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A DISCIPLINA DE CTS E O USO DOS RECURSOS MIDIÁTICOS COMO
ESTRATÉGIA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
BIANCA DE SOUTO HOMRICH1
MARGARETH NASCIMENTO DE SOUZA LIRA2
ANGELA LUZIA MIRANDA³
Resumo: Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) é um componente curricular ofertado no
Bacharelado em Ciências e Tecnologia (BC&T) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), que possui como finalidade propiciar uma reflexão introdutória acerca da
relação entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade. Trata-se de despertar o senso crítico do
discente sobre as implicações sociais que envolvem o profissional das engenharias e do
bacharel em ciência e tecnologia, posto que a atuação destes profissionais não está
desvinculada do contexto histórico, filosófico, sociológico, político, econômico, ambiental e
cultural a qual está inserida. Para alcançar este objetivo, estratégias de ensino, baseadas em
uma visão de educação que tem como finalidade a emancipação e não apenas o ensinar
técnico e científico, são fundamentais, incluindo o uso dos recursos midiáticos que
aproximam o conteúdo da realidade do educando. Este trabalho propõe demonstrar o uso
didático e pedagógico destes recursos no processo de ensino aprendizagem dos acadêmicos do
BC&T. Com base em teóricos da educação (Freire, Morin), e da educação tecnológica
(Bazzo, Cabral, Miranda), entre outros, busca-se exemplificar e explorar o uso de alguns
recursos midiáticos como facilitador no processo de ensino-aprendizagem, tendo como
experiência de sua realização os próprios conteúdos trabalhados em sala de aula atualmente
em CTS.
Palavras-chave: Educação; CTS; Bacharelados Interdisciplinares; Ensino-Aprendizagem:
Recursos midiáticos.
INTRODUÇÃO
Criado no ano de 2009, o Bacharelado em Ciências e Tecnologia (BC&T) da Escola
de Ciências e Tecnologia/UFRN possui caráter interdisciplinar por associar o estudo da área
tecnológica com a área humanística. É o caso de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS),
ofertada como disciplina obrigatória do curso. O objetivo da disciplina é levar o aluno a
refletir criticamente sobre sua relação com a sociedade, enquanto futuro engenheiro, cientista
1Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Escola de ciências e tecnologia, Brasil. E-mail:
[email protected]. 2Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Escola de ciências e tecnologia, Brasil. E-mail:
³Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Escola de ciências e tecnologia, Brasil. E-mail:
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ou tecnólogo, por meio da quebra de paradigmas impostos por concepções tradicionais de
ciência e de tecnologia, tais como: a neutralidade da ciência e da tecnologia e a dissociação da
ciência e tecnologia do âmbito da sociedade.
Para Paulo Freire (2005), a formação humanista e técnica não são adversas, contanto
que a ciência e tecnologia sejam meios de libertação para os homens. Dessa forma, o uso de
recursos midiáticos contribui para uma educação libertadora, na medida em que permite que o
aluno estabeleça a relação entre o conteúdo dado em sala e a sua experiência cotidiana, assim
como descreve o próprio pensador da educação:
Será a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de
aspirações do povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da educação
ou da ação política.
O que temos de fazer, na verdade, é propor ao povo, através de certas contradições
básicas, sua situação existencial, concreta, presente, como problema que, por sua
vez, o desafia e, assim, lhe exige resposta, não só no nível intelectual, mas no nível
da ação. (FREIRE, 2005, p. 42).
Neste mesmo sentido, um dos estudiosos da educação tecnológica no Brasil, Walter
Bazzo (2008), considera que o ensino de CTS nos cursos de engenharias e nos bacharelados
deve facilitar o despertar da consciência crítica pelo estudante e levá-lo a perceber como seu
comportamento profissional pode afetar a sociedade, considerando a interação entre o nível
intelectual e a prática da educação tecnológica.
Embasado nestas concepções de educação, este estudo descreve as experiências da
equipe de ensino de CTS (professores e monitores) no BC&T da UFRN, do ponto de vista do
uso dos recursos midiáticos em sala de aula (como: documentários, vídeos, charges, músicas,
etc.), considerando-os ferramentas que auxiliam no processo de ensino-aprendizagem. Trata-
se de averiguar sua aplicação como estratégia didático-pedagógica que leva o aluno a associar
teoria e prática, bem como atualizar conteúdo e experiência vivida.
