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A EPISTEMOLOGIA GENTICA DE JEAN PIAGET: UMA ARTICULAO CRTICO
REFLEXIVA1
Ana Maura Tavares dos AnjosMestra em Educao pelo Programa de Ps-Graduao em Educao - UECE Professora substituta da Faculdade Dom Aureliano Matos (FAFIDAM/UECE)
Universidade Estadual do [email protected]
Andra da Costa SilvaDoutoranda em Educao pelo Programa de Ps-Graduao em Educao UECE
Professora substituta da Universidade Estadual do Cear (CCS/UECE)Universidade Estadual do Cear
RESUMOO presente artigo tem como objetivo discutir a teoria denominada Epistemologia Gentica de Jean Piaget. Nesse sentidotrazemos como objeto de pesquisa o estudo das seguintes categorias tericas: contextualizao histrica; Concepo dehomem e de conhecimento; Relao teoria-prtica; Fins sociais da Educao e o lugar do professor no processoeducativo. Para isso utilizamos os pressupostos da pesquisa bibliogrfica. O estudo revelou a grande contribuio dePiaget para a Psicologia e para os estudos do desenvolvimento humano, tendo implicaes na educao e na prticapedaggica do professor.
Palavras-chave: Epistemologia Gentica. Educao. Construtivismo.
1INTRODUO
O presente trabalho tem como objetivo discutir os principais aspectos da teoria da
Epistemologia Gentica de Jean Piaget, englobando a sua concepo de homem, a relao
indivduo-sociedade, relao teoria-prtica, os fins sociais da educao e o papel do professor no
processo educativo, as aplicaes da teoria pratica educativa, alm de apresentar uma
contextualizao histrica da vida e obra deste autor. O presente trabalho tem como objetivo
discutir os principais aspectos da teoria da Epistemologia Gentica de Jean Piaget sob um olhar
crtico reflexivo no mbito da sua articulao formao de professores.
A importncia e xito dos postulados de Piaget possibilitou novas formas de conduzir o
processo de ensino-aprendizagem, baseada na concepo da criana como sujeito ativo, dando
origem s escolas denominadas construtivistas desde a dcada de 1980, no contexto educacional
brasileiro.
Contudo, Piaget em seu legado, no prope mtodo de ensino nem tampouco dita caminhos
sobre o qu e como ensinar. Mas desenvolveu uma teoria sobre como a criana e/ou adolescente
1 Trata-se de um trabalho curricular resultante da disciplina denominada Teorias da Educao que integra o Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Estadual do Cear (UECE).
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aprendem, fornecendo assim, referencial luz dos limites e possibilidades dos indivduos. Assim,
trazemos como objeto de pesquisa o estudo das seguintes categorias tericas: Contextualizao
Histrica; Essncia humana; Conhecimento; Relao teoria-prtica; tudo isso racionalizando acerca
dos fins sociais da Educao e do lugar do professor no processo educativo. Para tanto utilizamos os
pressupostos da pesquisa bibliogrfica.
2 A EPISTEMOLOGIA GENTICA DE JEAN PIAGET
O sculo XX conheceu Sir Jean Willian Fristz Piaget (1896-1980) ou simplesmente Piaget,
um dos mais importantes pensadores da poca. Bilogo que dedicou a vida a submeter observao
rigorosa o processo de aquisio do conhecimento pelo ser humano, principalmente a criana. Jean
Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, em Neuchtel, regio ocidental da Sua. Foi o fundador da
Epistemologia Gentica, isto , uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural
da criana, que ele transformou no grande projeto de sua vida. Foram sessenta anos de pesquisa que
resultou numa teoria rigorosa, refinada e extremamente minuciosa, construda ao longo de sua vida.
Desde a infncia, se interessou por mecnica, pssaros e fsseis. Em julho de 1907, aos dez anos,
publicou seu primeiro texto sobre um pardal albino, em uma revista naturalista chamada Sociedade
dos Amigos da Natureza de Neuchtel e seus arredores. Piaget, ainda na infncia, dedicou-se a
certas tarefas com a seriedade e a responsabilidade de adulto.
