A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

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1 A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre a década de 20 Luisa Massarani Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em C&T (IBICT) e Escola de Comunicação/UFRJ, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciência da Informação.

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A divulgação científica no Rio de Janeiro:

Algumas reflexões sobre a década de 20

Luisa Massarani

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado em Ciência da Informação do

Instituto Brasileiro de Informação em C&T

(IBICT) e Escola de Comunicação/UFRJ,

como requisito parcial para obtenção do

grau de Mestre em Ciência da Informação.

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Orientadores:

Lena Vânia Ribeiro Pinheiro (IBICT/UFRJ), Dr.

Ildeu de Castro Moreira (Instituto de Física/UFRJ), Dr.

Rio de Janeiro

1998

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A divulgação científica no Rio de Janeiro:

Algumas reflexões sobre a década de 20

Luisa Massarani

Dissertação submetida ao curso de Mestrado em Ciência da Informação do Instituto

Brasileiro de Informação em C&T (IBICT)/CNPq em convênio com a Escola de

Comunicação/UFRJ, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em

Ciência da Informação.

Aprovada por:

_________________________________________

Profa. Lena Vânia Ribeiro Pinheiro (IBICT/UFRJ) - Orientadora

Doutora em Comunicação e Cultura, ECO/UFRJ

_________________________________________

Prof. Ildeu de Castro Moreira (Instituto de Física/UFRJ) - Orientador

Doutor em Física, IF/UFRJ

__________________________________________

Prof. Aldo de Albuquerque Barreto

PhD em Ciência da Informação, The City University (Inglaterra)

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__________________________________________

Profa. Gilda Olinto

Doutora em Comunicação e Cultura, ECO/UFRJ

__________________________________________

Profa. Magali Romero de Sá

PhD em História e Filosofia da Ciência, Durham University

(Inglaterra)

__________________________________________

Profa. Maria Nélida Gonzáles de Gomez (suplente)

Doutora em Comunicação e Cultura, ECO/UFRJ

Rio de Janeiro

1998

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Massarani, Luisa

A divulgação científica no Rio de Janeiro:

Algumas reflexões sobre a década de 20/ Luisa

Massarani

Rio de Janeiro: UFRJ/ECO

127 p.

Dissertação - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, ECO.

1. Divulgação científica. 2. História da

divulgação científica. 3. Ciência da Informação.

4. Tese (Mestrado UFRJ/ECO).

I. Título

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Massarani, Luisa, A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas

reflexões sobre a década de 20. Orientadores: Lena Vânia

Ribeiro Pinheiro e Ildeu de Castro Moreira. Rio de Janeiro.

UFRJ/ECO/IBICT, 1998. Diss.

Resumo

Levantamento e discussão sobre as atividades de divulgação científica

desenvolvidas no Rio de Janeiro, na década de 20 deste século. No período,

ocorreu intensificação dessas atividades, contando com grande engajamento de

cientistas e acadêmicos. Foram identificados os principais atores desse

processo e os meios de comunicação que utilizaram. Considerou-se ainda o

pano de fundo das motivações, dos interesses e das perspectivas filosóficas e

políticas sobre a ciência, que se refletiram no tipo de divulgação científica

produzida no período.

Abstract

Science popularization activities in Rio de Janeiro in the 1920's are

described and discussed here. An intensification of these activities with

significant contribution of scientists and academicians is a characteristic of the

period studied. Different media used as well as main actors involved in this

process are also considered in this research. Personal interests and motivations,

philosophical and political ideas about science are focused as a background

exercising influence upon science popularization generated in the 1920's, in Rio

de Janeiro.

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABC = Academia Brasileira de Ciências

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ABE = Associação Brasileira de Educação

Mast = Museu de Astronomia e Ciências Afins.

SBC = Sociedade Brasileira de Ciências

T.S.F.= Telefonia sem fio.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Retratos de Amoroso Costa, Roquette-Pinto, Miguel Ozorio de Almeida e

Henrique Morize

Diretoria da Rádio Sociedade

Einstein no Observatório Nacional

Revista Electron e O Jornal

Livros A Vulgarização do Saber e Homens e Coisas de Sciencia

Livros As idéas Fundamentaes da Mathemática e O Valor da Sciencia

Ilustrações da revista Eu sei tudo

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1

"A vulgarização do saber", de Miguel Ozorio de Almeida.

Anexo 2

Livros e artigos de divulgação científica escritos por Amoroso Costa,

Morize, Roquette-Pinto e Miguel Ozorio de Almeida

Anexo 3

Conferências e cursos patrocinados pela Associação Brasileira de Educação

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SUMÁRIO

pág.

Introdução 7

Capítulo 1 - Divulgação científica: em busca de uma definição 11

Capítulo 2 - Antecedentes 23

Capítulo 3 - A década de 20: por uma ciência acessível 37

Atores do processo de divulgação científica 39

Manoel Amoroso Costa 40

Henrique Morize 42

Edgard Roquette-Pinto 44

Miguel Ozorio de Almeida 47

Um movimento organizado 50

Academia Brasileira de Ciências 50

Rádio Sociedade 57

Associação Brasileira de Educação 63

Panorama das instituições de pesquisa e ensino da época 66

Meios e instrumentos utilizados na divulgação científica 73

As publicações 73

As conferências da Associação Brasileira de Educação 82

O rádio 85

O cinema educativo 89

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Algumas características da divulgação científica na década de 20 90

Estudos comparativos 92

Capítulo 4 - Considerações finais 97

Bibliografia 104

Anexos 114

Anexo 1 - "A vulgarização do saber", de Miguel Ozorio

de Almeida 114

Anexo 2 - Livros e artigos de divulgação científica escritos por

Amoroso Costa, Morize, Roquette-Pinto e Miguel Ozorio

de Almeida 120

Anexo 3 - Conferências e cursos patrocinados pela ABE 123

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Introdução

Há quase 12 anos, entrei na sala de Ennio Candotti, na época editor da

revista Ciência Hoje. Motivo: acertar meu primeiro estágio em jornalismo. Ennio,

com sua empolgação contagiante, contou-me que o projeto se iniciara cinco

anos antes, a partir de um pequeno grupo de cientistas, que se mobilizou para

tentar levar assuntos relacionados à ciência para o público não especializado.

Com a peculiaridade de ser uma publicação da Sociedade Brasileira para o

Progresso da Ciência, Ciência Hoje não tinha caráter comercial. Na época, não

havia uma revista similar no mercado brasileiro. A recepção de Ciência Hoje foi

excelente e depois surgiram outras iniciativas de divulgação científica, como a

revista Globo Ciência (hoje, Galileu), o programa televisivo Globo Ciência e a

revista Superinteressante.

Durante alguns anos, trabalhei no projeto sentindo-me parte de um grupo

de vanguarda. Cerca de três anos atrás, no entanto, ouvi um relato similar, com

uma diferença: o grupo de cientistas preocupados com a difusão de

conhecimentos científicos existira no Brasil há quase 80 anos! O achado não

diminuiu o mérito de Ciência Hoje ou das pessoas que a criaram, mas a história

fascinou-me a tal ponto que decidi transformá-la em meu tema de dissertação de

mestrado.

Procurei trabalhos que abordassem aspectos históricos da divulgação

científica brasileira, mas quase nada encontrei. Assim, no primeiro semestre do

curso, sob a batuta de Geraldo Prado e Ildeu de Castro Moreira, mergulhei nos

acervos e nas bibliotecas cariocas para tentar achar vestígios dessas atividades.

Vale destacar que Geraldo acompanhou a pesquisa até o final e,

lamentavelmente, não pôde participar da banca da tese por motivos alheios à

nossa vontade.

Para minha surpresa, encontramos um número relativamente grande de

publicações e registros de outras atividades relacionadas à divulgação científica

produzidas nestes dois últimos séculos. Em particular, a década de 20 deste

século presenciou, no Rio de Janeiro, aumento significativo nas iniciativas de

divulgação científica que, além de usar com mais intensidade jornais, revistas e

livros, passou também à organização de conferências periódicas, abertas ao

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grande público, e à utilização do rádio, através da Radio Sociedade, para a

difusão de informações de conteúdo científico e educativo.1

Além de ter ocorrido essa intensificação das atividades de divulgação

científica na década de 20, é nesse momento que há destacado engajamento

de cientistas e acadêmicos – proporcionalmente mais acentuado do que

atualmente, por exemplo. Na época, houve também importante reflexão sobre a

importância da divulgação científica, tendo sido escrito A vulgarização do saber,

talvez o primeiro livro a discutir o papel e as dificuldades dessa atividade no

país. O autor, Miguel Ozorio de Almeida, em uma perspectiva bastante

atualizada, abordava os limites de atividades de divulgação que enfatizam

apenas a transmissão de conteúdos específicos:

"A vulgarização científica bem conduzida tem, pois, por fim real,

mais esclarecer do que instruir minuciosamente sobre este ou

aquele ponto em particular. Mantendo constantemente a maioria

das inteligências em contato com a ciência, ela virá criar um estado

de espírito mais receptível e mais apto a compreender. Ela se

destina mais a preparar uma mentalidade coletiva, do que

realmente a difundir conhecimentos isolados."2

E prosseguia, destacando a importância política da divulgação científica

para a afirmação institucional da ciência:

"A ciência, por seu lado, só tem a lucrar com uma vulgarização

bem feita. Suas necessidades são cada vez maiores e se na

maioria dos países elas são desprezadas, e a cultura da ciência

1 MOREIRA, Ildeu de Castro, MASSARANI, Luisa, PRADO, Geraldo. Aspectos

históricos da divulgação científica no Brasil: A década de 20. V CONGRESSO

LATINO AMERICANO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, 27-31

jul./1998. Rio de Janeiro.

2 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. A vulgarização do saber. Rio de Janeiro:

Ariel Editora Ltda., 1931. p. 237.

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sofre um atraso considerável, isto é bem um indício que as classes

dirigentes e os povos, em geral, estão longe de bem julgar esses

problemas. Quando se trata de questões simples em que as

relações de causa e efeito são bem evidentes e ao alcance de

todos, as dificuldades desaparecem. Oswaldo Cruz mostrou que o

conhecimento das leis científicas exatas sobre a transmissão da

febre amarela é indispensável para a exterminação dessa doença.

Não lhe foi difícil obter em seguida meios para um grande instituto

de pesquisas sobre patologia experimental. Ninguém discutiu essa

utilidade, tão brilhante havia sido a demonstração que, por força

das circunstâncias, era essencialmente popular. Quando se trata,

porém, de relações menos imediatas entre os progressos

científicos e o bem de toda a coletividade, as dificuldades crescem.

É lícito, entretanto, esperar que aqui como no outro caso se trate

exclusivamente de uma questão de compreensão geral, e essa

compreensão só pode vir depois de uma larga difusão de

conhecimentos científicos."3

A década de 20 foi também um momento significativo para a ciência do

país. Nela, surgiu o embrião da comunidade científica brasileira que começou,

em um movimento mais organizado, a lutar por melhores condições para se

desenvolver a ciência aqui. A criação de novas instituições científicas, a

renovação daquelas já existentes e a valorização da ciência e do cientista são

apenas alguns aspectos que marcaram a década. Defendia-se com vigor a

ciência básica, vista então como "pura" e "desinteressada".

Motivados por essas considerações, nosso objetivo nesta dissertação foi

produzir um levantamento e uma reflexão sobre as atividades de divulgação

científica desenvolvidas no Rio de Janeiro, na década de 20 deste século.

Como fio condutor, buscamos responder algumas questões básicas: Quais as

principais características da divulgação científica feita na época? Quais os

3 Ibid. p. 238-239.

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principais atores desse processo de divulgação científica? Como eles se

organizaram? Quais os meios e instrumentos que utilizaram? Fizemos

também uma análise geral das motivações, dos interesses e das perspectivas

filosóficas e políticas sobre a ciência naquela época, que se refletiam no tipo

de divulgação científica produzida.

Nossa pesquisa é, ao que parece, uma das primeiras abordagens

realizadas sobre as dimensões históricas da divulgação científica no Brasil.

Acreditamos, portanto, que esta dissertação, em função dessa característica

precursora, levantará mais questões do que oferecerá respostas. Seu

propósito maior será o de mapear o terreno e tentar estabelecer alguns

balizamentos para estudos posteriores mais aprofundados.

No primeiro capítulo, faremos uma revisão bibliográfica e histórica sobre

o termo divulgação científica, sem, no entanto, buscar uma definição muito

precisa. Alguns aspectos referentes ao século passado, que antecederam o

período de concentração desta dissertação, podem ser lidos no segundo

capítulo. O terceiro capítulo, que constitui o cerne desta dissertação, destina-

se à década de 20. Nele, buscamos responder às questões básicas delineadas

acima. Neste capítulo, fizemos também algumas observações rápidas, de

caráter histórico, comparando as atividades de divulgação realizadas no Brasil

com as de alguns países. O quarto capítulo traz nossas considerações finais e

discute as principais limitações de nosso trabalho. Alguns dados sobre

conferências, livros e artigos de divulgação científica produzidos na década de

20 foram incluídos em anexos, assim como a reprodução de texto de Miguel

Ozorio de Almeida que consideramos relevante por seu pioneirismo.

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Capítulo 1

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA:

EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO

Nesta parte introdutória da dissertação, faremos um apanhado de

algumas das conceitualizações de divulgação científica existentes e de

aspectos relacionados a essa atividade, mas sem buscar uma definição

delimitada e restritiva. Para Jacobi e Schiele, por exemplo, a divulgação

científica é uma prática sobre a qual não se pensa. Ela "parece se bastar por si

só, sob a única justificativa de sua própria produção", afirmam.4 Outros

arriscam opiniões para delimitar o termo. Nas definições que surgem, há

pontos em comuns, outros controversos.

De início, é importante destacar as diferenças entre os termos difusão

científica, disseminação científica, vulgarização científica, divulgação científica,

popularização da ciência e comunicação pública em ciência, muitas vezes

usados inadequadamente como sinônimos.

Segundo Raichvarg e Jacques, o termo "vulgarização" surgiu, na França,

no início do século XIX.5 Eles relatam também que, na década de 60 daquele

século, Camille Flammarion apontou as dificuldades existentes por trás desse

termo, inclusive quanto à sua conotação pejorativa. Na mesma época, surgiu a

expressão "popularização", embora não tenha conseguido suplantar a

4 JACOBI, Daniel, SCHIELE, Bernard (orgs.). Vulgariser la science - Le procès

de l’ignorance. Seyssel: Editions Champ Vallon, 1988. p. 11.

5 RAICHVARG, Daniel, JACQUES, Jean. Savants et ignorants - une histoire

de la vulgarization des sciences. Paris: Éditions du Seil. 1991.

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designação anterior. Pierre Rostand, na década de 30 deste século, tentou

colocar uma pá de cal nessa polêmica:

"De minha parte, duvido fortemente que encontremos esse

sinônimo mais relevante que nos contentaria a todos. Aceitemos

portanto resolutamente e corajosamente essa velha palavra,

consagrada pelo uso, de vulgarização, lembrando-nos que vulgus

quer dizer povo e não vulgar, que as línguas 'vulgares' são as

línguas vivas e que a própria Bíblia só se espalhou pelo mundo

graças à tradução que se denomina Vulgata."6

Já nos países de língua inglesa, o termo popularização da ciência vem

sendo bastante utilizado ao longo deste século.7

Talvez por causa da grande influência francesa na cultura brasileira, o

termo "vulgarização" foi utilizado no Brasil em várias publicações do século

passado e do início deste, muitas das quais abordaremos nesta dissertação.

Nas décadas de 60 e 70 deste século, mencionava-se também "popularização

da ciência" com freqüência.

Atualmente, no Brasil, a designação "divulgação científica", que já surgira

no século passado8, é hegemônica. O termo é usado por exemplo pela equipe

de Ciência Hoje, que foi criada em 1982, em seu subtítulo ("revista de

divulgação científica da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência"),

bem como em editoriais e artigos. Foi também adotado por iniciativas

subseqüentes, como o programa televisivo Globo Ciência, a revista Globo

6 Apud. RAICHVARG, Daniel, JACQUES, Jean. Savants et ignorants - une

histoire de la vulgarization des sciences. Paris: Éditions du Seil. 1991. p. 9-

10.

7 NELKIN, Dorothy. Selling Science - How the press covers science and

technology, Nova York: W.H. Freeman and Company, 1995.

8 COUTY, Louis. Os estudos experimentais no Brasil. Revista Brazileira, tomo

II, p. 215-239, 1 nov./1879.

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Ciência e a revista Superinteressante. A designação "divulgação científica"

vem sendo usada ainda em vários estudos sobre o assunto, como atestam

teses e dissertações desenvolvidas no Instituto Brasileiro de Informação em

Ciência e Tecnologia (IBICT) – instituição voltada para a Ciência da

Informação –, entre elas a de Gonzales9, Ramos10, Rublescki11, Hernandez

9 GONZALES, Maria Iracema. A divulgação científica: uma visão de seu

público leitor. Orientadoras: Heloisa Tardin Christovão e Maria Nélida G. de

Gomez. Rio de Janeiro: IBICT-ECO/UFRJ, 1992. Dissertação (mestrado em

Ciência da Informação).

10 RAMOS, Marcos Gonçalves. Divulgação da informação científica em

energia nuclear - ideologia, discurso e linguagem. Orientadora: Lena Vania

Ribeiro Pinheiro. Rio de Janeiro: IBICT- ECO/UFRJ, 1992. Dissertação

(mestrado em Ciência da Informação).

11 RUBLESCKI, Anelise. Jornalismo científico: o dia-a-dia das redações -

Estudo de caso dos jornais O Globo e JB. Orientadora: Heloisa Tardin

Christovão. Rio de Janeiro: IBICT- ECO/UFRJ, 1993. Dissertação (mestrado em

Ciência da Informação).

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Cañadas12 e Guedes13. A divulgação científica é uma das linhas de pesquisa

da Ciência da Informação, conforme relatado por Pinheiro e Loureiro.14

Alguns autores defendem atualmente o uso do conceito "comunicação

pública em ciência". É o caso de Fayard:

"O conceito de comunicação pública em ciência abrange mais

largamente o conjunto dos fenômenos que nos interessam. Ele

engloba a soma das atividades que possuem conteúdos científicos

vulgarizados e destinados ao público de não especialistas em

situação não cativa. Esta definição exclui de seu campo a

comunicação disciplinar entre especialistas e o ensino."15

O termo é usado, por exemplo, pela Public Communication of Science &

Technology-Network, rede internacional que reúne grupos de pesquisa de

diversos países.

12 HERNANDEZ CAÑADAS, P.L. Os periódicos Ciência Hoje e Ciência e

Cultura e a divulgação da ciência no Brasil. Orientadora: Heloisa Tardin

Christovão. Rio de Janeiro: IBICT-ECO/UFRJ, 1987. Dissertação (mestrado em

Ciência da Informação).

13 GUEDES, Angela Cardoso. Globo Ciência: inventário e análise do arquivo

de cartas recebidas dos telespectadores em 1988. Orientadora: Heloisa

Tardin Christovão. Rio de Janeiro: IBICT-ECO/UFRJ, 1990. Dissertação

(mestrado em Ciência da Informação).

14 PINHEIRO, Lena Vânia Ribeiro, LOUREIRO, José Mauro Matheus. Traçados

e limites da ciência da informação. Ciência da Informação. Brasília: IBICT, vol.

24, n. 1, p. 42-53, jan.-abr./1995. p. 50.

15 FAYARD, Pierre. La Communication scientifique publique - De la

vulgarization à la médiatisation. Lyon: Chronique Sociale, 1988. p. 11-12.

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Dentro dos nossos propósitos nesta dissertação, consideraremos que

vulgarização científica, divulgação científica, popularização da ciência e

comunicação pública em ciência têm o mesmo significado. Decidimos usar o

termo "divulgação científica" por ser o mais empregado no Brasil.

Já difusão e disseminação têm um sentido um pouco diverso de

divulgação. Pasquali16 preocupa-se em fazer a distinção:

- Difusão é o envio de mensagens elaboradas em códigos ou linguagens

universalmente compreensíveis para a totalidade das pessoas.

- Disseminação é o envio de mensagens elaboradas em linguagens

especializadas, ou seja, transcritas em códigos especializados, a receptores

selecionados e restritos, formado por especialistas. Pode ser feita intrapares

(especialistas da mesma área) ou extrapares (especialistas de áreas

diferentes).

- Divulgação é o envio de mensagens elaboradas mediante a

transcodificação de linguagens, transformando-as em linguagens acessíveis,

para a totalidade do universo receptor.

Outro significado para o termo difusão científica (usado particularmente

entre historiadores da ciência) lhe dá uma dimensão mais ampla: é o envio de

quaisquer mensagens com conteúdo científico, especializadas ou não.17

Partindo da colocação de Pasquali, Bueno afirma que a divulgação

científica "pressupõe um processo de recodificação, isto é, a transposição de

uma linguagem especializada para uma linguagem não especializada, com

objetivo de tornar o conteúdo acessível a uma vasta audiência".18 Para ele, a

16 PASQUALI, Antonio Pasquali. Compreender la comunicación. Caracas:

Monte Ávila Editores, 1978.

17 PETITJEAN, P., JAMI, C., MOULIN, A.M. Sciences and Empires. Dordrecht:

Klouwer Academic Publishers, 1992.

18 BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo científico: conceitos e funções. Ciência

e Cultura. São Paulo: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 37,

n. p. 1420-1427, set/1995. p. 1421.

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divulgação científica usaria, portanto, recursos, técnicas e processos para

veiculação de informações científicas e tecnológicas ao público geral.

Para Reis, a divulgação científica "é a veiculação em termos simples da

ciência como progresso, dos princípios nela estabelecidos, das metodologias

que emprega.19

Talvez seja Roqueplo20 quem defina a divulgação científica de forma mais

abrangente, afirmando ser toda atividade de explicação e de difusão dos

conhecimentos, da cultura e do pensamento científico e técnico, sob duas

condições. A primeira delas é que essas explicações e essa difusão do

pensamento científico sejam feitas fora do ensino oficial ou de ensino

equivalente. A segunda condição imposta por ele é que tais explicações extra-

escolares não devem ter como objetivo formar especialistas, nem mesmo

aperfeiçoá-los em sua própria especialidade. Ele acredita que a divulgação

científica deve se dirigir ao maior público possível sem, no entanto, excluir o

cientista ou o homem culto.

No número inaugural de Ciência Hoje, os editores da publicação

definiram divulgação científica como a tentativa, seja por cientistas, seja por

jornalistas, de fornecer à sociedade uma descrição inteligível da atividade

criadora dos cientistas e de esclarecer questões técnicas e científicas de

interesse geral. A divulgação científica pressupõe a busca de uma linguagem

devidamente acessível – em oposição aos jargões e às fórmulas freqüentes na

linguagem científica e em geral restritos aos especialistas de determinada área

de pesquisa –, sem prejuízo das correções das informações21. Esta é definição

que procuro adotar nas minhas atividades profissionais.

19 REIS, José. Professor José Reis: um divulgador da ciência. Ciência Hoje, Rio

de Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, v. 1., n. 1, p. 77-

78, jul.-ago./1982. p. 78.

20 ROQUEPLO, Philippe. La partage du savoir. Paris: Éditions du Seuil, 1974.

21 Ciência Hoje (editorial), Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira para o

Progresso da Ciência, n. 1, julho/agosto 1982. p. 6.

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Com relação à eficácia da divulgação científica, Bueno pergunta: "Qual é

a linguagem acessível ao grande público? Baseado em que estudos e

pesquisas podemos concluir que existe efetivamente uma linguagem acessível

a uma clientela tão heterogênea? E que grande público é esse?"22

Kaixun faz uma avaliação otimista:

"(...) é impossível que todas as pessoas sejam cientistas. No

entanto, é possível para o público geral entender os fundamentos

básicos da ciência, entender os métodos científicos de pensar,

entender a abordagem prática para a investigação científica,

entender as relações entre ciência e sociedade, entender os

potenciais e as limitações dos cientistas. Não podemos esperar

que todas as pessoas se tornem compositores, mas elas podem

apreciar e desfrutar música e entender Mozart e Beethoven. De

modo similar, não é fácil se tornar um cientista, mas é possível

para o público obter uma compreensão da ciência e se beneficiar

dos frutos da ciência."23

No entanto, na década de 20, Miguel Ozorio de Almeida já dera seu

parecer sobre as dificuldades da transmissão de informações científicas:

"É impossível, quase sempre, apresentar em linguagem profana

um raciocínio que só pode ser assimilado com o auxílio de um

símbolo próprio. (...) A linguagem comum, a que é utilizada para a

vida de todos os dias, tem suas raízes profundas no senso comum.

22 BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo científico: conceitos e funções, Ciência

e Cultura, São Paulo: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 37(9),

p. 1420-1427, set/1995. p. 1423.

23 KAIXUN, Zhang. The Public & Science. IV INTERNATIONAL CONFERENCE

ON PUBLIC COMMUNICATION OF SCIENCE AND TECHNOLOGY: NEW

TRENDS AND NEW PRATICES IN A CHANGING WORLD, 1996. Melbourne.

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A matemática, como a filosofia, recorre a conceitos, dependentes

em certos casos, de uma espécie de senso diferente, e que assim

não se adaptam às condições precárias da língua habitual. Dá-se

aqui (...) o que se observa em um grau muito menor com as

traduções literárias. A passagem de certas expressões, que

correspondem à mentalidade profunda peculiar a um povo, e que

representam exatamente o seu modo de sentir, não pode ser feita

convenientemente para outras línguas, que se mostram assim

deficientes. A tradução em linguagem vulgar de concepções

matemáticas encontra diante de si uma dificuldade desse gênero,

mas em proporções muito maiores. Ela terá que ser forçosamente

incompleta e defeituosa.

(...)

As ciências, porém, se distinguem umas de outras pelo modo por

que elas são estudadas. Se algumas põem em trabalho as

capacidades superiores do raciocínio, e se para abordá-las com

proveito é preciso desenvolver ao mais alto grau o poder de

abstração, afastando-se (...) do senso comum, outras não exigem

mais do que as qualidades bem equilibradas dos homens médios.

Os seus resultados podem muitas vezes ser isolados, expostos de

um modo suficientemente claro, em palavras simples de uma

linguagem muito próxima da linguagem cotidiana."24

Ele dá exemplos que considera de possível compreensão para os não

especialistas:

24 OZORIO DE ALMEIRA, Miguel. A vulgarização do saber. Rio de Janeiro:

Ariel Editora Ltda., 1931.p. 232-233.

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"As ciências naturais apresentam inúmeras questões que estão

nesses casos. Mesmo algumas das grandes concepções

orientadoras que se encontram na base dessas ciências podem ser

explicadas com sucesso a profanos. Todo o mundo compreende

em seus pontos essenciais a teoria da evolução ou a natureza

microbiana das doenças infecciosas."25

Para Miguel Ozorio de Almeida, "ao leigo não interessa, nem é necessário

saber a minúcia técnica e sim apenas as grandes linhas essenciais de um

conjunto importante de conhecimentos".26 Thuillier, que já foi editor da revista

francesa La Recherche, defende: "o importante não é conhecer os últimos

resultados de cada ramo da ciência, mas saber como ela funciona

culturalmente".27

Thuillier também questiona a capacidade de transmissão de conteúdos

científicos específicos: "Há quem acredite que ela [a divulgação científica]

promove o aprendizado da ciência. São como os 'internalistas' da história da

ciência, que só consideram os textos e acreditam que, lendo-os, aprende-se

tudo. O caso extremo é o da pessoa não muito instruída, que compra um

monte de revistas científicas e lê tudo, ficando convencida de que conhece a

ciência. Afinal, pode-se aprender a ciência pela mera leitura de textos? (...) Ela

não é feita de textos, é uma prática..."28

25 Ibid. p. 235.

26 Ibid. p. 235.

27 THUILLIER, Pierre. O contexto cultural da ciência. Ciência Hoje. Rio de

Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 9, n. 50, pp.18-

23, janeiro/fevereiro 1989. p. 23.

28 Ibid. p. 22.

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Thuillier diz ainda: "Outro problema é saber se a divulgação científica de

fato forma as pessoas e cultiva o espírito crítico, como em geral se afirma. Ora,

o que a experiência mostra é que se trata, em muitos casos, de uma leitura

completamente mistificadora."29

Para ele, "quanto mais sofisticado é um artigo, quanto mais abstrusa a

questão que ele aborda, mais ele pode conter qualquer disparate". Nesse

sentido, ele citou o exemplo de um "primeiro de abril", realizado por La

Recherche, quando a revista completou um ano. Os editores publicaram um

artigo absurdo, relacionando determinada configuração assumida por certas

estrelas e o nariz de um animal fictício. Segundo Thuillier, muitas pessoas

levaram o artigo a sério. "Muita gente acredita em qualquer coisa dita numa

revista científica", lamenta.30

Outro alerta dado por Thuillier diz respeito às lacunas ainda existentes na

ciência. Ele acredita que não se deveria divulgar apenas os triunfos da ciência,

mas também o que não se conhece. O francês cita o exemplo da teoria da

evolução: "Há pessoas que, após ler 20 artigos sobre a teoria da evolução,

adquirem a respeito idéias claras e precisas, enquanto que os verdadeiros

cientistas permanecem cheios de dúvidas, às voltas com enormes lacunas".

Dessa forma, a divulgação científica "não contribui para a formação do senso

crítico". 31

Segundo Thuillier, existe uma contradição permanente na divulgação

científica: "Para o pesquisador, os problemas se apresentam complicados;

quando o assunto é ensinado nas faculdades, começa-se a simplificar; na

escola secundária, simplifica-se mais; por fim, na escola primária ou na

divulgação, tudo fica ainda mais simples. A ciência é complicada. Querendo

29 Ibid. p. 22.

30 Ibid. p. 22-23.

31 Ibid. p. 23.

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facilitar, a divulgação simplifica e dogmatiza. Deve-se falar sobre isso com o

leitor."32

Collins e Pinch têm uma posição similar, embora um pouco mais radical, a

esse respeito:

"O debate sobre o entendimento público da ciência está igualmente

impregnado pela confusão entre método e conteúdo. O que deveria

ser explicado são os métodos da ciências, mas o que a maioria das

pessoas ligadas a essa área quer que o público saiba é a verdade

sobre o mundo natural – isto é, o que o poder acredita ser a

verdade sobre o mundo natural.

(...)

Concordamos com os divulgadores que o cidadão necessita estar

suficientemente informado sobre itens técnicos para votar, mas a

informação necessária não é sobre o conteúdo da ciência, mas sim

sobre a relação entre experts, políticos, meios de comunicação de

massa e o resto de nós"33

Cini, participante da equipe que criou e dirigiu a revista italiana Sappere, é

um duro crítico da forma como a divulgação científica é feita:

"(...) a divulgação científica praticada hoje faz parte do mercado do

espetacular e, portanto, não transmite a idéia da ciência como uma

forma de conhecimento do mundo, associada com a vida diária das

pessoas. Transmite-se uma imagem da ciência como algo

espetacular que descobre coisas estranhas e, sobretudo, como

32 Ibid. p. 23.

33 COLLINS, Harry, PINCH, Trevor. The Golem - what everyone should know

about science. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. p. 144-145.

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uma atividade que produz verdades absolutas. A idéia que se

passa é a de que, se uma coisa é científica, ela deve ser aceita

sem discussões, que é inevitável e que é também,

necessariamente, um bem para a humanidade. Penso que essa

mensagem é um erro. Ela não ajuda as pessoas a compreenderem

o que a ciência está fazendo, para onde vai, quais são os

problemas debatidos internamente, como as idéias se confrontam

dentro das várias disciplinas científicas e também como ela se

insere no tecido tecnológico e econômico. Sem uma difusão

científica correta, a ciência vai permanecer como algo esotérico,

produzido por uma casta de especialistas, no qual as pessoas não

podem interferir e que têm que aceitar como inevitável."34

Schwartzman também critica a divulgação científica que apela para

abordagem espetacular do assunto, citando dois casos:

"No primeiro caso, a atividade científica é glamourizada e

enfeitada, os cientistas são grandes gênios que fazem coisas

incríveis, para a fascinação de todos nós. No segundo, existe uma

fronteira do desconhecido em que discos voadores e astrologia se

juntam com doutores Silvana e Spock (o da 'Jornada das Estrelas')

em um mundo mágico e aberto a todas as possibilidades. Em

ambos os casos, o leitor é infantilizado e entende cada vez menos

a respeito da verdadeira natureza do trabalho científico."35

34 CINI, Marcello. O paraíso perdido. Ciência Hoje. Rio de Janeiro: Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 23, n. 138, p. 10, maio 1998. p. 10.

35 SCHWARTZMAN, Simon. A cozinha na ciência. Ciência Hoje. Rio de Janeiro:

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 13, n. 77, out.-nov./1991.

p. 2.

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26

Roqueplo correlaciona o poder com o saber, considerando-o como

instrumento de dominação, cada vez mais reivindicado para justificar a

hierarquia social. Nesse sentido, ele questiona: "Queremos verdadeiramente

compartilhar o saber?"36 Segundo ele, uma das razões pelas quais o saber é

menos compartilhado reside no fato de que aqueles que detêm um poder –

qualquer que ele seja – sempre resistem em reparti-lo. Ele acredita que há uma

contradição fundamental:

"(...) na medida em que pretende se justificar a título de

competência (real ou fictícia), a hierarquia não pode se opor a

todas as transferências de saber que se transformariam pelo

próprio fato em críticas às competências. Nestas condições,

mantém-se a formação permanente para a aquisição restritamente

controlada pelas competências individuais e limitadas. Perpetua-se

assim a seleção escolar e se é permitido que tal ou tal indivíduo

mude de nível ou de casta é sob a condição de que uma

tranferência ampliada do saber não resulte na renúncia da

estrutura hierárquica. Algumas vezes, essa estrutura exige

dispositivos que dão a ilusão de um partilha democrática do saber:

esta ilusão é necessária para justificar ideologicamente o próprio

princípio da hierarquia (isto é, a ligação saber-poder que constitui a

competência). Mas a estrutura hierárquica não deve somente

justificar-se em seu princípio: ela deve se reproduzir nos fatos, o

que impõe – apesar das aparências – a retenção generalizada do

saber em todos os níveis da hierarquia social.

A contradição é tal que os profissionais da formação permanente e

da divulgação científica não conseguem escapar; o problema da

partilha do saber, com efeito, ultrapassa infinitamente o papel

36 ROQUEPLO, Philippe. La partage du savoir. Paris: Éditions du Seuil, 1974.

p. 13.

