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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU CENTRO DE ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO E ATENDIMENTO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL – CEPAE I CONGRESSO NACIONAL DE LIBRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA I CONALIBRAS-UFU ISSN 2447-4959 Realização: A ESCRITA DE SINAIS NO LIVRO DIDÁTICO DE LIBRAS Autor: Edneia de Oliveira ALVES - UFPB 1 Coautor: Ezequiel Adney Lima da PAIXÃO - UFRN 2 Resumo: Este trabalho trata-se de um relato de experiência com um projeto de extensão voltado para a criação de livro didático de Libras. Neste trabalho, divulgamos a experiência sobre a presença da escrita de sinais como um dos conteúdos em livros de Libras para o ensino de Libras como L2. A escrita de sinais SignWriting é a grafia do sinal e com ela podemos ter um registro escrito do sinal e construir textos, por isso, compreendemos que essa escrita é importante para o desenvolvimento cognitivo do surdo e para o registro de sua cultura. O livro didático de Libras é um importante instrumento de trabalho do professor ao mesmo tempo que é um material de consulta de aprendizes. Portanto, ele é um eficiente mecanismo de disseminação da escrita de sinais por meio de cursos de Libras e no sistema educacional. Para a construção dele adotamos princípios didáticos de ensino de língua. Apoiamo-nos em teorias sobre o desenvolvimento de Vigotsky e de sequência de didática de Dolz, Noverraz e Schneuwly. A partir desse trabalho foi possível demonstrar que é possível trabalhar o ensino da modalidade escrita dessa língua concomitantemente com a modalidade sinalizada. Palavras-chave: Ensino de Libras como L1/L2. Escrita de sinais. Livros didáticos. Introdução O propósito deste trabalho é expor sobre a experiência da inserção da escrita de sinais, baseado no sistema Sign Writing nos livros didáticos de Libras. Estes foram produzidos por meio do projeto “Produção de recurso didático para o ensino ao surdo e de material didático para o ensino de Libras como L2”. Este compôs o “Programa - Libras (Língua Brasileira de Sinais): ensino, pesquisa e tradução em questão”, 1 Professora Doutoranda de Libras do DLCV/CCHLA/UFPB, graduada em Letras português/inglês pela UFPE, mestrado em Psicologia Social pela UFPB, Doutorado em Psicologia Social pela UFPB [email protected] 2 Professor Especialista de Letras Libras/Português do CCHLA/UFRN, graduada em Letras/Libras pela UFSC, espcialização pela Unesb, [email protected]

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ISSN 2447-4959

Realização:

A ESCRITA DE SINAIS NO LIVRO DIDÁTICO DE LIBRAS

Autor: Edneia de Oliveira ALVES - UFPB1

Coautor: Ezequiel Adney Lima da PAIXÃO - UFRN2

Resumo: Este trabalho trata-se de um relato de experiência com um projeto de extensão voltado para a criação de livro didático de Libras. Neste trabalho, divulgamos a experiência sobre a presença da escrita de sinais como um dos conteúdos em livros de Libras para o ensino de Libras como L2. A escrita de sinais SignWriting é a grafia do sinal e com ela podemos ter um registro escrito do sinal e construir textos, por isso, compreendemos que essa escrita é importante para o desenvolvimento cognitivo do surdo e para o registro de sua cultura. O livro didático de Libras é um importante instrumento de trabalho do professor ao mesmo tempo que é um material de consulta de aprendizes. Portanto, ele é um eficiente mecanismo de disseminação da escrita de sinais por meio de cursos de Libras e no sistema educacional. Para a construção dele adotamos princípios didáticos de ensino de língua. Apoiamo-nos em teorias sobre o desenvolvimento de Vigotsky e de sequência de didática de Dolz, Noverraz e Schneuwly. A partir desse trabalho foi possível demonstrar que é possível trabalhar o ensino da modalidade escrita dessa língua concomitantemente com a modalidade sinalizada.

Palavras-chave: Ensino de Libras como L1/L2. Escrita de sinais. Livros didáticos.

