A Destra Men to Deum Cao

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ADESTRAMENTO DE UM CÃO PARA GUARDA Antes de tudo, recomendamos ao leitor que leia, por pelo menos uma vez, este capítulo até o final antes de iniciar qualquer trabalho prático a respeito de seu conteúdo. Muitas coisas referidas no início do capítulo só serão perfeitamente compreendidas após avançarmos mais em sua leitura. Mais importante que as técnicas aqui descritas, é o entendimento da maneira de como o cão percebe e entende o que o rodeia, e, principalmente, de seus mecanismos psicológicos. Quando chegarmos bem compreender essas áreas, pouco importará os métodos que venhamos a utilizar, pois teremos conhecimento suficiente para chegarmos, inclusive, a criar métodos novos e específicos para um dado animal, conforme sua necessidade específica. O autor procura passar o que tem aprendido em muitos anos dedicados a esta paixão, um método trivial, mas um tanto quanto original em relação ao até agora publicado, mas como sugestão do que como doutrina. Pelo menos, para os cães da raça Dogue Brasileiro, objetivo principal deste trabalho, aparentemente, até o momento, tem sido o método que demonstrou maior eficácia, tanto do ponto de vista de rapidez de aprendizado, como de manutenção do mesmo. Uma característica importante desta metodologia, se bem utilizada, é que até agora nenhum cão foi perdido para guarda em função de sua aplicação. Não queremos dizer que esse método venha a nos assegurar cem por cento de sucesso, pois isso seria utópico, mas sim que os pouquíssimos insucessos ocorridos não se devem à metodologia aplicada, ou que, pelo menos, não temos nenhuma razão aparente para responsabilizá-la. A valorização do cão como indivíduo e membro da família, sem dúvida, é a viga mestra de todo o trabalho. Neste capítulo, seqüencialmente, procuraremos mostrar todas etapas do treinamento de um cão para guarda. Para tanto, vamos supor ser esse animal um filhote. Se analisarmos as raças de guarda de um modo geral, muitos cães de dez meses, ou às vezes menos, já estão perdidos para o trabalho por não haverem recebido os cuidados necessários para tal. Na maioria das vezes, nas raças desenvolvidas para tal mister, o treinamento é bem sucedido quando iniciado até os quatorze meses de idade, mas muitos cães podem vir a não mais se adequarem a esta finalidade caso o treinamento específico não se inicie desde a mais tenra idade. Infelizmente, haverá sempre casos, principalmente em função das degenerações que tais raças têm sofrido, de animais que já nascem totalmente inaptos para tal tarefa. As causas e conseqüências destas aberrações são analisadas em capítulos anteriores. Felizmente, o Dogue Brasileiro se não é a raça com maior índice de aproveitamento para guarda, em cães que recebam tal treinamento, sem nenhuma dúvida está entre as de maior aproveitamento dentre as, aproximadamente, mil e cem existentes, tanto registradas pela FCI, quanto ainda sem tal registro. Isto, mesmo que levemos em conta raças pouquíssimos conhecidas, como o Kangal e o Cão de Presa Canário, as quais o autor ainda não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente. O sucesso do Dogue Brasileiro, além da coragem intrínseca destes animais, está fundamentado, também, na versatilidade e equilíbrio de seu temperamento. Outra razão que pode vir inviabilizar um cão para guarda é o exagero das repreensões por parte do dono, ou qualquer outra pessoa da casa, em relação às travessuras do animal quando filhote. É preferível, nos momentos de impaciência, nos afastarmos de nossos cães, pois na sua educação devemos colocar muito mais amor do que energia. Certamente, um filhote não irá compreender, que alguma violência cometida contra ele, deve-se apenas a uma pequena crise nervosa de seu dono, e que logo irá passar... Traumas adquiridos quando filhote, dificilmente serão superados por toda a vida do cão. Até uma certa idade, o cão não discrimina bem os de casa dos demais, se sofrer, neste período, algum castigo exagerado provavelmente aprenderá a temer todo ser humano, tornando-se, então, no futuro, inútil para defesa. De um modo geral, os preceitos de adestramento para todas raças são os mesmos, embora, é claro, algumas tenham qualidades inatas específicas muito superiores a outras. Em algumas raças poderemos encontrar maior coragem, em outras maior obediência, etc. O que podemos notar, exceção feita ao Dobermann, que as raças tradicionais de guarda, via de regra, apresentam cães de personalidade mais contida, enquanto que nos pit bulls, bull terriers e bandogs um maior gameness*. Embora as técnicas de adestramento possam ser as mesmas, em alguns cães teremos maior necessidade de enfatizar mais certos aprendizados do que com outros. Isso é fundamental, mas esquecido pela imensa maioria dos adestradores * Gameness, palavra inglesa sem tradução ideal para o português, que no caso significaria disposição, poder físico e determinação psíquica, poder de explosão, etc. No caso do Dogue Brasileiro, definiríamos este cão como intermediário entre estes dois grupos e, entendemos, ser essa posição a ideal para sua finalidade. Embora não possamos contar sempre com isso, muitos casos já aconteceram de cães desta raça que se tornaram bons guardiões mesmo tendo se iniciado o trabalho para tal após os três anos de idade. Houve uma cadela de nome Juma de Tasgard,, que sem nenhum treinamento inicial, obteve pontuação máxima no ataque, já aos nove anos de idade, mas, é claro, que não podemos contar com isso para todos cães mesmo desta raça. Deve-se salientar que um cão que não tenha conhecido brutalidades e tenha sido bem tratado, de uma boa herança genética, não será, em momento algum, difícil realizar tal tarefa. No entanto, dificilmente teremos um animal tão bom quanto aquele cujo treinamento se inicia o mais cedo possível. Insucessos foram constatados no treinamento de dogues brasileiros por adestradores experientes com outras raças, sobretudo aqueles que insistem nos preceitos tradicionais voltados ao schtzhund. Treinar um dogue para a guarda efetiva é algo bem mais fácil do que para a maioria das raças envolvidas neste esporte, que exige uma metodologia mais simples, porém bem diferente.

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Adestramento

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ADESTRAMENTO DE UM CÃO PARA GUARDA Antes de tudo, recomendamos ao leitor que leia, por pelo menos uma vez, este capítulo até o final antes de iniciar qualquer

trabalho prático a respeito de seu conteúdo. Muitas coisas referidas no início do capítulo só serão perfeitamente compreendidas após avançarmos mais em sua leitura. Mais importante que as técnicas aqui descritas, é o entendimento da maneira de como o cão percebe e entende o que o rodeia, e, principalmente, de seus mecanismos psicológicos. Quando chegarmos bem compreender essas áreas, pouco importará os métodos que venhamos a utilizar, pois teremos conhecimento suficiente para chegarmos, inclusive, a criar métodos novos e específicos para um dado animal, conforme sua necessidade específica. O autor procura passar o que tem aprendido em muitos anos dedicados a esta paixão, um método trivial, mas um tanto quanto original em relação ao até agora publicado, mas como sugestão do que como doutrina. Pelo menos, para os cães da raça Dogue Brasileiro, objetivo principal deste trabalho, aparentemente, até o momento, tem sido o método que demonstrou maior eficácia, tanto do ponto de vista de rapidez de aprendizado, como de manutenção do mesmo. Uma característica importante desta metodologia, se bem utilizada, é que até agora nenhum cão foi perdido para guarda em função de sua aplicação. Não queremos dizer que esse método venha a nos assegurar cem por cento de sucesso, pois isso seria utópico, mas sim que os pouquíssimos insucessos ocorridos não se devem à metodologia aplicada, ou que, pelo menos, não temos nenhuma razão aparente para responsabilizá-la. A valorização do cão como indivíduo e membro da família, sem dúvida, é a viga mestra de todo o trabalho.

Neste capítulo, seqüencialmente, procuraremos mostrar todas etapas do treinamento de um cão para guarda. Para tanto,

vamos supor ser esse animal um filhote. Se analisarmos as raças de guarda de um modo geral, muitos cães de dez meses, ou às vezes menos, já estão perdidos para o trabalho por não haverem recebido os cuidados necessários para tal. Na maioria das vezes, nas raças desenvolvidas para tal mister, o treinamento é bem sucedido quando iniciado até os quatorze meses de idade, mas muitos cães podem vir a não mais se adequarem a esta finalidade caso o treinamento específico não se inicie desde a mais tenra idade. Infelizmente, haverá sempre casos, principalmente em função das degenerações que tais raças têm sofrido, de animais que já nascem totalmente inaptos para tal tarefa. As causas e conseqüências destas aberrações são analisadas em capítulos anteriores. Felizmente, o Dogue Brasileiro se não é a raça com maior índice de aproveitamento para guarda, em cães que recebam tal treinamento, sem nenhuma dúvida está entre as de maior aproveitamento dentre as, aproximadamente, mil e cem existentes, tanto registradas pela FCI, quanto ainda sem tal registro. Isto, mesmo que levemos em conta raças pouquíssimos conhecidas, como o Kangal e o Cão de Presa Canário, as quais o autor ainda não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente. O sucesso do Dogue Brasileiro, além da coragem intrínseca destes animais, está fundamentado, também, na versatilidade e equilíbrio de seu temperamento.

Outra razão que pode vir inviabilizar um cão para guarda é o exagero das repreensões por parte do dono, ou qualquer outra

pessoa da casa, em relação às travessuras do animal quando filhote. É preferível, nos momentos de impaciência, nos afastarmos de nossos cães, pois na sua educação devemos colocar muito mais amor do que energia. Certamente, um filhote não irá compreender, que alguma violência cometida contra ele, deve-se apenas a uma pequena crise nervosa de seu dono, e que logo irá passar... Traumas adquiridos quando filhote, dificilmente serão superados por toda a vida do cão. Até uma certa idade, o cão não discrimina bem os de casa dos demais, se sofrer, neste período, algum castigo exagerado provavelmente aprenderá a temer todo ser humano, tornando-se, então, no futuro, inútil para defesa.

De um modo geral, os preceitos de adestramento para todas raças são os mesmos, embora, é claro, algumas tenham

qualidades inatas específicas muito superiores a outras. Em algumas raças poderemos encontrar maior coragem, em outras maior obediência, etc. O que podemos notar, exceção feita ao Dobermann, que as raças tradicionais de guarda, via de regra, apresentam cães de personalidade mais contida, enquanto que nos pit bulls, bull terriers e bandogs um maior gameness*. Embora as técnicas de adestramento possam ser as mesmas, em alguns cães teremos maior necessidade de enfatizar mais certos aprendizados do que com outros. Isso é fundamental, mas esquecido pela imensa maioria dos adestradores

* Gameness, palavra inglesa sem tradução ideal para o português, que no caso significaria disposição, poder físico e determinação psíquica, poder de explosão, etc.

No caso do Dogue Brasileiro, definiríamos este cão como intermediário entre estes dois grupos e, entendemos, ser essa posição a ideal para sua finalidade. Embora não possamos contar sempre com isso, muitos casos já aconteceram de cães desta raça que se tornaram bons guardiões mesmo tendo se iniciado o trabalho para tal após os três anos de idade. Houve uma cadela de nome Juma de Tasgard,, que sem nenhum treinamento inicial, obteve pontuação máxima no ataque, já aos nove anos de idade, mas, é claro, que não podemos contar com isso para todos cães mesmo desta raça. Deve-se salientar que um cão que não tenha conhecido brutalidades e tenha sido bem tratado, de uma boa herança genética, não será, em momento algum, difícil realizar tal tarefa. No entanto, dificilmente teremos um animal tão bom quanto aquele cujo treinamento se inicia o mais cedo possível.

Insucessos foram constatados no treinamento de dogues brasileiros por adestradores experientes com outras raças,

sobretudo aqueles que insistem nos preceitos tradicionais voltados ao schtzhund. Treinar um dogue para a guarda efetiva é algo bem mais fácil do que para a maioria das raças envolvidas neste esporte, que exige uma metodologia mais simples, porém bem diferente.

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Nunca é demais repetir, que um cão de guarda nunca deverá passar por castigos exagerados e constrangimentos em

momento algum e, principalmente, quando filhote. Outra precaução é que limitemos sua convivência apenas com as pessoas da casa, principalmente quando dentro de casa. O cão deve sentir nas pessoas estranhas algo, como o nome o diz, realmente estranho. Do contrário, quanto mais conviver com pessoas da família, melhor. Estúpida a idéia que um cão para ser brabo deve ser isolado de todos e até ficar na corrente. A corrente, como qualquer outra tortura, torna o cão desesperado e não valente. O cão de guarda deve ser inteligente e perambular nos locais que deve guardar e neles estabelecer seus domínios. O animal afastado da convivência humana não aprenderá a conhecer o comportamento humano e, assim, discernir as situações necessárias, ou não, de defender seus donos e sua casa. Assim sendo, poderá tornar-se ineficiente e até perigoso . Além disso, não saberá como se comportar e acabará por se tornar uma criatura inconveniente dentro de casa ou na rua. Se o filhote não for acostumado a conosco conviver desde cedo e se acostumar desde cedo com nossos hábitos, difícil será conviver com ele quando adulto. Será, portanto, estabelecido um ciclo vicioso. Assim sendo, interessante será que o cão conviva conosco desde a mais tenra idade, fazendo realmente parte integrante da nossa família. Por que enfatizamos tanto a importância da convivência se estamos considerando apenas de um animal de guarda? Por várias razões: primeira, a felicidade maior do cão está na companhia de seus donos e seus donos também devem gostar de estar com ele, desde que o cão seja bem educado; segunda, o cão deve estar acostumado com os modos e jeitos das pessoas e da casa para saber como defendê-las e como receber comandos, estabelecendo a área de seu território, e, a terceira, é que o cão deve amar seus donos para que realmente sinta-se membro do grupo e esteja disposto a defendê-lo, para tanto, deve conviver com o grupo. A terceira razão é, de longe, a mais importante. O cão que ama seus donos dará a vida para defendê-los, e, para tal, deve se sentir amado e querido. A mola que impulsiona o cão a atacar para defender, para ser eficiente, deve estar baseada no amor e não no medo ou na irritabilidade. Os estranhos devem ser atacados quando invadirem o território do cão sem estarem acompanhados por seu dono, pois o cão não verá neles apenas uma ameaça para ele, cão, mas principalmente para seus familiares humanos. Um animal atado cruelmente a uma corrente, a quem não se dedica amor e carinho, não tem condições psicológicas, além de não estar fisicamente preparado, pela falta de exercícios, de exercer a função de guarda. Atacará, se for o caso, por estar nervoso e, talvez, com medo, e não o fará com inteligência e segurança, tornando-se, inclusive, por estar limitado pela corrente, pouco eficiente e alvo fácil para malfeitores. Uma vez solto da corrente, estando acostumado a ficar preso, não saberá bem o que fazer, pois não está acostumado a ficar solto. Além de tudo, se tornará emocionalmente carente, e é bem possível até que não ataque o intruso por buscar nele o carinho que não encontra em quem deveria lhe dar. No caso específico do Dogue Brasileiro, característica que sem dúvida herdou do Bull Terrier, quanto mais carinho damos ao cão, mais podemos contar com ele como cão de guarda, pois estas raças, embora extremamente valentes, são por demais afetivas não devendo, de forma alguma, para que se tenha um bom animal de guarda, ficarem privados de carinho.