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27

daqueles que, mesmo voluntários, se definem como mediadores

culturais. Quaisquer que sejam suas intenções e energia que

gastam, eles não podem retirar deles mesmos uma contradição

que os domina e que os domina precisamente porque ela resulta

da significação sócio-política da função cultural que eles pretendem

preencher."37

Embora concordemos no geral com as idéias de Roqueplo, consideramo-

nas um tanto extremadas no que se refere ao papel e às conseqüências das

atividades de divulgação científica. Aspecto importante que Roqueplo não

menciona foi abordado recentemente por Jourdant, que analisa também o

significado epistemológico da divulgação científica:

"Visões tradicionais da popularização da ciência tomam por certa a

idéia de que ela pretende transmitir resultados científicos

importantes para o público leigo. Quaisquer que sejam as razões

de tais intenções educacionais (direitos democráticos à informação,

vindicação do suporte financeiro público, propaganda por mais

recursos, preocupações humanitárias etc.), a eficiência didática das

apresentações populares de ciência parece ser extremamente

baixa. Várias pesquisas que buscavam mensurar o entendimento

público de ciência levaram a conclusões pessimistas tanto nos

Estados Unidos como na Europa.

Vários estudos sobre a retórica da popularização da ciência

mostraram que as dimensões didáticas dos textos deviam ser

entendidas mais como um meio para cumprir as regras do gênero

do que para transmitir conhecimento científico para o público leigo.

Portanto, a questão que deve ser feita é: qual é a finalidade da

37 Ibid. p. 15.

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28

popularização da ciência se ela não é inspirada por propósitos

educacionais?

Para responder a essa questão devemos lembrar que a

popularização da ciência foi iniciada historicamente de dentro da

própria comunidade científica. Devemos então olhar quais

benefícios os cientistas poderiam obter por meio da popularização

de seus próprios trabalhos para audiências leigas. A hipótese de

nosso trabalho é que os cientistas têm interesse epistemológico

direto em popularizar o seu conhecimento mesmo se não estão

conscientes disso. Descobertas e trabalhos inovadores na ciência

estão intimamente ligados com alguma mudança na perspectiva

que os cientistas têm de seu objeto de estudo. "Perspectiva" deve

ser entendida aqui como um termo muito geral referindo-se a um

novo dispositivo tecnológico, um novo paradigma ou sub-

paradigma ou uma alteração na abordagem conceitual etc.

(...)

A popularização da ciência poderia estar fazendo precisamente

isto: escapar da perspectiva especializada sobre os resultados

científicos de modo a lhes dar significados sem as limitações

associadas com a perspectiva não facilmente acessível do

cientista."38

38 JOURDANT, Baldouin. The Epistemological significance of popularisation of

science. IV INTERNATIONAL CONFERENCE ON PUBLIC COMMUNICATION

OF SCIENCE AND TECHNOLOGY: NEW TRENDS AND NEW PRATICES IN A

CHANGING WORLD, 1996. Melbourne.

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29

Embora tenha uma posição crítica já expressa anteriormente, Thuillier

busca caminhos para tornar a divulgação científica em um instrumento útil e

transformador. "A saída talvez consista em visar não a objetividade, a

neutralidade, mas em fazer várias pessoas, com pontos de vista variados,

falarem sobre um assunto. Aí o leitor pode formar um juízo. O verdadeiro

problema por trás de tudo isso é o de transformar o leitor passivo – na

divulgação tradicional, o leitor é passivo, as descobertas chegam até ele, mas

ele não pode sequer avaliá-las –, levando-o a exercer seu espírito crítico."

Dessa maneira, ele acredita que, em caso de fraudes, "teremos um público

adulto, em lugar de um público que acredita piamente nos cientistas e que se

escandaliza quando algumas coisa não funciona direito". Mas Thuillier alerta:

"Se ensinarmos às pessoas a respeitar demais a ciência, estaremos minando a

possibilidade de criticar a tecnocracia".39

Embora as questões gerais sobre o que é a divulgação científica e qual o

seu significado sejam evidentemente importantes, dentro do contexto de nosso

trabalho, não pretendemos dedicar a elas considerações mais aprofundadas do

que as discutidas acima. Isso porque nosso interesse principal é de fundo

histórico e voltado para a análise do tipo de divulgação que foi produzida na

década de 20 no Rio de Janeiro.

Segundo Raichvarg e Jacques, a história da divulgação científica é "um

complemento indispensável da história e da filosofia das ciências, no sentido

que ela levanta novas questões: por que, para quem e como uma ciência, em

um dado momento, foi difundida no tecido social de uma época? Que pessoas

se apropriaram dessa ciência em um dado momento e por quais meios?"40

A divulgação científica, ao longo dos séculos, respondeu a motivações e

interesses diversificados. O estudo de seus diversos aspectos históricos nos

39 THUILLIER, Pierre. O contexto cultural da ciência. Ciência Hoje. Rio de

Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 9, n. 50, pp.18-

23, janeiro/fevereiro 1989. p. 23.

40 RAICHVARG, Daniel, JACQUES, Jean. Savants et ignorants - une histoire

de la vulgarization des sciences. Paris: Éditions du Seil. 1991. p. 8.

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ajuda, portanto, a elucidar como suas formas variam no tempo, em função dos

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pressupostos filosóficos sobre a ciência, dos interesses políticos e econômicos

e dos meios disponíveis nas diversas épocas e nos diversos lugares. Também

as conceituações sobre a divulgação científica e seus rumos e objetivos variam

historicamente. Dizem Raichvarg e Jacques:

"As finalidades da vulgarização são múltiplas, às vezes mesmo

contraditórias, variáveis no curso na história mas obedecendo a

certas permanências ideológicas que não são sempre únicas nem

explicitamente formuladas."41

No século XVIII, as maravilhas da ciência eram exibidas como provas da

existência de Deus; posteriormente, com o iluminismo, tornou-se importante

difundir os conhecimentos necessários ao progresso e à afirmação da razão.

No século XIX, a ciência, além de se aliar mais fortemente às artes industriais,

adquiriu caráter político mais explícito ao se tornar símbolo do progresso e

instrumento para a liberação social. Correntes ideológicas fortes, como o

positivismo e o marxismo, viram nela um ponto de apoio fundamental para suas

visões de mundo e para a evolução da humanidade.

No século XX, estreitou-se o vínculo entre a ciência e a tecnologia e o

tecido econômico-industrial-militar, especialmente após a Segunda Guerra

Mundial; o impacto da ciência e da tecnologia na vida cotidiana do cidadão

aumentou muito. Com a aliança poderosa entre o saber e o poder e com os

novos meios de comunicação de massa, a divulgação científica se ampliou e

adquiriu novos contornos. Surgiu também o marketing institucional e a

profissionalização dos divulgadores da ciência. Com a emergência de uma

comunidade científica de amplas dimensões, interesses políticos e de

financiamento da pesquisa passaram também a ser fatores de peso no

processo de comunicação pública da ciência. Além disso, o conhecimento de

princípios básicos e do funcionamento da ciência tornaram-se importantes para

a manifestação política consciente do cidadão comum.

41 RAICHVARG, Daniel, JACQUES, Jean. Savants et ignorants - une histoire

de la vulgarization des sciences. Paris: Éditions du Seil. 1991. p. 17.

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32

Capítulo 2

ANTECEDENTES

No início do século passado, com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil,

abriram-se os portos e a proibição de se imprimir foi suspensa. Iniciou-se a

publicação de livros, revistas e jornais, com a criação, em 1810, da Imprensa

Régia. Onze anos mais tarde, passou a ser permitida a entrada franca de livros.

Com isso, textos e manuais ligados à educação científica, embora em número

reduzido, começaram a ser publicados ou, pelo menos, difundidos no país.42

Em 1813, o jornal O Patriota já publicava artigos relacionados à ciência,

sendo seguido, ao longo do século XIX, por outras publicações como o Nictheroy

(1836)43 e O Guanabara (1850). Nos anos que antecederam à Independência,

emergiu, por um lado, a necessidade de formação local de quadros que

pudessem gerir a estrutura administrativa do governo imperial. Por outro lado,

interesses nacionalistas estavam presentes em muitos brasileiros formados no

exterior que viam na ciência e nas técnicas, em especial nos domínios agrícola e

mineralógico, uma possibilidade de avanço econômico para o país que

42 CARDOSO, Walter. Divulgação matemática, ao tempo do príncipe regente D.

João. In: D'AMBRÓSIO, Ubiratan (org.). Anais do 2º Congresso Latino-

americano de História da Ciência e da Técnica. São Paulo: Nova Stella, p.

510-514, 1988.

43 PINASSI, Maria Orlanda. Três devotos, uma fé, nenhum milagre - Um

estudo da revista Niterói. Orientadora: Élide Rugai Bastos. Campinas:

Unicamp, 1996. Tese (doutorado em Sociologia).

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pretendiam construir. José Bonifácio de Andrada e Silva pode ser visto como um

representante típico desta mentalidade.44

Na segunda metade do século XIX, as atividades de divulgação se

intensificaram em todo o mundo45, na seqüência da segunda revolução industrial

na Europa, acompanhando as esperanças sociais crescentes acerca do papel da

ciência e da técnica. Uma onda de otimismo em relação aos benefícios do

progresso técnico – expressa, por exemplo, na realização das grandes

Exposições Universais – percorreu o mundo e atingiu, ainda que em escala

menor, o Brasil.

Aqui, no período final do Segundo Reinado, a produção de pesquisa

científica tinha caráter ainda marginal, limitando-se a poucas pessoas,

estrangeiros ou formados lá fora, que realizavam atividades em caráter individual,

e em áreas restritas como astronomia ou ciências naturais.46 O quadro geral da

instrução pública e da educação científica era extremamente restrito e limitado a

uma pequena elite, mas o interesse de D. Pedro II pela ciência favoreceu algumas

das atividades ligadas à difusão dos conhecimentos. Elas tinham como

característica marcante a idéia de aplicação das ciências às artes industriais.

Um caso que exemplifica a intensificação dos interesses por divulgação

científica é a mudança no perfil de O Guanabara, revista mensal artística,

científica e literária. Redigida por uma associação de literatos e dirigida por

Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, Manoel d'Araujo Porto Alegre e Joaquim

Manoel Macedo, O Guanabara deu lugar à Revista Brazileira - Jornal de

44 ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. Projetos para o Brasil. São Paulo:

Companhia das Letras, 1988.

45 FIGUEIRÔA, Silvia F. de M., LOPES, Maria Margaret, A difusão da ciência

através da imprensa e dos periódicos especializados (1890-1930). VI

SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, 4-7

jun./1997, Rio de Janeiro.

46 AZEVEDO, Fernando (ed.). As Ciências no Brasil. 2 vol., Rio de Janeiro:

Editora da UFRJ, 1995.

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34

Sciencias, Letras e Artes, em 1857. Na mudança, a publicação passou a ser

trimestral e dirigida por Candido Baptista de Oliveira.47 Os mais ativos

participantes da revista eram Giacomo Raja Gabaglia, Guilherme Schüch de

Capanema, Francisco e Manoel Freire Alemão, Emmanuel Liais, F.L.C.

Burlamaque, J. Norberto e Fernandes Pinheiro.

A Revista Brazileira publicava tanto textos elaborados pela própria equipe,

como transcrições de artigos extraídos de publicações nacionais e estrangeiras.

Segundo a introdução apresentada na sua primeira edição, "além das ciências

puramente especulativas, ou de publicações literárias de mero gosto, farão

regularmente objeto da Revista quaisquer conhecimentos de utilidade prática:

compreendendo-se especialmente nesta categoria o estudo comparativo de

importantes fatos históricos de qualquer ordem, nacionais e estrangeiros; e das

matérias econômicas, industriais e financeiras, com particular aplicação ao

Brasil".48

Em levantamento que realizamos na primeira fase49 da revista, observamos

que do total de 103 matérias publicadas, distribuídas em 10 volumes, 21 (20%)

eram de divulgação científica, ocupando o terceiro lugar no ranking de seções

mais publicadas, perdendo para artigos científicos ou técnicos (30%) e relatórios

ou documentos (22%). Na retaguarda estavam ensaios, poesias, crônicas e

assuntos literários (16%) e notícias curtas científicas e artísticas (13%).

Outra publicação da época é a Revista do Rio de Janeiro, lançada em 1876

e cujo editor era Serafim José Alves. Segundo o editorial da primeira edição, "um

47 MOREIRA, Ildeu de Castro, MASSARANI, Luisa. Candido Baptista de

Oliveira e o Sistema Métrico Decimal. V SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA

DA CIÊNCIA, 1995, Ouro Preto.

48 Revista Brazileira, tomo 1, p. 1, 1857.

49 Em janeiro 1861, interrompeu-se a publicação de Revista Brazileira. Em 1879,

surgiu uma publicação de mesmo nome, mais voltada para assuntos culturais e

literários, a qual denominaremos segunda fase da Revista Brazileira.

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35

dos meios mais eficazes de favorecer a instrução e o progresso, e ao mesmo

tempo prestar valioso serviço ao país, que tem tudo a ganhar com a difusão das

luzes, é vulgarizar as ciências, letras, artes, agricultura, comércio e indústria".50

O propósito da revista era "resumir em um volume artigos que mereçam ser

estudados e que encerrem os principais progressos das ciências (...). Literária,

filosófica, imparcial e independente, a Revista do Rio de Janeiro se consagra à

mocidade e ao progresso."51

Análise feita nos dois volumes publicados em seu primeiro ano de vida

mostrou que de seus 98 artigos, 21% são de divulgação científica, 18% técnicos e

4% referem-se a notícias científicas curtas. No entanto, os artigos relacionados à

ciência são menos profundos que os da Revista Brazileira, além de muitos deles

trazerem conceitos já ultrapassados na época. Exemplo disso é um artigo no qual

o autor anônimo defende o conceito de calórico52, superado na física desde os

anos 40 daquele século, portanto quase quatro décadas antes.

Em 1881, Felix Ferreira criou Sciencia para o povo, publicação semanal

que, segundo o anúncio distribuído ao longo das edições, era uma coleção de

obras de ciências popularizadas pelos mais notáveis escritores modernos

nacionais e estrangeiros. Quase todos os artigos são relacionados à ciência e se

distribuem em seções. Entre as seções, estão: "Serões instrutivos", por Aristides

Roger, com tradução de Lino de Almeida, que traz informações romanceadas

sobre assuntos como o corpo humano; "Viagens aéreas", que são, como o nome

diz, notas sobre viagens, entre elas texto escrito por Camille Flammarion; "A

educação da mulher", notas coligidas por diversos autores por Felix Ferreira;

50 Revista do Rio de Janeiro, vol. 1., p. 1-2, 1 jan./1876.

51 Ibid. p. 1.

52 O artigo, intitulado "O calórico", foi publicado em 6 partes. Por causa da forma

como a publicação foi encadernada, não conseguimos localizar o número da

edição em que cada uma das partes foi publicada. vol. 1, p. 72-75, 83-85, 101-

103, 116-118, 130-132, 148-150 (1876).

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36

"Mistérios da geração", inúmeros artigos que tocam temas avançados como

divórcio, frigidez, gravidez, esterilidade e impotência.

Na apresentação53, Ferrreira afirma:

"Longe vão os tempos em que a ciência envolvia-se no profundo

mistério; em que os grosseiros princípios da química e os mal

distintos boquejos da física constituíam os segredos da feitiçaria;

em que a nebulosa aurora da astronomia, desvirtuada na empírica

astrologia, pretendia nas linhas da mão predizer o futuro; em que a

medicina ainda na infância e a cirurgia titubeante eram antes

privativas da classe sacerdotal. Hoje, porém, as ciências elevadas

ao mais alto grau de aperfeiçoamento, iluminadas pelo grande farol

da imprensa, derramam ondas de luz por todas as classes da

sociedade.

(...)

Tão vulgarizados estão hoje os segredos das ciências nas

sociedades cultas, tão populares se têm tornado os fenômenos do

mundo físico; que a nenhum homem, já não diremos de apurada

instrução, mas que saiba ler e compreender o que lê, é dado

ignorar o que se passa na terra em que vive, em redor de si e em si

mesmo.

Não saber que a terra move-se, que além deste globo há milhares

de outros muito maiores que giram no espaço infinito; desconhecer

as leis da atração universal, os influxos que atuam nos mares, a

origem dos ventos, a causa das tempestades, a natureza do raio e

da nuvem, a composição da água; ignorar os mais comezinhos

53 Sciencia para o povo, vol. I, n. 1, 1881. p. 3-8.

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37

princípios da física e, por conseqüência, não saber que o calor é a

fonte de vida, a luz é a irradiação do calor, que o som propaga-se

em ondas sonoras, e que as cores vibram; não saber que o cérebro

é a sede da vontade, que os nervos são os transmissores dessa

vontade aos membros do corpo, que o estômago digere, que o

fígado secreta a bílis, que o sangue circula nas veias e que os

pulmões respiram; ignorar que o reino animal é uma cadeia cujos

últimos elos se prendem e se confundem com o reino vegetal; que

os vegetais respiram e que reproduzem-se pela fecundação como

os animais; ignorar, enfim, tudo isso, é conservar-se indiferente a

todas as lições que dá a natureza inteira onde tudo nos fala da

ordem, da economia, do trabalho e da providência.

Hoje que por todo o mundo civilizado se derramam a mãos fartas

livros e jornais, que de tudo isso tratam, tudo isso ensinam,

comentam e discutem, triste é de ver-se o atraso em que vegeta a

instrução popular entre nós. A despeito das inúmeras reformas, dos

pomposos edifícios e mil outras exterioridades, os compêndios são

antiguados e os bons livros escassos.

É certo que nos faltam para tanto escritores especiais, que as

ciências estão ainda pouco desenvolvidas, que seus hábeis

profissionais pouco ou nada produzem, mas também não é menos

certo que o gosto pela leitura desenvolve-se, o amor pelo saber

aumenta e as classes populares já não se contentam com os

jornais noticiosos e o romance de ação, o povo quer mais alguma

coisa, aspira mais elevada esfera de conhecimentos, as escolas

noturnas de ensino literário, artístico e científico regorgitam, o Liceu

de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro é freqüentado por 1.200

alunos; o que nos faltam pois são livros instrutivos, ilustrados, e

postos ao alcance dos menos favorecidos da fortuna.

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38

Parece-nos, por isto, chegado o momento de encetar uma

publicação que vulgarize entre nós algumas dessas obras que

tanto têm contribuído para a instrução do povo nos países mais

adiantados, do velho e novo mundo.

Um jornal neste sentido seria talvez mais propagandista, mas tem o

inconveniente de ser preciso que nele se trate de diversos

assuntos a um tempo, e, por conseqüência, ou resumir a ponto de

tornar as noções deficientes ou levar tanto tempo para expor uma

matéria que chegue a fatigar ou impacientar o leitor. Além do que,

por mais bem organizada que seja uma revista, as suas coleções

são sempre incômodas de manusear quando se tem de estudar um

assunto disseminado por vários números.

Por estas e outras razões preferimos fazer a publicação em obras

destacadas, dividindo-as em partes ou fascículos de cerca de

sessenta a oitenta páginas, formando assim cada trabalho um

volume em separado. (...)"

Nos anos 1886-1891, circulou no país a Revista do Observatório54. Editada

mensalmente pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro (hoje, Observatório

Nacional), tinha uma comissão de Redação com cientistas de destaque: Luis

Cruls, Luiz da Rocha Miranda, Henrique Morize, J.E. de Lima. A Revista do

Observatório é uma continuação, sob forma um pouco diversa, do Boletim

Astronômico e Meteorológico, cuja publicação iniciada em 1881 foi interrompida

em 1884 e 1885.

Além de publicar observações e trabalhos executados no Imperial

Observatório, a Revista do Observatório foi criada para relatar as descobertas e

54 Segundo o Cardex do Museu Nacional, teria havido uma primeira edição em

1892, mas até hoje não foi localizada pela equipe do Observatório Nacional.

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39

progressos mais importantes em astronomia, meteorologia e física do globo. A

Revista do Observatório se preocupava em delimitar os assuntos a algumas

áreas científicas, ao contrário das revistas anteriormente mencionadas que

uniam ciências, letras e artes na mesma publicação.

O texto de apresentação da Revista do Observatório dá ênfase à

preocupação com a divulgação científica:

"Pretendemos pois dar a essa Revista o cunho de uma publicação

de vulgarização, porém de vulgarização de conhecimentos exatos,

apresentados debaixo de uma forma que os torne acessíveis para

todos.

Acreditamos que, redigida nesse pensamento, contribuirá a nova

revista para promover entre nós o gosto do estudo e da

observação. Na Europa e nos Estados Unidos, não são poucas as

publicações criadas para o mesmo fim e é inegável a influência

benéfica que tiveram para o desenvolvimento e vulgarização da

mais atrativa das ciências. (...)"55

Apesar dessa preocupação de divulgação, os textos são difíceis para o

público não especializado. A Revista do Observatório traz uma disposição dos

textos bem atual, distribuída em colunas, ao contrário da Revista do Rio de

Janeiro e da Revista Brazileira, que têm a aparência de livro. A Revista do

Observatório apresenta inúmeras ilustrações, enquanto que a Revista Brazileira

publica poucos desenhos. A Revista do Rio de Janeiro não traz figuras de

qualquer espécie.

Em 1873, iniciou-se uma das atividades de divulgação científica mais

significativas da história brasileira e que duraria quase 20 anos: as

55 Revista do Observatório, Imperial Observatório do Rio de Janeiro, n. 1., ano I,

jan./1886.

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40

"Conferências Populares da Glória"56 que, ao que parece, tiveram impacto

significativo na elite intelectual carioca. Salões de escolas públicas da freguesia

da Glória abriram suas portas para um público que ia assistir conferências sobre

os mais diversificados assuntos: teoria evolucionista de Darwin-Wallace,

períodos glaciais, origem da Terra, responsabilidade médica, doenças,

taquigrafia, bebidas alcoólicas, ginástica, Luís de Camões, casamento, papel

social da mulher, ensino particular e público, língua portuguesa, clima, Dante

Alighieri, entre outros.

Organizadas pela Sociedade Promotora de Instrução e coordenadas pelo

Conselheiro Manoel Francisco Correia, senador do Império, as "Conferências

Populares da Glória" ocorriam, inicialmente, nas manhãs de domingo e depois

foram estendidas para dois dias na semana. Importantes jornais da época, como

o Jornal do Commercio, a Gazeta de Notícias e o Diário do Rio de Janeiro

anunciavam anteriormente as conferências, sendo que, em alguns casos,

publicavam posteriormente um resumo do conteúdo ou a íntegra das mesmas.

Em 1876, várias dessas conferências foram também impressas numa coletânea

mensal intitulada Conferências Populares57, sob direção do próprio Conselheiro

Correia.

56 FONSECA, Maria Raquel Fróes. As 'Conferências Populares da Glória': a

divulgação do saber científico. Manguinhos, Rio de Janeiro: Fiocruz, v. II, n. 3,

p. 135-166, nov./1995-março/1996. CORREIA, Conselheiro Manoel Francisco

Correia (direção). Conferências Populares (coletânea das conferências

realizadas na Glória em 1876). Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J.

Villeneuve & C, 1876.

57 CORREIA, Conselheiro Manoel Francisco Correia (direção). Conferências

Populares (coletânea das conferências realizadas na Glória em 1876). Rio de

Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve & C, 1876.

Page 41: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

41

O objetivo de Correia era a instrução do povo e, para tal, as conferências

eram franqueadas a todos. Fróes da Fonseca58 acredita que a platéia era

formada por público seleto, com participação da aristocracia da corte, de

profissionais liberais e estudantes e, também, eventualmente da família imperial.

Os organizadores e conferencistas acreditavam que a nação poderia ser

transformada por meio da ilustração do país, da divulgação da ciência e da

cultura. Fróes da Fonseca afirma que, para seus mentores, a relevância das

conferências decorria também do fato de existirem congêneres em países

europeus, onde autores como Laboulaye, Guizot e Cousin refletiam sobre

significados de tais realizações.

As "Conferências Populares da Glória" transformaram-se muitas vezes em

um palco para discussões polêmicas, como liberdade de ensino, criação de

universidades e as diversas doutrinas científicas. Miranda Azevedo59, por

exemplo, chocou muitos integrantes da platéia ao defender a controversa teoria

evolucionista de Darwin-Wallace, baseada na seleção natural, formulada alguns

anos antes e ainda pouco conhecida no Brasil. Essas atividades ocorreram até

1889, sendo depois retomado em 1891, sob direção do Conselheiro João

Manuel Pereira da Silva. Mas, para Fróes da Fonseca, o período mais

representativo foi entre 1873 e 1880.

Em 1875, iniciou-se uma prévia do que seriam os "Cursos Públicos do

Museu"60, efetivamente realizados durante cerca de dez anos a partir de 1876.

58 FRÓES FONSECA, Maria Raquel. As 'Conferências Populares da Glória': a

divulgação do saber científico. Manguinhos, Rio de Janeiro: Fiocruz, v. II, n. 3,

p. 135-166, nov./1995-fev./1996.

59 COLLICHIO, Terezinha Alves Ferreira. Miranda Azevedo e o Darwinismo no

Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da USP, 1988.

60 SÁ, Magali Romero, DOMINGUES, Heloisa Maria Bertol. O Museu Nacional e

o ensino de ciências naturais no Brasil no século XIX. Revista da Sociedade

Brasileira de História da Ciência, n. 15, jan./jun. p. 79-87, 1996.

Page 42: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

42

Eram ministrados pelos diretores e vice-diretores das diferentes seções do

Museu Nacional, em especialidades como botânica, agricultura, zoologia,

mineralogia, geologia e antropologia.

Segundo Sá e Domingues, desde 1842 tentava-se implantar tais cursos,

conforme previsto no regulamento da instituição. O idealizador do regulamento,

Frei Custódio Alves Serrão, então diretor do Museu, deixou a instituição cinco

anos depois sem ver seu projeto realizado. Só três décadas depois, a atividade

se iniciou, na gestão do diretor Ladislau de Souza Mello Netto. Para Sá e

Domingues, a repercussão dos cursos junto ao público e à imprensa foi

extremamente favorável, tendo deixado Ladislau Netto entusiasmado com a

nova função do Museu.

Em 10 de março de 1876, o Jornal do Commercio publicou chamada para a

inauguração dos Cursos Públicos do Museu, "destinados à instrução das classes

estranhas ao estudo da história natural, das senhoras, dos homens de letras,

dos empregados públicos, do povo, enfim, que poderá utilizar deste modo uma

hora desocupada da noite em proveito de sua instrução".61 Quase todos os

cursos tiveram seus resumos publicados no Jornal do Commercio.

Para Sá e Domingues, houve preocupação por parte dos expositores de

tornar as palestras assimiláveis pelo grande público. Os palestrantes utilizavam

material didático variado, que incluía espécimes, cartazes etc. Hartt chegou até

a usar um projetor de imagens. Os cursos contavam também com

demonstrações práticas, nas quais os expositores eram auxiliados pelos

praticantes e preparadores do Museu.

Apesar da boa receptividade dos cursos pelo público e pela imprensa, os

palestrantes foram gradualmente deixando de priorizar essa atividade, voltando

suas atenções para suas obrigações como naturalistas do Museu, que incluíam

atividades de pesquisa e organização de coleções científicas. Em 1882, o

61 Apud SÁ, Magali Romero, DOMINGUES, Heloisa Maria Bertol. O Museu

Nacional e o ensino de ciências naturais no Brasil no século XIX. Revista da

Sociedade Brasileira de História da Ciência, n. 15, jan./jun. 1996. p. 82.

Page 43: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

43

evento foi suspenso em função da Exposição Antropológica Brasileira, que se

realizou no Museu.

Por causa das dificuldades em realizar os cursos, Ladislau Netto os

eliminou do regulamento do Museu em 1888, substituindo-os por "conferências

extraordinárias", nas quais cada professor deveria apresentar seu próprio

trabalho ou apresentar sinopses gerais sobre os assuntos mais importantes da

ciência. Os cursos populares foram retomados em 1911, por João Batista de

Lacerda, mas sem o mesmo impacto.

Merece destaque ainda o livro Doutor Benignus, publicado por Augusto

Emílio Zaluar em 1875, "primeiro em nossa literatura a tomar a ciência como

tema de fabulação", na avaliação de José Murilo de Carvalho, na introdução da

edição do livro recentemente publicada62. Nascido em Portugal e naturalizado

brasileiro, Zaluar transitou por várias áreas (poesia, romance, obras didáticas,

traduções e jornalismo). Em um estilo similar ao de Júlio Verne, Zaluar relata,

em Doutor Benignus, uma hipotética expedição científica ao interior do país.

Como fonte, usou sua própria experiência na viagem que realizou na província

de São Paulo e na descrição de várias outras expedições, que marcaram o

século XIX.

Muitas dessas expedições científicas foram realizadas por estrangeiros,

entre eles Karl Friedrich Phillip von Martius e Johan Baptist Spix, Georg

Langsdorff, Auguste Saint-Hilaire, Alfred Russel Wallace e Henry Bates. A

estada de von Martius no Brasil entre 1817 e 1820 gerou, além dos conhecidos

Flora Brasiliensis e, juntamente com Spix, Viagem pelo Brasil, mais um livro

pouco divulgado: Frei Apollonio - Um romance do Brasil63. O livro relata, em

forma de romance, a viagem de um naturalista jovem à Amazônia e vários

costumes de grupos indígenas brasileiros são abordados.

62 ZALUAR, Augusto Emílio. O Doutor Benignus. Rio de Janeiro: Editora da

UFRJ, 1994.

63 MARTIUS, Karl Friedrich Phillip von. Frey Apollonio - Um Romance no

Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1992.

Page 44: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

44

Além dos estrangeiros que passaram pelos Brasil, outros, como Fritz

Müller, vieram morar no país, permanecendo aqui pelo resto de suas vidas.

Acreditamos que com a estada desses cientistas houve uma difusão das idéias

científicas, ainda que indireta, na medida em que os cientistas viajavam por

lugares remotos do país, levando às populações locais novas informações. No

entanto, não há meios de comprovar nossa crença ou de avaliar a dimensão

dessa difusão. Por isso, não nos estenderemos nessa questão.

Documento importante para a compreensão do quadro da divulgação

científica da época foi redigido pelo biólogo francês Louis Couty (1854-1884),

antigo professor da Faculdade de Medicina de Paris, que veio ao Brasil a convite

de D. Pedro II para lecionar Biologia Aplicada na Escola Politécnica do Rio de

Janeiro. Preocupado com o desenvolvimento da ciência brasileira e muito ativo

nesse particular, Couty escreveu o primeiro artigo de uma coluna dedicada à

nova propaganda científica na Revista Brazileira, no primeiro ano de sua

segunda fase. Dada a importância desse texto, que defendia ardorosamente o

desenvolvimento das ciências experimental no Brasil e no qual dava ênfase

especial à vulgarização científica, vamos transcrever longos trechos do

mesmo64.

Quando trata da divulgação científica, Couty, a partir de sua experiência na

Europa, comenta sobre as maneiras de estimular o público não especializado

em direção à ciência:

"Como, porém, conseguir que o público se interesse por todas as

questões científicas? Como proceder para que ele compreenda a

importância, e muitas vezes a utilidade direta, e possa discutir e

reconhecer os progressos de tais questões? Em uma palavra,

como desenvolver e generalizar a corrente científica e

64 COUTY, Louis. Os estudos experimentais no Brasil. Revista Brazileira, Rio

de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, tomo II, p. 215-239,

1/nov./1879.

Page 45: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

45

indispensável, segundo procurei demonstrar, a qualquer produção

valiosa?"

Pois que aos mais adiantados países cumpre pedir não os

assuntos que se devem estudar ou as respectivas soluções, mas

os meios de estudos, vejamos ainda o que existe na Europa, pelo

menos em certos países. Ao lado dos laboratórios acham-se

sempre multíplices meios de aproveitar ou melhor de facilitar o

conhecimento e vulgarização de seus trabalhos."

(...)

Um pouco mais adiante, no mesmo documento, Couty menciona o grande

desenvolvimento da divulgação científica na Europa naquele momento:

"Além das revistas periódicas das sociedades e congressos,

possuem ainda os mais adiantados países da Europa meios

inumeráveis de propaganda científica destinados não já

diretamente aos sábios, mas principalmente ao público ilustrado e

culto. Há ali publicações especiais, jornais científicos, alguns dos

quais, como La Nature, o Journal des Voyages, limitam-se até a

determinados assuntos. Há milhares de livros de vulgarização

científica, cujo tipo é representado pelos trabalhos de Figuier; ou

ainda romances que, graças a escritores como Júlio Verne, Macé,

Hetzel, vão incutir nas mais tenras inteligências o gosto de saber e

indagar.

Finalmente, não há jornal político ou literário que não dedique parte

de seus artigos ao trabalho capital da instrução científica. Basta

recordar os artigos da Revue des Deux Mondes ou ainda as

revistas e os estudos científicos tão curiosos organizados por P.

Bert no République Française, jornal para que este eminente sábio

Page 46: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

46

autorizou-me a enviar os artigos que eu julgue de utilidade sobre as

questões do Brasil."

A seguir, Couty analisa a situação brasileira e propõe que sigamos os

mesmos caminhos trilhados na Europa, reconhecendo já a existência de

atividades significativas de divulgação científica no Brasil, mas ainda pouco

voltadas para questões próprias da ciência brasileira:

"Foi com esses meios de vulgarização que pouco a pouco se

estabeleceu na Europa a geral corrente científica que eu desejara

ver no Brasil. Foram tais sociedades e sobretudo aqueles

diferentes jornais e revistas que levaram a toda parte o gosto pelos

estudos científicos e o conhecimento de sua utilidade. Deve-se,

pois, evidentemente recorrer a iguais meios para conduzir o Brasil

ao mesmo fim. Certo, folgo de reconhecê-lo, muito já se tem feito

nesse sentido, sobretudo de alguns anos para cá; mas não se pode

contestar que ainda há que fazer.

Os jornais científicos, já numerosos no Rio, completos a muitos

respeitos, se-lo-ão todos? A imprensa política e literária, que conta

vários órgãos sérios importantes, assim como vulgariza com

cuidado as descobertas da Europa, ocupa-se suficientemente com

as questões do Brasil? Essas questões preocupam tanto quanto

deveriam não só os sábios e os homens políticos, mas também

todas as pessoas instruídas e que pensam no futuro? Enfim, em

lugar de reduzir por meio da vulgarização os problemas científicos

a seus termos mais simples, não seria preferível conservar-lhes a

sua complexidade real?

Não haveria utilidade em mostrar que, para nos elevarmos do

menor fato a uma conclusão, é preciso que passemos por uma

série de termos complicados e atendamos a condições multíplices

e opostas? E a vulgarização científica, assim compreendida, não

Page 47: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

47

dará o resultado de elevar ainda o nível já tão alto dos estudos

neste país, e tornar mais forte a disciplina intelectual, que

ordinariamente falta aos povos de raça latina em conseqüência da

vivacidade de sua inteligência e da sua facilidade de

compreensão?

Estabelecida por meus amigos e por mim todas estas questões,

cabendo-me o encargo de as submeter aos dignos diretores desta

Revista [Brazileira], tão bem compreenderam eles a importância do

nosso cometimento, que deixaram-nos a liberdade de fazer uma

tentativa mais vasta de divulgação científica."

O biólogo francês expõe, a seguir, um programa de difusão da ciência,

analisando os conteúdos que deveriam ser priorizados. Propõe ainda uma

vulgarização científica voltada ao público ilustrado, em que as complexidades

reais dos problemas científicos não sejam simplificados excessivamente.

