A dívida da escravidão - Gazeta ValeparaibanaNa semana do Meio Ambiente precisamos refletir sobre...

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O QUE FAZER? Que sorte dormir tranquilamente sabendo que todas as crianças amanhã irão para escolas. Que serão recebidas por professores com formação adequada. Que conduzirão nossas crianças a um nível excelente de aprendi- zado por serem muito bem valorizados. Que há garantia de emprego. Que há atendimento de alto escalão na área da saúde. Matéria completa: Que sociedade queremos ser? Há algum tempo a Finlândia anunciou uma revolu- ção: pretender acabar com as disciplinas nas escolas. O país é pro- tagonista em educação de qualidade e deseja uma educação am- plamente interdisciplinar, que agregue os conteúdos, ao invés de dividir o conhecimento em disciplinas. O ousado exemplo mostra uma tendência adotada nas últimas dé- cadas por todos países desenvolvidos: Matéria completa: Ano XII - Edição 139 - Junho de 2019 Distribuição Gratuita CULTURAonline BRASIL Palestras e boa música Palestras: - Cultura - Educação - Meio Ambiente - Cidadania Baixe o aplicativo Google Play no site www.culturaonlinebr.org Brasil lidera ranking de medo de tortura policial. Matéria completa: Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar A educação deixou de “ser qualidade” no mundo dos dados estéticos, para ser “quantidade” Matéria completa: A dívida da escravidão Os Estados Unidos devem pagar reparações aos afro-americanos des- cendentes de escravos? O debate sobre o pecado fundacional america- no revive Hoje está aposentado, tem 89 anos, mas em cada legislatura durante quase três décadas, o congressista de Michigan John Conyers propu- nha um projeto de lei para que os Estados Unidos reconhecessem “a crueldade, a brutalidade e a falta de humanidade” da escravidão, assim como “a resultante discriminação econômica e racial dos afro- americanos e o impacto em seus descendentes”. A proposta sequer chegou a ser debatida. Matéria completa: Na semana do Meio Ambiente precisamos refletir sobre o mun- do que queremos para nossos filhos e netos e, não devemos nos esconder atrás do pano, certos que o ator dessa mudança são os outros. A humanidade já destruiu a metade de todas as árvores do planeta Existem 3 trilhões de árvores. No ritmo do desmatamento, de- saparecerão em 300 anos. É o tipo de pergunta que pega qualquer pai de surpresa e que nem as melhores mentes puderam responder de forma satisfa- tória: Quantas árvores há no mundo? Matéria completa: Quando os filhos dos mais pobres chegaram à universidade, a Espanha mudou. Nos anos oitenta, jovens de todas as classes sociais encheram colégios e universidades. O colégio era público e novo e coube a nós estreá-lo. Também era frágil, construído a toque de caixa, sem muito planejamento, acredito que também sem muito orçamento. Por isso muitas coisas (quase todas as persianas, as barras do ginásio, o próprio ginásio, a máquina de slides que sempre enguiçava) não sobreviveram um ano letivo. Matéria completa:

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O QUE FAZER?

Que sorte dormir tranquilamente sabendo que todas as crianças amanhã irão para escolas. Que serão recebidas por professores com formação adequada. Que conduzirão nossas crianças a um nível excelente de aprendi-zado por serem muito bem valorizados. Que há garantia de emprego. Que há atendimento de alto escalão na área da saúde.

Matéria completa:

Que sociedade queremos ser? Há algum tempo a Finlândia anunciou uma revolu-

ção: pretender acabar com as disciplinas nas escolas. O país é pro-tagonista em educação de qualidade e deseja uma educação am-plamente interdisciplinar, que agregue os conteúdos, ao invés de dividir o conhecimento em disciplinas.

O ousado exemplo mostra uma tendência adotada nas últimas dé-cadas por todos países desenvolvidos:

Matéria completa:

Ano XII - Edição 139 - Junho de 2019 Distribuição Gratuita

CULTURAonline BRASIL

Palestras e boa música

Palestras:

- Cultura

- Educação

- Meio Ambiente

- Cidadania

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www.culturaonlinebr.org

Brasil lidera ranking de medo de tortura policial.

Matéria completa:

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A educação deixou de “ser qualidade” no mundo dos dados estéticos, para ser “quantidade”

Matéria completa:

A dívida da escravidão Os Estados Unidos devem pagar reparações aos afro-americanos des-cendentes de escravos? O debate sobre o pecado fundacional america-no revive

Hoje está aposentado, tem 89 anos, mas em cada legislatura durante quase três décadas, o congressista de Michigan John Conyers propu-nha um projeto de lei para que os Estados Unidos reconhecessem “a crueldade, a brutalidade e a falta de humanidade” da escravidão, assim como “a resultante discriminação econômica e racial dos afro-americanos e o impacto em seus descendentes”. A proposta sequer chegou a ser debatida.

Matéria completa:

Na semana do Meio Ambiente precisamos refletir sobre o mun-do que queremos para nossos filhos e netos e, não devemos nos esconder atrás do pano, certos que o ator dessa mudança são os outros.

A humanidade já destruiu a metade de todas as árvores do planeta

Existem 3 trilhões de árvores. No ritmo do desmatamento, de-saparecerão em 300 anos.

É o tipo de pergunta que pega qualquer pai de surpresa e que nem as melhores mentes puderam responder de forma satisfa-tória: Quantas árvores há no mundo?

Matéria completa:

Quando os filhos dos mais pobres chegaram à universidade, a Espanha mudou.

Nos anos oitenta, jovens de todas as classes sociais encheram colégios e universidades.

O colégio era público e novo e coube a nós estreá-lo. Também era frágil, construído a toque de caixa, sem muito planejamento, acredito que também sem muito orçamento. Por isso muitas coisas (quase todas as persianas, as barras do ginásio, o próprio ginásio, a máquina

de slides que sempre enguiçava) não sobreviveram um ano letivo. Matéria completa:

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O QUE FAZER?

Que sorte dormir tranquilamente sabendo que todas as crianças amanhã irão para escolas.

Que serão recebidas por professores com formação adequada.

Que conduzirão nossas crianças a um nível excelente de aprendizado por serem muito bem valorizados.

Que há garantia de emprego.

Que os cidadãos que trabalham e tem garantido seu pão de cada dia.

Que há atendimento de alto escalão na área da saúde.

Que há sempre boa comida à mesa e na merenda escolar.

Que cada um tem um teto para se abrigar.

Que os governantes distribuem a renda justamente.

Que cada profissional recebe de acordo com seu empenho, estudo e competência.

Que ninguém está subordinado à ousadia dos traficantes e ao infortúnio do mal.

Que as crianças são respeitadas.

Que o eleitor tem garantias na segurança, educação e saúde.

Que há confiança absoluta no juramento de cada um sem decepcionar.

Que erros podem acontecer, mas, com a certeza de quem o cometer irá assumir e resolver.

Que o povo tem direitos adquiridos, preservados e ninguém abusará do seu trabalho suado.

Que tem voz, alma, méritos e reconhecimento.

Que ninguém aceitará um bem-estar acima do sofrimento alheio.

Que não é preciso preocupar-se, porque todas as causas serão abraçadas.

Que essa gente é tratada com compaixão.

Que é um povo que se uniu, lutou e confiou naquele que o acordou com esperanças.

Que aquele que o acordou, trouxe promessas, pediu forças e jurou cuidar das crian-ças e da nação.

Que sinto muito em dizer que NÃO é do povo brasileiro que estou falando.

Um povo “descontente contente”, de baixa autoestima, marionetes manipulados pelo governo, condicionados ao amor pelo futebol e carnaval mais do que pela nação, vi-ve de qualquer jeito, em qualquer lugar e de qualquer forma e a cada ano, escolhe viver como se não houvesse escolha.

Sempre acha que venceu, mesmo quando fracassou.

Será mesmo que cada povo tem o governo que merece?

Genha Auga

Jornalista MTB: 15.320

Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 2

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download na web

Diretor, Editor e Jornalista responsável Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

Colunistas Fixos: Mariene Hildebrando Genha Auga Filipe de Sousa Fábio Luiz de Souza João Paulo E. Barros

Colaboradores desta edição: Eduardo de Paula Barreto. Yolanda Monge Deutsche Welle

Fábio Donaire

Luiz Ruffato

Maria Fernanda Garcia

Isabel Cristina Gonçalves

Sara Beatriz Hansen

Antonio Ozorio

IMPORTANTE

Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de inteira responsa-bilidade dos colaboradores que assinam as

matérias, podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste Jornal.

Colaboraram nesta edição

PRECISA-SE de voluntário revisor de textos - Contato: [email protected]

Alfanjes

Todos somos agricultores

E colhemos o que plantamos

Uns plantam professores

Outros plantam milicianos

E ao vermos as sementes

Germinando em nossa frente

Aguardamos aflitos

Para ver quais serão

Os frutos que surgirão

Na árvore do nosso arbítrio.

Na árvore que cresceu

Vemos frutos de imundícia

Porque o povo escolheu

Plantar sementes de milícia

E tais frutos são amargos

Insalubres e contaminados

Com comportamentos torpes

Que nos fazem reconhecer

Que jamais poderíamos colher

Bons frutos de uma árvore podre.

Alguns plantam, todos colhem

E seguimos sempre famintos

Mas é melhor morrer de fome

Do que viver gordo e indigno

Mas nos resta uma chance

Basta unirmos nossos alfanjes

Para cultivarmos um jardim feliz

Removendo as pragas da grama

E quanto à árvore miliciana

Vamos cortá-la pela raiz.

EDUCAÇÃO NO BRASIL: Porque será que um país como a Alemanha,

mesmo com toda a crise financeira que o mundo vive, tem crescimento no PIB e está entre os mais desenvolvidos países do mundo? Eles investem em Educação. Até mesmo as universidades públicas estão entre as melhores do mundo. Quais as con-sequências? Melhores profissionais, maiores oportunidades de trabalho e maiores salários, e consequentemente, o país cresce como um todo.

Um dos segredos do desenvolvimento dos alemães, bem como outros países como Japão, Coreia do Sul, é o investimento em educação. Professores e metodologia de qualidade fazem a grande diferença para um país.

A situação do Brasil não é nada boa no quesito educação. Estamos nas últimas posições do ranking, segundo algumas pesquisas e estudos, a maioria dos nossos alunos não conseguem fazer simples contas de matemática e nem sabem escrever o nome quando estão na quinta série. E caminhamos para dias piores...

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Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

01 - Semana Mundial do Meio Ambiente 01 - Dia da Imprensa 05 - Dia Mundial do Meio Ambiente e da ecologia 05 - Dia Nacional da Reciclagem 08 - Dia Mundial dos Oceanos e do Oceanógrafo. 09 - Dia Nacional de Anchieta 10 - Dia da Artilharia 11 - Dia da Marinha Brasileira 12 - Dia dos Namorados 17 - Dia Mundial de Combate à Desertificação 18 - Dia da Imigração Japonesa 19 - Dia do Cinema Brasileiro 20 - Dia do Refugiado 21 - Início do Inverno (Solstício de Inverno) 21 - Dia da Mídia e do Profissional de Mídia 21 - Dia do Aperto de Mão 25 - Dia do Imigrante 26 - Dia Internacional de Apoio Vítimas de Tortura 27 - Dia Nacional do Progresso 28 - Dia Internacional do Orgulho Gay 30 - Dia da Mídia Social

Que sociedade queremos ser? Há algum tempo a Finlândia anunciou uma revolução:

pretender acabar com as disciplinas nas escolas. O país é protagonista em educa-ção de qualidade e deseja uma educação amplamente interdisciplinar, que agre-gue os conteúdos, ao invés de dividir o conhecimento em disciplinas.

O ousado exemplo mostra uma tendência adotada nas últimas décadas por todos países desenvolvidos: integrar o ensino das ciências humanas, exatas e da nature-za.

A integração das disciplinas tem levado séculos para ocorrer. O conhecimento tra-dicionalmente foi compartimentado e disciplinarizado em ramos da ciência; no inte-rior de cada um deles, as disciplinas. Com isso, o saber sempre ficou fragmentado e isolado.

Entretanto, a partir do século XX, a divisão dos assuntos em disciplinas rígidas, le-vou a dificuldades para construir explicações da realidade, na qual as coisas estão conectadas, interdependentes e interligadas, a exigir soluções compartilhadas para lidar com as crescentes incertezas e complexidades.

Diante dos problemas fundamentais do planeta, a união dos saberes passou a ser essencial. Décadas de pesquisas comprovaram que a integração entre as diferen-tes áreas de conhecimento é mais fecunda e produtiva socialmente do que a sepa-ração entre elas ou a exclusão de algumas delas.

