A educação Patrimonial na perspectiva da gestão do patrimônio edificado

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 A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA PESPECTIVA DA GESTÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO LA EDUCACIÓN PATRIMONIAL EM LA PERSPECTIVA DE LA GESTIÓN DEL PATRIMONIO CONSTRUIDO THE HERITAGE EDUCATION IN THE PERSPECTIVE OF BUILT HERITAGE MANAGEMENT 4. Identificação, intervenção e gestão do patrimônio edificado: instrumentos, metodologias e técnicas Lorena de Andrade Castiglioni Mestranda em Arquitetura e Urbanismo, Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento (DAU / UFES). Renata Hermanny de Almeida Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Coordenadora do Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento (DAU / UFES). Resumo: Uma das ações de preservação do patrimônio cultural, a Educação patrimonial é relativamente recente na experiência brasileira. Datada dos anos 1990, e inicialmente conduzida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, enquanto procedimento de envolvimento de cidadãos na salvaguarda de bens de valor patrimonial, a Educação patrimonial vem sendo investigada por técnicos e especialistas, com diferentes vinculações profissionais, em geral, referenciados por situações particularizadas pela aplicação do instrumento. Inserida nesse contexto, a abordagem apresentada busca uma compreensão ampliada, simultaneamente, histórica, teórica e empírica. Em síntese, pretende contribuir para uma atualização conceitual e metodológica, bem como para um alargamento de sua aplicabilidade em escala nacional.  Aposta, para tanto, na necessidade de uma articulação mais estreita entre educação e patrimônio, no âmbito da educação formal e por meio da experimentação transversal ao conjunto de conteúdos programáticos. Desse ponto de vista, discute a valorização de bens culturais na formação do aluno vinculada a formação de cidadãos conscientes, ressaltando a importância da atuação da sociedade na gestão do patrimônio. As ações do IPHAN têm essa perspectiva, especialmente aquelas do projeto “Casas do Patrimônio” . Entretanto, ao reconhecer sua dimensão centralizada e genérica, própria de programas da esfera nacional, discute a necessidade de atividades conduzidas e apropriadas localmente, e, sobretudo, a importância de conferir ao habitante o poder de narrar sua própria história cultural. Palavras-chave: Educação patrimonial. Patrimônio edificado. Preservação. Resumen: Una de las acciones de preservación del patrimonio cultural, la Educación patrimonial es relativamente reciente en la experiencia brasileña. Datada de los 1990, y inicialmente conducida por el "Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN" mientras procedimiento de participación de los ciudadanos en la salvaguardia de los objetos de valor patrimonial, la Educación patrimonial viene siendo investigada por técnicos y expertos, con diferentes vínculos profesionales, en general, referenciados por situaciones particularizadas por la aplicación del instrumento. Inserto en este contexto, el enfoque que se  presenta busca una comprensió n ampliada , al mismo tiempo, histórica, teórica y empírica. In síntesis, se  propone contribuir a una actualización conceptual y metodológica, así como una ampliación de su aplicabilidad a escala nacional. Apuesta, por lo tanto, en la necesidad de un vínculo más estrecho entre la

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Trabalho vinculado ao Patri_Lab de autoria de Lorena de Andrade Castiglioni e Renata Hermanny de Almeida. Este trabalho foi publicado nos Anais do Arquimemória 4- Encontro Internacional sobre Preservação do Patrimônio Edificado, evento realizado nos dias 13 a 17 de Maio de 2013, na cidade de Salvador/ BA - Brasil.

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A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA PESPECTIVA DA GESTÃO DOPATRIMÔNIO EDIFICADO

LA EDUCACIÓN PATRIMONIAL EM LA PERSPECTIVA DE LA GESTIÓN DEL PATRIMONIOCONSTRUIDO

THE HERITAGE EDUCATION IN THE PERSPECTIVE OF BUILT HERITAGE MANAGEMENT 

4. Identificação, intervenção e gestão do patrimônio edificado: instrumentos, metodologias e técnicas

Lorena de Andrade CastiglioniMestranda em Arquitetura e Urbanismo, Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento (DAU / UFES).