Resumindo o que até agora foi dito, nos limitamos, basicamente, às seguintes conclusões: que o cão a ser treinado para

guarda deve começar tal treinamento o mais cedo possível; que deve desde filhote não ser ensinado a temer pessoas, mesmo as de casa, através de repreensões exageradas; que deve ser afastado de estranhos, e, finalmente, que o convívio com os de casa melhora suas aptidões como guardião. Na verdade, ainda não começamos a descrever o treinamento propriamente dito, pois estamos primeiramente ocupados, o que é muito mais importante, com a formação da personalidade do cão. Queremos que ele seja corajoso, equilibrado, não tema os humanos, nem os ataque sem necessidade, mas seja desconfiado com estranhos e que ame e confie nos seus donos. Treinar um cão que não tenha estas qualidades é como malhar em ferro frio. Essas características são inerentes a todas raças de guarda, que não tenham sido degeneradas geneticamente e cujo espécime não tenham sofrido traumas. O enfraquecimento de tais características atingiu quase todo o universo de tais raças, o que é analisado em capítulos anteriores, pois foram, através de mecanismos sociais e psicológicos da sociedade humana, mal selecionados para reprodução. Quanto mais um indivíduo tiver perdido as características de guarda presentes em seus ancestrais, e isto está mais presente em certas raças que em outras, menos terá instinto para realizar tal função e mais estará vulnerável aos traumas sofridos em seu desenvolvimento. Felizmente, nas raças brasileiras de guarda, no caso do Fila Brasileiro e do Dogue Brasileiro, as qualidades de guarda são muito superiores do que as dos cães europeus da atualidade.

Inúmeras são as razões que podem fazer um indivíduo “racional” atacar, como inveja, ganância, etc. Mas os animais ditos

irracionais atacam somente por medo, a fome, instinto de proteção própria ou ao grupo (filhotes, fêmeas, etc. - no caso do cão, o dono), e, às vezes, em se tratando de filhotes, para aprenderem a caçar. O ataque motivado pelo medo é perigoso, pois não podemos prever com muita certeza quando acontecerá, uma vez que não podemos saber sempre quando o cão virá a ter medo, já que tal sentimento é subjetivo, ainda mais que tal treinamento cria tal predisposição. Nem mesmo se acontecerá o ataque, pois uma reação mais violenta do opositor provavelmente fará o cão recuar, uma vez que quem tem medo normalmente é inseguro. Pela fome, no caso de cães de guarda, seria totalmente inviável e absurdo tal treinamento, além de ser extremamente cruel e não servir para o trabalho, pois o cão só iria atacar quando com fome. Só alguém totalmente insano poderia pensar seriamente em criar cães antropófagos. Se nos referimos a tais absurdos, é tão somente para que possamos mostrar que a única alternativa viável e segura de treinarmos nossos cães seria neles despertando os mecanismos que levam aos instintos de proteção grupal e territorial, o que já é inerente à espécie canina, para com os humanos e animais com quem conviva. Daí a importância que damos à convivência cão-dono. Existe ainda um outro motivo que pode fazer um cão atacar. É um instinto misto que foi desenvolvido a partir da necessidade dos filhotes de mamíferos carnívoros em aprenderem a caçar incentivado pelos humanos que ensinaram tais animais a caçarem sem sentirem fome. É cruel, mas temos que admitir que o homem, durante milênios, perverteu e ensinou os cães a atacarem, e até matarem, por prazer. É o que acontece quando nossos cães massacram pobres ovelhas ou inocentes gatinhos e não os comem. Isto não acontece no mundo selvagem onde um carnívoro não irá se expor aos riscos de uma caçada gratuita. Esse instinto de atacar

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animais pode perfeitamente ser desviado para que o cão persiga e ataque qualquer inimigo, isto aconteceu na captura de escravos e prisioneiros, bem como nos animais agregados aos exércitos, durante quase toda a história da humanidade. Este tipo de ataque sem dúvida será o mais eficiente, mas jamais poderemos pensar em termos um animal com tais características em mãos de pessoas irresponsáveis ou despreparadas ou em locais sem a devida segurança. Na nossa metodologia de treinamento, como veremos a seguir, utilizaremos parte deste método, o ensinado pelas mães aos seus filhotes, enquanto o animal for muito jovem, pois isto lhe dará alegria e segurança básicas ao bom trabalho de guarda, mas, aos poucos, iremos acostumando o cão à convivência com outras pessoas, conforme o tipo de guarda que queiramos que ele se torne.

Os cães que atacam mais voltados à segurança do território são aqueles que possuem maior drive de defesa. Os que

atacam mais voltados ao instinto de caça seriam os que possuem maior drive de caça. O termo oriundo da língua inglesa "drive”, denota, embora tenha um fortíssimo componente genético, algo sobre o qual se pode exercer algum controle ou alteração. Raças como o rottweiler e o fila brasileiro já nascem com predisposição genética a possuírem drive de defesa relativamente mais alto do que o drive de caça, seriam, como veremos adiante, mais propensas a serem cães guardiões e territoriais. Raças, como o dogue brasileiro, têm uma tendência a possuírem um maior drive de caça (ou "drive de rapina" - como preferem alguns), são mais propensas ao ataque lançado e ao assalto (tradução da palavra schtzhund, mas que não deve em nada ser confundida com o esporte schtzhund). Pastores alemães, pastores belgas (principalmente de malinois) e o dobermann são cães indicados tanto para o schtzhund como esporte como para o ataque. Isso em tese, já que o espírito decorativo americano e europeu trouxe severas degenerações para quase todas essas raças. O grande dobermann, companheiro das tropas de elite da SS nazista e talvez o mais completo cão de guarda já criado, veio aos poucos se transformando em um cão de desfile. É reflexo do tempo em que homens de verdade se renderam aos valores matriarcais e efeminados em detrimento da efetividade e da funcionalidade.

O dobermann, até os anos 70, era um cão completo com virtudes de guardião e de protetor pessoal marcantes, e bem

equilibradas. Não há ainda uma comprovação efetiva que o aumento de um drive venha implicar na diminuição do outro, tudo implicando que não; ou até que o aumento de um implicaria em algum aumento do outro, no que se refere ao treinamento. No entanto, no que tange às propensões genéticas, via de regra, cães com um tipo mais forte de drive, possuem o outro menos marcante. Aí estava a grande qualidade psíquica do dobermann antigo, que foi soberbamente selecionado para que tivesse ambos drives altos.

Podemos dividir os cães de guarda em inúmeros grupos, independentemente ou não das diversas raças, de acordo com a

finalidade específica que deles esperamos. Por exemplo, o Schnauzer teria como principal finalidade proteger o cavalo de seu dono contra roubos, pois a raça foi selecionada com cães que tivessem esta aptidão. Mas podemos perfeitamente treinar um cão de outra raça para tal fim. O Pastor Alemão, por exemplo, era, como o nome bem o diz, um cão específico de pastoreio e foi aos poucos deslocado para a finalidade de guarda como atividade principal. O treinamento pode ser genérico ou específico a uma determinada função. De um modo geral, podemos dividir tais animais em dois grandes grupos: os guardiões, radicais ou não, e os cães de proteção. Teremos ainda os cães de rastreamento, que poderão fazer, conforme suas demais características, parte de um ou outro destes dois grupos. No caso deste livro nos limitaremos ao treinamento de um cão que proteja a propriedade e a pessoa, além de uma noção básica de um cão de rastreamento. De um modo geral, podemos dizer que os guardiões seriam mais dedicados a proteger o território e os protetores as pessoas. Estes dois grandes subconjuntos podem não estar muito bem limitados, muito embora grande partes dos cães de guarda possam ser bem definidos nesta ótica.

Para efeito de ilustração, definiríamos como guardiões radicais, ou cães sumários, uma fera que respeitaria poucas

pessoas e viria a exterminar indistintamente qualquer intruso. Tais cães seriam utilizados nos presídios, onde sua simples presença e o terror associado a ela impediriam tentativas de fuga, foram utilizados nas grandes propriedades dos nobres europeus e nos palácios de reis de toda Eurásia e norte da África. A mitologia greco-romana cita o fabuloso CÉRBERO, o guardião do inferno, que lambia as mãos dos que entravam e devorava os que tentavam sair. Ainda hoje, empresas, principalmente nos EUA, possuem cães assim das mais diversas raças, como dobermanns, pastores alemães, rottweilers, pit bulls e mestiços, de temperamento diametralmente oposto daqueles que circulam nas exposições da AKC. Tais empresas se especializaram em prestar serviços alocando tais animais em locais que necessitariam de sua proteção, como depósitos, armazéns, etc. As vantagens de tal tipo de cão seriam, que para esta atividade simples, um animal de temperamento e treinamento tão extremado, não perderia valiosos segundos, ao avaliar a situação, antes de qualquer ataque, expondo-se menos às agressões, incluindo tiros, dos malfeitores, além de tal animal ser muito mais difícil de se subornar com iscas ou agrados. Alguns são verdadeiras feras e têm que ser conduzidos por homens com macacões especiais e dentro de jaulas. As desvantagens deste tipo de animal seriam muitas por outro lado. Primeiramente, o perigo que podem representar caso venham a fugir, e, em alguns casos, até para com as pessoas que o tratam. Outra grande desvantagem, é que este tipo de cão, embora um grande guardião da propriedade, pouca utilidade teria para proteger a pessoa, uma vez que teria sempre que ser preso na chegada de pessoas estranhas, que nem sempre demonstram suas más intenções. Não podem, por razões óbvias, acompanhar seu dono e protegê-lo fora do seu território. O treinamento para um cão sumário, na verdade, é muito fácil, pois se baseia unicamente em que o animal não suporte a presença de nenhuma pessoa estranha e ataque com toda a ferocidade possível, mas não recomendamos, exceto em casos especiais, que alguém venha a possuir um cão assim. Já, como guardiões não radicais, podemos descrever um cão, que embora venha a possuir ojeriza a estranhos, não permitindo sequer sua aproximação, tenha boa e segura postura ante aqueles a quem se habituou, como membros da família e seus agregados. Muitos proprietários, devido às suas limitações pessoais, não têm condições de manter um cão de proteção em condições de efetivamente realizar bem tal tarefa. Neste caso, muito melhor seria possuir um guardião não radical eficaz, de muito mais fácil treinamento. O Dogue

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Brasileiro não têm características ideais para se fazer dele um cão sumário, tendo em vista a herança vinda do Bull Terrier de não ser um cão de um só homem, a despeito do grande guardião que é. Este grupo é composto por cães de alto drive de defesa, exacerbado no caso dos guardiões radicais.

O outro importante subconjunto dos cães de guarda é composto pelos cães protetores em suas subdivisões: protetores

propriamente ditos, cães de assalto e rastreadores. O que diferenciaria este grande grupo do primeiro, o dos cães guardiões, seria essencialmente o treinamento e a personalidade adquirida pelo cão. A raça do animal em si não deve trazer nenhum estigma, mas, sem dúvida, traz em tese, uma profunda propensão genética . Os cães guardiões têm total ojeriza a estranhos, o que lhes dá algum ganho, em função de menor vacilo e maior violência no ataque, quando dentro da propriedade. Porém, tais animais tornam-se inúteis em diversas situações, principalmente no caso dos radicais, uma vez que não se deve conduzi-los em público por não tolerarem estranhos.

Muito mais fácil estimular o drive de defesa do que o de caça. Portanto é mais fácil tornar um cão essencialmente de

proteção em um guardião do que um guardião em um cão de proteção. Isto porque, a defesa é facilmente despertada pelo simples estímulo da desconfiança, enquanto a rapina é em tese uma qualidade nata.

Os cães de guarda protetores, conhecidos também como “policiais”, nome erroneamente dado em alguns locais do Brasil

ao Pastor Alemão e alguns dos seus mestiços, representam um enorme subconjunto dos cães de guarda. Necessitam ter a rapina elevada para perseguirem obcecadamente a presa e não devem ter uma defesa alta para não morderem transeuntes, etc. Essa denominação é imprecisa e confusa e não será mais usada nesta obra.

Resumidamente, podemos, dividir os cães de guarda, em: Guardiões Radicais, ou Cães Sumários: Não suportam a presença de estranhos de nenhuma maneira e em nenhum local.

Alguns se limitam a aceitar apenas uma ou duas pessoas no seu trato. Indicado apenas para empresas prestadoras de serviços e especializadas ou serviço militar, em casos muito especiais.

Guardiões não Radicais: Não suportam a presença de estranhos de maneira alguma, mas apenas dentro de seu território e tolera a presença de estranhos fora dele. Convive bem com todas pessoas que habitem ou circulem habitualmente pela casa. Recomendado para proprietários que não dispõe de recursos humanos ou materiais para possuírem um bom cão de proteção, ou que não precisam de um cão assim. É essencial que sejam mantidos em locais com muita segurança.

Cães de Proteção Propriamente Ditos: Suportam a presença de estranhos até dentro de seu território, desde que autorizada pelo dono. No entanto, atacam sem hesitar sob comando ou no revide de agressões ou ameaças. Ideal para quem precisa de um animal que o proteja em todos lugares, que seja nosso companheiro de todas horas, ou que venha a receber em casa pessoas de não total confiança.

Guardiões-Protetores: Não suportam de maneira alguma a presença de estranhos dentro de seu território, mas convivem amistosamente com pessoas desconhecidas fora dele. No entanto, em qualquer local, atacam sob comando ou no revide de agressões ou ameaças. Alternativa interessante, desde que não haja necessidade de se receber na propriedade estranhos que não sejam da confiança de seu proprietário, e haja boas condições de segurança para manutenção do cão.

Cães de Assalto: excelente para forças policiais e militares especiais, embora não-indicado sequer para o policiamento ostensivo. É o animal que será lançado para dispersar multidões enfurecidas, sem a preocupação dos danos que ira causar a quem ataque. Utilizado para causar o maior dano possível ao inimigo em situações de combate ou na lida de bandidos de altíssima periculosidade. De forma alguma indicado para nenhum outro setor.

Cães Efetivos de Rastreamento: Rastreará pessoas fugitivas e as encurralará ou atacará, conforme treinamento. Apenas indicado para as forças militares ou policiais de elite. Poderá, ou não, acumular funções de guardião ou de protetor.

Devemos levar em conta que as divisões acima expostas têm mais um caráter elucidativo, não devendo servir para toscas

rotulações dos membros da espécie canina, e que cada indivíduo deve ser visto e tratado em particular, dentro do enorme universo de sua personalidade. Outro aspecto a levarmos em consideração, é que quase nada é definitivo dentro do assunto acima, e que a personalidade e, principalmente, a conduta de um cão pode muito bem, em quase todos casos, ser alterada em função do treinamento, manejo e outros fatores a ele dispensados, além da idade do animal.

À exceção da função de guardião radical, o dogue brasileiro se adapta bem a qualquer outra, sendo o treinamento quase o

único diferencial de indivíduo para indivíduo. A cinofilia de trabalho é algo tão apaixonante que, por muitas vezes, leva as pessoas a radicalismos e intolerâncias. Por

exemplo, muitos cinófilos não concebem cães de trabalho diferentes dos arquétipos ao qual se apaixonaram. Contestar a existência de qualquer um dos tipos definidos acima, de certa forma, além de antidemocrático, denota uma visão míope da cinofilia ante ao conjunto das necessidades da sociedade humana como um todo. Isso porque, cada um destes tipos tem função própria diante das necessidades dos proprietários. O, por alguns, condenável, cão sumário, em determinadas situações, pode ser o único recomendável. Por exemplo, imaginemos uma base militar, ou algum estabelecimento que lide com materiais perigosos, como urânio enriquecido, etc., e que possa vir a ser alvos de ações terroristas. Um inimigo poderá ser infiltrado e, aos poucos, ganhar a confiança dos cães que não possuam as características sumárias, e, com isso, alcançar furtivamente os locais de acesso mais

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restrito. Neste caso, milhões de vidas humanas podem estar expostas porque alguém com idéias intolerantes discorda da existência de cães assim. O autor dentre os cães que possui prefere diversificar e, à exceção de cães sumários, detém de todos outros tipos, pois, assim, melhor poderá dispor deles, de acordo com as eventuais necessidades. Pessoalmente, preferimos os protetores e os guardiões-protetores, tendo em vista, dentro do nosso cotidiano, a maior utilidade e confiabilidade que nos fornecem, em todos sentidos.

