A "escrita de si" na formação em Educação Física

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Flávio Soares Alves* Yara Maria de Carvalho** Romualdo Dias*** A "escrita de si" na formação em Educação Física Resumo: O objetivo deste ensaio é criar um campo de discussões sobre a "escrita de si" no contexto da formação em Educação Física, reconhecendo o exercício de escrita como um modo potente de captação e reinvenção do que escapa à ordem do conhecimento e que, ao mesmo tempo, exige do pensamento pensar a consistência dos encontros que atravessam os processos de formação profissional. Deste ponto, interessa tangenciar as demandas que ficam excluídas no discurso da formação, a saber: as sensibilidades, reconhecendo-as como expressões de um "conhecimento encarnado". Para além das competências teóricas, a "escrita de si" ajuda a edificar uma compreensão mais profunda da formação profissional, não porque dispara um discurso sobre a prática, mas por dar vazão à escrita das intensidades forjadas nos encontros entre conhecimentos e práticas. Palavras-chave: Educação Física. Conhecimento. Atuação profissional. Competências. *Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] **Escola de Educação Física e Esportes Universidade de São Paulo. (USP). São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] ***Departamento de Educação. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Rio Claro, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 1 I NTRODUÇÃO Em tempos de ascensão do tecnicismo os cursos de formação, não raras vezes, concentram seus esforços no ensino de aspectos procedimentais que capacitem os sujeitos a lidar com certo sistema de produção. É preciso assegurar o domínio de um "saber como", sem o qual a busca pela formação parece não ter sentido.

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Flávio Soares Alves*Yara Maria de Carvalho**

Romualdo Dias***

A "escrita de si" na formação em Educação Física

Resumo: O objetivo deste ensaio é criar um campo dediscussões sobre a "escrita de si" no contexto da formaçãoem Educação Física, reconhecendo o exercício de escritacomo um modo potente de captação e reinvenção do queescapa à ordem do conhecimento e que, ao mesmo tempo,exige do pensamento pensar a consistência dos encontrosque atravessam os processos de formação profissional. Desteponto, interessa tangenciar as demandas que ficam excluídasno discurso da formação, a saber: as sensibilidades,reconhecendo-as como expressões de um "conhecimentoencarnado". Para além das competências teóricas, a "escritade si" ajuda a edificar uma compreensão mais profunda daformação profissional, não porque dispara um discurso sobrea prática, mas por dar vazão à escrita das intensidades forjadasnos encontros entre conhecimentos e práticas.Palavras-chave: Educação Física. Conhecimento. Atuaçãoprofissional. Competências.

*Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, SP,Brasil. E-mail: [email protected]**Escola de Educação Física e Esportes Universidade de São Paulo. (USP). São Paulo, SP,Brasil. E-mail: [email protected]***Departamento de Educação. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).Rio Claro, SP, Brasil. E-mail: [email protected]

1 INTRODUÇÃO

Em tempos de ascensão do tecnicismo os cursos de formação,não raras vezes, concentram seus esforços no ensino de aspectosprocedimentais que capacitem os sujeitos a lidar com certo sistemade produção. É preciso assegurar o domínio de um "saber como",sem o qual a busca pela formação parece não ter sentido.

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No campo específico, muitos cursos de final de semana - rápidose intensivos - que se fixam nas modalidades esportivas, notreinamento, na atividade física e nas técnicas corporais voltadaspara a "boa forma" e o mercado do fitness convencem o futuroprofissional de que a competência teórica que provêem pode darconta do espaço da intervenção. Assim, cheio de certezas, oprofissional de Educação Física se lança ao exercício profissionalacreditando que sabe como o corpo funciona; os métodos maisadequados para determinada prática; associar objetivos,procedimentos e resultados no processo de avaliação. Nestaperspectiva, entende-se formação como aquisição de conhecimentostécnicos/abstratos para a atuação do profissional.

As relações entre saberes e práticas, no entanto, extrapolamos domínios da competência teórica adquirida. O intempestivoatravessa a ordem das relações por vir, colocando profissional,estudante, saberes, práticas e instituições face ao imponderável.

Assim, a formação precisa considerar e capacitar o aprendiz alidar com as diferentes formas de conhecer, pensar e fazer em jogona formação profissional. É no espaço onde este jogo se instala quea formação é colocada à prova, pois expõe o futuro profissionalfrente às circunstâncias situacionais e moventes que o cercam. Nessesentido, a formação - entendida como campo que provê a aquisição/transmissão de conhecimentos - muitas vezes não alcança essasintensidades que gostaríamos de enfatizar aqui.