Embora seja um cientista estrangeiro recentemente chegado ao país, é ele

quem vai dar destaque à importância de serem considerados temas científicos

específicos da realidade brasileira:

"Os nossos artigos serão curtos, porque desejamos que sejam

lidos; entretanto, não nos esquecendo de que escrevemos para

homens instruídos, não procuraremos simplificar as questões e pô-

las, conforme se diz, ao alcance de todos. Terão eles um fim único,

perfeitamente definido: discutir e estudar desde já o que denominei

– a ciência do Brasil.

Todos tratarão de questões de exclusivo interesse do Brasil, e que,

na máxima parte, só podem nele ser estudadas e resolvidas;

discutirão os fatos já conhecidos; procurarão indicar as

experiências ou investigações que se devem fazer, e, se

aproveitarem trabalhos e descobertas da Europa, esse

aproveitamento será um meio e não um fim.

Page 48: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

48

Haverá talvez neles uma parte um pouco mais ampla para as

questões biológicas, já porque muitas questões, como as das

substâncias tóxicas ou alimentárias, misturas de raças, higiene e

febre amarela, são por si mesmas muito importantes, já porque

melhor que quaisquer outras permitem mostrar a complexidade do

menor problema e a dificuldade das explicações teóricas. Todas as

outras partes das ciências de observação serão representadas, e

os primeiros artigos tratarão de assuntos análogos a estes: meios

de transporte no Brasil, condições da mão-de-obra agrícola e

meios de transformá-la, solo cultivável do Brasil sob o ponto de

vista dos estrumes, pastagens e seus melhoramentos necessários,

madeiras do Brasil e condições de seu aproveitamento etc. São,

como se vê, questões complexas, mas cuja importância e utilidade

ninguém pode contestar.

Conseguiremos nós dar este primeiro passo na senda de tão larga

divulgação científica? Assim o esperamos, contanto com a

benevolência dos leitores. Quanto a mim, creio-o firmemente, pois

tive a felicidade de ver estas idéias compreendidas e aceitas por

todos os meus amigos e colegas, sempre tão simpáticos, aos quais

explanei-as. (...)"

Mas o programa de divulgação científica proposto por Couty não foi

colocado em prática pela Revista Brazileira. Conforme observamos, a revista

tornou-se progressivamente mais literária em relação à sua homônima,

afastando-se de temas científicos. Passou a ser feita por um grupo de

jornalistas, tendo como colaboradores Machado de Assis – que publicou Brás

Cubas na revista – e Sílvio Romero. Apenas três artigos naquele ano estavam

relacionados à ciência.

No período posterior a essa época – última década do século XIX e

primeiros anos do século atual –, observamos que as principais atividades de

divulgação científica sofreram redução significativa. As conferências e os cursos

Page 49: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

49

populares não mais ocorreram, o envolvimento de cientistas e professores com

essas atividades decresceu e o número de revistas e artigos referentes à

divulgação científica diminuiu.

Essa redução na divulgação científica no Brasil do início da República Velha,

com suas convulsões sociais, não é um fato isolado. Está relacionada à

diminuição similar, ainda pouco entendida, que ocorreu no contexto internacional,

como discutiremos mais adiante. É curioso observar que naquele momento

começavam a se espalhar novos resultados técnicos, como o telégrafo sem fio, o

telefone, a iluminação elétrica e os raios X. No Rio de Janeiro, uma elite de

engenheiros e politécnicos capitaneava transformações urbanas profundas. Do

ponto de vista da ciência, tocada pelas necessidades de saneamento da cidade,

surgiria um marco importante: a institucionalização e a consolidação da pesquisa

na área biomédica, traduzida na criação do Instituto de Manguinhos, hoje

Fundação Oswaldo Cruz.

Um aspecto importante, ligado à história das idéias no Brasil, mas que não

abordaremos com maior profundidade, refere-se às relações entre o positivismo

e a ciência. Essa doutrina, que se difundiu aqui a partir de meados do século

XIX, tendo como veículo inicial algumas teses de medicina e de engenharia, teve

repercussões significativas na vida cultural brasileira, exercendo influência

política e ideológica vigorosa, particularmente no período que vai do final do

Império aos primeiros anos da República Velha.

A avaliação do legado positivista no Brasil é ainda controversa. Os

aspectos negativos que a doutrina comteana trazia, ou que veio a assumir nas

paragens tupiniquins, têm sido bastante destacados; entre eles, a propagação

de uma visão científica retrógrada e atrasada, em particular na matemática, e a

posição contrária de seus adeptos à criação de universidades e de instituições

voltadas para a pesquisa científica básica. O positivismo é apresentado, muitas

vezes, como tendo sido um obstáculo sério ao desenvolvimento da ciência no

Brasil65. Embora essa concepção esteja em boa parte correta, ela deve ser

65 Veja, por exemplo, COSTA, João Cruz. Contribuição à história das idéias

no Brasil, segunda edição, São Paulo: Editora Civilização Brasileira, 1967.

Page 50: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

50

matizada pela consideração de que o positivismo, como filosofia científica,

contribuiu para a valorização da ciência e para a abertura de espaços para o

ensino científico. Segundo Dantes66, a influência que o positivismo exerceu no

Brasil é também muitas vezes apresentada de forma exagerada e que extrapola

seu impacto real.

Considerações de ordem política mostram que adeptos do positivismo

lutaram pela laicização do estado brasileiro, em oposição ao conservadorismo

católico, além de propugnarem pela modernização do país, em vários aspectos,

influenciando particularmente engenheiros, profissionais liberais e militares, mas

nem sempre pautados por ideais democráticos67. Destaque-se ainda que o

positivismo apresentava várias divisões internas, constituindo-se em um

espectro de posições que iam da ortodoxia mais rígida, com caráter religioso, à

mera simpatia filosófica ou à incorporação parcial das idéias de Comte, como

veremos, por exemplo, no Credo de Roquette Pinto, que mencionaremos mais

adiante.

Embora, como já dito, o positivismo tenha atraído atenção para os estudos

científicos no país (mesmo que escorado em viés profissionalizante), não nos

parece que tenha contribuído de forma expressiva e direta para as atividades de

divulgação científica no Brasil. Mesmo porque, no período após a década de 80

do século passado, em que o positivismo tem sua influência maior na vida

política e educacional do país, as atividades de divulgação científica já

começavam a apresentar um declínio perceptível. No entanto, como não

aprofundamos nosso estudo neste período, essa afirmação deve ser tomada

com as devidas salvaguardas.

66 DANTES, Maria Amélia M. Le positivisme et la science au Brésil. In:

PETITJEAN, P., JAMI, C., MOULIN, A.M. Sciences and Empires. Dordrecht:

Klouwer Academic Publishers, 1992. p. 165-172.

67 Ibidem. p. 169.

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51

Capítulo 3

A DÉCADA DE 20: POR UMA CIÊNCIA ACESSÍVEL

A década de 20 deste século foi marcada, no Rio de Janeiro, pela retomada

das iniciativas de divulgação científica. Além do uso mais intenso de jornais,

revistas e livros como veículos de difusão das idéias científicas, foram

organizadas também conferências abertas ao grande público. Em 1916, foi criada

a Sociedade Brasileira de Ciências, marco determinante na abertura desse

período e que se transformaria depois na Academia Brasileira de Ciências.

Começaram a ser feitas também as primeiras tentativas sistemáticas voltadas

para a criação de faculdades de filosofia, ciências e letras.

Esse surto está ligado ao surgimento, nas duas primeiras décadas deste

século, de um pequeno grupo de acadêmicos – entre os quais Manoel Amoroso

Costa, Henrique Morize, os irmãos Ozorio de Almeida, Juliano Moreira, Edgard

Roquette-Pinto, Roberto Marinho de Azevedo, Lélio Gama e Teodoro Ramos –,

que participaram intensamente de várias atividades que começaram a traçar um

caminho para o desenvolvimento da pesquisa básica e para a difusão mais ampla

da ciência no Brasil. São eles professores, cientistas, engenheiros, médicos e

outros profissionais liberais, ligados em geral às principais instituições científicas e

educacionais do Rio de Janeiro. Esse grupo de cientistas e intelectuais tinha

como estratégia o desenvolvimento da pesquisa científica e a construção da

identidade de um novo tipo de intelectual no Brasil: o cientista puro68.

68 FERREIRA, Luiz Otávio. As Origens da Academia Brasileira de Ciências.

Ciência Hoje, Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência, vol. 16, n. 96, p. 32-36, 1993.

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52

Em 1923, criou-se a primeira rádio brasileira, a Rádio Sociedade (hoje,

Rádio MEC). Significativamente não foi fundada pelo governo ou por alguma

empresa privada, mas sim por um movimento de cientistas e intelectuais do Rio

de Janeiro. Tinha propósitos educativos e de difusão científica, como atestam

suas atas iniciais. A Rádio era mantida por associação que congregava grande

número de pessoas.

A Associação Brasileira de Educação (ABE), que viria a desempenhar, por

muitos anos, importante papel em defesa da educação pública no Brasil, foi criada

em 1924. Ao longo da década, promoveu periodicamente palestras de divulgação,

feitas por professores e pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Os cursos e as

conferências organizados pela ABE, muitas vezes realizados com apoio do

Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura, recebiam boa afluência de público,

sendo anunciados em jornais cariocas.

Livros, vários deles traduzidos, e até coleções de divulgação, foram também

publicados nesse período, além de muitos artigos em jornais e revistas. As visitas

de alguns importantes cientistas estrangeiros, como Jacques Hadamard, Émile

Borel, Paul Langevin, Marie Curie e, principalmente, Albert Einstein, em 1925,

despertaram interesse na imprensa, contagiaram a pequena comunidade

acadêmica e atingiram um público mais amplo e diversificado.

No terreno filosófico, na esteira de Otto de Alencar, promovia-se crítica

intensa ao positivismo comteano (principalmente por parte de Amoroso Costa),

que exercia profunda influência nas escolas profissionais e na vida educacional e

política brasileira.

Sem dúvida, a década de 20 foi um dos períodos mais férteis do ponto de

vista da divulgação científica no Brasil. Para Miguel Ozorio de Almeida, "a difusão

da cultura científica traria como resultado a familiaridade de todos com as coisas

da ciência e sobretudo uma consciência esclarecida dos serviços que estas

podem prestar.”69 Dizia ele: "A vida moderna está cada vez mais dependente da

ciência e cada vez mais impregnada dela.”70

69 OZORIO DE ALMEIRA, Miguel. A vulgarização do saber. Rio de Janeiro:

Ariel Editora Ltda., 1931. p. 236.

70 Ibid. p. 235.

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53

Sobre o papel da ciência no mundo, afirmou Roquette-Pinto:

"A ciência vai transformando o mundo.

O paraíso, sonhado pela gente de outras idades, começa a definir-

se aos olhos dos modernos, com as possibilidades que o passado

apenas imaginava. O homem culto chegou a voar melhor do que as

aves; nadar melhor do que os peixes; libertou-se do jugo da

distância e do tempo; realiza em um continente o que concebeu em

outro, alguns momentos antes; ouve a voz dos que morreram,

conservada em lâminas, com o seu timbre, e as inflexões da dor e

da alegria; imortaliza-se, arquivando a palavra articulada, com

todas as suas características, e as suas formas e seus movimentos

com todas as minúcias; e enquanto, mágico inesgotável, vai

modificando a terra e lutando contra a fatalidade da morte fazendo

reviver as vozes que ela extinguiu, as formas que ela decompôs, o

homem não consegue transformar-se a si mesmo, com igual

vertiginosa rapidez."71

Os registros deixados, em livros e artigos, por esse grupo de cientistas eintelectuais, participantes ativos na divulgação científica naquela década, exibem

algumas crenças e expectativas, quanto aos resultados dessa atividade, em muito

semelhantes às que se observam hoje. Em particular, uma atitude muito otimista,

por parte de vários de seus proponentes, em relação ao potencial da divulgação e

da educação científica por meio das novas tecnologias – na época, o rádio –

similares ao que presenciamos atualmente com a Internet e, anos atrás, com a

televisão. Acreditava-se, como muitos hoje, que as novas tecnologias permitiriam

uma disseminação barata, rápida e fácil dos conhecimentos, até os lugares mais

remotos do Brasil. Essas iniciativas se coadjuvavam também com um espírito

renovador, que refletia um aspecto cultural mais amplo e uma ânsia grande

71 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Rondônia. 6ª ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 1975. p. 1.

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54

quanto à definição de brasilidade, existente também nas artes, como

exemplificado na realização da Semana de Arte Moderna.

ATORES DO PROCESSO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Os cientistas que se destacaram por sua atuação na divulgação e educação

científica no país, na década de 20, tinham, em sua maioria, formação de médicos

e engenheiros; alguns eram autodidatas, no que se refere a seus campos de

pesquisa. Muitos deles eram de classe média alta, o que permitiu até mesmo que

criassem a Rádio Sociedade, por meio de cotizações entre eles e ajudados pela

circunstância de estarem inseridos em meios influentes. Pode-se dizer que esse

grupo de elite constituiu um embrião da comunidade científica brasileira, que, em

um movimento organizado, tentava criar condições para o desenvolvimento de

pesquisa científica no país.

Embora tenham sido várias as pessoas atuantes nesse processo, muitas

das quais terão seus nomes citados no decorrer desta dissertação, concentramos

nossos esforços em conhecer as atividades realizadas por quatro cientistas:

Manoel Amoroso Costa, Miguel Ozorio de Almeida, Henrique Morize e Edgard

Roquette-Pinto. Nossos critérios de seleção foram a inegável contribuição para a

divulgação científica da época, além da diversificação das áreas de conhecimento

em que trabalhavam (respectivamente, matemática, ciências biológicas,

astronomia e física, e antropologia).

A seguir, apresentamos uma descrição das atividades desses quatro

personagens e, no Anexo 2, forneceremos uma listagem dos trabalhos ligados à

divulgação científica que publicaram.

Manoel Amoroso Costa (1885-1928)72

72 Para elaboração da biografia de Amoroso Costa, foram usadas as seguintes

fontes:

Page 55: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

55

Consideramos Amoroso Costa um dos mais – senão o mais – expressivo

do grupo de cientistas da década de 20 e um dos que mais se destacou na

divulgação científica.

Nascido no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1885, Amoroso Costa teve

educação aprimorada, tendo estudado no Instituto Henrique Köpke, dirigido por

João Köpke. Era um colégio de elite do RJ no final do século passado, que

estimulava o civismo e tinha um laboratório para experimentação em ciências.

Segundo Mendes Pimentel, "a unidade mental que se pronunciava numa

diversidade de temperamento – nas figuras de Amoroso Costa e Tobias

Moscoso – provém dos ensinamentos de João Köpke de quem foram dedicados

discípulos".73

Amoroso Costa ingressou na Escola Politécnica, em 1900, formando-se em

engenharia civil cinco anos mais tarde. Em 1906, colou grau como bacharel em

ciências físicas e matemáticas. Tornou-se em 1924 catedrático na Escola

Politécnica em Trigonometria Esférica, Astronomia Teórica e Prática de

Geodesia.

Participou da fundação da Sociedade Brasileira de Ciências, ocupando,

nas duas primeiras diretorias da entidade (1917/1920 e 1920/1923), o cargo de

1) MOREIRA, Ildeu de Castro. Amoroso Costa e a introdução da relatividade no

Brasil. In: AMOROSO COSTA, Manoel. Introdução à teoria da relatividade.

Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, p. xv-xliii, 1995.

2) Acervo de Amoroso Costa/Mast.

3) ROQUETTE-PINTO, Edgard. Ensaios Brasilianos. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, s/d.

4) AMOROSO COSTA, Manoel. As idéias fundamentais da matemática e

outros ensaios. 3ª ed., São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981.

73 O Jornal, ano X, n. 3076, 5/dez./1928. p. 1.

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56

segundo secretário. A partir de 1923, dirigiu ali a Seção de Ciências

Matemáticas.

A inserção de Amoroso Costa no movimento de renovação da educação

das duas primeiras décadas do século fez com que, em 1928, assumisse a

presidência da Associação Brasileira de Educação (ABE). Em anos anteriores,

Amoroso Costa presidiu a Seção de Ensino Técnico e Superior da ABE, na qual

promoveu muitas palestras de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, como as

de Langevin e Hadamard.

Segundo Caffarelli, foi o primeiro divulgador e expositor da teoria da

relatividade de Einstein (especial e geral).74 Seu primeiro artigo sobre o tema foi

uma notícia curta, publicada em O Jornal, no dia 12 de novembro de 1919; trata-

se possivelmente da primeira exposição sobre a relatividade, feita no Brasil, para

o grande público. Nela, comentou os resultados das observações do eclipse, em

Sobral (Ceará), que foram divulgados dias antes, em Londres, e que estavam de

acordo com as previsões de Einstein. Em 1922, publicou Introdução à teoria da

relatividade75, livro proveniente de conferências realizadas na Escola Politécnica.

Segundo Moreira, trata-se de um texto de "excelente qualidade científica, claro e

conciso e que tem, além disso, uma característica ousada: a de pretender

apresentar ao leitor brasileiro os elementos básicos de uma das mais

importantes teorias físicas que, na época, constituíam um corpo de

conhecimentos absolutamente novo."76

74 CAFARRELLI, Roberto Vergara. Einstein no Brasil. In: MOREIRA, Ildeu de

Castro, VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (eds.). Einstein e o Brasil, Rio de

Janeiro: Editora UFRJ, 1995. p. 102.

75 AMOROSO COSTA, Manoel. Introdução à teoria da relatividade. Rio de

Janeiro: Livraria Científica Brasileira, 1922.

76 MOREIRA, Ildeu de Castro. Amoroso Costa e a introdução da relatividade no

Brasil. In: AMOROSO COSTA, Manoel. Introdução à teoria da relatividade.

Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1995. p. xv.

Page 57: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

57

Suas conferências, voltadas para apresentar novas idéias a um público

ilustrado de várias áreas científicas, ficaram famosas no Rio de Janeiro. As

principais foram: "Conferência sobre Otto de Alencar", 1918, na qual criticava as

idéias positivistas; "A filosofia matemática de Poincaré", 1920; "A teoria da

relatividade", série de quatro palestras, 1922; "As idéias fundamentais da

matemática", 10 palestras, 1926; "As geometrias não euclidianas", 1927; "A

estrutura e a evolução do mundo sideral", 1927.

A série de palestras sobre as idéias fundamentais da matemática resultou

em um livro com o mesmo título77, publicado postumamente e reeditado pela

terceira vez em 1981 pela EDUSP. Amoroso Costa escreveu também artigos de

divulgação em jornais, sobre outros temas, como as novas idéias na filosofia da

ciência e na microfísica (ver Anexo 2).

No dia 3 de dezembro de 1928, Amoroso Costa morreu prematuramente no

famoso e trágico acidente do hidroavião Santos Dumont, que caiu nas águas da

Baía de Guanabara. O hidroavião havia decolado para recepcionar o inventor

Santos Dumont, que chegava ao Rio de Janeiro naquele dia.

Moreira avalia:

"Amoroso Costa estava, então, no auge de suas atividades

acadêmicas. Desenvolvia pesquisas originais em matemática e

física, empenhava-se fortemente na melhoria do ensino no Brasil,

organizava e participava de eventos diversos de divulgação

científica."78

77 AMOROSO COSTA, Manoel. As idéias fundamentais da matemática. Rio

de Janeiro: Pimenta de Melo, 1929.

78 MOREIRA, Ildeu de Castro. Amoroso Costa e a introdução da relatividade no

Brasil. In: AMOROSO COSTA, Manoel. Introdução à teoria da relatividade.

Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1995. p. xx.

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58

Henrique Morize (1870-1930)79

Henri Charles Morize nasceu em 31 de dezembro de 1860 em Beaune

(França) e veio, aos 14 anos, para o Brasil, onde permaneceu até sua morte.

Ingressou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1880. Cinco anos mais

tarde, foi nomeado terceiro astronômo do Imperial Observatório do Rio de

Janeiro, tendo passado a astrônomo em 1891. Em 1890, formou-se como

engenheiro industrial.

Em 1896, foi nomeado professor interino da Escola Politécnica e, dois anos

mais tarde, foi aprovado no concurso para professor de física experimental

daquela instituição. Assumiu a direção do Observatório em 1908.

Em 1919, chefiou a missão brasileira para a observação do eclipse solar

total em Sobral. Participou da fundação da Sociedade Brasileira de Ciências,

sendo eleito seu primeiro presidente, cargo em que permaneceu até 1926. Foi

79 Para elaboração da biografia de Morize foram usadas como fontes, além das

explicitadas ao longo do texto:

1) Acervo de Morize/Mast.

2) ROQUETTE-PINTO, Edgard. Ensaios Brasilianos. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, s/d. p. 66-75.

3) À memória de Henrique Morize, presidente e fundador da Academia, Annaes

da Academia Brasileira de Sciencias, Rio de Janeiro: Academia Brasileira de

Ciência, tomo II, n. 2, p. 58-73, 30/jun./1930.

4) VIDEIRA, Antonio Augusto Passos. Henrique Morize e o Observatório

Nacional. Rio de Janeiro: Observatório Nacional, 1997.

5) MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Henrique Morize, sua vida e obra.

In: MORIZE, Henrique. Observatório Astronômico - um século de história

(1827-1927). Rio de Janeiro: Mast/Salamandra, 1987. p. 15-23.

Page 59: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

59

ativo participante da criação da Rádio Sociedade, tornando-se, também, seu

primeiro presidente.

Em 1925, aposentou-se da Escola Politécnica. Quatro anos mais tarde, por

motivos de saúde, renunciou à direção do Observatório, deixando logo em

seguida a Rádio Sociedade. Em 19 de março de 1930, Morize morreu na cidade

do Rio de Janeiro.

Mais velho entre os quatro personagens destacados nesta dissertação,

Morize já realizava atividades de divulgação científica desde o final do século

passado. Ele fez parte da equipe que criou, em 1886, a já citada Revista do

Observatório. Ao longo das duas primeiras décadas deste século, escreveu

diversos artigos de divulgação científica sobre temas da astronomia, em

particular cometas, e das geociências (ver Anexo 2).

Morize teve papel de destaque na pesquisa em várias áreas vizinhas à

física e à astronomia, tendo iniciado os estudos de sismologia no Brasil. Em

1905, instalou, no Observatório do Castelo, instrumentos que lhe permitiram

registrar sismos. Estudou as questões de geodésia, interessando-se pelos

desvios da vertical, e investigou o campo elétrico da atmosfera do Rio de

Janeiro. Deu também importantes contribuições à meteorologia, em particular na

organização de rede nacional de estações meteorológicas.

Em 1898, apresentou, para ingresso como professor na Escola Politécnica

do Rio de Janeiro, a tese "Raios catódicos e de Roentgen – Estudo teórico e

experimental da descarga nos gases rarefeitos", significativa por discutir temas

relevantes e atuais na época e, acima de tudo, por ter realizado vários

experimentos, construído alguns dos aparelhos que utilizou e proposto a

realização de outros.80

80 MOREIRA, Ildeu de Castro, VIDEIRA, Antonio Augusto Passos. Henrique

Morize e a física experimental no Brasil. In: V CONGRESSO LATINO-

AMERICANO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, 1998, Rio de

Janeiro.

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60

Assim que tiveram notícias pela imprensa do descobrimento de Roentgen

em novembro de 1895, o professor Francisco Carneiro da Cunha e seu auxiliar

Manoel de Queiroz Ferreira conseguiram obter as primeiras radiografias no

Brasil, no Laboratório de Física da Escola Politécnica. Logo depois, Morize

produziu as primeiras radiografias realmente nítidas81. Essas experiências

realizadas num laboratório do Observatório foram muito concorridas. Criou

também processo simples e rápido para localização de projéteis dentro do

corpo, que foi publicado nos Comptes Rendus da Academia de Ciências de

Paris.82

Morize desempenhou papel relevante na difusão do ensino experimental

de física nas escolas superiores do Rio de Janeiro, nos primeiros 25 anos do

século, estimulando jovens estudantes como os irmãos Ozorio e Roquette-Pinto.

Este afirmou que ele e vários colegas, que cursavam a Faculdade de Medicina,

foram atraídos para as aulas de Física Experimental da Politécnica, na qual

Morize oferecia um curso em que “além da parte histórica, realizava

demonstrações experimentais e explicava novidades interessantes de que os

compêndios ainda não falavam.”83

Na avaliação de J. Costa Ribeiro, a importância de Morize nas pesquisas

físicas deve ser avaliada sobretudo "pela grande influência que exerceu sobre

81 O Museu de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro ainda

conserva diversas radiografias dessa época.

82 MORIZE, Henrique. Sur un nouveau procédé de determination de la position

de corps étrangers par la radiographie. Comptes Rendus de l'Académie de

Sciences de Paris. vol. CXXVI, 31/jan./1898. Apud VIDEIRA, Antonio Augusto

Passos. Henrique Morize e o Observatório Nacional. Rio de Janeiro:

Observatório Nacional, 1997.

83 À memória de Henrique Morize, presidente e fundador da Academia, Annaes

da Academia Brasileira de Sciencias, Rio de Janeiro: Academia Brasileira de

Ciência, tomo II, n. 2, 30/jun./1930. p. 67.

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61

estudiosos brasileiros de sua época, despertando-lhes a curiosidade e o

interesse pelos trabalhos experimentais, que, até então, haviam sido relegados a

um plano secundário, e esclarecendo os poderes públicos sobre a necessidade

da criação de laboratórios para o ensino e a pesquisa, e da reorganização, em

bases científicas, de vários serviços oficiais”.84

Edgard Roquette-Pinto (1884-1954)85

Nascido no Rio de Janeiro em 26 de setembro de 1884, Roquette-Pinto

cursou a Faculdade de Medicina, formando-se em 1906, ano em que entrou, por

concurso, na Seção de Antropologia, Etnografia e Arqueologia do Museu

Nacional como professor. Naquele ano, ele publicou seu primeiro trabalho

etnográfico sobre O exercício da medicina entre os indígenas da América.

Incorporou-se à expedição Rondon, ao Mato Grosso, retornando em 1907; os

resultados de suas investigações sobre os índios Pareci e Nambiquara foram

84 RIBEIRO, Joaquim Costa. A física no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando (ed.).

As Ciências no Brasil. vol. 1, Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1995. p. 197.

85 Fontes usadas na elaboração da biografia de Roquette-Pinto, além das

citadas no texto:

1) LINS, Álvaro. Discurso de posse na Academia Brasileira (Estudo sobre

Roquette-Pinto). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação - MEC, 1956.

2) GOUVÊA FILHO, Pedro. E. Roquette-Pinto - o antropólogo e educador.

Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1955.

3) MATHEUS, Roberto Ruiz de Rosa. Edgard Roquette-Pinto - Aspectos

marcantes de sua vida e obra. Brasília: Ministério da Educação e Cultura,

1984.

Page 62: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

62

reunidos em Rondônia86. Segundo Fernando de Azevedo, a obra, publicada em

1916, "teve larga repercussão, por seu duplo interesse, geográfico e etnológico,

e foi então acolhida como um modelo de monografia antropológica sobre as

tribos indígenas da Serra do Norte"87. Para ele, é "um trabalho que, além de ser

baseado em pesquisas originais, concilia e integra, numa larga investigação de

campo, problemas de dois ramos em que se dividem os estudos antropológicos:

os do índio fisicamente considerado e os de sua cultura".

Alvaro Lins avalia:

"(...) é pela Rondônia, e na época de Rondônia, que Roquette-Pinto

inicia a sua grande campanha – campanha científica, política,

moral, tribunícia, jornalística – pelo que ele próprio chamava a

reabilitação do homem brasileiro. E não só do índio, mas do

mestiço. (...)"88

Sempre preocupado com a educação, Roquette deu aulas de História

Natural no Colégio Aquino, no qual ele próprio estudara, e na Escola Normal. No

que diz respeito ao ensino das ciências, ele escreveu "A história natural dos

pequeninos"89, texto bastante atual ainda hoje, que apresenta aspectos

fundamentais que deveriam ser levados em conta na sala de aula.

86 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Rondônia. Arquivos do Museu Nacional. Rio

de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916.

87 AZEVEDO, Fernando (ed.). As Ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da

UFRJ, vol. 2., 1995. p. 423-424.

88 LINS, Álvaro. Discurso de posse na Academia Brasileira (Estudo sobre

Roquette-Pinto). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação - MEC, 1956. p. 91.

89 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Seixos rolados. Rio de Janeiro: Edição de

Sussekind & Mendonça, Machado & Cia, 1927. p. 31-43.

Page 63: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

63

Companheiro de pesquisas dos irmãos Ozorio de Almeida desde os

tempos de estudante, o antropólogo se familiarizou com a fisiologia, sendo, em

1920, convidado como professor visitante para inaugurar a cadeira de Fisiologia

Experimental na Faculdade de Medicina da Universidade de Assunção. Sua aula

inaugural foi publicada dois anos mais tarde pela Livraria Científica Brasileira,

sob o título Conceito atual da vida.

Roquette-Pinto participou ativamente da Rádio Sociedade, em 1923, tendo

tido a idéia de criá-la, conforme relata Bodstein90. Ele próprio era o apresentador

do "Jornal da Manhã". Em 1926, assumiu a direção do Museu Nacional. No ano

seguinte, faria livre docência na Escola de Medicina para cadeira de História

Natural sobre a Tocandira, a formiga da Amazônia. Foi membro da Academia

Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras.

Em 1934, criou a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, hoje a Rádio

Roquette-Pinto. Em 1936, fundou e dirigiu o Instituto Nacional de Cinema

Educativo. Aposentou-se em 1947, tendo falecido em 18 de outubro de 1954.

Roquette-Pinto foi um dos maiores defensores da radiodifusão educativa

no Brasil, deixando vários artigos sobre o assunto (para mais detalhes, leia "O

rádio", nesta dissertação). Seus artigos de divulgação, que têm como fio

condutor a questão educativa e a valorização do homem brasileiro, estão

espalhados por várias das publicações da época, como as revistas Electron e

Radio (sobre as quais falaremos mais adiante). Muitos deles foram reunidos nos

livros Seixos rolados91 e Ensaios Brasilianos92. Além da radiodifusão, abordou

assuntos variados, como cientistas brasileiros e estrangeiros (Amoroso Costa,

90 BODSTEIN, Regina. O rádio no Brasil - Roquette-Pinto, o pioneiro do rádio.

Comunicação. Rio de Janeiro: Bloch, n. 33, p. 7-11, 1984.

91 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Seixos rolados. Rio de Janeiro: Edição de

Sussekind & Mendonça, Machado & Cia, 1927.

92 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Ensaios Brasilianos. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, s/d.

Page 64: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

64

Morize, Fritz Müller, Orville Derby, Frei Leandro e muitos outros), pesquisa

básica, ciência e arte, Academia Brasileira de Ciências, literatura, populações

indígenas, as tendências da medicina moderna etc. (ver Anexo 2)

Tendo participado ativamente em diversas atividades que envolviam o uso

de novas tecnologias – rádio e cinema –, viu ainda, antes de morrer, a televisão

ser difundida. Segundo Lins93 e Gouvêa94, o primeiro televisor aparecido no

Brasil foi fabricado por suas próprias mãos.

Nas proximidades da morte, Roquette-Pinto teria declarado:

"Eu não me desinteressei da minha ciência predileta, a

antropologia, porque estou inteiramente tranqüilo em relação ao

meu nome, nos seus anais. Dentro de um século, não se escreverá

sobre raças, especialmente sobre índios, assim como sobre

educação e sobre rádios no Brasil, sem subir as escadas do Museu

Nacional ou das Bibliotecas para consultar o que deixei... Tudo que

um homem de pensamento aspira, e que é a sobrevivência na

memória dos homens de amanhã, eu tenho como certo. Agora, o

meu desejo é divulgar os conhecimentos das maravilhas da ciência

moderna nas camadas populares. Essa a razão dos estudos que

estou agora realizando. Eu quero tirar a ciência do domínio

exclusivista dos sábios para entregá-la ao povo."95

93 LINS, Álvaro. Discurso de posse na Academia Brasileira (Estudo sobre

Roquette-Pinto). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação - MEC, 1956.

94 GOUVÊA FILHO, Pedro. E. Roquette-Pinto - o antropólogo e educador. Rio

de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1955.

95 Apud LINS, Álvaro. Discurso de posse na Academia Brasileira (Estudo

sobre Roquette-Pinto). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação - MEC, 1956.

p. 117-118.

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65

Vale ainda destacar trechos de Credo, escrito em julho de 1935 a pedido

dos jovens do Clube da Cultura Moderna, que nos permite ter uma visão mais

clara sobre suas concepções ideológicas. Ao contrário de vários de seus

companheiros, como Amoroso Costa, Roquette-Pinto deixou clara sua filiação

intelectual em relação a Comte.

"(...) Creio que a ciência, a arte e a indústria hão de transformar a

terra no Paraíso que os nossos avós colocavam... no outro Mundo;

(...)

Creio nas leis da Sociologia positiva e por isso creio no advento do

Proletariado, conforme foi definido por Augusto Comte, que nele via

uma sementeira dos melhores tipos, 'realmente dignos da elevação

política';

Creio, por isso, que a nobre missão dos intelectuais – mormente

professores – é o ensino e a cultura dos Proletários, preparando-os

para quando chegar a sua hora;

(...)

Creio cegamente no postulado de Fritz Müller: o pensamento deve

ser livre como a respiração"96

Miguel Ozorio de Almeida (1890-1953)97

96 Apud LINS, Álvaro. Discurso de posse na Academia Brasileira (Estudo

sobre Roquette-Pinto). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação - MEC, 1956.

p. 131.

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66

Nascido no Rio de Janeiro em 1 de agosto de 1890, Miguel é muitas vezes

citado, pelos historiadores da ciência, juntamente com seu irmão Alvaro: os

irmãos Ozorio de Almeida. Embora reconheçamos a grande importância que

teve Alvaro na ciência brasileira, e a história dos dois irmãos esteja

intrinsicamente ligada, escolhemos apenas Miguel como personagem em

destaque nesta dissertação, em virtude de suas contribuições específicas à

divulgação científica.

Assim como Amoroso Costa, Miguel estudou no Instituto Henrique Köpke.

Posteriormente, cursou a Faculdade de Medicina e teve toda sua formação no

Brasil, indo à Europa quando professor.

Já Alvaro, o irmão mais velho, completou seus estudos em Paris. De volta

ao Brasil, tentou sensibilizar Oswaldo Cruz a montar uma seção de fisiologia no

Instituto de Manguinhos, sem sucesso. Iniciando suas pesquisas na Faculdade

de Medicina, encontrou uma série de obstáculos, até ouvir a sentença final do

diretor: "A Faculdade de Medicina não é feita para pesquisas; isso deve ser feito

noutro lugar"98. Não havia outro lugar. Assim, Alvaro montou um modesto

laboratório de fisiologia no porão da casa dos pais, na rua Almirante Tamandaré,

no bairro do Flamengo. Alvaro ressentia-se do isolamento de seu trabalho e

recebeu o irmão de braços abertos:

97 Para elaboração da biografia de Miguel Ozorio de Almeida, foram usadas as

seguintes fontes, além das citadas ao longo do texto:

1) MARTINS, Tales. A biologia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando (ed.). As

Ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, vol. 2, 1995. p. 233-300.