Muito comum, também, é certa reprovação que algumas pessoas, dentro da cinofilia, tem ao termo prova de ataque,

preferindo sempre prova de defesa. Concordo, perfeitamente, que o segundo politicamente é bem mais correto quando desejamos atingir o público leigo. Mas, em verdade, trata-se de um eufemismo, tendo em vista que a única maneira de um cão defender é atacando, ou a possibilidade de o fazer. Aliás, muito embora nem sempre seja a melhor defesa, em muitos casos, o ataque, é a única maneira de se defender. Citamos isto, em função de que muitas pessoas, inclusive na cinofilia, às vezes, não têm a devida coragem para expor e defender seus pontos de vista, ainda que totalmente corretos, dando, assim, aos leigos, a impressão de que fazem algo errado e ficando, pois, vulneráveis aos ataques contra suas posições, ainda que esses ataques sejam infundados e sem nenhum conteúdo real se analisarmos a questão com um pouco mais de profundidade. Vamos diretamente ao assunto: muitos cinófilos de trabalho ocultam, ou até parecem ter vergonha, desta condição, impressionados pela opinião de pessoas mal- intencionadas ou completamente ignorantes no assunto, de que um cão de trabalho é um animal perigoso, quando bem sabem, tais cinófilos, que isto é uma inverdade. Conhecem bem o assunto e têm a convicção que um cão de guarda, dentro de uma posse responsável, é grande elemento de segurança e não de insegurança, evitando muitas violências, que na maioria das vezes nem se fica sabendo que foram evitadas pela ação ou mera presença do cão, e que a prova de ataque, ou de defesa, é uma constatação da coragem e equilíbrio desse animal, o que nos dará a certeza que atacará para a defesa e que não atacará quando não o for. Devemos, pois, expor com transparência aquilo em que acreditamos para que possamos mostrar às pessoas em geral que o que fazemos é certo e não errado. Quando, muitas vezes, fugimos ao assunto causamos a impressão de que estamos mal-intencionados, ainda que estejamos cobertos de razão. Concordo, perfeitamente, que, em certos momentos, até será preferível, para evitar polêmica com ignorantes, realizarmos as provas de temperamento em locais longe dos olhos dos leigos, mas sempre deveremos lidar com isso de uma maneira franca. Se, por um lado, não é, de forma alguma, conveniente que saiamos por aí contando bravatas a respeito da coragem e agressividade de nossos cães, por outro, não devemos esconder a mão que segura suas guias, se delas temos orgulho.

Se ainda não possuímos nenhum cão e queremos um para ter a finalidade de guarda, ou que acumule esta função à de

companhia, devemos nos preocupar, além de com a raça do animal, com o efetivo temperamento de seus pais e avós. Portanto, devemos procurar conhecer de perto estes exemplares, ou, pelo menos, verificar se em seus pedigrees consta alguma menção a sucesso em provas de trabalho. Infelizmente, por razões já explanadas em capítulos anteriores, isto só é possível para poucas raças. Desnecessário, dizermos que encontramos no Dogue Brasileiro o cão ideal, ou pelo menos um deles, para tais tarefas.

Além das variáveis genéticas, outro fator fundamental, é o período de lactação do filhote. Cadelas histéricas e estressadas

são responsáveis por cães de temperamento fraco. Isto também ocorre com cadelas alienadas em relação a seus filhos. Filhotes criados sem a proteção materna tendem mais a se tornarem adultos inseguros. Muitas vezes, problemas com a mãe, no período em que o cãozinho mama, podem trazer seqüelas insuperáveis. Portanto, uma boa alimentação, calma e paciência com a mamãe cadela, por parte do dono, são elementos essenciais para termos uma boa ninhada, além de um local seguro e sem ruídos excessivos. A cadela tenderá a passar aos filhotes parte do tratamento que dispensarmos a ela. Podemos até realizar algum treinamento de temperamento durante tal período, mas com muito cuidado e se tivermos muita experiência, a fim de que a mãe passe aos filhotes alguma agressividade, mas devemos ter todo o cuidado para que isto não venha associado a estresse. Mesmo no período pós-amamentação, a tranqüilidade e o sossego que venha a usufruir o filhote são muito importantes para sua formação. Muitas pessoas, indevidamente, imaginam que deixando os filhotes irritados teremos bons guardiões. Puro engano. Filhotes estressados geram adultos perturbados e sem condições de assimilar treinamento.

O treinamento prático: Devemos procurar desde aproximadamente uns dois meses de idade a obediência e a coragem. Tal

trabalho deverá ser realizado com muito cuidado para de jeito nenhum traumatizar o cãozinho, pois, se mal feito, poderá deixar o animal irremediavelmente perdido para guarda.

A obediência poderá começar a ser ensinada proibindo-se que o cão entre ou saia de algum lugar, de preferência bem

delimitado, por um degrau, por exemplo. A palavra NÃO, chave de todo o ensinamento futuro, lhe será dita a seguir, no momento que será aplicado ao cão um muito leve tapinha, apenas com a ponta dos dedos indicador e médio ao lado do focinho. A palavra NÃO deve ser pronunciada com energia, mas sem agressividade na voz, e o tapinha dado muito levemente para que o cão venha a saber que NÃO representa algo proibido. A intensidade do tapinha será aumentada ou diminuída de acordo com a necessidade e sensibilidade do animal de captar nossa mensagem. Se sentirmos, no entanto, que o animal mais se intimida que obedece, algo de muito errado está acontecendo, e convém pararmos imediatamente o treinamento. Um cão de guarda por ser valente deve possuir extremo respeito ao dono, mas para ser valente deve desprezar o medo, ou, pelo menos, não ser traumatizado em relação a ele.

No caso do filhote se comportar de maneira muito tímida, é hora de darmos a ele muito carinho e deixarmos que ele nos

lamba a mão e, para quem não se importa, de preferência, o rosto. A lambida, e sua aceitação por nossa parte, tem para o cão um significado de perdão, de conciliação, e, assim, ele saberá que não guardamos mágoas e continuamos seus amigos, o que o deixará tranqüilo para prosseguirmos o aprendizado satisfatoriamente.

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Voltamos sempre ao mesmo experimento, condicionando-o ao significado da palavra NÃO, sem jamais sermos brutos,

apenas enérgicos, na medida apenas do necessário. É absolutamente irrecomendável tentarmos adestrar cães, principalmente filhotes, nos dias em que estamos nervosos e de mal com a vida, pois estenderemos ao animal nossas tensões e o treinamento será, no mínimo, improdutivo ou, mais provavelmente, danoso.

O cão que compreende o significado da palavra NÃO saberá que ela está ligada a algo errado e que não deve ser feito.

Assim, apenas pronunciando-a, mostraremos ao animal quando não queremos que faça algo sem precisar repreendê-lo. Esse aprendizado deverá estar, de preferência, arraigado desde a mais tenra idade, para que venha a fazer parte do inconsciente do cão. Assim, ele tenderá a obedecer sem questionar se deve, ou não, fazê-lo. Tal trabalho deverá ser realizado sem pressa, com muita paciência e carinho para não quebrarmos a personalidade do animal, do contrário tornará este imprestável para guarda. No entanto, jamais devemos permitir que o cão “ganhe”, senão a lição será contraproducente. Portanto, ainda que de uma maneira carinhosa, devemos ser enérgicos o suficiente para que nossa vontade prevaleça sobre à do animal.

Juntamente com o entendimento da palavra NÃO, passamos ao cão, ainda que inconscientemente, muitos outros

entendimentos. Daí nos alongarmos neste item. Por ser, dentro da nossa metodologia, além de viga mestra, o primeiro ensinamento verbal que proporcionamos ao animal. É através dele, então, que passaremos a entonação de voz conveniente em cada caso. O cão através da entonação de nossa voz capta melhor nossas mensagens do que com a combinação de sílabas que formam as palavras dos comandos, o que só serão percebidas pelo animal quando em um estágio um pouco mais evoluído. Evidentemente, que não é tarefa muito fácil colocar por escrito as diversas entonações sonoras que utilizamos no adestramento, mas vamos tentar.

O comando NÃO, por exemplo, deve ser pronunciado em quatro entonações: A primeira, deve ser enérgica, um pouco

longa (NÃÃO) e moderadamente alta, e deve ser utilizada nos primeiros contatos que o cão tem com tal comando. Deve demonstrar calma e energia, ao mesmo tempo um certo carinho.

A segunda, deve ser alta, enérgica, curta e seca, e deve ser utilizada quando o cão não obedecer a alguma coisa já mais ou

menos aprendida, ou seja, quando ele desobedecer conscientemente. Por exemplo, o comando de ficar, de não mexer em alguma coisa que já sabe ser proibida, ou de entrar ou sair de algum local que esteja aprendendo a não o fazer sem autorização. Este “NÃO” deve inicialmente sempre preceder alguma chamada de atenção, como, por exemplo, um pequeno puxão na guia com enforcador.

A terceira, deve ser alta, porém longa, soará como “NÃÃÃÃO”, e deve ser dita quando desconfiamos que o cão irá

desobedecer alguma ordem, como nos exemplos do parágrafo anterior. Parece estranho para quem não conhece bem cães, mas, pela expressão facial do animal podemos prever isto com facilidade. Esta terceira entonação do “NÃO” é muito eficiente pois atua diretamente no pensamento do cão, antecipando a desobediência e, quase sempre, evitando-a e, assim, abreviando muitas repreensões e desentendimentos, que sempre é preferível que não aconteça. Alguns pobres de espírito podem argumentar que cães não pensam e que agem movidos somente por instinto. É evidente que conhecem muito pouco sobre cães, ou só enxergam aquilo que lhes foi ensinado ver. Quem nunca observou um cão dormindo e o viu rosnar, latir, choramingar em pleno sono? Tais alterações só podem ser explicadas por sonhos. O que é o sonho senão imagens e pensamentos imprecisos que realizamos durante o sono?

A quarta entonação é aquela que utilizamos corriqueiramente para um cão já treinado. Deve ser entoada normalmente com

razoável grau de energia, mas ser ao mesmo tempo suave, relativamente branda e sem qualquer tom de repressão. Se não for obedecido é porque o animal ainda não está bem treinado. Devemos, então, retornar, por mais algum tempo, a entonações mais enérgicas. Esse último “NÃO” deve ser brando, pois é aconselhável se manter o clima o menos tenso quanto possível. É evidente que a passagem da primeira entonação para a quarta, que são, em verdade, as de comando, deve ser gradual, na medida em que o treinamento evolui. As outras duas, as utilizaremos apenas para corrigir alguma possível desobediência.

Com o exposto no parágrafo anterior, podemos subtrair que no início de cada novo comando devemos falar alto e em bom

tom, com as sílabas muito bem pronunciadas para que o animal possa assimilar o comando e sermos enérgicos, ainda que gentis, para que nos obedeça. Posteriormente devemos abrandar nossa voz e atitudes, paulatinamente, para que não se torne desgastante tanto para o animal quanto para nós. Além de ser ridículo e espalhafatoso, ao conduzirmos nossos cães, utilizarmos voz alta, certos comandos como “PEGA”, para o cão atacar, não convém, em muitas circunstâncias, que sejam ditos em alto som.

Conforme a entonação de nossa voz, também passamos ao cão nossas emoções e o estado emocional que desejamos que

ele venha a ficar. Por exemplo, o comando “CUIDA”, que tem como finalidade fazer com que o animal desconfie e preste atenção aos movimentos dos estranhos, e que, muitas vezes, precede ao ataque, deve ser dito de maneira sussurrante e preocupada para que o cão se dê conta da gravidade da situação. O fator “entonação”, de maneira alguma, deve ser desprezado durante todo o treinamento. O que pudemos aprender durante anos que ministramos cursos a proprietários de cães, é que aqueles que, às vezes, até por timidez, não conseguem entonar bem seus comandos, pouquíssimos resultados conseguem de seus animais.

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Aliás, o dono é a principal peça para o adestramento de seu cão. O adestrador deve ser mais um orientador. A principal missão desse último e, também, sua maior dificuldade, seria a de conseguir que o dono assimile o treinamento. De pouco adianta entregarmos um cão adestrado a um proprietário desinteressado ou sem a menor propensão para lidar com cães.

Há pessoas não-leigas que não admitem, de forma alguma, o comando "NÃO", movidas pela crença de que a palavra ou o

comando "NÃO" tem conotação negativa e, portanto, nunca deve ser dito, e que o cão só deve ser movido por impulsos positivos. Filosoficamente, isso é muito bonito, mas pouco eficiente. O "NÃO" arraigado na personalidade de maneira não traumática é um instrumento valioso e um grande atalho para muitos ensinamentos. O que, por vezes, ocorre é que maus adestradores incutem tal comando de maneira bruta ou até cruel. Isso sim é que não pode, de forma alguma, ocorrer.

Vamos, então, ao comando “SIT”, que é para fazer o cão sentar, mantendo as patas anteriores no chão. O comando

“SENTA” seria para que o cão se sentasse erguendo as patas anteriores. Primeiramente, colocamos no pescoço do animal um enforcador. Devemos lembrar que o enforcador é um instrumento de

comando, para transmitirmos ao animal, através dele, nossa vontade, nunca um instrumento de castigo. Nunca devemos, através dele, com violentos puxões, transmitir nossos eventuais sentimentos de raiva, oriundos de nossos insucessos iniciais que, muitas vezes, são normais. Portanto a dosagem da força dos puxões deve ser cuidadosa para que nunca traumatize o animal o que poderá prejudicar todo o nosso trabalho. Existem dois tipos básicos de enforcadores. O primeiro é composto por grampos, e, ao ser acionado, as pontas destes grampos apertam o pescoço do cão. Se mal utilizado, se constitui mais em um instrumento de tortura do que de comando. Portanto, preferimos não o indicar, exceto para profissionais experientes e apenas os modelos importados onde as pontas dos grampos são ogivais e não possuem um corte bruto que arranha e maltrato o animal. O segundo é composto por elos, como uma corrente com pontas constituídas por elos mais largos, sendo, assim, bem menos traumático para o cão. Se levarmos em conta que devemos conduzir o animal com a mão esquerda, e que tal enforcador é composto de dois elos grandes, em suas extremidades, e vários pequenos, sendo um dos grandes preso ao mosquetão da guia e no outro é deixado correr por dentro dele a corrente formada pelos elos pequenos. Este último deverá ser colocado à direita do pescoço do cão, de maneira que a parte da corrente presa a ele desça, a partir dele, envolvendo o pescoço até novamente subir pelo seu lado esquerdo, passe por cima dele e, por fim, volte a descer deslizando por dentro deste último elo. Descrever é meio complicado, não é? Mas, na prática é bem simples. Interessante observar, que o costume de se conduzir o cão, o cavalo e, até, a mulher com a mão esquerda, vem, desde tempos remotos, da necessidade de se ficar com a mão direita livre para utilização da arma ou outras atividades.