Em qualquer nível de ensino, desde o básico até o superior, o caminho ideal do fu-turo será a inclusão e a integração das disciplinas, para construir solidamente o sa-ber científico e gerar visões mais transdisciplinares.

No Brasil do atraso o caminho é inverso dos países evoluídos. Ao invés de integra-ção e harmonização das ciências, fala-se em exclusão. O objetivo é dar menos prestígio, enfraquecer, ou mesmo excluir dos currículos as áreas de humanas, co-mo filosofia, sociologia e ciência política.

Desde 1901 foram concedidos quase 600 Prêmios Nobel para dezenas de países. A Argentina tem 5 prêmios. Nós nunca ganhamos um e desse jeito nunca ganhare-mos.

O nosso subdesenvolvimento é o resultado dos grandes e incessantes investimen-tos em ignorância e precariedade, que sempre marcaram nossa história.

A pergunta é sempre atual: que sociedade queremos ser?

Antonio Ozorio

Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 3

ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS (+ Datas? Visite nossa biblioteca no site)

Armas e Livros

Quem brinda à ignorância Conspira contra si mesmo Porque amplia a distância Entre o fim e o começo De todos os conflitos Que poderiam ser escritos Sem consumir toda a tinta Que precisamos ter Para podermos escrever Nas páginas da vida. . A falta de conhecimento Desperta os piores instintos Porque se não há argumentos Recorre-se aos primitivos Métodos de solução Dos problemas que são Presenças constantes Ao invés de dar espada Dê à criança as palavras Que brotam das estantes. . Arme a criança com livros E assim a livre das armas Porque o saber é antídoto Contra os venenos da alma Que ao longo da existência Podem ficar em latência Ou aflorar como intolerância Dependendo dos estímulos Que despertam os íntimos

Instintos da criança.

Eduardo de Paula Barreto

O dia em que levei uma bronca do presidente Lula Certa vez Lula foi à universidade em que eu estudava receber seu título ‘Honoris Causa’, um reconhecimento do mundo acadêmico àqueles que têm muito destaque em determina-das áreas, como arte, política ou literatura.

Lula recebeu mais de 35 títulos iguais a esse nas maiores universidades do mundo. A U-FABC, em que estudei, é uma universidade pública, federal, criada por ele e por Fernando Haddad. Eu fazia licenciatura em filosofia.

Na ocasião eu usava uma camiseta escrito “Free Palestine” com uma enorme bandeira da Palestina estampada e segurava uma faixa pedindo por moradia estudantil. Me posicionei timidamente no canto do auditório e fiquei conversando com velhos amigos que estavam trabalhando no governo federal.

Logo que começou o evento, Lula pegou o microfone, olhou para mim e disse “Você, ve-nha aqui”. Me chamou na frente do palco e disse: “Não faz o menor sentido reivindicar algo com uma faixa e ficar no canto, longe dos olhos das pessoas. Você está defendendo duas coisas importantes. Duas coisas que me orgulho de defender também e pelas quais preci-samos brigar. Me orgulho que os alunos de uma universidade pública, alunos de humani-dades, levantem sua voz contra as injustiças sociais. Fique aqui, na minha frente, e vamos dizer para o mundo que queremos uma Palestina livre e que queremos que nossos estu-dantes tenham condições de permanecer nas universidades”.

Em seguida, ele me perguntou qual curso eu fazia. “Filosofia”, respondi. E ele disse que achava isso a coisa mais importante. Olhou com os olhos cheios de lágrima e agradeceu. Eu quase desmoronei. Quase chorei um oceano inteiro.

No final, fui dar um abraço nele e ele olhou para os meus olhos e disse “Nunca esconda sua luta. Que é uma luta de todos nós!”.

Obrigado, presidente Lula!

Fábio Donaire

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POR UMA EDUCAÇÃO HUMANIZADA ATRELADA AO PR OCESSO DE FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO.

É bem verdade que estamos vivendo uma revolução tecnológica na nossa sociedade. A tecnologia nos conduz para um futuro incerto. Michelle Schneider, publicitária e Head em educação no LinkedIn Brasil, afirmou em sua palestra para a TEDx Talk, intitulada “O Pro-fissional do Futuro”, que nos próximos anos, a inteligência artificial irá excluir centenas de milhares de pessoas do mercado de traba-lho, resultando assim em uma crise econômica em escala global.

Um dos grandes paradigmas da educação no século XXI não é a-penas sobre o que ensinar, mas principalmente sobre como ensi-nar. Estamos preparados para as mudanças que estão emolduran-do a nova sociedade? Nós, educadores, nos demos conta das pro-jeções futura com relação à sociedade e o mercado de profissio-nal? A forma como ensinamos é suficiente para preparar indivíduos que atendam a estas e outros demandas? Quais são as nossas projeções para a segunda metade do século XXI e para os próxi-mos?

Nas últimas décadas, temos observado uma grande preocupação do Poder Público e atrelar o ensino a especialização da mão-de-obra. O Estado não preocupa, ou se preocupa muito pouco em for-mas cidadãos plenos e integrais. A maior preocupação é formar, com extrema rapidez, mão-de-obra qualificada para saciar as ne-cessidades do mercado.

É por esta razão, que nós não temos visto nenhum outro período (ao menos, desde a década de 1970, quando prevalecia o ensino tecnicista) a obsessão com o Ensino Técnico atrelado à educação básica. Discursos como “Saia da escola, direto para o mercado de trabalho” são comuns nestes dias. A preocupação em atender às demandas imediatas do Mercado exclui o olhar para futuro e im-possibilita a inserção de uma nova mentalidade para a educação do século XXI.

E não me compreenda mal, não estou dizendo que a perspectiva profissionalizante atrelada a educação não seja importante, e que, portanto, ela deva ser excluída do processo. Não é esta a questão mais importante. O que eu quero levá-lo(a) à reflexão é a pergunta central: De que adiante tanta preocupação e um foco obsessivo na formação de mão-de-obra na educação básica, se não haverá em-pregos no futuro? Compreende como a ferida é muito mais profun-da?

Afinal, estamos falando em um período da história em que as má-quinas substituirão completamente o trabalho humano. E o que muitas pessoas se dão conta, que este acontecimento não se fará em um futuro distante. Muito pelo contrário, o futuro já está posto. Estamos falando de um horizonte muito mais próximo do que mui-tas pessoas podem imaginar.

E a grande problemática que se levanta diante deste cenário apo-calíptico é: Como poderemos nos reinventar e sobreviver em meio a tamanha catástrofe? Qual deverá ser o papel da educação diante deste contexto? Perceba como estamos falando em um processo de educação que vai além da formação técnica. Esta será sim, um aspecto muito importante no ensino-aprendizagem, porém não o essencial, visto que dominar apenas a técnica não será suficiente para nos colocar em posição de vantagem na concorrência desleal com as máquinas. Ou seja, o modelo tecnicista da educação não é mais suficiente para atender às demandas da nova sociedade.

Qual será o diferencial? Diante desta crise iminente, qual deve ser a missão da escola? Que tipo de indivíduo deve ser formado? Quais são as perspectivas da educação para as próximas déca-das? Escolarização ou Profissionalização?

Em minha humilde opinião, o papel da educação deverá ser preser-vado tal qual sempre foi: garantir a inclusão, a igualdade e a quali-dade de ensino; e, promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para TODOS (Objetivo de Desenvolvimento Susten-tável da ONU Nº4).

Se por um lado compreendemos que vivemos em um mundo onde

as máquinas fatidicamente substituirão a mão-de-obra humana, li-mitando o Mercado a pessoas com alta qualificação, por outro es-tas mesma inteligência artificial não será capaz de pensar, de pla-nejar, de organizar, de sistematizar e de sentir, visto que estas competências são puramente resultados da atividade da psiquê e acredito que se levará um bom tempo até inferir no computador tais habilidades (isto, se conseguirem algum dia). Afinal, já dizia Charlie Chaplin em seu discurso final na obra ‘O grande ditador’: “Mais do que máquinas, necessitamos de uma humanidade”.

Não obstante, estamos preocupados em preparar indivíduos para a utilizar-se da inteligência lógico-matemática. Preparamos indivíduos para preencher formulários. Preparamos indivíduos para passar nos melhores vestibulares. Preparamos indivíduos para serem bons profissionais. Em suma, preparamos indivíduos para dominar a técnica. E quando preparamos indivíduos para serem humanos?

Formamos indivíduos que sabem dominar a técnica, mas que não sabem lidar com suas emoções. Formamos profissionais altamente qualificados dentro de suas áreas de especialização, mas que cada vez menos demonstram empatia. Somos excelentes em preparar profissionais e cada vez mais péssimos em formar seres humanos.

Diante do novo cenário econômico-profissional, defendo que aque-le que terá condições de sobreviver e se sobressair será aquele in-dividuo versado nas competências socioemocionais, aqueles que além das técnicas saiba se relacionar, socializar e lidar com senti-mentos e emoções.

Defendo um modelo de educação que garanta ao indivíduo um de-senvolvimento global, e não apenas profissional. Minha meta, pela qual eu vivo e trabalho há mais de uma década, é proporcionar u-ma educação humanizada, pautada na ética, na cidadania, na res-ponsabilidade socioambiental, no respeito ao próximo. Estes valo-res são essenciais para a vida em sociedade e a Inteligência Artifi-cial não pode oferecê-los.

Mais do que profissionalização, o que está em pauta é uma educa-ção que valorize o material humano para uso pleno de suas poten-cialidades e capacidades. A educação não pode tão somente incor-porar o papel de formar demanda para o Mercado, mas sim formar um indivíduo em sua totalidade. Formar indivíduos independentes, autônomos, cujas experiências e sentimentos serão fundamentais em seu crescimento como pessoa.

A educação deve preparar o indivíduo para se relacionar em todas as esferas: política, econômica, social, educacional e cultural. Em outras palavras, a educação humanizada é uma necessidade vital para a sociedade do século XXI. Nestes termos, educar de forma humanizada é subsidiar o indivíduo de habilidades e competências de forma mais ampla e concreta.

Uma formação educacional pautada meramente no tecnicismo e com ausência de educação humanizada gerará, certamente, gran-des problemas para a sociedade, conduzindo-as a um retrocesso sem precedentes como a marginalização, a violência e a insensibili-dade.

Portanto, o grande desafio da educação não deve ser formar profis-sionais de excelência, mas seres humanos íntegros, completos e aptos para lidarem com os desafios contemporâneos. O grande de-safio deve ser formar indivíduos com aptidões emocionais, físicas e sociais.

Concluímos relembrando que a educação é um processo contínuo de construção e reconstrução. Neste processo é imprescindível subsidiar um processo de ensino que consolide no indivíduo valo-res necessários à sua participação social, à sua formação pessoal e à sua autorrealização.

Prof. Fábio Luiz de Souza (Consultor Educacional)

Whatsapp: (86) 99515-5554

Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 4

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Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 5

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Gianbatista Vico: “No início, a natureza dos povos é cruel, depois torna-se severa; em se-

guida, benevolente; mais tarde, delicada, e finalmente, corrupta”.

* * *

Eu: “O povo mau-mau conhecia bombom?”.

* * *

John Milton: “O povo não existe por causa do rei, mas o rei existe por causa do povo”.

* * *

Ditado taoísta: “Apto para governar está quem ama tanto o seu povo como se ama a si

próprio”.

* * *

Adam Smith: “A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza

dos príncipes.

* * *

Cézar Zama: “Os povos livres e felizes não se revoltam”.

* * *

Marquês de Maricá: “Os povos desencanta-dos tornam-se insubordinados”.

* * *

Lao-Tsé: “Quando o governante é indulgente, o povo é virtuoso. Quando o governante é ri-

goroso, o povo prevarica”.

* * *

Lao-Tsé, de novo: “Quando a obra dos me-lhores chefes fica concluída, o povo diz: fo-

mos nós que a fizemos”.

* * *

Victor Hugo: “A plebe apenas pode fazer tu-multos. Para fazer uma revolução, é preciso

povo”

* * *

Nietzsche: “Um povo é o rodeio da natureza para chegar a seis ou sete grandes homens.

Sim: e para depois se desviar deles”.

* * *

Barão de Montesquieu: “Qualquer povo de-fende sempre mais os costumes do que as

leis”.

* * *

Nelson Rodrigues: “Se Euclides da Cunha fosse vivo teria preferido o Flamengo a Canu-dos para contar a história do povo brasileiro.

* * *

Guimarães Rosa: “Povo quando fala, fantaseia”.

Quando os filhos dos mais pobres chegaram à universidade, a Espanha mudou.

Nos anos oitenta, jovens de todas as classes sociais encheram colégios e universida-des.