Renata Hermanny de AlmeidaDoutora em Arquitetura e Urbanismo, Coordenadora do Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento

(DAU / UFES).

Resumo:

Uma das ações de preservação do patrimônio cultural, a Educação patrimonial é relativamente recente naexperiência brasileira. Datada dos anos 1990, e inicialmente conduzida pelo Instituto do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional - IPHAN, enquanto procedimento de envolvimento de cidadãos na salvaguarda de bensde valor patrimonial, a Educação patrimonial vem sendo investigada por técnicos e especialistas, comdiferentes vinculações profissionais, em geral, referenciados por situações particularizadas pela aplicaçãodo instrumento. Inserida nesse contexto, a abordagem apresentada busca uma compreensão ampliada,simultaneamente, histórica, teórica e empírica. Em síntese, pretende contribuir para uma atualizaçãoconceitual e metodológica, bem como para um alargamento de sua aplicabilidade em escala nacional. Aposta, para tanto, na necessidade de uma articulação mais estreita entre educação e patrimônio, noâmbito da educação formal e por meio da experimentação transversal ao conjunto de conteúdosprogramáticos. Desse ponto de vista, discute a valorização de bens culturais na formação do alunovinculada a formação de cidadãos conscientes, ressaltando a importância da atuação da sociedade nagestão do patrimônio. As ações do IPHAN têm essa perspectiva, especialmente aquelas do projeto “Casas

do Patrimônio”. Entretanto, ao reconhecer sua dimensão centralizada e genérica, própria de programas daesfera nacional, discute a necessidade de atividades conduzidas e apropriadas localmente, e, sobretudo, aimportância de conferir ao habitante o poder de narrar sua própria história cultural.Palavras-chave: Educação patrimonial. Patrimônio edificado. Preservação.

Resumen: 

Una de las acciones de preservación del patrimonio cultural, la Educación patrimonial es relativamentereciente en la experiencia brasileña. Datada de los 1990, y inicialmente conducida por el "Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN" mientras procedimiento de participación de losciudadanos en la salvaguardia de los objetos de valor patrimonial, la Educación patrimonial viene siendoinvestigada por técnicos y expertos, con diferentes vínculos profesionales, en general, referenciados por 

situaciones particularizadas por la aplicación del instrumento. Inserto en este contexto, el enfoque que se presenta busca una comprensión ampliada, al mismo tiempo, histórica, teórica y empírica. In síntesis, se propone contribuir a una actualización conceptual y metodológica, así como una ampliación de suaplicabilidad a escala nacional. Apuesta, por lo tanto, en la necesidad de un vínculo más estrecho entre la

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 educación y el patrimonio dentro de la educación formal y por medio de la experimentación transversal en lo

conjunto de contenidos programáticos. Con ese punto de vista, discute la valorización de los bienesculturales en la formación de los estudiantes vinculada a la formación de ciudadanos conscientes,enfatizando la importancia del papel de la sociedad en la gestión del patrimonio. Las acciones de IPHAN tiene esa perspectiva, especialmente las de las "Casas de Patrimonio". Sin embargo, al reconocer sudimensión centralizada y genérica propia de programas nacionales, discute la necesidad de actividadesconducidas y apropiadas localmente, y, sobre todo la importancia de conferir a los habitantes el poder denarrar su propia historia cultural.Palabras-clave : Educación patrimonial. Patrimonio construido. Preservacíon.

Abstract : 

