A eficcia da fisioterapia preventiva do trabalho na reduo do nmero de colaboradores em acompanhamento no ambulatrio de

fisioterapia de uma indstria de fios txteis

Rodrigo Mendes Wiczick (CEFET-PR) lrw@mps.com.br Valquria Demarchi (CEFET-PR) valquiria.demarchi@cocamar.com.br

Nilton Pirassol de Camargo (CEFET-PR) nilton.camargo@cocamar.com.br Tas Larissa Silva (CEFET-PR) tais.silva@cocamar.com.br

Luiz Alberto Pilatti (CEFET-PR) pilatti@pg.cefetpr.br

Resumo

A ergonomia possui carter interdisciplinar e utiliza conhecimento de vrias reas cientificas, considerando fatores ambientais, aspectos fsicos, cognitivos e psquicos para adaptar o posto de trabalho e o ambiente s caractersticas e necessidade do trabalhador. Neste trabalho foi realizado um acompanhamento mensal dos funcionrios da indstria, identificando os funcionrios que apresentavam problemas ou sintomas de leses decorrentes das atividades repetitivas no posto de trabalho. Aps este diagnstico pelo ambulatrio de fisioterapia, foi realizado um trabalho preventivo de anlise da postura do funcionrio no seu posto, identificando os fatores de riscos ergonmicos e atuando preventivamente, mudando as posturas e em alguns casos o equipamento para se adequar nova realidade, e com isso conseguiu-se uma reduo gradativa nos caso de DORT, Absentesmo, Acidente de trabalho e reduo de Turnover. Palavras chave: Fisioterapia preventiva; Ambulatrio de fisioterapia; DORT; Turnover.

1. Introduo A partir da dcada de 80 no Brasil, aps o aparecimento do fenmeno LER/DORT, a prtica dos programas de preveno e tratamento, tem mostrado ser um problema de difcil soluo sem um planejamento de aes que obedeam a um cronograma de prioridades, e estes dados tabulados estatisticamente contribuem no processo para a aproximao de uma possvel soluo final. A globalizao da economia e o desenvolvimento tecnolgico tm exigido dos profissionais da rea de sade e segurana do trabalho uma atuao imediata e contnua, adaptando as novas condies laborais ao trabalhador. Fenmenos da atualidade exigem uma nova postura no mbito ocupacional.

Segundo Deliberato (2002), a preveno a melhor forma de combater os distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.

Segundo Mendes e Leite (2004), A prescrio de exerccios fsicos, visando aumentar a fora muscular, uma tentativa de reforar regies especficas. Os reforos musculares, associados a um trabalho ergonmico, diminuem a possibilidade de os trabalhadores apresentarem LER/DORT.

A fisioterapia do trabalho uma especialidade da fisioterapia que atua na preveno, resgate e manuteno da sade do trabalhador, abordando os aspectos da ergonomia, biomecnica, atividade fsica laboral e a recuperao de queixas ou desconforto fsicos, sob o enfoque multitiprofissional e interdisciplinar, com o propsito de melhorar a qualidade de vida do trabalhador, evitando a manifestao de queixas msculo-esquelticas de origem ocupacional ou no, com conseqente aumento do bem estar, desempenho e produtividade.

Tem como objetivos, avaliar, prevenir e tratar distrbios ou leses decorrentes das atividades no trabalho, realizar estudo ergonmico do trabalho junto equipe de sade e segurana do trabalho, proferir palestras de conscientizao, capacitao e treinamento preventivo de doenas ocupacionais, realizarem avaliao postural e anlise biomecnica das tarefas nos postos de trabalho, desenvolver programas de ginstica laboral e ser responsvel pelo programa de tratamento de queixas msculo-esquelticas com a utilizao de todos os recursos fisioteraputicos disponveis atravs de:

- ambulatrio na empresa; - ambulatrio ou clnica fora da empresa.