O colégio era público e novo e coube a nós estreá-lo. Também era frágil, construído a toque de caixa, sem muito planejamento, acredito que também sem muito orçamento. Por isso muitas coisas (quase todas as persianas, as barras do ginásio, o próprio giná-sio, a máquina de slides que sempre enguiçava) não sobreviveram um ano letivo. A por-ta de um banheiro que se quebrou serviu de trenó aos mais velhos em uma semana de fevereiro que nevou. Terminou abandonada em um lixão próximo.

Esse colégio recebeu um batalhão de adolescentes de La Elipa, Simancas e San Blas, três bairros da periferia de Madri que no começo dos anos oitenta, logo após a transi-ção da ditadura franquista para a democracia, estavam povoados por famílias operárias com o pai muitas vezes desempregado ou prestes a perder o emprego e a mãe aflita perseguindo como um detetive ofertas de supermercado. Em algumas casas o filho mais velho tinha acabado de se viciar em heroína e então tudo era horrivelmente pior.

Na hora do recreio, no pátio, parecíamos delinquentes juvenis. No fundo, também éra-mos frágeis e corríamos o risco de reprovação na metade do ano letivo: tão quebrados como as persianas da sala de aula, tão abandonados como a porta-trenó. Mas, sem nos darmos muita conta, graças a um punhado de professores convencidos de sua ta-refa fomos passando de ano até chegarmos ao vestibular. O pobre colégio parecia ter sido sacudido por um terremoto. Mas, apesar dos materiais aparentemente de segunda mão, aguentou. E serviu para o que serve um colégio: de trampolim, de porta de saída. Muitos de nós que fomos buscar as notas do vestibular naquela quente manhã de junho tantos anos atrás éramos os primeiros de nossas famílias a entrar em uma universida-de.

A universidade. A primeira coisa que fiz ao chegar foi verificar a consistência das persi-anas. A segunda, perceber que lá existia muita gente. Ao longo dos anos sessenta, de acordo com dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-nômico), somente 6% dos espanhóis terminava o segundo grau e só outro 6% conse-guia um título universitário. Nos setenta, essa porcentagem subiu a 9% e 10%, respecti-vamente. Mas nos oitenta, já 24% da população terminava o COU (Curso de Orientação Universitária) e 16% ia além e se formava na universidade. Algo estava acontecendo. A universidade ficou lotada de jovens da geração do baby boom, provenientes – pela pri-meira vez em grande quantidade – dos dois lados da trincheira econômica.

Abarrotamos as faculdades por razões demográficas: nunca fomos tantos e já havía-mos lotado os colégios, deformaríamos depois o mercado de trabalho e arrasaremos o sistema previdenciário quando chegar a hora. Mas também as abarrotamos por razões políticas: os Governos da época fomentaram um sistema de bolsas que fizeram com que os cursos fossem muito mais acessíveis. Os especialistas denunciavam que essa enxurrada de alunos baixaria o nível da universidade. E eu pensava que sim, que era verdade, mas que o nível do meu bairro também subiria. Além disso, passou a funcio-nar com regularidade – e já sem retorno – o elevador social. Meu primeiro amigo univer-sitário foi um rapaz de uma família burguesa do rico bairro de Moncloa, em Madri, que havia estudado no exclusivo colégio Base. Ainda é um dos meus melhores amigos.

Paralelamente, chegou a modernidade, abandonamos as jaquetas puídas e as calças justas e de noite íamos às festas da Movida (movimento de contracultura madrilenho dos anos setenta e oitenta) e de manhã às manifestações anti-OTAN (e anti-PSO, e que governava a Espanha e promovia a entrada do país na aliança militar). Mas a cada setembro preenchíamos, sem culpa na consciência e sem que nenhuma contradição nos atormentasse, o formulário da bolsa universitária anual do Governo de Felipe Gon-zález.

Naqueles anos erros foram cometidos, coisas deram errado, outras não foram alcança-das, muito ficou por ser feito e abordado superficialmente. Após a embriaguez da liber-dade retomada, espalhou-se certo desânimo e uma ressaca de decepção e suponho que inevitável como aquele que comprova no dia seguinte que a festa não foi tudo isso. As festas nunca são tudo isso.

Convém lembrar que, apesar de tudo, nessas décadas ocorreram pequenos milagres – produto de inúmeras causalidades, mas também de decisões políticas e de medidas orçamentárias – como o fato de meu amigo do colégio Base e eu nos sentarmos lado a lado em uma sala de aula da universidade, possuindo os dois (quase) as mesmas opor-tunidades para depois sair por aí, pela vida, que essa sim era tudo isso.

Em tempo: o velho colégio continua lá, no mesmo lugar, com a mesma forma de tram-polim, de porta de saída.

Luiz Ruffato

Antes a luta era pela "universidade para todos", agora o governo parece que está lutan-

do pela "universidade para ninguém".

Valter Bitencourt Júnior

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Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 6

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A dívida da escravidão

Os Estados Unidos devem pagar reparações aos afro-americanos descendentes de escravos? O debate sobre o pecado fundacional americano revive Hoje está aposentado, tem 89 anos, mas em cada legislatura du-rante quase três décadas, o congressista de Michigan John Con-yers propunha um projeto de lei para que os Estados Unidos reco-nhecessem “a crueldade, a brutalidade e a falta de humanidade” da escravidão, assim como “a resultante discriminação econômica e racial dos afro-americanos e o impacto em seus descendentes”. A proposta sequer chegou a ser debatida.

A dívida da escravidão Francis Fukuyama: “Nem todos os eleito-res de partidos populistas são racistas ou xenófobos”

A dívida da escravidão: O que está por trás da cultura do ódio

A ideia de realizar “reparações pela escravidão” esteve mais ou menos presente na sociedade norte-americana desde a Guerra Ci-vil. Já em janeiro de 1865, meses antes do final da contenda, o ge-neral William Tecumseh Sherman ditou a famosa ordem de campa-nha conhecida como a lei “dos quarenta acres e uma mula”, em re-ferência ao que prometia aos negros recém-libertos (o diretor de cinema Spike Lee batizou sua produtora em 40 Acres & Mule como homenagem). Desde então, as iniciativas de reparação se sucede-ram. Durante certas épocas hibernam, mas, sendo a escravidão o grande pecado fundacional dos Estados Unidos, o debate está aí e sempre volta a aparecer.

Agora, em 2019, enquanto cresce o número de democratas que se postulam a tirar o poder de Donald Trump em 2020, foram vários os candidatos que voltaram a mencionar o assunto. Da senadora cali-forniana Kamala Harris à veterana Elizabeth Warren, passando pe-lo antigo prefeito de San Antonio, Julián Castro, todos – na atual campanha para obter a indicação do Partido Democrata nas elei-ções presidenciais do próximo ano – manifestaram seu apoio a al-guma forma de reparação que alivie a indelével mancha americana. Em sua opinião, a escravidão não só causou danos e sofrimento aos escravos, como instaurou todo um sistema de corrupção que infectou, como uma gangrena, a sociedade inteira. É, defendem, uma dívida coletiva que sem dúvida deve ser paga.

O antigo sistema de exploração e abuso foi sucedido por um século de leis que institucionalizaram a discriminação

O problema é que tal dívida cobre nada mais e nada menos do que 250 anos de história, porque o que ficou realmente provado é que a escravidão não acabou com Abraham Lincoln e a décima-terceira emenda da Constituição americana que abolia a escravidão. O anti-go sistema de exploração e abuso foi sucedido por um século de leis que institucionalizaram a discriminação contra os negros, um modo de escravidão que sobreviveu até boa parte do século XX e que estava integrado no sistema econômico e amparado pelo Go-verno. Basta ler o revelador ensaio de Ta-Nehisi Coates ‘Um Argu-mento a Favor das Reparações’ (The Case for Reparations, no ori-ginal em inglês), publicado na revista The Atlantic em 2014, para

entender as razões pelas quais alguns dos mais destacados candi-datos democratas lutam por esses desagravos. Coates define os anos das conhecidas como leis Jim Crow (legislação de segrega-ção racial) como uma etapa de cleptocracia em que os negros e-ram roubados em seus pertences, no direito a votar, no direito a uma casa e até mesmo no direito à Justiça. Na opinião do ensaísta, o New Deal de Roosevelt foi projetado para proteger o estilo de vi-da sulista. Como diz em seu texto de mais de 16.000 palavras, foi tamanho o espólio de terras dos afro-americanos que esses terre-nos hoje em dia são um clube de campo na Virginia e campos de petróleo no Mississipi, para citar alguns exemplos.

Entre 1930 e 1960, ocorreram em Chicago linchamentos de negros e incêndios para manter vizinhanças livres da presença dessa raça. Os mais de seis milhões de descendentes de escravos que prota-gonizaram a Grande Migração ao Norte fugindo da segregação e da violência do Sul encontraram na Filadélfia, Washington e Chica-go leis que os impediam de alugar casas em igualdade de condi-ções em relação aos seus compatriotas brancos, de modo que mui-tas vezes acabavam nas ruas, despejados, ao não conseguir pagar empréstimos abusivos, e fechados em guetos. É o que o autor Douglas Blackmon definiu como “escravidão com outro nome”. No livro que possui esse mesmo título (Slavery by Another Name, no original em inglês), o escritor coloca como, enquanto a Alemanha paga há 60 anos indenizações a vítimas do Holocausto, ‘Quando se menciona o assunto das reparações, são muitos os obstáculos encontrados para avançar em uma direção proveitosa. Quanto seri-a pago? (Os especialistas colocam o valor em trilhões). Para quem seria pago? (David Brooks, colunista do jornal The New York Ti-mes, se pergunta em relação a isso: Os milionários Oprah Winfrey e Lebron James seriam indenizados?). Mas por fim, o principal ar-gumento dos que se opõem às reparações é que são violações o-corridas em um passado muito remoto, sobre as quais não existe um senso de responsabilidade coletiva.

Os democratas Elizabeth Warren, Kamala Harris, Julián Castro e Beto O’Rourke consideram que chegou o momento de começar u-ma conversa profunda em escala nacional. “Precisamos estudar os efeitos que tiveram décadas e décadas de discriminação e racismo institucional sobre muitas gerações, e determinar quais são as con-sequências e o que se pode fazer para intervir e corrigir o que a-conteceu”, diz Harris. Na opinião de Beto, os Estados Unidos “nunca irão curar sua ferida” a menos que resolvam o pecado origi-nal da escravidão.

Os que se opõem às reparações afirmam que são violações ocorri-das em um passado muito remoto

Há, entretanto, uma voz dissonante nas fileiras democratas. Bernie Sanders, senador de Vermont e um dos candidatos mais bem colo-cados nas pesquisas em relação à indicação de seu partido, não apoia as reparações porque considera que é praticamente impossí-vel transformá-las em algo concreto. “Existem maneiras melhores de lidar com as crises do que entregar um cheque”, diz. Prefere a-postar em políticas sociais, como a criação de emprego e dar facili-dades para estudar. Barack Obama também se opôs às compensa-ções em sua campanha à presidência porque poderiam se transfor-mar, disse, em uma desculpa para dizer que a “dívida” com os ne-gros está paga em vez de acabar com as discriminações atuais. Hillary Clinton também prefere falar de investimentos em vez de reparações.

Desde 1865 ocorreram outras tentativas para conquistá-las, especi-almente as lutas pelos direitos civis que desembocaram na extraor-dinária legislação do presidente Johnson. Mas sempre toparam com as mesmas dificuldades: como determinar as responsabilida-des e os eventuais beneficiários. Hoje não é diferente. Quem paga o que a quem pela grande dívida de 250 anos de escravidão.

YOLANDA MONGE

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Por lutar contra a fome no Brasil, ele foi punido pela

Ditadura Militar. Josué de Castro escreveu obras clás-sicas sobre o quadro trágico da fome no Brasil e no mundo

Josué Apolônio de Castro, mais conhe-cido como Josué de Castro, foi um influente médico, nutrólogo, professor, geó-grafo, cientista social, político, escritor e ativista brasileiro do combate à fome.

Josué de Castro nasceu no dia 5 de setembro de 1908, no Recife (PE). Aos 20 anos, formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, atual UFRJ.

Apesar do interesse inicial pela psiquiatria, resolveu fazer nutrição e abriu sua clínica no Recife. Na mesma época, foi contratado por uma fábrica para exami-nar trabalhadores com problemas de saúde indefinidos e diagnosticou: “sei o que meus clientes têm. Mas não posso curá-los porque sou médico e não diretor daqui. A doença desta gente é fome”. Logo foi demitido da fábrica. Vislumbrou então a dimensão social da doença, ocultada por preconceitos raciais e climáti-cos.

