapareceuengolido pelo fulgor.  O Guardião olhou para Perília, apreensivo. Ela seria capaz de lhe contarsobre a profecia? Provavelmente não. Mas decidiu que não pensaria nissopor um tempo.  – Então, nós vamos embora ou vamos ficar parados aqui, olhando para onada? – zombeteou a mulher.  – Nossas pessoas irão embora – respondeu o Guardião, pegando no braçoda profetiza para guia-la de volta ao castelo imperial.  Enquanto seguiam, a noite tomou o céu, estrelas pontilhavam ofirmamento. Antes que chegassem a seu destino, ainda puderamcontemplar fachos de luz multicolorida. Tannael jamais esqueceria o podercalmante daquela aurora austral.

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 Vinte e Dois De Volta Para Casa 

 

– Entenda uma coisa, Raffy – disse Endrich –, eu estou com uma loucavontade de matar este pássaro. – Ele se referia ao papagaio do capitãoVorion, dono do Princesa de Jade. O animal acabara de deixar seus dejetos noombro do Guardião, que bufava de raiva. Desde que o grupo havia saído daIlha Elementar, o papagaio estava lhe incomodando.  Raffy riu.  – Endrich, isto é uma demonstração de carinho – respondeu ele.  Endrich parou de limpar o ombro; olhou incrédulo para o parceiro.

  – Demonstração de carinho? Se isso é demonstração de carinho… Olhe, eunão quero nem ver quando ele estiver de mal comigo.  Após dois dias de navegação, o Princesa de Jade atracou nas terras doImpério de Jade, onde Marinny desembarcou. Estando ainda muitodebilitada por causa da luta com o demônio, a Guardiã iria seracompanhada até o Povoado Imperial Ennel por um dos tripulantes donavio, onde poderia se tratar e recuperar.  – Você ficará bem? – indagou Raffy, tocando seu rosto.  – Ah, claro, né! – respondeu Marinny, bruscamente. Porém,

levianamente, estava se entregando ao toque do Guardião de Cristal. Haviaalgo nos dois que deixava Endrich inquieto.  – Certo, só fiz-lhe uma pergunta. – Ele se aproximou e beijou sua fronte.Ela avermelhou. – Espero lhe ver em pouco tempo.  Marinny assentiu um pouco desconcertada – percebera Endrich. Certo,aparentemente ela está gamada por ele.  Seria essa a resposta de suainquietação? Poderia ser por isso que tentavam atingir Raffy de algumaforma na ilha? A Guardiã se despediu dele e seguiu seu caminho.  – Você acha? – perguntou Raffy, captando os pensamentos do amigo.Ele fitava Marinny se afastar.  – Não duvido.  – Acho que não – retrucou Raffy, inseguro. – Bem, isso não tem grandeimportância…  – Eu acho que tem sim – replicou Endrich, sorridente.  De repente Marinny se virou para os Guardiões.  – Ei, novato, se cuida! – gritou ela.  – Pode deixar comigo! – respondeu Endrich, esboçando um leve sorriso.  Pela primeira vez, percebia que talvez pudesse criar um vínculo deamizade com a Guardiã de Jade. Talvez.

  Assim, logo após o navio ser carregado de provisões, o Sr. Vorion deupartida no Princesa de Jade  novamente. Agora seguindo rumo às terras do

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centro e do leste. –––– 

O navio fez uma parada no Império de Cristal, onde Raffy e o príncipeGabrian desembarcaram. O Guardião parecia tão feliz quanto o herdeiro porestarem em casa.  – Obrigado, Endrich, por ter salvado o príncipe Gabrian – agradeceu