Para ampliar o alcance e impacto da formação, reiteramos, épreciso colocar as diversas formas de conhecer em jogo: trata-se,portanto, de aceitar o desafio de encarar os encontros com oimponderável, que hão de vir, com toda potência lúdica e inventivaque podem mobilizar. O futuro profissional aceita os desafios destejogo quando se lança à prática dos estágios, ao diálogo com asdisciplinas de formação - curriculares e extracurriculares - e nosexercícios de pesquisa.

Considerando que a formação, de modo geral, se sustenta sobreos pilares do ensino, da pesquisa e da extensão é preciso correr osriscos de experimentar outros modos de articular essas frentes. O

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que observamos é que as iniciativas buscando aproximação entreesses pilares muitas vezes se conformam em reiterar uma ordemconceitual vigente, descartando o potencial de transgressão quecarregam, em função de uma política acadêmica que tudo quer dobrarsobre os termos do conhecimento teórico-formal1. Acontece quenesse jogo entre produção de saberes e prática, não se trata apenasde conhecer, mas antes, de experimentar as profundidades queatravessam e qualificam a pesquisa, o ensino e a extensão.

Confundir conhecimento com experimentação é abrir mão deuma consistência furtiva, que escapa ao conhecimento e nos afetaem profundidade2, colocando-nos frente às vicissitudes do sentir.

O leitor pode estar reclamando por mais elementos que"iluminem" o que se esconde nesta escrita. Seguiremos, então, porintroduzir o indevido: forçá-lo a pensar nos seus próprios exemplosfrente às idéias aqui levantadas.

O que interessa é lembrar que ensino, pesquisa e extensão sãoespaços reservados ao jogo - aos encontros - onde o conhecimentoé posto à prova, forçando o pensamento a pensar resoluções quedêem conta deste jogo instalado.

2 OS ELEMENTOS QUE ESCAPAM AO CONHECIMENTO

Ao mobilizar o conhecimento, os desafios elevam o encontropara além dos conceitos do entendimento já acomodados edeterminados por experiências anteriores. Tal mobilização nãoacontece sem um olhar prospectivo, ou seja, um olhar orientado paraos eventos sempre episódicos que se instalam toda vez que a

1A partir da leitura de Imbernón (2010) é possível observar que as novas demandas daformação profissional exigem certo ultrapassamento desta política acadêmica pautada peloconhecimento objetivo e disciplinar, que cabe sob os termos do conhecimento teórico-formal.Tais demandas, no entanto, não devem prescindir deste conhecimento. Trata-se, antes, dedeslocá-lo através da necessária abertura à aprendizagem da relação e da convivência entre aspartes de constituem o campo da formação.2Segundo Deleuze (2006, p. 324). a profundidade é "[...] a que vem do âmago das coisas, emdiagonal, e que reparte os vulcões, para reunir uma sensibilidade em ebulição a um pensamentoque 'troveja em sua cratera."

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formação nos lança frente às relações por vir no encontro. Aqueleque direciona sua atenção à espera do que há de vir coloca oconhecimento à prova, como desdobramento desta atitudeaventureira e sua percepção é aguçada, favorecendo o alcancedaquilo que não se deixa capturar pelo conhecimento.

O que escapa aos termos do conhecimento?

O corpo e as sensibilidades que o atravessam!

Não é difícil atestar esta habilidade de esquiva dada ao campodas sensibilidades. O que sabemos e produzimos sobre o corpo nocampo acadêmico denominado Educação Física? Sabemos defisiologia do exercício, biomecânica, esquemas motores, capacidadede aprendizagem e controle motor; comportamentos psicológicos,registros históricos, filosóficos, antropológicos e institucionais, suasadequações na escola, no clube, na academia. Mas e suassensibilidades? Onde estão? Certamente fora do discurso dasciências, até porque não se faz ciência - na sua concepção moderna- sem antes prescindir de tudo o que a torna equívoca e indeterminada(ALVES, 2009). Como metrificar um afeto, ou a intensidade do gosto,do prazer e do lúdico? A ciência pode até forjar respostas a estasperguntas, mas não sem antes abdicar daquilo que consiste assensibilidades.

Poderíamos então dizer: a sensibilidade está fadada a escaparindefinidamente da ordem do dizível. Estranhamente este proposiçãonão se sustenta, pois a escrita que se deixa levar pelo intempestivorecolhe a sensibilidade, não para inscrevê-la como verdade absoluta,mas para permitir a composição: a invenção do encontro no campoda escrita.