A partir de 1940, participou de todos os projetos governamentais ligados à ali-mentação, coordenando a implantação dos primeiros restaurantes populares, dirigindo as pesquisas do Instituto de Tecnologia Alimentar e colaborando para a execução de várias políticas públicas, como a educação alimentar. Sob sua dire-ção foi lançado o periódico ‘Arquivos Brasileiros de Nutrologia’.

O ano de 1946 foi marcado pela publicação de ‘Geografia da fome‘. Obra clássi-ca da ciência brasileira, o livro buscou tirar da obscuridade o quadro trágico da fome no país. Enfatizou as origens socioeconômicas da tragédia e denunciou as explicações deterministas que naturalizavam este quadro.

No mesmo ano, foi o fundador e primeiro diretor do Instituto de Nutrição da Uni-versidade do Brasil. ‘Geopolítica da fome‘, livro publicado em 1951, concebido como uma extensão da ‘Geografia da fome’, tornou-se um marco histórico e po-lítico nas questões de alimentação e população. Os princípios ecológicos e geo-gráficos foram desta vez utilizados na escala da fome mundial.

Respeitado internacionalmente, José de Castro foi eleito por representantes de 70 países Presidente do Conselho Executivo da Organização das Nações Uni-das para Alimentação e Agricultura (FAO), cargo que exerceu entre 1952 e 1956. Exerceu dois mandatos como deputado federal eleito pelo estado de Per-nambuco. Entre diversos projetos ligados a questões agrárias, educacionais, culturais e econômicas, apresentou o de regulamentação da profissão de nutri-cionista, que dispõe sobre o ensino superior de Nutrição. Em 1963, tornou-se embaixador brasileiro junto à sede europeia da Organização das Nações Uni-das, em Genebra.

Com o Golpe de Estado de 1964, foi destituído do cargo de embaixador-chefe em Genebra e seus direitos políticos foram suspensos pela Ditadura Militar no Brasil em seu primeiro Ato Institucional.

No exílio, sentiu muita falta do Brasil. Impedido de voltar ao país, aceitou asilar-se na cidade de Paris, onde procurou dar prosseguimento a suas atividades.

Fundou e dirigiu o Centro Internacional para o Desenvolvimento, além de ter presidido a Associação Médica Internacional para o Estudo das Condições de Vida e Saúde. Foi designado professor estrangeiro associado ao Centro Univer-sitário Experimental de Vincennes (Universidade de Paris VIII), onde trabalhou até sua morte.

Faleceu em Paris, em 24 de setembro de 1974. Seu corpo foi enterrado no ce-mitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.

Josué de Castro mostrou ao mundo a dor da fome no Brasil, que infelizmente até hoje causa o sofrimento de milhões de brasileiros. O relatório ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018′, da FAO, mostrou que 5,2 mi-lhões de pessoas passam fome no Brasil.

Maria Fernanda Garcia

Maio de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 7

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Cérebro de milho

Quem será, quem será

Que deixa as bruxas pasmas

Por ser hábil em se comunicar

Com funcionários fantasmas?

E quem será o militar

Que plantou um pomar

E demonstrou que manja

Da arte de fazer da política

Uma árvore infrutífera

Repleta de laranjas?

Quem será, quem será

Que ostentando um rifle

Foi capaz de ressuscitar

O espírito de Hitler

E que despertou nas pessoas

Que pareciam ser boas

O seu lado mais boçal

Fazendo surgir conservadores

Que lembram os inquisidores

Do período medieval?

Quem será, quem será

Que achou bacana

Abanar o rabinho ao prestar

Continência à bandeira americana?

E quem será o imbecil

Que abriu as portas do Brasil

Para os gringos sem visto

E que recebeu de Nova Iorque

O carimbo no passaporte:

Você não é benquisto?

Quem será, quem será

Que tem cérebro de milho

E que se deixa dominar

Pelos seus tolos filhos?

E quem será o insano homem

Que quer ver os nossos jovens

Lutando na Venezuela

Como buchas de canhão

Só para agradar a Nação

Que enriquece com as guerras?

Quem será, quem será

Que passará para a história

Como quem tentou governar

Usando a pobre retórica

Que se resumiu em ‘talquei’

E em criar terra sem lei

Cheia de caubóis urbanos?

Esse é o capitão Bolsonaro

O super-herói dos vassalos

E líder dos milicianos.

Eduardo de Paula Barreto.

Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra,

fazem viver os outros.

Voltaire

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Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 8

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

O Dia do Orgulho LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, tra-

vestis, transexuais, intersex)

Em 28 de junho de 1969, num

bairro de Nova Iorque, a polícia

invadiu o bar Stonewall Inn , o mo-

tivo seria a venda de bebidas alcoólicas que estava em descumpri-

mento as leis locais. É claro que por trás do motivo alegado estava

um motivo maior que era o preconceito contra o público LGBT. O

local era frequentado por gays. O confronto durou duas noites, e foi

uma reação as várias batidas e perseguições que ocorriam ali com

frequência. Esse dia então acabou se tornando o dia Internacional

do Orgulho Gay. A 1ª parada do Orgulho LGBT ocorreu em 1º de

julho de 1970, uma forma de lembrar o ocorrido e de lutar contra a

discriminação e o preconceito. Ocorre em diversos países e cida-

des do mundo.

São vários os fatores discriminatórios perpetrados contra os ho-

mossexuais, o que acaba causando a marginalização e a segrega-

ção social de pessoas que têm uma sexualidade distinta. Assim a-

contecem a cada hora atos de violência, atos de crueldade e humi-

lhação contra a população homossexual, lésbicas, gays, transexu-

al. Nesse dia acontecem vários atos e atividades de promoção de

direitos aos homossexuais e todos que fazem parte do mundo

LGBTI.

Lamentavelmente a intolerância e a marginalização contra os ho-

mossexuais, contra a identidade de gênero, continuam sendo moti-

vo para a violência e preconceito. Segundo a Anistia Internacional,

a homossexualidade é considerada crime em 38 países africanos.

Em alguns países a homossexualidade é punida com a pena de

morte. Ao todo temos 73 países onde a homossexualidade é crimi-

nalizada. Os assassinatos, a violência cometida contra os LGBTs

fere os direitos humanos. É inaceitável que em pleno século XXI

tenhamos que conviver com a ignorância de alguns que conse-

guem fazer da existência dessas pessoas um verdadeiro inferno.

Crimes são cometidos em nome de uma falsa moral. Pessoas se

arvoram em defensores dos “bons costumes”, a pergunta que fica

é: Como fazer para acabar com a intolerância? Alguns países di-

zem que embora a lei exista, ela não é aplicada. No momento em

que ela faz parte do ordenamento jurídico de uma nação, ela pode-

rá ser aplicada a qualquer tempo. Isso deixa a todos em estado de

vulnerabilidade, a mercê da justiça.

Ativistas de Direitos Humanos, de direitos LGBT, lutam em diversas

partes do mundo contra leis que são contrárias a homossexualida-

de, como por exemplo em Uganda, em que os ativistas consegui-

ram a revogação da lei anti gay que punia com prisão perpétua

qualquer demonstração de homossexualidade. A lei ainda existe,

mas não mais obriga os ugandenses a delatar os integrantes da

população LGBT, e a pena é de vários anos de prisão.

No Brasil a violência contra a população LGBT é alarmante. Esta-

mos entre os países em que mais ocorrem atos violentos contra

esses grupos. Os estados com maior número de denúncias pela

ordem são: São Paulo e Rio de Janeiro. Os assassinatos continu-

am, as atrocidades cometidas pela ignorância levam a morte um

LGBT a cada 26 horas.

“Conforme dados do Grupo Gay da Bahia e da Associação Nacio-

nal de Travestis e Transexuais, 445 pessoas LGBT foram assassi-

nadas em 2017 no Brasil, sendo que 179 eram travestis ou transe-

xuais.”

Vivemos um período de mudanças, onde se faz necessário o reco-

nhecimento dos direitos dessas minorias, e a aplicação de políticas

públicas mais tolerantes inclusivas e de respeito à diversidade.

A diversidade existe. Saber lidar com isso é fundamental, assim co-

mo valorizar a diversidade sexual como um direito humano, que faz

parte de vários outros direitos que permeiam nossa existência e

que permitem uma vida mais digna, livre de preconceitos.

A homofobia deve ser combatida em todas as esferas: política, so-

cial e cultural. Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos,

imaginava-se que as barbáries e a violência contra a pessoa huma-

na desapareceriam (PEREIRA; CAMINO, 2003). No entanto, o des-

respeito e a violação a esses direitos continuam existindo. Moore

Junior (1987), em seu livro, diz que as normas básicas devem exis-

tir e a sociedade deve obedecê-las, inclusive aceitando as várias

formas de punição, demonstrando, assim, maturidade e aceitação

dos valores que fazem parte dessa sociedade; ou seja, o desres-

peito e a discriminação ao outro devem ser punidos, pois, se existe

uma Declaração Universal dos Direitos Humanos protegendo nos-

sos direitos básicos, ela deve ser cumprida.

Que essa data sirva para nos lembrar que devemos continuar na

luta contra toda forma de discriminação e preconceito. Que se con-

siga fazer com que as pessoas pensem a respeito, se conscienti-

zem da importância de combater a homofobia e de trabalharmos

todos para obtermos uma sociedade mais justa, livre e igualitária.

Mariene Hildebrando Especialista em Direitos Humanos

Contexto e definição dos direitos humanos

Os direitos humanos são comumente com-preendidos como aqueles direitos inerentes ao ser humano. O conceito de Direitos Hu-manos reconhece que cada ser humano po-de desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem soci-al ou nacional ou condição de nascimento ou

riqueza.

Os direitos humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos huma-nos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem nas li-berdades fundamentais e na dignidade humana.

Estão expressos em tratados, no direito internacional consuetudinário, conjuntos de princípios e outras modalidades do Direito. A legislação de direitos humanos obriga os Estados a agir de uma determinada maneira e proíbe os Estados de se envolverem em atividades específicas. No en-tanto, a legislação não estabelece os direitos humanos. Os direitos huma-nos são direitos inerentes a cada pessoa simplesmente por ela ser um humano.

Tratados e outras modalidades do Direito costumam servir para proteger

formalmente os direitos de indivíduos ou grupos contra ações ou abando-no dos governos, que interferem no desfrute de seus direitos humanos.

Algumas das características mais importantes dos direitos humanos são:

Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa;

Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as pessoas;

Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; eles podem ser limitados em situações específi-cas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido se uma pes-soa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo legal;

Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependen-tes, já que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai afetar o respeito por muitos ou-tros;

Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual im-portância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa.

Fonte: ONU

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Na esteira da revolta de hoje: O que é o ensino da filosofia?

Não faz muito tempo a filosofia voltou a ser uma disciplina no ensi-no médio. A lei que torna a filosofia obrigatória é de 2008. Até 1971 ela havia feito parte do currículo do ensino médio, e durante todo o período da ditadura militar foi retirada e substituída pela então cha-mada educação moral e cívica. Claro que não é uma grande coinci-dência ela passar a ser alvo dos ataques do governo Bolsonaro. A sociologia e a filosofia são retiradas do currículo durante a ditadura militar, voltam para o mesmo nos breves anos de democracia, e são ameaçadas por este atual governo que tem mais cheiro de di-tadura do que de democracia.

E por que a filosofia é mais uma vez alvo de ataques? Para respon-der uma pergunta que parece até bastante evidente é preciso res-ponder qual é o papel do ensino da filosofia.

No governo do PT, o objetivo principal do ministério da educação era com a promoção do desenvolvimento sistemático das questões humanistas, bem como a preparação dos jovens como cidadãos que conseguissem refletir sobre os problemas e soluções para a nação brasileira. Segundo a declaração do então ministro da edu-cação Fernando Haddad, os jovens brasileiros deveriam ser res-ponsáveis e concernidos ao destino do Brasil. Neste período o en-sino da filosofia segundo as diretrizes do ministério teve uma pro-posta não somente de ensinar a história da filosofia, mas, sobretu-do proporcionar aos jovens uma reflexão, a partir dos conceitos filo-sóficos, sobre a vida, a ética e a política. As aulas de filosofia deve-riam servir para a análise de questões sociais e políticas e a cons-trução de vivências filosóficas com a vida, ativando o pensamento e o pensamento afirmando a vida.