2) ROQUETTE-PINTO, Edgard. Ensaios Brasilianos. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, s/d. p. 225-239.

98 OZORIO DE ALMEIDA, Álvaro. Valor da ciência - dificuldades e lutas de

minha carreira científica. São Paulo: Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência, 1950. p. 11.

Page 67: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

67

"(...) o grande acontecimento dessa época, o melhor de todos, foi o

interesse de meu irmão Miguel pela Fisiologia e pelo laboratório

onde começou a trabalhar; tinha eu um companheiro, dobrara o

número de pesquisadores do laboratório, com a vantagem de não

haverem dobrado as despesas e os ordenados"99

Juntos, discordaram de uma idéia lançada, com grande repercussão, por

Yandell Henderson. Este defendia que a hiperpnéia causava choque traumático

em cães, levando-os à morte; os irmãos Ozorio mostraram que tudo não se

passava de uma queda da temperatura central dos animais até um grau que

provocava a morte por frio.

Em 1915, os pais dos Ozorio se mudaram e, com eles, o laboratório, que

agora ficou mais bem instalado, com duas boas salas, câmara escura,

canalização de gás, água sob pressão comum e sob alta pressão, eletricidade e

um biotério. Logo, viriam trabalhar ali colegas da Faculdade de Medicina, como

Afrânio Peixoto, Agenor Porto, Pedro Pinto, Dionízio Ausier Bentes; estrangeiros

entre os quais Gley, Lapicque e Madame Lapicque, Henry Piéron e H. Laugier.

Cientistas de outras áreas, em sua estada no Rio de Janeiro, também passaram

por ali: Hadamard, Langevin, Madame Curie, Irène Curie, Einstein e outros.

Branca Fialho, irmã de Alvaro e Miguel, também colaborava em seus trabalhos.

Com a morte de Oswaldo Cruz, Carlos Chagas assumiu a diretoria de

Manguinhos e, em 1919, aceitou a idéia de Alvaro, criando ali a Seção de

Fisiologia. Alvaro recusou o convite de chefiar a unidade, indicando seu irmão

para o posto. Assim, pouco depois, Miguel deixava o pequeno laboratório,

levando consigo alguns dos poucos aparelhos. O laboratório, no entanto,

continuou a crescer até que foi fechado em 1932.

99 OZORIO DE ALMEIDA, Álvaro. Valor da ciência - dificuldades e lutas de

minha carreira científica. São Paulo: Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência, 1950. p. 12.

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68

Miguel foi, de 1917 a 1937, professor catedrático de fisiologia da Escola de

Agricultura e Medicina Veterinária. O período mais longo da produção científica

passou em Manguinhos, de 1919 a 1921 e de 1927 até sua morte. Era membro

da Academia Brasileira de Ciências, da qual foi presidente em 1929-1930, da

Academia Brasileira de Letras e representante nacional em inúmeros

congressos e organizações internacionais.

Publicou vários textos de divulgação científica, muitos dos quais podemos

ler em Homens e coisas de ciência100 e A vulgarização do saber101. Este é talvez

o primeiro livro brasileiro a discutir, de forma sistemática, a questão da

divulgação científica (no Anexo 1, transcrevemos, na íntegra, o capítulo de

mesmo nome, incluído no referido livro). Escreveu ainda em 1933 Almas sem

abrigo102, romance sobre a vida de um matemático no Brasil.

Morreu em 2 de dezembro de 1953, cerca de um ano e meio depois de seu

irmão Alvaro.

100 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Homens e coisas de ciência. São Paulo:

Editora Monteiro Lobato, 1925.

101 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. A vulgarização do saber. Rio de Janeiro:

Ariel Editora Ltda., 1931.

102 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Almas sem abrigo. Rio de Janeiro: Ariel

Editora Ltda., 1933.

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69

UM MOVIMENTO ORGANIZADO

Academia Brasileira de Ciências

Formava-se, nos anos 20, o embrião da comunidade científica brasileira

que, em um movimento organizado, tentava criar condições para a

institucionalização da pesquisa no país. "Os homens de ciência adquiriram uma

fisionomia à parte"103, avaliava Miguel Ozorio de Almeida naquele momento.

Na década anterior, em 1916, criou-se, no salão nobre da Escola

Politécnica, a Sociedade Brasileira de Ciências que, em 1922, iria se tornar a

Academia Brasileira de Ciências, destinada ao estudo e à propaganda das

ciências no Brasil.104 A diretoria ficou assim formada: Morize (presidente), J.C.

da Costa Senna, Juliano Moreira (vice-presidentes105), Alberto Löfgren

(secretário-geral), Roquette-Pinto (primeiro secretário), Amoroso Costa (segundo

secretário) e Alberto Betim Paes Leme (tesoureiro).

Roquette-Pinto deixou registrado suas impressões sobre a criação da SBC:

"Morize era o mais velho dos cientistas presentes. Parecia o mais

moço, tão grande era seu desejo de ver os estudiosos, nos

diversos campos, entrar em contato mais direto, rompendo o que

103 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Homens e coisas de ciência. São Paulo:

Editora Monteiro Lobato, 1925. p. 122.

104 Resumo da acta da fundação da Sociedade Brasileira de Sciencias a 3 de

maio de 1917. Revista da Sociedade Brasileira de Sciencias, ano I, n. 1,

1917.

105 Oswaldo Cruz seria um dos vice-presidentes, caso não tivesse falecido

naquele ano.

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70

ele chamava 'os compartimentos estanques' que no Brasil

dificultam o progresso da ciência."106

Para Miguel Ozorio de Almeida, o órgão tinha como função centralizar os

esforços dos sábios brasileiros, sem "substituir as agremiações ou sociedades

especializadas, que estudam um domínio mais particular do ilimitado campo da

ciência. Ao contrário, ela auxiliará todas e permanecerá como um instrumento de

síntese e coesão, tentando unificar todas as atividades em um conjunto

harmonioso e homogêneo."107

Ele explicou como funcionava a SBC (e a ABC):

"Periodicamente seus membros se reúnem e serenamente

comunicam uns aos outros o que têm lido e meditado. Trocam-se

impressões, surgem idéias novas, problemas ou aspectos de

problemas não anteriormente são trazidos à baila, e cada um de

nós volta aos seus trabalhos enriquecidos em alguma coisa, com a

inteligência dilatada em alguma direção, ou trazendo algum novo

ponto de vista para continuar as suas pesquisa."108

Na avaliação de Morize, o fim principal da nova organização era "espalhar

a importância da ciência como fator de prosperidade nacional".109 No mesmo

discurso, ele explicou que "era indispensável que se fundasse um grêmio, onde

106 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Ensaios Brasilianos. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, s/d. p. 71.

107 Sciencia e Educação, ano I, n. 5, jun./1929. p. 18.

108 Sciencia e Educação, ano I, n. 5, jun./1929. p. 17.

109 Revista da Sociedade Brasileira de Sciencias, ano I, vol. I, n. 1, 1917. p. 9.

Page 71: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

71

aqueles que estudam as questões de ciência pura110 pudessem encontrar

fraternal agasalho e no qual se promovesse a formação de um ambiente

intelectual capaz de transformar a indiferença, ou mesmo em alguns casos a

hostilidade, com que a maioria habitualmente acolhe a publicação de tudo

quanto não tem o cunho de utilidade material, embora devam saber todos que

receberam a educação liberal corrente que muitas artes e indústrias têm como

base pesquisas científicas e princípios abstratos".111 Ele enfatizou ainda que

"seria pernicioso erro julgar que a ciência pudesse ser privada das suas raízes,

que são seus fundamentos teóricos, e continuar, mesmo assim, a produzir

frutos".112

Ainda a favor da pesquisa básica, "a qual é infelizmente considerada pelos

governos e pela grande massa do público como simples ornato de luxo que

somente os povos ricos podem manter"113, Morize afirmou:

"(...) não trepido em afirmar que todos os estudos, mesmo os mais

abstratos, são de transcendente utilidade que infelizmente escapa

àqueles que não possuem cultura suficiente. Pode-se sem receio

asseverar que quase todos os progressos positivos, materiais até,

suscetíveis de serem avaliados em moeda, derivam de trabalhos

puramente teóricos, empreendidos por pesquisadores

desinteressados, que se consideravam suficientemente

110 Ciência pura, termo usado na época para denominar pesquisa básica.

111 Revista da Sociedade Brasileira de Sciencias, ano I, vol. I, n. 1, 1917. p. 4-5.

112 Ibid. p. 7.

113 Alocução pronunciada no "Círculo de professores", sem data identificada

(Arquivo Morize/Mast).

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72

recompensados de seus esforços pelo descobrimento de alguma

verdade nova."114

Um ano após a SBC tornar-se Academia, Amoroso Costa faria em O

Jornal, em 27 de maio de 1923, balanço das atividades:

"(...) A Academia, da qual talvez o leitor nunca tenha ouvido falar,

foi fundada há sete anos por alguns amigos da ciência, que uma

vez por mês se reúnem, trocam idéias, expõem os seus próprios

estudos e pesquisas. Nesse curto período de tempo, mais de

duzentas notas e memórias têm sido apresentadas nessas

reuniões, e em não poucas se encontram resultados novos e

interessantes. Lutando contra toda sorte de dificuldades materiais,

e também contra a indiferença geral, a Academia publica esses

trabalhos em uma revista, que evidentemente não é leitura amena,

mas que tem recebido elogios das sociedades estrangeiras as

quais é remetida. Seria injusto negar o mérito desse esforço

paciente e obscuro, que pouca gente conhece."115

Defensor da ciência pura, Amoroso Costa afirmava que o valor supremo da

ciência não é seu valor de utilidade prática, nem mesmo o seu valor de verdade,

é o seu valor de beleza116. O matemático dizia:

114 Discurso proferido por ocasião do início da construção dos novos edifícios do

Observatório Nacional, em 28 de setembro de 1913 (Arquivo Morize/Mast).

115 AMOROSO COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e

outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 150.

116 Apud OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Homens e coisas de ciência. São

Paulo: Editora Monteiro Lobato, 1925. p. 128.

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73

"Eu não aceito – e nunca aceitei – a concepção utilitária da ciência.

Nunca me conformei com o modo de ver dos que a consideravam

uma serva da técnica, destinada a fornecer-lhes receitas e regras

de ação; muito pelo contrário, penso que essas receitas e regras

são subprodutos da ciência. Lamento que em nossa universidade,

que de universidade pouco mais tem do que o nome, não exista um

instituto de estudos científicos propriamente ditos, em torno do qual

se formasse e desenvolvesse a cultura que nos falta, isto é, o gosto

pela especulação desinteressada, amor da pesquisa original, e não

apenas a que possuímos, superficial assimilação do que criam os

povos mais adiantados."117

Mas, em 1923, Amoroso Costa considerava que o "terreno é ainda

impróprio ao cultivo dessa suprema flor de espírito, que é a ciência pura,

contemplativa e desinteressada".118 Para ele, a ciência oficial brasileira ainda

teria por muitos anos apenas caráter utilitário.

Miguel Ozorio de Almeida dissertou sobre as divergências entre os

defensores da ciência aplicada e os da ciência pura, que considera como "a

ciência feita pelo prazer de encontrar coisas novas".119 Ele disse:

117 Trecho de discurso proferido ao assumir a cadeira de Astronomia Teórica e

Prática de Geodésia na Escola Politécnica, em 1924. Revista Didática da Escola

Politécnica, vol. 36, p. 9-14, 1930. p. 10.

118 Publicado em O Jornal, em 27/maio/1923 e transcrito em AMOROSO

COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e outros ensaios.

3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 151.

119 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Homens e coisas de ciência. São Paulo:

Editora Monteiro Lobato, 1925. p. 128.

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74

"As divergências começam quando se encontram homens práticos,

que ostensivamente desprezam as preocupações desinteressadas

da ciência pura, declarando-as inúteis e vãs e proclamando

sonhadores inofensivos os que a elas se dedicam; e homens de

ciência artistas, que desprezam por completo as aplicações

práticas, considerando-as nocivas e perniciosas. Os primeiros não

compreenderam a ciência, os segundos nada compreendem da

vida. Aqueles revelam um incomensurável egoísmo, estes mostram

uma absoluta incapacidade de adaptação"120

Embora mantivesse essa postura conciliadora entre os defensores da

ciência aplicada e os da ciência pura, Miguel tinha claro, em 1929, que o fim

principal da ABC era o desenvolvimento da ciência pura no Brasil:

"[A ABC] quis deixar bem patente o seu respeito pela ciência

desinteressada e tratou de criar uma espécie de culto pelo espírito

científico no que ele tem de mais elevado e de mais nobre.

Não que em suas reuniões tivesse algum dia sido manifestado

menoscabo ou desprezo pelas aquisições da ciência que se

destinam a aplicações práticas. Elas são tão respeitáveis e tão

belas como as outras, pois representam também um progresso dos

conhecimentos humanos e concorrem para a melhoria das

condições da vida humana. Mas a Academia procurou sempre

sustentar ciosamente o seu ponto de vista: o conhecimento vale

por si, independentemente de sua utilização, e esse valor é

bastante grande para que não se meçam os esforços no afã de

adquiri-lo. Ela procurou mostrar a beleza e a dignidade da pesquisa

científica e, como a descoberta de uma lei natural ou a

120 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Homens e coisas de ciência. São Paulo:

Editora Monteiro Lobato, 1925. p. 129.

Page 75: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

75

evidenciação de um fenômeno novo é por si só um objetivo, tem

uma finalidade própria. A Academia tratou, pois, de criar, ao lado

de uma necessidade de momento, imposta por um problema

prático a estudar e exigindo solução mais ou menos urgente, lugar

para essas necessidades do espírito humano, mais abstratas, mas

não menos imperiosas, que levam a indagar do porquê e do como

das coisas, dos fenômenos e dos seres.

Essas necessidades, porém, nem sempre encontram um ambiente

propício para sua grande expansão. Aqueles que as possuem em

alto grau se sentem por vezes um tanto deslocados e são

considerados como um espírito à parte, não identificados com o

meio e a época. Na torrente vertiginosa da vida contemporânea

eles se colocam um tanto à margem, e poucos compreendem

porque assim procedem não se deixando arrastar. É que poucos

percebem ser essa torrente em grande parte formada e alimentada

justamente por esses, que fora dela, podem estudá-la e em parte

dominá-la, desviando às vezes inesperadamente o seu curso.

A Academia tem tido assim que sustentar uma luta tenaz

decorrente da falta de apoio, da falta de atenção em que tem

vivido."121

A crítica ao positivismo, pelo menos na versão hegemônica no Brasil, que

exercia ainda grande influência nas escolas profissionais, foi também um

denominador comum entre vários desses cientistas. Na avaliação de Ferreira, "as

críticas formuladas contra o positivismo comteano por alguns dos fundadores da

Academia Brasileira de Ciências devem ser entendidas como uma estratégia de

121 Sciencia e Educação, ano I, n. 5, jun./1929. p. 17.

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construção da identidade de um novo tipo de intelectual: o cientista 'puro'".122 Ele

acredita que a afirmação da identidade social desse novo tipo de intelectual seria

obtida pela negação dos valores e hábitos tradicionais reinantes nos meios

científicos e intelectuais.

Para Ferreira, o artigo de Otto de Alencar "Alguns erros de matemática na

síntese objetiva de A. Comte", publicado na Revista da Escola Polytechnica, em

1898, é um documento decisivo para a comprensão das relações entre o

positivismo e a ciência no Brasil no final do século XIX:

"Mais do que uma 'denúncia' das limitações teóricas da matemática

comteana, o artigo de Otto de Alencar – que era positivista e

freqüentava as reuniões da Sociedade Positivista do Rio de Janeiro

– indica a emergência de uma nova concepção de ciência envolta

nos dilemas da afirmação do cientista no contexto intelectual

brasileiro.

Não foi uma tarefa simples demonstrar os 'erros de matemática' de

Comte, visto que isso significava ir contra uma concepção de

ciência plenamente aceita nos meios científicos."123

Comandados por Licínio Cardoso, os positivistas reagiram às críticas de

Alencar, dando início a uma longa polêmica que se prolongou até a década de 20.

Ferreira acredita que o afastamento de Alencar do positivismo comteano chamava

a atenção para um problema crucial posto aos cientistas brasileiros de então:

"Necessitavam demonstrar o valor intrínseco da ciência; que a

pesquisa científica não valia apenas como um meio para a 'reforma

social', mas, essencialmente, por sua capacidade ilimitada de

122 FERREIRA, Luiz Otávio. As Origens da Academia Brasileira de Ciências.

Ciência Hoje. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência,

vol. 16, n. 96, p. 32-36, dez./1993. p. 33.

123 Ibid. p. 33-34.

Page 77: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

77

teorização e de resolução de problemas não necessariamente

práticos.

A ciência pura seria, então, a ciência liberta dos 'compromissos

sociológicos' propostos por Comte."124

Para Paim, Alencar, ao romper com o positivismo, acompanhou a evolução

da ciência, criando as premissas para a aceitação da nova física e das

geometrias não-euclidianas. Após sua morte, em 1912, o processo tem

seguimento por meio de Amoroso Costa, Lélio Gama, Teodoro Ramos, Roberto

Marinho de Azevedo, Felipe dos Santos Reis e alguns outros.125

Em 1918, Amoroso Costa proferiu a "Conferência sobre Otto de Alencar",

na Escola Politécnica.126 Em sua exposição ele afirmou:

"Aceitar a Síntese Subjetiva é rejeitar toda a obra matemática do

século passado, a obra de Gauss e de Abel, de Cauchy e de

Riemann, de Poincaré e de Cantor. Ao passo que o primeiro tomo

da Filosofia Positiva é um quadro magistral da ciência matemática

em fins do século XVIII, a síntese, escrita quando Comte já estava

seduzido pela sua construção sociológica, é uma das tentativas

mais arbitrárias que jamais foram feitas, de submeter o

pensamento a fronteiras artificiais.

Para o filósofo (emprego as suas próprias expressões) a ciência

fundamental está radicalmente esgotada com a construção da

124 Ibid. p. 34.

125 PAIM, Antonio. O neopositivismo no Brasil. Período de formação da corrente.

In: AMOROSO COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e

outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 39-63.

126 A conferência foi publicada na Revista Didática da Escola Politécnica, n. 13,

p. 3-24, julho/1918.

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Mecânica celeste, termo da sua evolução normal; nada justifica a

invasão do domínio matemático pelas abstrações desprovidas de

racionalidade e de dignidade, que nele fêz prevalecer a anarquia

acadêmica; só resta agora elaborar uma sistematização final

subordinada ao conjunto dos conhecimentos humanos."127

Em 1922, novamente ele abriu fogo contra as idéias de Comte:

"(...) Quase nada resta hoje da fantasia política e pseudo-religiosa

de Comte, e, o que é mais grave, não está longe o dia em que se

possa dizer o mesmo da sua concepção da ciência, apesar da

influência profunda que exerceu sobre o pensamento de algumas

gerações. Inspirada, é justo reconhecê-lo, em um ideal humano

muito nobre, ela já nos parece por demais estreita e rígida.

Que a ciência não se submeteu às normas estabelecidas pela

filosofia positiva, sabem-no perfeitamente os positivistas puros, que

não perdem ocasião de protestar contra as 'aberrações estéreis' e

as 'vãs curiosidades' dos matemáticos e físicos contemporâneos.

Muita gente, porém, julga o contrário, e para esse engano tem

contribuído o uso corrente da expressão 'ciência positiva', que

nunca se deveria entretanto confundir com 'ciência positivista'.

Porque, e este é um ponto sobre o qual convém insistir, a ciência

moderna só seria compatível com um positivismo extremamente

alargado, um positivismo não-comteano.

Comte, é sabido, não se limitou a traçar as fronteiras da ciência

possível, mas foi muito além, circunscrevendo a uma pequena

parte desse domínio a atividade da ciência permitida, isto é, da

127 AMOROSO COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e

outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 71.

Page 79: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

79

ciência que lhe parecia verdadeiramente útil, como conhecimento

necessário e suficiente ao preparo da ação. Esta segunda restrição

não resiste à mais ligeira crítica: salta aos olhos o que ela tem de

artificial e de contrário aos impulsos característicos do nosso

espírito. Custa crer que um pensador da ordem de Comte

condenasse o emprego do microscópio, ou dissesse, da admirável

descoberta de Netuno pelo cálculo, que não tinha para nós a

menor importância, esse planeta podendo interessar quando muito

aos habitantes de seu vizinho Urano. Trata-se, porém, de um

simples erro de psicologia, que de modo algum influiu sobre a

marcha natural das idéias. Outro tanto não se pode dizer da sua

delimitação da ciência possível, e aqui a doutrina de Comte encerra

sem dúvida uma parte de verdade. Com todo o seu exagero, ela

exprime, uma vez ainda, a velha crença de que a explicação

suprema das coisas nos é para sempre inacessível.

Desprezando as causas dos fenômenos, como fantasmas da

imaginação, a ciência positivista procura as suas leis, as relações

permanentes que encadeiam os fatos sensíveis. Nessa pesquisa

ela rejeita, por ilusória, uma unificação progressiva dos resultados

adquiridos. Uma luz, diz Comte, será eternamente heterogênea a

um movimento ou a um som. Qualquer explicação do gênero, por

exemplo, da teoria ondulatória, é terminantemente proibida,

reduzindo-se o papel da hipótese ao da antecipação provisória

sobre os resultados da experiência. A tudo que não entra nesse

esquema descritivo, Comte fulmina com o epíteto de metafísico,

que ainda hoje os seus discípulos distribuem a torto e a direito,

sempre que pretendem, sem grande esforço crítico, condenar um

ato ou uma idéia.

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80

Seria puro jogo de palavras fixar o que se deve entender por

metafísica; mas nunca ninguém atribuiu a esse termo um sentido

tão abusivamente amplo. Na verdade, Comte fazia metafísica como

Mr. Jourdain fazia prosa, e toda a sua filosofia está saturada do

postulado empirista. É contra ele próprio que se volta finalmente o

seu conselho de prudência; nada mais ilusório do que pretender

dizer onde acaba a ciência e começa a metafísica, porque fronteira

não existe."128

Na avaliação de Paim, "no grupo que demonstra haver superado

integralmente o positivismo, Amoroso Costa é a pessoa que cuida de conduzir

mais longe a indicada evolução do pensamento científico nacional, tratando de

delimitar aquela esfera onde não mais tem lugar as demonstrações convincentes,

como no âmbito das ciências, mas a emergência de problemas de índole

filosófica".129

Rádio Sociedade130

Em 20 de abril de 1923, fundou-se, dentro dos salões da Academia

Brasileira de Ciências, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que teria sido a

128 AMOROSO COSTA, Manoel. Ainda o problema da ciência. O Jornal,

17/dez./1922 (Acervo Amoroso Costa/Mast).

129 PAIM, Antonio. O neopositivismo no Brasil. Período de formação da corrente.

In: AMOROSO COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e

outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 43.

130 Alguns documentos da Rádio Sociedade podem ser localizados no acervo de

Morize/Mast e da Rádio Sociedade. Esse último, considerado perdido durante

décadas, foi reencontrado há cerca de dois anos. Infelizmente, por falta de verba

foi novamente abandonado num galpão no subúrbio do Rio de Janeiro.

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primeira rádio brasileira. Sua primeira transmissão ocorreu no dia 1 de maio do

mesmo ano.

Foi criada por um grupo de pessoas, entre elas os membros da ABC, que

se cotizaram para implantar esse novo veículo de comunicação, que seria usado

para difusão de assuntos culturais e científicos. Segundo seus estatutos, a

"Rádio Sociedade, fundada com fins exclusivamente científicos, técnicos,

artísticos e de pura educação popular, não se envolverá jamais em nenhum

assunto de natureza profissional, industrial, comercial ou político".131

Era objetivo de seus criadores manter, na sede, uma biblioteca, uma sala

de cursos e de conferências, um laboratório de ensaios científicos para seus

membros e uma estação emissora (broadcasting) para irradiar conferências,

concertos, divulgando igualmente assuntos de interesse científico, literário ou

artístico, a hora legal, o boletim do tempo etc.

Assinavam os estatutos Morize, Roquette-Pinto, Francisco Lafayette,

Henrique de Beaurepaire Rohan Aragão, Arthur Moses, Dulcídio Pereira,

Francisco Venâncio Filho, Armando Fragoso Costa, Eugênio Hime, Mário Paulo

de Brito, Othon Leonardos, Jorge Leuzinger, Carlos Gooda Lacombe, Mário

Souza, Edgard Süssekind de Mendonça, Antonio Caetano da Silva Lima,

Carneiro Felipe, entre outros.

Em 19 de maio daquele ano, escolheu-se o Conselho Diretor, que ficou

assim constituído: Morize (presidente), Roquette-Pinto (secretário), Democrito

Lartigau Seabra (tesoureiro), diretores: Carlos Guinle, Luiz Betim Paes Leme,

Alvaro Ozorio de Almeida, Francisco Lafaytte, Mario de Souza e Angelo M. da

Costa Lima. Presidente honorário: Dr. Francisco Sá. Diretores honorários:

General Ferrié, Prof. Abraham, General Rondon, Prof. Paulo de Frontin, Dr.

Octavio Mangabeira, Dr. João Teixeira Soares e Dr. Gabriel Ozorio de Almeida.

131 Apud SALGADO, Alvaro. A radiodifusão educativa no Brasil. Rio de

Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946. p.

27-28.

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O caráter de divulgação científica da Rádio Sociedade foi explicitamente

enfocado em reunião da Academia Brasileira de Ciências, segundo ata da

sessão de 29 de abril de 1925:

"Foi aprovado um voto de congratulações para a Rádio Sociedade

do Rio de Janeiro, pela passagem de seu segundo aniversário,

tendo o Sr. Alvaro Alberto realçado a grande obra de educação e

de vulgarização científica que vem realizando essa instituição

nascida no seio da Academia."132

Einstein, quando esteve no Brasil em maio de 1925, visitou à rádio e nela

transmitiu publicamente suas impressões, traduzidas logo em seguida pelo

químico Mario Saraiva:

"Após minha visita a esta Rádio Sociedade, não posso deixar de

mais uma vez admirar os esplêndidos resultados a que chegou a

ciência aliada à técnica, permitindo aos que vivem isolados os

melhores frutos da civilização.

É verdade que o livro também poderia fazer e o tem feito; mas não

com a simplicidade e segurança de uma exposição cuidada e

ouvida de viva voz. O livro tem que ser escolhido pelo leitor, o que

por vezes traz dificuldades.

Na cultura levada pela radiotelefonia, desde que sejam pessoas

autorizadas as que se encarreguem das divulgações, quem ouve

recebe além de uma escolha judiciosa, opiniões pessoais e

comentários que aplainam os caminhos e facilitam a compreensão:

esta é a grande obra da Rádio Sociedade."133

132 Revista da Academia Brasileira de Sciencias, ano VI, n. 1, abr./1926. p. 125.

133 Electron, ano 1, n. 6, 20/abr./1926. p. 3.

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Depois de sua criação, a Rádio Sociedade esteve sediada em vários locais,

passando pela sala de física da Escola Politécnica e pela Livraria Científica

Brasileira. Em dezembro do mesmo ano, o governo cedeu à Academia Brasileira

de Ciências o Pavilhão Tchecoslovaco no centro da cidade do Rio de Janeiro e a

rádio também foi para lá, permanecendo até 1928, quando a prefeitura esvaziou

o prédio.

Na comemoração de seus três anos, o arquivo da Rádio Sociedade já se

achava inteiramente organizado e continha cerca de dez mil documentos,

"alguns do maior valor para a história do rádio no Brasil"134. A biblioteca contava

com 800 volumes e a sala de leitura dispunha publicações periódicas de T.S.F.

(telefonia sem fio) e de ciência em geral.

A título de ilustração, transcrevemos os versos elaborados por Pethion de

Villar (Dr. Egas Moniz Barreto de Aragão, Bahia) sobre as atividades da Rádio

Sociedade:

A escola do porvir135

à benemérita Rádio Sociedade do Rio de Janeiro

Alô! Três vezes alô!

Do éter na imensidade

Quem falou?

Em que ponto do universo?

134 Ibid. p. 4.

135 Radio ano II, n. 26, 1/nov./1924. p. 31.

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Alô! Rio de Janeiro! ...

Rádio Sociedade,

Pelas antenas do Verso

Fala o povo brasileiro.

Alô! Hurra! Bravos mil

Aos heróis bandeirantes

Da radiotelefonia

No Brasil,

Sempre a lutar, triunfantes! ...

Meus amigos, que alegria!

Que entusiasmos, não minto.

Ao proclamar-vos os nomes,

Das rimas da sintonia! ...

Alô! Três vezes alô!

Morize, Roquette-Pinto,

Dulcídio, Leonardo Gomes,

Demócrito Lartigau,

Moreira Pinto, Cesário

Lafayette, Carlos Guinle..............

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85

.........................

Aqui é que pega o carro!

Onde encontrar rima em inle?

Não há no dicionário...

Ora bolas! Que demônio!

Se assim nesta rima esbarro! ...

Ajuda-me Santo Antônio!

A descalçar esta bota! ...

Mas também que ladainha

Poliglota

De tanto e tantos nomes! ...

(...)

Unir, através do espaço,

Nós todos brasileiros!

Num solene e estreito abraço,

Num supremo beijo ardente,

Fazer de trinta milhões

De almas, hoje dispersadas,

E isolados corações,

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Uma grande alma somente,

E somente um coração

(...)

Talvez não tarde muito: alviçareiras,

Todas as almas hão de ter, um dia,

No remanso dos lares, espalhados,

Pelas imensas terras brasileiras,

Nas matas, nos rincões mais afastados,

Do Amazonas ao Prata, em toda a parte,

Todas as almas hão de ter um dia

Numa espiritual eucaristia.

O conforto moral da ciência e da arte.

E a paz há de arquear as grandes asas brancas,

Pairando, em pleno azul, sobre as fronteiras francas

Sobre as nações, por fim fraternizadas! ...

E tudo isso há de ser o milagre evidente,

As soberbas conquistas portentosas

Pelo poeta e o sábio entresonhadas,

A formidável obra soberana,

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87

Das invisíveis ondas assombrosas

Que celebra o meu verso,

Levando no ar silenciosamente,

Misteriosamente,

Todos os raios da Palavra Humana,

Todas as harmonias do universo!

A legislação brasileira marcou a Rádio Sociedade em dois momentos: no

seu início e no seu fim. Em 1923, por motivo de segurança nacional, era proibida

a radiotransmissão, sendo considerado crime político a existência em casas

particulares de rádio-receptores.

Carta importante, que contribuiu para a legalização da atividade radiofônica

no país, foi enviada a Francisco Sá, ministro da Viação, em 11 de maio de 1923,

em nome da Academia Brasileira de Ciências e assinada por Morize, Roquette-

Pinto, Domingos Costa, J. Del Vecchio:

"A divulgação da T.S.F., no território nacional, permitindo que um

grande número de brasileiros se possa preparar para servir à pátria

no terreno científico, militar, industrial etc, é uma das mais urgentes

necessidade do país. Causa verdadeira tristeza aos estudiosos

verificar o grau de inconcebível atraso em que se encontra, no

Brasil, a T.S.F. como prática popular.

Em todos os países do mundo civilizado, até mesmo nas velhas

nações conservadoras e tradicionalistas do Oriente, já o Poder

Público compreendeu a vantagem de permitir amplamente a prática

usual das radiocomunicações por amadores e estudiosos. (...)

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A proibição da T.S.F. é científica e praticamente um absurdo e uma

ingenuidade; se fosse possível torná-la realmente efetiva, seria,

ainda assim, um grande mal para o progresso da nação.

A antena especialmente armada, único sinal visível capaz de

permitir a descoberta de um receptor clandestino, é hoje

geralmente dispensada nas cidades, substituídas por quadros, fios

das canalizações de luz elétrica, clarabóia etc. Aqui mesmo no Rio

de Janeiro, pode-se documentadamente, afirmar que os postos de

amadores sem antena visível são a maioria.

O restante de um posto simples nunca poderá ser descoberto e

apreendido senão em condições muito especiais.

Por outro lado, não se pode compreender a vantagem da proibição,

quando se sabe que qualquer navio estrangeiro, em pleno oceano,

fora dos nossos limites territoriais, pode interceptar à vontade, com

os atuais receptores amplificadores e até grafar os despachos dos

nossos postos militares, mesmo quando transmitidos com pequena

potência.

A transmissão automática, a criptografia e principalmente o recente

método da radiotelegrafia Diplex, que, aumentando o rendimento

das estações de grande tráfego, transmite dois radiogramas ao

mesmo tempo em ondas diversas, tornando a recepção impossível

aos postos comuns, são meios eficazes suficientemente

asseguradores do segredo das transmissões, se não fosse

realmente inútil na maior parte das vezes a preocupação de tal

sigilo.

Quanto à transmissão de mensagens radiotelefônicas e

radiotelegráficas, é do maior interesse de todos que o Governo

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limite as licenças de modo a só permitir seu uso aos que estiverem

em condições de não prejudicar aos demais. Contudo, é preciso

não esquecer que o desenvolvimento sonhado pelos cientistas

patrícios, da T.S.F. no Brasil, depende da existência de numerosas

fontes de ondas elétricas.

Por isso acreditamos, Sr. Ministro, ser da maior conveniência a

permissão para transmitir aos amadores que oferecerem garantias

de sua idoneidade moral e científica. Tanto mais que, usando

ondas limitadas e potência limitada, os postos particulares poderão,

mutuamente, se prejudicar, mas nunca perturbar o serviço oficial.

(...)

Pela T.S.F., o interior do Brasil poderá, em pouco tempo,

transformar-se, graças à nova mentalidade que ela fará surgir em

cada povoação onde chegarem suas ondas progressivistas.

À vista das considerações acima, a Academia Brasileira de

Ciências julga cumprir o seu programa e trabalhar pelo bem

comum fazendo um ardoroso apelo a V. Ex. para que torne

realidade tão importantes medidas rigorosamente compreendidas

no espírito e na letra da lei de 10 de junho de 1917 (art. 12), que

faculta ao Ministério da Viação conceder licença para o

estabelecimento de estações experimentais. (...)"136

Os governantes acabaram cedendo e a legislação foi mudada. Mas nova

legislação acabou inviabilizando a Rádio Sociedade uma década depois.