(desenho explicando colocação do enforcador de elos) Após levar o cão para um local adequado, diremos com entonação alta e clara o comando “SIT”, por duas vezes. Meio

segundo após, será dado um suave puxão na guia que obrigará o cão a erguer sua cabeça. Logo a seguir, com mais um segundo de tempo, sem exercer pressão muito forte e continua sobre guia para cima, pressionaremos, com a mão que não segura a guia, a garupa do animal para baixo forçando-o a sentar, para que entenda que é isto que queremos dele. Enquanto exercemos a pressão sobre a garupa do cão até que ele sente, devemos continuar repetindo verbalmente o comando “SIT”. Após conseguir nosso intento, devemos elogiar o cão, enquanto lhe afagamos a cabeça com a mão que não segura a guia, ao mesmo tempo que deixamos a que a segura pronta para tornar a puxá-la caso o cão tente sair da posição. Se isto chegar a acontecer, utilizaremos o segundo tipo de comando “NÃO” ao mesmo tempo, daremos outro puxão na guia. Se percebermos claramente, por sua expressão e atitude, que o cão tentará sair da posição, bastará entoarmos o terceiro tipo de comando “NÃÃÃÃO” (leia novamente qual é o terceiro tipo de comando "NÃO") sem que precisemos dar qualquer puxão na guia. Haverá uma interação entre o aprendizado do comando “SIT” e o reforço do “NÃO” que deverá totalmente assimilado nesta ocasião. Aí, já podemos ver uma das utilidades do "NÃO", antecipando e evitando uma desobediência.

No comando “SIT”, deveremos sempre obedecer rigorosamente a ordem: comando verbal; puxão na guia; pressão na

garupa, mantendo, durante tal pressão, certa pressão na guia para cima, juntamente com a continuidade dos comandos verbais, até que o cão se sente.

Começaremos a obter sucesso quando não precisarmos mais pressionar a garupa para que o animal sente, e concluiremos

nosso objetivo quando bastar o comando verbal. O tempo necessário para alcançarmos este intento é variável, podendo até ser quase que imediato, dependendo das condições treinador-cão. Mas, para fixarmos na memória do animal tal comando serão necessárias várias seções e, periodicamente, algumas reciclagens enquanto o cão viver.

Deveremos deixar o cão, por alguns segundos, sentado, sem sairmos de seu lado e, após, darmos o comando “VEM” ao

mesmo tempo em que damos um passo à frente, nas primeiras vezes gesticulando com uma das mãos para que ele entenda o que queremos. Este último comando deve ser dito com voz amável e suave, pois comanda sua aproximação com o dono e isto deve ser, para o cão, algo agradável. Preferimos o “VEM” ao “JUNTO”, justamente por seu som ser mais suave. Deixamos o comando “JUNTO” para ser usado em outra ocasião. Não devemos nos agachar ao chamar o cão, nem fazer gestos exagerados pois isso o acostumará a não prestar atenção aos comandos verbais. Muito importante, é que jamais deixemos o animal sair da posição “SIT” sem que seja usado o comando “VEM”.

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Devemos, após conseguir que o cão se sente, utilizar vários estratagemas para que ele aprenda que deve permanecer sentado enquanto não o chamarmos para junto de nós. O primeiro será andarmos em círculos em torno do animal sem soltar a guia, ao mesmo tempo vigiamos para que ele não se levante. Se o tentar, como já vimos, nos valeremos de um leve toque na guia e do comando “NÃO”. Em seguida, nos colocaremos ao lado do cão e faremos de conta que iremos partir. A tendência natural do animal será de nos acompanhar, mas deveremos lembrar a ele, através dos mecanismos acima, que só deverá o fazer após receber o comando “VEM”. Outro teste será, sem soltar a guia, nos agacharmos a, mais ou menos, um metro do cão sem permitir que ele se mova. Caso, em algum momento, o cão consiga sair da posição, antes que possamos impedir, deveremos o colocar exatamente no mesmo local e na mesma posição e continuar, pacientemente, nosso adestramento até conseguir nosso intento. A necessidade de voltarmos com o cão exatamente ao mesmo lugar onde antes se encontrava vem em função de que venha saber que com a desobediência não progredirá em nada. É preciso que observemos quando estamos em algum gramado, ou qualquer outro chão onde não possamos, com precisão, saber a posição anterior à desobediência, marcarmos bem o local onde deixamos inicialmente o cão sentado, pois, embora para nós um gramado, por exemplo, seja uma superfície homogênea, para o cão não é, pois seu olfato detecta odores diferentes, como a urina de uma fêmea, o rastro de um outro animal, etc..

Uma colocação que faremos agora, é que às vezes parece impossível conseguirmos que um cão venha a aprender alguma

coisa. Devemos, neste caso, primeiramente, analisar se a falha não é nossa. Caso não seja, continuarmos, sempre sem afobação, firmes em nosso propósito, pois, cedo ou tarde, ele acabará por obedecer. É comum, que pessoas, iniciantes na arte do adestramento, tenham pequenas crises nervosas, em função do animal, em certos momentos, se tornar totalmente desobediente. Tal estado de espírito, de imediato, passará ao animal que, por vezes, por temor, acabará por ficar totalmente alienado a qualquer comando. Poderá tentar fugir da presença do adestrador, procurar abrigo em outras pessoas ou se deitar apavorado. Isto acabará por irritar, ainda mais, o neófito. Estabelecer-se-á, então, um caótico ciclo vicioso. Quando isto acontecer, o ser humano envolvido deve tentar tomar consciência de qual o lado mais racional da guia. Se acalmar ou, se achar que é mais recomendável, deixar para continuar em outra hora. Voltamos a repetir, adestramento é algo que só devemos realizar quando estamos tranqüilos, de bem com a vida. Uma “dica” para que tenhamos naturalidade quando saímos para adestrar nossos cães, será a de sairmos despreocupados para simplesmente dar o nosso passeio, e, durante este passeio, procedermos ao adestramento sem preocupações exageradas se ele será, ou não, bem sucedido. Caso venhamos a perceber que “o dia não está bom”, forçaremos menos os ensinamentos. Todo adestramento será bem sucedido, desde que o adestrador não venha a falhar. Os insucessos cuja única responsabilidade for do animal, na verdade, não são insucessos, mas apenas etapas que, de alguma maneira acabaríamos, antes ou depois, ter que nos deparar. Em outros momentos, nos surpreendemos de como conseguimos com extrema facilidade que o cão faça o que queremos. Devemos, também, lembrar que só deveremos comemorar o sucesso depois de o conseguir várias vezes. O tempo de aprendizado necessário para ser conseguir um cão treinado dependerá da experiência e habilidade do adestrador; da idade, inteligência e temperamento do cão, e, enfim, do grau de adestramento que desejamos atingir.

Outro fator, que não podemos desprezar, é o tempo das “aulas”, que jamais deve ultrapassar uma hora, no máximo. O

ideal é que não passe de quarenta e cinco minutos. A capacidade mental do animal é limitada e, em pouco tempo, estará esgotada, tornando-se o cão resistente a qualquer aprendizado. Se insistirmos, é provável que até venha a desaprender o já ensinado. Isto não impede, no entanto, que, em passeios longos e descontraídos, possamos realizar várias seções curtas de treinamento, a qual é sem dúvida a melhor opção, mas, na maioria das vezes, inviável em função de nossas outras obrigações.

Após percebermos que o cão obedece perfeitamente o comando “SIT”, e que dele não sai sem que seja dado o comando

“VEM”, podemos iniciar o comando “FICA”. Este comando propiciará que possamos deixar nosso amigo imóvel mesmo que dele necessitemos nos afastar. Algo de extrema utilidade no nosso cotidiano com o cão. Caso não dispusermos de um local cercado ou longe do trânsito de veículos, bem como pessoas ou animais que possam gerar acidentes ou constrangimentos, cabe que diligenciemos para obter uma guia longa de aproximadamente dez metros. Este dispositivo tem dupla utilidade: a primeira, em razão da justa precaução com a segurança do cão e de outros, e, a segunda, como instrumento de expressarmos à distância ao cão nossa vontade. Uma das razões pelas quais preferimos começar o adestramento quando o animal ainda é um filhote, é que um cão já mais criado muitas vezes percebe tal artifício e, às vezes, passa a só obedecer quando atrelado à guia longa. Portanto, sempre é conveniente que atrelemos tal dispositivo da maneira mais discreta possível ao enforcador. Este tipo de motivo é que justifica que os cães devem ser introduzidos em alguns treinamentos iniciais o mais cedo possível , em idade na qual ainda não tenham muita compreensão e esperteza para entenderem alguns dos nossos truques e artifícios usados no condicionamento. Algumas raças tidas por alguns como pouco inteligentes, na verdade trazem obstáculos ao adestramento por terem membros extremamente perspicazes, espertos e com temperamento mais independente.

Primeiramente, devemos ordenar que o cão se sente como já foi explanado anteriormente. Após o elogiarmos, como de

costume, com firmeza e determinação na voz entonaremos o comando “FICA”, olhando o animal bem nos olhos e tentando ao máximo despertar sua atenção. Devemos, inicialmente, apenas guardarmos uma distância um pouco maior daquela que mantínhamos quando do comando “SIT”, sem usarmos toda a extensão da guia longa. Aos poucos, devemos ir aumentando tal distância para que o cão se acostume a ela gradualmente. O artifício de nos agacharmos poderá a continuar ser usado como teste. Caso o animal saia da posição, conforme vimos anteriormente, deverá ser recolocado no mesmo local. Primeiramente, após atingirmos uma certa distância, devemos parar por poucos segundos à sua frente e logo chamá-lo, dizendo seu nome e, após pequena pausa, o comando “VEM”. Se o cão não vier, devemos repetir por mais uma ou duas vezes o procedimento. Se continuar insistindo em não vir, um leve toque na guia deve ser dado trazendo o animal em nossa direção. Nunca devemos ralhar com o cão

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quando ele de nós se aproxima. Quando o cão, por fim, até nós chegar, devemos enchê-lo de elogios e carinhos. A aproximação do cão ao dono deve ser algo sempre gratificante. Um cão, que por qualquer motivo, tema do dono se aproximar, provavelmente por ter sido algum dia penalizado após fazê-lo, poderá sofrer acidentes por não obedecer ao comando de aproximação, como, por exemplo, ser atropelado. Pode acontecer do animal, após o comando “FICA”, seguido pelo “VEM”, ao invés de nos procurar, acabe por ir em direção de outra pessoa, ou simplesmente vá na direção oposta de nós. Toques na guia, também, devem, então, serem dados trazendo-o em nossa direção. A força dos toques, ou puxões, deve ser graduada de acordo com o grau da desobediência, sem nunca, no entanto, ultrapassar os limites da educação racional.

Um artifício que podemos nos valer, com a utilização da guia longa, é o de darmos o comando “FICA” com o cão a

poucos metros de um poste ou palanque liso e arredondado. Passaremos a guia longa por trás do poste, de modo que o cão fique entre nós e o poste. Nesta posição, se o animal caminhar para frente, será puxado para trás pelo puxão que aplicaremos na guia. O “NÃO” deve ser sempre repetido cada vez que puxemos a guia para repreender o cão. O ideal é que o “NÃÃÃÃO” preventivo sozinho baste, sem que haja necessidade de qualquer toque na guia.

Deveremos nos aproximar do animal, após o comando “FICA”, e de novo dele tornarmos a nos afastar, corrermos, nos

agacharmos, enfim, tudo que possa estimular o cão a se mover sem que ele o faça. Esta evolução, obviamente, deve ser progressiva. Assim como no comando “SIT” simples, no comando “SIT”, seguido do “FICA”, obrigatoriamente, deve ser finalizado com o comando “VEM”. Se não o fizermos, o cão, como, evidentemente não ficará eternamente sentado, acabará por relaxar, e desaprenderá o aprendido. Na verdade, o comando “FICA” pode até ser considerado desnecessário, pois não deixa de ser apenas um reforço ao comando anterior, “SIT”, “DEITA”, etc. Muitos críticos poderão argumentar que o “FICA” não será absolutamente necessário se bem aprendidos forem os comandos que o precederam e estão cobertos de razão. No entanto, em nossa experiência prática, encontramos mais facilidade, em certas situações, de realizá-lo e, portanto, passamos isto ao leitor, uma vez, que, de forma alguma, poderá vir a ser prejudicial. Optamos, no caso do adestramento, a sermos mais fiéis àquilo que nossa experiência recomenda, ainda que melindrando algumas posturas teóricas.

Haverá um momento em que o cão não mais necessitará da guia longa e poderemos dispensá-la. No entanto, é sempre

bom lembrar que o cão não é uma máquina, nem tem a racionalidade de um ser humano normal. Sendo assim, nas proximidades de rodovias, ou qualquer outro local onde circulem veículos com velocidade, devemos abrir mão de deixarmos soltos nossos cães. Quanto à proximidade de pessoas e animais só devemos dispensar a guia se tivermos absoluta certeza do controle que temos sobre o cão e de não estarmos expondo terceiros a constrangimentos, como, por exemplo, ter que suportar, indesejavelmente, lambidas, patadas, ou apreensão por temer o animal, ainda que para nós isto possa parecer infundado.

Outra recomendação que deixamos, seria que um animal que seja premiado com exercícios físicos como passeios, trote,

tração moderada, etc. será muito menos estressado e mais apto ao aprendizado. Será, também, psíquica e fisicamente, mais apto à realização da prova de ataque.

Após aprender o comando “VEM”, podemos ensinar ao cão o comando “JUNTO”. Quase todos adestradores utilizam-se

apenas deste último, por considerarem ambos os comandos apenas um. Mais uma vez, estão cheios de razão. No entanto, como já explicamos anteriormente, preferimos o “VEM” quando retiramos o animal de alguma posição. É um comando relaxante que traz o cão até nós. Sua entonação, por sua própria estrutura fonética, é muito mais suave e leva ao cão uma sensação mais próxima daquela que ele deverá ter a de nós se aproximar e o ajudará a fazê-lo. Quanto ao “JUNTO”, o utilizaremos quando o animal está em movimento e o queremos que de nós se aproxime ou caminhe ao nosso lado. A sonoridade deste comando é naturalmente mais enérgica, sendo melhor assimilada nessa situação. De novo, preferimos, pragmaticamente, adotar aquilo que a prática nos ensinou ser mais eficiente. Na verdade, as posturas teóricas adotadas por alguns críticos deste sistema baseiam-se na racionalidade entendida por nós, humanos, nem sempre a mais fácil de ser assimilada pelo animal e nem a mais racional para atuar em seus mecanismos psíquicos. Sendo o cão o elemento de menor intelectualidade, deverá ser o mesmo mais valorizado, e os métodos que facilitem seu aprendizado privilegiados em relação ao aparentemente mais lógico do ponto de vista puramente humano. A mente do cão reage muito mais a sensações do que a mecanismos dedutivos por mais simples que para nós possam parecer.

Devemos, ao ensinar ao cão o “JUNTO”, atar ao enforcador uma guia longa, de três a cinco metros de comprimento.