Desastrosamente voltamos ao período em que não se quer filosofi-a, e não se deseja que haja reflexão dentro de sala de aula. É a ideia de “escola sem partido” que se propaga por este Brasil a fora. Lamentavelmente vivemos em tempo de crise das ideias. “Escola sem partido” não significa que os professoras não devam ter um partido ou falar de uma bandeira partidária. Significa antes de tudo que não devemos questionar, problematizar, exercer o pensamen-to. Tudo isso é o que a filosofia faz. Filosofia é entender o mundo em conceitos. É justamente problematizar o mundo, a vida, a socie-dade, as leis, o conhecimento e a própria filosofia. É sair do confor-to de nossas ideias lineares, nosso mundo homogêneo, enfim, de nossa profunda bolha. É pensar o mundo, as instituições, as rela-ções intersubjetivas, sociais, econômicas e políticas para além da-quilo que nos é oferecido ver. É por isso que a filosofia faz tanto mal.

Praticamente todos os filósofos desde Sócrates, passando pelos medievais, por Kant, na modernidade, Nietzsche no século XIX, e Adorno já no século XX, se preocuparam com a educação. A filoso-fia sempre esteve preocupada com a busca do conhecimento, mas também sobre a problematização do conhecimento. É preciso refle-tir a respeito da finalidade do conhecimento. O Conhecimento pelo conhecimento, para simplesmente colocá-lo no baú do esqueci-mento não é o tipo de educação que a filosofia espera. É preciso o aprendizado de um tipo de conhecimento que nos dê a ferramenta adequada ao contínuo aprender. É preciso aprender a conhecer, isto é, um tipo de aprendizado que foge da simples aquisição de saberes codificados e focalizar-se no domínio dos próprios instru-mentos do conhecimento. Esse domínio dos instrumentos é o meio e a finalidade da vida humana. Pretende-se que cada indivíduo a-prenda a compreender o mundo que o rodeia, na medida em que isto é necessário para uma vida digna. Através deste domínio dos instrumentos do conhecimento o indivíduo desenvolve a curiosida-de intelectual e esta por sua vez estimula o senso crítico e torna os indivíduos autônomos para compreender o mundo em sua volta. É somente através desta dinâmica do aprender que possamos formar indivíduos autônomos e conhecedores de seu próprio mundo. É por isso que a filosofia faz tanto mal!

Segundo a filosofia, o conhecimento de uma cultura geral deve es-tar no centro da finalidade da educação. Contudo, o aprendizado desta cultura geral deve incluir sempre as mudanças constantes do próprio mundo em que se vive. A aquisição dos saberes permite compreender melhor o ambiente sob os seus diversos aspectos, e

favorece o despertar da curiosidade intelectual. Não é possível se fechar apenas no espaço de um tipo de especialização. É necessá-ria uma cultura geral vasta que trabalhe em profundidade determi-nados números de assuntos. É por isso que a filosofia faz tanto mal!

É preciso dizer que o programa da filosofia no ensino médio consis-te em apresentar a história da filosofia desde a Grécia antiga até os filósofos contemporâneos percorrendo as diferentes teorias do co-nhecimento. Estudar a teoria do conhecimento ou a epistemologia significa conhecer as teorias que tratam sob o problema ou a possi-bilidade do conhecimento. O que conhecemos? Como conhece-mos? Quem é o sujeito cognoscente? Em última instância, por que queremos conhecer? Muitas vezes os alunos são confrontados com ideias que lhes parecem muito estranhas. Há efetivamente um estranhamento no pensar filosófico porque há questionamentos. Nada é simples. Mas através desse estranhamento os alunos a-prendem a pensar, a questionar, a problematizar o mundo e as coi-sas que estão a sua volta. É por isso que a filosofia faz tanto mal!

O ensinamento estéril da história da filosofia aos alunos de ensino médio pode não fazer nenhum sentido, mas se fornecemos as fer-ramentas aos alunos para que eles consigam compreender o que uma doutrina e um conceito filosófico ainda têm a nos dizer no nos-so tempo, embora eles possam ter sido escritos antes mesmo de nossa era, o estranhamento inicial pode se tornar algo esplêndido. Goethe, certa vez disse: “além disso, odeio tudo aquilo que somen-te me instrui sem aumentar ou estimular diretamente a minha ativi-dade”. Não devemos querer apenas instruir nossos alunos, e tam-pouco discutir com eles mesmices do dia a dia; para tanto eles não precisam de filosofia. O que nós queremos é fornecer-lhes o conta-to com o estranhamento, e dar-lhes a possibilidade de ver algo que está para além da sua imediata compreensão. É o enfrentamento deste estranhamento que possibilitará o aluno adentrar no mundo da filosofia e do pensamento. Nós não podemos ensinar a filosofia como ensinamos a história. É preciso deixar uma marca de dúvida posto que filosofia não é a verdade incontestável, antes é a discus-são eterna. É por isso que a filosofia faz tanto mal!

Todavia, para que os alunos consigam discutir é necessário que possamos percorrer o estranhamento e também a história do pen-samento. É preciso que os alunos tenham conhecimento de seus antepassados. Das teorias que foram realizadas no decorrer de nossa história da humanidade. O fundamento de toda a educação, segundo Hannah Arendt é certa relação com o tempo. Os homens somente podem se tornar homens neste mundo comum que per-passa o seu próprio tempo. O passado lhe ensina sobre os seus antepassados, e como professores temos o dever de mostrar aos nossos alunos o passado e lhes confrontá-los com o presente. A educação não pode existir sem uma continuidade, continuidade es-ta que advém dos nossos ensinamentos passados. A educação é aquilo que se renova a cada tempo, mas não pode perder de vista a transmissão do precedente. Cada novo aluno é uma renovação e um potencial de conhecimento, que tem o direito de adquirir e co-nhecer aquilo que lhe precedeu. O mundo não pode iniciar com o nascimento de cada indivíduo, senão cairemos na loucura. Ao mes-mo tempo, o indivíduo que nasce é o iniciador de uma novidade que não podemos antecipar. Sua relação com o mundo é o novo que surge, mas lhe são necessárias as bases deste mundo para que seus passos consigam transformar. É neste sentido que a edu-cação consiste nesta dupla dimensão temporal; o tempo que prece-de e o tempo que está por vir. Educar consiste a dar ao educando a chance de se apropriar do mundo pessoalmente e singularmente enquanto herdeiro deste. É por isso que a filosofia faz tanto mal!

Portanto, não podemos abandonar a filosofia e não podemos dei-xar que governos autoritários, os quais possuem um programa bem claro para a educação, que consiste em torná-la escrava dos meios de produção capitalista, cortem verbas ou denigram o ensino da filosofia, nas universidades e nas escolas. A filosofia é o exercício do pensamento. Um governo que solapa a filosofia é um governo que deseja cidadãos sem pensamento crítico. Filosofia não é “coisa de comunista”, é algo muito sério.

Evânia E. Reich é doutora em Filosofia pela UFSC .

Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 9

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Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 10

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

IRONIA NUM ASSALTO

A cidade anda muito violenta. Nunca se sabe o

que pode acontecer. Isso é verdade!

- Assalto!

Foi o que ouviu de sobressalto na fila do banco e que azar, estava quase che-

gando a sua vez, pânico total, gritos e muita agonia.

- Todos no chão, gritaram os bandidos.

Mas, ele não se rendeu, continuou em pé. Seria o quê? Um louco, um desvaira-

do?

Os assaltantes armados ameaçavam matar se não lhes entregassem o dinheiro

e, na dúvida, o pegaram como refém já que se mantivera em pé.

Todos agachados, aterrorizados não entendiam a atitude do velho estúpido que

não se rendera, a cara pálida, olhar atônito, mas de pé, peito estufado, assim se man-

tivera.

Rapidamente recolheram todo dinheiro dos caixas e dirigiram-se para fora do

banco com o refém à frente.

Entretanto, começa soar o alarme e rapidamente uma correria, bandidos gritan-

do para ninguém se mexer, polícia chegando com armas em punho ameaçando en-

trar ou que entregassem o refém e sairiam em segurança.

Eis que um dos marginais empurra o velho que estava detido por eles em dire-

ção à porta e um tiro vem de fora acertando certeiro o peito do velho teimoso que cai

no chão enquanto policiais invadem o banco entre um forte tiroteio.

Os assaltantes são rendidos, a ambulância socorre a vítima que não resiste e

morre.

No dia seguinte, após a perícia médica e a presença de familiares, uma surpre-

sa:

O velho era muito precavido para sair de casa, nunca deixava de levar o guarda-

chuva caso chovesse, nunca saia sem o cartão do idoso para garantir seu lugar nas

filas preferenciais de idosos e, visto a violência instalada e o numero de assaltos pela

cidade, conseguiu um colete à prova de balas e nunca saia sem ele e, neste caso o

tiro que lhe atingira o peito, na verdade não ultrapassou o colete e impediu a bala de

atingir seu peito.

Então morreu por quê?

Tão apavorado ficou com o anúncio do assalto e, pela impossibilidade de se jo-

gar no chão como os outros em virtude da artrite e artrose, por isso ficou de pé e, não

por resistência, embora estivesse há muito tempo usando como precavido que era,

um colete à prova de balas, não foi o tiro que o matou...

Segundo a perícia médica, já desde o início do ocorrido abalou sua pressão e

teve um início de infarto.

Com o desfecho do tiroteio, não suportou e, morreu de susto...

Se os assaltantes soubessem, poderiam ter levado seu colete, mas, esse o sal-

vou, embora não foi suficiente para um desfecho feliz.

A tecnologia poderia inventar um colete à prova de infarto!

Genha Auga

Jornalista MTB:15320

AMOR DE MATUTO

Genha Auga

QUANDO O NAMORO ACABA

O MATUTO SE ENTRISTECE

EM VEZ DE FICAR COM RAIVA

FAZ DA MATÉRIA PRIMA,

OBRA DE ARTE EM RIMA.

TRISTEZA E SAUDADE

É DOR QUE QUANDO VEM,

FAZ SOFRER DE MONTÃO

E UMA DOR SE INSTALA

LOGO NO CORAÇÃO.

SAUDADE É SOLIDÃO

E POR ISSO NÃO TEM PLURAL

ATACA QUALQUER UM,

DO CABOCLO AO GENERAL

MATANDO SEM PERDÃO.

OLHO AS ESTRELAS

QUE PARECEM NO CÉU VOAR,

QUEM ME DERA NOSSO AMOR

EM TODO SEU ESPLENDOR,

NUNCA TERMINAR.

NOSSO AMOR CHEGOU AO FIM

COMO UMA PÁGINA DA VIDA...

NUNCA SERÁ LIDA NOVAMENTE!

ESPERO O FIM DO OUTONO

E QUE ALGUÉM CHAME POR MIM.

Que país é esse? Como canta Legião Urbana. O contraste é violento e imediato, de um lado uma

lindeza deslumbrante, do outro pessoas que pela própria imoralidade e interesses pessoais, o torna um imenso caldeirão de ilegalidade, ineficiência

e injustiça.

Marco Calistri

Page 11: A dívida da escravidão - Gazeta ValeparaibanaNa semana do Meio Ambiente precisamos refletir sobre o mun-do que queremos para nossos filhos e netos e, não devemos nos esconder atrás

Na semana do Meio Ambiente precisamos refletir sobre o mundo que queremos para nossos filhos e netos e, não devemos nos es-conder atrás do pano, certos que o ator dessa mudança são os ou-tros.

A humanidade já destruiu a metade de todas as árvores do planeta

Existem 3 trilhões de árvores. No ritmo do desmatamento, desapa-recerão em 300 anos.

É o tipo de pergunta que pega qualquer pai de surpresa e que nem as melhores mentes puderam responder de forma satisfatória: Quantas árvores há no mundo?

Um novo estudo acaba de apresentar o cálculo mais preciso até o momento, e os resultados são surpreendentes, para o bem e para o mal. Até agora se pensava que havia 400 bilhões de árvores em todo o planeta, ou 61 por pessoa. A contagem se baseava em ima-gens de satélite e estimativas da área coberta por florestas, mas não em observações in loco. Depois, em 2013, estudos com base em contagens diretas confirmaram que somente na Amazônia há quase 400 bilhões de árvores, por isso a pergunta continuou no ar. Trata-se de um dado crucial para entender como funciona o planeta em nível global, em especial o ciclo do carbono e as mudanças cli-máticas, mas também a distribuição de espécies animais e vegetais e o efeito da atividade humana em todas elas.

Uma nova verificação, publicada nesta quarta-feira pela revista Na-ture, mostra que na realidade há 3 trilhões de árvores em todo o planeta, umas oito vezes mais do que o calculado anteriormente. Em média, há 422 árvores para cada ser humano.

A distribuição por país revela uma enorme desigualdade, com ricos como a Bolívia com mais de 5.000 árvores por pessoa, e notoria-mente pobres, como Israel, onde apenas há duas para cada habi-tante. Grande parte do contraste se deve a fatores naturais como o clima, a topografia ou as características do solo, mas também ao efeito inconfundível da civilização. Quanto mais aumenta a popula-ção humana, mais diminui a proporção de árvores. Em parte isso se explica porque a vegetação prospera mais onde há maior umida-

de, os lugares que os humanos também preferem para estabelecer terras de cultivo.

