A Escola Novo Clássica

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O texto descreve resumidamente a Escola Novo-Clássica de pensamento macroeconômico, destacando sua origem , seus debates e sua análise das políticas econômicas por parte do Estado.

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A ESCOLA NOVO-CLSSICA: origem, crticas e polticas econmicas.

Para iniciar, antes de entrar nos argumentos que solidificam a Escola Novo-Clssica como uma revoluo dentro da macroeconomia, faamos um breve resgate da Sntese Neoclssica, para destacar as principais crticas a ela, colocadas pelos Novos Clssicos. A Sntese Neoclssica configura uma espcie de compatibilizao entre as correntes de pensamento clssico e keynesiano, atravs de uma reinterpretao, ou filtragem, do modelo da Teoria Geral de Keynes, dentro da estrutura terica tradicional da economia ortodoxa. O autor a inaugurar esta linha de pensamento (que s receberia a alcunha de Sntese Neoclssica posteriormente, por Samuelson) foi Hicks, em 1937, no artigo Mr.Keynes and the Classics. Em meio a outros artigos e autores relevantes, outros dois so colocados como pilares da Sntese Neoclssica, sendo eles: Liquidity Preference and the Theory of interes tand Money de Franco Modigliani (1944), e Money, Interest and Prices, de Don Patinkin (1956). Nesse meio tempo, ainda h um artigo influente de P. Samuelson, que refora o modelo proposto por Hicks: The Simple Mathematicsof Income Determination. Permitindo-nos fazer um resumo bastante sucinto, por no estar aqui o centro da questo, podemos definir que a Sntese Neoclssica manteve a receita de poltica econmica de Keynes, mas renunciou essncia lgica da Teoria Geral. vlido ainda definir em trs grandes pontos a essncia da Sntese: 1) O modelo IS-LM, para determinar o nvel de produo de equilbrio sob a hiptese de preos rgidos; 2) o arcabouo da Curva de Philips, que preconiza um trade-off consistente entre inflao e desemprego; 3) utilizao de modelos economtricos em larga escala, ou seja, a estimao dos coeficientes das equaes estruturais de um modelo macroeconmico, a fim de avaliar os efeitos de polticas econmicas alternativas. Tendo situado em linhas bem gerais o que foi a Sntese Neoclssica, passemos agora a uma anlise da chamada Escola Novo-Clssica de pensamento macroeconmico, onde primeiro citaremos as suas bases gerais, para depois confront-la com linha de pensamento vigorante at ento, e exprimir o porqu dela ser considerada uma escola revolucionria dentro da macroeconomia. A macroeconomia Novo-Clssica surge formalmente na dcada de 70, tem como principal expoente o americano Robert Lucas, ainda que ele prprio se definisse um monetarista. A linha novo-clssica de pensamento econmico parte da ideia de criar uma nova teoria, solidamente micro fundamentada, que partiria dos seguintes pressupostos bsicos: a) em relao conduta dos agentes: so agentes racionais, que tomam decises visando maximizar uma funo objetivo com algumas restries; so agentes que no sofrem de iluso monetria; as expectativas dos agentes so racionais (voltaremos a este ponto com detalhes, mais a frente), e a informao no necessariamente perfeita, mas nunca assimtrica (confrontando o modelo de Friedmam, que pressupunha assimetria informacional). b) quanto aos mercados: concorrncia perfeita em todos os mercados, com equilbrio geral inter-temporal Pareto-eficiente (uma reaplicao do modelo de equilbrio de Walras, contrapondo-se ao equilbrio marshalliano assumido no arcabouo de Friedmam); e Market-clearing tambm em todos os mercados, ou seja, os mercados so desobstrudos e se equilibram via preos flexveis. Uma das principais crticas dos pensadores da Escola Novo-clssica, em relao ao modelo preponderante anteriormente, era quanto falta de rigor dos modelos economtricos utilizados: segundo um texto fundamental do Novo-classicismo (After Keynesian Macroeconomics), Lucas e Sargent (pg.52-53) afirmam que a macro keynesiana e a sntese neoclssica, se caracterizavam por valer-se de modelos estruturais com muitas restries a priori sobre as variveis consideradas endgenas, exgenas e os choques aleatrios. Alm de assumirem muitas variveis como nulas, ou de valor zero, e categorizarem arbitrariamente a endogenia ou exogenia das variveis. Por fim, na viso de Lucas, os modelos economtricos acabam tornando-se ineficazes para estimar as polticas econmicas, na medida em que os parmetros no se mantm estticos no correr do processo de implantao da poltica, posto que ao longo desse processo os indivduos mudam a formao de suas expectativas reagindo interveno da poltica econmica. Assim, a nica forma de fugir deste problema derivar os modelos a partir de parmetros invariantes, tais quais as preferncias, e a tecnologia. Centrada nesta ltima, por exemplo, est o modelo dos Ciclos Reais de Negcios, de forte vertente Novo-Clssica; este modelo parte da hiptese bsica de que existem grandes flutuaes no ritmo de inovao tecnolgica, que acabam gerando constantes variaes nos preos relativos, impelindo os agentes a alterarem o seu nvel de consumo e a sua oferta de trabalho. Dessa forma, os ciclos econmicos representam a resposta natural e eficiente da economia s mudanas na tecnologia. O RBC (Real Business Cycle) um modelo muito maior e complexo do que o exposto aqui, mas avanaremos na resposta para evitar um alongamento muito grande na exposio. Por fim, falaremos agora com maiores detalhes sobre aquela que, sem dvida, foi a maior inovao do modelo Novo-Clssico: a incorporao da hiptese de expectativas racionais. Vale lembrar que a ideia original desse formato das expectativas de John Muth em Rational expectations and the theory of price movements (1961), mas ela s ganha proeminncia com uma publicao de Lucas e Rapping, alguns anos mais tarde. Em suma, incorporar as expectativas racionais significa compreender que os agentes no erram sistematicamente, ou seja, eles sempre fazem o melhor uso possvel de todo o conjunto de informaes que possui a cada momento, e no apenas dos valores da srie histrica daquela varivel. Assim, os novos clssicos so revolucionrios sua poca, por rejeitar a hiptese at ento aceita do arcabouo da Curva de Philips, que garantia ao governo a possibilidade constante de trocar inflao por desemprego. A revoluo novo-clssica, ento, no estava em negar por completo a eficcia da poltica econmica, mas sim, em pens-la em bases diferentes: o ponto central concentrar-se em polticas econmicas que tenham as suas regras estveis e bem entendidas pelos indivduos e agentes econmicos; o fornecimento proposital de m informao ou informao incompleta, por exemplo, no pode mais ser usado sistematicamente para controlar o ambiente econmico. A teoria novo-clssica revolucionria, portanto, ao quebrar o consenso que se tinha at ento, em torno da macroeconomia de Keynes, e posteriormente de Philips e Friedman. E no s isso. Os novos clssicos so engenhosos ao desenvolver um modelo que era dinmico tecnicamente, mas projetado sobre uma realidade pautada em regularidades, ou seja, estacionria. Assim, sem deixar de prezar pelo equilbrio walrasiano, os novos clssicos engendram em seu modelo, a resoluo de dois problemas crnicos da macro clssica tradicional: a esttica e o determinismo. Em resumo, so modelos que, apesar de construdos para tenderem ao equilbrio, so capazes de dar uma explicao terica bem embasada s flutuaes econmicas. A teoria novo-clssica no questiona diretamente o fato de que o crescimento econmico tem relevncia na melhoria no nvel de vida da populao, mas sim, a ideia de se fazer politicas econmicas sistemticas voltadas a influenciar a taxa de crescimento do emprego e do produto. Conforme explicado na exposio da primeira questo, os novos-clssicos entendem que as polticas de administrao da demanda agregada, tais quais aquelas estimuladas pelos keynesianos, so ineficazes. Explicando melhor: a questo que, com a introduo das expectativas racionais, as anlises at ento difundidas de existncia de um trade-off permanente (ou temporrio), entre desemprego e inflao passam a ser rejeitadas. Ou seja, no entendimento dos novos clssicos, as polticas de direcionamento da demanda (tanto as monetrias, quanto as fiscais) acabam no tendo impacto na determinao do nvel de equilbrio da economia, que tende a se encontrar na sua taxa natural de desemprego[footnoteRef:1]. [1: No detalharemos aqui esta questo do equilbrio e da taxa natural de desemprego pois entendemos no estar no escopo da trabalho aqui desenvolvido. ]