Quando nos abandonamos no atravessar do intempestivo,deixando vir linhas de pensamento sem conduzi-las de modo regulare ordinal, entregamo-nos a um exercício transcendente dasensibilidade, onde a imaginação se eleva a um nível onde só apreende

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aquilo que não pode ser apreendido do ponto de vista do senso comume que, portanto, não se recalca sobre o exercício empírico dasensibilidade (DELEUZE, 2006).

Segundo Deleuze (2006) a escrita mobilizada neste exercíciotranscendente da sensibilidade se libera das coerções da consciênciae impulsionada pela imaginação se aventura no pensamentoinvoluntário, forjando impressões verbais de uma sensibilidade ematravessamento.

É nesse sentido que a formação encontra acesso a este exercíciotranscendente da sensibilidade quando instiga e promove experiênciasvoltadas para a "escrita de si".

O objetivo deste ensaio é criar um campo de discussões sobrea "escrita de si" no contexto da formação em Educação Física,reconhecendo este exercício de escrita como uma forma de mobilizaros sujeitos na captação daquilo que escapa à ordem do conhecimento- a sensibilidade - e que força o pensamento a pensar a consistênciados encontros que atravessam os processos de formação.

As expressões escritas que derivam da sensibilidade dãotestemunhos de um conhecimento incrustado nos músculos, nosnervos, no esqueleto, nos órgãos ao longo de todo o processo do serhumano na constituição e invenção de si.

A escrita aberta a estas expressões possibilitará mapearmosos processos que movimentam o jogo entre teoria e prática - osencontros, os entres - revelando o implicado que introduz a marcado tempo e das vivências no traço da escrita daquele que se encontraem formação.

A "escrita de si" como experiência que força o sujeito a pensaro espaço e o tempo do encontro, campo no qual colocamos aformação profissional em pauta.

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3 A "ESCRITA DE SI" COMO EXERCÍCIO DE FORMAÇÃO

Segundo Foucault, (2006, p. 145) a escrita de si não atuasomente sobre os atos, "[...] porém, mais precisamente sobre opensamento" e completa: "[...] a escrita constitui uma experiência euma espécie de pedra de toque: revelando os movimentos dopensamento [...]"3.

Na leitura de Foucault (2006), a antiguidade clássica ensinaque a "escrita de si" não é exatamente uma prática descritiva quecompreende um registro prescritivo dos atos vividos, mas, antes, umexercício que movimenta o pensamento, forçando-o a pensar aexperiência vivida.

O que isto tem a ver com formação profissional? Formação écampo no qual professor e aluno se implicam. Em meio a estaimplicação, temos então um encontro que dispara a produção daescrita. O que é possível dizer sobre este encontro? Ele capturatudo aquilo que se dobra aos termos do conhecimento: as técnicasde ensino, os métodos de intervenção e os procedimentos que regulama relação mestre-aprendiz. Todavia, ousamos perguntar: o que vaialém do possível? Os movimentos do pensamento que dãotestemunho de um jogo instalado no encontro entre o dizer e o fazer,o conhecimento e a prática, algo só captado nos registros da "escritade si".

Temos na "escrita de si", portanto, um exercício de reflexãoque amplia a formação, pois extrapola a ordem do registro possívele alcança o registro das profundidades forjadas no encontro. E, sema abertura a estas profundidades, o conhecimento não se implica nocorpo e, portanto, não é colocado em movimento.

Segundo Foucault: "[...] nenhuma técnica, nenhuma habilidadeprofissional pode ser adquirida sem exercício" (2006, p. 146). Pensarem formação profissional a partir desta leitura implica em pensá-la

3A partir de um texto de Atanásio, pensador da cultura greco-romana, Foucault (2006) faz umaanálise da importância da escrita na cultura filosófica de si constituída precisamente antes docristianismo, no período do alto império nos séculos I e II.

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como um "treino de si por si mesmo" que transforma o exercício daformação numa prática estética, isto é, um campo de lapidação desi, como arte de viver - algo que a cultura filosófica de si chamavade technê tou biou (FOUCAULT, 2006, p. 146). É justamente nosdomínios desta formação pensada enquanto campo de lapidação queos exercícios da "escrita de si" ganham força, pois funcionam comodispositivos que reforçam as pontes que o próprio sujeito forja ao seimplicar no campo da formação que escolheu tomar para si.