Segundo a ata da sociedade de 18 de maio de 1935, Roquette-Pinto informou:

136 Carta reproduzida na revista Radio, ano I, n. 2, out./1923. p. 39-40.

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"A estação está em perfeito estado de conservação, funcionando

com a máxima regularidade, devendo, entretanto, por força de lei

recente, ser modificada ou substituída por outra mais potente e

moderna a ser instalada, de acordo ainda com a lei, dentro de um

ano e longe do centro da cidade. (...) a situação atual da Rádio

Sociedade não é má: todos os seus serviços, técnicos,

administrativos e de radiodifusão, funcionam da melhor ordem; o

estado de conservação das suas instalações é perfeito; o seu

patrimônio aumentou bastante com a aquisição do terreno de

Campinho; tem fundo de reserva de mais de trinta contos de reis;

está equilibrando a receita com a despesa e não tem dívida

alguma."137

Na última ata, de 3 de setembro de 1936, o parecer:

"A Rádio Sociedade não poderá continuar os seus serviços de

radiodifusão senão sofrendo uma profunda remodelação de sua

própria organização, deixando de ser instituição puramente

educativa, como tem sido, para adquirir caráter comercial, à vista

das exigências da atual legislação em vigor."138

Em 7 de setembro de 1936, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi doada

ao Ministério da Educação. No último relatório da sociedade, a sentença final:

137 Apud SALGADO, Alvaro. A radiodifusão educativa no Brasil. Rio de

Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946. p.

37-38.

138 Apud Ibid. p. 37.

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"Não dispondo de capital para aumentar a potência da sua estação – conforme

exige o governo – a Rádio Sociedade resolve encerrar suas atividades".139

Associação Brasileira de Educação

Em 6 de outubro de 1924, criou-se a Associação Brasileira de Educação

(ABE). Sendo Heitor Lyra da Silva o principal ativista para sua criação, a ABE

também foi fruto do movimento organizado de cientistas e intelectuais da época,

muitos deles responsáveis por outras iniciativas destacadas nesta dissertação.

Alvaro Ozorio de Almeida e Amoroso Costa, por exemplo, participaram

ativamente de sua direção e da organização de ciclos de conferências, palestras

e cursos promovidos pela entidade (para mais informações, ver "As conferências

da Associação Brasileira de Educação" e o Anexo 3).

A ABE tinha por finalidade "promover no Brasil a difusão e o

aperfeiçoamento da educação em todos os ramos e cooperar em todas as

iniciativas que tendam, direta ou indiretamente, a esse objetivo", conforme seus

estatutos140. Tinha como propósitos organizar permanentemente a estatística da

instrução no Brasil; publicar revistas, boletins e relatórios periódicos sobre

questões do ensino; manter museu escolar permanente, biblioteca pedagógica e

sala de conferências e cursos; promover e premiar a publicação de bons livros

didáticos; organizar um arquivo de legislação nacional e estrangeira sobre

ensino e questões correlatas; facilitar a seus sócios a aquisição de livros e

material escolar; facilitar o desenvolvimento do cinema educativo, de bibliotecas

infantis e de outros institutos auxiliares de ensino; organizar obras de

mutualidade entre professores e entre alunos; estimular a educação popular,

entre outros.

Na primeira diretoria, estavam o advogado Levi Carneiro; Candido de Mello

Leitão, médico catedrático da Escola Superior de Agricultura e Medicina

139 Apud Ibid. p. 39.

140 Acervo Amoroso Costa/Mast e Boletim da ABE, ano I, n. 1, set./1925.p. 2.

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Veterinária e professor da Escola Normal; C. Delgado de Carvalho, professor do

Pedro II e da Escola Normal; Heitor Lyra da Silva, engenheiro e professor da

Escola Nacional de Belas Artes (sendo que diretores ocupam, um de cada vez,

as funções de presidente durante três meses, a começar por Levi Carneiro).

Compunham ainda a diretoria: Mario Brito (secretário-geral), engenheiro e

catedrático da Escola Politécnica, e Branca Fialho (tesoureira).

O lema, apresentado no Boletim da ABE era: "O problema da educação

nacional só estará a caminho de ser resolvido no dia em que possuirmos uma

'elite' esclarecida e consciente, capaz de compreender sua importância e de

empreender sua solução. Preparar uma 'elite' é, pois, o primeiro passo a

realizar".141

Em 1925, a ABE elaborou plano de utilização sistemática do cinematógrafo

e de radiotelefonia em proveito da educação. Mas Carneiro lamentaria alguns

anos mais tarde:

"(...) remetemos [o plano] a todos os governantes dos estados,

oferecendo-lhes, desde logo, a nossa cooperação dedicada.

Alguns terão acusado o recebimento da nossa mensagem. Creio,

no entanto, que nenhum resultado prático ela produziu."142

Com relação às transformações educacionais impulsionadas pela ABE,

Fernando de Azevedo afirmaria:

"As idéias renovadoras que adotaram e sacudiram o sistema

escolar nas suas bases deviam circular em sentido vertical como

uma nova seiva que subisse do ensino primário e normal, para

atingir, provocando movimentos de reação, as superestruturas do

141 Boletim da ABE, ano II, n. 6, jul./1927. p. 1.

142 CARNEIRO, Levi Fernandes. A educação do povo pela Radio-diffusão e pelo

cinema. Sciencia e educação, Rio de Janeiro: Typ. B. de Souza Carmo, n. 5, p.

11-12, jun. 1929. p. 12.

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sistema escolar – os ensinos secundário e superior, que se

mantinham até então rebeldes e quase inacessíveis à corrente de

renovação que se propagava pelo país. Mas antes dessa

circulação vertical, naturalmente mais lenta, elas já começavam a

desenvolver-se em sentido horizontal, difundindo-se pelo país,

sobretudo do principal foco de irradiação que era o Rio de Janeiro

e alargando cada vez mais, por diversos estados, o seu raio de

influência e ação. Para esse fim concorreram as conferências

nacionais que a Associação Brasileira de Educação promoveu nas

capitais e se iniciaram pela de Curitiba, em 1927, isto é, no mesmo

ano em que rompiam no Distrito Federal e em Minas Gerais os dois

maiores movimentos de renovação escolar que se produziram, no

Império e no período republicano. As conferências anuais,

convocadas por essa sociedade de educadores, aproximando

professores de todos os graus de ensino e de todos os estados,

criando uma atmosfera favorável ao debate de idéias e

promovendo a expansão dos ideais das reformas empreendidas

em alguns dos principais centros de cultura, atingiam objetivos

eminentemente nacionais, concretizando o sonho de seu fundador

Heitor Lyra, quando pensou em tornar móvel a sede da Associação

que, no seu plano primitivo, deveria reunir-se anualmente em um

dos estados, ora no norte, ora ao sul, ora ao centro, de modo a

realizar uma verdadeira transfusão de idéias e sentimentos."143

Em 3 de dezembro de 1928, a ABE perdeu alguns de seus mais valiosos

elementos – Amoroso Costa, Tobias Moscoso, Ferdinando Labouriau (na época,

presidente da Rádio Sociedade), Amaury de Medeiros e Paulo de Castro Maya,

143 AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira. Brasília/Rio de Janeiro: Editora

da UnB/Editora da UFRJ, 1996. p. 637.

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todos mortos no acidente trágico, já citado nesta dissertação, do hidroavião

Santos Dumont, que decolou para recepcionar o inventor Santos Dumont.

Naquele mesmo ano, tinha sido iniciado inquérito sobre o problema

universitário brasileiro, promovido pela Seção de Ensino Técnico e Superior da

ABE, que se prolongou até o ano seguinte e cujos resultados foram publicados

em um livro.144

Nas décadas seguintes, com a atuação destacada de Anísio Teixeira, a

ABE teria importante papel na defesa da educação pública no Brasil. Em 1945,

Fernando de Azevedo daria seu parecer:

"Para apreciar a função quase singular que exerceu a Associação

Brasileira de Educação, estabelecendo entendimentos recíprocos e

provocando por toda a parte um despertar de espírito e a

consciência de uma unidade política, bastará lembrar que, no

domínio essencial da educação popular, o governo da República só

teve, em 40 anos, duas iniciativas, mandando em 1918 fechar

escolas alemães no sul e subvencionando o ensino primário no

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, para combater, no

interesse da unidade nacional, a infiltração germânica, e

convocando, em 1922, no governo Epitácio Pessoa, uma

conferência oficial para estudar a intervenção da União no ensino

primário."145

Alguns anos depois, Alvaro Ozorio de Almeida declararia:

144 O problema universitário brasileiro. Inquérito promovido pela Seção de

Ensino Técnico e Superior da Associação Brasileira de Ensino. Rio de Janeiro: A

Encadernadora. 1929.

145 AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira. Brasília/Rio de Janeiro: Editora

da UnB/Editora da UFRJ, 1996. p. 637-638.

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"(...) a causa fundamental, necessária, imprescindível, que

determina em um país a estabilidade da ciência e a velocidade de

seu crescimento é o grau de extensão de sua instrução nacional.

Acreditamos que todas as formas e graus de instrução são

interdependentes, influenciam-se reciprocamente; minguando uma,

as outras sofrem, se uma se hipertrofia, as outras reagem.

"Poder-se-ia imaginar um grande desenvolvimento científico em um

país de analfabetos? Ou sólida instrução profissional sem

professores de ciência e homens de pesquisa?"146

PANORAMA DAS INSTITUIÇÕES DE PESQUISA E ENSINO DA ÉPOCA

As instituições científicas no Rio de Janeiro que apresentavam maior

tradição de pesquisa eram o Instituto de Manguinhos e o Museu Nacional147,

ambos nas áreas biológicas e de ciências naturais. No domínio das ciências

exatas, havia, segundo Moreira, "ausência quase completa de pesquisa

científica no domínio da física, quer teórica, quer experimental".148 Ele lembra

que "uma pequena exceção no domínio das ciências exatas era a área de

astronomia onde, desde o século XIX, mas com muitos altos e baixos, criara-se

146 OZORIO DE ALMEIDA, Alvaro. Valor da ciência - dificuldades e lutas de

minha carreira científica. São Paulo: Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência, 1950. p. 19-20.

147 AZEVEDO, Fernando (ed.). As Ciências no Brasil. 2 vol., Rio de Janeiro:

Editora da UFRJ, 1995.

148 MOREIRA, Ildeu de Castro. A recepção das idéias da relatividade no Brasil.

In: MOREIRA, Ildeu de Castro, VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (eds.).

Einstein e o Brasil, Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995. p. 194-195.

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uma tradição significativa de pesquisa experimental, em torno do Observatório

Nacional".

Na avaliação de Moreira, havia pequeno número de instituições de nível

superior, sendo que as poucas escolas de engenharia "voltavam-se basicamente

para a formação profissional e, freqüentemente, eram dotadas de um ensino

dogmático e atrasado, influenciado ainda significativamente pelos postulados e

pelas tradições positivistas". 149

Segundo relato da época, deixado por Miguel Ozorio de Almeida, quem

quisesse possuir cultura superior não tinha outro recurso senão ir ao estrangeiro,

o que só era possível a alguns privilegiados que tivessem nascido em famílias

ricas ou que ganhassem prêmios de viagem fornecidos pelo governo brasileiro.

"Mas esse estado de coisas não deve ser definitivo. Ele envolve

em si uma grande injustiça. Essas vantagens não podem ser

limitadas. Por outro lado, a vida científica na Europa, se dá a

cultura intelectual, não constitui o melhor preparo para a vida

científica do Brasil. A nossa desorganização, as nossas

dificuldades abatem aqueles que viram outros meios e se

habituaram ao trabalho produtivo. A readaptação ao nosso

ambiente é muito difícil."150

Alvaro Ozorio de Almeida é ainda mais dramático que seu irmão, em

virtude de sua própria experiência:

149 Ibid. p. 195.

150 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Homens e coisas de ciência. São Paulo:

Editora Monteiro Lobato, 1925. p. 199.

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"Mais tarde, de volta a pátria, [os jovens que foram estudar no

exterior] não encontram lugar para se colocarem e transmitirem aos

outros a sua ciência."151

Para os irmãos Ozorio e vários outros, a solução do problema seria a

criação de uma faculdade de ciências, que aproveitasse elementos entre nós

existentes, completando-a com homens de ciência vindos do estrangeiro.

Embora apoiasse as idéias de Miguel Ozorio para a criação de uma

faculdade de ciências com ênfase na ciência pura, Amoroso Costa, em 1923,

era ainda bastante pessimista quanto às possibilidades de concretizá-las:

"A dificuldade não vem (...) de alguém que conteste à ciência a sua

soberana utilidade. O mundo moderno, com o seu fanatismo do

progresso material, não desconhece o que deve ao trabalho dos

homens de ciência. Nos países novos esse fanatismo é levado ao

auge, e muitas pessoas muito instruídas ignoram por completo que

exista um ideal científico superior ao do homem que fabrica mil

automóveis por dia, ou do que opera uma apendicite em dez

minutos. Daí a opinião quase unanimente admitida entre nós: a

ciência é útil, porque dela precisam os engenheiros, os médicos, os

industriais, os militares; mas não vale a pena fazê-la no Brasil,

porque é mais cômodo e mais barato importá-la da Europa, na

quantidade que for estritamente suficiente para o nosso consumo.

Tal a mentalidade dominante entre aqueles que nos educam e, por

mais forte, entre aqueles que nos governam. Não admira que

assim seja; é a mentalidade de que só hoje, no fastígio da riqueza

e da força, se começam a libertar os Estados Unidos.

151 Sciencia e Educação, ano I, n. 5, jun./1929. p. 4.

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Há, aliás, contra a criação da Faculdade, um argumento cujo peso

é incontestável: no estado atual da nossa cultura, seria um número

excessivamente pequeno os moços dispostos a perder alguns anos

em estudos que não conduzem a nenhuma carreira prática. No ano

passado, concluíram o curso de engenheiros mecânicos e

eletricistas da Escola Politécnica apenas três alunos. É preciso,

pois, ser muito otimista para prever, por exemplo, em um curso de

matemáticas puras, uma freqüência normal de um aluno...

Pode-se levar o otimismo mais longe e esperar que a Faculdade

tenha o dom de despertar vocações, que sem ela não se

revelariam. Para ser absolutamente sincero, devo dizer que oscilo

entre essa esperança e o receio de ver surgir uma escola anêmica

e enfezada.

(...)

Em um dos estranhos países que descobre nas suas viagens,

Gulliver visita certa vez uma escola da matemática, cujo sistema de

ensino difere um tanto do habitual. Consiste ele em escrever os

rebarbativos textos, com tinta de composição especial, sobre uma

fina hóstia que o estudante engole em jejum; à medida que a hóstia

vai sendo digerida, a tinta sobe à cabeça, levando consigo os

conhecimentos desejados. Nem assim, entretanto, observa o herói

de Swift, conseguem os meninos assimilar a ciência com prazer,

pois esse manjar é 'so naseous that they generally steal aside, and

discharge it upwards, before it can operate'.

Aqueles que ingerem a ciência penosamente, como remédio

amargo mas inevitável, tratam de 'discharge it upwards' na primeira

oportunidade – e são a imensa maioria. Restam os poucos que a

amam pela sua beleza. Eles existem espalhados pelos quatro

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cantos do Brasil. Sem auxílio de governo, sem escola, sem

professores, sem alunos, eles constróem pacientemente o

inabalável alicerce."152

Em 1927, Amoroso Costa iria presidir várias reuniões da ABE153 nas quais

se discutiu a importância de criar uma faculdade de ciências. Nelas, estiveram

presentes Branca Filho, Alvaro Ozorio de Almeida, Arthur Moses, Labouriau,

Mario Britto, André Dreyfus, A. Warwick, Arnoldo Rocha, Barbosa de Oliveira,

Henrique Aragão, Othon Leonardos, além da participação especial de Fernando

de Azevedo.

Nessas reuniões, os participantes propuseram programa de implantação da

Faculdade de Ciências do Rio de Janeiro que seguia, em linhas gerais, a

organização de universidades francesas, especialmente a Sorbonne, mas que

levava em conta também a estrutura das instituições de outros países, como

Alemanha, Itália, Inglaterra e Estados Unidos, segundo estudo comparativo

realizado por seus proponentes.

Ainda em 1927, por ocasião da Primeira Conferência Nacional de

Educação, Amoroso se posicionaria sobre a precariedade dos cursos superiores

vingentes:

"A organização atual dos nossos cursos superiores é inteiramente

utilitária e visa apenas a educação profissional. A essa orientação

se deve, em grande parte, a opinião vulgar de que a ciência só vale

pelas suas aplicações, pela maior soma de comodidades materiais

que nos proporciona. Sem contestar a importância fundamental

152 Publicado em O Jornal, em 27/maio/1923 e transcrito em AMOROSO

COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e outros ensaios.

3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 152.

153 Livros das Atas da Seção de Ensino Técnico e Superior da ABE

(04/ago./1927-24/nov./1927). Acervo ABE.

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desse ensino técnico, que devemos ampliar e aperfeiçoar

constantemente, penso que já há lugar para uma organização

complementar destinada a desenvolver o gosto pelos estudos

especulativos e sobretudo pela pesquisa original. A fundação das

Faculdades de Letras e de Ciências, sem as quais uma

Universidade está longe de merecer esse nome, representa hoje

uma necessidade inadiável, se quisermos criar a verdadeira cultura

superior.

Deixando de lado o papel que essas Faculdades desempenharão

no ensino propriamente dito, desejo aqui apenas assinalar o que

constitui uma das finalidades do organismo universitário: formar

homens de ciência consagrados exclusivamente à pesquisa.

(...)

No Brasil, como aliás em todos os países novos, pouco se tem feito

até agora nesse sentido. Pode-se dizer que ainda estamos vivendo

a idade heróica da ciência pura. É verdade que nas ciências

naturais têm surgido pesquisadores em número relativamente

grande - mencionemos a obra do Museu Nacional - o que até certo

ponto decorre do fato de possuírmos como campo de estudos um

imenso território dotado de fauna e flora próprias. À medida, porém,

que se consideram domínios menos concretos, a produção original

escasseia rapidamente. Muita coisa se tem ainda feito nos

laboratórios das ciências experimentais – Oswaldo Cruz, Instituto

Butantã, o laboratório dos irmãos Ozorio de Almeida –, mas, no

que se refere aos conhecimentos abstratos, a contribuição

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brasileira é até hoje quase nula. Isso se explica sobretudo pela falta

de um ambiente propício a tais estudos."154

Nessa mesma exposição, Amoroso Costa sintetizou suas propostas:

I - As Faculdades de Ciências das Universidades devem ter como

finalidade, além do ensino da ciência feita a de formar pesquisadores em todos

os ramos dos conhecimentos humanos.

II - Esses pesquisadores devem pertencer aos respectivos corpos

docentes, mas com obrigações didáticas reduzidas, de modo a que estas não

perturbem os seus trabalhos originais.

III - Devem ser-lhes assegurados recursos materiais mais amplos:

laboratório para pesquisas biológicas e fisico-químicas, observatórios

astronômicos, seminários matemáticos, bibliotecas especializadas, facilidades

bibliográficas, publicações periódicas para divulgação de seus trabalhos,

aparelhamento para explorações geográficas, geológicas e mineralógicas,

biológicas, etnográficas.

IV - Deve ser-lhes assegurada uma remuneração suficiente para que eles

dediquem todo o seu tempo a esses trabalhos.

Destaque-se também o texto escrito pela redação da revista Sciencia e

Educação em que se defende a necessidade de ser criada a "Faculdade

Superior de Ciências, destinada ao cultivo da ciência pura, isto é, da ciência

desinteressada, que não vise o exercício prático de uma profissão

determinada"155. No artigo, transcreve-se documento da Academia Brasileira de

154 Acervo Amoroso Costa/Mast.

155 Universidade do Rio de Janeiro e a creação da Faculdade de Sciencias.

Sciencia e educação, Rio de Janeiro: Typ. B. de Souza Carmo, n. 2, mar./1929,

p. 3-4.

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Ciência, assinado por Morize, Juliano Moreira, Miguel Ozorio de Almeida e Mario

de Souza e enviado ao presidente da República156:

"Não há entre nós um estabelecimento onde se cultive a ciência

desprovida das preocupações de utilidade imediata, desenvolvida

até aos limites dos conhecimentos atuais e levada até a pesquisa

dos problemas novos e das questões ainda não resolvidas. Em

uma palavra, não existe entre nós um instituto onde seja cultivada

a ciência pura em todos os seus ramos. O Museu Nacional, cuja

constituição lhe dá uma posição privilegiada e que se destina ao

cultivo da ciência sem fins utilitários, é limitado a algumas ciências

naturais.

A Academia está convencida que a falta de um instituto dedicado à

ciência pura e à pesquisa científica desinteressada tem os mais

nefastos efeitos sobre o desenvolvimento intelectual do país.

Uma das causas da decadência de nosso ensino é a ausência de

interesse pelas coisas de ciência. Na opinião geral, claramente

expressa, ou não manifestada mas podendo ser facilmente

evidenciada, a ciência só deve ser estudada no que ela tem de útil

e aproveitável. Parece a todos um inútil desperdício de tempo

estudar verdades abstratas ou fenômenos pouco comuns quando

se nos deparam no Brasil imensas riquezas para a exploração das

quais todos os esforços devem ser orientados.

Um tal critério é dos mais perigosos. Ninguém sabe até onde se

pode considerar útil ou inútil uma determinada questão. Os estudos

156 Os redatores de Sciencia e educação não especificaram em que data foi

elaborado o documento da Academia Brasileira de Ciências.

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aparentemente os mais abstratos e menos em contato com a

realidade dão em um dado momento resultados de grande valor

prático. A História das Ciências está cheia de exemplos muito

instrutivos que poderiam ser citados para demonstrar este ponto.

A Ciência tem essencialmente por fim o conhecimento das leis que

regem os fenômenos naturais. Esse conhecimento permite-nos

dominar esses fenômenos, orientando-os no sentido mais

conveniente aos nossos fins e interesses. O caráter de utilidade

dos conhecimentos é, portanto, um caráter todo contigente; ele

depende essencialmente das condições de momento, da época e

do lugar em que nos colocamos. O que é essencial é o

conhecimento em si, é o seu valor próprio como verdade. É a

aquisição propriamente do conhecimento que representa a

verdadeira vitória do homem sobre a natureza. A sua utilização

prática é a exploração dessa vitória.

O conhecimento científico puro paira acima de todas as vicissitudes

e dos interesses ocasionais. Ele tem sua vida própria, transforma-

se, evolve, mas guarda o seu caráter superior, tem sua nobreza em

si. O seu cultivo é a manifestação de um ideal, e de um ideal dos

mais elevados. Desde a mais remota antiguidade a aspiração para

uma vida mais alta, mais digna, manifestou-se em todos os povos

pelo esforço e atenção dado às questões de ciência pura. Um país

não merece o nome de um país civilizado se não se encontram

nele condições próprias para o cultivo desse ideal, que se refletem

em todas as manifestações de sua atividade.

Alguns estrangeiros ilustres que nos têm visitado já manifestaram a

dolorosa surpresa tida ao verificarem no Brasil a ausência de

estabelecimento que seja um atestado visível da existência desse

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ideal. Esses estabelecimentos são as faculdades superiores de

ciências.

É nelas que se aprende a conhecer o verdadeiro valor da ciência. É

nelas que se adquire a maestria nos métodos de pesquisa. É nelas

que se aprende respeitá-la. São elas que servem de base para

essa larga cultura geral e superior sem a qual todas as instituições

que direta ou indiretamente dependem de coisas de ciência são

fatalmente votadas à decadência, ao marasmo. É a ciência pura

que forma o mundo comum de riqueza que se aprende a utilizar

praticamente nas faculdades de ensino profissional. Se esse fundo

é escasso ou não existe, a vida dessas faculdades é forçosamente

precária, como se observa entre nós. Falta, a elas, o único

incentivo que é real e não depende propriamente de códigos ou de

leis escritas por mais severas que sejam: o amor desinteressado

pelo estudo. Com este não se medem os esforços; sem ele nada

se faz sem a perspectiva de uma compensação imediata ou

remota.

A Academia Brasileira de Ciências é constituída por homens

profundamente convencidos de todas essas verdades. Vencendo a

diferença do meio, ela vem lutando para propagar e desenvolver os

seus ideais. É a fidelidade constante a esses ideais que lhe dá no

momento atual a autoridade para vir fazer ouvir a sua voz em uma

questão de interesse primordial para o futuro desenvolvimento

intelectual do país. Assim, ela espera que o espírito esclarecido do

Governo se demore no exame e no estudo do apelo feito no

sentido de ser criada entre nós uma Faculdade Superior de

Ciências."

Esses apelos, no entanto, só foram parcialmente atendidos em 1935,

quando foi implantada a Universidade do Distrito Federal, mantida pela Prefeitura

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do RJ, com sua Escola de Ciências. A UDF durou pouco tempo, sendo extinta

quatro anos depois e seus cursos transferidos para a Universidade do Brasil, em

"nome da disciplina e da ordem, características do regime autoritário que vigia",

segundo Fávero157. Em documento encaminhado ao presidente, o ministro

Gustavo Capanema justificava assim o desmantelamento da UDF:

"A Universidade do Distrito Federal, mantida pela Prefeitura,

ministra cursos (filosofia, ciências, letras, economia, política,

pedagogia etc.) que são essenciais a qualquer universidade. A

Universidade do Brasil, mantida pela União, não pode deixar de

instituí-los, à semelhança das mais acatadas universidades do

mundo, sob pena de permanecer indefinidamente como uma

entidade anômala, sempre longe de ser uma honra para o país.

Dessa maneira, é fora de dúvida que o caminho mais simples, mais

certo e mais econômico é que os cursos da Universidade do

Distrito Federal se incorporem à Universidade do Brasil".158

Em São Paulo, a USP foi criada em 1934, com sua Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras, que teve direção inicial de Teodoro Ramos.

MEIOS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

As publicações

Entre as várias publicações que se dedicavam à divulgação científica,

mencionamos abaixo as mais significativas.

157 FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Universidade do Distrito

Federal (1935-39): uma utopia vetada? Ciência Hoje. Rio de Janeiro: Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 21, n. 125, p. 69-73, nov.-dez./1996.

p. 73.

158 Apud Id.

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A primeira delas é Radio - Revista de divulgação científica geral

especialmente consagrada à radiocultura, de 48 páginas. Publicação bimensal,

era órgão oficial da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e, posteriormente, da

Rádio Clube de Pernambuco, da Rádio Clube Cearense e da Rádio Sociedade

da Bahia. O n. 1, dirigido por Edgard Roquette-Pinto e administrado por Carlos

Sussekind de Mendonça, foi lançado em 15 de outubro de 1923.

Vários de seus artigos relacionam-se à radiotelegrafia, sendo muitos deles

bastante técnicos (por exemplo, "Lâmpada a 3 eletrodos" e "A estação radio-

telefônica da Repartição Geral dos Telegrafos"). Outros referem-se a questões

da legislação brasileira, que impedia a radiodifusão no país.

Entre suas seções, duas destacam-se: "Em revista" traz notas curtas

extraídas de várias revistas internacionais como Radio News, Nature, L´Onde

Électrique, Comptes Rendus e Radioélectricité; "Fora do prelo" fala de livros e

outras publicações no Brasil e no exterior (inclusive outros países da América do

Sul).

O n. 1 contém basicamente artigos sobre aspectos mais técnicos do rádio,

o que parece ter gerado reações negativas, segundo o editorial do n. 2:

(...) "Rádio de mais... rádio de menos...

Foram muito desencontradas as impressões que despertou o

aparecimento do nosso primeiro número.

A novidade do programa, que trazíamos, não obteve compreensão

imediata de alguns amigos, que ora se alinham ao título, ora ao

subtítulo, para entender que deveríamos tratar ou só de rádio, ou

só da vulgarização científica em geral.

Não há necessidade disto.

Nós já deixamos claramente expresso o que queremos ser. O rádio

não é um fim – é um meio. O nosso fim é a vulgarização científica

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geral, a vulgarização de conhecimentos modernos que o povo

muita vez não aprende porque lhe não dizem.

Para chegar a este fim, há vários meios.

O melhor até hoje foi o livro. Mas, hoje, veio o rádio, que é o livro

falado e portanto muito mais agradável, muito mais simples e muito

mais acessível.

Se ele já fosse uma conquista suficientemente divulgada, esta

revista não cuidaria dele senão acidentalmente. Não o faz,

contudo, porque por enquanto ele ainda é um meio pouco

conhecido, que, nestas condições, precisa ser lembrado a cada

passo.

Eis tudo. Nem rádio demais... nem rádio de menos."159

A Radio n. 2, como as edições seguintes da publicação, continua trazendo

vários artigos técnicos sobre rádio (por exemplo, "As ondas curtas na

transmissão telegráfica e telefônica"), mas publica também artigos em áreas

científicas, como "Os enxertos em biologia", de João B. Pecegueiro do Amaral, e

"Sobre os hieróglifos egípcios", de Alberto Childe.

Neste número, surge a seção "Archivo das Associações", com resumo dos

acontecimentos nas principais associações científicas do Brasil:

"Ao nosso propósito de divulgação científica em geral não basta a

vulgarização de idéias por artigos. É também necessário dar a

conhecer os fatos que traduzem a vida científica do país. Para esse

fim, criamos, hoje, esta seção, onde se arquivará, quinzenalmente,

159 Radio, ano I, n. 2, 1/nov./1923.

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tudo o que tiver havido de mais importante nas principais

associações científicas do país."160

Em 1 de fevereiro de 1926, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro começa a

publicar outra revista bimensal de radiocultura, Electron, sob direção de

Roquette-Pinto e distribuída a seus sócios. Com 16 páginas e tiragem de cerca

de três mil exemplares, era mantida exclusivamente pelos seus anunciantes e

leitores e publicada nos dias 1 e 16 de cada mês.

A página de apresentação da primeira edição traz um texto de Roquette-

Pinto, que foi também usado, com mínimas alterações, em Seixos Rolados161.

"Na calada da noite, quando as coisas conversam, em segredo, eu

ouvi:

– Vivo na lasca de carvão, negro e humilde, escravo do homem a

cumprir os seus desejos; vivo na centelha do céu, que ensinou o

fogo à humanidade e rompe a treva das nuvens para clarear o

mundo na hora triste e majestosa das tempestades; vivo na lágrima

e na gota de leite, num pensamento e num sorriso. Sou tão

pequenino... que quase não existo; e sou tão grande que faço girar

os mundos.

Agito-me sem descanso, para que o universo não morra e para que

os violinos e as cigarras encham a Terra de harmonias. Quando

um ser morre, cabe-me transmitir a outros seres a semente da vida

que nele existir. Do seio fecundo das raças faço brotar a força dos

homens e a beleza das mulheres.

160 Ibid. p. 39.

161 ROQUETTE-PINTO, Edgard, Seixos rolados. Rio de Janeiro: Edição de

Sussekind & Mendonça, Machado & Cia, 1927.

Page 109: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

109

Agito-me sem descanso, para servir a Criação, na luz, no calor, no

som e nas ondas eternas. Fazem-me às vezes matar; mas o meu

desejo é a vida integral de todas as belezas.

Os homens, desvairados, servem-se de mim para empresas tristes

de guerra e maldade; cumpro revoltado esse mister odioso. Mas a

minha ambição maior, o meu louco desejo, é poder vibrar sempre,

livre do mal, levando pelo infinito os pensamentos bons que, um

dia, hão de transformar as gentes, livrando os escravos do trabalho

e acorrentando as nações na mesma simpatia.

Sou tão pequeno... Ninguém me vê!

Assim cantava Electron, no primeiro momento de 1926, Rádio

Sociedade do Rio de Janeiro, para desferir o vôo glorioso pelo

espaço.

E foi assim que, por descuido, todo entregue ao seu delírio, perdeu

a onda... e caiu nesta página."

Na publicação, eram abordados assuntos de interesse dos próprios sócios,

como a programação da Rádio Sociedade, incluindo os cursos e as palestras, e

o resumo de muitos deles, balanço das atividades, criação de novas rádios,

temas técnicos de radiotelefonia, notas sobre artistas e cantores. Trazia ainda

alguns artigos de interesse da comunidade científica, como é o caso da

homenagem feita a Madame Curie na Academia Brasileira de Ciências162.

A revista Sciencia e Educação foi iniciada em fevereiro de 1929, sob

direção de Adalberto Menezes de Oliveira, gerência de J.S. Sardinha e com

redação de Eduardo de Brito e Cunha. No editorial do primeiro número, não há

162 Electron, n. 16, 16/set./1926. p. 1, 4 e 5.

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110

dúvida de que o objetivo da revista é a divulgação científica, articulada com a

questão educacional:

"O título Sciencia e Educação escolhido para nortear os esforços

dos fundadores desta revista indica com clareza o ideal que os

anima e o problema que os empolga.

Queremos pugnar pelo desenvolvimento da cultura científica e da

educação do povo brasileiro, evidentemente imperfeita ainda hoje

sob muitos pontos de vista. Procuraremos chamar a atenção dos

nossos compatriotas para os progressos mais recentes da Ciência

e para todos os problemas que direta ou indiretamente se

relacionam com a Educação Nacional visada nos seus múltiplos

aspectos.

Todo o brasileiro de certa cultura tem já gravada na consciência a

verdade indiscutível que o primeiro dever do nosso patriotismo

consiste em concorrer para a grande obra, apenas esboçada por

alguns espíritos superiores, da difusão da Instrução pelo país e da

formação moral de um povo digno da civilização atual da parte

mais seleta da humanidade, – por meio da Educação.

Nós, brasileiros, não nos iludamos, achamo-nos, ainda, mau grado

nosso, afastados daquelas grandiosas culminâncias atingidas já

pelos leaders da grande civilização ocidental. E há de ser pela

imprensa, pelo livro, pela palavra enfim, escrita ou falada, que

poderemos espalhar pelo país as diretrizes de uma mentalidade

que venha a ser comparável a desses povos que são o orgulho da

humanidade.

Espíritos existem (e hoje até faz isso escola pelo país), que

cultivam a doutrina enganadora do auto-elogio. Para esses, a única

maneira de expandir patriotismo consiste na constante afirmação

Page 111: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

111

da superioridade brasileira. Exageros dessa espécie devem ser

combatidos pelo prejuízo que acarretam. Basta um exame da

cultura européia, um breve exame, superficial, para que ninguém

possa, em sã consciência se entregar a ilusões desse quilate.

Cumpre-nos, ao contrário, mostrar sinceramente aos nossos

compatriotas, aqueles sobretudo que por motivos independentes

da sua boa vontade, jamais daqui saíram e não puderam comparar,

que se sente na Europa, na América do Norte, em todos os países

adiantados, um tácito desafio ao povo brasileiro em formação,

relativo à sua capacidade de desempenhar o papel histórico que

lhe impõem oito milhões de quilômetros quadrados que lhe

couberam na partilha da terra.

A posse deste vasto território, o aproveitamento das suas riquezas,

ser-nos-ão sem dúvida, disputados, se num dia de dificuldades

para os fortes e de fraqueza para nós, vier a ser evidente não nos

acharmos na altura de os explorar e governar.

Nesse dia, a força da nossa reação e a evidência que somos um

povo soberano resultarão do capital que tivermos acumulado em

preparo científico e em valor moral. Ordem e progresso são

objetivo que só alcançam com o apoio da Educação e da Ciência.