Raffy.  – Eu? Eu não fiz nada, pelo que sei quem salvou Gabrian foi você e nãoeu – respondeu Endrich. – Eu somente impedi que o demônio tomasseposse da Espada.  – E isso não é a mesma coisa que salvar o príncipe?  Endrich negou com a cabeça dizendo um “Não” bem longo.  – Como não? – disse Raffy. – Primeiro, se você não tivesse retomado aEspada Elemental, provavelmente, neste instante, estaríamos todos mortos;incluindo o príncipe e a princesa. Então, isso não é a mesma coisa que tê-losalvado?  Endrich apenas chacoalhou a cabeça de um lado para o outro.  – Raffy. – Endrich mudou de assunto, ficando tenso. Puxou-o para maisperto. – Seria possível o Senhor das Trevas retornar?  O Guardião de Cristal pareceu assustado.  – Por que a pergunta? Aqueles fantasmas, no Condado do Ar, lheassustaram?  Endrich assentiu.  – É, pode-se dizer que sim. Eu só quero saber o que, ou quem, é. Comoseria sua volta.

  – Bem, agora não tenho muito que lhe dizer, pois estou sem meus livros,e não sei muita coisa a seu respeito. Ninguém sabe. Mas o que posso lheadiantar é que, se ele existir, é toda a matéria obscura existente no Universo,desde sentimentos ruins aos próprios demônios – explicou Raffy. –Antigamente se dizia que tal ser era o motivo para a existência de demôniose anjos caídos. Mas não se sabe ao certo. Porém, se ele realmente existir, émelhor torcermos para que jamais tente se reerguer!  Endrich assentiu. Tentaria saber mais a respeito desse ser, entretantopediu a Raffy que também pesquisasse. Afinal, ele era o melhor nisso. O

Guardião de Cristal concordou.  Os dois se despediram trocando um aperto de mãos e um abraço.Endrich apertou a mão do príncipe Gabrian e fez uma leve mesura. Estelhe agradeceu profundamente, dizendo que esperaria lhe encontrar outravez para poderem desfrutar de algumas taças de vinho. O Guardião deDiamante riu, assentindo. E, voltando ao navio e para o lado da princesaBlair e de Luany, novamente partiram.

 –––– – Terra à vista! – gritou um observador do cesto da gávea.  – É o Império de Diamante! Estamos em casa! – exclamou a princesaBlair. Ela ainda usava o mesmo vestido de quando fora raptada (que agoraestava sujo e esfarrapado). Pela primeira vez, em tempos, ela iria se sentir

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muito bem sob os cuidados da mãe superprotetora.  Luany também estava ansiosa, e não via mais o tempo passar paraencontrar seus pais. Queria abraçá-los.  – Estamos chegando! – avisou o Sr. Vorion.  Em questão de algumas horas, perto do meio-dia, Endrich, Luany eBlair estavam novamente pisando em terra firme. Haviam desembarcado

em terras de um reino pouco movimentado, e que disponibilizara cavalariareal, junto de uma pequena tropa de cavaleiros, que os acompanhariam atéo Povoado Imperial Crystan. Despediram-se do capitão e dos tripulantes doPrincesa de Jade,  que logo ao anoitecer deu meia-volta e partiu para seusdomínios.  O caminho até às terras do Povoado Imperial fora tranquila, nãohavendo nenhum imprevisto, nem ataque, e, em poucos dias, o grupochegou aos portões principais do Povoado Imperial. As sentinelas queguardavam a Grande Muralha os receberam com congratulações, batendopalmas e venerando o Guardião e a princesa. No fim, até Luany recebeuatenção, o que realmente não estava em seus planos.  Enquanto seguiam pela estrada que levaria ao castelo, Blair, usando deseus poderes de princesa, ordenou a Endrich:  – Vá para casa. Você e Luany também precisam de descanso. Você foi

 bravo e corajoso. Cumpriu com seu dever como Guardião, Endrich. Agoraleve nossa amiga para casa, ela necessita de repouso. No fim, ela foi umadas que mais sofreram.  – Mas princesa, seu pai… – Endrich foi interrompido.  – Meu pai irá gostar de saber que você salvou o mundo mais uma vez,

Endrich. E acho que não há mal em você ter uma noite de descanso, longede problemas. – A princesa sorriu.  Endrich assentiu.  – Obrigado, princesa.  – Obrigada – disse Luany. Que assim como Endrich, fez uma mesura aBlair.  De uma coisa ela tinha certeza: Blair não era mais aquela garotinha comquem brincava. A princesa estava amadurecendo e em pouco se tornariauma mulher de respeito.