Manteremos, inicialmente, quase toda a guia enrolada em nossa mão direita e com a mão esquerda a seguraremos controlando o cão com um comprimento de guia equivalente ao de uma guia curta. Daremos inicialmente o comando “SIT”, e após o animal sentar o comando “VEM” para que nos acompanhe. Aos poucos, iremos soltando mais a guia e gradativamente aumentando a liberdade do cão até o limite da guia, ao mesmo tempo em que entoaremos o comando “JUNTO” de maneira alta, clara e seca, enquanto acionaremos com leves puxões a guia. Caminharemos, correremos; em um percurso reto, em círculos, em “oito”, em zig-zag, dando meia volta, etc. e fazendo com que o cão nos acompanhe a uma distância máxima de dois a três metros. Paulatinamente, suavizaremos a intensidade dos puxões e da entonação da voz, até que não seja mais necessário. Quando concluirmos o ensinamento do comando “JUNTO”, automaticamente teremos concluído, também, o aprendizado de como fazer o cão caminhar ao nosso lado. O “JUNTO” também deverá ser usado quando estivermos parados, e o cão em movimento para que venha até nós. Após estarmos seguros quanto ao aprendizado do nosso companheiro, deveremos realizar tal trabalho com ele totalmente solto, tomando sempre as precauções relativas à proximidade de rodovias e trânsito de veículos, bem como, conforme a agressividade e controle que temos sobre o animal, a presença de transeuntes e de outros animais.

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Se já tivermos conseguido ensinar ao nosso amigo tudo exposto acima, e o que, na verdade, é bem simples, uma vez que

nós e ele tenhamos captado o “espírito da coisa”, podemos dizer que já ensinamos ao cão o básico do adestramento puramente de obediência.

Podemos, sendo totalmente opcional, ensinarmos o cão a se sentar com as patas da frente levantadas. Para tanto,

utilizaremos o comando “SENTA”. Primeiramente, daremos a ele o comando “SIT” para que se sente normalmente. Após, com entonação média, o “SENTA”, ao mesmo tempo em que manteremos a garupa do cão sentado apoiada entre nossas canelas e daremos leves toques na guia para cima e o ajudaremos discretamente com a mão direita a que se levante. Com paciência, logo dispensaremos a ajuda da mão direita e, em seguida, dos toques na guia e, finalmente, do apoio de nossas canelas, bastando o comando verbal.

Mais ou menos a mesma coisa faremos ao ministrar o comando “DEITA”: Primeiramente, daremos ao cão o comando

“SIT”, para que sente normalmente. Toques na guia serão dados, só que desta vez para baixo, enquanto se comanda com entonação média o “DEITA”. Para facilitar, puxaremos concomitantemente as patas dianteiras do animal para frente, o forçando, assim, a se deitar. Aos poucos iremos dispensando este último recurso. O trabalho estará concluído quando pudermos dispensar os toques na guia, usando apenas o comando verbal.

Preparando o temperamento: A preparação do temperamento de um cão, para que ele venha a possuir coragem e

equilíbrio, deve ser iniciada o mais cedo possível, uma vez ser ela o lastro essencial para tudo que venha a ser, no futuro, tal cão. Esta preparação deve ser dividida em etapas e obedecer ordem seqüencial:

1ª etapa: Pode ser iniciada a partir de dois meses de idade apenas se utilizando guia e coleira, pois o enforcador nunca

deve ser usado quando estimulamos o temperamento. Nesta etapa, a primeira preocupação que deveremos ter é evitar a convivência do cão com pessoas estranhas, principalmente dentro de casa. O convívio com animais de todas espécies que forem possíveis, no entanto, é recomendado. Além da crueldade, é uma idiotice apreciarmos que nossos cães persigam animais inocentes, no futuro, um gato, um gambá, ou até um outro cão, pode ser utilizado por malfeitores como isca, fazendo com que o cão negligencie sua função de guarda. Devemos levá-lo à rua, de preferência durante a noite, em locais mais ou menos ermos e escuros e, a cada estranho que passar, discretamente procurar mostrar ao cão que é algo ameaçador. Para tanto, basta que tomemos uma atitude tensa, criando em nós um certo retesamento muscular, o qual deixaremos transmitir através da guia, ao mesmo tempo em que chiamos baixinho, olhando tensamente para o estranho, de maneira discreta. Quando cão já souber andar com a guia, à presença de cada estranho, pararemos a marcha e induziremos ao cão que observe o estranho. Manter a guia esticada, a segurando com tensão, ao mesmo tempo em que nos aparentarmos também tensos, emitindo baixos chiados e olhando para o estranho, sem dúvida deverá transmitir ao animal nossa “preocupação”. Quando o cão começar a parar e fitar as pessoas estranhas, franzindo a testa, levantando as orelhas, meio caminho já estará andado em toda a preparação de temperamento. Daí para frente, é somente termos o cuidado de nunca avançarmos demais nas etapas seguintes. Leves e tensos toques na guia já esticada com adição de alguns chiados e fala sussurrante são temperos indispensáveis. Aos poucos, sempre de maneira discreta, devemos permitir que o cão siga as pessoas, no sentido de encará-las como uma caça, e que tal interesse se consolide. É assim que os lobos e outros caçadores educam seus filhos. Esta é a maneira mais saudável de se despertar o temperamento dos cães. À primeira vista, pode até parecer que estamos ensinando a se formar cães caçadores de homens e assassinos. Não é nada disto! Trata-se apenas de uma maneira de se trazer ao filhote, durante um breve período de sua vida, com a personalidade ainda em formação, segurança e uma sensação de superioridade muito positiva no sentido que venha a evitar que se torne perigoso. Devemos lembrar que o complexo de inferioridade, o medo e a insegurança, não só no homem, mas também em outros animais, são os principais elementos para os tornarem maus, agressivos e perigosos. A agressividade é muito mais irmã do medo do que da coragem. Um cão corajoso atacará sem hesitar e com firmeza ao cumprir sua tarefa de guarda, mas não deverá agredir fora dela. Um cão agressivo poderá se comportar de modo exatamente oposto. Os treinamentos baseados no estímulo da insegurança, da neurose e do medo não são, de forma alguma, muito eficientes, pois parcela do medo adquirido ficará para sempre na memória do animal. O cão deverá atacar com violência, mas somente por obediência e instinto natural, nunca dissociados da alegria em fazê-lo. Cães treinados pelo medo provavelmente vacilarão ante uma reação mais enérgica. A duração ideal desta etapa deve ser dos dois aos quatro meses de idade. Caso o animal já tenha quatro meses, ou mais, poderemos encurtá-la substancialmente. A sensibilidade de se perceber que já podemos progredir de uma etapa para a outra é algo um tanto difícil de se explicar em um livro, mas, de um modo geral, podemos tomar como base o momento em que percebemos que o cão não tem mais como evoluir dentro de cada etapa, e após mais umas duas repetições, sem se obter um resultado ainda mais positivo, será o momento de progredir no método. Procurar precipitar as coisas é um erro grave, mas também atrasá-las em demasia pode ser contraproducente, tendo em vista que pode levar ao cão se cansar do treinamento e acabar regredindo neste aspecto. É claro, que em caso de dúvida, é sempre preferível caminharmos devagar que muito depressa. 2ª etapa: A segunda etapa deve ser realizada com muito cuidado, de preferência com o auxílio de pessoa com uma certa experiência. Em tal fase, como em todas outras, é preferível que avancemos de maneira lenta e gradual, mas sempre obtendo resultados melhores, a excelentes resultados iniciais e tropeços posteriores. O ideal é que esta fase venha a se iniciar após o cão já estiver bem iniciado na etapa anterior. Pode acontecer, no entanto, que o cão, em virtude de algum problema, não venha a se obter nenhum resultado positivo na primeira etapa. Neste caso, deveremos esperar até que o animal venha a completar, no mínimo, quatro meses de idade e poderemos iniciar esta segunda etapa. Nesta etapa, o cão deve já ter um amadurecimento que lhe permita

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diferenciar as pessoas em duas categorias: pessoas conhecidas e pessoas estranhas. Se quisermos o cão como guardião, o estranho para ele deve ser sempre um inimigo; se o quisermos como protetor, as pessoas estranhas não devem ser encaradas desta maneira. Quando dividimos didaticamente os cães de guarda em grupos tínhamos como objetivo orientar os adestradores e proprietários em relação ao tipo de adestramento que devem seguir. Muitas vezes, simplesmente mandamos adestrar um cão para guarda deixando toda a decisão a critério do treinador sem informar a ele o que queremos de nosso cão nem das nossas necessidades e projeções em relação a este assunto. Muitos adestradores não concordam em treinar cães de maneira diferente ao arquétipo por eles idealizado, sem a menor preocupação no que tange aos anseios de seus proprietários. Isto acontece, muitas vezes, por falta de conhecimento e prática no assunto de uma maneira mais ampla, pois o adestrador por vezes, segue apenas a maneira como aprendeu a trabalhar, sem procurar encontrar maior profundidade no que faz. Outras vezes, pode ser devido a um idealismo bitolado combinado com uma falta de respeito à figura do proprietário. No entanto, louvamos casos em que o adestrador se recuse a treinar um cão de certa maneira, pois, conforme as necessidades, condições psicológicas e materiais do dono do animal não encontrar sentido, mas perigo para terceiros, para o cão e para o proprietário e sua família. Nesta segunda etapa, o ideal é que levemos o animal aos mesmos locais onde realizamos a primeira etapa, além, é claro, da propriedade onde o cão habita. Um excelente lugar para a realizarmos é em veículos estacionados. O interior de um automóvel é um ambiente fechado e bem limitado onde o cão pode conviver momentos agradáveis junto a seus donos. Sentir-se-á seguro e fazendo parte de um grupo e tenderá a não tolerar qualquer intromissão que possa vir a perturbar este estado de coisas. Outra “dica”: à noite, todo treinamento que vise fortalecer o temperamento será muito mais produtivo, pois, em quase todos animais, a noite melhor estimula quase todos instintos e sentidos. Da mesma forma, nem mesmo simples treinamentos de obediência devem se proceder em horas de muito sol e calor. É, então, chegado o momento de introduzirmos na cena alguém já conosco previamente combinado, que se aproximará do cão de maneira ameaçadora, mas com movimentos lentos e não excessivamente espalhafatosos. Tal aproximação não deve de maneira alguma ser direta e frontal, pelo menos nas primeiras vezes. Esta terceira pessoa, que também pode ser chamada de “cobaia” ou “figurante” (palavras que não são sinônimos perfeitos), deverá se aproximar inicialmente sempre em zig-zags, ou seja, deverá caminhar quase que perpendicularmente à linha imaginária que a une ao cão. Deverá, o figurante, manter os braços semi-erguidos, dedos crispados, andar lento, rosnar baixinho e, o que é fundamental, olhar fixamente o cão. O confronto de olhar com o animal tenderá a despertar nele a agressividade, tendo em vista que é desta forma que quase todos mamíferos e aves disputam suas lideranças. No entanto, é imprescindível que venhamos a permitir que o ainda inseguro filhote, após ter tal instinto despertado, venha a se sentir vitorioso. Para tanto, devemos demonstrar a ele um certo medo e recuar um pouco cada vez que tome qualquer atitude ativa. Nesta etapa não deve, o figurante, levar nada em suas mãos. A distância inicial deverá ser de uns dez metros e irá, aos poucos, diminuindo até se chegar a um mínimo de dois metros e meio. O cobaia deverá novamente, aos poucos, ir recuando até voltar à posição inicial. O momento mais propício para se iniciar o recuo será aquele em que o cão demonstre maior agressividade. Tal procedimento deverá ser repetido por mais três ou quatro vezes, no máximo. Pode, tudo isto, parecer um pouco cinematográfico, mas é eficiente. Treinamentos longos, principalmente nestas primeiras fases e em animais muito jovens, cansarão, desinteressarão e, até, amedrontarão o animal. Um fator, aparentemente estranho, é que donos muito preocupados em que seus animais fiquem com o temperamento forte, normalmente têm maior dificuldade de conseguirem seus objetivos do que aqueles mais tranqüilos nesse aspecto. De alguma forma, talvez, o animal capte a tensão negativa e a preocupação do dono, o que acabará por o deixar tenso e, até, medroso. Portanto, embora devamos ser persistentes em nossos objetivos, não devemos ter preocupações relativas a possíveis insucessos futuros de nossos cães. Durante todo o treinamento, tanto de obediência como de temperamento, é incrível como a imagem projetada em nossas mentes irá influir na reação do cão. Se quisermos que um cão, que pela primeira vez venha a receber o comando de se sentar, se sente, devemos já o imaginar sentado no exato momento em que damos a ele tal comando. Isto irá facilitar para que tenda a entender mais rapidamente o que queremos. Da mesma forma, se queremos que o cão reaja à provocação deveremos imaginá-lo reagindo no momento exato que deverá fazê-lo, e nem pensarmos nisso antes da hora precisa. É óbvio que não realizamos qualquer experimento científico para comprovar tal tese, mas encontramos substancial respaldo na prática e em diversos campos da moderna psicologia. Cobaia ou Figurante? Chamamos de "cobaia" a pessoa de pouco conhecimento teórico que pode vir a auxiliar o adestrador quando do treinamento de ataque. Figurante, seria um indivíduo bem mais instruído na arte da provocação e na psicologia canina, nos princípios de estímulo aos respectivos drives de defesa e de caça. Um bom figurante dispensa a figura do adestrador, quando do treinamento exclusivo de ataque. Um cobaia, não. Jamais se prescinde da presença do adestrador quando a pessoa que fizer a figuração não tiver sólidos conhecimentos sobre o assunto e o animal ainda não tiver seu treinamento concluído.

DONO INEXPERIENTE + CÃO COM TREINAMENTO EM EVOLUÇÃO + COBAIA = "CACACA" 3ª etapa: O ideal é que esta etapa seja iniciada quando o animal já reagir bem à etapa anterior. No entanto, existem casos de animais, mais ou menos, alienados e que poderão não responder de forma satisfatória às duas etapas iniciais. Neste caso, entraremos diretamente na terceira etapa. A esta altura, o leitor se perguntará: Se as etapas anteriores podem não funcionar e, nesse caso, devemos entrar diretamente na terceira, por que não dispensá-las? A resposta é que cães submetidos às etapas anteriores têm muito melhor resposta nesta fase do que aqueles que são submetidos diretamente a ela, além dos ensinamentos e instintos

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despertados nas etapas anteriores se fixarem mais à personalidade dos cães, tornando-o um melhor cão de guarda. A primeira etapa, por exemplo, pode ser iniciada em período bem anterior, se levarmos em conta a rapidez da evolução do filhote, e seu aprendizado irá se arraigar mais profundamente na personalidade do animal. Filhotes que não venham a reagir às duas fases anteriores não estão necessariamente perdidos, mas, provavelmente, embora possam nos dar bons animais de guarda, não serão os melhores possíveis. Na verdade, nas duas etapas anteriores estimulamos os instintos inatos de guarda do animal que começarão a serem postos em prática nesta terceira etapa. Caso não tenhamos passado, e com sucesso, nas fases anteriores significa que esta terceira irá atuar mais como um estímulo baseado na irritação e no medo que no instinto natural, muito menos saudável, para um cão de guarda. Tal fato, o de não conseguirmos sucesso nas etapas anteriores e só na terceira, também não significa que venhamos a ter um “cão treinado pelo medo”, o que sempre condenamos. Podemos utilizar a irritação como último recurso para despertar o cão para que ataque e, posteriormente, voltamos às duas fases iniciais fazendo renascer tais instintos. Nesta etapa, começaremos, aos poucos, a tornar concreta a ameaça do figurante. Precisamos alguém realmente experiente para entrar nesta fase, pois uma avaliação mal feita da capacidade do animal, ainda em formação, em reagir pode fazer com que se prejudique todo o treinamento anterior e, o que é muito pior, que venha a trazer traumas nunca totalmente superáveis nos cães. O correto é que nunca venhamos a ter qualquer insucesso em todo o treinamento no que se refere ao temperamento. Portanto, é sempre preferível que o façamos de maneira gradual e muito prudente. Outra razão para que se exija um cobaia experiente é que pessoas inexperientes poderão facilitar e acabar por se ferirem, pois podem menosprezar a capacidade dos cães. Um bom e experiente cobaia também deverá ser seguro o suficiente para demonstrar ao cão que dele sente medo, um medo que, na verdade, não deverá ter.