A viso de homem de Piaget fundamental para entender sua teoria. Para ele, o homem
uma totalidade que se esfora para a manuteno do todo por meio da permuta constante entre o
sujeito e o meio. Tudo se passa no sentido de manter a unidade, ou ainda, o equilbrio. Piaget, ento,
possui uma viso de homem distinta das teorias empiristas, como o behaviorismo, por exemplo, e
das teorias inatistas. Para os tericos empiristas, o conhecimento tem origem e evolui a partir da
experincia que o sujeito vai acumulando, acreditando assim, que o homem produto do ambiente.
Diante do exposto, percebe-se que a concepo de homem de Piaget a de que o sujeito
cognoscente encontra-se em relao com o objeto cognoscvel, e tal relao indissocivel na
construo do conhecimento. De acordo com Lima (1980), Piaget demonstra, literalmente, o
neodarwinismo, mostrando que a evoluo iniciativa do organismo, jamais o resultado do acaso
das mutaes e da seleo natural. [...] a partir da biologia, a criana refaz o seu desenvolvimento,
o processo filogentico de produo histrica do conhecimento da humanidade ou, melhor dizendo:
A humanidade reproduz a ontognese do desenvolvimento infantil. (LIMA, 1980 p. 40).
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O desenvolvimento um processo de equilibrao progressiva de um estgio de menor
equilbrio para um estgio de equilbrio superior. Para que o indivduo possa atingir o equilbrio
dois fatores invariveis so acionados: assimilao e acomodao. Por assimilao Piaget
compreende o processo de integrao de novas informaes motoras ou conceituais, aos esquemas
existentes, e por acomodao o processo de modificao dos esquemas de assimilao sob a
influncia de situaes exteriores (meio) ao quais se aplicam. Nessa linha de pensamento, Piaget
(1999) descreve a evoluo da criana e do adolescente descrevendo as estruturas variveis, assim
descreve seis estgios do desenvolvimento que marcam o aparecimento de estruturas originais e
dependentes das estruturas que as antecedem.1 o estgio dos reflexos, ou mecanismos hereditrios e das primeiras emoes. 2 o estgiodos primeiros hbitos motores e das primeiras percepes organizadas, como tambm dosprimeiros sentimentos diferenciados. 3 o estgio da inteligncia sensrio-motora dasregulaes afetivas elementares e das primeiras fixaes exteriores da afetividade. 4 oestgio da inteligncia intuitiva, dos sentimentos interindividuais espontneos e dasrelaes sociais de submisso ao adulto. 5 o estgio das operaes intelectuais concretas edos sentimentos morais e sociais de cooperao. 6 o estgio das operaes intelectuaisabstratas, da formao da personalidade e da insero afetiva e intelectual na sociedade dosadultos. (PIAGET 1999, pg. 15).
H em sua teoria, quatro perodos gerais de desenvolvimento cognitivo: o sensrio-
motor que vai do nascimento ao cerca de dois anos de idade, nesse estgio a nica referncia o
prprio corpo da criana, decorrendo da o pensamento egocntrico. A criana evolui
cognitivamente, passando por outros estgios, at que, no fim do perodo sensrio-motor, comea a
descentralizar as aes em relao ao prprio corpo e a consider-lo como um objeto entre os
demais. Em seguida a criana evolui para o perodo pr-operacional, que vai dos dois aos seis ou
sete anos. Por meio da linguagem, dos smbolos e imagens mentais, inicia-se uma nova etapa do
desenvolvimento mental da criana, na qual o pensamento comea a se organizar, embora ainda no
reversvel o incio do perodo operacional-concreto se dar entre 7 e 8 anos e se prolonga aos 11 ou
12 anos, onde inicia-se perodo das operaes hipottico-dedutivas ou perodo operacional-formal.
interessante destacar que conforme Piaget alguns indivduos no atinge o pensamento da lgica
das operaes formais, sendo regidos por perodos anteriores. A preocupao central de Piaget ao
tentar entender a construo do conhecimento recai na inteligncia que, segundo ele, se constitui
simplesmente de adaptaes biolgicas.