Introdução

O propósito deste trabalho é expor sobre a experiência da inserção da escrita de

sinais, baseado no sistema Sign Writing nos livros didáticos de Libras. Estes foram

produzidos por meio do projeto “Produção de recurso didático para o ensino ao surdo e

de material didático para o ensino de Libras como L2”. Este compôs o “Programa -

Libras (Língua Brasileira de Sinais): ensino, pesquisa e tradução em questão”,

1 Professora Doutoranda de Libras do DLCV/CCHLA/UFPB, graduada em Letras português/inglês pela

UFPE, mestrado em Psicologia Social pela UFPB, Doutorado em Psicologia Social pela UFPB

[email protected]

2 Professor Especialista de Letras Libras/Português do CCHLA/UFRN, graduada em Letras/Libras pela

UFSC, espcialização pela Unesb, [email protected]

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financiado com recursos do MEC após ter sido submetido à concorrência nacional pelo

edital Proext 2014.

Este projeto foi instigante para os alunos bolsistas e colaboradores e

colaboradores externos, pois, despertou o interesse e a compreensão para a necessidade

e a importância do material didático para o ensino de Libras. Professores de língua de

sinais têm sido contratados pelas redes municipais de ensino, porém, pouca ferramenta

de trabalho esse profissional possui para o desenvolvimento de seu trabalho no

cotidiano. Essa escassez motivou a criação deste projeto tendo como um dos objetivos a

criação de livros didáticos de Libras para o ensino de Libras como L2. Portanto, os

frutos deste projeto tem forte possibilidade de impacto no fazer pedagógico dos

professores de Libras e de contribuir para a disseminação da Língua Brasileira de

Sinais. No entanto, ao se pensar no ensino sistematizado de uma língua em uma cultura

que valoriza a escrita, é importante que a escrita de sinais também seja ensinada no

sistema escolar ou em cursos de Língua.

A Libras é uma língua visuo-gestual (DALLAN, 2014), possui modalidade

sinalizada e escrita e cumpre a função de comunicação e de desenvolvimento cognitivo

por meio da sinalização. Essa visuo-espacialidade traz para essa língua uma

característica que ainda causa o estranhamento em falantes de língua oral. A produção

linguística acontece no espaço externo ao corpo por meio de gesticulações que são

códigos linguísticos. A sua compreensão e apreensão ocorre por meio do

acompanhamento das gesticulações ou, no caso da escrita, por meio da leitura.

A escrita de sinais adotada por muitos professores de Libras no Brasil é o

sistema SignWriting que segundo Lodi, Harrison e Campos (2013) é um sistema de

transcrição gráfico das línguas de sinais. Esse sistema concatena-se com a lógica da

perspectiva visual, aspecto de produção de vocábulos que se diferencia das línguas

orais. É importante chamar a atenção que defende-se a escrita de sinais porque ela está

para a língua de sinalizada enquanto o alfabeto está para as línguas orais. A visualidade

da Libras pode ser representada por escrito por meio da escrita de sinais. Dallan (2014)

afirma que este sistema é um conjunto de símbolos e possui regras de escrita. É um

sistema produzido para dá conta da representação escrita da sinalização com as mãos. A

escrita de sinais dá conta dos aspectos quirêmicos da Libras. Conforme Dallan (2014), a

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escrita de sinais grafa, as configurações de mão, os pontos de articulação, as expressões

faciais e as marcações gramaticais. Acrescento que ela grafa os movimentos, as

orientações de mão e os contatos, conforme se pode observar no manual de escrita de

sinais produzido por Valerie Suton. Assim, toda a produção ela grafa em seus aspectos

fonológicos, morfológicos e sintáticos dessa língua. Assim como a escrita da língua

oral, ela complementa a modalidade falada – neste caso, sinalizada – das línguas

(MARCUSCHI, 2001). Com relação à funcionalidade da escrita, a escrita de sinais

assume a mesma função da escrita das línguas orais, seja na perspectiva de registro seja

no aspecto cultural. Embora a escrita de sinais seja a representação escrita das línguas

de sinais, afirma Karnopp (2013), poucas são as produções registradas em escrita de

sinais. Uma perda para a cultura surda.