One of the actions of cultural heritage preservation, the Heritage education is relatively recent in the Brazilianexperience. Dated from the 1990s, and initially conducted by the "Instituto do Patrimônio Artístico e Nacional - IPHAN" while a procedure for citizen involvement in the safeguarding of assets with heritage value, theHeritage education has been investigated by technicians and experts, with different professionals bindings,in general, referenced by particularized situation by the application of the instrument. Inserted in this context,the approach presented seeks a broad understanding, both, historical, theoretical and empirical. Insynthesis, aims to contribute to a conceptual and methodological update as well as a broadening of itsapplicability on a national scale. Bet, therefore, in the need of a closer link between education and heritagewithin the formal education and through transversal experimentation to the set of syllabus. From this point of view, discusses the cultural assets valorization in the student education linked to the formation of consciouscitizens, emphasizing the importance of society action in the heritage management. Actions of "IPHAN" havethis perspective, especially those of the "Casas do Patrimônio". However, recognizing its centralized and generic dimension, typical of national programs sphere, discusses the need of activities conducted and appropriate locally, and, above all, the importance to confer to the inhabitant the power to narrate your owncultural history.Keywords: Heritage education. Built heritage. Preservation.

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A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA PERSPECTIVA DO PATRIMÔNIOEDIFICADO

CONSTRUINDO UM RECORTE CONCEITUAL 

 A educação precisa despontar como um forte exercício de participação cidadã e estímulo àconscientização em prol de bens culturais. A educação “precisa ser reprodutora, na medida emque ela é também a necessária transmissão de uma herança.” (DE MORAIS, 2008, p.27). A  questão da cidadania é definida como:

[...] termos o respeito do meio humano no qual estamos situados, não por concessão, mas por reconhecido direito. E respeito nessa perspectiva sociológica,não é um conceito abstrato, mas concerne a que nossos direitos humanosessenciais sejam respeitados na exata medida em que levamos a sério nossosdeveres sociais. (DE MORAIS, 2008, p.28) 

 A partir do momento que se estimula o exercício da cidadania no âmbito escolar, desde asprimeiras séries, têm-se a formação de um sujeito consciente, que possa desenvolver seu papelna sociedade na própria perspectiva da preservação do patrimônio edificado. Paulo Freire (1967),que já anunciava em seus estudos maiores possibilidades educacionais, acreditava nanecessidade de um processo de transitividade crítica, por meio da qual  chegaríamos a “uma

educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política, caracterizada pelaprofundidade na interpretação dos problemas”. (FREIRE, 1967, p.60). Necessita-se no âmbitoeducacional, segundo esse mesmo autor, procurar sempre revisões, recusar posições quietistas,além da prática do diálogo, que é uma relação horizontal, que “nasce de uma matriz crítica e geracriticidade”. (FREIRE, 1967, p.107). Então o grande papel do sistema educacional parece ser auxiliar a constituir em seus alunos uma consciência crítica, que indaga, investiga e por este viésse preocupa com sua cultura.

Pereira (2008) aborda este aspecto, defendendo, em diálogo com a dimensão teórica de PauloFreire, a educação libertadora:

 A pedagogia libertadora de Freire (1974) é biófila e não necrófila. Jamais separa o

homem e a mulher do mundo. Reconhece que os seres humanos vão se fazendonum processo histórico. Em lugar do homem e mulher “coisa”, “objeto”, adapt ávelde forma passiva ao mundo, valoriza o potencial criador do ser humano. Acreditaque todo(a) educando(a) tem saberes, portanto não são “potes vazios” onde sedeve depositar conhecimentos.(PEREIRA, 2008, p.181). 

 A partir do exposto se questiona a relevância da adoção da concepção da educação libertadora esua aplicação em processos de Educação Patrimonial, tendo em vista o reconhecimento docaráter impositivo presente na atuação de profissionais da área e/ou professores em ações depreservação do patrimônio edificado e cultural local; Em geral, constata-se serem essesconduzidos, de um lado, pela pressuposição de um esvaziamento de conhecimento por parte doreceptor do programa de educação, e de outro lado, pelo esquecimento de que os próprios

educadores devem aprender com os educandos. Desta forma, “encher o educando ou a educandade conteúdos, não busca a aproximação entre as pessoas que se encontram ali, vivendo aquelaexperiência. Mas reforça a distância entre elas.” (PEREIRA, 2008, p.180).

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 Por esta perspectiva, o próprio conceito de Educação Patrimonial, enquanto “alfabetização

cultural”, pode se tornar equivocado, à medida que não se deve pressupor que habitantes locais ealunos sejam “potes vazios” a serem alfabetizados culturalmente, desprovidos de cultura.