4 OS ENCONTROS COMO DISPARADORES DA ESCRITA

Antes de se entregar a um exercício de escrita é preciso serafetado, ou seja, é preciso se esgueirar nas tramas do por vir daexperiência. A prática do profissional coloca-o literalmente emmovimento na relação que estabelece com seus alunos. Um sujeitoem processo de formação ainda não se vê à beira da atuaçãoprofissional, mas pode se colocar em movimento nas infinitaspossibilidades de relação que pode trilhar seja nos estágiossupervisionados, nas diferentes estratégias que aproximam ensino eserviço4, nas experiências didáticas, ou ainda nos exercícios depesquisa e intervenção.

É no campo onde estas relações acontecem que se instala oencontro, ou seja, o espaço-tempo no qual profissional e aluno seimplicam. É no encontro que a competência teórica adquirida naformação é colocada à prova; e, é também no encontro que o sujeitose vê frente ao plano intensivo das forças e se vê mobilizado ou nãoa jogar com elas.

Segundo Deleuze e Parnet (1998), no plano de forças o queexiste é um plano concreto de intensidades e singularidades, quesuspendem as formas num interstício que se sustenta no ato, e

4O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE) pode ser um exemplo. Éum programa regulamentado pela Portaria Interministerial nº 421, de 03 de março de 2010,inspirado no Programa de Educação Tutorial - PET, do Ministério da Educação.

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somente no ato em que as formas são requisitadas no plano dasintensidades. O que seriam estas formas? Dentro do contexto aquisuscitado, podemos considerar estas formas como o conhecimentoteórico adquirido na formação. É este conhecimento que aparececomo elemento, sem o qual não se capacita os sujeitos dentro decerto sistema de produção.

As formas constituem-se naquilo que o pensamentorepresentativo reconhece como objetos do conhecimento. A ascensãoà dimensão movente da realidade - esta constituída no plano de forças- implica em afetar as condições de gênese dos objetos. Isto significaum desvio do pensamento representativo que domina o plano dasformas. Só é possível alcançar e acompanhar o plano de forçasatravés da desestabilização das formas, algo possível quando o sujeitose lança à imprevisibilidade dos acontecimentos, na dimensão dopor vir dos encontros5.

Uma vez entregue ao devir da experiência, a consciência,entendida como domínio da intencionalidade, dissolve-se, ampliandosuas margens, elevando a consciência para outros estados, alheiosao poderio indolente da razão suficiente6. Neste estado elevado daconsciência, só localizado no plano intensivo onde as forças se põemem relação, a experiência da escrita consegue tangenciar o sensível,transformando-o em prosa, sem com isto resumir a consistência láemergente. Para tanto, é preciso se desviar da tendência ao discursoimpositivo, que tudo quer dobrar sob a legitimidade que lhe é conferidapela razão suficiente.

5Convém salientar, no entanto, que o plano das formas e o plano das forças não se opõem,mas constroem entre si recíprocas relações que asseguram múltiplos cruzamentos (PASSOS etal, 2009).6A razão suficiente é o domínio da consciência no qual vigora o plano das formas (logos). Arazão suficiente invoca a identidade do conceito - tratando-a como princípio - tanto para explicarquanto para compreender aquilo que é submetido à sua apreciação (DELEUZE, 2006, p. 377-382; DELEUZE; PARNET, 2004). O pensar como exercício do pensamento mediado sob osdomínios da razão suficiente implica em pensar a partir do campo das representações, onde aoperação intencional consciente descarta aquilo que foge às suas possibilidades de explicaçãoe compreensão para enquadrar o pensamento, dando-lhe um fundamento que define as condiçõesda experiência possível.

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Como operar o traço desta escrita alheia ao discurso impositivo?É preciso amainar as pretensões de uma resposta cabal a estaquestão. Não há um procedimento específico, sistêmico e linear queresolva o dilema dos rumos do por vir da escrita, pois quando osensível a atravessa, o desarranjo que promove dissolve qualquerprocedimento previamente alinhado para conduzi-la. Assim, a escritase torna um exercício artístico que não pode ser controlado deantemão. O máximo que podemos fazer é apresentar pistas queinspirem o escritor à busca das sensibilidades que só ele tem acesso.

5 PISTAS PARA A "ESCRITA DE SI" - NO RASTRO DO PLANO INTENSIVO

DAS FORÇAS

Segundo Passos, Kastrup e Escóssia (2009, p.13) pistas "[...]são como referências que concorrem para a manutenção de umaatitude de abertura ao que vai se produzindo e de calibragem docaminhar [...]". É a partir deste entendimento que nos lançamos aotexto que se engendra.