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3 ANLISES E DISCUSSES: APLICAES DA TEORIA PSICOGENTICA
FORMAO DE PROFESSORES E PRTICA EDUCATIVA
Embora a obra de Jean Piaget estabelea relao com os problemas educacionais, ele nunca
se dedicou a pesquisar na e sobre a escola. Dessa forma, ressaltamos que Piaget no deve ser visto
como um terico da educao, mas como um terico, pioneiro na teoria do desenvolvimento, que
despertou interesse de diversas reas, inclusive da educao.
Ele pesquisava crianas a fim de entender os nveis pelos quais as crianas passam para
estruturar seus conhecimentos. Como salientado anteriormente neste texto Piaget no intentou
aplicar a sua teoria ao contexto da escola, porm outros o fizeram. Muitos estudiosos da obra de
Piaget, procuraram aplicar os seus postulados prtica educacional, como por exemplo, Constance
Kamii (1996) que defendeu a construo de estruturas lgicas como objetivo da educao. Por
ltimo, no se pode deixar de ressaltar o trabalho das educadoras Emlia Ferreiro e Ana Teberosky
(1986) que baseadas na teoria do sujeito ativo de Piaget pesquisaram as hipteses que as crianas
tecem sobre a lngua escrita, considerando que o processo de aquisio da escrita no
simplesmente uma decodificao mecnica, mas que as crianas pensam e formulam suas prprias
hipteses.
Neste sentido, este conhecido pesquisador na rea do desenvolvimento humano se props a
escrever o que seria seus nicos dois livros acerca da educao: Psicologia e Pedagogia (PIAGET,
1969) e Para onde Vai a Educao? (PIAGET, 1972). Destes, vrias edies foram lanadas. Em um
de suas obras Piaget pondera que: A educao no uma simples contribuio, que se viria a
acrescentar aos resultados de um desenvolvimento individual espontneo ou efetuado com o auxilio
apenas da famlia (2002, p. 35). Para ele:[...] do nascimento at o fim da adolescncia a educao uma s, e constitui um dos doisfatores fundamentais necessrios formao intelectual e moral, de tal forma que a escolafica com boa parte da responsabilidade no que diz respeito ao sucesso final ou ao fracassodo indivduo, na realizao de suas prprias possibilidades e em sua adaptao vidasocial (Piaget, 2002, p. 35).
Sua abordagem construtivista e defende uma orientao interacionista em que o ser
humano se desenvolve pela interao entre os homens e pela sua ao no mundo, reflexo esta que
cabe ao processo de formao de professores, uma vez que, o interacionismo, por sua vez, sob a
influncia da psicologia biolgica e do experimentalismo, atravessa essas duas tendncias: no h
um sujeito e um objeto j constitudos a priori, mas sujeito e objeto s se constituem atravs de uma
interao. Por sua vez, a origem do conhecimento no est no sujeito, nem dado pelo objeto, mas
vai sendo construda, se formando e se transformando na interao entre sujeito e objeto.
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Portanto, as dicotomias presentes em outras concepes como homem-mundo, sujeito-
objeto, professor-aluno, encontram-se, para o interacionismo, inter-relacionadas.Para chegar atravs da combinao entre raciocnio dedutivo e os dados da experincia compreenso de certos fenmenos elementares, a criana necessita passar por um certonmero de fases caracterizadas por ideias que adiante ir considerar erradas, mas queparecem ser necessrias para o encaminhamento s solues finais corretas. (PIAGET,2002, p. 18)
Para educar uma pessoa, bem como, repassar os contedos curriculares devemos considerar
o conhecimento prvio da criana, bem como respeitar sua respectiva fase de desenvolvimento.