Já para Borman (2005), possibilitar aos jovens o entendimento do valor do meio histórico e daimportância dele cuidar é um ponto culminante para a cidadania, sendo o advento deste assuntono currículo escolar um relevante ganho:

Enabling young people to understand value, enjoy and care for the historicenvironment is at the very heart of the citizenship ethos. The historic environmentcan inspire them to play an active part in issue within their immediate locality aswell as national and even global issues. So the advent of citizenship in thecurriculum has offered real opportunities for history and heritage. (BORMAN, 2005,p.01).

Figura 01: Visita de alunos a edificação históricas em Belém (PA).Fonte: foto realizada pelo autor, nov 2012.

Figura 02: Aulas de campo no Centro Histórico de João Pessoa no Programa de Educação Patrimonial“João Pessoa, Minha Cidade”. 

Fonte: http://casadopatrimoniojp.com/. 

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 Esta mesma autora também enfatiza a questão da visita aos sítios históricos como uma grande

aliada relacionada às escolas e ao patrimônio, pois este tipo de experimento combina uma gamade experiências sensoriais, representando um poderoso método de trazer a história à vida parapessoas de todas as idades. Essas atividades podem proporcionar um interesse inicial que podeestender-se por toda a vida. Desta forma as instituições escolares não devem impor barreiras paratais visitas.

Outro aspecto é a própria formação dos professores nas redes de ensino. Pode acontecer dospróprios profissionais terem uma visão formal e pré-estabelecida, e acabarem por não motivaram,ou deixarem em segundo plano como objeto de ensino, particularidades e culturais regionais,como o próprio patrimônio edificado local. Candau (2008) argumenta que são diversos os desafiospara promover uma educação intercultural em uma perspectiva critica e emancipatória. Ressalta-se o caráter monocultural e etnocentrista que está incorporado nas escolas e nas políticas

educativas, bem como sua impregnação em currículos escolares. Outra argumentação importantedessa autora, e que poderia ser trabalhado no âmbito da Educação Patrimonial a partir damemória oral, é o resgate dos processos de construção de identidades culturais, em nível pessoale coletivo, sendo que são significantes as histórias de vida e construção de diferentescomunidades socioculturais. Esse resgate pode ser contado, narrado, reconhecido e assimvalorizado como parte do processo educacional.

O preparo dos educadores das redes de ensino referente ao patrimônio edificado deve tambémser relacionado a instruções de profissionais preparados da área, mais uma vez sendo de maneirahorizontal e que estimule a troca e diálogo. É um grande desafio a profissionalização de agentesculturais, sendo que é “uma das principais demandas para garantir a eficácia da área cultural,exigindo uma reflexão mais aprofundada sobre o perfil dos profissionais envolvidos, que requer uma atuação multifacetada” (SIMÃO, 2010, p.444). Existe muito a ser feito para capacitar profissionais na área de patrimônio e que isto possa ser transmitido para alunos e a comunidadecivil:

Há muito por fazer, mas podemos afirmar que a experiência patrimonial no Brasiltem sido assimilada no seu sentido mais completo, em sintonia com a coletividadee a partir de conhecimentos antropológicos, sociológicos, históricos, artísticos earqueológicos orientados por especialistas. A implantação de cursos de educaçãopatrimonial, a organização de oficinas-escola e serviços em mutirão constituemações de importância fundamental no processo de envolvimento da população.Esse esforço, articulado com o estímulo à responsabilidade coletiva, contribuirápara consolidar políticas de inclusão social, reabilitação e sustentabilidade do

patrimônio em nosso país. (FUNARI; PELEGRINI, 2009, p.181). 

EXEMPLOS E CONCEITOS NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO BRASIL

Retornando a temática propriamente da Educação patrimonial, vale citar alguns conceitosutilizados. Relacionado às visões institucionais, tem-se, por exemplo, a do Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional (IPHAN) apresentada no Guia Básico de Educação Patrimonial(1999), onde o tema é traduzido como um “processo permanente e sistemático de trabalhoeducacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento eenriquecimento individual e coletivo”. (HORTA; GRUNBERG; MONTEIRO, 1999, p.06).