 –––– No dia seguinte, Endrich Ragrson fora convocado a participar de umapremiação honrosa no Salão do Trono, pelo Imperador Asriel Crystan – esteque estava mais que sorridente pelo retorno da filha. Ao contrário de antes,não estava se afundando em mágoas e tristezas. Endrich fora premiadocom uma medalha de ouro e diamante pela sua honra, coragem e bravura.  – Nós, Imperador e Imperatriz Crystan, como pais e monarcas, estamosmuito felizes e agradecidos pela sua força e resistência, e por trazer sã esalva nossa filha, a princesa e herdeira do trono de Diamante de volta assuas terras – dissera Asriel, sorridente. – Sei que isso não é o suficiente paramostrar nossa gratidão e por ter enfrentado tantos perigos, mas imagino queos anjos encontrarão uma forma certa de premiá-lo.

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  Ninguém no salão objetou, nem mesmo se prontificou em concordar. Dealguma forma, todos sentiram a atmosfera que os cercava se tornandodiferente, mais densa.  A premiação acontecera após o meio-dia, e todos os trabalhadoreshaviam sido dispensados para assistir ao discurso do Imperador Crystan.Logo depois um banquete fora servido aos nobres no palácio e um festival

em comemoração, montado nas mediações do castelo para os camponeses.  Endrich foi dispensado por alguns dias, e naquela tarde, ele e Luanyseguiram para as colinas além do castelo imperial. Era um lugar calmo, ondesoprava um vento um tanto gélido de inverno, mas ótimo para passar otempo conversando com um amigo. De onde estavam, podiam ver aspessoas bebendo, rindo e se divertindo.  – É verdade que o mundo iria ser destruído caso você não encontrasse aespada mágica? – indagou Luany, de súbito. De repente o ar não era maisde alegria.  – A Espada Elemental?  – Ah, não sei, é uma espada mágica. Deve ser.  Endrich riu.  – Sim, infelizmente o mundo seria destruído caso eu não encontrasse aEspada Elemental –  enfatizou.  – Nossa, era uma grande responsabilidade então…  Endrich assentiu.  – Grande até demais.  Ele olhava para o céu que começava a se tornar noturno. A lua Cahim

 brilhando intensamente. Vestia um casaco de pele, assim como Luany, que

os protegia das baixas temperaturas do momento.  – Meu casamento foi adiado – comentou Luany.  – Foi? – arqueou uma sobrancelha.  – Aham. Meu pai diz que eu preciso descansar a mente, pois o que euvivi pode ser traumatizante.  – Traumatizante?  – É. Não sei o que houve com o Sr. MacAran. Meu pai deve ter achadoque eu ia ficar louca por ter sido acorrentada e ameaçada de morte por umdemônio que segurava uma faca rente a meu pescoço – disse em tom

sarcástico.  Endrich riu. Como ela conseguia levar as coisas na brincadeira?  – Este seria um bom motivo para ficar traumatizada, não seria? –perguntou ele.  Luany pensou e assentiu. Levou a mão ao pescoço, onde um curativohavia sido feito por Raffy assim que embarcaram no navio há alguns dias.  – Seria, mas sou forte o suficiente para aguentar esse tipo de coisa –disse olhado para o alto. – Gosto tanto das luas – mencionou ao avistarCahim se erguendo no céu. – Sinto-me como se fosse ligada a elas.  – Hm, elas são lindas mesmo – concordou o Guardião.  Ela se voltou para ele e perguntou curiosa:  – Endrich, você acha mesmo que Maligno teria me matado se você não

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tivesse feito o que ele pediu?  Surpreendeu-se.  – Eu realmente não sei. Entretanto, há uma coisa que ele falou sobrevocê que me deixa preocupado.  – Também estou – suspira. – Bem, ao menos para alguma coisa pareçoservir.