Este artigo tem como objetivo analisar a insero da fisioterapia preventiva do trabalho no ambiente laboral de uma indstria de fios txteis na regio norte do estado do Paran. O mtodo de ao e os benefcios em termos de melhoria de sade, bem-estar e qualidade de vida dos trabalhadores de uma organizao, influem em todas as reas da empresa, desde o recrutamento e seleo pelo perfil desejado at a reduo significativa dos casos acompanhados pelo ambulatrio de fisioterapia.

1.1 LER/DORT e fisioterapia preventiva A definio presente na Norma Tcnica (ordem de servio 606 de 05/08/98) do INSS (1998) conceitua como uma sndrome clnica caracterizada por dor crnica, acompanhada ou no de alteraes objetivas e que se manifesta principalmente no pescoo, cintura escapular e/ou membros superiores em decorrncia do trabalho, podendo afetar tendes, msculos e nervos perifricos.

Para Caillet (2000), os distrbios msculo-esquelticas relacionados ao trabalho so definidos como compensao dos trabalhadores frente s condies redutivas a que esto sujeitos.

Assuno (1995), em sua abordagem sobre LER/DORT, define como sendo o nome dos distrbios de origem ocupacional que atingem dedos, punhos, antebraos, cotovelos, braos, ombros, pescoo e regies escapulares, resultantes do desgaste muscular, tendinoso, articular e neurolgico provocado pela inadequao do trabalho ao ser humano que trabalha.

Galafassi (1998), define LER/DORT como sendo patologias que se instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo, e que so conseqncia do trabalho.

Para Couto (2002), DORT constitui-se no principal problema de natureza ergonmica nos tempos atuais no mundo. Ocasionam dores fortes, associadas incapacidade temporria para o trabalho.

Deliberato (2002), afirma que o fenmeno DORT deve ser entendido com sendo o produto das interaes que ocorrem entre o ser humano e seu ambiente, havendo a presena de condies fsicas e psquicas predisponentes, associadas a um ambiente de trabalho facilitador, cada vez mais incentivador de aspectos quantitativos em detrimento aos aspectos qualitativos.

O fisioterapeuta do trabalho diferenciado dos outros profissionais da rea, pois no s atua em grande parte do tempo no ambiente natural da clnica de fisioterapia e hospital, como tambm indo ao ambiente onde esto os problemas, nesse caso a indstria. Para atuar na preveno, necessrio que o fisioterapeuta possua viso e formao prevencionista, saiba agir rpida e eficientemente tanto para reconhecer processos quanto para estabelecer as medidas da ao e principalmente conhecer os processos fisiopatolgicos, pois s se pode prevenir o que se conhece.

Segundo Deliberato (2002), a sade ocupacional ou profissional implica na soma de todos os esforos para melhorar a sade do trabalhador, tanto em seu ambiente de trabalho como na comunidade. O objetivo bsico a preveno em todos os nveis, antes, durante e depois da instalao de patologia, empregando todos os tipos de esforos e estratgias visando atingir a satisfao laboral plena. 2. Descrio da empresa A empresa em questo atua h 20 anos no mercado, compreendendo um quadro de 640 colaboradores, distribudos entre os setores produtivos (500 colaboradores), manuteno, administrativo, controle de qualidade, planejamento e controle de produo, desenvolvimento de novos produtos, atendimento ao cliente, e planejamento e controle de manuteno.

Os colaboradores do setor produtivo, e parte dos setores de manuteno e laboratrio trabalham no sistema de revezamento 5 x 1 distribudos em trs turnos.

O programa foi implementado visando melhorar a qualidade de vida do quadro de colaboradores, pois a empresa possui um elevado ndice de rotatividade, absentesmo, acidentes de trabalho e afastamento por doenas ocupacionais.

3. Metodologia O estudo de caso na Indstria de Fios em questo foi conduzido de acordo com a metodologia cientfica e com as avaliaes fsicas e ambientais.

Foram examinadas e discutidas as oito fases abaixo relacionadas:

- Reabilitar e treinar cinesiologicamente o colaborador para realizar as atividades laborais corretamente, dando conseqentemente suporte para Indstria de fios quanto a atestados e faltas ocupacionais;

- Nesta fase foram estudadas as metodologias de: contratao, execuo e resultados.