 Atualmente, uma grande frente de Educação patrimonial desta instituição é a iniciativa das “Casasdo Patrimônio”, desenvolvidas a partir de 2000. Segundo informações do próprio site do IPHAN,estas se constituem de um projeto pedagógico de Educação patrimonial. Conforme a instituição, a

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 proposta se fundamenta na necessidade da instituição estabelecer novas relações com a

sociedade e o poder público em suas diferentes instâncias. A ênfase é a promoção de diálogossobre atividades relacionadas à administração e rotina, assim como a criação de ações dequalificação de agentes públicos e da sociedade civil, além da inserção do patrimônio culturalcomo um recurso de desenvolvimento sustentável.

No âmbito das “Casas do Patrimônio”, cita-se a de João Pessoa/PB(http://casadopatrimoniojp.com/). Dentre suas ações tem-se, por exemplo, o Programa deEducação Patrimonial "João Pessoa, Minha Cidade", primeira ação estabelecida pela instituição.Segundo informações do próprio site, esse projeto consiste em incentivar ações educativasdirecionadas à aproximação dos alunos à sua história, bem como à promoção de sentido depertencimento relacionado ao patrimônio cultural, pois não era incomum crianças/adolescentesresidentes no Centro Histórico não conhecerem a história de sua cidade ou não terem vínculo

afetivo com bens culturais locais. Tolentino (2012) informa que o programa se inicia em 2009,ainda como projeto-piloto, consistindo no trabalho em três escolas municipais. O programa foiorganizado em etapas, iniciando-se a partir de contato com as escolas selecionadas, e informandoos diretores acerca dos objetivos do programa. Em um segundo momento, ocorreu umasensibilização com alunos de 8º e 9º ano, em sala de aula, pertinente a assuntos da realidadelocal, com temas especialmente relacionados à cultura, identidade, memória, patrimônio local epreservação. Posteriormente, após as oficinas de sensibilização, deu-se início a aulas de campono Centro Histórico da cidade, com os alunos visitando as principais ruas e monumentoshistóricos, assim como tendo a oportunidade de refletir acerca dos conceitos aprendidos em salade aula, na primeira etapa. Por esta perspectiva, muitos alunos puderam reconhecer a cidade ebens históricos com um novo olhar. Em última etapa, os alunos participaram de uma oficina dearte-educação, na qual, utilizando a técnica da aquarela, apresentada pelo artista Sóter Carreiro,

elaboraram artisticamente a aproximação ao patrimônio cultural proporcionada pela aula decampo. Na avaliação de Tolentino, por este viés “a utilização dessa alternativa lúdica favoreceu acomunicação das ideias e a consolidação dos saberes construídos”. (TOLENTINO, 2012, p.06)

Figura 03: Segunda etapa com processo de oficinas de sensibilização em sala de aula do Programa de Educação Patrimonial“João Pessoa, Minha Cidade”. 

Fonte: http://casadopatrimoniojp.com/.

Outra experiência investigada, relatada em “Reflexões e contribuições para a EducaçãoPatrimonial” (SEE/MG, 2002), uma ação da Secretaria de Estado da Educação, enfatiza a

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 utilização de dois parâmetros na Educação patrimonial: a integração para a educação e a

preservação do patrimônio cultural. Além disto:[...] espera-se que todo o cidadão, por intermédio da Educação Patrimonial, possaprimeiro localizar-se na historia e na comunidade, identificando sua posição nela.Daí poderá cuidar de garantir a permanência dos suportes materiais que contêmas marcas da história e dar continuidade à produção cultural. Sob este ponto devista, a Educação Patrimonial deve ser entendida como todo o processo detrabalho educacional que vai tratar do patrimônio cultural, sendo este produto deuma comunidade que com ele se identifica e que deverá cuidar para garantir suapermanência e vitalidade. (SEE/MG, 2002, p.17). 