Nossa revista dará calorosa acolhida a todos aqueles que queiram

emprestar as luzes do seu espírito e os dotes do seu caráter ao fim

patrótico a que se destina.

Trabalharemos pois pela divulgação da Ciência em todos os seus

ramos e pelo progresso do ensino nos seus diversos aspectos,

superior, secundário e primário, sem esquecer o desenvolvimento

do ensino técnico e profissional.

Page 112: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

112

A capacidade de apreensão mental do povo brasileiro, a

penetração do seu espírito, já tem surpreendido a notabilidades

estrangeiras que nos visitam. As sementes encontrarão, portanto,

preparado, o solo onde deverão germinar.

Eis aí lançado o nosso ideal. Trabalharemos por ele, auxiliados

pelo apoio certo daqueles, que, mais autorizados que nós, só

precisam de elementos coordenadores e propagadores da sua

capacidade e do seu talento. E, se conseguirmos ir avante,

teremos a grande satisfação interior de havermos dado também um

passo para o progresso do Brasil."

Nesse primeiro número de Sciencia e Educação, Vicente Licínio Cardoso

faz um apelo para atrair novos sócios para a Associação Brasileira de Educação,

que então presidia. A ABE perdera dois meses antes alguns de seus mais

valiosos elementos no acidente do hidroavião Santos Dumont. A primeira edição

traz ainda um artigo assinado por Miguel Ozorio de Almeida, em homenagem a

Amoroso Costa.

A equipe de Sciencia e Educação publica artigos como "Os raios cósmicos

e o ciclo do universo", "A vacina contra febre amarela", "A reforma do ensino", "A

Universidade do Rio de Janeiro e a criação da Faculdade de Ciências", "As

universidades estaduais", "A ciência brasileira na Europa", "Influência dos

componentes do ar sobre a vida animal", "Santos Dumont e os irmãos Wright (a

verdade histórica)", "Os minerais de ferro", "A influência da radiotelegrafia sobre

o progresso da ciência", "O relativismo de Einstein para todos", "As nossas

forças hidráulicas e a evolução da indústria hidrelétrica no Brasil", "As ondas

curtas" e "O primeiro congresso de eugenia".

Alguns boletins e revistas de caráter científico ou técnico também deram

espaço para a divulgação científica. Um deles foi o Boletim da ABE que teve sua

primeira edição em setembro de 1925, com tiragem de 1.500 exemplares e

distribuição gratuita.

Page 113: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

113

Outro exemplo é a Revista da Sociedade Brasileira de Ciências, cujo

primeiro volume é publicado em 1917, na qual a seção "Notas e informações"

tinha caráter de divulgação científica. Eram notícias curtas baseadas em

novidades científicas publicadas em revistas estrangeiras, a maioria das quais

escritas por Morize. Após terem sido publicados três números, sendo o último

referente a 1919, a publicação muda de nome em janeiro de 1920, passando a

chamar-se Revista de Sciencias. Projetada para circular bimestralmente, só

consegue fazê-lo nas três primeiras edições, sendo reunidos em um só fascículo

os números referentes ao segundo semestre daquele ano. Em 1921, surgiu o

Complemento do V ano, voltando a ser Revista de Sciencias em 1922, já tendo

como subtítulo ser "órgão da Academia Brasileira de Ciências". A ABC ficou sem

seu veículo imprenso de 1923 a 1925; em 1926, surgiu a Revista da Academia

Brasileira de Ciências, que sobrevive apenas dois números. Em 1929,

apareceram os Annaes da Academia Brasileira de Ciências.163

Entre as publicações mais técnicas, localizamos ainda Radiocultura164, que

se revelou muito específica para o público de radioamadores. Exemplos de

artigos são "Modo de emprego da válvula transmissora Phillips" e " Um circuito a

3 válvulas para corrente alternada".

Eu sei tudo, que se apresenta como um resumo das principais revistas do

mundo, é um exemplo de revista de variedades que contém notícias

relacionadas à ciência, possuindo até mesmo seções especificamente

orientadas para o assunto, como "A ciência ao alcance de todos" e "Tudo se

explica". Era mensal e foi criada, em 1917, pela Editora Americana. Trazia

artigos publicados em revistas estrangeiras e outros escritos no país, abordando

assuntos gerais (informações diversas, curiosidades, literatura, ciência etc.),

com textos muito curtos.

163 PAIM, Antonio. O neopositivismo no Brasil. Período de formação da corrente.

In: AMOROSO COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e

outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 57.

164 Analisamos apenas uma edição de Radiocultura (ano 2, n. 17, 15/out./1929).

Page 114: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

114

Entre os assuntos relacionados à ciência, Eu sei tudo publicou artigos

sobre cirurgia moderna, energias do corpo humano, o espaço e o tempo,

estrelas cadentes e a origem de algumas invenções (submarino, telégrafo aéreo,

telégrafo sem fio, máquina a vapor, locomotiva, automóvel etc.).

O positivismo é tema também abordado na revista, em artigo de Reis de

Carvalho, que defendia:

"O positivismo não é somente uma religião científica, é também e

principalmente uma religião de amor, mas de amor que se

harmoniza com o saber e com o trabalho. Satisfaz assim todas as

aspirações das almas eleitas do passado e do presente em que

esse passado revive e realiza afinal a felicidade do homem na

Terra, o verdadeiro paraíso, combinando a ciência com a indústria,

sob o ascendente da fraternidade universal." 165

Outro artigo, "Os limites da ciência"166, sem identificação do autor, levanta

várias questões que a ciência não havia conseguido resolver, por exemplo

encontrar uma explicação para a origem da vida.

Destacamos ainda a publicação Mensário Bibliográfico, publicação da

Livraria Científica Brasileira, que abrigou a Rádio Sociedade e pertencia a Carlos

Sussekind de Mendonça, também envolvido em atividades de divulgação

científica, por exemplo na revista Radio. Além de trazer a listagem dos títulos

publicados pela editora, Mensário Bibliográfico dedicava-se ao trato das questões

relativas ao livro no Brasil:

"Contando com a colaboração dos nomes mais representativos do

nosso meio intelectual, o Mensário Bibliográfico não é apenas um

165 CARVALHO, Reis. O que é positivismo. Eu sei tudo. Rio de Janeiro: Editora

Americana. vol. 5. 1921. p. 195-196.

166 Eu sei tudo. Rio de Janeiro: Editora Americana. vol. 5. 1921. p. 252.

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115

anúncio da livraria que o edita. É um intermediário geral entre todas

as livrarias do Brasil e o público."167

Ao longo de toda a década, jornais diários, em maior ou menor grau, mas

sem orientação e cobertura sistemática, abriram espaço para notícias

relacionadas à ciência. Eventos marcantes, como a visita de cientistas

estrangeiros, catalisavam esse interesse esporádico. Por exemplo, a visita que o

físico Albert Einstein fez ao Brasil, de 4 a 12 de maio de 1925, foi amplamente

divulgada pela jornais cariocas, entre eles O Jornal, Jornal do Brasil, O

Imparcial, A Noite, Jornal do Commercio e Gazeta das Notícias.168 Já em 21 de

março de 1923, dia anterior da passagem de Einstein pelo RJ, O Jornal dedicou

quase duas páginas inteiras para discutir a relatividade e suas conseqüências

físicas. Relata Moreira:

"Três artigos muito bons, da lavra de Roberto Marinho, Teodoro

Ramos e Lélio Gama, apresentam a teoria aos leitores e discutem

o significado das medidas experimentais realizadas em Sobral."169

Alguns opositores das idéias de Einstein, como Gago Coutinho170 e Licínio

Cardoso, também deixaram seus registros nos jornais diários. Esse último,

167 Mensário Bibliográfico - Publicação da Livraria Scientífica Brasileira, ano i, 25

nov./1923. p. 10.

168 VIDEIRA, Antonio Augusto Passos, MOREIRA, Ildeu de Castro,

MASSARANI, Luisa. Einstein no Brasil: O relato da visita pela imprensa da

época, Rio de Janeiro: Observatório Nacional, 1995. MOREIRA, Ildeu de Castro,

VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (eds.). Einstein e o Brasil, Rio de Janeiro:

Editora UFRJ, 1995.

169 MOREIRA, Ildeu de Castro. A recepção das idéias da relatividade no Brasil.

In: MOREIRA, Ildeu de Castro, VIDEIRA, Antonio Augusto Passos (eds.).

Einstein e o Brasil, Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995. p. 183.

Page 116: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

116

positivista reconhecido, escreveu o artigo "Relatividade Imaginária"171, no qual

criticou duramente a relatividade. A teoria ocupou também páginas da Revista

Brasileira de Engenharia, publicação mensal iniciada em 1920, que contou com

artigos de Roberto Marinho de Azevedo, Amoroso Costa, Painlevé, entre

outros.172

O Jornal dedicou diariamente um espaço de suas páginas – "O dia de

Einstein" – para relatar minuciosamente as pessoas com que Einstein se

encontrou, as instituições que visitou e até o que comeu, o que valeu a

manchete "Einstein comeu, hontem, vatapá com pimenta"173. De forma mais

discreta, a imprensa relatou também, em 1926, a visita de Marie Curie ao Brasil.

Na década de 20, publicaram-se também vários livros voltados para a

divulgação da ciência, entre eles: Introdução à teoria da relatividade174, escrito por

Amoroso Costa e publicado em 1922, cerca de seis anos após a elaboração da

teoria por Einstein; As idéias fundamentais da matemática175, também de

Amoroso Costa; Conceito atual de vida176 e Seixos Rolados177, de Edgard

Roquette-Pinto; O Neo-relativismo einsteiniano, do capitão-tenente Carlos Penna

170 O Jornal, 6 de maio de 1925. p. 1 e 2.

171 O Jornal, 16 de maio de 1925. p. 2 e 4.

172 PAIM, Antonio. O neopositivismo no Brasil. Período de formação da corrente.

In: AMOROSO COSTA, Manoel. As Idéias Fundamentais da Matemática e

outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Editora Convívio/EDUSP, 1981. p. 39-63.

173 O Jornal, 8 de maio de 1925. p. 5.

174 Livraria Científica Brasileira, Rio de Janeiro, em 1922.

175 Pimenta de Melo, Rio de Janeiro, em 1929.

176 Livraria Científica Brasileira, Rio de Janeiro, em 1922.

177 Sussekind & Mendonça, Machado & Cia, Rio de Janeiro, em 1927.

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117

Botto178; Homens e coisas da sciencia179 e A mentalidade científica no Brasil180,

de Miguel Ozorio de Almeida. Entre os livros traduzidos, destacamos os de Henri

Poincaré, como O valor da ciência181.

Ainda na linha editorial, é importante registrar que foram criadas algumas

coleções científicas, como a Biblioteca de Filosofia Científica, dirigida por Pontes

de Miranda, da Livraria Garnier, na qual publicou-se O valor da sciencia. Outro

exemplo é a Coleção Cultura Contemporânea, dirigida por Afrânio Peixoto, da

Livraria Científica Brasileira.

O livro inaugural da Coleção Cultura Contemporânea foi Conceito atual da

vida, de Roquette-Pinto, lançado em 1922. Há registro ainda de que seriam

incluídos os livros Einstein e a teoria da relatividade, de Amoroso Costa, que

acreditamos ser Introdução à teoria da relatividade, publicado pelo mesmo autor e

na mesma editora, e Nosso céu, de Henrique Morize, que até hoje não

localizamos. O já citado A mentalidade científica do Brasil, de Miguel Ozorio de

Almeida, também saiu nesta coleção.

No texto de apresentação da coleção, em Conceito atual da vida, Afranio

Peixoto escreveu:

"Livraria Científica Brasileira (...) cumpre agora outro de seu

programa, o de inaugurar uma pequena – que será grande! –

Biblioteca de "Cultura Contemporânea", em que bons obreiros da

ciência pátria vão semeando e colhendo todas as idéias boas e

novas, necessárias à instrução e educação de nosso povo, pão

para a alma, tão urgente como o outro com que as nações se

fazem fortes e felizes pelo conhecimento, que só ele traz a fortuna

e a tranqüilidade. (...)"

178 Imprensa Naval, Rio de Janeiro, em 1923.

179 Editora Monteiro Lobato, São Paulo, em 1925.

180 Livraria Científica Brasileira, Rio de Janeiro, em 1922.

181 Livraria Garnier, Rio de Janeiro, em 1924.

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118

Miguel Ozorio de Almeida era um defensor de que fossem produzidos livros

brasileiros relacionados à ciência. Em 1925, ele dizia:

"Uma das primeiras necessidades da literatura científica é o

ensino. No Brasil, não existe ainda literatura organizada nesse

sentido. Há alguns raros tratados de uma ou outra ciência. Muitas

matérias ou mesmo a maioria delas ainda não possuem o seu

representante brasileiro. Até aqui os estudos de ciência têm sido

feitos com o auxílio de livros estrangeiros. Entre estes, têm

ocupado o primeiro lugar os livros franceses. A criação de uma

literatura brasileira destinada ao uso de nossos estabelecimentos

de ensino só teria vantagens. Em primeiro lugar, há de se tomar

em consideração as tendências de espírito que são peculiares a

cada povo. Muitas dificuldades que são encontradas pelo

estudante brasileiro na leitura dos livros europeus provêm dos

hábitos próprios de raciocínio, das características de mentalidade

que são diferentes e mesmo da própria organização dos estudos

que é diversa."182

Ele defendia ainda que, "ao lado da literatura didática, poderia ser colocada

a literatura de vulgarização, também praticamente não existente entre nós",

enfatizando que "as vantagens de compor uma série de livros que despertem o

interesse geral para as coisas científicas são evidentes".183

As conferências da Associação Brasileira de Educação

182 OZORIO DE ALMEIDA, Miguel. Homens e coisas de ciência. São Paulo:

Editora Monteiro Lobato, 1925. p. 179.

183 Ibid. p. 180.

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119

Investigamos também conferências relacionadas à difusão científica na

década de 20 e consideramos que as principais foram realizadas pela

Associação Brasileira de Educação, entre 1926 e 1929.184 Elas foram apoiadas,

em muitos casos, pelo Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura. Eram

semanais e totalizaram cerca de 50 por ano, entre cursos, palestras e

conferências, possibilitando apresentações de muitos dos cientistas e

acadêmicos da época, além de estrangeiros como Marie Curie, Rivet e

Langevin. Cobriam assuntos científicos muito variados, com graus diferentes de

aprofundamento; transitavam de temas muito especializados para exposições

destinadas a pessoas leigas. Recebiam boa afluência de público, sendo

anunciadas em jornais cariocas e tiveram Amoroso Costa como um dos

principais organizadores.

Os cursos e os ciclos de palestras de alta cultura e especialização eram de

responsabilidade da Seção de Ensino Técnico e Superior da ABE e ocorriam na

Escola Politécnica. Foram iniciados em 1925, quando a Seção era presidida por

Labouriau. Carlos Américo Barbosa de Oliveira avaliou:

"Esta iniciativa veio em boa hora mostrar que o estudo sério de

questões diversas já encontra aqui um numeroso e intenso

auditório.

Não há muitos anos atrás, teria sido seguramente arrojada uma

tentativa como esta, que está se realizando, e dificilmente teria sido

levada a bom termo. Só eram, então, possíveis conferências mais

ou menos fúteis. A nossa mentalidade, positivamente, evoluiu, e

hoje os cursos de alta cultura e de especialização, promovidos pela

Seção de Ensino Técnico e Superior, têm um auditório assíduo de

184 Há referência explícita que tais conferências tinham propósito de divulgação

científica. Exemplo disso está no discurso feito por Carlos Américo Barbosa de

Oliveira, quando transmitiu o cargo de presidente da ABE, em 22/4/1927

(Boletim da ABE, ano III, n. 10, jan.-fev./1927).

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120

cerca de uma centena de pessoas. É de notar que não é o mesmo,

o auditório, para os diversos cursos, de modo que há umas três a

quatro centenas de ouvintes para os diversos cursos.

Estão, assim, lançados os fundamentos de uma atividade

intelectual sem dúvida interessante."185

Em 1928, Amoroso Costa fez a seguinte avaliação dos cursos e das

conferências, que, segundo ele, logravam grande êxito:

"(...) Eles não se destinam apenas a divulgar tais ou quais

conhecimentos, por muito úteis ou interessantes que estes sejam;

sua finalidade superior consiste em despertar o gosto pelos

estudos de toda a ordem e em criar um ambiente favorável ao

desenvolvimento desses estudos. Nós não nos limitamos a afirmar

a necessidade de ser resolvido o nosso angustioso problema

universitário: o sucesso dos cursos que temos realizado equivale a

uma verdadeira demonstração experimental de que se tornou

indispensável a criação de uma universidade digna desse

nome."186

Poucos meses antes, o matemático publicara artigo em O Jornal, no qual

abordava o mesmo assunto:

"Os cursos da ABE estão no seu terceiro ano de funcionamento;

obedecem a um programa eclético e destinam-se a auditórios, os

mais diversos, auditórios que nunca lhes faltaram. Não sei de outra

instituição no Brasil que se possa gabar de haver promovido cursos

185 Boletim da ABE, ano II, jul./1926. p. 5.

186 Discurso pronunciado em sessão do Conselho Diretor da ABE, em 11 de

junho de 1928. Acervo Amoroso Costa/Mast.

Page 121: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

121

sobre assuntos tão variados, desde os que versam sobre questões

de educação doméstica, sobre pedagogia ou metodologia do

ensino, até os de vulgarização científica ou técnica, os de feição

literária, histórica, artística, ou ainda os de extrema especialização.

Percorrendo os seus programas desde 1926, encontra-se uma lista

de nomes prestigiosos e todos os domínios do conhecimento, toda

a escala das coisas que são “a honra do espírito humano”.187

Em nosso estudo, fizemos um levantamento de todas as apresentações

realizadas em 1926, 1927 e 1928188, bem como das previstas para 1929189. No

Anexo 3 desta dissertação, inserimos listagem completa desses eventos,

deixando para abordar aqui alguns aspectos gerais.

Em 1926, foram realizados vários cursos, entre os quais o de Amoroso

Costa sobre as idéias fundamentais da matemática, o de Roquette-Pinto sobre

antropologia e o de Tobias Moscoso sobre as teorias de crescimento

populacional. Euzébio de Oliveira fez conferências sobre a geologia histórica e o

petróleo no Brasil.

As apresentações de 1927 ocorreram de março a novembro e foram

organizadas por Amoroso Costa. Destacamos: Estudos sobre o metabolismo,

Alvaro Ozorio de Almeida; A siderurgia, Labouriau; A física e a vida moderna,

Dulcídio Pereira; As geometrias não-euclidianas, Amoroso Costa; Marés e

problemas correlativos, Alix Lemos; A regulação nervosa da respiração, Miguel

Ozorio de Almeida; A função educadora dos museus, Roquette-Pinto; As

florestas brasileiras, A. J. de Sampaio; O problema social e o distributivismo,

Tristão de Athayde; A evolução moderna da idéia de democracia, Paulo de

187 O Jornal, 23/ago./1928. p. 3.

188 Boletim da Associação Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, ano V, n. 13,

1929. p. 35-36.

189 Sciencia e Educação, ano I, n. 4, maio/1929. p. 6 e 9.

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122

Castro Maya; A estrutura e a evolução do mundo sideral, Amoroso Costa; A

organização universitária e as Faculdades Superiores de Ciências e de Letras,

Alvaro Ozorio de Almeida .

Em 1928, os cursos e as palestras foram organizados por Alvaro Ozorio de

Almeida, que presidia a Seção de Ensino Técnico e Superior, e por Labouriau.

Naquele ano, Amoroso Costa era o presidente da ABE. Destacamos: As

modernas teorias da química, Mario de Britto; Termodinâmica, Abraão

Izecksohn; Hereditariedade, André Dreyfus; As pedras preciosas brasileiras,

Othon Leonardos; É a sexualidade indispensável para a reprodução?, M.

Caullery (Institut de France); A origem do homem e A conquista da força motriz

animal pelo homem, P. Rivet (Musée de Paris); A origem da energia solar e

Ultrasons e suas aplicações, P. Langevin (Collège de France).

Os eventos programados para 1929 foram organizados por Branca Fialho.

A série de conferências foi iniciada por Alvaro Ozorio de Almeida, com a

exposição “O Problema Universitário”, reproduzida em Sciencia e Educação.190

Em artigo sobre os cursos da ABE, a mesma revista comentava: “Os

cursos de alta cultura e de divulgação científica, promovidos pela sessão de

Ensino Técnico e Superior da Associação Brasileira de Educação, despertaram

sempre grande interesse nos nossos meios cultos, dado o brilhantismo das

conferências realizadas nos últimos três anos, sob a direção do professor Alvaro

Ozorio e dos saudosos professores Amoroso Costa e Labouriau.”191

Alguns eventos da programação de 1929: Auroras polares e A alta

atmosfera, Adalberto Menezes de Oliveira; Os animais na religião, Mello Leitão; O

ciclo do carbono na natureza, Julio Cesar Diogo; Poesia sertaneja, Olegario

Marianno; O pH, Carneiro Felipe; Riquezas minerais brasileiras, Ruy de Lima e

Silva; Atmosfera gasosa e seu aproveitamento, Mario Saraiva; Cerâmica de

Marajó, Heloisa Alberto Torres; Possibilidades da química farmacêutica no Brasil,

190 Sciencia e Educação, ano I, n. 5, jun./1929. p. 3-9.

191 Sciencia e Educação, ano I, n. 4, maio/1929. p. 6.

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123

Alfredo Schaeffer; Contribuições à teoria do deslocamento dos continentes,

Alberto Betim Paes Leme.

O rádio

A primazia da radiodifusão no mundo coube à pequena estação KDKA, da

Westinghouse Electric Company, de Pittsburgh (Estados Unidos), que, em 2 de

novembro de 1920, iniciou suas transmissões divulgando o resultado da eleição

presidencial do sucessor de Wilson, Warren Gamaliel Harding.192

Dois anos depois, iniciavam-se no Brasil as primeiras transmissões. Era 7

de setembro de 1922, em meio à comemoração do centenário da independência

política, quando o discurso do presidente Epitácio Pessoa, pronunciado na

Exposição Internacional do Rio de Janeiro, inaugurou as transmissões da SPC,

uma estação de pequena potência. Montada para demonstração no alto do

Corcovado pela Westinghouse Electric International Co. e Cia. Telefônica, a

SPC irradiou conferências (algumas delas sobre higiene feitas por José

Paranhos Fontenelle), palestras e músicas.

Juntamente com a emissora, vieram dos Estados Unidos 80 aparelhos

receptores que foram, sob licença especial, distribuídos a pessoas do Rio de

Janeiro e colocados em praças públicas de São Paulo, Niterói e Petrópolis. Logo

depois de encerrada a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, o transmissor

da SPC foi levado para seu país de origem.

No ano seguinte, nasceu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. E, como

lembra Alvaro Salgado, em poucos lugares o rádio deve ter nascido como no

Brasil: dentro de uma Academia de Ciências!193

192 SALGADO, Alvaro. A radiodifusão educativa no Brasil. Rio de Janeiro:

Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946.

193 Ibid. p. 5.

Page 124: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

124

A chegada do rádio no Brasil gerou uma onda de euforia em alguns meios

educacionais muito similar à que presenciamos com a Internet nesta década e,

anos atrás, com a TV. Acreditava-se, naquele momento, que o rádio seria um

meio barato, rápido e eficaz de democratizar a informação e, assim, educar toda

a nação.

"A radiotelefonia será a maior escola do porvir", profetizava Roquette-Pinto,

no editorial inaugural de Radio194. Dizia ele:

"(...) Nós, que assistimos a aurora da radiotelefonia, temos a

impressão que deveriam sentir alguns dos que conseguiram

possuir e ler os primeiros livros. Que abalo no mundo moral! Que

meio para transformar um homem em poucos minutos, se o

empregarem com boa vontade, com alma e coração!"

Quase três anos depois, Roquette-Pinto mantinha suas crenças:

"(...) Rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem

não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o

animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia

dos sãos, desde que realizado com espírito altruísta e elevado.

Viver no sertão não é mais morrer em vida..."195

Roquette-Pinto foi um dos maiores defensores que o rádio fosse usado

para fins educativos:

"(...) Nada impede que cada cidade do Brasil possua, em um ou

dois anos, outros tantos centros de educação popular, irradiando

para edificação, deleite e instrução da população rural, os

194 Radio, ano I, n. 1, 13/out./1923. p. 1.

195 Electron, ano I, n. 4, 16/mar./1926. p. 1.

Page 125: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

125

conselhos da ciência, as notícias da história nacional, a poesia e a

música (...)"196

Ele afirmava que a radiodifusão permitiria educar, instruir e deleitar os

indivíduos – mesmo aqueles que não soubessem ler – e, por isso, defendia que

o próprio governo deveria dar incentivos para essa atividade:

"No Brasil, o governo facilita a aquisição de instrumentos de

primeira necessidade por parte dos agricultores. Por que motivo

não facilita a aquisição de receptores radiotelefônicos? Não são

gêneros de primeira necessidade? Há por aí pelas fazendas e

matas apetrechos agrícolas, sementes, que foram distribuídos

gratuitamente e lá estão enferrujados ou apodrecendo... porque o

agricultor não tem ainda uma instrução sobre o emprego daquilo.

A radiotelefonia, bem empregada, virá transformar essa tristeza. O

rádio fará o Brasil produzir mais e melhor.

Um sujeito que não gosta de ouvir as lições transmitidas pela Rádio

Sociedade dizia uma vez:

– Dali não se sai nada para que se possa ouvir. Aquilo é uma

escola...

Deus abençoe o descontente."197

A avaliação de Roquette-Pinto nos permite estimar o número de pessoas

atingidas pelos programas difundidos pela Rádio Sociedade, embora ainda não

196 Radio, ano I, n. 19, 15/jul./1924. p. 10.

197 Electron, ano I, n. 3, 1/mar./1926. p. 1.

Page 126: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

126

tenhamos meios, nesta dissertação, para avaliar o real impacto que tais

informações tiveram nos ouvintes:

"Muita gente acredita que o papel educativo do radiofônio é

simplesmente um conceito poético, coisa desejável mas difícil ou

irrealizável. Quem pensa desse modo não conhece o que se está

fazendo no resto do mundo e, o que é melhor, o que se faz no

Brasil.

Há mais de três anos começamos a praticar aqui a telefonia

educativa. Mau grado todas as dificuldades esperadas e

encontradas, já agora temos em mãos documentos que provam a

perfeita possibilidade de executar, no Brasil, um grande plano de

educação e de instrução pública mediante o telefônio sem fios.

Creio que o Brasil tem hoje cerca de 30 mil lares providos de

aparelhos receptores. Cada receptor serve, em média, a meia

dúzia de pessoas. Porque, no interior, pelas provas que possuo,

cada alto-falante é rodeado pela população da vila ou da fazenda.

Há, portanto, umas 150 mil pessoas que ouvem diariamente as

nossas lições, conferências, música, História do Brasil, Higiene,

conselhos úteis à agricultura, notícias cambiais e comerciais, notas

de ciência etc. Se muitos dos ouvintes são pessoas cultas para as

quais aquilo é passatempo, alguns milheiros são homens e

mulheres do povo que, sem saber ler, vão aprendendo um pouco.

Temos tudo feito? Que esperança!

Estamos apenas no início do começo..."198

198 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Seixos rolados. Rio de Janeiro: Edição de

Sussekind & Mendonça, Machado & Cia, 1927. p. 236.

Page 127: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

127

No que intitulou "plano para transformar a mentalidade brasileira", o

etnólogo mapeou como a radiodifusão deveria ser implantada. Segundo ele,

cada estado, na sua capital, deveria fundar uma grande rádio-escola.

Entendimento com o governo, sob os auspícios do governo federal, permitiria a

aquisição das 20 estações necessárias, cuja função seria puramente diretora,

mostrando às cidades do interior o caminho a seguir. Um município seria

escolhido, no qual seria construída a Rádio Escola Municipal:

"Naqueles municípios centrais há sempre um respeitável juiz de

direito, estudioso da História e da Geografia do Brasil. (O seu

sonho dourado é mesmo entrar para o Instituto Histórico...); há um

promotor, moço de talento, que tem garbo em tratar de versos e

literatura e vive pensando na Academia de Letras; há um médico,

ou dois, para as lições de História Natural ou Higiene; há

professoras do grupo escolar... enfim, há sempre um rapaz que

toca harmônio na igreja e muitas moças que cantam. É só mobilizar

todos esses elementos em benefício da educação dos pobres."

(...)

Cada brasileiro, que carece de cultura, deve encontrar no município

meios de possuir seu par de fones e o seu cristal; os municípios

conseguirão facilmente – desde que não se entreguem aos

exploradores e aos malvados– um tipo de receptor local popular

que poderá custar a terça parte de uma sanfona.

O estado dá de graça (de graça é um modo de dizer...) luz elétrica,

água, escola. Pois dará pelo preço de custo, a cada brasileiro, o

seu modesto rádio, em que ele, descalço, até mesmo roto,

esfarrapado, amarelo, mole de doença e de ignorância, aprenderá,

antes de saber ler, que a preguiça é quase sempre doença; (...);

Page 128: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

128

que os povos fortes são hoje em dia os povos que sabem aplicar a

ciência e a arte em melhorar a vida."199

Com relação aos custos, ele afirmava que a estação da Rádio Escola

Municipal custaria muito menos do que o altar-mor da Matriz.

Os programas difundidos na Rádio Sociedade eram variados200. Além de

música (clássica e popular) e informativos, havia inúmeros cursos: inglês,

francês, história do Brasil, literatura portuguesa, literatura francesa,

radiotelefonia e telegrafia etc.

Ministravam-se muitos cursos e palestras de divulgação científica por esse

meio de comunicação, sendo alguns exemplos: mina de ouro (F. Labouriau),

higiene (Sebastião Barroso), estados físicos da matéria, como nascem os rios

(Othon Leonardos), marés (Mauricio Joppert), química (Mário Saraiva), física

(Francisco Venancio Filho) e fisiologia do sono (Roquette-Pinto). Vários deles

tinham sua síntese publicada nas edições da revista Electron. As crianças foram

premiadas com um programa semanal de João Köpke. A Rádio Sociedade

também irradiou conferências de Madame Curie, em sua estada no Brasil201.

Destaque-se ainda as conferências de literatura ministradas por Catulo da

Paixão Cearense.

Só para se ter idéia do número de palestras difundidas pela Rádio

Sociedade, no ano 1928-1929: foram 63, proferidas por Fróes da Fonseca,

Mario Saraiva, Dulcídio Pereira, Carneiro Leão, Bertha Lutz, Labouriau, Alcides

199 ROQUETTE-PINTO, Edgard. Seixos rolados. Rio de Janeiro: Edição de

Sussekind & Mendonça, Machado & Cia, 1927. p. 238.

200 Várias edições de Electron trazem a programação da Rádio Sociedade.

201 Electron, ano I, n. 14, 16/ago./1926. p. 10.

Page 129: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

129

Lintz, Esther Ferreira Vianna, Roquette-Pinto, Rafael Lemos, Alcides Lintz, entre

outros.202

Há registros ainda de que os cursos da ABE iriam ser irradiados pela Rádio

Sociedade203, segundo ata de 4 de junho de 1926 daquela instituição, mas não

localizamos na programação da rádio menção explícita que confirmasse isso.

O cinema educativo

Outro veículo de comunicação usado para divulgação científica – embora

mais orientado para a educação científica – foi o cinema. Levi Fernandes

Carneiro, ex-presidente da ABE, defendia que esse veículo fosse usado

conjuntamente com o rádio, de forma que se complementassem:

"Neste país de imensas distâncias territoriais, de população

rarefeita, e em larga proporção analfabeta, avultando os adultos

destituídos de toda a instrução; sofrendo terrível carência de

professores capazes; para nós esses dois meios maravilhosos

devem constituir a base da solução do grande problema

nacional."204

202 Aniversário da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro - Seis anos de rádio-

educação. Sciencia e educação, Rio de Janeiro: Typ. B. de Souza Carmo, n. 4,

maio/1929, p. 16-17.

203 Apud SALGADO, Alvaro. A radiodifusão educativa no Brasil. Rio de

Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946. p.

35.

204 CARNEIRO, Levi Fernandes. A educação do povo pela Radio-diffusão e pelo

cinema. Sciencia e educação, Rio de Janeiro: Typ. B. de Souza Carmo, n. 5,

jun. 1929, p. 12.

Page 130: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

130

O cinema educativo iniciou-se nos EUA, na França, na Alemanha e na Itália.

Neste país, criou-se, em 1927, o Instituto Internacional de Cinematografia

Educativa, organização de cooperação internacional com verba do governo

italiano.

No Rio de Janeiro, a reforma de 1928 no setor da educação realizada por

Fernando de Azevedo, que assumiu a Secretaria de Instrução Pública do Distrito

Federal em 1926, determinou a existência de salas de projeção de filmes para fins

educativos nas escolas brasileiras. 205

No ano seguinte, realizou-se a Exposição de Cinematografia Educativa,

marco nacional para o início dessas atividades. Mas, em 1930, Jonathas Serrano

e Francisco Venancio Filho, defensores do cinema educativo, afirmariam:

"A verdade é que o cinema educativo até agora não teve, em

nosso país, organização sistemática, plano definitivo, com recursos

capazes de lhe garantir perfeito êxito.

Não basta reconhecer e proclamar o valor educativo do cinema,

nem tampouco inserir em leis e regulamentos disposições

referentes ao assunto. Para aplicar de fato o cinema à educação

nacional (propositalmente dizemos educação e não apenas

instrução), cumpre resolver toda uma série de problemas

preliminares. "206

205 AZEVEDO, Fernando (ed.). As Ciências no Brasil. 2 vol., Rio de Janeiro:

Editora da UFRJ, 1995. SERRANO, Jonathas, VENANCIO FILHO, Francisco.

Cinema e Educação. São Paulo: Comp. Melhoramentos de São Paulo, 1930.

206 AZEVEDO, Fernando (ed.). As Ciências no Brasil. 2 vol., Rio de Janeiro:

Editora da UFRJ, 1995. SERRANO, Jonathas, VENANCIO FILHO, Francisco.

Cinema e Educação. São Paulo: Comp. Melhoramentos de São Paulo, 1930. p.

33.

Page 131: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

131

O Instituto Nacional do Cinema Educativo foi criado em 1936 por sugestão

do ministro Gustavo Capanema e dirigido por Roquette-Pinto. A partir dessa data,

realizaram-se vários filmes com fins educativos e também de documentação

científica, técnica e artística, incluindo temas como prevenção e tratamento de

doenças, costumes, plantas, animais. Na área de física, há, por exemplo, filmes

sobre hidrostática, propriedades gerais da matéria e alavancas207. Há registros

ainda de filmes sobre as pesquisas de Cardoso Fontes (morfogênese das

bactérias), Vital Brazil (ofidismo), Evandro Chagas (leishmaniose americana),

Miguel Ozorio (fisiologia nervosa), Carlos Chagas Filho (peixe elétrico e cultura de

tecidos in vitro), Dutra e Silva (choque elétrico no tratamento de psicopatas) e

Maurício Gudin (cirurgia asséptica), fazendo parte do que Roquette-Pinto

considerou como "arquivo palpitante da inteligência do Brasil"208. Mas como essa

atividade só se intensificou na década de 30 estendendo-se aos anos seguintes,

não entraremos em maiores detalhes sobre isso nesta dissertação.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA

DÉCADA DE 20

Comparando-se as atividades de divulgação científica na década de 20 com

aquelas realizadas no final do século anterior, por exemplo, percebe-se que

estavam voltadas mais para a difusão de conceitos e conhecimentos da ciência

pura e menos para a exposição e a disseminação dos resultados das aplicações

técnicas dela resultantes. Na década de 20, a motivação principal para a atividade

era criar condições para o desenvolvimento da pesquisa básica no país.