  Endrich fez uma careta.  – Não fale assim. Se você é importante para as trevas, provavelmentenão é de uma boa forma.  Ela meneia a cabeça e se ajeita.  Após um momento de silêncio, Luany tornou a falar:  – É… – suspirou. – Há uma coisa infeliz em tudo isso, Endrich.  – E o que é?  – Estarei me casando na próxima primavera.  Endrich sentiu o frio lhe tomar posse. Mais uma vez o assuntocasamento. Será que não teria como adiá-lo? Sentiu-se novamente como sefosse perder algo precioso; o que era verdade: sua melhor amiga. OGuardião tinha um medo horrível de deixar Luany, e isto o atormentava.Ele não queria admitir, mas estava apaixonado por ela.  – Você irá usar aquele mesmo vestido de noiva? – quis saber Endrich,tentando não soar trêmulo.  – O que você me viu usando? Sim! Foi muito caro para conseguir, e nãoquero desperdiçá-lo. Afinal, ele é lindo também.  – Está certo – engoliu em seco.  – Não se preocupe com isso agora, Endrich – pediu ela. – Eu nunca vou

deixá-lo. Você me prometeu a mesma coisa, lembra? Até o dia que tiver deacontecer, estarei “livre” para lhe acompanhar – e então se inclinou e o beijou. Algo simples e ao mesmo tempo tão implosivo.  Endrich não estava tão feliz como gostaria de estar. Sabia que perderiaLuany na primavera, e não era apenas isso que o desconcertava. Aindaexistia o mistério sobre o Senhor das Trevas; estaria mesmo retornando?Também queria descobrir de quem era a voz que falava em sua mente;aquela que lhe dava conselhos em momentos de dificuldade. E o porquêtinha sonhos com seu pai de sangue, Hamiro Ragrson, que nunca

conhecera; por que agora?  O Guardião Imperial tinha esperança de responder a todas as suasquestões. E correria atrás das respostas. Sim, tentaria desvendar tudo deestranho que estava acontecendo ao seu redor.  E em sua vida.  Olhou para Luany e pensou num destino sem futuro. A camponesasorriu para ele, que retribuiu. Ela se aninhou, abraçando-o calorosamente; oGuardião depositou-lhe um beijo no alto da cabeça. Aquele momento tãoíntimo e exclusivo deles jamais deixaria sua memória.  Enquanto fitava o castelo e o povoado, flocos de neve bailavam no céu,caindo sobre eles.

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 Epílogo Cinzas

 

Endrich estava na muralha do Povoado Imperial Crystan, olhando para ohorizonte oeste a sua frente. O Arco de Diamante em punho. As flechas na aljava.Nada de anormal aparentemente.  – Como você está meu filho? – pergunta Hamiro Ragrson ao seu lado.  – Oh… Eu estou bem, pai. Eu acho. – Endrich se virou para ele.  – O que tanto lhe incomoda?

  O Guardião não respondeu de imediato. Seus olhos verde-acinzentadosbrilharam.  – São tantas questões a responder, pai, que fica até difícil dizer qual delas maisme incomoda.  Hamiro assentiu com a cabeça.  – Acalme-se, Endrich, tudo será respondido em questão de tempo.  – Eu tenho medo, pai. Sei que não devia sentir medo, mas…  – Não se esqueça de sua promessa.  Endrich não se esquecera.  – Mas e se eu não conseguir cumprir o que prometi?

  – Você irá conseguir Endrich, confio em você. Você é um Guardião Imperial, masisso não lhe impede de ficar com medo em certos momentos. É como eu lhe disse:dúvidas e insegurança nem sempre são alternativas. – Hamiro suspirou. – Estoumuito orgulhoso de você, meu filho, e acredito que seu verdadeiro pai, Ondrich,aquele quem te criou, também está muito orgulhoso.  Ondrich. Aquele nome veio à cabeça de Endrich como uma explosão. Um tioque o criara até os treze anos, quando foi assassinado. Acreditou a sua vida todaque aquele homem fora seu verdadeiro pai. Entretanto, nem tudo na vida é necessariamente verdade.