Através da "escrita de si" é possível reunir, na forma de relatos,informações objetivas e impressões furtivas. Estas impressões nãoforjam um texto interpretativo e a presença de dados objetivos,também não constituem uma análise objetiva. Entre a objetividade ea subjetividade, o relato se mantém suspenso, atento à captaçãodaquilo que se dá no plano intensivo das forças: espaço potencialonde o encontro se instala.

Nesta escrita imersa no plano intensivo das forças o escritorinscreve aquilo que julga importante, mas, à medida que se deixalevar por um movimento espontâneo de explicitação7 das experiênciasvividas, deixa se inscrever também algo mais precioso: dados quepermaneciam até então num nível inconsciente e pré-refletido.

Segundo Passos e Kastrup (2009, p. 69-70) o alcance destesdados não se faz sem certo recolhimento "[...] cujo objetivo é

7Segundo Passos e Kastrup, explicitação designa "[...] o ato de trazer à consciência umadimensão pré-reflexiva da ação." (PASSOS et al, 2009, p. 83)

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possibilitar um retorno à experiência do campo, para que se possaentão falar de dentro da experiência e não de fora, ou seja, sobre aexperiência."

A "escrita de si", portanto, não se faz sem uma tomada defôlego, que reporta o escritor a um passo para trás, para o campointensivo das forças, onde se encharca dos afetos que lhe acometeramem meio ao curso dos acontecimentos e se despoja no traço de umregistro forjado num campo implicacional.

Este movimento da escrita não é um exercício fácil e não estágarantido de antemão, pois requer um aprendizado e uma atençãopermanente, sem os quais o escritor se rende à sedução de umapolítica cognitiva que ajusta os rumos da escrita em direção a buscade soluções e regras forjadas fora do campo implicacional8.

Novamente reiteramos que não há uma forma previamenteestruturada que guia a produção da "escrita de si". A únicaprerrogativa que se institui é a abertura do escritor aos movimentosda experiência que mobilizou este exercício. Segundo Lourau, (1993,p. 72) os textos que derivam destes movimentos "[...] realizamrestituições insuportáveis à instituição científica." Para tangenciaros movimentos que atravessam esta escrita, o escritor precisa sedeixar afetar, sem apego pelos acontecimentos vivenciados lá, nomomento mesmo em que o encontro se dá como evento.

Assim, nos rastros de uma visibilidade implicada nas experiênciasvividas, a figura do escritor como observador externo e neutro sedissolve no rumo por vir das relações tramadas e transformadas empalavras no corpo da escrita. Nestes termos, a escrita coloca lado alado conhecimento e devir: texto e fora-texto. Ambos, co-emergemno traço da escrita deixando indícios de uma sensibilidade ematravessamento. E, a "escrita de si" alimenta-se desteatravessamento.

8Segundo Lourau (1993) campo implicacional consiste numa dinâmica relacional transpassadapor um jogo intenso de forças que contagia as partes envolvidas na relação, dissolvendo acondição dual que as localiza na oposição entre dois agentes. A implicação, portanto, dissolveas oposições, em função da imersão dos opositores num plano intensivo que os atravessa.

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6 POR UMA ATENÇÃO SEM FOCO NA "ESCRITA DE SI"

A "escrita de si" exige um movimento de rastreio que desloquea atenção para o canal onde se encontra a profundidade dosacontecimentos. Num primeiro momento, sob os domínios de umaatenção seletiva e focal. Certo daquilo que quer procurar, o foco daatenção procura, incauto, por um caminho que localize a profundidadedos acontecimentos, todavia, na varredura que descerra, nadaencontra. Isto acontece porque, neste caso, a atenção seletiva nãoalcança aquilo que se propõe procurar: a sensibilidade que lhe escapaligeira e furtiva.

Segundo Kastrup (2009, p. 35-36) o nível atencional seletivo éum grande obstáculo à descoberta, pois fecha o foco por sobre aquiloque supostamente já pretendia focar antes mesmo de olhar. Sob osdomínios de uma atenção seletiva, portanto, a escrita é movida pelascertezas que o escritor leva consigo, assim funciona como registrode reiteração e reconhecimento de um conhecimento já edificado.Não é, pois, sobre estes domínios restritos da atenção que a "escritade si" encontra um canal de expressão. Reconhecer esta inviabilidadefrente aos domínios da atenção seletiva já é um primeiro passo.

Depois de reconhecer esta inviabilidade é o momento de umsegundo rastreio, menos pretensioso e mais aberto ao movimentoperceptivo que não sabemos muito bem por onde irá passar. Nestaabertura, a consciência, entendida como domínio de intencionalidade,vai perdendo terreno, em função da invasão de uma atenção flutuante,canal no qual o atravessar das sensibilidades se intensifica(KASTRUP, 2009).