207 ANTONACCI, Maria Antonieta. Trabalho, cultura, educação: Nova Escola e

Cinema educativo nos anos 1920/1930. Projeto História, São Paulo: PUC/SP,

n. 10, dez./1993. p. 147-165.

208 ROQUETTE-PINTO, Edgard, O cinema educativo no Brasil, Revista da

Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras,

vol. 68, ano 43, jul.-dez./1944, p. 280.

Page 132: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

132

Tomemos como exemplo a série de conferências realizada nos dois

momentos históricos: cerca de 2/3 dos eventos promovidos pela ABE referem-se

a domínios de ciência pura, enquanto que essa proporção cai para menos de

15% nas Conferências Populares da Glória. Couty, no final do século XIX,

acreditava que o Brasil, "tão instruído e culto", estava passando por uma "fase

de transição em que os estudos científicos puramente teóricos e especulativos

tornam-se práticos e experimentais".209 A divulgação científica deste período

carregava as marcas da visão de ciência predominante: enfatizavam-se os

aspectos aplicados. Até a tentativa de se criar cursos científicos (ciências físicas

e naturais; ciências físicas e matemáticas) na Escola Politécnica, por exemplo,

em 1874, não se consolidaria e eles seriam extintos alguns anos depois, em

1896.210

Uma outra característica distintiva das ações de divulgação científica na

década de 20 é que elas começaram a ser mais organizadas e passaram a ter a

participação de destacados cientistas e acadêmicos do Rio de Janeiro, o que

reflete a importância que eles lhes atribuíam.

O sentimento de nacionalidade também marcou bastante o conteúdo das

atividades de divulgação científica da época, em particular no que se refere a

Roquette-Pinto, que buscava valorizar o homem brasileiro. Essa preocupação

nacionalista estava particularmente manifesta nas campanhas pela educação

ampla e aparece, por exemplo, retratada neste discurso de Carneiro:

"Vai agora, por todo o país um movimento intenso em prol da

educação, que há de produzir benefícios incalculáveis. Mas, talvez,

não se tenha cuidado ainda, como urge, dos adultos; de milhões de

209 Apud LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica - os

museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997. p.

157.

210 FERREIRA, Luiz Otávio. As Origens da Academia Brasileira de Ciências.

Ciência Hoje. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência, vol. 16, n. 96, p. 32-36, dez./1993. p. 34.

Page 133: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

133

homens, isolados da vida nacional, emparedados na ignorância,

distantes de todos e de tudo.

A esses o que precisamos meter – pelos olhos a dentro, pelos

ouvidos a dentro – de modo conciso, sintético, completo, os

ensinamentos de que precisam, o sentimento de nacionalidade a

que pertencem, o apreço e o conhecimento da terra em que vivem.

Alguns traços de geografia e de história; um pouco de vida nacional

do momento; noções práticas de pecuária ou de agricultura, tudo

mediante o rádio – na rápida e extensa difusão de ensinamentos

que só ele permite."211

No que se refere aos quatro personagens destacados nesta dissertação, o

conteúdo transmitido era de boa qualidade científica e bastante atualizado. Em

particular no caso dos escritos de Amoroso Costa, era, em geral, de apreensão

mais difícil. Aparentemente, destinava-se prioritariamente a um grupo de

pessoas ilustradas e bem situadas socialmente. O material veiculado pela Rádio

Sociedade constituía uma exceção a isso, já que, pelo menos na intenção,

direcionava-se para todas as camadas sociais, inclusive aos analfabetos. Apesar

desses bons propósitos, é provável que o êxito de alguns cursos radiofônicos,

como o de física e o de química, tenha sido bastante limitado. Destaque-se que

não foi possível mensurar, neste trabalho, o impacto e a repercussão dessas

atividades de divulgação científica. Essas conseqüências poderiam ser

avaliadas, por exemplo, se dispuséssemos de maiores informações sobre a

influência exercida na opinião pública ilustrada e sobre a arregimentação de

novos discípulos para as hostes da ciência.

O caráter da divulgação realizada nos anos 20 era ainda fragmentado e

lacunar, reflexo direto da situação ainda muito frágil do meio científico de então.

Como os conteúdos veiculados diziam respeito, em geral, à especialidade do

211 CARNEIRO, Levi Fernandes. A educação do povo pela Radio-diffusão e pelo

cinema. Sciencia e educação, Rio de Janeiro: Typ. B. de Souza Carmo, n. 5,

jun. 1929, p. 12.

Page 134: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

134

cientista, que era o agente do processo de comunicação, muitas áreas do

conhecimento ficaram a descoberto, por causa do número reduzido de pessoas

atuantes.

ESTUDOS COMPARATIVOS

Os estudos comparativos da difusão científica em países e culturas

diversas têm despertado bastante interesse em anos recentes, sendo, a nosso

ver, uma linha de investigação muito promissora para os estudos sobre a

divulgação científica. Seguindo essa linha de abordagem, será interessante

examinar também se existiu ou não em outros países um comportamento similar

ao ocorrido no Brasil, com seus surtos de intensidade variada. Embora este

capítulo tenha se voltado para a década de 20, nas considerações abaixo não

nos restringiremos a ela, já que nos interessa explorar uma perspectiva histórica

mais ampla.

Embora não tenhamos produzido um estudo comparativo minucioso, o que

demandaria com certeza a realização de uma nova dissertação, vamos expor,

no que se segue, o resultado recolhido em diversas fontes referentes a aspectos

históricos da divulgação científica em outros países. Um ponto marcante, que

decorre preliminarmente dessas análises, é a constatação do crescente caráter

globalizante da ciência e das ações de divulgação, especialmente a partir da

segunda metade do século XIX. Isto pode ser percebido nos surtos de

desenvolvimento acentuado da divulgação científica, que ocorrem de forma mais

ou menos concomitante em vários países.

Raichvarg e Jacques212 realizaram trabalho meticuloso e inteligente sobre

a situação francesa. A existência de ciclos de atividades mais intensas de

divulgação científica na França, na segunda metade do século XIX e na década

de vinte deste século, pode ser ali ser encontrada, coincidindo aproximadamente

com os ciclos que relatamos para o Brasil.

Do mesmo modo que aqui, na segunda metade do século passado, as

atividades de divulgação enfatizavam assuntos relacionados à ciência aplicada.

Na França, no entanto, começou a surgir naquele período a figura dos

212 RAICHVARG, Daniel, JACQUES, Jean. Savants et ignorants - une histoire de la

vulgarization des sciences. Paris: Éditions du Seil, 1991.

Page 135: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

135

divulgadores especializados, o que não ocorreu no Brasil. Também a ficção

científica, tendo Júlio Verne como paradigma, atingiu ali dimensões relevantes.

O movimento pela ciência pura teve também papel de destaque naquele

país a partir do final da Primeira Guerra Mundial. Cientistas como Marie Curie e

Langevin, que estiveram no Brasil na década de 20, perceberam a importância

da educação e da divulgação científicas para a institucionalização da pesquisa

básica. Deve-se enfatizar ainda as atividades de divulgação do físico Jean

Perrin, iniciadas nos anos 10 e que se estenderam por décadas, tendo sido ele o

criador do Palais de la Découverte no final dos anos 30, um dos primeiros

museus de ciência com características interativas.

No mesmo ano em que a Rádio Sociedade era criada, expandia-se na

França o uso do rádio na educação e divulgação científicas. Nesse sentido, o

divulgador Baudry de Saunier escreveu:

"O papel que pode desempenhar a T.S.F. na instrução popular é

verdadeiramente enorme... Pode-se conceber muito bem cursos

gerais sobre física, química, eletricidade ou qualquer outro

assunto."213

No que se refere ao uso do audiovisual na divulgação científica, seu

principal estimulador foi Jean Painlevé, filho do matemático Paul Painlevé. Ele

foi o fundador do Institut de Cinématographie Scientifique, em 1930, seis anos

antes do similar brasileiro.

A influência cultural francesa no Brasil, intensa até a Segunda Guerra

Mundial, certamente terá contribuído para esse sincronismo entre os dois

países. De fato, parece que os surtos brasileiros ocorrem com ligeira defasagem

temporal, em alguns casos, o que talvez seja reflexo do grau de dependência

científica e tecnológica em relação aos países mais desenvolvidos.

213 Apud Ibid. p. 166.

Page 136: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

136

Estudo menos extenso do que o de Raichvarg e Jacques, mas de boa

qualidade, foi feito por Carle e Guédon214 sobre o Canadá que, embora tivesse

cenário bastante peculiar, apresentou algumas similaridades com o Brasil.

Também naquele país as atividades intensificaram-se na segunda metade do

século passado, envolvendo publicações e ciclos de conferências. Segundo os

autores, por motivos não muito bem compreendidos, tais atividades reduziram-

se consideravelmente ao final do século, retomando sua intensidade na década

de 20.

Em dois estudos distintos, Alamilla215 e Garcia216 mostraram que a

divulgação científica no México iniciou-se ao longo do século XVIII, momento em

que alguns intelectuais – que obtiveram seus conhecimentos praticamente de

maneira auto-didata ou em estudos na Europa – acreditavam que a ciência

elevaria os níveis de vida da população de seu país e, assim, tentaram difundir

idéias científicas. Conforme Alamilla, quando a elite ilustrada reconheceu sua

função difusora de conhecimentos úteis para atualizar a sociedade, a imprensa

passou a ser um fórum de discussão e confrontação entre os cientistas

214 CARLE, Paul, GUÉDON, Jean-Claude. Vulgarization et développement des

sciences et de techniques - les cas du Québec (a1850-1950). In: JACOBI,

Daniel, SCHIELE, Bernard (orgs.). Vulgariser la science - Le procès de

l’ignorance. Seyssel: Editions Champ Vallon, 1988.

215 ALAMILLA, Silvia Torres. A popularización de la ciencia en México a través

de algumas publicaciones periódicas al final del siglo XVIII e inicio del siglo XIX.

V CONGRESSO LATINO AMERICANO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA

TECNOLOGIA, 1998. Rio de Janeiro.

216 GARCIA, Alberto Saladino. Ciencia y prensa durante la Ilustración

Latinoamericana. Cidade do México: Universidad Autónoma do Estado do

México, 1996.

Page 137: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

137

ilustrados.217 Além disso, em particular no final daquele século, as notícias de

informação científica e técnica tiveram função educativa e atualizadora do

público não especialista. Esses autores não discutiram essas atividades

divulgadoras nos séculos XIX e XX.

Mendoza218, embora não tenha como preocupação traçar um quadro geral

da divulgação científica na Argentina, apontou uma intensificação das atividades

no final do século passado. Desde a década de 20 do século passado os

argentinos passaram a contar com uma universidade, sendo que ela foi

reestruturada cerca de 40 anos depois. No início deste século, formou-se uma

tradição científica nacional, associada ao movimento de valorização da ciência

básica, o que facilitou e ampliou a difusão científica.

Para López219, ao contrário da Europa, onde estavam presentes

divulgadores científicos profissionais – como Louis Figuier e Camille Flammarion

para o caso francês e Emilio Huclin para o caso espanhol –, na América Latina

foram os próprios cientistas que se comprometeram com o movimento

divulgador ao longo do século XIX. Isso favoreceu o surgimento de um espaço

público para a ciência, o que colaborou para se obter uma série de êxitos

217 ALAMILLA, Silvia Torres. A popularización de la ciencia en México a través

de algumas publicaciones periódicas al final del siglo XVIII e inicio del siglo XIX.

V CONGRESSO LATINO AMERICANO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA

TECNOLOGIA, 1998. Rio de Janeiro.

218 MENDOZA, Celina Lértora. La ciencia nacional en las revistas de difusión

científica - Argentina: 1880-1920. In: ARBOLEDA, Luis Carlos, OSORIO, Carlos

(eds.). Nacionalismo e internacionalismo en la Historia de las Ciencias y la

Tecnología en América Latina. Cali: Universidad del Valle. p. 375-389.

219 LÓPEZ, Leoncio. La divulgación científico-técnica en la prensa de América

Latina durante el siglo XIX: Estado de la cuestión y estrategias de investigación.

In: ARBOLEDA, Luis Carlos, OSORIO, Carlos (eds.). Nacionalismo e

internacionalismo en la Historia de las Ciencias y la Tecnología en

América Latina. Cali: Universidad del Valle. p. 391-398.

Page 138: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

138

científicos em diversos países de nosso continente no princípio do século XX,

especialmente na área de saúde. Afirma ele:

"Que pretendiam esses divulgadores? Certamente em suas

motivações divulgadoras tentaram, com efeito, aumentar sua

presença social com diversos objetivos: reafirmar sua legitimidade

profissional, aumentar sua comunicação com seus homólogos e

com outros grupos sociais, fortalecer suas alianças com as

instituições que controlavam os diversos poderes. Mas em muitos

desses divulgadores, pertencentes em sua maior parte a elite

técnico-científica, cabe encontrar uma dupla motivação de caráter

político-ideológico que anima e orienta sua ação cultural.(...)"220

Como nosso trabalho se limitou a um estudo no Rio de Janeiro, é evidente

que uma extensão posterior deveria levar em conta, dentro da mesma

perspectiva histórica, as atividades desenvolvidas em outros estados brasileiros,

em particular no estado de São Paulo que começava sua caminhada para a

industrialização e para a hegemonia econômica no país. Dois estudos iniciais

sobre a difusão da ciência em jornais paulistas, no final do século XIX, foram

encetados por Dantes221 e, no período de 1890 a 1930, por Figueirôa e Lopes222.

Julgamos importante que esse trabalho de comparação histórica entre a

situação brasileira e o que ocorria no mesmo domínio em outros países deva ser

ainda bastante estendido e aprofundado.

220 Ibid.p. 393.

221 DANTES, Maria Amélia. As ciências em um jornal republicano paulista do

final do século XIX. V CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE HISTÓRIA DA

CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, 27-31 jul./1998. Rio de Janeiro.

222 FIGUEIRÔA, Silvia F. de M., LOPES, Maria Margaret. A difusão da ciência

através da imprensa e dos periódicos especializados (1890-193)). VI

SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, 4-7

jun./1997. Rio de Janeiro.

Page 139: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

139

Capítulo 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pudemos ver nesta dissertação, a divulgação científica no Brasil tem

quase dois séculos de história, ao contrário do que alguns estudiosos afirmam.

Guedes, por exemplo, considera que Ciência Hoje, iniciada em 1982, foi a "revista

pioneira" com essa finalidade223. Além disso, a exemplo do que ocorreu em outros

países, a divulgação científica brasileira apresentou fases distintas, com

finalidades e características peculiares que refletem o contexto e os interesses da

época. Já registramos que os surtos de atividades de divulgação científica no

Brasil acompanharam, com intensidades e repercussões diversificadas,

movimentos congêneres e mais ou menos contemporâneos em países da Europa

e das Américas. Isso mostra que as características globalizadoras da ciência e da

técnica, em sua inserção capitalista, estão presentes todo o tempo e se refletem

nos acontecimentos locais.

Em particular, analisamos o surto de divulgação científica ocorrido na

década de 20 no Rio de Janeiro, que havia sido antecedido por longo período de

atividades menos intensas. Na tentativa de entender o porquê do movimento

expressivo de divulgação científica que surgiu naquele momento, levantamos as

seguintes conjecturas:

223 GUEDES, Angela Cardoso. Globo Ciência: inventário e análise do arquivo

de cartas recebidas dos telespectadores em 1988. Orientadora: Heloisa

Tardin Christovão. Rio de Janeiro: IBICT-ECO/UFRJ, 1990. Dissertação

(mestrado em Ciência da Informação). p. 59.

Page 140: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

140

a) A situação internacional era favorável a esse tipo de atividade. Após o

final da Primeira Guerra Mundial, que exibiu na prática o poderio emanado da

ciência e da técnica, cresceu o interesse geral pela ciência, atestado, por

exemplo, pela enorme repercussão que a figura de um cientista, Einstein,

adquiriu. Graças ao prestígio conquistado, sua figura ganhou as páginas dos

jornais de todo o mundo e suas opiniões científicas, filosóficas, éticas e políticas

passaram a ter grande repercussão junto ao público. Na busca de paz em uma

Europa esgotada pela guerra, os cientistas, como o próprio Einstein e Marie

Curie, desempenhavam papel importante. O interesse pela ciência nos países

avançados contribuía indutivamente para uma atitude similar no Brasil, com um

intelectualidade particularmente influenciada pela cultura francesa.

b) A elite intelectual carioca ligada à ciência adquiriu, na época, a

consciência da importância de se criar ambiente favorável junto à opinião pública

para permitir o desenvolvimento da ciência pura. Nesse sentido, aumentaram as

preocupações quanto à formação de pessoal capacitado, à criação de instituições

relacionadas à pesquisa e à educação superior (universidades) e à consolidação

das instituições já existentes.

Dentro desse panorama geral, a divulgação científica passou a ter papel

significativo na difusão das idéias de seus protagonistas sobre a ciência e sua

importância para o desenvolvimento do país.

Na época, a divulgação científica foi ainda uma maneira de influenciar

indiretamente os órgãos governamentais, ao atingir um público ilustrado. O

objetivo era sensibilizar o poder público, o que propiciaria a criação e a

manutenção de instituições ligadas à ciência, além de maior valorização social da

atividade de pesquisa.

Esses cientistas e profissionais liberais conscientizaram-se também de que

era necessária uma renovação educacional mais ampla no país, que permitisse

resgatá-lo do analfabetismo generalizado, condição necessária para que viesse a

acompanhar os ritmos da modernidade européia e norte-americana. Isso levou a

que muitos deles se empenhassem profundamente nas campanhas pelo ensino

público.

c) Começaram a se delinear as necessidades próprias da nova figura de

profissional que aflora no cenário da cidade: o cientista. Aqueles que se voltavam

profissionalmente para as ciências desenvolveram o sentimento claro da

necessidade de sua afirmação própria como cientistas. Dentro desse propósito,

Page 141: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

141

era também essencial a criação de espaços de reflexão e atuação como corpo,

como a Academia Brasileira de Ciências e a Associação Brasileira de Educação,

que contribuíssem para a integração dos profissionais das várias áreas,

aumentando-lhes o potencial de influência política. Intimamente ligado à

institucionalização das atividades científicas nas faculdades de ciências

almejadas, aparece aqui a reivindicação específica da dedicação exclusiva dos

professores universitários para que pudessem exercer in totum suas atividades de

pesquisa.

Destaque-se que a década de 20 é um dos raros momentos no país em que

as lideranças da comunidade científica dedicaram-se, mesmo que parcialmente, a

esse tipo de atividade. A participação ativa de membros da própria Academia

Brasileira de Ciências, até mesmo na direção da Rádio Sociedade, ilustra bem

isso.

Embora não tenhamos analisado com maiores detalhes as décadas

seguintes, pudemos perceber que as atividades de divulgação científica sofreram

nova redução, característica que se manteve aproximadamente até a década de

80. Em particular, decresceu o envolvimento de cientistas com as ações de

divulgação. Atenuou-se o movimento de conferências e cursos populares,

promovido por entidades científicas ou educativas, e decaiu também o número de

revistas específicas e livros voltados para a difusão de novas idéias científicas. O

uso dos novos meios de comunicação com objetivos de divulgação encontrou no

cinema, por meio do Instituto Nacional do Cinema Educativo, um contraponto a

essas afirmações. Outra importante exceção a essa maré declinante vai surgir,

em São Paulo, já no final da década de 40, com a criação da Sociedade Brasileira

para o Progresso da Ciência, que tem entre seus principais propósitos uma

divulgação científica ampla e de qualidade.

Na busca de encontrar razões para o fato desse surto de divulgação

científica dos anos 20 ter perdido impulso e refluído a partir da década de 30,

destacamos as seguintes possibilidades:

a) Com a criação das primeiras faculdades de filosofia, ciências e letras,

sendo as primeiras a da Universidade de São Paulo (1934) e a da Universidade

do Distrito Federal (1935), e a organização de novas universidades, os cientistas

e professores interessados em ciência se voltaram basicamente para o ensino

universitário formal. O fato de que várias das reivindicações dos cientistas terem

Page 142: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

142

sido resolvidas, pelo menos parcialmente, fez com que eles se voltassem

predominantemente para as atividades intra-institucionais.

b) A partir da década de 30 e com a implantação do Estado Novo, as

questões educacionais passaram a ser gerenciadas e controladas mais

diretamente pelo governo. Ampliaram-se as escolas públicas, criaram-se

programas de estímulo ao cinema educativo e o governo assumiu a Rádio

Sociedade. Ou seja, essas e outras atividades que, até então, eram

desenvolvidas de forma autônoma passaram a estar sob a égide governamental.

Se isso teve aspectos progressistas, em um processo que foi estimulado pelos

educadores e cientistas na década anterior, significou também um controle estatal

mais rígido, até mesmo repressivo em muitas ocasiões, e que certamente teve um

papel inibidor de iniciativas mais ousadas.

c) A impressão inicial do rádio (e posteriormente do cinema) como uma

panacéia educativa começou a se diluir quando as dificuldades e os limites do

processo de difusão e absorção dos conteúdos veiculados começaram a ficar

mais claros.

d) O próprio esgotamento da geração que iniciou o processo: as novas

gerações iriam surgir em um contexto diverso, em que já existiam, embora em

número limitado, faculdades de ciência; estavam, portanto, imersas em novas

necessidades e expectativas profissionais. Além do desaparecimento de alguns

dos principais personagens, como Amoroso Costa e Morize, alguns deles se

envolveram, no período getulista, em atividades governamentais, como é o caso

de Roquette-Pinto, que criou e dirigiu o Instituto Nacional do Cinema Educativo.

e) Internacionalmente, houve refluxo similar, o que teve repercussão

desmobilizadora em nossa realidade.

Um ponto importante para o qual nosso trabalho chamou atenção refere-se

à existência dos surtos de atividades científicas mais intensas no Brasil. Na

análise feita no capítulo 2 (Antecedentes), pudemos perceber um crescimento de

tais atividades com a vinda da Corte Portuguesa e com a criação da imprensa no

Brasil. Esse crescimento teria dependido bastante, por conseguinte, do fato

político singular que foi a mudança no status colonial que o país sofreu com esse

episódio. Na segunda metade do século XIX, um novo surto de atividades

emergiu, com a criação de muitas revistas voltadas para os aspectos científicos e

com as Conferências da Glória. Podemos, com uma boa dose de aproximação,

situar este período de maior intensidade divulgadora entre os anos 1860 e 1885.

Page 143: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

143

No século XX, a década de vinte apresentou, como vimos, um novo patamar de

atividades intensas.

Para entender melhor as razões do comportamento aproximadamente cíclico é

importante que sejam examinadas algumas razões internas ao país, como já

fizemos. Uma outra linha de abordagem é a análise histórica comparativa,

tocada tangencialmente nesta dissertação, abordando a trajetória das atividades

de divulgação científica de outros países. Estudo recente que reforça o nosso

ponto de vista da existência de uma correlação forte entre os diversos surtos de

atividades científicas ocorridas em vários países – com algumas possíveis

diferenças de intensidade e defasagens temporais, ligadas a fatores internos

específicos de cada país – foi realizado por Bauer224. Em trabalho apresentado

neste ano em congresso internacional sobre comunicação pública em ciência225,

o autor defende a idéia de que a divulgação científica226 é um processo cultural

que ocorre por meio de ciclos de expansão e contração. Para fundamentar essa

afirmação, o autor recolheu informações provenientes de vários estudos sobre

as atividades de divulgação científica em países da Europa e nos Estados

Unidos. Os dados citados por ele referem-se principalmente ao cômputo de

artigos publicados em jornais e ao número de livros publicados.

Emana do trabalho de Bauer uma proposta de periodização das

atividades de divulgação da ciência nos países desenvolvidos:

224 BAUER, MARTIN. 'La longue durée' of popular science, 1830 - present. In:

DEVÈZE-BETHET, D. (ed.). La promotion de la culture scientifique: ses

acteurs e leurs logiques. Paris: Publications de l'Université - Paris 7- Denis

Diderot. 1998.

225 V International Conference on Public Communication of Science and

Technology, realizado de 17-19 set./1998, Berlim.

226 Bauer se refere à divulgação científica como "popular science".

Page 144: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

144

“Os dados sobre 160 anos sugerem a existência de quatro 'longas

ondas' de popularização da ciência desde 1830. Três períodos de

descenso podem ser identificados: dos anos 1870 até a virada do

século; entre os anos 20 e 30; e novamente entre os anos 1960 até

metade dos anos 1970. Quatro períodos de crescimento são

identificados: (a) dos anos 1850 até o início dos anos 1870; (b) dos

anos 1910 até meados dos anos 1920; (c) dos anos 1940 até o

início dos anos 1960, e de meados dos anos 1970 até os dias

atuais.”227

A proposta da existência de ciclos de divulgação científica, formulada por

Bauer, é bastante interessante, embora os dados em que se baseia sejam ainda

esparsos e tenham sido obtidos a partir de pesquisas de diferentes autores

produzidas com perspectivas diversas. A própria definição dos períodos citados

acima não é muito precisa e sobre isso existem alguns dados conflitantes

mencionados por ele. Mas, para o nosso propósito, é importante registrar, de

uma maneira geral, que o trabalho confirma a hipótese que vínhamos

elaborando no que diz respeito à existência de surtos similares ocorridos no

Brasil, embora possa ser registrada alguma defasagem temporal.

As razões para a existência desses surtos (ou ciclos, na denominação de

Bauer) devem estar ligadas a fatores externos, de natureza sócio-econômica,

que podem até mesmo exibir diferenças locais, mas também a fatores internos à

ciência e aos mecanismos de difusão. Bauer menciona um possível fator interno,

relacionado a uma (não muito clara) instabilidade intrínseca da atividade

divulgadora. Do ponto de vista dos fatores externos, ele busca correlacionar os

227 BAUER, MARTIN. 'La longue durée' of popular science, 1830 - present. In:

DEVÈZE-BETHET, D. (ed.). La promotion de la culture scientifique: ses

acteurs e leurs logiques. Paris: Publications de l'Université - Paris 7- Denis

Diderot. 1998. p. 79.

Page 145: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

145

ciclos de divulgação da ciência com ciclos econômicos do capitalismo em nível

mundial, cuja existência é defendida por vários economistas.

A discussão dessas conjecturas e de suas fundamentações, por mais

interessantes que nos pareçam, foge ao escopo imediato de nosso trabalho.

Podemos apontar, no entanto, que mereciam ser explorados fatores internos à

ciência, como a existência de verdadeiras revoluções científicas ou tecnológicas

nas proximidades dos períodos de surtos intensos de divulgação da ciência. A

título de exemplo, mencione-se o surgimento da teoria da seleção natural de

Darwin-Wallace e das leis do eletromagnetismo (com suas inúmeras aplicações

industriais), por volta do ano 1860, e o surgimento da relatividade geral e das

idéias iniciais da física quântica nos anos que antecedem à década de 20 deste

século.

Ao terminar essas considerações finais, poderíamos nos alongar ainda um

pouco, descrevendo as muitas e variadas limitações deste trabalho. Preferimos,

em vez disso, colocá-las na forma de questões em aberto. Elas poderão

contribuir, talvez, para outras análises e considerações futuras. Procuramos,

assim, listar algumas questões que emergiram naturalmente de nossas

investigações e indagações e que, na melhor das hipóteses, foram apenas

tangenciadas no trabalho:

1) Como avaliar e mensurar, pelo menos grosseiramente, o impacto e a

repercussão posterior das atividades de divulgação científica desse período?

2) Qual o público efetivamente atingido por essas atividades, qual o seu grau

de heterogeneidade e como o conteúdo difundido era percebido e assimilado?

3) Qual o papel desempenhado, do ponto de vista da divulgação, pelas

instituições de ensino e pesquisa já existentes (Faculdade de Medicina, Escola

Politécnica, Museu Nacional etc.)?

4) Qual a interação e as possíveis repercussões que essas atividades de

difusão informais guardaram com o ensino formal?

5) Em que grau e como ocorria a difusão de conhecimentos científicos por

meio de almanaques, folhetos, cordel, literatura ficcional etc.?

6) Qual a visão predominante sobre o papel da mulher na ciência e as

iniciativas para atingir público específicos, como o público feminino?

7) Como as diversas correntes de pensamento político da época, dos

anarquistas aos conservadores, passando pelos comunistas, viam o papel da

Page 146: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

146

ciência? Como os jornais e as atividades desses segmentos e dos sindicatos

tratavam a questão?

8) Qual o real impacto das transmissões radiofônicas? Como era usado e

qual o conteúdo das transmissões educativas e científicas? Por que as

instituições de ensino e pesquisa não fizeram uso, como ocorreu em outros

países, das novas tecnologias disponíveis, no caso, o rádio, para atividades

educativas?

9) Qual o papel desempenhado pelo Estado e como se deu a absorção, na

década de 30, de algumas das iniciativas da década anterior?

10) Qual o papel, o conteúdo e a repercussão do cinema educativo, inclusive

no ensino formal?

11) Quais foram e como se deram as atividades de divulgação científica no

restante do país?

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SERRANO, Jonathas, VENANCIO FILHO, Francisco. Cinema e Educação. São

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Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 13, n. 77, p. 2, out.-

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XVI a XIX). Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1984.

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THUILLIER, Pierre. O contexto cultural da ciência. Ciência Hoje, Rio de Janeiro:

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VERNEY, Luís António. Verdadeiro Método de Estudar, edição organizada por

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VIDEIRA, Antonio Augusto Passos. Henrique Morize e o Observatório

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ZALUAR, Augusto Emílio. O Doutor Benignus. Rio de Janeiro: Editora da

UFRJ, 1994.376 p.

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Periódicos

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Brasileira de Ciências - tomo II, n. 2, 30/jun./1930.

Boletim da ABE, Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Educação - ano I,

n. 1, set./1925; n. 2, nov./1925; n. 3, jan./1926; ano II, n. 4, abr./1926; n. 5,

maio/1926; n. 6, jul./1926; n. 7, set.-out/1927; n. 8, nov.-dez./1926; ano III, n. 9,

jan.-fev./1927; n. 10, março-abr./1927; n. 11, maio-jun./1927; ano IV, n. 12,

ago./1928; ano V, n. 13, maio/1929.

Electron, Rio de Janeiro: Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, ano I, n. 1,

1/fev./1926; n. 2, 16/fev./1926; n. 3, 1/mar./1926; n. 4, 16/mar./1926; n. 5,

1/abr./1926; n. 6, 20/abr./1926; n. 7, 1/maio/1926; n. 8, 16/maio/1926; n. 9,

1/jun./1926; n. 10, 16/jun./1926; n. 11, 1/jul./1926; n. 11, 12, 13, 1/ago./1926; n.

14, 16/ago./1926; n. 15, 1/set./1926; n. 16, 16/set./1926; n. 17, 1/out./1926; n.

18, 16/out./1926; n. 19, 1/nov./1926; n. 20, 16/nov./1926; n. 21, 1/dez./1926; n.

22, 16/dez./1926.

Eu sei tudo, Rio de Janeiro: Editora Americana - edições referentes a 1919

(ano III, n. 26, jul./1919, até n. 31, dez./1919), 1920 (ano III, n. 32, jan./1920, até

n. 36. maio/1920; ano IV, n. 37, jun./1920, até n. 43 dez./1920), 1921 (ano IV, n.

44, jan./1921, até n. 49, jun./1921; ano V, n. 50, jul./1921, até n. 55, dez./1921),

1922 (ano V, n. 56, jan./1922, até n. 60, jun./1922; ano VI, n. 62, jul./1922, até n.

67, dez./1922), 1923 (ano VI, n. 68, jan./23, até n. 73, jun./1923), 1924 (ano VII,

n. 80, jan./1925, até n. 84, maio/1924; ano VIII, n. 85, jun./1924, até n. 91,

dez./1924), 1925 (ano VIII, n. 92, jan./1925, até n. 96, maio/1925; ano XIX, n. 97,

jun./1925, até n. 102, nov./1925).

Mensário Bibliográfico - Publicação da Livraria Scientífica Brasileira, Rio de

Janeiro: Livraria Scientífica Brasileira, ano 1, 25 nov./1923.

O Jornal, 12/nov./1919, 19/mar./1922, 02/abr./1922; 22-23/mar./1925; 4-

12/maio/1925; 23/ago./1928; 5/dez./1928.

O Guanabara, Rio de Janeiro: - tomo III, n. 1, março/1855.

Page 158: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

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Radio, Rio de Janeiro: Rádio Sociedade, ano I, n. 1, 15/out/1923; n. 2,

1/nov./1923; n. 3, 15/nov./1923; n. 4, 1/dez./1923; n. 5, 15/dez./1923; n. 6,

1/jan./1924; n. 7, 15/jan./1924; n. 8, 1/fev./1924; n. 9, 15/fev./1924; n. 10,

1/mar./1924; n. 11, 15/mar./1924; n. 12, 1/abr./1924; n. 13, 15/abr./1924; n. 14,

1/maio/1924; n. 15, 15/maio/1924; n. 16, 1/jun./1924; n. 16, 15/jun./1924; n. 18,

1/jul./1924; n. 19, 15/jul/1924; n. 21, 15/ago./1924; n. 22, 1/set./1924; n. 23,

15/set./1924; n. 24, 1/out/1924; n. 26, 1/nov./1924; ano III, n. 57, mar./1926.

Radiocultura, Rio de Janeiro, n. 17, ano 2, 15/out./1929.

Revista Brazileira - Jornal de Sciencias, Letras e Artes, Rio de Janeiro:

Typographia Universal de Laemmert, vol. 1, 1857 ao vol. 4, 1860.

Revista Brazileira (segunda fase) - vol. 1, 1879; vol. 2, 1880.

Revista da Sociedade Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro: Sociedade

Brasileira de Ciências, n. 1, 1917; n. 2, 1918; n. 3, 1919.

Revista de Sciencias, Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Ciências,

ano IV, n. 1, jan-fev./1920; n. 2, mar.-abr./1920; n. 3, maio-jun../1920; n. 4,5,6,

jul.dez./1920, V ano, 1921 (complemento)228; ano VI, jan.-dez, 1929229.

Revista do Observatório, Rio de Janeiro: Imperial Observatório do Rio de

Janeiro, todas as edições de 1886 a 1891.

Revista do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Livraria Serafim Jose Alves, vol.

1 e 2, 1876.