A análise realizada a partir desse estudo possibilitou inferir a importância do uso
destes recursos midiáticos na disciplina de CTS e na formação dos estudantes, na medida em
que facilitada e possibilita a melhor compreensão acerca do conteúdo e sua relação com a
prática profissional.
REFERENCIAL TEÓRICO
O bacharelado interdisciplinar em Ciências e Tecnologia
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Criado pela a Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2008, o Bacharelado
Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia (BC&T) surge a partir do Programa REUNI (de
reestruturação e expansão) da Universidade pública brasileira como uma nova proposta de
ensino nas áreas de Ciências Exatas e Engenharias.
O curso é uma formação acadêmica-profissional de nível superior que ocorre em
ciclos sucessivos. A carga horária do curso é de 2.400 horas divididas entre seis períodos
letivos semestrais. Os três primeiros semestres, somam 1260 horas e compõem um núcleo
chamado de primeiro ciclo, de natureza obrigatória que deve ser cursado por todos os alunos e
que integra conhecimentos de diversas áreas, numa formação multidisciplinar. Após essa fase,
que tem duração média de um ano e meio, o aluno opta por uma das ênfases: Formação
interdisciplinar em Ciências & Tecnologia (C&T), área tecnologia (com disciplinas optativas
que o direcionam para os cursos de engenharia) ou especialização em ciências exatas (com
disciplinas optativas que o direcionam para cursos na área de ciências exatas).
Finalizado esse segundo período, o aluno conclui o ciclo inicial e torna-se Bacharel em
Ciências e Tecnologia. A partir daí, ele pode optar pela inserção no mercado de trabalho, ou
continuar a formação complementar da ênfase escolhida, ou, ainda, optar pela pesquisa na
área da pós-graduação. No segundo ciclo formativo, os alunos que optaram pela ênfase na
área tecnológica podem escolher entre as seguintes engenharias: Ambiental, Biomédica, Da
computação, De materiais, De petróleo, de Telecomunicações, Mecânica ou Mecatrônica. Já
os alunos que optaram pela especialização em ciências exatas podem seguir para os cursos de
Matemática, Física, Estatística ou Ciências Atuariais. Ao fim do segundo ciclo, o aluno recebe
outro diploma referente à sua formação especifica.
Figura 01 – Os ciclos do BC&T
Fonte: Elaborado pelas autoras (2016).
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A entrada no curso ocorre pelo sistema de seleção unificada (SISU), a partir da nota
do ENEM. São oferecidas 1120 vagas por ano, sendo 280 para o turno da manhã/tarde e 280
para o turno da noite em cada semestre.
O diferencial do BC&T encontra-se não apenas na possibilidade de obtenção de dois
diplomas em um período curto de tempo, mas também na forma como a estrutura curricular é
montada, com enfoque interdisciplinar. Deste modo, os bacharelados interdisciplinares têm
como características “uma formação com foco na interdisciplinaridade e no diálogo entre
áreas de conhecimento e entre componentes curriculares, estruturando as trajetórias
formativas na perspectiva de uma alta flexibilização curricular” (BRASIL, 2010, apud
LUCENA e CABRAL, 2015, p. 6).
Para Cremasco (2009), o engenheiro precisa criar uma harmonia entre o
desenvolvimento de suas capacidades científica, tecnológica, humana e conceitual.
Acrescenta ainda que o engenheiro precisa se reconhecer como agente de transformação
social e visualizar sua participação no todo. Portanto, a associação entre diferentes áreas do
conhecimento desponta hoje como importante diferencial na formação dos profissionais da
engenharia. E o BC&T da UFRN aparece como um dos pioneiros nesse modelo de ensino
superior no Brasil, possuindo disciplinas obrigatórias inovadoras dentro da área das ciências
exatas, como: Práticas de leitura e escrita; Meio ambiente e desenvolvimento urbano e CTS.