- Nesta fase observou-se a adaptao dos colaboradores contratados, assim como as orientaes durante o treinamento, e a incidncia dos possveis focos de leses msculo-esquelticas ocupacionais;

- Foram tabulados os dados referentes s espirometrias de colaboradores objetivando-se estudar o padro dos colaboradores e sua relao com a incidncia de leses msculo-esquelticas ocupacionais e no ocupacionais;

- Todos os colaboradores foram submetidos a responder um questionrio para anlise crono-biolgica;

- Os postos de trabalhos foram quantificados quanto a repetitividade, intensidade e durao do trabalho durante os turnos do setor. Assim como a organizao operacional dos colaboradores;

- Todos os colaboradores foram avaliados fisicamente, com o objetivo de identificar os padres finais, focos de leses msculo-esquelticas ocupacionais e suas incidncias;

- Todas as informaes sero cruzadas e analisadas devidamente com suas caractersticas para elaborao de laudos conclusivos.

4. Resultados Foram coletados dados de um levantamento estatstico referente ao programa de fisioterapia preventiva, com estudos ergonmicos e fisiolgicos realizados em uma Indstria de Fios no

Paran de maro de 2004 a maro de 2005, sendo que os dados apresentados abaixo nas tabelas apresentam valores referenciais desde 1998.

A coleta de dados abrange o perodo de janeiro de 1998 at maro de 2005. A implantao e adaptao do sistema de preveno e acompanhamento pela fisioterapia preventiva do trabalho tiveram inicio em maro de 2004. As informaes coletadas referenciam absentesmo, DORT, turnover e acidentes de trabalho com afastamento.

Abaixo esto apresentados os dados de colaboradores da empresa que trabalham a maior parte do tempo na posio em p. Todas as pessoas relatadas foram atendidas por fisioterapeutas no ambulatrio na rea de servio especializado em engenharia de segurana e medicina do trabalho da empresa, trabalhando com intervenes curativas e enfoque preventivo.

Porcentagem de Rotatividade - 1998 a 2005

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

1998 Regime

6x1

1999 Regime

6x1

2000 Regime

5x1

2001 Regime

5x1

2002 Regime

5x1

2003 Regime

5x1

2004 Regime

5x1

Jan Fev Mar Abr

2005Periodo

Rot

ativ

idad

e (%

)

Figura 1 - Turnover perodo de janeiro de 1998 a maro de 2005

Porcentagem de Absentesmo 1998 a 2005

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

5,00

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Jan Fev Mar

2005

Perodo

Abse

nte

smo

(%)

Figura 2 - Absentesmo perodo de janeiro de 1998 a maro de 2005

QUANTIDADE DE ACIDENTES DE TRABALHO COM ABERTURA DE CAT x

TAXA DE GRAVIDADE DOS ACIDENTES - 1998 A 2005

0

5

10

15

20

25

30

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Jan Fev Mar

2005

Qua

ntid

ade

de A

T's

0

200

400

600

800

1.000

1.200

Taxa

de

Gra

vida

de d

e A

T's

Acidentes de TrabalhoTaxa de gravidade

N de AT's: 2000: 26; 2001: 12; 2002: 19; 2003: 19.Dias afastados por AT: 2000: 995; 2001: 458; 2002: 307; 2003: 910.

Figura 3 - Acidentes de Trabalho e Taxa de Gravidade perodo de janeiro de 1998 a maro de 2005

Nmero de Afastados

0

10

20

30

40

50

60

70

80

jan/03

mar/0

3

mai/0

3jul

/03se

t/03

nov/0

3jan

/04

mar/0

4

mai/0

4jul

/04se

t/04

nov/0

4jan

/05

mar/0

5

Perodo

Nm

ero

de C

olab

orad

ores

Figura 4 - DORT e Afastamentos perodo de maro de 2004 a maro de 2005

- 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Absentesmo (%) Acidente Trabalho Turnover

Figura 5 - Histrico perodo de 1998 a maro de 2005

6. Anlise e discusso Foi implantado o programa de ginstica laboral, composto de atividades fsicas realizadas voluntria e coletivamente pelos colaboradores em tempo disponibilizado pela empresa no prprio local de trabalho. Estas atividades fsicas so realizadas diariamente com durao de 08 a 12 minutos durante o expediente de trabalho.