Apesar de todo esse reconhecimento por alguns pesquisadores e professores de

Libras, a escrita de sinais ainda não se encontra difundida na sociedade brasileira.

Porém, esse é um processo natural se comparado à história do alfabeto grego, pois,

conforme Duarte (1998) o alfabeto grego não foi disseminado na época da sua criação e

demorou séculos para isso. No entanto, quando se fala de escrita da Libras, remete-se a

um contexto sociocultural em que o nível de acesso e uso da escrita representa a

condição social dos sujeitos. Sendo assim, no contexto brasileiro, por ser um país de

cultura letrada, o letramento dos sujeitos dizem qual lugar eles ocupam. Uma língua que

não tem registro escrito em uma cultura letrada é uma língua menor em uma escala de

valorização, sendo assim, assumir a escrita de sinais é um passo de valorização da

produção linguística e cultural em língua de sinais.

Na perspectiva cultural, a escrita de sinais assume papel preponderante de ser

mais uma ferramenta de produção cultural, assim como de registro da cultura do povo

surdo. Essa não disseminação da escrita de sinais aponta para o fato de que, como

afirmam Campos e Stumpf (2012), não há o registro histórico e cultural sobre a

comunidade surda em escrita de sinais, o que se encontra são registros em outra língua e

por não surdos. Porém, ter a escrita de sinais como registro escrito é um meio do

próprio surdo por meio de sua própria língua poder representar-se. Como aponta

Karnopp (2013), a escrita de sinais é um dos tipos de registro visual da cultura surda e é

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um potencial de registro da cultura surda por poder ser impressa o que possibilita a

circulação dos textos em diferentes épocas e espaços.

Além do aspecto cultural, também faz-se necessário chamar a atenção para a

importância da escrita de sinais para o desenvolvimento cognitivo dos surdos. Ao

apoiar-se na teoria de Vigotsky, percebe-se que a negação de uma língua a um ser

humano, significa nega-lhe a condição humana. Apesar a da Libras ter sido reconhecida

no Brasil e estar sendo implementada nas escolas, é preciso chamar a atenção para a

necessidade do respeito a ela em sua plenitude e isto significa respeitá-la e ofertá-la em

sua modalidade sinalizada e escrita.

Assim como a Libras sinalizada, a escrita de sinais deve ser adquirida cedo, pois,

a aquisição da escrita favorece o desenvolvimento linguístico e cognitivo. Para

Vigotsky (2008), a aquisição da escrita contribui para o uso consciente das habilidades

linguísticas e para a compreensão do modo de funcionamento dessa modalidade,

desenvolvendo a habilidade de abstração, a percepção visual da escrita e o pensamento

analítico.

Considerando a importância da escrita de sinais para o surdo, pode-se afirmar

que a aquisição plena da Libras como L1 acontece por meio da aquisição da sua

modalidade sinalizada e escrita. O respeito à L1 do surdo em sua plenitude favorece à

formação do surdo letrado, pois, ele vai ser uma pessoa que fala e escreve uma língua

plenamente.

Marcuschi (2001) afirma que a escrita do ponto de vista da manifestação do

letramento significa que além de ser uma tecnologia tornou-se um bem para a sociedade

e indispensável na sociedade atual. Sendo assim, a aquisição da escrita ultrapassa a

expectativa da alfabetização para tornar-se um instrumento social, por isso, Lodi,

Harrison e Campos (2013, p. 44) consideram que ela deve ser trabalhada a partir da

prática social de linguagem, cultural, histórica e ideológica.