Reforçando a defesa da articulação entre educação e patrimônio, propõe que a escola seja o localde efetivação da Educação Patrimonial, pois nela estão os atores necessários para a idealização

do resultado pretendido, cabendo aos professores atuar como multiplicadores de conhecimento esensibilizar os educandos para uma atuação mais proativa na área.

Em relação a esta temática, em outros estados brasileiros, tem-se, por exemplo, no EspíritoSanto, os Seminários “Patrimônio Cultural e riscos”, realizados em 2012 em todos os sítioshistóricos protegidos por tombamento, com debate em torno da preservação do patrimônio culturalcapixaba. Ocorreram palestras com pesquisadores locais e de outros estados, onde foramdebatidos assuntos referentes ao patrimônio arquitetônico e natural, imaterial e museológico.

Figura 04: Seminário "Patrimônio Cultural e riscos" que aconteceu no Palácio Anchieta, Vitória (ES).Fonte: foto realizada pelo autor, dez 2012. 

Relacionado a uma visão de estudiosos, Oliveira e Wescelau questionam que “propostas voltadaspara a cultura e a educação tramitam em segundo plano nas discussões políticas, ficando a sortede programas e investimentos, muitas vezes escassos e insuficientes, da iniciativa privada”.(OLIVEIRA, WESCELAU, 2009, p.23).

O investimento em projetos que visem ao desenvolvimento de ações devalorização, conscientização e resgate do patrimônio é extremamente importante

para que se tenha uma retomada de valores culturais em nossa sociedade,visando não só a busca dos bens materiais que compõem uma região, comotambém todo o conjunto de fatores que servem como identidade a essacomunidade. (OLIVEIRA, WESCELAU, 2009, p.24). 

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 Por este viés são necessários investimentos relacionados à Educação Patrimonial que viabilizem

a inserção da metodologia nos currículos escolares. Tumelero afirma que a educação patrimonial“carrega em si uma responsabilidade social” (TUMELERO, 2008, p.83). Argumenta, ainda, que autilização de bens culturais locais ou reconhecidos pelos próprios alunos pode ser uma forma devencer a descolonização, existindo uma forma de mostrar a história a partir da cultura material nãosomente da elite, mas também de outros grupos minoritários e/ou excluídos.

Vai além da construção da identidade cultural da comunidade ou conscientizaçãoacerca do valor do patrimônio local. Podemos usar a metodologia da EducaçãoPatrimonial no sentido de libertá-la daquilo que a oprime. Não se trata de indicar receitas prontas ou estabelecer metas de ‘libertação’ dessa comunidade, mas quea Educação Patrimonial gere uma autonomia de pensamento crítico e leitura darealidade local, de forma que a comunidade passe a reivindicar aquilo que lhe édireito ou perceba necessidades novas para melhoria de sua qualidade de vida.(TUMELERO, 2008, p.83). 

Cita-se um exemplo de Educação Patrimonial no Distrito de General Câmara (RS). Segundoinformações do site do Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória (NEP/UFSM), este, juntamente com o Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (CEPA/UNISC), realiza projetosde salvamento arqueológico bem como atividades de Educação Patrimonial na Vila de Santa Amaro, localizada no Distrito de General Câmara (RS). Soares e Klamt (2007) informam que aVila de Santo Amaro abriga uma grande quantidade de edificações históricas, tombadas peloInstituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), bem como que, no local, muitosmoradores não reconhecem a importância da cultura local. Por este viés, inicia-se uma propostade inserção dos patrimônios no cotidiano escolar do município. Em face da falta de conhecimentoe valorização da história por parte da comunidade, fizeram-se ações de levantamento, registros evalorização de bens imateriais. A partir da experiência em Educação Patrimonial dos autoresbuscou-se levar o resultado desta experiência para o currículo escolar da comunidade.