A disciplina de Ciência, Tecnologia e Sociedade
A disciplina de CTS é um dos componentes curriculares do primeiro ciclo do BC&T.
Possui caráter obrigatório no primeiro semestre do curso e carga horária de 30 horas/aula. O
objetivo da disciplina é despertar no aluno reflexões acerca da relação da sociedade com a
ciência e a tecnologia, a partir de uma análise das relações históricas, filosóficas e sociais. A
partir de autores como Bazzo, Marx, Heidegger e Habermas, o aluno é levado a compreender
a intrínseca relação política existente entre a área cientifica e a sociedade, quebrando assim os
paradigmas estabelecidos sobre as visões tradicionalmente ensinadas sobre o que é a Ciência e
a Tecnologia, e suas relações com o meio social.
De acordo com Aires, César e Miranda (2015), a disciplina de CTS possibilita aos
alunos uma discussão dos efeitos de sua futura atuação profissional, seja ela como engenheiro,
cientista ou bacharel em ciências e tecnologia. Tornando-se, portanto, uma importante
ferramenta para diferenciar o aluno formado pelo BC&T, do aluno formado em um curso de
engenharia de apenas um ciclo.
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Desse modo, cursar CTS possibilita ao aluno desenvolver diversas competências como
a reflexão crítica sobre como se dá a produção de ciência e tecnologia no âmbito da sociedade
e capacidade de realizar análises no campo filosófico e sociológico da ciência e da tecnologia.
Para muitos alunos, cursar a disciplina CTS logo no primeiro semestre, representa um grande
impacto, principalmente pela quebra da expectativa de encontrar no curso apenas disciplinas
voltadas para as ciências exatas.
Esse e outros fatores, como o caráter inovador, transformam o ensino das
humanidades nas engenharias em um desafio para professores e monitores. Como possibilitar
a compreensão de um aluno que muitas vezes busca um curso na área de exatas por não
possuir nenhuma afinidade com as outras áreas? Como despertar capacidades e habilidades
cognitivas que não são trabalhadas nas outras disciplinas do curso? Eis os desafios.
Para favorecer o processo de ensino-aprendizagem e estimular o aluno, diversas
metodologias são aplicadas pelos docentes e pela equipe de monitoria, como: grupos de
estudo (GE) e o uso de recursos midiáticos, que é o foco desse trabalho.
Interlocuções entre CTS e didática
Em consonância com as ideias de Freire (2005), sabemos que a educação pode
assumir diferentes papeis dentro da sociedade. Ou seja, a mesma pode ser emancipatória, ou
simplesmente reprodutora da lógica vigente. Uma educação que meramente reproduz a
realidade posta, não explora completamente a capacidade do ser humano de pensar e refletir
acerca da realidade e modificá-la, tendo em vista as suas contradições.
Com a modernidade, novas relações de produção se instituíram na sociedade, de forma
que o trabalho do artesão começa gradativamente a ser substituído pelo trabalho das
máquinas. Esse processo foi fundamental para que houvesse a transição do feudalismo para o
modo de produção capitalista. Nesse modo de produção voltado para mais valia e o lucro, faz-
se evidente a divisão de classes sociais, onde uns detém os meios de produção e outros
vendem as suas forças de trabalho para estes (MARX, apud MIRANDA, 2012, pp. 26 e ss.).
Neste sentido, Freire (1996) discute a educação na sociedade moderna, que apenas preza pela
reprodução dessas relações instauradas. Isso fica claro quando o autor traz a ideia de que do
ponto de vista dos interesses dominantes, a educação deve ser imobilizadora e ocultadora de
verdades. Ou seja, ela serve para manter o status quo vigente. E é assim que o oprimido é
educado a introjetar o opressor, ao invés de buscar o seu próprio processo de libertação e
emancipação (Freire, 2005).
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Com isso, podemos estabelecer a relação com as visões de técnica e de tecnologia da
sociedade moderna. De acordo com Miranda (2012), a aliança entre ciência e técnica,
garantida por meio da tecnologia não acontece de maneira aleatória, ou seja, esta depende
de contextos político, social e econômico que influenciou e determinou tal união. De forma
que a tecnologia em sentido moderno não pode ser vista desvinculada do modo de produção
capitalista. Atualmente, o conhecimento técnico assume o valor da eficiência, em
contraposição ao sentido aristotélico que assumia o valor da prudência (MIRANDA, 2012).