O trabalho calcula que, a cada ano, as atividades humanas destro-em 15 bilhões de árvores. A perda líquida, compensado com o apa-recimento de novas árvores e o reflorestamento, é de 10 bilhões de exemplares. Desde o começo da civilização, o número de árvores do planeta se reduziu em 46%, quase a metade do que havia, indi-ca o estudo da Nature.

Se esse ritmo de destruição prosseguir sem alterações, as árvores desaparecerão do planeta em 300 anos. São três séculos, umas 12 gerações. “Esse é o tempo que resta se não fizermos nada, mas temos a esperança de que poderemos frear o ritmo e ampliar o re-florestamento nos próximos anos para aplacar o impacto humano nos ecossistemas e no clima”, explica Thomas Crowther, pesquisa-dor da Universidade Yale (EUA) e principal autor do estudo.

Europa sem florestas

Há dois anos, representantes da “Campanha do 1 Bilhão de Árvo-res”, da ONU, para replantar parte da vegetação perdida precisa-vam saber qual o impacto que seus esforços estavam tendo. Con-tataram Crowther, que trabalha na Escola de Estudos Florestais e de Meio Ambiente de Yale, para lhe perguntar quantas árvores há no mundo e quantas nas diferentes regiões onde trabalham. Foi o começo do presente estudo, assinado por 38 pesquisadores de 14 países. Juntos compilaram dados da densidade florestal tomados em mais de 400.000 pontos de todos os continentes, menos a An-tártida. Dividiram a Terra em 14 tipos de biomas, ou paisagens bio-climáticas, estimaram a densidade de árvores em cada um deles com base em imagens de satélite e comprovaram sua confiabilida-de com as medidas in loco. Por último, compuseram o mapa global de árvores mais preciso feito até hoje, no qual cada pixel é um qui-lômetro quadrado.

Os resultados mostram que a maior densidade de árvores se en-contra nas matas boreais e nas regiões subárticas da Rússia, Es-candinávia e América do Norte. A maior extensão de floresta está nos trópicos, com 43% de todas as árvores do planeta. As matas do norte só contêm 24% do total de exemplares e 22% estão nas zonas temperadas.

A maior floresta é a Amazônia. Em 2018, o Brasil registrou os maio-res números de desmatamento na Região Amazônica de toda a história. Desde agosto, a devastação ilegal continua e atinge, em média, 52 hectares da Amazônia/dia. O novo problema é que os dados mais recentes, dos primeiros 15 dias de maio de 2019, são os piores em uma década - 19 hectares/hora, em média, o dobro do registrado no mesmo período de 2018.

Foram perdidos oficialmente em uma quinzena 6.880 hectares de floresta preservada na Região Amazônica, o mesmo que quase 7 mil campos de futebol.

Filipe de Sousa

Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 11

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Ímprobo Ricardo Salles quer tirar

do Fundo Amazônia para dar a grileiros

Nota da coordenação do Observatório do Clima

Taxa de mortalidade de árvores de florestas tropi-cais úmidas mostra sinais

de aceleração nos últimos anos. Perda de folhas facilita as queima-das. (Foto: Daniel Beltra/Greenpeace)

O condenado por improbidade e ministro do Meio Ambiente Ricar-do Salles insiste em seu ataque ao Fundo Amazônia. Depois de mentir sobre a existência de irregularidades nos contratos de ONGs com o fundo e ser forçado a um recuo, Salles agora diz querer usar o dinheiro para indenizar proprietários rurais em unidades de con-servação.

Embora a regularização fundiária em áreas protegidas seja meritó-ria e necessária, o ministro sabe que o Fundo Amazônia não é o

instrumento para isso: afinal, ele existe com o objetivo claro de fi-nanciar ações que levem à redução do desmatamento.

Apenas 3% da área de unidades de conservação no Brasil precisa ser indenizada a proprietários privados, segundo o Instituto Chico Mendes. Na Amazônia, onde imensa maioria das terras é pública, ocupantes de áreas protegidas frequentemente são grileiros que sabem que não terão direito a indenização. Um exemplo é a Flores-ta Nacional do Jamanxim, no Pará, em que dois terços dos ocupan-tes são invasores que chegaram depois da criação da unidade. O plano do ministro, revelado neste sábado (25) pelo jornal O Estado de S.Paulo, é tirar dinheiro das ações que funcionam no Fundo A-mazônia e dá-lo a criminosos ambientais. A menos, claro, que a ideia seja regularizar unidades de conservação fora da Amazônia, o que seria um despautério ainda maior.

Espanto nenhum em se tratando uma gestão que assumiu com o objetivo de quebrar os órgãos de fiscalização ambiental, que o pre-sidente chama de “indústria de multas”, e que até hoje não apre-sentou um plano de combate ao desmatamento. A nova investida para desvirtuar o Fundo Amazônia, que o ministro sabe também que não terá anuência dos países doadores, disfarça mal a tentati-va de acabar com mais um instrumento de política ambiental que funciona no Brasil e não deixar nada em seu lugar.

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Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 12

Por uma educação que nos ajude a pensar e não que nos ensine a obedecer

A educação deixou de “ser qualidade” no mundo dos dados estéti-cos, para ser “quantidade”

Vivemos em uma sociedade perfeitamente ajustada a um sistema mórbido que mais nos tira do que dá. U-ma sociedade que (com)vive em paz com a corrup-ção; com o mercantilismo da saúde, que prioriza o tratamento de doenças em detrimento da prevenção ou até mesmo a cura; que (com)vive em paz com a

violência cotidiana das ruas e com a intolerância de uma sociedade retrógrada, intolerante, conservadora e preconceituosa; uma socie-dade que aceita passivamente a imensa desigualdade social e edu-cacional de nosso país; que (com)vive em paz e sem entender as consequência da extração e destruição, sem parcimônia, de bens naturais comuns a todos nós, que são nossas riquezas naturais e nosso patrimônio cultural.

Enfim, uma sociedade perfeitamente ajustada a este sistema mór-bido de exploração socioambiental, sociocultural e socioeconômico, baseado na valoração do ser humano pelo que ele consome e po-de exibir. Exaltamos como “progresso e avanço” a nossa atual ca-pacidade de consumo, subvertemos a lógica, nos dias de hoje, “qualidade de vida é igual capacidade de consumo”. No entanto, não “percebemos”, isto é, não conseguimos dar significado a nos-sas profundas deficiências no campo do transporte público, segu-rança pública, saúde, saneamento básico e educação básica, entre tantas mazelas em que nossa sociedade está imersa. Bradamos que nunca vivemos tão bem, sem nos darmos conta de que nossa qualidade de vida há muito nos abandonou. Não conseguimos en-tender que nossa vida para o consumismo e, consequente bem es-tar material, é inversamente proporcional ao nosso bem estar soci-al.

Mas como compreender o contexto de tudo que nos envolve se nossa educação está a cada dia que passa mais redutora e não convida a reflexão?

As universidades deram as costas para o ensino de base e para o país. Em um país onde uma pequena minoria dos universitários são “educados” e bancados por investimentos maciços, para pen-sar em sua profissão e como se encaixar no mercado de trabalho, o centro do “conhecimento” dá as costas para o ensino de base. A universidade se satisfez com as cotas, que são as pontes, mas dei-xa de lutar pela qualidade do ensino que formará cidadãos capazes de problematizar um país, ou os futuros candidatos à academia, ou seja, a Academia se satisfaz com o “paliativo”, mas não se engaja e luta para a solução efetiva do problema.

Afinal no que se transformaram as universidades desse nosso pa-ís? Qual a função cidadão destes centros do “saber” em um país onde grande parte das cidades sequer tem saneamento básico?

Um professor universitário está preocupado com sua pontuação no Lattes, nos artigos que vai publicar e no seu reconhecimento pela comunidade cientifica, o tal reconhecimento dos seus pares. Preci-samos com urgência urgentíssima nas universidades de orientado-res, PHDs na sua essência da palavra, professores que sejam res-peitados por sua forma de pensar, orientar e inspirar. Professores que sejam capazes de pensar, não apenas no seu próximo artigo cientifico, na sua próxima consultoria ou no seu partido político (infelizmente nossa universidade está se transformando em braços de partidos políticos - educam-se militantes, não pensadores), mas precisamos, também e principalmente, de professores que pensem e estimulem seus alunos a entender que fazem parte e têm respon-sabilidades para com uma nação, que estimulem seus alunos a en-tender que o conhecimento adquirido na universidade é um bem comum não propriedade "privada".

Não vivemos na Inglaterra moderna onde muitos fizeram seu dou-torado, mas no Brasil. Em nosso país, por mais que não gostem, ainda é função sim dos PHDeuses meter a mão na “merda”, pois aqui ainda se vive em muitos pontos da Inglaterra Vitoriana, sem saneamento, onde se morria de cólera.

É função cidadão das universidades problematizar a base social de nosso país, o centro do “conhecimento” não pode jamais se satisfa-

zer com múltiplas bolsas de iniciação científica, mestrado, doutora-do, ciências sem fronteiras e concursos públicos, pois o Brasil é muito maior que 2% da sociedade!

Pois enquanto as universidades vivem encasteladas em seus mu-ros e feudos, este mórbido e desigual sistema de prioridades impe-de que nossas crianças tenham a capacidade de desenvolver todo seu potencial cognitivo, que desenvolva e amplie suas habilidades e competências. Por mais que se abram atalhos entre estes dois mundos, sem que seja feito um trabalho efetivo para destruir a de-sigualdade educacional, mórbida na essência - que é a forma como esta criança é criada, o ambiente onde ela cresce e a escola onde foi educada - eles serão meramente um paliativo, estamos enxu-gando gelo.

É impossível dissociar, para quem quer promover uma revolução educacional e cultural, saneamento básico, qualidade da educação básica, carinho e atenção dos pais, pois fazem toda diferença no desenvolvimento cognitivo da criança e estão diretamente relacio-nados.

E o que está sendo feito efetivamente nestas três frentes? Pouco, muito pouco.

As escolas de base vivem na época do cuspe e giz. Mas não vive-mos mais na época do cuspe e giz onde o professor por 30 anos repete a mesma aula, quer dizer, vivemos esta realidade sim, em muitas salas de aulas com goteiras no telhado, salas super lotadas, cadeiras quebradas e direção, professores e alunos desmotivados.

As escolas da base estão sucateadas e desestruturadas, as aulas são dadas por professores mal formados, mal pagos e desmotiva-dos. Pergunto, existe vontade política para ampliar o conceito de educação nas escolas indo além do “conteudismo”? Há espaços para formação de educadores que sejam facilitadores da inteligên-cia coletiva, que consigam, mais do que tudo, mediar todas as for-mas de construção do conhecimento?

Existe um trabalho sério e efetivo que busque uma revolução na educação em médio e longo prazo que possibilite nas escolas uma forma de educar que estimule a criatividade, transgressão, compar-tilhamento de ideias, menos competitividade e mais associativida-de, que contemple a musica, arte, literatura, viagem, construção coletiva do conhecimento....?

É necessária uma profunda mudança no currículo com intensa par-ticipação dos professores e que este seja abordado de uma forma local. É fundamental uma reformulação na forma de pensar a ges-tão das escolas e, também, mudança na concepção dos prédios escolares e do material didático, com salas equipadas com equipa-mentos modernos. É imprescindível investimentos efetivos na for-mação continuada desse professor, além de um significativo au-mento de seu salário e diminuição de sua carga horária, para que este possa enfim ter tempo de ser ator ativo na “construção” e faci-litação do conhecimento coletivo.

É imprescindível uma reformulação conceitual e estrutural na forma de se conceber a educação, qualquer ação solitária é como tapar uma goteira em um telhado cheio delas, é necessário trocar todo o telhado! De outra forma, por mais que se invista, é jogar dinheiro pelo ralo, e não mudar absolutamente nada.

Bem, a educação vem sendo sucateada há décadas, começou com o regime militar, baseado no treinamento e adestramento de nos-sos jovens, mas ganhou força com a progressão continuada, onde em sala de aula o professor é um mero espectador. A educação deixou de “ser qualidade” no mundo dos dados estéticos, para ser “quantidade”. Importante é mostrar que hoje há menor evasão es-colar e mais jovem nas escolas, mesmo que para este fim, sejam formados analfabetos funcionais.

Que futuro há em um país como o Brasil quando nós não consegui-mos ligar os pontos e entender que todo o "lixo" está sendo varrido para debaixo do tapete? Mas que este lixo (educação, saúde, se-gurança, transporte, saneamento básico) mesmo debaixo do tapete continua lá, contaminando, adoentando, matando, segregando.