É chegado o momento do figurante, ainda sem nada nas mãos, se aproxime do cão a uma distância que permitiria que lhe aplicasse algum golpe se estivesse munido de alguma vara, por exemplo, mas sem o estar. O figurante ameaçará o animal com golpes simulados, por alguns segundos, e simulará uma fuga. Os rosnados emitidos baixinho pelo figurante na primeira etapa deverão, agora, serem já em tom bem mais alto. Deverá repetir este procedimento por umas três ou quatro vezes, no máximo, sempre tomando o cuidado de recuar preferivelmente quando o cão reagir mais fortemente. Isto estimulará o cão para que venha proceder desta forma, uma vez que perceberá que seu ataque assusta seu adversário. Se o animal, ainda assim, não esboçar uma reação satisfatória, teremos que nos deter em duas hipóteses:

A primeira seria do cão demonstrar medo. Neste caso, deveremos procurar encontrar os motivos pelos quais o cão teme a

aproximação ameaçadora de seres humanos. Se for devido a más condutas de pessoas envolvidas com o animal, como repreensões exageradas, castigos, etc., deveremos procurar sanar tal erro. Se estivermos certos que não é este o motivo, significa que o cão em sua mais tenra idade sofreu traumas, ou que geneticamente seu temperamento não é o ideal para tal tarefa. Em todo o reino animal, principalmente, no caso dos animais que convivem em grupo, haverá sempre aquele com menos coragem. Sua existência é necessária, pois normalmente são eles que dão o primeiro alarme de alerta. São eles, também, que permitirão a sobrevivência da espécie caso ela se defronte com um adversário que não possa ser vencido.

A segunda seria do cão demonstrar alienação. Neste caso, nossa tarefa ainda é mais difícil, e a única alternativa viável,

tanto para um, como para outro tipo de reação, é seguirmos até a próxima etapa. 4ª etapa: Esta etapa, ainda mais delicada que a precedente, requer do adestrador e, principalmente, do cobaia todo o

cuidado e sensibilidade. Esta etapa e a próxima são as mais perigosas no sentido que um erro na medida do que realizamos para estimular o cão pode ser altamente danoso para seu temperamento presente e futuro. Uma fina vara deverá ser portada pelo figurante com a única função de provocar e acostumar o cão à sua presença e jamais de testá-lo. Começaremos batendo, sem muita violência, com a vara no chão e nunca no animal. Devemos observar, que o figurante não deverá permitir que o cão se fixe na vara e sim na sua pessoa. Para tanto, deverá gesticular com a outra mão ao mesmo tempo em que mantém a vara não muito exposta ao olhar do animal. Algo que ajudará a encorajar o animal, é que o figurante finja bater no seu dono, pois o estimulará a desenvolver o instinto de proteção grupal. Caso, o cão reaja positivamente a este estímulo, seu dono deverá o acarinhar e elogiar muito, mostrando todo seu agradecimento. A agressão concomitante ao cão e a seu dono pelo cobaia é uma das melhores formas de estimular o animal e associar que cão e dono devem se proteger mutuamente. Uma das falhas mais freqüentes de muitos cobaias consiste em permitir que o animal se concentre na vara ao invés de o atrair para seu corpo. Uma outra dica: o dono e o animal, antes da realização da provocação, podem permanecer juntos, quietos, de preferência com o dono sentado em um ambiente de perfeita paz, a qual o figurante irá violar e, com isso, causar a irritação do animal ao agredir com provocações, ainda que sutis, o espaço íntimo e de agradável convívio entre cão e dono.

Nesta etapa, as ameaças do cobaia se tornarão, aos poucos, mais consistentes, pois ele trará na mão a vara. Um, ou outro, toque no animal deverão ser muito levemente aplicados preferencialmente nas patas anteriores, tomando-se sempre o cuidado de observar sua reação após cada toque. Se a reação for negativa, isto é, se o cão, de alguma forma, se assustar com eles, teremos, então, o momento mais difícil de todo o nosso trabalho. Grande parte dos cuidados que tivemos nas etapas anteriores visava evitar que isto acontecesse. Provavelmente, isso não ocorrerá caso o cão tenha reagido bem à etapa número três. Mesmo assim, se esta hipótese se confirmar, devemos insistir um pouco mais na fase anterior, e voltarmos à atual com toques ainda mais brandos, sem insistirmos, de maneira alguma, diretamente nesta fase. Assim como nós, os cães também têm seus dias, melhores ou piores, influenciados por uma série de fatores. Portanto, muitas vezes, é melhor deixarmos tudo para outro dia, e procurarmos analisarmos

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o motivo, ou motivos, que ocasionaram esta queda na “curva do temperamento”, e os tentar eliminar. Pode ser por excesso de rigor na prática do treinamento de obediência; talvez, alguém da própria casa esteja reprimindo erradamente o animal, etc. Isto porque, é praticamente impossível que um cão bem sucedido nas etapas anteriores, isto é, com um bom instinto de guarda apurado nas etapas número um e dois, e que tenha mostrado reação na etapa número três, possa se sentir traumatizado com toques realmente leves de uma vara, a não ser que estes toques não sejam assim tão leves. Jamais deveremos permitir que o cão morda a vara, pois em um caso real, não será ela um objeto flexível e poderá quebrar as presas do animal. No caso de nosso animal, até o momento, haver mostrado quase nenhuma, ou nenhuma, reação a todos artifícios que utilizamos para lhe encorajarmos da maneira que preconizamos, só nos restará a alternativa de o procurarmos colocar em uma posição em que não tenha como escapar e fazer com que o figurante o irrite usando brandamente a vara na região perianal ou com puxões próximos à sua virilha. O dono deverá ficar a seu lado estimulando e dando confiança ao cão. Deixamos claro que só nos utilizaremos tais recursos quando os demais se esgotarem, pois somos contrários, a princípio, a esses métodos. Outra hipótese a ser observada, é a do dono ser a razão do temor do animal. Neste caso, o adestrador deverá levá-lo para longe da presença do dono, e, se possível, por algum tempo, hospedá-lo sem a visita do proprietário. Observações também deverão ser feitas no sentido de apurar se o dono, de alguma forma, não está sendo por demais enérgico com o cão. Embora, em tese, como já dissemos, sejamos contrários a tais métodos, não podemos nos prender a radicalismos e não vemos porque não os aplicar quando nada mais funciona. Se, caso, após algum tempo, não conseguirmos do animal qualquer reação deveremos ter a consciência de que se continuarmos o estaremos torturando inutilmente. O treinamento de ataque deixará de ter o seu prazer natural e se tornará algo cruel e sem nenhum resultado senão o de traumatizar ainda mais o animal. Devemos, então, ter a nobreza de compreender suas falhas, como esperamos que compreendam as nossas, e aceitar que nosso amigo deverá apenas ser um cão de companhia e não o utilizarmos para a reprodução, caso sua raça for de guarda. O que temos a comentar é que os animais naturalmente valentes dispensarão este último recurso no caso de termos realizado todas etapas anteriores, pois o animal já haverá obtido sucesso anteriormente, principalmente se começarmos na idade ideal. Cães já adultos, iniciados tardiamente no treinamento, poderão também precisar que cheguemos a tanto ainda que possam não possuir inadequação inata para guarda, podendo, a partir de um dado momento, tornarem-se bons guardiões. É claro que o percentual de nosso sucesso decrescerá à medida que a idade do animal avança, como também decrescerá na medida que só seja obtido em etapas mais avançadas. Podemos dizer seguramente, e com orgulho, que o Dogue Brasileiro está entre as raças com menor índice de fracassos. Uma preocupação sempre presente é que o cobaia deverá recuar e mostrar medo a cada investida do cão. Durante esta quarta etapa, o figurante levará uma “lingüiça” (pano resistente enrolado de forma que seu nome se torne sugestivo) na mão esquerda, enquanto segura a vara com a mão direita. Deveremos permitir que o cão morda a “lingüiça”, a qual o cobaia fará alguma resistência enquanto desfere leves toques no animal. Se verificarmos que o cão ataca e morde de maneira, mais ou menos, violenta a “lingüiça”, antes de cada novo ataque devemos pronunciar o comando “PEGA”, com voz firme e alta nas primeiras vezes. Se o cão fixar bem sua mordida, o cobaia, então, soltará a “lingüiça” e tentará chamar a atenção do cão para si, tocando-o com a vara. Caso, o que é comum, o animal se recuse a largar o objeto. O adestrador intervirá segurando-o ao mesmo tempo em que, energicamente, mas sem demonstrar irritação, dará o comando “SOLTA”. Deverá insistir até que consiga seu intento, mesmo que seja preciso forçar o animal a abrir a boca. Após o cão soltar a “lingüiça”, deverá, o adestrador segurá-la com a mão, próxima ao cão, enquanto o cobaia o provoca novamente chamando para si sua atenção. O adestrador dará o comando “NÃO” toda vez que o cão se fixar no objeto. Mesmo procedimento deverá ser realizado com a vara. Os animais mais inseguros deveremos deixar que por mais tempo mordam a “lingüiça”, mas deveremos sempre ter por cuidado que isto não venha a se exceder, uma vez que tal prática poderá vir a viciar o cão. A “lingüiça”, na verdade, tem dupla função: a primeira de treinar a que o cão abocanhe; a segunda, que se sinta seguro, pois, o fato de estar mordendo não deixa de ser um elemento de êxito, e isto é essencial na psicologia canina. É de vital importância que ensinemos ao cão que o objeto do ataque não é a “lingüiça”, manga ou vara, mas o cobaia em si. Portanto, se caso o cão não tente morder a “lingüiça”, mas diretamente o figurante, não deveremos corrigi-lo, pois, de fato, sua atuação estará melhor que o esperado. Devemos, em todas as etapas do treinamento, termos em mente a filosofia inicial de nossa metodologia, ou seja, a de que o cobaia deve ser encarado como uma caça e não algo que apavore o animal. É de fundamental importância que não se toque com a vara no rosto ou focinho do animal em todo o decorrer do treinamento, pois, no início, provavelmente, irá acovardá-lo, e nas fases mais avançadas trará sério risco de feri-lo nos olhos. Os atraques à “lingüiça” não devem passar de um máximo de cinco ou seis por sessão, e nenhum deles ultrapassar a dez segundos com o objeto seguro pelo cão, exceção aos casos de cães inicialmente muito tímidos, e que tal procedimento venha a servir como terapia de segurança. Os rosnados das etapas anteriores, aos poucos, deverão ser substituídos por gritos de sonoridade crescente. Deveremos preparar, também, o cão para psicologicamente estar condicionado a ser pressionado com gritos e comandos dados por estranhos sem que com isto se perturbe. Nesta quarta etapa, ensinaremos o cão a largar a “lingüiça”, mas, por enquanto, nunca enquanto o cobaia ainda a estiver segurando. Para tanto, sempre daremos o comando “SOLTA”, e afagaremos e elogiaremos o animal quando ele nos obedecer. Na verdade, até poderemos já começar a ensinar o animal a soltar tal objeto mesmo ainda preso ao figurante, mas, assim procedendo, correremos o risco de que o cão, de alguma forma, sinta-se desestimulado a atacar, temendo repreensões por parte do dono. Em cães de guarda de boa linhagem, é muito mais comum, na hora do ataque, que temam a não aprovação de seus donos do que a ameaça física do cobaia.

Brincadeiras com bolinhas desde a tenra infância nas quais o filhote é recompensado com pequenos petiscos logo que as entrega a seu dono facilitam tal reflexo. O dono, ao pegar a bolinha, deve dizer "SOLTA" em tom bem audível, ao mesmo

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tempo que recompensa o cão. Cabe lembrar que este condicionamento, por razões óbvias, deve ser feito com o filhote antes de suas refeições, quando tem mais apetite e maior disposição em ser premiado com petiscos. Não devemos dar petiscos durante as provas de ataque com manga, mas nas primeiras vezes, quando o cão pegar a lingüiça, é recomendável que ele a traga até nós e seja recompensado, ao mesmo tempo em que daremos o comando "SOLTA". Os petiscos devem vir acompanhados de afagos e estes últimos devem ser feitos quando o cão largar qualquer objeto (lingüiça, manga ou bite) em qualquer fase do treinamento. 5ª etapa: Ao encerrar a etapa anterior poderemos dizer que concluímos o trabalho básico sobre a psicologia do animal. Fizemos despertar nele coragem, autoconfiança e um pouco de autocontrole, na medida que, aos poucos, o iniciamos no aprendizado de largar o objeto abocanhado quando ordenado. Inicialmente, a única alteração que faremos será a de substituir a velha “lingüiça” pela “manga”, ou “luva”, como preferem alguns. A manga não deverá ser muito grossa para que não dificulte a mordida do cão. O cão, sempre comandado com o “PEGA” deverá aprender a abocanhar com firmeza este objeto.

Nesta etapa, é que, também, decidiremos se nossos cães serão somente animais de esporte ou realmente cães de guarda. Se preferirmos a última opção, teremos que, aos poucos, e muito cuidadosamente, fazendo com que o cobaia vá aumentando a intensidade dos toques com a vara. Isto deve ser feito com a maior cautela, pois um erro no abuso desta intensidade, antes do animal estar efetivamente preparado, poderá prejudicar de forma grave todo o treinamento. Um cão de guarda efetivo tem por obrigação suportar algumas varadas até certos níveis razoáveis, como um lutador de boxe deve suportar os socos do adversário, pois, em um caso real o malfeitor procurará bater no animal para vencê-lo. Não poderemos dizer que nosso cão é de guarda se ele só se limitar a atacar sem que sofra nenhuma reação e venha a recuar no caso do adversário revidar de forma mais violenta dentro dos limites do suportável, e precisamos conhecer o que sejam esses limites. Como poderemos fazer isto sem sermos cruéis e, conseqüentemente, traumatizar o animal? Da mesma forma como se treina um atleta para a arte do boxe ou do caratê, ou seja, acostumando-o, paulatinamente, a que não sinta dor. Isto se fará possível na medida que, aos poucos, durante o treinamento o atleta, ou o cão, irá, gradativamente, aumentando sua produção de adrenalina nos momentos necessários. E, como sabemos, a adrenalina exerce sobre o organismo um efeito anestésico. Isto não é em nada cruel, pois é o que aconteceria com qualquer animal em seu estado selvagem. Pelo contrário, agindo assim estaremos repondo ao cão sua verdadeira identidade, por vezes adormecida, dentro deste mundo civilizado ao qual nem o próprio homem consegue se habituar. Estaremos, também, não permitindo que a espécie canina se degenere e torne-se até uma espécie inapta à sobrevivência em seu estado natural. Portanto, concomitantemente ao avanço nos comandos deveremos avançar também com o grau de reação do figurante aos ataques. Caberá, então, ao figurante, ter a sensibilidade e experiência para saber até onde poderá ir sem traumatizar o animal, ou seja, de não exigir dele mais do que está preparado para suportar, não permitindo, efetivamente, que venha a sentir dor, o que, realmente, será cruel e contraproducente. Podemos resumir tal discussão em duas premissas: Primeira, que para se bem preparar um cão para guarda deveremos aumentar nele sua capacidade de suportar o castigo sem que, na verdade, venha a sentir dor, ou seja, que o castigo realmente não seja efetivo para a psique do animal. Segunda, que se temos um bom cão de guarda é porque ele não foi traumatizado durante seu treinamento. Quem conhece bem as provas de temperamento e já as viu no passado, com cães realmente bem estimulados, vê com certo ceticismo provas onde nitidamente os cães as realizam sem demonstrar qualquer agressividade real, mas parecendo estarem cumprindo um simples treinamento circense sem qualquer emoção. A carga de adrenalina a ser descarregada no organismo provém de um comando no cérebro que é provocado pela emoção. Se a emoção é pequena, pequena deverá ser esta carga. Conseqüentemente, pequena deverá ser a resistência do animal à dor, e pequena sua capacidade de realizar efetivamente seu trabalho em uma situação real, uma vez que a capacidade do organismo de produzir tal substância, bem como de ter receptores pós-sinápticos para ela, dentro de um determinado treinamento, não aumenta de uma hora para outra, tendo em vista poder, o cão, estar despreparado emocionalmente para tal situação.