Para a implantao das atividades de ginstica laboral foram adotadas as seguintes etapas:

- Diagnstico das atividades laborais para o planejamento da atividade fsica; - Sensibilizao dos colaboradores para o desenvolvimento da ginstica; - Seleo e treinamento dos colaboradores para serem facilitadores; - Acompanhamento e avaliao dos resultados.

Os resultados obtidos so significativos, principalmente quanto preveno de doenas ocupacionais como as DORT distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Entre outros benefcios da ginstica laboral, h tambm a observao da reduo de dores musculares, da fadiga mensal, de afastamentos do trabalho, do stress, da ansiedade, da depresso, da tenso e da rotatividade (ZILLI, 2002).

Foi realizado um estudo regional para direcionamento das contrataes por rea, identificando padres fsicos adequados para trabalhar nos diversos setores, havendo melhorias com a implantao da avaliao fsica por fisioterapeutas durante o processo de recrutamento, admisso e adequao das contrataes de colaboradores fisicamente incapacitados para exercer determinados nveis de esforos fsicos, identificando possveis mecanismos existentes e potenciais de leses ocupacionais.

Paralelamente a estas atividades foram realizados estudos de atestados, faltas, suspenses, demanda de problemas encaminhados assistncia social e psicolgica, com a finalidade de determinar os focos de absentesmo e rotatividade para assim direcionar o recrutamento e as contrataes.

O estudo tambm se preocupou com a incidncia das leses ocupacionais em suas devidas propores, havendo levantamento estatstico das patologias tratadas no servio de fisioterapia dentro da empresa e tambm a avaliao dos postos de trabalhos, havendo ainda a readequao dos equipamentos conforme as necessidades posturais.

Foi possvel visualizar atravs dos grficos, redues nos ndices de absentesmo, turnover, acidentes de trabalho e afastamentos, salientando que o programa de fisioterapia preventiva teve inicio no ano de 2004.

7. Concluso Atravs deste programa foi possvel melhorar a qualidade de vida dos colaboradores, pois a empresa apresentava um elevado ndice de DORT, Absentesmo, afastamento e acidente de trabalho e com os resultados obtidos pde-se constatar a efetividade da eficcia da fisioterapia preventiva, a qual reduziram de maneira gradativa as incidncias de leses ocupacionais nos postos de trabalho.

Atravs de observao subjetiva, oriunda de entrevistas e aplicao de questionrio, foi identificada uma queda no nmero de atendimentos, principalmente quanto a alteraes de membros superiores, regio corporal responsvel pela maior incidncia de doenas osteomusculares no corpo humano, fator relevante que justifica a eficcia de um servio de fisioterapia dentro da empresa.

Os distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho so fundamentais para a elaborao de uma proposta ergonmica e cargas cognitiva, psquica e fsica do trabalhador, otimizando o desempenho da tarefa, o rendimento do trabalho e a produtividade.

Os resultados obtidos atravs da implantao do programa de preveno fisioteraputica foram alcanados tambm graas ao comprometimento da alta direo e dos gestores.

Referncias MENDES, R. Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995.

ASSUNO, A. A. Sistema msculo-esqueltico: leses por esforos repetitivos.

CAILLET, R. Doenas dos tecidos moles. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 467

COUTO, H.A. Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lies. Porto Alegre: Ergo, 2002.

DELIBERATO, P.C.P. Fisioterapia Preventiva. 1 ed. So Paulo: Manole, 2002.

GALAFASSI, M. C. Medicina do Trabalho: Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional. So Paulo: Atlas, 1998. p. 37.

MENDES, R.A.; LEITE, N. Ginstica Laboral: Princpios e aplicaes prticas. 1 ed. So Paulo: Manole, 2004. p.175

ZILLI, Cynthia Mara. Ginstica Laboral e Cinesiologia, uma tarefa interdisciplinar com ao multiprofissional. Curitiba: Lovise, 2002.

A eficcia da fisioterapia preventiva do trabalhResumo