Infelizmente, longe dos olhos, longe do coração!Por fora, bela viola, por dentro pão bolorento. Quem dera que toda a “sujeira e lixo acu-mulados” por gestores incompetentes pudesse "agredir" nossa so-ciedade de forma tão impactante que os fizesse compreender que estamos vivendo uma ficção de bem viver, que muito precisa ser feito, mas para isso precisamos conseguir enxergar e dar contexto aos problemas que afligem a nossa sociedade.

Isabel Cristina Gonçalves

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A Semana Nacional do Meio Ambientecomeça em 1 de junho e vai até 5 de junho, quando se celebra o Dia Mundial do Meio Ambien-te. Esta semana de conscientização foi criada, no Brasil, pe-lo Decreto nº 86.028, de 27 de maio de 1981, a Semana do Meio Ambiente. O objetivo era complementar a celebração ao Dia do Meio Ambiente instituído pela ONU. Esta iniciativa visa incluir a sociedade na discussão de pautas que tratem da preservação do patrimônio natural do Brasil.

O objetivo desta data é relembrar a importância dos oceanos para o equilíbrio da vida no planeta Terra. E, para isso, são realizadas várias atividades de conscientização civil sobre os perigos enfrenta-dos atualmente pelos oceanos. Os oceanos constituem dois terços da superfície terrestre e são o principal regulador térmico do planeta. Hoje, o grande desafio é mi-nimizar o impacto que as atividades humanas estão provocando nos oceanos. É importante conscientizar governos, populações e demais entida-des para a urgência de criar medidas que protejam os oceanos. O Dia dos Oceanos foi criado durante a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que ocorreu no Rio de Janeiro. A data é celebrada desde 1992, no entanto a ONU (Organização das Nações Unidas) apenas oficializou a comemoração em 2008.

A missão desta data é conscientizar a população internacional so-bre o processo de desertificação e os efeitos negativos que a seca pode provocar a nível regional e mundial. O Brasil faz parte da UNCCD desde 27 de junho de 1997, se com-prometendo a evitar o desgaste dos recursos biológicos dos dife-rentes climas que compõem o país. Calcula-se que uma área de 230 mil km², na região Nordeste, já esteja em processo de desertificação. As cidades mais atingidas seriam Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Seridó (RN e PB) e Cabrobó (PE), que somam 18.177 km² e afetam 399 mil pessoas.

Esta data visa homenagear a coragem e a força das milhões de pessoas que são obrigadas a fugir de suas casas e se refugiar em outras localidades para evitar perseguições, calamidades naturais ou guerras. O principal objetivo também é discutir com a sociedade e os gover-nos a ideia da solidariedade, respeito e responsabilidade que as nações devem ter com os povos refugiados. Os refugiados são pessoas que sofrem perseguições e são força-das a fugir de seus países, seja por causa de sua etnia, naturalida-de, religião, opinião política, grupo social e etc.

A imigração é um fenômeno que ocorre quando há o deslocamento de grupos de indivíduos das regiões / países em que nasceram pa-ra terras estrangeiras. Esta data foi criada para homenagear essas pessoas, que deixam para trás amigos e família em busca de melhores condições de vi-da, além de colaborarem para o crescimento do país que se desti-nam. O Brasil é um país formado e construído por várias diferentes na-cionalidades, que migraram de seus países com o sonho de obter melhores condições de vida em terras brasileiras. Italianos, alemães, ucranianos, poloneses, africanos e japoneses foram algumas das etnias que chegaram ao Brasil, em meados do século XVIII e XIX, e ajudaram na colonização do país.

Esta data é comemorada em 19 de junho em homenagem ao dia em que o ítalo-brasileiro Afonso Segreto – o primeiro cinegrafista e diretor do país – registrou as primeiras imagens em movimento no território brasileiro, em 1898. Afonso Segreto fez imagens da entrada da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a bordo do navio francês Brésil - a primeira filma-gem em território nacional. Algumas pessoas preferem celebrar a data em 5 de novembro para relembrar o aniversário da primeira exibição pública de cinema no país. Neste mês o filme brasileiro 'Bacurau' vence Prêmio do Júri no Fes-tival de Cannes. Produção de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles empatou com francês 'Les Misérables' na categoria, terceira mais importante do evento francês. É a primeira vez que o Brasil ganha na categoria, terceira mais im-portante da competição oficial do evento francês.

Um gesto que pode valer mais do que mil palavras! O aperto de mão é um dos símbolos corporais sociais mais utilizados em diver-sas culturas ocidentais, e representa um sinal de concordância e união entre duas pessoas. Considerado um dos cumprimentos humanos mais antigos, o aper-to de mão representa um sinal de paz e, de acordo com a cultura, costuma ser mais utilizado entre os homens. Segundo a simbologia deste gesto, acredita-se que era usado para indicar que a pessoa não carregava uma arma consigo e que esta-va se apresentando com total confiança e amizade. Como não era comum as mulheres primitivas carregarem armas, assim como os homens, o hábito de estender as mãos em sinal de paz não se desenvolveu entre elas inicialmente.

Mulheres, homens e crianças são torturados diariamente ao redor do mundo, afetando diretamente a dignidade e a humanidade des-sas pessoas. O principal objetivo desta data é justamente tentar combater esta prática horrível, além de oferecer total apoio às vítimas de tortura. Para conquistar essas metas, durante o Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura são organizadas diversas atividades e atos que ajudam a promover a criação de condições necessárias para que haja o suporte solidário, material, jurídico e psicológico às víti-mas de maus-tratos. A criação desta data foi uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1997, como homenagem e marco da assinatura da Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, firmada em 26 de junho de 1987. A tortura continua a ser praticada por muitas nações como força de punição, principalmente em países ditatoriais. Mas, infelizmente, também está presente em diversos outros espectros da sociedade, inclusive as democráticas.

Colaboração: Callendar

SOBRE DATAS COMEMORATIVAS.

As datas comemorativas fazem parte do calendário anual. Enquan-to algumas são conhecidas porque trazem a lembrança de um fato histórico ou são comemoradas mundialmente, outras despertam a curiosidade como o Dia Nacional do Macarrão, instituído no Brasil em 2014. Em geral, as datas comemorativas reconhecem a importância de um fato histórico, homenageiam uma profissão, registram uma con-quista social ou política e buscam mobilizar a sociedade em torno de uma causa. - somam-se no total 275 datas distribuídas por ano.

Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 13

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+ ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS

20 - Dia do Refugiado

26 - Dia Internacional de Apoio Vítimas de Tortura

08 - Dia Mundial dos Oceanos

01 - Semana Mundial do Meio Ambiente

17 - Dia Mundial de Combate à Desertificação

25 - Dia do Imigrante

VISITE NOSSO SITE - Lá terá todas as datas comemorativas

21 - Dia do Aperto de Mão

19 - Dia do Cinema Brasileiro

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O PAPEL DA MÍDIA NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO SOCIAL

A tecnologia atual nos permite ter acesso a diversos tipos de infor-mação de qualquer parte do mundo, e a mídia, tanto a televisiva, quanto online, é um dos principais meios utilizados para que essas informações cheguem até nós. E por essa tamanha importância, a mídia deveria manter suas opiniões e ideias neutras de forma que não influenciassem a opinião dos seus receptores. Porém, na maio-ria das vezes isso não acontece. Jornais de televisão, novelas, pro-gramas de entretenimento, todos, mesmo que seja quase imper-ceptível, inclinam seus conteúdos para um lado, e a população é manipulada, pois não filtra essas informações e não busca outras fontes e opiniões para formar sua opinião.

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2014 que entrevistou mais de 18 mil pessoas, as afirmações acima colocadas se confirmam. O estudo mostra que apenas 5% dos entrevistados brasileiros não recorrem aos canais abertos de televisão para conseguir informa-ções, mas têm o hábito de ler jornais e revista. Isso torna a televi-são um meio perfeito para, estrategicamente, manipular a opinião popular.

Além disso, a mesma pesquisa afirma que o grau de escolaridade também influencia, porque "na casa das pessoas com até a 4ª sé-rie a televisão fica ligada quase 50 minutos a mais do que nas ca-sas das pessoas com ensino superior." Isso acontece principalmen-te pelo fato de poucas pessoas terem acesso a outras fontes como jornais, livros, artigos e revistas, para buscar dados, referências e conhecimentos, grande parte do povo se limitam ao tipo de infor-mação que a televisão apresenta por simplesmente não ter outra a recorrer, ou pela facilidade que a televisão proporciona ao telespec-

tador.

Um antigo artigo, não mais disponível para o público, publicado no jornal The Washington Post, Brazil’s Novelas May Affect Viewers’Lifes comprova o que foi apresentado anteriormente. Se-gundo esse artigo, o Brasil é "um país que, na média, assiste mais à televisão que qualquer outro país, exceto o Reino Unido" e no mesmo artigo mostra a influência das novelas, afirmando que elas "tem um efeito mais duradouro ao influenciar escolhas no estilo de vida, dizem os pesquisadores. As novelas se tornaram uma parte muito importante na sociedade brasileira”. Isso mostra o poder da mídia televisiva, pois o cidadão ao se colocar à frente da televisão está exposto ao conteúdo, recebendo-o e processando-o em sua mente. O que tem facilitado a manipulação pela mídia, pois como o artigo fala, influenciam até o estilo de vida dos telespectadores.

Em oposição a isso, Page e Shapiro (1992), e muitas outras pesso-as defendem que "a opinião pública não é apenas resultado de ma-nipulações emocionais, pois ela apresenta uma racionalidade que se diferencia da estabilidade absoluta por ser pública." Porém, per-cebemos pelo que foi apresentado acima, que a opinião não surge do nada, ela é resultado de alguma influência, seja ela influenciada totalmente por uma fonte, ou baseada em várias leituras e pesqui-sas de pontos de vista opostos.

Assim, pelos motivos expostos, tanto pela pesquisa, que mostra o grande número de pessoas que recorrem apenas a televisão para buscar informações e não tem acesso a outros meios, quanto pelo artigo, que mostra a influência das novelas no estilo de vida das pessoas, podemos concluir que as pessoas são manipuladas pela mídia, por estarem expostas a ela sem filtrar os conteúdos por ela apresentados e por não buscar, talvez por falta de acesso, a outras informações para formar sua opinião, provocando a alienação e a cegueira intelectual.

Sara Beatriz Hansen

Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 14

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A influência da mídia na formação do caráter ou vida do individuo

A mídia obtém grande influência sobre a sociedade, ela tem um pa-pel fundamental na disseminação de pensamentos, na construção de opinião pública, caráter e educação. Mas às vezes essas infor-mações são utilizadas com fins de manipular a população. A TV é a maior influência para as crianças, para elas, o que é passado neste meio é o modelo certo a seguir de família, forma física, escolhas, gostos, resumindo, modelo certo de viver.

Essa influência tem seus pontos positivos e negativos. Como ponto positivo é a interatividade que é usada para abordar certos temas polêmicos, mas que é preciso ser abordado para o maior entendi-mento da população, e o seu lado negativo se tem quando é usado esse meio de comunicação para mostrar apenas o que é interes-sante para a mídia e para os políticos, fazendo assim a população, principalmente os leigos acreditarem apenas no que estão vendo nela, e não procurarem outra fonte de conhecimento para ter a sua opinião.

A humanidade está com um grande problema: menos de 3% da po-pulação leem livros, menos de 15% da população leem jornais. A única verdade que a maioria da população conhece é aquela que vem da televisão. Agora existe uma geração inteira que nunca sou-be de nada que não saiu da televisão, sendo assim, a esta possui a verdade absoluta. E assim começam a acreditar que o que ela fala é a realidade e que as suas próprias vidas não são reais. Fazemos qualquer coisa que ela nos mande fazer: Nós nos vestimos como na tv, comemos como na tv, as mães educam os seus filhos como veem na tv e até tentam pensar como as pessoas na TV.

A mídia é uma excelente ferramenta de comunicação. Estes meios de comunicação social se tornaram um vício que nos domina de

forma exacerbada, influenciando-nos em vários aspectos tais co-mo: comportamental, profissional, comercial e pessoal. A mídia so-mada a um determinado senso crítico da população resulta na cida-dania. Desde o nascimento de um ser, sempre existe o papel da mídia influenciando como devemos comer, como devemos andar, como devemos estudar enfim, em todo tempo somos vigiados pela sociedade que muitas vezes nos fazem sentir pressionados para se adequar aos padrões estipulados pela mídia. Para as mulheres, pa-drões de beleza como o de ser magra, significa dizer que se está com um corpo perfeito ou um rapaz dotado de músculos proemi-nentes significa que está sarado, ambos são sinônimos de saúde. Os padrões de beleza influenciam significativamente na vida de u-ma pessoa de modo que esta chega a sacrificar a sua própria saú-de em prol de um corpo perfeito ditado pela mídia. A moda é ditada por quem estar na TV, pelo que usam, jeito de se vestir, cor da mo-da, tudo isso cria em quem estar vendo a vontade de ter também, aumenta o desejo de consumo. Pode-se observar também que o estereótipo do que se diz beleza, é baseado como as pessoas apa-recem na mídia, causando assim por muitas vezes a inquietação no espectador de querer ser igual.