Neste sentido, uma das propostas da disciplina de CTS é desvelar tais ideologias que
perpassam os conceitos de ciência e tecnologia e suas relações com a sociedade. Para tanto, a
didática adotada nas aulas se faz de extrema importância nesse processo. Pois, de acordo com
Oliveira (1995) a didática tem como objetivo refletir sobre o papel sociopolítico da educação,
da escola e do ensino. Ou seja, no caso da disciplina de CTS, trata-se de indagar a que modelo
societário obedece às políticas científicas e tecnológicas vigentes em nossa sociedade. E qual
modelo societário queremos construir.
Portanto, se o objetivo central é formar profissionais emancipados, de caráter também
humanística e capazes de fazer “ciência com consciência” (para usar a mesma expressão de
Edgar Morin, 2005), didaticamente é imprescindível o uso de recursos que contribuem para
este propósito. Neste sentido os diversos recursos midiáticos como vídeos, documentários,
charges, propagandas, imagens, que atualizam o conteúdo e refletem a realidade e o contexto
atual, é de fundamental importância no sentido de impactar e despertar o aluno para estas
indagações.
Ou seja, a maneira como a disciplina é conduzida em seu sentido didático, utilizando-
se destes recursos midiáticos pode proporcionar ao aluno a consciência de que seu trabalho
não é neutro e meramente técnico, mas sim tem implicações sociais e éticas. Com a disciplina,
se desperta no aluno a possibilidade de se desenvolver uma engenharia solidária,
comprometida com a sociedade.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica para fundamentação teórica das
atividades realizadas ao longo do primeiro semestre de 2016. Em um primeiro momento fez-
se um levantamento bibliográfico informal, que consistiu em uma pesquisa não sistematizada
pela internet em bancos de dados como SciELO, Lilacs, Google Acadêmico e Portal de
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Periódicos da Capes. Este primeiro momento foi importante, haja vista que a fundamentação
teórica do trabalho foi feita com base nos trabalhos encontrados nesses bancos de dados e foi
imprescindível para posterior análise dos recursos midiáticos trabalhados.
Em um segundo momento, fez-se um levantamento bibliográfico sistemático com base
em trabalhos já publicados pela equipe da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN acerca
da temática. A escolha por este banco de dados se deu devido a intenção de se trabalhar a
partir de um referencial que já estudava questões diretamente relacionadas com o ensino de
CTS. Ou seja, partiu-se de pesquisas que referenciavam o contexto ao qual o presente trabalho
tem o objetivo de aprofundar. Também é importante ressaltar que houve a observação
participante das autoras deste trabalho (Professora e monitoras) que puderam acompanhar
sistematicamente a aplicação destes recursos didáticos em sala de aula, em consonância com
os interesses e o aproveitamento dos alunos nas aulas. Neste sentido, os trabalhos sobre
ciência e tecnologia produzidos pelos docentes e discentes da ECT, fundamentaram parte
desta pesquisa e possibilitaram as devidas interlocuções entre os recursos midiáticos, as
didáticas de aulas e os conteúdos de CTS.
Para exemplificar e contextualizar, selecionamos dois recursos midiáticos utilizados
em cada unidade para um maior aprofundamento. Embora outros recursos tenham sido
abordados ao longo da disciplina, selecionou-se aqueles que foram utilizados em aulas, por
alcançarem um maior contingente de alunos.
O uso de recursos midiáticos como estratégia didático-pedagógica
Os estudos de Bazzo (2008) indicam que a realização de uma análise crítica acerca das
práticas pedagógicas tradicionais é de grande relevância para o processo de mudança nas
metodologias de ensino-aprendizagem. O ensino da ciência, da técnica e da tecnologia
imbuído da ideologia de neutralidade compõe o processo de ensino tradicional das
engenharias, que vai de encontro ao ensino como processo social. Para contribuir com a
superação do processo tradicional, o uso de novas tecnologias pode ser um meio para auxiliar
no desenvolvimento didático de um ensino social da ciência, da técnica e da tecnologia.