  – Hamiro, você tem notícias de Ondrich? – quis saber Endrich.  Hamiro hesitou.  – Não sei o que aconteceu a ele. Imagino que tenha encontrado sua mãe nooutro lado, num bom lugar no Reino dos Mortos. Quem sabe tenham reencarnado.  – Minha mãe…  – Sim, Katerinna, que também deve estar sat isfeita e orgulhosa com seus dons eeitos.  – Onde suas cinzas estão enterradas, Hamiro?  – Estão no cemitério do Povoado Crystan.

  Endrich assentiu.  Hamiro trocou o peso de um pé para outro.

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  – Agora me escute, Endrich. Há um grande mau se aproximando. Ele estárenascendo das cinzas, e procura vingança para seu mestre. Não sei se você e seusamigos Guardiões poderão ser páreos para seus poderes.  – Seria o Senhor das Trevas?  – Não. Este que você tocou o nome é ainda pior. Não lhe dê importância, pelomenos por enquanto.

  Endrich ficou confuso.  – Como assim? Hamiro, eu não entendo tudo que está acontecendo. Nem seicomo consigo me comunicar com você. Às vezes penso que isto é apenas um sonho.  – Não! Isso não é apenas um sonho – explicou Hamiro, rapidamente. – Apenasme escute. Tome cuidado com as trevas. O Mal é mais poderoso que você imagina, e

 pode levar aqueles que você ama, apagando-os de sua vida como se não existissem.  – Mas…  – Cuide-se meu filho – interrompeu. – E nunca deixe de acreditar em mim.  Uma sombra tomou o rosto de seu pai. Alguma coisa de diferente estavaacontecendo. Logo todo o corpo de Hamiro havia se apagado, sendo sugado pelastrevas. Endrich queria gritar, contudo sentiu sufocar. Seus olhos se arregalaram. Oque está acontecendo! – bradou mentalmente.  Então , subitamente, o horizonte se expandiu na forma de uma explosão de luz,consumindo tudo a sua volta. Antes que pudesse entender qualquer coisa, foiengolido pelo brilho.  O sonho havia acabado.

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  Agradecimentos

 

Primeiramente quero agradecer a todos os que me apoiaram na produçãode Crônicas de Onyx.  Aos resenhistas do primeiro livro com suas opiniões e críticas, que meforam importantes para a concretização deste volume.  Meu muito obrigado a Amanda Caroline, uma das primeiras a resenharO Guardião Imperial  e que, por sua imensa curiosidade, aceitou de cara setornar a leitora beta de A Espada Elemental. Obrigado por seus surtos e dicas!

  À Lígia Fumaneri, colega de faculdade e que também é uma dasprimeiras a ler esta nova aventura. Valeu!  E também aos amigos virtuais, que acompanharam a produção do livro.Amo todos vocês!

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 Uma espiada em

O Cavaleiro da MorteLivro 3 da série Crônicas de Onyx

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 Prólogo

Possessão 

Quando Nestor Krísllan leu o conteúdo do pergaminho, achou que poderiaser algum tipo de brincadeira. Porém, a escrita era clara e direta,passando a impressão de algo importante: 

Nestor Krísllan,  Desejo sua presença imediata nas colinas além do castelo.

  O assunto é sério. Senhora da Noite.

 Suspirou com a ideia de não retornar para casa. Seu trabalho do dia já

havia findado e, o que mais queria no momento, era descansar.  A última camada de neve do inverno chegava aos joelhos de Nestor,quase impedindo que o mesmo prosseguisse. Suas passadas eram lentas edesgastantes. O secretário chegou a pensar em desistir. Mas se alguém

deixara um aviso em sua mesa, por que estaria brincando?  Estava sem fôlego quando chegou à colina. Não havia ninguém ali.Inspirou o ar gélido e sentou-se, precisava recuperar o ar dos pulmões antesde ir embora.  Engraçado essa colina não ter um nome – pensou de repente.  E era verdade. As colinas além do castelo não foram batizadas, e Nestorachava aquilo um tanto estranho, já que era um lugar onde as pessoas doPovoado Imperial Crystan costumavam ir para conversar ou brincar.Aquele era o lugar do povo.