Nos domínios de uma atenção que flutua, ao sabor dosacontecimentos por vir, a escrita é atravessada pelo intenso eenvolvida, deixa vir linhas de pensamento, compondo as palavras talcomo um artista compõe sua arte: entregue à aventura de uma obra.

Deleuze (2006) dá pistas que ajudam a manter a atençãosintonizada neste caminho flutuante, quando alerta sobre o perigo daexplicação excessiva. Ao se esgueirar nas tramas de um texto

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explicativo o escritor rompe com o espaço da experiência para, deum lado, elevar a escrita forjada ao estado de objeto e, de outro,elevar o esforço da escrita ao direito de uma autoria: a dele próprio.

O autor da escrita faz valer seu poder de enunciação ao lançarmão de palavras de ordem. Segundo Deleuze e Guattari (1995), aspalavras de ordem conferem ao enunciado força de obrigação e,como efeito, aprisionam a realidade em um sentido dado. É aí que seengendra a explicação excessiva.

Para romper com as palavras de ordem Deleuze (2006, p. 364)alerta: "[...] não se explicar demais". Só assim é possível amainar oponto de vista autoral e perceber que uma mesma experiência derealidade é atravessada por diversos pontos de vista que se cruzamde modo tão intenso que só deixam passar forças, onde o registro daautoria não alcança.

Neste plano, onde a escrita só deixa passar forças, correm aspalavras de fuga, mas mesmo aí, é impossível abrir mão das palavrasde ordem, pois são elas que edificam a experiência da escrita. Todavia,por entre as estruturas porosas e solventes deste edifício, atravessamas palavras de fuga, como movimentos de variação da próprialinguagem que rompem o ciclo de obrigação instalado pelas palavrasde ordem. Como desdobramento deste rompimento, as palavras defuga abrem caminho para a emergência de novas realidades(DELEUZE; GUATTARI, 1995).

A "escrita de si" precisa descobrir canais para fazer valer emsua edificação a potência de dissolução promovida pelas palavrasde fuga. Do contrário, a escrita é capturada pelo traço fálico daautoria. Para tanto, o escritor precisa mergulhar em um plano dedissolução, onde as certezas que leva consigo são dissolvidas.

Tal mergulho não se faz sem acionar a memória inventiva.Segundo Deleuze (2006), a memória pode ser tanto rememorativaquanto inventiva. Enquanto a primeira opera "termos e lugares fixos",a segunda compreende "essencialmente o deslocamento e o disfarce":

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Uma é estática, a outra é dinâmica. Uma é emextensão, a outra é intensiva. Uma é ordinária, aoutra é notável e repetição de singularidades. Umaé horizontal, a outra é vertical. Uma é desenvolvida,e deve ser explicada; a outra é envolvida, e deve serinterpretada [...] Uma é de exatidão e de mecanismo,a outra é de seleção e de liberdade. Uma é repetiçãonua, que só pode ser mascarada por acréscimo eposteriormente; a outra é repetição vestida, cujasmáscaras, deslocamentos e disfarces são osprimeiros, os últimos e os únicos elementos.(DELEUZE, 2006, p. 396).

É no espaço dinâmico e intensivo onde a memória inventiva seaninha e estende seus domínios, que um novo mergulho na experiênciapode ser forjado, abrindo espaços para a dissolução do humano naescrita e para as trilhas desbravadas pela "escrita de si".

7 A DISSOLUÇÃO DO HUMANO NA ESCRITA

Para entender do que se trata esta dissolução recorremos aosestudos de Lourau (1998) sobre a dissolução do humano na escrita.Segundo este autor, a dissolução abranda as pretensões coercivasda identidade - inscrita na centralidade do sujeito, no plano pessoal -permitindo um acolhimento do outro e as variações da experiência.Nesta dissolução, a escrita comporta variações de velocidade quepermitem a abertura a uma narrativa operada em uma espécie detranse.

Lourau (1998) chama este exercício narrativo mobilizado peladissolução do humano de escrita automática. Sob os domínios daescrita automática, o escritor experimenta o limite da consciênciade si. Disso decorre que o traço da escrita não se engendra sob aótica de um ponto de vista, não se enquadra como um relatorepresentativo sobre uma experiência vivida e tampouco pretendedizer algo sobre ela. E isso tudo revela um traço muito peculiar aesta prática: não está em jogo na escrita automática o quanto deverdade pode suportar um olhar que pretendeu falar sobre certaexperiência vivida. Não se trata, portanto, de fundar uma verdade e

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instituí-la como discurso representante de certo acontecimentoconsiderado na escrita, mas de desempenhar um conhecimento,colocando-o à prova, seguindo os rastros de um encontro essencialque reclamou pela mobilização do conhecimento, lá no momentomesmo em que o acontecimento se deu como evento.