Nesta linha de pensamento, o Relatório sobre a Política Linguística de Educação

Bilíngue: Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa, que foi elaborado por

profissionais surdos e ouvintes no ano de 2014, por solicitação da Secretaria de

Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério

da Educação (profissionais designados pelas Portarias nº1.060/2013 e nº91/2013)

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concebe que deva haver letramento visual, que significa a leitura e escrita em escrita de

sinais, na educação bilíngue para surdos em um ambiente linguístico favorecedor da

aprendizagem da Libras como L1. Essa habilidade deve ser trabalhada a partir da prática

social, Marcuschi (2001) afirma que é um processo que envolve um a prática de leitura

em contextos e para fins utilitários.

Na cultura brasileira, o letramento faz parte do desenvolvimento dos indivíduos

e o surdo precisa ter uma língua que ele utilize para escrever em nível de alfabetismo

pleno para que possa utilizá-la como mecanismo de inserção social. Porém, a língua que

ele usa com segurança e plena competência é a língua de sinais, assim, o letramento em

escrita de sinais é o melhor caminho.

Metodologia: a construção do livro didático

Os livros didáticos de Libras foram criados por uma equipe composta por

alunos voluntários e bolsistas e colaboradores do projeto. A atribuição de

responsabilidade de criação dos livros foi divida entre a equipe de acordo com as seções

dos livros. Foram criados livro em nível básico e intermediário, cada um com dois

volumes. Assim, foram criados o Libras básico I e II e o Libras intermediário I e II.

Cada volume foi composto por lições em Libras sinalizada, gramática e escrita

de sinais e por vídeo com temáticas sobre a cultura surda. Cada lição foi acompanhada

por atividades compostas em uma ordem lógico-didática sequenciada. Para a criação das

atividades nesses moldes teve-se como base a concepção de sequência didática proposto

por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) e Vigotsky (2007). Para a composição deste

artigo, estamos trazendo nossa experiência sobre a introdução da escrita de sinais como

conteúdo nos livros didáticos de Libras.

Resultado: a escrita de sinais no livro didático

Diante do exposto, é evidente a necessidade de disseminação da escrita de sinais

na sociedade brasileira, juntamente com a Libras sinalizada. É nessa perspectiva que a

justificativa para a inserção da escrita de sinais nos livros de Libras se ancora. Os livros

didáticos são ferramentas de trabalho do professor em sala de aula. Eles auxiliam no

desenvolvimento das atividades desse profissional e na aprendizagem dos alunos ao ser

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um suporte de estudo em casa e uma forma de registro dos conhecimentos adquiridos

em sala de aula. Para além dessa questão funcional, os livros didáticos também são

fomentadores de conhecimento, pois, ao trazer conteúdos, apresenta ao professor uma

proposta conteudista a ser trabalhada em sala de aula. Sendo assim, os livros didáticos

têm o potencial de disseminar saberes no sistema de ensino. Sabendo disso, propomos

que os livros didáticos de Libras sejam acompanhados de lições e atividades de escrita

de sinais.

Devido à resistência à aprendizagem da escrita de sinais pelo não entendimento

da dimensão da importância dessa modalidade ao surdo e à Libras, iniciamos a inserção

da escrita de sinais paulatinamente nos 04 módulos dos livros de Libras que produzimos

nos anos de 2013 e 2014. Os livros de Libras já produzidos contam com quatro

módulos: dois para Libras básicos e dois para Libras intermediário. No Libras básico,

foram postas lições e atividades sobre parâmetros da Libras em escrita de sinais e no

Libras intermediário foi iniciado o trabalho com leitura e produção textual. Em geral,

foram apresentadas lições com exposição do conteúdo em sequência lógico-didática que

favorecesse a aprendizagem do aluno. Por isso, os parâmetros e os sinais escritos foram

apresentados acompanhados de fotos de sinais sinalizados para que o aluno associasse a

escrita à sinalização para possibilitar ao aluno a percepção da representação escrita do

sinal produzido com as mãos. Logo após cada lição foram postas atividades de

associação entre escrita e sinal sinalizado, entre sinal escrito e imagens, escrita de

pequenos textos a partir de sinais aleatórios em quadros e em um nível mais

intermediário em escrita de pequenos textos a partir de elementos provocativos (fotos ou

quadrinhos).