Na disciplina de CTS o uso dos recursos midiáticos desponta como mecanismo para
auxiliar a compreensão do aluno, na medida em que relaciona seu contexto social ao conteúdo
da disciplina, favorecendo a análise crítica. Para Freire (2005), é necessário que os recursos
utilizados representem situações conhecidas nas quais os discentes podem se identificar.
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Dessa forma, o conteúdo torna-se mais acessível ao estudante, garantido, assim melhor
assimilação do conteúdo ministrado.
Nesse sentido, está atrelada à escolha do recurso midiático a intencionalidade do
mediador do processo de conhecimento, bem como a do próprio instrumento ou meio didático
utilizado para tal. Ou seja, ao se optar pelo uso de determinado recurso, o educador deve estar
consciente dos aspectos políticos, ideológicos, sociais e econômicos que o instrumento traz
em si.
A partir disso, o docente permite que o discente visualize uma crítica à neutralidade e
à objetividade da ciência, centrais no ensino tradicional das engenharias. Essa ideia pode ser
evidenciada nas explanações de Freire quando o mesmo descreve que: “No processo de busca
da temática significativa já deve estar presente a preocupação pela problematização dos
próprios temas. Por suas vinculações com outros. Por seu envolvimento histórico-cultural
(FREIRE, 2005, p. 49).”
Com base no que foi descrito anteriormente, alguns recursos e suas aplicações serão
explanados a seguir, no intuito de exemplificar como o uso dos recursos midiáticos contribuiu
para a formação da consciência crítica do aluno na disciplina de CTS.
RESULTADOS
No primeiro módulo, ou grande eixo temático de CTS, denominado “O que é ciência”,
optou-se por trabalhar com o documentário “Projeto Manhattan” que analisa a história da
produção da bomba atômica. Tal escolha visa exemplificar a não neutralidade das descobertas
cientificas e, consequentemente, da ciência, bem como desmistificar as visões
tradicionalmente concebidas de ciência, como é o caso da neutralidade científica. O vídeo é
utilizado para consolidar o conteúdo das criticas as visões tradicionais da ciência (BAZZO,
2001). Considerando que o contexto da II Guerra é conteúdo bastante difundido, o vídeo
funciona como elo entre o conhecimento adquirido no ensino médio e o primeiro conteúdo da
disciplina CTS. Dessa forma, o aluno consegue associar melhor as visões explanadas, ao
relacioná-las com um acontecimento concreto que envolve a prática do engenheiro e do
cientista e assim visualizar seu próprio papel como cientista ou tecnólogo situado dentro dos
contextos históricos, sociais e políticos.
No segundo módulo designado “O que é Tecnologia” foi utilizado, sobretudo as
reflexões apresentadas por Langdon Winner (1986) sobre os aspectos políticos da tecnologia.
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Com o título “Os artefatos tecnológicos têm política?” (Miranda, 2013), parafraseado do
próprio estudioso da tecnologia, a professora responsável pela disciplina compilou vários
textos que demonstram a não neutralidade da tecnologia. O primeiro deles, “As pontes de
Long Island”, é um texto adaptado dos próprios estudos de Winner, que demonstra por meio
do exemplo da construção das pontes de Long Island como a tecnologia é permeada por
diversas ideologias e intencionalidades. Para facilitar ainda mais a compreensão, o segundo
texto apresenta um comparativo com o contexto regional da cidade de Natal/RN, apresentado
na letra da música “Zona Norte, Zona Sul” da cantora Khrystal. Artista potiguar, Khrystal
retrata em sua música o preconceito que permeia a ponte sobre o Rio Potengi, iniciando uma
discussão acerca do objetivo da ponte: unir ou segregar a cidade de Natal? A associação com
a realidade da região possibilita que o aluno perceba com mais facilidade e realismo a crítica
às visões instrumental e de neutralidade da tecnologia. Do mesmo modo, sugere-se um
terceiro exemplo para demonstrar como e por que os artefatos tecnológicos são permeados de
função social e política. Trata-se do estudo realizado por Olivier Razac sobre “A história do
arame farpado” (2009, 2013).