Estes mesmos autores dizem que as atividades de Educação Patrimonial estão em andamentodesde março de 2006, no momento de desenvolvido das atividades de escavação arqueológica nointerior da Igreja Matriz. Como citado, os moradores pouco conheciam sobre as atividades queestavam sendo desenvolvidas e sobre a história da região. Assim, as atividades de arqueologiaforam acompanhadas por ações de Educação Patrimonial, tanto no sentido de esclarecimentoacerca das atividades em andamento como referente à restauração do prédio. Por este viés,Soares e Klamt (2007), informam que as ações iniciais constituem-se de: diálogo com acomunidade, turistas e visitantes durante as obras de escavação arqueológica da Igreja Matriz de

Santo Amaro; e palestras, oficinas e levantamentos acerca dos patrimônios com professores daEscola Estadual Rio Grande do Sul, na vila de Santo Amaro.

Comparando as experiências de educação patrimonial, acima apresentadas, três aspectosmerecem destaque. O primeiro deles, referente ao âmbito metodológico, revela uma restritavariação de procedimentos, ou seja, etapas e correspondentes atividades e resultados. Essacondição se confirma mesmo quando são confrontadas experiências conduzidas por instituiçõesde preservação e / ou profissionais vinculados a instituições de ensino. Nesse sentido, argumenta-se em favor de uma diversificação de procedimentos. O segundo deles, referente ao âmbito dopublico alvo das ações de educação patrimonial, revela uma restrita variação na faixa etária dosalunos envolvidos nas experiências. Diante disso, defende-se a inclusão de gerações diversas,incluindo, sobretudo, crianças em fases iniciais de formação. O terceiro deles, referente ao tipo de

atividade aplicada nas experiências, revela uma restrita variação de práticas educativas. Diantedisso, defende-se a construção da educação patrimonial por meio de atividades diversas, em salade aula, de maneira multidisciplinar e transversal em diversas matérias, desde a infância.

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 REFLEXÃO CONCLUSIVA 

Por uma perspectiva conclusiva, chega-se a algumas observações. No âmbito escolar, é essenciala existência da Educação Patrimonial de uma maneira transversal nos currículos escolares como já mencionado, sendo que os jovens desempenham papel fundamental na Educação Patrimonial,pois serão transmissores de valores para gerações futuras. A transversalidade permite que existatransdiciplinariedade. Por esta base, os temas transversais permitem uma escola mais centradana educação para a vida  – “uma escola que permita o desenvolvimento de indivíduos autônomos,críticos e solidários”. (YUS, 1998, p.17). Tais conteúdos permitem criar uma educação maisautêntica, que mobilize atitudes e valores dos alunos. Assim enfatiza-se a necessidade deexperiências inovadoras de profissionais da educação bem como combate a inércias institucionaise profissionais. Ressalta-se ainda:

[...] os temas transversais são um conjunto de conteúdos educativos e eixoscondutores da atividade escolar que, não estando ligados a nenhuma matéria emparticular, pode-se considerar que são comuns a todas, de forma que, mais do quecriar disciplinas novas, acha-se conveniente que seu tratamento seja transversalnum currículo global na escola. (YUS, 1998, p.17). 

 A educação dever ser entendida não como algo para ser "isto ou aquilo", mas para se reconstruir de forma constante. Brandão (2002) aborda que a educação é um bem em si mesmo. Sendo queé "um fator de vida destinado a acompanhar uma história infinda de trocas de saberes, de valores,de sentidos e de sensibilidades em cada um de nós e nas comunidades que soubermos construir [...]" (BRANDÃO, 2002, p.299). Por este viés o papel da Educação patrimonial se apresenta comopotencializadora dessa visão educacional, sendo que seu estímulo de fato deve ser enfatizado no

ensino primário.

 A Educação Patrimonial utilizada fora do ambiente escolar, como oficinas e trabalhos realizadoscom moradores de comunidades locais só será possível com esta visão igualitária e horizontal,afastando-se da perspectiva da “educação verticalizada”.  É um desafio necessário e vital aparticipação da sociedade nas políticas patrimoniais. Nos arranjos de políticas públicas deve-seenfatizar o coletivo e artifícios participativos, que fomentem a conscientização, valorização críticada própria cultura, sentimento de pertencimento do lugar além de promover a diversidade eentendimento da história de uma comunidade.

REFERÊNCIAS

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