Procurou-se trabalhar sinais escritos relacionados aos sinais trabalhados no

início de cada unidade para que se pudesse trabalhar a escrita de sinais já conhecidos

pelos alunos. Esse cuidado em todos os livros se deveu à teoria de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZPD) de Vigotsky que propõe a mediação de saber a partir

do potencial de aprendizagem do aluno, de forma que a apresentação de um novo

conteúdo se ancore em um conhecimento pré-existente.

No Libras I, foram trabalhados: alfabeto manual, configuração de mão e ponto

de articulação. Para Configuração de mão, foi organizado um quadro resumido no qual

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foram retiradas as configurações de mão mais semelhantes para facilitar a memorização

das configurações de mão por parte dos alunos, pois, estes ficam impactados com a

quantidade enorme de configuração de mão a ser memorizada. Assim, fechamos esse

conteúdo com uma lista de 60 configurações de mão e suas respectivas orientações. Em

atividades sobre configurações de mão foram elaboradas para que o aluno,

principalmente por ser o primeiro livro de Libras básico para iniciantes, correlacionar

colunas entre fotos de sinal sinalizado e entre sinais escritos observando as

configurações de mão e suas respectivas orientações. Porém, é preciso ressaltar que

foram elaboradas oito questões para que o aluno possa rapidamente terminar a

atividade, pois, o objetivo foi compreender a lógica da escrita de sinais e não treinar

exaustivamente para memorização.

Ressalta-se também que todas as atividades dos livros teve o objetivo de

promover aprendizagem significativa e não a memorização mecânica. Baseando-se na

teoria de Vigotsky (2007) em que a aquisição da escrita acontece mediante transição da

fala para a escrita, as atividades foram elaboradas de forma que o aluno possa associar o

sinal sinalizado com o sinal escrito e progredir para a aprendizagem da escrita sem a

dependência da sinalização. Com relação ao ponto de articulação foi trabalhado

juntamente com o plano parede e o plano chão e foram exercitados através de atividades

de identificação quanto ao plano e quanto ao tipo de ponto de articulação veja exemplo

em figura 1.

Exemplo 1. Atividade sobre configuração de mão e respectivos planos

Correlacione a primeira coluna com a segunda com as orientações de mão

correspondentes:

( 1 )

( )

Exemplo 2: atividade sobre tipos de contato:

Escolha um contato escrito para cada sinal.

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Em Libras II, foram trabalhados: símbolos de contato e revisão dos parâmetros

estudados em Libras I, veja exemplo 2 acima. A partir da Libras II, já foi iniciado o

trabalho em que o aluno deve ler e escrever sinais e pequenos textos, porém, com apoio

em outros já escrito. São atividades em que o aluno deve ler frase e identificar nelas

seus temas. Nesse tipo de atividade o aluno não precisa ter domínio total da leitura, mas,

uma noção possibilita-lhe fazer a leitura flutuante e identificar o tema da frase. Com

esse tipo de atividade, trabalha-se o conhecimento prévio e incentiva-se o

aprimoramento e a aquisição de novas habilidades de leitura.

No Libras III, foi trabalhado o movimento e as expressões faciais. Esses

conteúdos são extensos, assim, seus tipos foram apresentados paulatinamente com

atividades intercaladas de associação e classificação quanto ao subtipo, veja exemplo 3.

Porém, as atividades tanto exigiam reconhecimentos sobre os movimentos apresentados

como conhecimentos acumulados, pois, havia questões nas quais eram solicitadas

leituras após as questões de reconhecimento, classificação e associação.

Exemplo 3: atividade sobre movimento

1. Observe os sinais abaixo e no parêntese anote número 1 para os sinais de

movimento com plano chão e 2 para os movimentos com plano parede.

( )

( )

( )

( )

Em Libras IV, as atividades foram centradas em leitura e produção de texto.