No terceiro módulo, intitulado “As relações entre Ciência, Tecnologia e a Sociedade”,
optou-se por exibir dois documentários (vídeos), para demonstrar como a ciência e a
tecnologia estão intrinsecamente relacionadas à sociedade, influenciado os modelos
societários e sendo influenciados por eles.
O primeiro documentário, intitulado “Chimamanda Adichie: o perigo da história
única” (ADICHIE/TED, 2009) e o segundo cujo título é “Natalia Garcia: Cidades para
pessoas” (GARCIA/TED, 2013). Outro exemplo trabalhado na terceira unidade consiste em
exemplos de políticas científicas e tecnológicas e seus riscos, noticiados na atualidade (como
foi caso do rompimento da barragem do fundão em Mariana/MG, ocorrida em 2015). Onde
foi disponibilizado para os alunos o uso de imagens, notícias e relatórios a respeito da
temática. Tal trabalho, acima da questão avaliativa, possui como finalidade mostrar as
temáticas atuais que envolvem diretamente os profissionais da engenharia e as questões
relacionadas com a ciência e a tecnologia.
No caso do primeiro documentário (“O perigo da história única”), o conteúdo foi
relacionado com a “maldição” da única resposta certa como solução para os dilemas da
ciência e da tecnologia. Para tanto, os acadêmicos assistiram ao vídeo em sala e em discussões
em grupo, puderam relacionar o vídeo, com o texto base da disciplina sobre participação
pública em ciência e tecnologia.
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Ao se trabalhar o segundo vídeo, optou-se por uma metodologia semelhante, na qual
os alunos, partindo de uma leitura prévia, assistiam e, logo em seguida, discutiam em grupo e
tentavam formular uma reflexão com base em duas questões. A primeira tinha como objetivo
identificar os Modelos (Clássico e Participativo) de Políticas em Ciência e Tecnologia que
apareciam no vídeo. Tal identificação se mostra de grande importância porque, só a partir
dela, se pode perceber como a maneira que o engenheiro atua e que modelo o mesmo escolhe,
pode definir resultados e impactos socioambientais de seu trabalho. Outro aspecto que foi
solicitado, para estimular ainda mais a reflexão crítica, consistiu na relação entre o desastre de
Mariana e as temáticas mostradas no vídeo.
Neste sentido, é possível perceber que em cada tópico da disciplina, optou-se por
utilizar recursos midiáticos diferentes e com finalidades que iam ao encontro da proposta da
unidade. Mas acima de tudo, o objetivo era aproximar a disciplina da realidade do profissional
de engenharias e mostrar que o mesmo possui uma grande relação com a sociedade ao seu
redor.
CONCLUSÃO
Tal como a escolha dos conteúdos, a escolha dos recursos didáticos (incluindo os
midiáticos) torna-se uma decisão de grande relevância no processo de ensino aprendizado,
pois, como nos ensina Oliveira (1995), a didática escolhida reflete o papel social e político e o
conceito de educação adotado pelo professor.
É neste sentido que os recursos midiáticos hoje disponíveis, vinculados às tecnologias
da informação e da comunicação, tal como demonstramos aqui, podem aproximar os aspectos
teóricos do conteúdo da disciplina de CTS à realidade vivenciada pelo acadêmico,
proporcionando, assim dois aspectos importantes dentro do contexto de uma educação para a
emancipação: (I) Estes recursos propiciam ao educando perceber a vinculação entre a teoria e
a prática; (II) Eles contribuem para a tomada de consciência do educando sobre o papel que
ocupa hoje a ciência e a tecnologia na sociedade, considerando que as decisões políticas em
ciência e tecnologia influenciam na tomada de decisão sobre os modelos societários que
queremos.
Dessa forma, é possível concluir que para que se tenham novas práticas de ensino-
aprendizagem, fazem-se necessárias novas estratégias didático-pedagógicas. Todavia, tais
práticas de transmissão de conteúdos devem sempre ter em vista as intencionalidades do
educador, do educando e do recurso midiático escolhido para o referido processo.
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