A Educação Proibida

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS CENTRO DE ARTES ARTES VISUAIS - LICENCIATURA ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO I ANÁLISE A EDUCAÇÃO PROIBIDA (CAMPOS, Germán Doin. La Educación Prohibida. Filme. Argentina, 2012. 145 min. Documentário.) Gabriel Nogueira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

CENTRO DE ARTES

ARTES VISUAIS - LICENCIATURA

ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO I

ANÁLISE

A EDUCAÇÃO PROIBIDA(CAMPOS, Germán Doin. La Educación Prohibida. Filme. Argentina, 2012. 145

min. Documentário.)

Gabriel Nogueira

PELOTAS, 2013

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A Educação Proibida é um documentário Ibero-América produzido,

filmado e distribuído de forma colaborativa, que visa expor o sistema de

educação ocidental, criticando e abrindo espaço para questionamentos acerca

do modelo educacional atual, advindo de tempos atrás e até hoje permanente.

A educação infantil como obrigatória hoje tem seu formato baseado no

modelo militar criado na Prússia no século XVIII, que buscava categorizar e

preparar esses estudantes para um mundo competitivo e cheio de regras. Para

isso, a educação obrigatória se utilizava e, ainda hoje se utiliza, de meios de

incentivar essa competição não saudável que apenas desprivilegia grupos que

sofrem dificuldades de aprendizado, a desconfiança, o desrespeito, a violência

emocional, o individualismo, etc.

A escola surge em sua essência como uma forma de controlar ideias

populares, agregando ainda o valor de um povo reacionário e sempre passivo a

fomentar revoluções. Então temos a base de uma administração, onde a escola

é apenas uma forma de administrar o povo, semelhantemente a uma linha de

produção.

Os professores, que muitas vezes nem podem ser chamados de

educadores, desempenham o papel de líderes autoritários, direcionadores de

opiniões em ações, sempre com uma posição de superioridade perante aos

educandos. Os educandos, por sua vez, pouco cumprem seu real papel, que é

frequentar uma instituição que os prepare para aprender a buscar suas

próprias respostas e soluções, aprender a conviver em sociedade, interagir

com as outras pessoas, compreender que o que lhe é ensinado (ou deveria

ser) é apenas a primeira ferramenta para seu real crescimento e evolução.

A maior dificuldade quando se trata da relação entre professor e aluno é

entender a prática de uma pedagogia libertadora e integrada, onde não há um

opressor detentor do poder, e sim a interação de todos no processo de

educação (FREIRE, 1987).

As avaliações tradicionais incentivam, mais uma vez, a acirrada e

irracional competição entre os alunos, onde provas, testes de conhecimento e

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formas disfarçadas de avaliar a capacidade do aluno de decorar o que lhe é

dito.

Em sua base, a escola é uma linha de produção, ela testa aptidões a

cerca de uma produção educacional falha. Dentro de uma instituição de ensino

os alunos são “adestrados” a realizar funções primarias, onde dentro de um

processo de triagem descobre-se uma aceitação, sobre questões que são

formuladas não por educadores, mas sim por estudiosos que não pensam em

uma forma didaticamente considerável de debater esse conhecimento.

Seguindo essa linha lógica de raciocínio, há uma separação. Dentro de

um campo temos os alunos aptos a passar para um próximo nível, estes estão

prontos para ingressar na vida acadêmica, na qual passarão por mais uma

série de provas, nas quais irá se especializar em um ofício. Já o excedente,

que não for capaz cumprir as tarefas primárias, será no geral marginalizado

pela sociedade além de cumprir com as tarefas “braçais” dentro da sociedade,

sem uma grande esperança de obter um “bom” emprego.

O primeiro passo para se mudar essa planificação de vida imposta pelo

sistema de educação atual é realmente instruir de forma educadora, e não

impositora. Sendo educados e instruídos, os indivíduos passam a abrir seus

pensamentos para o mundo a sua volta, pois é a partir da instrução que surge

o pensamento crítico e a percepção (FREIRE, 1967)

Com um resultado semelhante a muitas pessoas, minha vivência

particular em arte foi baseada em uma arte sem expressão, algo que pairava

entre terapia ocupacional e alguma coisa destinada a preencher aquele mínimo

de tempo na grade curricular, na maioria do tempo.

Aprendi em muitos momentos dentro das aulas que a real importância

da arte era apenas para com o desenho, e dentro dele havia uma grande

ênfase no desenho de observação ou na falsa busca pelo realismo. Em muitos

os momentos vivi uma referência de arte que buscava apenas um conceito do

belo.

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Uma das mais fortes memórias ocorre dentro do Ensino Médio, no qual a

professora questiona a turma acerca do que achávamos ser arte, e como

resposta ela diz que todos estávamos errados e obriga-nos a copiar um

conceito de arte escrito pela mesma. Lembro-me que já na época achei o

conceito bastante falho.

Porém, em determinados momentos, obtive aulas interessantes, nas

quais boa parte eram orientadas por estudantes cursando sua disciplina de

estágio. Boa parte delas era guiadas por debates acerca do que achávamos da

arte no mundo atual, o que foi a arte no passado e quais as influências dela na

atualidade, trazendo para o ambiente escolar mais do que teoria e conceitos,

mas sim meios de relacionar o tema arte com o a nossa realidade como

estudantes.

Contudo, posso convir que minha experiência com arte foi em certa

parte falha, mas salva por pessoas que realmente entendiam do que falavam e

tinham uma humanização em realizar uma vivência ao invés de proporcionar

apenas mais do mesmo.

A Educação Proibida foi produzido em 2012, em uma realidade bem

parecida com a nossa, tendo como problemática um assunto que não é nem

recente, nem isolado. O filme mostra claramente que a situação educacional

caótica é consequência de uma série de erros cometidos há muitos anos atrás,

mas que continuam sendo aceitos como acertos.

Quando o assunto é a educação, nosso país cai em um mar de dúvidas

e falhas. A escola deve ser pensada como parte da formação da

personalidade, do caráter, da cultura e dos conhecimentos do indivíduo, e não

apenas como um transmissor de informação repetitiva e desatualizada.

A intenção da produção se assemelha muito ao propósito do filme Entre

os Muros da Escola (2008),que expõe a realidade vivida no mundo escolar e

contrastar o choque de culturas nesse ambiente, a partir da visão francesa.

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Dessa forma, ambos os filmes pretendem estudar e demonstrar as

relações que o jovem tem com seus colegas e professores, como se dá o seu

processo de aprendizado e como ele é falho, sendo isso parte essencial para o

entendimento desse estudante.

A educação proibida serve não como um retrato da sociedade, e sim

como a base de um pensamento que merece ir muito mais além, de forma a

criarmos meios para mudar os problemas encontrados.

REFERÊNCIAS

CANTET, Laurent. Entre les Murs. Filme. França: Sony Pictures, Imovision, 2008. 128 minutos.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1967.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.