  Sacudiu a cabeça e se levantou pronto para partir.  – Onde você pensa que vai?  O secretário se virou num salto, assustado. O coração a mil.  – O que…? Mas… de onde você surgiu? – indagou à mulher que sematerializara ao seu lado.  Ela era alta e robusta. Tinha expressão séria, como a de um guerreiro.Estava vestida com uma capa negra que lhe chegava aos pés, encobrindotoda a extensão de seu corpo. Nestor percebeu a cicatriz que descia datesta, no canto esquerdo, e descia até o canto inferior direito em seu rosto.  Será que é alguma guerreira da tropa do Imperador Crystan? – pensou.

Sabia o quanto as mulheres de batalha eram pouco vistas.  – Ahn, no que posso ajudá-la, moça – perguntou ele.

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  Ela o olhou de soslaio por um momento, logo o analisando de cima a baixo. Corou, sentindo-se avaliado como um soldado para a guerraiminente.  – Eu gostaria de falar com Nestor Krísllan. – Surpreendentemente, suavoz era calma e doce, o que não combinava em nada com sua expressão.  – Ahn… Eu sou Nestor Krísllan. Recebi este pergaminho – disse ele,

entregando-lhe o papel enrolado.  Ela avaliou o pergaminho por um momento. Falou:  – Ah, sim. Então é você mesmo! – Voltou a enrolar o papel e o devolveu.– Eu sou Nyx, prazer em conhecê-lo Nestor.  A mulher esticou a mão e ele a apertou, havendo uma espécie deconsentimento desconhecido entre eles.  – Bem, meu caro Krísllan, eu fiquei sabendo que esse Povoado anda

 bem movimentado. É verdade?  Nestor a fitou perscrutador, franzindo a testa.  – É que algumas luas atrás a princesa fora raptada, certo? – explicouNyx. – E teve aquele incidente com Trevys também.  – Ah, sim! – concordou. – Mas agora está tudo em ordem. As coisas poraqui estão se encaminhando para o lugar certo.  – Hum, entendo.  – Por que as perguntas? Você não é daqui, certo? Quer se alistar emnossas tropas?  Ela sorriu, achando aquilo engraçado.  – Não, meu querido Nestor. – Nyx olhou para o céu, sorrindo. Já estavaanoitecendo e as luas estavam começando a brilhar. – É que, se as coisas

estão boas, vão passar a ficar terríveis. Esse Povoado será dizimado emalguns dias.  Franziu o cenho. Do que aquela mulher estaria falando?  – O que você quer dizer com isso? – perguntou finalmente.  – Estou falando que nós vamos tomar este Povoado e o resto doImpério, meu querido. E em algumas luas tomaremos o restante do mundo.O que acha?  Nestor, pasmado, exclamou:  – O que eu acho? Acho que você está completamente maluca! Não tá

falando coisa com coisa. Eu vou-me embora!  Quando deu as costas para Nyx, esta lhe segurou o braço firmemente. Osecretário sentiu a dor atravessar seus ossos, achou que a mulher fossequebrar seu braço por inteiro.  – O que está fazendo?! – gritou ele. Sua voz ecoando por toda aextensão das colinas.  – Cale a boca, garoto! – bradou Nyx. – E agora olhe para mim!  Não resistiu à sua voz de comando. Ele se voltou para a mulher,ficando ereto, fixando seus olhos nos dela. Nyx olhava fundo em sua alma,hipnotizando-o. Era exatamente o que queria.  – Quando você quiser, querido – disse, olhando para o lado.  Atravessando um portal no ar, um garoto pálido e de olhos negros – que

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mais parecia uma sombra viva – caminhou até ela, fazendo uma pequenamesura.  – Como vai, senhora? – sua voz rasgava o gelo que era transportado noar.  – Bem, meu querido – respondeu a mulher. – Agora, se quiseres fazer ashonras…

  O garoto assentiu e, sem hesitar, caminhou até Nestor, ainda imóvel, osolhos vidrados. O demônio não parou, até tocar o secretário. Foi tudo muitorápido. A única coisa que se pôde ver foi um leve tremeluzir na imagem deNestor enquanto era possuído.  Flácido, o corpo desabou na neve.  Nyx piscou, os lábios curvados.  – Agora só esperar Noméa se acostumar ao corpo humano. – Ela seabaixou e falou no ouvido do secretário caído: – Boa sorte, meu querido.  A Senhora da Noite se distanciou e gesticulando abriu uma brecha a suafrente. Observou o lugar uma última vez, já preparando mentalmente opróximo passo. Satisfeita, atravessou o portal.