Como é possível um dizer que não se coloca sobre a experiênciavivida? O discurso irônico, corrente nos estudos de Nietzsche eFoucault, pode inspirar possibilidades de resposta a esta questão.

Aquele que escreve com ironia - aponta Albuquerque Júnior, apartir de sua leitura dos estudos de Nietzsche e Foucault (2008, p.100) - [...] sabe que o que diz não é propriamente o que a coisa é esabe que a coisa nunca é aquilo de que dela se diz. As palavrasnunca dão conta de revelar a verdade das coisas e estas sempreestão em excesso em relação àqueles conceitos que as pretendedefinir.

Neste sentido, o irônico desmonta as supostas versõesverdadeiras que encontra pelo caminho, mostrando que elas nãopassam de fabricações históricas tecidas por olhares crentes edogmáticos, que anseiam por seu brilho eterno no pilar das verdadesditas.

O irônico tece sua narrativa longe da acomodação de um lugar,pois aí a sedução de uma verdade, a saber, facilmente o localiza e ofaz sucumbir a seus domínios. Afinal, a busca da verdade é umatarefa sedutora, já dizia Nietzsche (2003, 2008). Ter uma verdade aser dita é sinal de poder. O irônico, no entanto - acometido por umacuriosidade mobilizante - ousa esnobar desta modalidade de poder,lhe dá as costas, na busca de um não-lugar que o distancia da norma,da ordem e dos lugares estabelecidos e valorizados positivamente.E, desta não-localidade faz a experiência da escrita: uma escritaque já não é mais sua, pois é não-local, tecida na fronteira, nos limitesde um si fora de si.

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Segundo Souza (2008), a escrita nos limites de um si fora de sicoloca o escritor frente ao abismo da escritura. A escritura em abismoabriga um pensamento que só se constitui em cena e como tal, estásempre 'por fazer'. Realça-se assim, a figura de um escritor emmovimento, que se insinua na textualidade - na ordem estabelecidapelo discurso - e nela se faz ausente, abandonando-a "[...]absolutamente às vicissitudes de um pensar que não precede, masque é concomitante ao ato da escritura." Desta maneira a escrituravai constituindo um dizer que, "[...] sem preestabelecer o que há aser dito, deixa aparecer um saber sem sujeito." (2008, p. 209).

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para além das competências teóricas, o espaço da "escrita desi" ajuda a edificar uma compreensão para além da superfície arespeito da formação profissional, não porque dispara um discursosobre a prática, mas por dar vazão à escrita das intensidades forjadasnos encontros entre conhecimento e prática/pesquisa.

Ao lidar com o corpo em movimento, o profissional de EducaçãoFísica encontra espaço privilegiado para potencializar o exercício daescrita, pois é o movimento que expõe o profissional à experiência,lançando-o ao jogo, frente ao encontro com as demandas em ato.Assim, se não há movimento não há jogo: não há prática profissional.

Segundo Deleuze (2006, p. 93) o movimento "[...] implica umapluralidade de centros, uma superposição de perspectivas, umaimbricação de pontos de vista, uma coexistência de momentos quedeformam essencialmente a representação." A partir desta idéia épossível entender o movimento como elemento transgressor doconhecimento, que dá testemunho das potências que correm sob asteorias conhecidas, na mobilização operada na prática profissional.Ao trabalhar com o corpo em movimento, o profissional de Educação

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Física se depara com esta potência transgressora e, mesmo que adescarte quando se propõe pensar sobre sua prática, ela é irredutívelno campo da experiência vivida9.

O corpo em movimento vaza à ordem dos discursos quepretender dizer algo sobre ele no campo da objetividade científica.O profissional de Educação Física experimenta este vazamentoquando percebe que muitas situações que vivencia são reduzidas eresumidas dentro do enquadramento da escrita acadêmica. Odiscurso científico não suporta a pluralidade e singularidade dosacontecimentos e é justamente por isto que os enquadra em umaordem de conhecimento devida. A experiência, portanto, enquantoencontro, alerta o profissional de que nem tudo é dado a conhecer.O que escapa à ordem do conhecimento atravessa os campos dasensibilidade, aguçando as percepções dos envolvidos no encontroinstalado.