Como destacado na primeira parte, o que se coloca para os Novos-Clssicos ento, no a completa ineficcia das politicas econmicas em qualquer tempo ou circunstncia, mas sim, a necessidade de pens-la dentro de um arcabouo de expectativas racionais e agentes maximizadores de uma funo-objetivo. As regras do jogo das polticas econmicas devem ser estveis e bem compreendidas pelos agentes, a fim de que, caso no sejam capazes de potencializar o crescimento do PIB sustentadamente, ao menos no o obstruam. As polticas de surpresa, ou seja, aquelas no esperadas pelos atores econmicos, tero efeito nos agregados econmicos, mas apenas no curto prazo. Por exemplo, um aumento de oferta de moeda, sem anncio prvio, e no previsto pelos agentes, levar as firmas e indivduos (sob informao incompleta), a partir da variao nos preos relativos, a aumentar o produto e a oferta de trabalho (levando o desemprego abaixo dos nveis naturais), respectivamente. Entretanto, o efeito passageiro, j que os agentes, assim que entenderem que se trata de um aumento gerado pela autoridade monetria, retornaro aos nveis naturais de emprego e produto. Posto isso, desembocamos num arcabouo em que o foco nas expectativas dos agentes passa a ser o ponto fundamental para a efetividade das polticas econmicas. Dentro deste arcabouo mais efetivo, podemos citar o controle da inflao atravs de um Banco Central confivel e independente e com as suas polticas anti-inflacionrias bem delineadas. Alm disso, um controle mais rgido da dvida pblica, para que se demonstre um governo sustentvel e capaz de manter a estabilidade da economia. Na teoria dos Real Business Cycles, explicada brevemente na questo anterior, (e de forte cunho Novo-Clssico) entendem-se os ciclos econmicos enquanto a resposta natural e mais eficiente da economia, frente s mudanas na tecnologia. Assim, fica entendido que so as inovaes tecnolgicas, a partir da gerao de flutuaes nos preos relativos, que induzem os indivduos a alterarem a sua oferta de trabalho e o seu padro de consumo. Da pode-se depreender a concluso de que as polticas de estabilizao e estmulo ao crescimento por parte do governo, no aumentaro o bem-estar dos agentes econmicos, posto que este ltimo variar a partir de outras premissas. Por fim, vale a seguinte meno: um locus econmico em que o governo ainda teria capacidade de influenciar a trajetria do PIB de forma mais sustentada seria atravs de polticas microeconmicas que incrementassem os incentivos para firmas e trabalhadores, disporem maiores quantidades de produto e trabalho, respectivamente. Para isso, seria fundamental que o governo entendesse como funo e objetivo a manuteno da estabilidade do cenrio econmico de curto prazo, e a constante factibilidade de expanses no lado da oferta.