Não podemos negar que a mídia exerce um papel fundamental pa-ra a formação de um cidadão, porém é preciso ter cuidado e não aceitar somente no que a mídia nos mostra, utilizar ela apenas co-mo uma ferramenta de conhecimento, e saber que além desta tam-bém existem varias outras para serem analisadas. Somos obriga-dos a aceitar e seguir uma série de modismos se quisermos fazer parte da sociedade. O poder midiático faz com que nos tornemos alienados e bitolados pelo que é passado. Porém vale salientar que a última coisa que os geradores da mídia querem é um público bem informado, capaz de pensar por si próprio e fazer pensamento críti-co.

Da redação

1º Junho - Dia da Imprensa

A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro. Noam Chomsky

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Junho de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 15

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Brasil lidera ranking de medo de tortura policial

Trinta anos depois da assinatura da Convenção Internacional Con-tra Tortura da ONU por 155 países, entre eles o Brasil, a grande maioria dos brasileiros ainda teme por sua segurança ao serem de-tidos por autoridades, revela um relatório divulgado nesta segunda-feira pela ONG de defesa de direitos humanos Anistia Internacio-nal.

Quando questionados se estariam seguros ao serem detidos, 80% dos brasileiros ouvidos pela ONG no levantamento discordaram for-temente.

Trata-se do maior índice dentre os 21 países analisados no estudo e quase o dobro da média mundial, de 44%.

“É um índice chocante que revela a percepção social em torno da tortura”, diz Erika Rosas, diretora para Américas da Anistia Interna-cional, à BBC Brasil.

“Não podemos dizer que a tortura é uma prática sistemática no Bra-sil como em outros países, mas temos documentado diversos ca-sos preocupantes.”

No levantamento, que ouviu 21 mil pessoas em todo o mundo, o México ficou num distante segundo lugar, com 64% dos participan-tes respondendo temer a tortura por autoridades. Turquia e Paquis-tão empataram na terceira posição, com 58%.

O Reino Unido (15%), a Austrália (16%) e o Canadá (21%) foram os países onde este medo é menor.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, diz não se surpreender com a posição do Brasil no ran-king.

“A tortura persiste porque houve a impunidade com a anistia dos agentes da ditadura que a praticaram. Isso gera um salvo conduto para as autoridades atuais”, afirma Damous.

“A violência policial é perceptível e está enraizada nas políticas de segurança pública do país.”

Nos últimos três anos, o número de denúncias dos atos cometidos por agentes do governo no país cresceu 129%.

Entre 2011 e 2013, foram relatados 816 casos por meio do Disque 100, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, envolvendo 1.162 agentes do Estado.

Damous aponta como avanço nesta questão a aprovação no Con-gresso Nacional do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, que prevê entre outras medidas a permissão para que peri-tos independentes tenham acesso a prisões e hospitais psiquiátri-cos para avaliar o tratamento dado a detentos e pacientes.

“Hoje, os peritos policiais se sentem coagidos por colegas a muda-rem seus laudos”, afirma Damous.

Rosas, da Anistia Internacional, diz que o sistema aprovado no país é louvável, mas que é agora preciso colocar essa política em práti-ca.

“É preciso treinar as forças de segurança e criar leis secundárias para dar apoio a este sistema”, afirma Rosas.

“Isso deve ser feito especialmente em relação às manifestações que ocorreram e ainda estão por vir com a Copa do Mundo, para garantir que os protestos não sejam criminalizados e não colocar os manifestantes numa posição em que possibilite que eles sejam detidos e talvez torturados. O mundo estará de olho no Brasil neste período e a forma como o país lidar com isso servirá de exemplo.”

Ao mesmo tempo, de acordo com a pesquisa da Anistia Internacio-nal, a maioria dos brasileiros condena a tortura: 83% concordam que é preciso haver regras claras contra esta prática e que elas vio-lam leis internacionais e 80% discordam que ela pode ser necessá-ria em alguns casos para obter informações para proteger a popu-lação.

“Isso é como o racismo: ninguém declara abertamente apoio à tor-tura. Mas percebemos que, em segmentos importantes da socieda-de, bate-se palmas à tortura ou ela é ignorada porque foi praticada contra criminosos. Isso ocorre principalmente nas redes sociais, onde as pessoas costumam ser mais honestas”, afirma Damous.

“A sociedade precisa fazer sua parte e colaborar, porque os polici-ais sentem-se legitimados por esta parte da população.”

Juntamente com a pesquisa, a Anistia Internacional lançou uma campanha contra a tortura.

Em seu relatório, a ONG afirma que, apesar de muitos países te-rem aceito a proibição universal da tortura e vêm combatendo-a com sucesso, diversos governos ainda usam tortura para extrair informação, obter confissões forçadas, silenciar dissidentes ou sim-plesmente como uma punição cruel.

Segundo Rosas, da Anistia Internacional, é preciso dar fim à noção de que a tortura é necessária para controlar os níveis de criminali-dade.

“Falta vontade política dos governos para punir quem pratica a tor-tura porque ela é vista como uma prática aceitável para combater o crime”, afirma Rosas.

Entre janeiro de 2009 e maio de 2013, a Anisitia Internacional teve conhecimento de torturas e maus tratos em 141 países.

Amarildo de Souza morreu após ser torturado por policiais

Apesar de não fazer parte oficialmente desta estatística, o caso do pedreiro Amarildo de Souza é citado nominalmente no lançamento da nova campanha contra tortura.

Em 14 de julho de 2013, ele foi detido ilegalmente pela polícia mili-tar na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Uma investigação con-cluiu que ele foi morto por meio de tortura dentro de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) instalada pela polícia na favela.

“Assim como outros países do continente, o Brasil tem um legado de violência gerado pelas ditaduras, que usava a tortura como fer-ramenta de opressão. É muito preocupante que, em 2014, autorida-des sigam torturando”, afirma Rosas.

Vinte e cinco policiais acusados de terem envolvimento com sua tortura e morte estão atualmente em julgamento.

“O caso de Amarildo foi exatamente como ocorria na ditadura e mostra que a tortura não é coisa do passado”, afirma Damous.

“Talvez por causa da repercussão na internet e internacionalmente,

ele tenha virado uma exceção, porque houve punição. A regra ain-da é a impunidade.”

Thaís Cavalcanti

26 - Dia Internacional de Apoio Vítimas de Tortura

Page 16: A dívida da escravidão - Gazeta ValeparaibanaNa semana do Meio Ambiente precisamos refletir sobre o mun-do que queremos para nossos filhos e netos e, não devemos nos esconder atrás

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

As diferenças dos direitos de pessoas LGBTI+

dentro da União Europeia

Ranking internacional mostra melhoria geral dos direitos de pesso-

as LGBTI+ na UE em 2019. Mas ascensão da extrema direita gera

temor de restrições. Alemanha tem posição median a por falta de

leis contra discurso de ódio.

A equiparação dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e

transexuais está estabelecida nos Tratados da União Europeia e

em sua Convenção dos Direitos Humanos. Os acordos descartam

expressamente a discriminação por razões de orientação sexual.

Portanto, as condições de vida para pessoas LGBTI+ deveriam ser

iguais em todos os 28 países-membros.

Mas não é o caso. Por isso, anualmente, o braço europeu da Asso-

ciação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Inter-

sexuais (Ilga, na sigla em inglês) divulga uma espécie de certificado

para os países da UE no Dia Internacional contra Homofobia e

Transfobia, lembrado a 17 de maio. Em 2019, os dados da associa-

ção lobista europeia também servem como uma espécie de guia

decisório para as eleições do Parlamento Europeu, que serão reali-

zadas no final desta semana, entre 23 a 26 de maio.

Com base numa consulta aos políticos do país, a Associação de

Lésbicas e Gays da Alemanha (LSVD) recomenda o Partido Liberal

Democrático (FDP) como o que mais se empenha pelos direitos

dos homossexuais e transexuais, seguido do Partido Social-

Democrata (SPD), do Partido Verde e da legenda A Esquerda.

O desempenho das irmãs conservadoras União Democrata Cristã

(CDU) e União Social Cristã (CSU) não é bom, e a associação con-

sidera perigosa a populista de direita Alternativa para a Alemanha

(AfD), que, por exemplo, não tem a intenção de realizar nenhuma

ação contra o bullying nas escolas e quer retirar dos currículos o

tema "identidade sexual".

A LSVD enfatiza a importância especial das eleições parlamentares

europeias diante do fortalecimento da extrema direita em diversos

países da UE. "Trata-se do futuro da democracia europeia, pois os

valores fundamentais europeus vêm sendo questionados repetida-

mente, a exemplo da dignidade humana, da igualdade e do Estado

de direito", afirma a associação, em suas avaliações dos partidos.

No atual Parlamento Europeu, foi a bancada do Partido Verde a

que mais defendeu os direitos de pessoas LGBTI+, segundo mos-

tra a análise publicada em abril de um grupo parlamentar transparti-

dário antidiscriminação. As piores notas ficaram para os populistas

de direita e os eurocéticos.

Segundo o ranking para 2019 divulgado em Oslo pela Ilga, é este o

quadro na União Europeia:

- De modo geral, uma grande distância separa leste e oeste euro-

peus. A maioria dos países em que gays e lésbicas podem viver de

forma mais ou menos equiparada ficam na Europa ocidental. Reino

Unido, Bélgica, Luxemburgo, França, Finlândia, Dinamarca, Suécia,

Portugal e Espanha alcançam o maior número de pontos na longa

lista de quesitos, que vai de disposições legais e direito familiar até

combate a crimes de ódio e autodeterminação do corpo.

- O campeão da lista da Ilga é Malta, que preenche 90% de todos

os quesitos. Nos últimos lugares estão Lituânia e Polônia, com ape-

nas 17% e 18%, antecedidas de Bulgária e Romênia, com 20% e

21%. O desempenho da Itália foi surpreendentemente ruim: 22%,

sobretudo por não manter garantias legais antidiscriminação nem

reconhecer o casamento gay. Além disso, sua legislação de ado-

ção apresenta grandes lacunas. À Alemanha cabe uma colocação

mediana, por não dispor de leis especiais contra discurso de ódio

nem contra crimes de motivação sexual.

- Em geral, a situação de pessoas LGBTI+ melhorou nos últimos

dez anos, mas também há retrocessos. Polônia e Bulgária caíram

de posto por terem restringido direitos. A Hungria é criticada por ter

reduzido direitos fundamentais como a liberdade de reunião e de

coalizão: o trabalho tornou-se "mais perigoso e mais imprevisível"

para pessoas LGBTI+, aponta a Ilga.

- A legislação sobre os direitos LGBTI+ é, em grande parte, de

competência nacional. A UE não pode determinar, por exemplo, se

um Estado-membro reconhece o casamento homossexual de ple-

nos direitos ou a união civil ou parceria registrada. Em cinco países

– Lituânia, Letônia, Polônia, Eslováquia e Bulgária –, nem um nem

outro é possível. Na Estônia e na República Tcheca, só é permitida

uma versão diluída de união civil, com poucos direitos.

- Os estados que até agora não têm o casamento homossexual fo-

ram obrigados a reconhecer os matrimônios realizados em outros

países-membros pelo Tribunal de Justiça da UE. Em 2018, numa

sentença inédita, as autoridades romenas foram obrigadas a reco-

nhecer a validade do casamento de um romeno com um america-

no, realizado na Bélgica.

Às vésperas das eleições europeias, a diretora da Ilga na Europa,

Evelyne Paradis, enfatizou estar mais do que na hora de agir pela

equiparação, em vez de achar que o trabalho já esteja concluído:

"Infelizmente, estamos vendo este ano que há sinais concretos de

um retrocesso em nível político e jurídico, em uma série de países".

Deutsche Welle

JUNHO de 2019 ÚLTIMA PÁGINA

Orientação sexual não é doença! Há um consenso geral na comunidade científica de que a orientação sexual das pessoas não é uma escolha, mas sim uma condição. E também não é doença! Desde 1990 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Interna-

cional de Doenças, e há leis para proteger e assegurar a liberdade sexual, vedando qualquer tipo de discriminação.

No Brasil de hoje homofobia já é crime.