Atletas humanos, principalmente, os das artes marciais são unânimes em relatar a total inexistência de qualquer tipo de dor

durante as lutas. No boxe, no full contact, no vale-tudo, etc. existem golpes que realmente poderão comprometer fisicamente os atletas, como socos, chutes e torções. No treinamento de cães para guarda isto não acontece, pois a vara, embora possa ser doída para alguém despreparado, não trará nenhuma dor a cães bem treinados, tendo em vista tal fato ser inerente ao sucesso do treinamento, e, sendo tal objeto flexível, não terá nenhuma chance de trazer ao cão nenhum comprometimento físico desde que o cobaia tenha sempre presente a preocupação de não atingir o animal nos olhos, o que é algo facílimo de ser evitado.

O importante é que o cão ao final de cada sessão sempre saia “ganhando” e o cobaia acabe em fuga. Tal fato trará, ao

nosso amigo, um grande alimento para seu ego e uma quebra salutar na rotina de sua vida quase sempre monótona. Em um treinamento realizado em um cão bem preparado, tal animal não sofrerá qualquer dor física, em razão da emoção e do prazer que lhe proporcionará. Nos dogues brasileiros, como em todos bons cães de guarda, podemos notar claramente a alegria que os contagia durante e após os treinos. Seus rabos abanam em sinal de felicidade. Seu comportamento em casa torna-se mais equilibrado e agradável.

Quando o cão morder e segurar a manga, deve, o cobaia, após alguns segundos largá-la, sem parar de provocar o animal. É

possível que o animal continue segurando a manga. O cobaia deve, então, aumentar o grau de provocação desviando para si a atenção do cão. Quando acontecer a hipótese do cão se fixar mais na manga, ou lingüiça, do que na figura do cobaia, é um nítido sinal que estamos insistindo demais com estes objetos. Neste caso, o recomendado é que deixemos tais objetos permanecerem em cena, porém esquecidos no chão e à vista do cão, e que priorizemos o trabalho sem que o figurante utilize nas mãos qualquer um

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deles. Nos casos mais graves, quando o cão insiste em atacar a manga largada ao chão, mesmo que não tenha sido pega pelo cobaia, precisaremos tirar provisoriamente tais objetos da vista do animal e atrair toda sua atenção ao figurante, até que o cão aprenda que é a ele que deve se fixar.

A finalidade essencial da quinta etapa é a de ensinar ao animal a resistir, sem sofrimento, a reações por parte de seus

inimigos, sendo essencial para um verdadeiro cão de guarda, no qual possamos efetivamente confiar. A tática de deixarmos no chão a manga, a lingüiça e a vara, bem em frente ao cão deve ser cumprida, enquanto o cobaia o

provoca, a fim de desligar o animal destes objetos. O adestrador e/ou o dono do animal devem segurar tais apetrechos, vestindo, inclusive a manga, e o cão, caso se fixe neles, repreendido com o comando “NÃO” e puxões no enforcador.

Caso, queiramos que nosso cão seja um guardião, e, portanto, não tolere pessoas estranhas, um truque muito utilizado é o

de uma pessoa desconhecida o chame carinhosamente, procurando ganhar sua confiança, e, se o animal começar a “amolecer”, tocá-lo, de surpresa, com uma vara que mantinha escondida nas costas, o que deve ser feito com muita moderação no caso de um cão protetor.

Ao final desta etapa, podemos iniciar nosso amigo ao “ataque lançado”, o que será explicado logo ao fim da próxima

etapa. 6ª etapa: Nas etapas anteriores moldamos a estrutura psíquica de um cão de guarda. Nesta etapa, iremos associar, de uma

maneira mais objetiva, os três principais fatores que regem um bom cão de guarda: Coragem, equilíbrio e obediência. Chegaremos, agora, ao cume de todo o ensinamento deste capítulo. Nesta fase não é mais necessário termos como figurante uma pessoa experiente, pois o cão deverá já estar preparado para enfrentar qualquer tipo de agressor, sem a preocupação de que venha, ou não, se assustar. Quanto mais pudermos variar as pessoas que representarão como figurantes melhor. Caso nossa opção seja por um cão protetor deveremos dispor de pessoas outras que possam conosco colaborar para que o animal aprenda a conviver amigavelmente com estranhos ou, preferivelmente, de uma forma indiferente.

Chegou o momento de conjugarmos os ensinamentos de obediência com os de ataque, ensinando ao cão o exercício do

autocontrole, indispensável ao seu equilíbrio, principalmente no caso de cães protetores. Na verdade, os guardiões já estarão com seu trabalho concluso após o término da quinta etapa. Bastaria que se realizasse de tempos em tempos alguns feed backs, ou seja, alguns testes adicionais, oito em cada dez, sem a utilização de mangas ou lingüiças, sendo indispensável a utilização de pessoas variadas na provocação.

O que merece uma pausa para um comentário paralelo seria o comentário de que se deve preparar a obediência antes de

começar a se treinar o ataque. Isto é uma falácia e pode trazer um efeito negativo na coragem do animal, tendo em vista que muitos comandos necessários à obediência, se não compensados pela melhora na auto-estima que o ataque proporciona, podem tornar o cão por demais contido para sua futura progressão no ataque. Os treinamentos devem ser feitos concomitantemente, ou, no caso de treinadores muito experientes, nas mesmas aulas. O que não se deve permitir é que o cão torne-se um "alucinado" no ataque sem a devida contenção pelo dono em caso de necessidade de parar tal investida. Os cães guardiões não têm necessidade de tal contenção, na medida que não devem sair da propriedade, exceto em casos de necessidade e com extremo cuidado.

Cabe aqui um "gancho" decorrente do parágrafo anterior de que apenas em propriedades com bom espaço para a

exercitação do animal deveremos ter um cão classificado efetivamente como guardião, radical ou não, tendo em vista deverem ser supridas suas necessidades de exercício.e passeio.

Deveremos agora dispor de uma guia longa de, aproximadamente, dez metros, duas guias curtas de, aproximadamente, um

metro e vinte centímetros cada, uma coleira e um enforcador. Nesta etapa, não deveremos utilizar a vara com a mesma intensidade da que a utilizaremos no final da etapa anterior. O melhor é que exerçamos a força de uma maneira intermediária entre a utilizada na quarta fase e no final da quinta. A utilização da manga deverá ser, aos poucos, reduzida durante a evolução desta etapa, pois ela tende a viciar o cão. Embora reduzida tal utilização não deverá, de forma alguma, ser eliminada, pois o animal necessita de vez em quando descarregar sua raiva, sob o risco de parar de atacar. Quanto mais utilizarmo-nos do toque com a vara ou com o bastão, mais precisaremos utilizar a manga. Quanto menos utilizarmo-nos destes dois objetos, melhor. Devemos ter em conta que o objetivo do ataque é a carne e não o refil da manga. Portanto, menos utilização de vara equivale a menos utilização de manga e a cão mais eficiente, desde que mantenha a agressividade do término da sexta etapa.

Podemos, inicialmente, utilizar duas guias curtas ao mesmo tempo, uma ligada ao enforcador e outra à coleira. Daremos,

ao animal o comando “SIT”, e, após, o figurante ficará parado a uma distância de aproximadamente um metro e meio do cão sem provocá-lo. Quando o cão for atacá-lo, com puxões no enforcador, comandaremos o “NÃO”, mantendo o animal sentado. Se o cão chegar a se levantar, repetiremos o comando “SIT”. A um dado momento, após mantermos o controle da situação, daremos o comando “PEGA”, ao qual o cobaia, de imediato, responderá provocando o cão, que deverá atacar detido somente pela manga, ou, no caso do figurante não estar com ela, pela coleira, não pelo enforcador. Iremos alternando os comandos de “SIT” e “PEGA”, auxiliados pela atuação do cobaia, até que nosso amigo consiga diferenciá-los. Pode ser que nas etapas anteriores o cão já tenha

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assimilado o comando “PEGA” e o obedeça de imediato, mas só agora é o momento de nos preocuparmos com isso. Anteriormente, dávamos tal comando para que fosse, aos poucos, sendo assimilado, mas sem a preocupação de que o cão o aprendesse efetivamente. Isto, porque não poderíamos ensinar bem o “PEGA” sem lhe ensinar a ficar parado sem atacar, e, antes de concluirmos a quinta etapa, isto não seria conveniente, pelo risco de frear demasiadamente o ataque.

Colocaremos, de novo, nosso cão sentado, sob o comando de “SIT”, em local amplo. O cobaia aparecerá sem provocar o

cão. Se o cão tentar se levantar, lhe daremos o comando “NÃO”, seguido do puxão no enforcador, que deverá, neste momento específico, estar atado à guia longa a qual seguraremos com “pouca corda”, ou seja, como se uma guia curta o fosse. Se o animal chegar a se levantar, o faremos se sentar novamente. O cobaia se aproximará do cão, que permanecerá sentado, até uma distância de uns quatro metros, sem provocá-lo. A partir daí, o figurante começará a circular em volta do cão e, em dado momento, começar a encarar o cão, mas sem provocá-lo mais do que isso. O adestrador dará o comando “CUIDA”, de forma sussurrante, sem permitir que o animal saia do lugar. O cão deverá não tirar os olhos do cobaia, mas não deve atacá-lo. Caso o cão não se “ligue” na presença do figurante, esse deverá se aproximar mais do animal, a fim de que se sinta mais ameaçado, quando do comando “CUIDA”, podendo, até, tocar no animal com a vara caso ele continue displicente (nesse caso deveremos permitir que o cão ataque). Desta forma, através do “CUIDA”, ensinaremos ao cão que algo está errado, o faremos se “ligar”, o faremos prestar mais atenção e ficar mais atento, pois, afinal, no cotidiano, não poderemos exigir que nossos cães fiquem permanentemente “ligados”. Muitos adestradores desprezam tal comando. Mas o consideramos de imensa importância e utilidade.

Após circular em torno do animal, o figurante voltará à posição inicial e lá ficará parado. Daremos, ainda junto do animal,

que deverá permanecer sentado, o comando “PEGA”. Se o cão não atacar, o cobaia se agitará e o ameaçará a uma distância compatível ao comprimento da guia. Se o cão partir na direção do cobaia, devermos soltar a guia, a esta altura atrelada à coleira e não ao enforcador. Caso o cão não ataque, o cobaia deverá diminuir a distância, e o adestrador o comprimento da guia solta, e repetir a ameaça, assim que for dado o comando “PEGA”, nunca antes. Tal procedimento deverá ser repetido, encurtando-se distância, até que o animal ataque. Após isto ser conseguido, a distância deverá novamente ir aumentando e o procedimento repetido até que o cão proceda ao ataque a qualquer distância em que o figurante possa ser visualizado ou mesmo estar oculto.

Como estamos, nesta sexta etapa, nos detendo na formação de um cão de proteção, é recomendável que pessoas estranhas,

no caso não as que façam o papel de cobaia, coloquem a manga no braço e circulem livremente por perto do animal indiferentes a ele. O figurante, neste momento, deverá provocar o cão até que este, “ligando-se” no figurante, acabe por não prestar atenção na pessoa que portar a manga. É normal que o cão se fixe na pessoa que porta a manga mais que no figurante. Isso pode ser corrigido se este último ameaçar o animal durante o processo, enquanto que o portador da manga comporte-se de maneira não-agressiva, de preferência, pelo menos inicialmente, não olhando nos olhos do animal.

O treinamento de guarda dentro da propriedade que o cão é responsável pela segurança é algo recomendável, pois

aprimorará ainda mais seu instinto de protegê-la. Parte do treinamento é recomendável que se faça na rua, onde alguém estranho, de preferência totalmente desconhecido do animal, atacará seu dono, para que o cão, assim, acostume-se a, de imediato, reagir. Isto é essencial aos cães protetores.

Ataque lançado: Na quinta e na sexta etapa, deveremos realizar o “ataque lançado”, o que, em outras palavras, significa

ataque com o cão solto. É bom lembrar que, caso o cobaia não disponha de um “escafandro” (macacão resistente e acolchoado que cobre todo o corpo, inclusive a cabeça - sinônimo: bite suit), no mínimo, deve possuir uma “jardineira” (macacão sem mangas que protege as pernas, abdômen e peito), neste último caso, se o cão for realmente eficiente na prova de ataque o cobaia ainda correrá grande risco, sendo quase certo que será ferido gravemente pelo animal. Quando nos referimos a “cão realmente eficiente”, não estamos nos reportando àqueles, por vezes até campeões em provas de temperamento, mas que mordem exclusivamente a manga, e, sim, àqueles que distribuem mordidas em quase todos locais possíveis. Aliás, se não pudermos dispor do “escafandro”, preferível será não que utilizemos a manga por mais tempo que o necessário, pois, o cão se habituará, por demasia, a mordê-la acabando por não se acostumar em morder em outros lugares do corpo, sendo, assim, presa fácil para assaltantes conhecedores do assunto, que com uma manga e uma adaga, matarão sem dificuldade qualquer cão que proceda tal tipo de ataque. Em verdade, só teremos cães efetivamente muito bem condicionados se dispusermos de tal tipo de equipamento, felizmente hoje disponível por um preço razoável no mercado nacional.

De extrema importância, lembrar, que para se fazer um ataque de alto risco como é um “ataque lançado”, sem o devido

equipamento, indispensável que o figurante seja maior de idade, com nervos fortes, bons reflexos e preparo físico, de preferência, iniciado nas artes marciais, onde adquirirá as condições para tanto, e, mesmo assim, que o dono do cão esteja por perto e pronto para socorrer o figurante caso seja necessário. O cobaia, outrossim, deverá possuir força e peso corpóreo compatíveis aos do animal, do contrário poderá ser lançado ao solo e ficar indefeso a seus ataques. Um cobaia de aproximadamente cinqüenta e cinco quilos provavelmente se verá em uma situação desagradável ao realizar uma prova de “ataque lançado” com um fila brasileiro de setenta e cinco quilos. Se o cão fila fizer o ataque dentro das características de sua raça, ou seja, puxando para baixo, com toda a violência, a manga, e o cobaia não tiver o imediato reflexo de largá-la, ainda que pese bem mais que o animal, provavelmente será jogado no chão, exposto o todo tipo de mordida. Um bom figurante, no que se refere à formação do temperamento, é ainda mais importante que um bom adestrador. Deve ser pessoa valente. Valente o suficiente para demonstrar ao cão um medo que não deverá ter, ou, pelo menos, saber, muito bem, controlar. As demonstrações de medo por parte do cobaia são importantíssimas ao

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desenvolvimento da segurança do animal. Durante todas etapas, o cobaia deverá improvisar fugas às quais o animal participará como perseguidor.