Piaget defende o mtodo psicogentico onde afetividade e inteligncia est inter-relacionada, mas o
conhecimento, fruto do trabalho docente, para Piaget sinnimo de uma construo e no inata ao
indivduo. Neste sentido, o docente tem a funo de subsidiar o processo de aprendizagem
estimulando as crianas ao desenvolvimento e consequente aprendizado e evoluo cognitiva
(LIMA, 1980). Piaget em seu legado, no prope mtodo de ensino nem tampouco dita caminhos
sobre o qu e como ensinar, mas, desenvolveu uma teoria sobre como a criana e/ou adolescente
aprendem, apontando um norte, fornecendo referencial luz dos limites e possibilidades dos
indivduos. Sobretudo,as descobertas de Jean Piaget mostraram que o tempo escasso da pr-escola insuficientepara desenvolver a complexa infraestrutura das noes numricas, geomtricas elingusticas que se vo seguir. Pode-se dizer, hoje, que no h perodo escolar mais denso ecomplexo que o pr-escolar, tal a variedade de aquisies fundamentais necessrias para oprosseguimento do desenvolvimento da criana. (LIMA e LIMA, 1981, p.71).
Para ele, a escola e a sala de aula devem ser lugar de explorao e descobertas, sendo o
discente sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem. Para a escola atingir os fins sociais da
educao, preciso garantir para toda criana o pleno desenvolvimento de suas funes mentais e a
aquisio de conhecimentos bem como dos valores morais que correspondam vida social atual
(PIAGET, 2002). Piaget (2002) ainda discorre em sua obra Para onde vai a educao? sobre a
escolaridade elementar obrigatria que para ele sim, deve ser gratuita e o material tambm deve ser
fornecido gratuitamente, pois so extremamente importantes na adoo dos mtodos ativos. Destaca
ainda que os pais devem ser formados ou ao menos informados sobre a melhor educao a ser dada
aos seus filhos.
4 CONSIDERAES FINAIS
guisa de concluses inferimos que o levantamento bibliogrfico para construo deste
artigo possibilitou o acesso ao conhecimento crtico a cerca da epistemolgica gentica de Jean
Piaget (1896-1980), que foi um nome influente no campo da educao durante a segunda metade do
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sculo XX. Conforme pudemos perceber, no existe, um mtodo Piaget. Segundo ele a
aprendizagem est atrelada ao desenvolvimento biolgico, que necessariamente fornece as
estruturas biolgicas e maturacionais para que esta ocorra. Para ele a aprendizagem por meio de
processos invariantes denominados por ele de assimilao e acomodao processos que
modificam as estruturas mentais, em um permanente processo de adaptao.
Piaget ressaltou, em suas obras, o papel da sociedade e dos fatores sociais no
desenvolvimento do indivduo, mas no os considera como preponderantes. Cremos nisso, pois em
vrias passagens de sua obra, o autor reafirma a importncia da experincia individual e da relao
indivduo-meio ambiente. Assim, destacamos um aspecto polmico de sua teoria: o
desenvolvimento psicolgico-cognitivo ocorre como resultado de um processo interno sem levar em
considerao toda a gama de fatores histrico-sociais presentes na formao biopsquica e social do
humano. Assim, Piaget no deve ser visto como um terico da educao, mas um terico, pioneiro
na teoria do desenvolvimento, que despertou interesse de diversas reas, inclusive da educao e
seus postulados apontam reflexes pertinentes ao desenvolvimento infantil, mas tambm humano
inclusive docente.
REFERNCIAS
FERREIRO, E. & TEBEROSKY, A. Psicognese da Lngua Escrita. Porto Alegre, Artes Mdicas, 1986.
KAMII, C. A criana e o nmero: Implicaes Educacionais da Teoria de Piaget para a Atuao junto a Escolares de 4 a 6 anos. Papirus, 1996.
LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget para principiantes. So Paulo: Summus, 1980 (novas buscas em educao v. 8)
______________________; LIMA, Ana Elisabeth Santos de Oliveira. Uma Escola Piagetiana. Riode Janeiro: Paidia, 1981.
PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Trad. Dirceu A. Lindoso; Rosa M.R. da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1969. 182p
___________. Para onde vai a educao? Traduo de Ivette Braga. Rio de Janeiro: Livraria Jos Olympio Editora. 1972. 89p.
___________. Seis estudos de Psicologia. 24 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1999.
___________. Para onde vai a educao? Traduo de Ivette Braga. 16 ed. - Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2002.
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TAILLE, Y; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenticas em discusso. Summus Editorial. So Paulo, 1992.
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Ana Maura Tavares dos [email protected]