Assim, a partir do nível intermediário o aluno aprende sinais novos, aprimora sua

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habilidade de percepção, sinalização, leitura e escrita em língua de sinais, veja exemplo

4.

Exemplo 4: atividade sobre produção textual

Leia as frases em português que estão logo abaixo, em seguida traduza-as para a escrita de sinais. Você poderá utilizar os sinais escritos no quadro a seguir.

Eu ganhei um carro novo.

Oferecer a escrita de sinais como conteúdo dos livros didáticos é importante

porque possibilita ao aprendiz compreender melhor as unidades mínimas dos sinais e a

estrutura linguística e textual da Libras.

Conclusão

A aceitação da escrita de sinais significa valorizar a Libras e seus falantes.

Assim, em cursos de ensino de Libras e em escolas que a tenha como disciplina

curricular precisam estar atentos à necessidade da oferta de ensino da Libras sinalizada

concomitantemente com a escrita de sinais, da mesma forma que é feitos com as línguas

estrangeiras.

Se é um direito do ouvinte aprender a modalidade escrita de sua língua, é

também direito do surdo aprender as duas modalidades de sua língua o que significa que

o sistema escolar deve assumi-la integralmente e não só como meio de comunicação

cotidiana subvaloriando-a e supervalorizando a escrita do português.

A implementação da escrita de sinais, nos livros didáticos mencionados acima,

demonstrou que é perfeitamente possível oferecer um material didático que contemple

as duas modalidades da Libras. Embora, ele tenha os enunciados das atividades e alguns

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enunciados explicativos em português, a escrita de sinais é um conteúdo com igual

valor se comparado à Libras sinalizada. No entanto, é importante ressaltar que o ideal é

que caminhemos para a construção de livros didáticos que contenha todo o registro

escrito em escrita de sinais, da mesma forma que encontramos nos livros didáticos sobre

língua estrangeira.

Referências:

CAMPOS, D. W; STUMPF, M. R. Cultura surda: um patrimônio em contínua evolução. PERLIN, G.; STUMPF. M. R. Um olhar sobre nós surdos leituras contemporâneas. Curitiba: CRV, 2012.

DALLAN, M. S. S. Análise discursiva dos estudos surdos em educação: a questão da escrita de sinais. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2013.

DALLAN, M. S. S. Signwriting: escrita visual para língua de sinais, o processo de sinalização escrita. In: CONGRESSO NACIONAL DE SURDEZ, 2. Campos do Jordão – SP. Disponível em: http://escritades.dominiotemporario.com/doc/ SIGNWRITING_ ARTIGO.pdf. Acessado em 12 de setembro de 2014.

HAVELOCK, E. A. A revolução da escrita na Grécia e suas consequências culturais. São Paulo: Editora da UNESP/ Paz e Terra, 1996. 370 p. Resenha de: DUARTE, A. S. A revolução da escrita na Grécia e suas consequências culturais. Interface –

Comunicação, Saúde e Educação, v. 2, n. 2, p. 205 – 206, 1998.

KARNOPP, Lodenir Becker. Produções culturais em língua brasileira de sinais (Libras). Letras de Hoje, v. 48, n. 3, p. 407-413, 2013.

KARNOPP, Lodenir Becker. Produções culturais em língua brasileira de sinais (Libras). Letras de Hoje, v. 48, n. 3, p. 407-413, 2013.

LODI, A. C. B., HARRISON, K. M. P.; CAMPOS, S. R. L. Letramento e surdez: um olhar sobre as articularidades dentro do contexto educacional. In: LODI, A. C. B.; HARRISON, K. M. P., CAMPOS, S. R. L; TESKE, O. Letramento e minorias. Porto Alegre: Mediação, 2013.

MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.

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SUTTON, V. Lições sobre o signwriting: Um sistema de escrita para língua de sinais. Tradução de Marianne Rossi Stumpf. Disponível em: http://rocha.ucpel.tche.br/ signwriting.

THOMA, A. S., et.al. Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=56513. Acesso em: 20 de jul. de 2014

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008.