––––Abriu os olhos. Estavam negros como uma noite sem estrelas.  Levantou-se, ainda se acostumando com seu novo corpo. Era estranhose apossar de um corpo humano, ainda mais para um ser ainda novo quenunca fizera tal coisa. Contudo, sabia o quanto aquilo que faria seriaimportante. O demônio olhou para o Povoado Crystan. Deu um passo,acostumando-se ao corpo. Seria fácil se adaptar.  Era hora de dar início aos planos de sua senhora.

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 O Autor 

 

Elton Moraes nasceu em março de 1996, em Santa Catarina. Atualmentecursa Comunicação Institucional na Universidade Tecnológica Federal doParaná  (UTFPR) de Curitiba. Possui cinco livros concluídos, sendo quatroda série Crônicas de Onyx e o primeiro de uma nova série, que retrata alenda arturiana por uma nova perspectiva.Saiba mais em: http://elton-moraes.blogspot.com 

Obras:esadelo Infernal  Conto de terror publicado na antologia Contos Medonhos,  lançada pelaMultifoco Editora em dezembro de 2012. Do Oitavo Andar à Autópsia  Mayara acaba de se separar de seu namorado. Uma mulher que queratenção e busca de todas as formas manter Thiago, seu amado, sob sua vistaamorosa. No entanto, com o fim do relacionamento, só há uma alternativa:

 jogar-se do oitavo andar.  Será ela capaz de sacrificar sua vida por causa de uma amor malcorrespondido?Conto baseado na música de Clarice Falcão.http://goo.gl/tvusxx O Último de Nós  O Último de Nós é um conto sobre o começo de um fim. O protagonista enarrador é Clon Lion, o último sobrevivente do planeta Terra após

catástrofes naturais e criadas pelo próprio Homem. Perguntando-se comotudo aconteceu, busca por respostas na maior corporação do mundo: RubroNet. Seu destino, Europa.  Diante de memórias perdidas, Clon terá revelações sobre o seu passadoque o levarão a um arrebatador xeque-mate.http://goo.gl/SgjEEd ênix – A morte não é o fim de tudo

  Um pacto. Esse foi o estopim para que a vida de quatro jovens mudasseradicalmente. Os quatro amigos fizeram um juramento de sangue e agoraforças ocultas os perseguirão até que chegue o fim de suas vidas.

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  Porém, ainda há uma saída: devem seguir a luz e encontrar um homemque se diz mago. Mas para que cheguem até ele, precisarão enfrentardúvidas, perdas e a própria morte.  Uma história diferente, recheada de mistério, dor e amor, com um finalinesperado.Livro publicado exclusivamente no site Wattpad.

http://Fb.com/LivroFenix

[1] O Templo do Universo se localiza no Reino das Montanhas, a leste do

Povoado Imperial, onde todo o povoado é cercado por uma cadeia demontanhas. É um local seguro contra ataques e extremamente calmo.[2]

 É um dos reinos que ocupa grande área litorânea, sendo o maior deles. Sua principal fonte de renda se dá pelo comércio de pescados – estes que são

comercializados principalmente nos Impérios de Rubi e Esmeralda.[3]

 Segundo a história, o símbolo foi adotado há cerca de 50 anos, quando omaior contrabandista j á relatado diz ter se encontrado com uma belíssima sereia,com a qual teve três filhos – chamados de Pais do Contrabando –, quecontinuaram e aumentaram o grupo de contrabandistas – estes que atuam atéhoje em toda Onyx.