A sensibilidade não é da ordem da competência, portanto nãopode ser dada à priori como algo a conhecer. Emboratradicionalmente a formação profissional em Educação Física nãotenha se ocupado como aquilo que escapa à ordem da competência,o profissional atuante acaba por encontrar seus próprios caminhosquando se lança ao exercício da profissão. Muitos encontram diálogoentre o conhecimento e a sensibilidade despertada na prática quandose permitem organizar, sistematizar, ou ainda documentar suasvivências nos chamados relatos de experiência.

A escrita dos relatos é potencialmente transgressora, ou, pelomenos, deveria ser, pois antes de se acomodar enquanto registro dereiteração, os relatos são impressões de um movimentoexperimentado e, enquanto tais, desestabilizam o conhecimento. Aidéia de movimento forjada por Deleuze (2006) nos inspira a pensar

9Historicamente a área denominada Educação Física pauta suas discussões, predominantemente,a partir de um ideal de inteligibilidade, operado por pressupostos objetivistas e cientificistas. Olegado desta tradição afeta não somente a produção de conhecimentos, mas, sobretudo, aprática profissional. Todavia, a experiência sempre aponta para a possibilidade de transgressãodesta ordem histórica e é justamente neste espaço e tempo que se agregam as pesquisasqualitativas e os diálogos que a área se permite junto ao campo das ciências humanas e sociais(ALVES, 2009).

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que os relatos podem registrar os modos através dos quais o escritorse colocou no jogo entre a prática e o conhecimento. Os relatos,portanto, são exercícios que trazem as marcas da transgressão, dospontos de fuga, de invenção e ousadia daquele que se lança aoexercício profissional.

Estas marcas da transgressão registradas nos relatos despertamo espírito questionador daquele que se dobra a leitura destes registros,pois o movimento que operam contagia o leitor, movendo-o também.E, neste plano, o relato de experiência se aproxima das intensidadesensaiadas no exercício da "escrita de si".

De fato, não é fácil imprimir as intensidades da experiência nocampo da escrita, mas, se lançar ao permanente aprendizado, emprocessos de formação abertos a experiência dessa qualidade daescrita, pode ser um caminho. Dobrar a atenção sobre asprofundidades reveladas na "escrita de si" significa pensar a própriaformação como um exercício de cultivo, que vai além de um períododeterminado, para se implicar na constituição da própria vida. E,isso também significaria a propagação indefinida da "escrita de si".

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The "Self-writing" on the formation in PhysicalEducationAbstract: The objective of this article is to create afield of quarrels about "Self-writing" on the context ofprofessional graduation in Physical Education,recognizing this writing exercise as a potential way tofind what escapes to the knowledge terms and thatforce the thought to think the consistency of the meetingthat across the graduation process. From this point,we want to reach the demands that are excluded inthe formation speech - the demands of sensibility -recognizing them as expressions of an "incarnateknowledge". Beyond the theoretical skills, the "Self-writing" helps us to build a deeper understanding ofthe professional graduation, not because it play on aspeech upon the practices, but for giving opening tothe writing of the intensities forged in the meetingbetween practice and knowledge - where theprofessional intervention is installs.Keywords: Physical Education. knowledge.Professional performance. Abilities.

La "Escritura del si" en la formacíon en EducaciónFísicaResumén: El objetivo de este ensayo es crear uncampo de peleas sobre la "escritura del si" en elcontexto de la formación profesional en la EducaciónFísica, reconociendo este ejercicio de la escritura comouna manera potencial de encontrar aquilo qué seescapa a la órden del conocimiento y qué fuerza elpensamiento para pensar la consistencia del la reuniónque cruza el proceso de la formación. Del este punto,queremos alcanzar las demandas que quedanexcluydas del discurso de la formación - las demandasde la sensibilidad - reconociéndolas como expresionesde un "conocimiento encarnado". Más allá de lashabilidades teóricas, la "escritura del s i" ayudanosotros el la contrución del una comprensión másprofunda de la formación profesional, no porquedispara un discurso sobre las prácticas, pero por darabertura a la escritura de las intensidades forjadas enla reunión entre la práctica y el conocimiento - dondeel juego del la intervención profesional es instalado.Palabras clave: Educación Fisica. conocimiento;Atuación profesional. Competencias.

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Endereço para correspondência:Flávio Soares AlvesRua: Domingão Gonçalves, 109 - Vila dos LavradoresBotucatu - São PauloCEP: 18609-057

Recebido em: 9.5.2010

Aprovado em: 19.06.2011