Sciencia e Educação, Rio de Janeiro: Typ. B. de Souza Carmo, ano I, n. 1,

fev./1929; n. 2, mar./1929; n. 3, abr./1929; n. 4, maio./1929; n. 5, jun./1929; n. 6,

jul./1929.

228 Saíram em um mesmo fascículos as edições de n. 4, 5, 6 (jul.dez./1920) e o

complemento referente a V ano, 1921.

229 O número da edição não está visível no fascículo.

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159

Sciencia para o povo, Rio de Janeiro, n. 1 ao 20, ano I, 1881.230

Relacionamos a seguir as bibliotecas e os arquivos que consultamos para

recolher o material documental (jornais, revistas, artigos, ilustrações, informações

sobre programação de rádio, manuscritos e livros de divulgação científica e fotos

de época) usado na dissertação.

Bibliotecas consultadas na pesquisa:

Biblioteca do Museu Nacional, Biblioteca Nacional, Biblioteca de Obras

Raras ou Antigas do Centro de Tecnologia/Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Biblioteca do Jardim Botânico, Biblioteca do Instituto Histórico Geográfico

Brasileiro, Biblioteca do Clube de Engenharia, Biblioteca da Academia Brasileira

de Ciências, Real Gabinete Português de Leitura, Biblioteca do Instituto de

Matemática Pura e Aplicada (IMPA), Biblioteca do Centro Brasileiro de Pesquisas

Físicas (CBPF), Biblioteca da Associação Brasileira de Imprensa.

Acervos:

Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), Associação Brasileira de

Educação, arquivo dos cientistas considerados (Morize – está no Mast – e

Amoroso Costa – parte está no MAST, parte com a família e parte com Ildeu de

Castro Moreira), Arquivo e Museu da Escola de Engenharia, Academia Brasileira

de Ciências, Arquivo Nacional, Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro.

230 As edições não trazem a identificação do dia e mês de cada uma das

edições.

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160

ANEXOS:

ANEXO 1:

"A VULGARIZAÇÃO DO SABER"231, DE MIGUEL OZORIO DE ALMEIDA

As coleções de livros de vulgarização científica se multiplicam. As

conferências e cursos públicos sobre as questões mais árduas e difíceis

destinadas a por ao alcance de todo o mundo noções ou conhecimentos que

eram o apanágio de grupos limitados de especialistas, secundam e completam a

tarefa que visam executar as edições populares.

Tudo isso demonstra que o público em geral tem sua atenção despertada

para as coisas do saber e aspira participar do movimento incessante das idéias, e

compreender, pelo menos em suas linhas essenciais, as bases dos grandes fatos

científicios e a essência das principais leis naturais. Essa aspiração é sem dúvida

nobilitante. Será ela útil? Poderá ela ser satisfeita? Que resultados advirão de

uma cultura popular mais extensa, e, o que é fundamental, até que ponto poderão

os homens de ciência corresponder a esse apelo coletivo? Enfim, terá a ciência

alguma coisa a ganhar com esse movimento?

Difícil seria responder de um modo cabal a todas essas perguntas. Esses

problemas já têm sido discutidos por sábios e filósofos e as conclusões são, em

geral, contraditórias. Alguns não escondem o seu ceticismo e não crêem na

possibilidade de reduzir a termos suficientemente elementares os resultados

complexos de pesquisas científicas, para a compreensão dos quais é necessária

uma longa preparação.

É esse ceticismo que, conquanto não expressamente declarado,

transparece do prefácio escrito por E. Meyerson para a Collection Fontenelle,

dirigida por Salomon Reinach e Georges Urbain, que se iniciou recentemente com

um volume intitulado Deux Heures de Mathématiques.

O grande público conhece de sobra o nome de Salomon Reinach,

historiador, arqueólogo, crítico de arte e filólogo. Georges Urbain, menos

conhecido, é uma figura interessante e complexa de sábio, que a uma

231 OZORIO DE ALMEIRA, Miguel. A vulgarização do saber. Rio de Janeiro:

Ariel Editora Ltda., 1931. p. 229-240.

Page 161: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

161

competência das mais especializadas em alguns ramos da Química, acrescenta

uma vasta erudição científica e uma sólida cultura artística. Os que admiram suas

pesquisas aprofundadas sobre os complexos não ficariam pouco surpreendidos

ao saberem que é dele um livro Le tombeau d’Aristoxène, onde é analisada toda a

estrutura da música, desde a antiguidade até os nossos dias, e onde ele mostra

como certos modos musicais, ainda deixados de lado, constituem reservas quase

inesgotáveis para essa arte, que atravessa agora uma crise de renovação. Mais

admirados ainda ficariam se soubessem que Urbain não se limita a estudos

teóricos sobre música, mas compõe ele próprio.

Emille Meyerson é hoje dos mais autorizados e profundos pensadores da

França. Seus volumes sobre a explicação das ciências, A Dedução Relativista,

Identidade e Realidade, revelam esforço de erudição e capacidade de meditação

absolutamentes raros. O ideal dos homens de ciência em todas as épocas, as

tendências de cada escola, desde os grandes filósofos da Grécia, até os físicos

relativistas atuais, foram por ele postos em evidência em um trabalho longo e

penetrante. Certamente, a soma de conhecimentos por ele adquirida, a

possibilidade de ter presente à memória uma tão larga messe de resultados, e a

necessidade essencial de seu espírito, de ver além dos fatos e leis das ciências

positivas os métodos empregados para descobrí-los e as tentativas abortadas ou

perdidas, feitas sem sucesso, tudo isso concorre para a atitude de ceticismo a

que acima nos referíamos.

Aliás, em um de seus volumes anteriores (La déduction rélativiste)

Meyerson tinha apresentado idéias semelhantes, ao verificar o insucesso de

todas as tentativas feitas para expor a teoria da relatividade ao alcance de todos.

Quando se anunciou que Einstein havia revolucionado as concepções clássicas

do espaço e do tempo, houve uma emoção muito maior nos meios não científicos

que entre os físicos de profissão. Poucas pessoas, dentre as que mais curiosas

se mostravam das novas idéias, seriam capazes de dizer o que havia de

essencial nas concepções clássicas do espaço e do tempo. Isso não importava. A

ameaça contra esses conceitos despertava um interesse análogo ao que haveria

se se propalasse que as pirâmides do Egito estavam em vésperas de desabar. Os

que nunca viram as pirâmides e muito pouca probabilidade teriam de vê-las um

dia, sem dúvida se mostrariam mais apreensivos que os demais.

Diante desse anseio geral por saber como se criava a nova ordem de idéias,

de todos os lados se tentou esse tour de force: expor a relatividade na linguagem

Page 162: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

162

mais simples compreensível à massa dos homens de instrução média. Uma

revista chegou a por o tema em concurso. Nada foi possível fazer, e na opinião de

todos, os trabalhos escritos com esse fim, inclusive o do próprio Einstein,

falharam por completo.

Esse insucesso, entretanto, tem sua explicação fácil. A teoria da relatividade

exige para ser compreendida a posse de noções muito elevadas de matemática,

por vezes mesmo inteiramente fora da cultura clássica dos matemáticos de

profissão. É impossível, quase sempre, apresentar em linguagem profana um

raciocínio que só pode ser assimilado com o auxílio de um simbolismo próprio.

Meyerson soube por esse ponto bem em evidência. A linguagem comum, a que é

utilizada para a vida de todos os dias, tem suas raízes profundas no senso

comum. A matemática, como a filosofia, recorre a conceitos, dependentes, em

certos casos, de uma espécie de senso diferente, e que assim não se adaptam às

condições precárias da língua habitual. Dá-se aqui, segundo Meyerson, o que se

observa em um grau muito menor com as traduções literais. A passagem de

certas expressões, que correspondem à mentalidade profunda peculiar a um

povo, e que representam exatamente o seu modo de sentir, não pode ser feita

convenientemente para outras línguas, que se mostram assim deficientes. A

tradução em linguagem vulgar de concepções matemáticas encontra diante de si

uma dificuldade desse gênero, mas em proporções muito maiores. Ela terá que

ser forçosamente incompleta e defeituosa. Para bem compreender a literatura de

um povo, é necessário conhecer a sua língua. Um dos argumentos fundamentais

dos partidários do estudo do grego e do latim é mesmo esse, que a essência do

pensamento dos gregos e dos romanos, formando a origem de nossa cultura, só

pode ser assimilada por quem seja capaz de lê-los nos textos originais. Para bem

acompanhar os raciocínios dos matemáticos é, a fortiori, indispensável

compreender a linguagem que eles empregam.

Sem dúvida, neste ponto particular, o acordo não será difícil. As

matemáticas e todas as questões científicas com que elas têm relações muito

íntimas, como a maior parte das teorias da Física e da Cosmogonia, parecem

condenadas a permanecerem por muito tempo ainda em um certo isolamento.

Elas só serão acessíveis a certos iniciados e a certos privilegiados.

As ciências, porém, se distinguem umas de outras pelo modo por que elas

são estudadas. Se algumas põem em trabalho as capacidades superiores do

raciocínio, e se para abordá-las com proveito é preciso desenvolver ao mais alto

Page 163: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

163

grau o poder de abstração, afastando-se, como observou Meyerson, do senso

comum, outras não exigem mais do que as qualidades bem equilibradas dos

homens médios. Os seus resultados podem muitas vezes ser isolados, expostos

de um modo suficientemente claro, em palavras simples de uma linguagem muito

próxima da linguagem cotidiana. Além disso, é indispensável distinguir aqui o

trabalho do homem de ciência que porfia por descobrir fatos novos, do esforço

relativamente pequeno daquele que apenas quer compreender o essencial de um

fenômeno. Chegar a evidenciar fenômenos até então desconhecidos, ou

demonstrar relações até então não suspeitadas de fenômenos já anteriormente

descritos, é sempre tarefa complexa, ao alcance só dos espíritos preparados por

dons naturais e por uma cultura especializada. Em muitos casos, porém, uma vez

descobertos esses fenômenos, nenhuma dificuldade existe em expô-los.

As ciências naturais apresentam inúmeras questões que estão nesses

casos. Mesmo algumas das grandes concepções orientadoras que se encontram

na base dessas ciências podem ser explicadas com sucesso a profanos. Todo o

mundo compreende em seus pontos essenciais a teoria da evolução ou a

natureza microbiana das doenças infecciosas. Ao leigo não interessa, nem é

necessário saber a minúcia técnica e sim apenas as grandes linhas essenciais de

um conjunto importante de conhecimentos.

A utilidade de por o grande público a par do movimento científico tem

parecido duvidosa a muitos espíritos. O receio dos perigos que oferece a "meia

ciência" é uma das principais objeções levantadas. Entretanto, esses perigos são

mais imaginários que reais. Uma instrução popular bem orientada é feita de modo

tal que não deixa dúvidas sobre a competência efetiva dos que a adquiriram. Não

é difícil instruir sem deixar ilusão sobre os limites desse saber e sobre as

possibilidades exatas que ele confere. Por outro lado, a vida moderna está cada

vez mais dependente da ciência e cada vez mais impregnada dela. Não são só as

pessoas cujas profissões reconhecidamente têm uma base científica, como a

Medicina ou a Engenharia, que têm interesse em estar mais ou menos em

permanente contato com diferentes ciências. Hoje, todas as indústrias, a

agricultura e um grande número de outras profissões sofrem uma evolução

rápida, devido à introdução dos métodos e processos científicos. A técnica

moderna evolui para um estado racional, muito mais preciso e de rendimento

muito maior. A difusão científica traria como resultado a familiaridade de todos

Page 164: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

164

com as coisas da ciência, e sobretudo uma confiança proveitosa nos métodos

científicos, uma consciência esclarecida dos serviços que estes podem prestar.

Poder-se-ia concorrer para destruir esse estado de espírito, que considera o

saber quase um luxo, e a ciência como um domínio à parte, teórico e abstrato,

sem pontos de contato com a vida real.

A ciência estuda os fenômenos naturais e suas relações recíprocas, tratando

de conhecer as suas leis do modo mais apropiado possível. É ela que faculta o

homem o poder de modificar um certo número de fenômenos, ou de criar as

condições de aparecimento de outros, aumentando sua ação sobre o meio que o

cerca. É ela que estuda o próprio homem estabelecendo as condições ótimas em

que seu organismo pode viver. A melhoria das condições de vida é assim uma

conseqüência natural do aumento e aperfeiçoamento dos conhecimentos

científicos. Em princípio, pois, uma vida complexa, cheia, bem organizada é

inseparável de uma ciência adiantada e poderosa. É claro que cada pessoa,

mesmo se dedicando exclusivamente ao estudo, só pode adquirir competência de

valor efetivo, em um campo estreito dos conhecimentos. Com a extensão da

ciência, a especialização, ao menos temporária, é uma necessidade. Mas é

preciso que todos, dentro dos limites possíveis, sejam esclarecidos sobre o

auxílio, sobre os serviços que a ciência é capaz de prestar em todos os atos e em

todos os momentos da vida comum. Essa noção que parece tão elementar aos

que possuem alguma cultura científica é entretanto inexistente ou muito vaga, às

vezes mesmo nos meios que são, sob outros pontos de vista, altamente

cultivados. A vulgarização científica bem conduzida tem, pois, por fim real, mais

esclarecer do que instruir minuciosamente sobre este ou aquele ponto em

particular. Mantendo constantemente a maioria das inteligências em contato com

a ciência, ela virá criar um estado de espírito mais receptível e mais apto a

compreender. Ela se destina mais a preparar uma mentalidade coletiva, do que

realmente a difundir conhecimentos isolados. No dia em que a maioria dos

homens estiver impregnada da verdadeira significação dos fins da ciência e tiver

compreendido um pouco da essência dos métodos científicos e, em um passo

mais adiantado ainda, souber se aproveitar um pouco das vantagens que a

cultura científica confere, pela precisão que empresta ao raciocínio e pelo respeito

à verdade, além de outras qualidades morais que desenvolve, a humanidade terá

dado um grande passo.

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165

A utilidade da vulgarização científica, assim praticada, não me parece, pois,

discutível. É fato que alguns inconvenientes podem resultar de uma difusão larga

da ciência. Muitas vezes criam-se mal entendidos penosos. A ciência progride e

evolui constantemente. Os conhecimentos alargam-se e modificam-se. A um

conhecimento com um determinado grau de aproximação substitui-se outro mais

aproximado ainda, quando o aperfeiçoamento da técnica de pesquisa o permite.

As descoberta de fatos novos obrigam a modificar as concepções gerais

orientadoras do pensamento. Isso tudo dá aos que observam superficialmente o

progresso da ciência uma impressão de instabilidade, de insegurança, por vezes

desalentadora. De quando em vez, em altos brados, proclama-se a falência da

ciência, e talvez disso tudo pudesse resultar um certo descrédito. Não há aqui,

porém, nenhum risco de mal entendido quando tudo isso é claramente definido e

quando se substituem as opiniões erradas sobre os fins da ciência por uma

concepção sadia e correta de uma marcha e dos seus objetivos.

A ciência, por seu lado, só tem a lucrar com uma vulgarização bem feita.

Suas necessidades são cada vez maiores e se na maioria dos países elas são

desprezadas, e a cultura da ciência sofre um atraso considerável, isto é bem um

indício que as classes dirigentes e os povos, em geral, estão longe de bem julgar

esses problemas. Quando se trata de questões simples em que as relações de

causa e efeito são bem evidentes e ao alcance de todos, as dificuldades

desaparecem. Oswaldo Cruz mostrou que o conhecimentos das leis científicas

exatas sobre a transmissão da febre amarela é indispensável para a

exterminação dessa doença. Não lhe foi difícil obter em seguida meios para um

grande instituto de pesquisas sobre patologia experimental. Ninguém discutiu

essa utilidade, tão brilhante havia sido a demonstração que, por força das

circunstâncias, era essencialmente popular. Quando se trata, porém, de relações

menos imediatas entre os progressos científicos e o bem de toda a coletividade,

as dificuldades crescem. É lícito, entretanto, esperar que aqui como no outro caso

se trate exclusivamente de uma questão de compreensão geral, e essa

compreensão só pode vir depois de uma larga difusão de conhecimentos

científicos.

Essa difusão pode também exercer um papel importante no despertar de

novas vocações. O contato constante com as coisas da ciência aguça a

curiosidade e revela tendências que poderiam de outro modo permanecer para

sempre ocultas.

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166

Meyerson nos diz duas palavras sobre as dificuldades da vulgarização e

sobre a forma especial de talento que precisam ter os vulgarizadores. Neste ponto

estamos de acordo. Nem sempre o grande gênio inventivo, ou a excepcional

capacidade de homem de ciência pura, se casam com a forma de inteligência

mais adequada para o trabalho de vulgarização. Este requer uma grande

capacidade de clareza, a possibilidade de despertar o interesse e de aplainar as

dificuldades, que não se obtem sem esforço e paciência. É preciso não esquecer,

porém, que esse esforço pode ser vantajoso mesmo para o grande sábio. Lord

Kelvin declarou uma vez que o preparo de suas conferências populares muito

concorria para o aperfeiçoamento de suas concepções. Como se vê, apesar do

pessimismo de E. Meyerson, a tarefa de uma vulgarização científica mais intensa

e bem orientada seria digna de tentar muitas inteligências, que se aplicariam

assim a um trabalho útil e proveitoso.

ANEXO 2:

LIVROS E ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ESCRITOS POR

AMOROSO COSTA, MORIZE, ROQUETTE-PINTO E MIGUEL OZORIO DE

ALMEIDA

MANOEL AMOROSO COSTA

1. "Conferência sobre Otto de Alencar" Revista Didática da Escola

Politécnica, n. 13, 1918, p. 3-24, e publicada em separata, Editora Leuzinger,

1918.

2. "A evidência em matemática", Revista Didática da Escola Politécnica, n.

17, 1919, p. 65-69.

3. "A teoria de Einstein", O Jornal, ano 1, n. 149, 12/nov./1919.

4. "A filosofia matemática de Poincaré", Revista de Sciencias, n. 4, 1920, p.

106-111.

5. "À margem da teoria de Einstein I - O espaço, o tempo e a realidade", O

Jornal, ano IV, n. 971, 19/3/1922.

Page 167: A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre ...

167

6. "À margem da teoria de Einstein II - A relatividade do espaço e do

tempo", O Jornal, ano IV, n. 983, 2/abr./1922.

7. "Émile Borel", O Jornal, ano IV, n. 1119, 8/ago./1922.

8. "Bergson e a Relatividade", O Jornal, ano IV, n. 1157, 22/out/1922.

9. "O problema da ciência", O Jornal, ano IV, n. 1181, 19/nov./1922.

10. "A teoria da Relatividade. Esboço histórico", Revista Brasileira de

Engenharia, ano II, tomo III, n. 5, 1922, p. 181-183.

11. "As duas imensidades", O Jornal, ano V, n. 1241, 28/jan./1923, e ano V,

n. 1265, 25/fev./1923.

12. "Pela ciência pura", O Jornal, ano V, n. 1343, 27/maio/1923.

13. "Pascal geômetra", O Jornal, ano V, n. 1363, 20/jun./1923.

14. Kant e as ciências exatas, em Immanuel Kant - Festa comemorativa do

bicentenário realizada no Rio de Janeiro, Editora Canton & Beyer, Rio de

Janeiro, 1924. p. 19-28.

15. Nota sobre a hipótese dos deslocamentos continentais de Wegener,

trabalho apresentado na sessão da Academia Brasileira de Ciências de

14/jun./1927. Reproduzido em Boletim da Sociedade Brasileira de História da

Ciência, n. 10, 1991, p. 6-7.

16. "Uma obra de cultura", O Jornal, 23/ago./1928.

17. "Um poeta e a ciência", O Imparcial, 16/dez./1928.

18. As idéias fundamentais da matemática, Rio de Janeiro: Pimenta de

Melo, 1929. Edições posteriores: a) As idéias fundamentais da matemática e

outros ensaios, apresentação de Miguel Reale, São Paulo: Grijalbo/EDUSP,

1971); b) As idéias fundamentais da matemática e outros ensaios, introdução de

Arthur Gerhardt Santos, Lélio Gama e Antônio Paim, Editora Convívio/EDUSP,

São Paulo, 1981.

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168

19. As universidades e a pesquisa científica, em O problema universitário

brasileiro - Inquérito promovido pela Seção de Ensino Técnico e Superior da

Associação Brasileira de Educação, A Encadernadora S.A, Rio de Janeiro, 1929.

20. "O ensino de Astronomia na Escola Politécnica", Revista Didática da

Escola Politécnica, n. 36, 1930, p. 9-14.

HENRIQUE MORIZE

1. "A telegrafia sem fio", Revista da Escola Polytechnica, 1897, p. 185-189.

“O estado da Astrofísica no começo do século XX”. Seminário de Literatura,

Arte, Sciencia e Industria, Rio de Janeiro, v. 2, maio 1905.

2. “Terremotos”, Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1/jan./1909.

3. “O Cometa de Halley”, Jornal do Commercio, 6/fev./1910.

4. “Notas comentárias”, Jornal do Commercio, 11/abr./1910.

5. “O brilho do Cometa de Halley”, Jornal do Commercio, 27/abr./1910.

6. “O Cometa de Halley”, Jornal do Commercio, 18/maio/1910.

7. “A transmissão da hora”, Jornal do Commercio, 24/set./1910.

8. “Observatório Nacional do Rio de Janeiro”, Jornal do Commercio,

23/nov./1911.

9. “A Sociedade Brasileira de Sciencias”, Revista da Sociedade Brasileira

de Sciencias, ano 1, n. 1, jan./1917, p. 3-10.

10. “O Balão do Observatório e a hora legal”, A Noite, 6/dez./1918.

11. Como se prevê o tempo, conferência foi realizada na sala de Escola

Politécnica do Rio de Janeiro no dia 4/out./1917 e publicada na Revista Didática

da Escola Politécnica, n. 12, 1918, p. 9-14.

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169

12. “Um grande benfeitor da instrução pública”, Revista de Sciencias, vol.

4, n. 1, 1920, p. 28-29.

13. “Cometa Pons Winneake”, Correio da Manhã, 17/jun./1921.

14. “Contribuição ao estudo do clima do Brasil”, Dicionário histórico,

geográfico e etnográfico do Brasil, IHGB, Imprensa nacional, Rio de Janeiro,

1922.

15. "Os terremotos e sua origem", Radio, ano 1, n. 9, 15/fev./1924.

16. "Aparelho automático para a recepção de sinal S.O.S, Radio, n. 23,

15/set./1924, p. 9.

17. "A produção de ouro extraído do mercúrio", Radio, n. 23, 15/set./1924,

p. 38-39.

18. “Algumas observações sobre o trabalho do Rev. Padre Geraldo

Pauwells, S.J., Revista de Sciencias, ano I, n. 1, 1926, p. 9-13.

19. Observatório Astronômico - Um século de história (1827-1927),

Coleção Documentos da História da Ciência, MAST/Salamandra, Rio de Janeiro,

1987.

Morize escreveu também várias notas e artigos curtos sobre astronomia,

mas de caráter geral, que apareceram na Revista do Observatório, entre 1886-

1890. Na década de 20, foi responsável pela maior parte da seção "Notas e

informações", da Revista da Sociedade Brasileira de Sciencias, que sintetizava

as novidades científicas publicadas nas revistas estrangeiras, nos anos de 1918

e 1919. 232

232 Revista da Sociedade Brasileira de Sciencias n. 2, p. 157-169, 1918; n. 3, p.

239-257, 1919.

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170

EDGARD ROQUETTE-PINTO233

1. "Um problema de Antropologia aplicada", Jornal do Commercio, Rio de

Janeiro, 1914.

2. Aborígenes e Etnógrafos. Anais da Biblioteca Nacional, vol. V, Rio de

Janeiro, 1916.

2. "O Brasil e a Antropogeografia", Revista do Brasil, dezembro/1916.

3. Elementos de mineralogia, breve tratado escrito para suas alunas da

Escola Normal, 1919.

4. "A questão das raças em Versailles", O imparcial, Rio de Janeiro, 1918.

5. "Etnografia sertaneja", O imparcial, Rio de Janeiro, jun./1918.

6. "O pioneiro", O imparcial, Rio de Janeiro, jun./1918.

7. "A paz e a antropogeografia", A Epoca, Rio de Janeiro, 1919.

8. "Rondon", A Epoca, Rio de Janeiro, 1919.

9. Conceito atual de vida, Rio de Janeiro: Livraria Científica Brasileira,

1922.

10. "A radiotelephonia, escola do porvir", Radio, ano 1, n. 18, 1/jul./1924.

11. "O nosso aniversario", Radio, ano 1, n. 24, 1/out./1924.

12. "Rádio Educação do Brasil", Radio, ano 3, n. 57, mar./1926. p. 11-12.

13. Seixos rolados. Rio de Janeiro: Edição de Sussekind & Mendonça,

Machado & Cia, 1927.

14. Ensaios Brasilianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, s/d.

233 As referências incompletas foram extraídas da Revista Radio, ano 1, n.19,

15/jul/1924, p. 12 e LINS, Álvaro. Discurso de posse na Academia Brasileira

(Estudo sobre Roquette-Pinto). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação -

MEC, 1956.

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171

15. "A História Natural dos Pequeninos", Revista do Museu Nacional, ano I,

n. 1, ago./1944.

16. "O cinema educativo no Brasil", Revista da Academia Brasileira de

Letras, vol. 68, ano 43, jul.-dez./1944, p. 278-281.

MIGUEL OZORIO DE ALMEIDA

1. A mentalidade científica brasileira. Livraria Científica Brasileira, Rio de

Janeiro, 1922.

2. Homens e coisas de ciência. Editora Monteiro Lobato, São Paulo, 1925.

3. A vulgarização do saber. Ariel Editora Ltda., Rio de Janeiro, 1931.

4. Ensaios, críticas e perfis. F. Briguiete & Cia., Rio de Janeiro, 1938.

ANEXO 3:

CONFERÊNCIAS E CURSOS PATROCINADOS PELA ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO

Neste item vamos apresentar a lista dos cursos e conferências que foram

realizadas nos anos de 1926, 1927 e 1928, patrocinadas pela Associação

Brasileira de Educação. A listagem inclui também a programação para 1929.

1926

Cursos:

1) Manoel Amoroso Costa (Escola Politécnica e Academia Brasileira de

Ciências), As idéias fundamentais da matemática, 10 conferências.

2) Edgard Roquette-Pinto (Museu Nacional), Antropologia, 10 conferências.

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172

3) Euzébio de Oliveira (diretor do Serviço Mineralógico e Geológico do

Brasil e Academia Brasileira de Ciências), A geologia histórica do Brasil, 6

conferências seguidas de outra sobre o petróleo no Brasil.

4) Everardo Backheuser (Escola Politécnica e Academia Brasileira de

Ciências), A estrutura geopolítica do Brasil, 6 conferências.

5) Tobias Moscoso (diretor da Escola Politécnica), As teorias do

crescimento da população, 3 conferências.

6) Maurício Joppert (Escola Politécnica e Academia Brasileira de Ciências),

Estudo teórico e prático das bombas centrífugas, 12 conferências.

7) Fernando Magalhães (Faculdade de Medicina, presidente da ABE),

Elementos de fisiologia médica, 3 conferências.

8) Sampaio Correia (Escola Politécnica e senador da República), As

possibilidades econômicas da aviação no Brasil, 3 conferências.

9) Lafayette Pereira (Faculdade de Medicina), Física.

10) Carneiro Felippe (Instituto Oswaldo Cruz), Físico-química.

1927

Cursos:

1) Álvaro Ozorio de Almeida (Faculdade de Medicina), Estudos sobre o

metabolismo, 4 conferências.

2) Ferdinando Labouriau (Escola Politécnica), A siderurgia, 12

conferências.

3) Dulcídio Pereira (Escola Politécnica e Escola Normal), A física e a vida

moderna, 6 conferências.

4) Euzébio de Oliveira (Serviço Geológico e Mineralógico), Geologia do

petróleo, 8 conferências.

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173

5) Manoel Amoroso Costa (Escola Politécnica e Academia Brasileira de

Ciências), As geometrias não-euclidianas, 4 conferências.

6) Alix Lemos (Observatório Nacional), Marés e problemas correlativos, 2

conferências.

7) Miguel Ozorio de Almeida (Insituto Oswaldo Cruz e Escola Superior de

Agricultura), A regulação nervosa da respiração, 4 conferências.

8) Ignácio Azevedo do Amaral (Escola Naval, Escola Politécnica e Escola

Normal), Sobre a indeterminação em matemática, 3 conferências.

9) Pedro A. Cardoso, Filosofia da história, 8 conferências.

10) Fernando de Magalhães (Faculdade de Medicina), Elementos de

Filosofia Médica, 3 conferências.

Palestras:

1) E. Roquette-Pinto (Museu Nacional), A função educadora dos museus.

2) Tristão de Athayde, O problema social e o distributivismo.

3) J. A. Padberg Drenkpol (Museu Nacional), A aurora da arte humana.

4) A. J. de Sampaio (Museu Nacional), As florestas brasileiras.

5) Alberto Childe (Museu Nacional), O Mediterrâneo Oriental e a Ilha de

Creta.

6) Heloísa A. Torres (Museu Nacional), Migrações na América.

7) Hahneman Guimarães (C. Pedro II), Estudos sobre a métrica latina.

8) Paulo de Castro Maya, A evolução moderna da idéia de democracia.

9) Manoel Amoroso Costa (Escola Politécnica e Academia Brasileira de

Ciências), A estrutura e a evolução do mundo sideral.

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174

10) C. Mello Leitão, Os companheiros do homem.

11) Álvaro Ozorio de Almeida (Faculdade de Medicina e Museu Nacional),

A organização universitária e as Faculdades Superiores de Ciências e de Letras.

1928

Cursos:

1) Gustavo Barroso (Diretor do Museu Histórico), O Folclore, 2

conferências.

2) Gal. Moreira Guimarães (Sociedade de Geografia), A moral científica, 4

conferências.

3) Adrien Delpech (Colégio Pedro II), Le moyen-age et son expression

litteraire en France, 6 conferências.

4) Mario de Britto (Escola Politécnica e Academia Brasileira de Ciências),

As modernas teorias da química, 4 conferências.

5) Abraão Izecksohn (Escola Politécnica), Termodinâmica, 6 conferências.

6) Jerônimo Monteiro Filho (Escola Politécnica e EFCB), Alguns aspectos

das vias de comunicação no Brasil, 3 conferências.

7) André Dreyfus (Faculdade de Medicina de SP), Hereditariedade, 8

conferências.

8) F. Labouriau (Escola Politécnica e Academia Brasileira de Ciências),

Camille et Lucile Desmoulins, 8 conferências.

9) Manoel Amoroso Costa (Escola Politécnica e Academia Brasileira de

Ciências), As geometrias não-arquimedianas, 4 conferências.

Palestras:

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175

1) Miguel Ozorio de Almeida (Instituto Oswaldo Cruz e Escola Superior de

Agricultura), O otimismo de Metchnikoff.

2) Vicente Licínio Cardoso (Escola Politécnica), À margem da história do

Brasil.

3) Euzébio de Oliveira (Diretor do Serviço Geográfico e Academia Brasileira

de Ciências), O que faz o serviço geológico.

4) Amaury de Medeiros (Faculdade de Medicina), Fisionomia das árvores.

5) Othon H. Leonardos (Escola Politécnica), As pedras preciosas

brasileiras.

6) J. A. Padberg Drenkpol (Museu Nacional), A idade do gênero humano.

7) Álvaro Ozorio de Almeida (Faculdade de Medicina e Museu Nacional), O

problema universitário.

8) M. Caullery (Institut de France), É a sexualidade indispensável para a

reprodução?

9) P. Rivet (Musée de Paris), A origem do homem e A conquista da força

motriz animal pelo homem.

10) P. Langevin (Collège de France), A origem da energia solar e Ultrasons

e suas aplicações.

1929 (programados)

1) Álvaro Ozorio de Almeida (Faculdade de Medicina e Academia Brasileira

de Ciências), O problema universitário.

2) Adalberto Menezes de Oliveira (Escola Naval e Academia Brasileira de

Ciências) - Auroras polares, 1 conferência; A alta atmosfera, 1 conferência.

3) Raymundo Lopes (Museu Nacional), Gonçalves Dias e a raça

americana, 1 conferência.

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176

4) Mello Leitão (Museu Nacional e Academia Brasileira de Ciências), Os

animais na religião, 1 conferência; O transformismo, 3 conferências.

5) A. Childe (Museu Nacional e Academia Brasileira de Ciências), Os

perfumes na Antiguidade, 1 conferência; Disseminação do nome do cão na

América, 1 conferência.

6) Aggripino Grieco, Lima Barreto, 1 conferência; Raul de Leoni, 1

conferência; D’Annunzio, 1 conferência.

7) Julio Cesar Diogo (Museu Nacional), O ciclo do carbono na natureza, 1

conferência.

8) Olegario Marianno (Academia Brasileira de Letras), Poesia sertaneja, 1

conferência.

9) Carneiro Felipe (Instituto Oswaldo Cruz e Academia Brasileira de

Ciências), O pH, 2 conferências.

10) Ruy de Lima e Silva (Escola Politécnica e Academia Brasileira de

Ciências), Riquezas minerais brasileiras, 5 conferências.

11) Fróes da Fonseca (Museu Nacional), Mitologia nórdica, 1 conferência.

12) J. A. Padberg Drenkpol (Museu Nacional), A idade do gênero humano,

1 conferência.

13) O. B. do Couto e Silva (Faculdade de Medicina), Questões sociais na

América, 1 conferência.

14) Ronald de Carvalho, Estética, 2 conferências.

15) Mario Saraiva (Instituto de Química e Academia Brasileira de Ciências),

Atmosfera gasosa e seu aproveitamento, 1 conferência.

16) Heloisa Alberto Torres (Museu Nacional), Cerâmica de Marajó, 1

conferência.

17) Alfredo Schaeffer (Escola de Engenharia de Belo Horizonte),

Possibilidades da química farmacêutica no Brasil, 1 conferência.

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177

18) José Marianno Filho (Sociedade Brasileira de Urbanismo), Urbanismo,

2 conferências.

19) Alberto Betim Paes Leme (Museu Nacional, Escola Politécnica e

Academia Brasileira de Ciências), Contribuições à teoria do deslocamento dos

continentes, 4 conferências.

20) Euzébio de Oliveira (Diretor do Serviço Geológico), O que realizou o

Serviço Geológico na Amazônia, 1 conferência.

21) Licínio de Almeida (Escola Politécnica da Bahia), Os recifes coralinos

da Bahia, 1 conferência.

22) Sylvio Fróes de Abreu (Sociedade de Geografia), Antropogeografia do

Maranhão, 1 conferência.

23) Fernando de Magalhães (Faculdade de Medicina, presidente de

Academia Brasileira de Letras), Eugenia, 7 conferências.

24) Dulcídio Pereira (Escola Politécnica), Física do descontínuo, 4

conferências.

25) Aurélio de Menezes (Escola Politécnica da Bahia), Resolução na carta

dos problemas do céu, 1 conferência.