Uma maneira de trazer mais segurança ao ataque no qual não haja o uso do bite suit, é medir o comprimento da guia e

fazer duas marcas no chão. Numa delas deverá ficar o condutor e na outra o figurante. Extremo cuidado deve se tomado para que a distância não fique curta demais e o cão seja impedido violentamente pela guia, com possíveis sérios reflexos no seu temperamento e até com a possibilidade de morte por fratura do pescoço. o uso de uma guia de material mais flexível ou de uma mola como dispositivo amortecedor deve ser feito. O bite evita todos esses problemas, além de propiciar uma maior variedade e, conseqüente, imprevisibilidade do modo e da parte do corpo onde se efetuará o ataque, tornado-o muito mais eficiente.

Durante a quinta etapa, o ataque lançado será realizado somente soltando o cão contra o cobaia que deverá ficar a alguma

distância. Isto só deverá ser efetuado quando sentirmos total segurança no animal em relação a seu temperamento, pois a figura do dono ou adestrador, que, de certa forma, encoraja o animal, não estará mais tão perto.

Durante a sexta etapa, o trabalho só deverá ser realizado após conseguirmos total obediência com a guia longa. Treinamento Específico com Bite Suit: o treinamento realizado com o bite suit é sem dúvida o ideal para treinar cães de

guarda. Desenvolvido para as provas de ringue, nas quais o cão ataca um cobaia protegido por um macacão especial, o bite suit - ou simplesmente bite, em todas partes do corpo a exclusão da cabeça, que pode, ou não, estar protegida por um capacete de motociclista. É um ataque mais real e muito mais eficiente do que o treinado somente com a luva. A luva, ou manga, mesmo assim precisa ser usada por umas poucas vezes para que o cão aprenda a abocanhar de boca mais cheia.

Aí, pode-se perguntar: mas se os caninos, os caçadores mais eficientes da terra, superiores inclusive aos grandes felinos em sua organização e eficiência na caça a animais muito maiores que eles, não sabem morder bem, será que o homem poderá ensiná-los a fazer melhor o que a mãe-natureza lhes ensinou? O que ocorre é que há diferença enorme entre o ataque de um cão de guarda e o de um cão de caça (não confundir com drive de caça - agora nos referimos à caça a animais). Na natureza, os caninos, cães, lobos, cães africanos (espécie diversa do cão doméstico e maior caçador da terra, vitimando muito mais presas que leões e leopardos), chacais, etc., usam a técnica de minar a resistência da presa pelo cansaço, sem um ataque direto a elas até que estas se encontrem já exaustas, para não se exporem a ferimentos e perda de dentes cujas chances seriam são minimizadas por mordidas fracas e dadas sem pressionar por demais a presa. Já na guarda, onde o inimigo é o homem, muitas vezes, armado, o ataque que não seja rápido, decisivo dá uma maior chance de que o cão seja atingido por disparos de arma de fogo. O cão deve dar a mordida com maior conteúdo e profundidade possíveis e logo chacoalhar, destruindo o máximo possível no menor espaço de tempo, minimizando as chances de reação.

Voltando ao assunto do treinamento com o auxílio do bite. A manga deve ser utilizada por breve período, o mínimo possível para que o cão aprenda a abocanhar com a ' boca cheia", e usada toda vez que vier a perder tal costume, mas sempre no mínimo necessário.

A mordida na perna é muito mais eficiente do que a mordida no antebraço que é onde a manga ensina o cão a atacar. Um mal feitor frio e ágil pode facilmente degolar um cão que o ataque no antebraço usando, inclusive, uma jaqueta enrolada e uma adaga. Na prova de ringue brasileiro perdem cinco pontos os cães que só atuem mordendo o antebraço por etapa. Para tanto, usa-se um apetrecho que é a "lingüiça" para perna, um pouco maior do que a convencional e com duas alças, uma das quais e segura pela mão e outra presa ao pé como um estribo.

Treinamento para o Ringue: inclui as técnicas de treinamento com bite e mais uma diversidade de técnicas outras para que

o cão suporte a pressão psicológica e esteja preparado para o imprevisível. No ringue, qualquer artifício que venha a assustar o animal é utilizado dentro dos limites de não feri-lo, nem afetar sua visão, audição ou olfato. Bombinhas são jogadas em meio ao ataque lançado; ruídos de chocalhos estrondosos ou estridentes; apitos; sopradores podem ser usados; mangueira com jato d'água; cadeiras de plásticos podem ser lançadas pelo cobaia; obstáculos diversos; toques com o bastão; etc. Ou seja, tudo que simule uma situação real em que um malfeitor use de todos recursos possíveis para se livrar do ataque de um cão, havendo, no entanto, a preocupação de não feri-lo durante a prova. É impressionante como um simples chocalho pode afugentar um cão que suporta com rigor máximo o toque com o bastão, se este não for condicionado para tanto.

O condicionamento para que o cão não se intimide com o chocalho, no entanto, é o mais simples possível. Basta que se comece com o mesmo a lentamente acostumar o cão com seu som, usando-o de maneira mais branda e com menor ruído que será aumentado progressivamente. Devemos usá-lo nos momentos em que nos divertimos e onde o cão está descontraído, até o levar ao treinamento junto ao ataque. Um chocalho é facilmente construído com um pequeno galão com alça para a segurar vazio onde se coloca algum cascalho. Pode ser de plástico ou de lata, de preferível um de cada tipo, pois emitem sons diferentes.

As bombinhas devem ser precedidas dos "estalinhos", para que o cão se acostume. Depois, colocadas inicialmente a uma distância maior que, aos poucos, deverá diminuir. Sempre, de início, em momentos de maior descontração para compensar o susto que causam e não serem associados a momentos tensos até que bem os cães a eles se acostumem. "Cabeções" não devem ser usados e são proibidos por danificarem o tímpano dos animais.

Jatos d'água também devem ser usados apenas no calor até o cão se acostumar com eles e em meio a brincadeiras até serem levados ao treinamento de ataque. Jatos de ar devem ser usados com fluxo mínimo até os cães a eles se acostumarem.

Obstáculos, como uma cortina com latas penduradas, podem ser colocados dentro do canil ou em local por onde o cão obrigatoriamente tenha que passar, até se acostumarem com sua presença.

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A mesma filosofia vale para apitos, etc. etc.

Treinamento para Cão de Assalto: Não há nada de especial no treinamento desses cães, exceto uma maior ênfase ao ataque lançado e a exigência de um bom drive de rapina. O treinamento lançado com bite é o ideal. Outro treinamento ainda melhor seria o de ensinar cão a aprender a largar uma de suas presas quando atacado por outra. Para isso, seria recomendável, embora difícil de conseguir, o treinamento com dois figurantes munidos de bite e bastão. Esta última modalidade é de grande utilidade para o treinamento de qualquer cão de guarda, não somente os de assalto.

Como Conseguir? O fundamento básico do cão ter a capacidade de enfrentar de uma só vez duas ou mais pessoas é o treinamento do reflexo de largar a presa assim que for atacado por outra, ou na iminência disto acontecer. Para tanto, é necessário que ensinemos o anima a largar lingüiça, manga ou bite desde o início do treinamento para mordê-los. Brincadeiras com bolinhas desde a tenra infância nas quais o filhote é recompensado com pequenos petiscos logo que as entrega a seu dono facilitam tal reflexo. O dono, ao pegar a bolinha, deve dizer "SOLTA" em tom bem audível, ao mesmo tempo que recompensa o cão. Cabe lembrar que este condicionamento, por razões óbvias, deve ser feito com o filhote antes de suas refeições, quando tem mais apetite e maior disposição em ser premiado com petiscos. Não devemos dar petiscos durante as provas de ataque com manga, mas nas primeiras vezes, quando o cão pegar a lingüiça, é recomendável que ele a traga até nós e seja recompensado, ao mesmo tempo em que daremos o comando "SOLTA". Os petiscos devem vir acompanhados de afagos e estes últimos devem ser feitos quando o cão largar qualquer objeto (lingüiça, manga ou bite) em qualquer fase do treinamento.

Assim que dermos o comando de "SOLTA", durante uma prova de ataque, outro cobaia se aproximará do cão, quando daremos o comando "PEGA", pela segunda vez e o cão o atacará, enquanto o primeiro cobaia se afasta. É importante que o cobaia, ao qual o cão atacou, pare imediatamente de exercer resistência ou tocar o cão com o bastão antes do comando "SOLTA" ser dado. Com o tempo, é esperado que o cão aprenda a abandonar o cobaia que não reaja e dirija o ataque ao que o ataca.

Outro elemento positivo é a introdução da focinheira com mordedor no treinamento. Para isso, utilizaremos uma focinheira especial, bem atada ao animal, na qual haja uma parte que é mordida pelo cão. Este dispositivo para morder nos dá tripla vantagem. Do ponto de vista fisiológico, o cão com a boca mais aberta respirará melhor, correndo menor risco em sua saúde. Do ponto de vista psicológico, o fato de estar mordendo algo é positivo para que o cão, na medida o faz suportar melhor o ataque, pela sensação de estar revidando. Do ponto de vista de segurança, fará com que o cão se contente com a mordida que exerce e diminua as chances que querer se livrar da focinheira.

O ataque lançado com focinheira e sem manga ou bite, apenas um simples macacão de schutzhund, par proteger o figurante das unhas do animal, retira do cão a idéia que só deve atacar lingüiças, mangas ou bites e lhe dá melhores reflexos.

Cão de Rastreamento: Um trabalho complementar, desejável para um cão policial de trabalho, é o de busca. Podemos realizá-lo de duas formas: Na primeira, o cão simplesmente localizará o elemento procurado. Na segunda, localizará e atacará. No primeiro caso, nosso cão poderá, ou não, ter treinamento de guarda; no segundo, é obrigatório. Existiria uma terceira forma do cão atuar. Seria aquela em que o cão dominaria o fugitivo, imobilizando-o, sem, no entanto, causar-lhe maiores ferimentos. Há duas maneiras de treinar o cão para tal mister: a primeira ensinando-o a segurar sem ferir o cobaia, munido de bite, o que de forma alguma é recomendável, uma vez que o animal poderá ser degolado numa situação real, e a segunda, em que se manterá a uma certa distância do figurante obrigando-o a ficar imóvel, atacando-o, ou ameaçando-o, toda vez que se mover. Neste último caso é recomendável que ensinemos ao cão atacar imediatamente toda vez que ver uma arma em mãos de estranhos, pois o fugitivo poderá estar armado e sorrateiramente alvejar o cão. O autor, no entanto, tem a dizer que jamais treinaria um cão seu para está última modalidade de captura, pelo alto risco inerente que corre o animal. Uma maneira saudável e divertida de treinar estes cães será a de quando ainda filhotes, a partir de uns três meses e meio de idade, fazer com que o dono do cão se esconda e alguém da intimidade do animal perguntar-lhe-á com voz interrogativa, em tom amigável: “CADÊ O FULANO?” . De início, o dono do animal deverá se esconder em local facilmente localizável. A dificuldade, gradativamente, deverá ir aumentando. Em etapas posteriores, uma roupa usada do dono deverá ser dada para o cão cheirar ao mesmo tempo em que é dito: "CADÊ O FULANO?". Terá a função de fazer o cão saber qual o cheiro de seu dono, ficar seu nome e acostumar-se às situações posteriores. Muita festa e bajulação devem se seguir ao momento em que o dono é encontrado. Com o tempo, alguém da intimidade do animal se esconderá e seu dono lhe perguntará: “CADÊ O CICRANO?”, dando para o cão cheirar uma roupa da pessoa. O ideal é que façamos isto de maneira descontraída em meio aos passeios em áreas verdes. Quando o cão encontrar a pessoa amiga, esta e o dono do cão deverão elogiar o animal. Podemos realizar o treinamento usando todas pessoas da família, repetindo sempre o mesmo procedimento, em um clima de grande alegria e descontração. Mais adiante utilizaremos pessoas estranhas. Caso o cão não ataque o procedimento será idêntico aos anteriores, tendo-se, inclusive, sempre o cuidado de dar para que o animal fareje uma peça de roupa da pessoa. As únicas e importantes diferenças é que apenas o dono festejará o sucesso do animal, nunca a pessoa encontrada, e que ao invés de “CADÊ O ...”, diremos apenas: “BUSCA”, após o animal cheirar a peça com o cheiro da pessoa. Se o cão já atacar, deveremos ter o cuidado de que a pessoa esteja protegida, em cima de alguma árvore, por exemplo. Se quisermos que o nosso amigo apenas localize sem atacar, daremos a ele, se necessário, o comando “NÃO” se ele mostrar tal intenção e elogiá-lo pela descoberta. Se quisermos que ele ataque deveremos concluir o trabalho com o comando “PEGA”. Neste caso, a pessoa poderá até ser um cobaia e já estar municiado com a manga ou, de preferência, bite. Mesmo assim, deveremos também realizar tal trabalho com pessoas diversas bem protegidas, mas sem a manga ou bite, para que o animal não se habitue a procurar o rastro deste objeto (que tem seu odor próprio) e sim da pessoa. Quanto mais pudermos variar o universo de nossos colaboradores, melhor. No caso de combinarmos a busca com o ataque

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deveremos sempre lembrar que o cão, a partir de tal treinamento, sempre atacará a pessoa encontrada e do perigo de brincadeiras. Por isso é que só recomendamos estes cães para forças militares, policiais, profissionais de elite, ou esportistas muito criteriosos. Por uma questão de segurança, este tipo de treinamento só poderá ser realizado longe de vias públicas, para que o cão não acabe sendo atropelado, ou para que não possa vir a atacar algum transeunte. Após termos muita segurança em relação à capacidade de nosso cão, poderemos permitir que pessoas outras venham a participar do treinamento de forma passiva, ou seja, para que fique indiferente em relação a elas. Nesse caso, inicialmente deixaremos o cão atado à guia e o acompanharemos até podermos estar seguros de que o animal não atacará ninguém além daquele que busca. Mesmo assim, devemos advertir que tal trabalho é de alto risco, pois o cão pode se confundir e atacar quem não está preparado para tanto.

Devemos, também, saber que não são todos cães que poderão realizar bem tal tarefa, pois ela está limitada à capacidade de faro do animal e que, por vezes, por melhor que nosso amigo seja em obediência, temperamento e inteligência, poderá nunca poder chegar a ser um grande rastreador. Isto não impede, no entanto, que venha a apreender e buscar pessoas em locais não muito grandes procurando-as não só com o faro, mas também com a visão. Isto poderá vir a ser útil no caso de escutarmos algum barulho suspeito durante a noite. No entanto, voltamos a lembrar, que um cão com tais características combinadas ao ataque não poderá de forma alguma ser conduzido por crianças ou pessoas despreparadas, pois uma simples brincadeira poderá ter conseqüências muito desagradáveis, e a culpa, de forma alguma, poderá ser atribuída ao animal, muito menos à sua raça.

É importante salientar que alguns indivíduos, principalmente das raças Pit Bull e American Sataffordshire, devem ter bem

firme o fator obediência antes de qualquer iniciação ao ataque, o que já não ocorre, por exemplo, na quase totalidade dos casos de cães dogue brasileiro, onde os treinamentos para obediência e ataque podem ser praticamente simultâneos.

DEFESA E SCHUTZHUND:

O schtzhund é uma modalidade alemã de prova para cães de defesa que congrega coragem e perspicácia do animal. Mas existem diferenças básicas entre o método de adestramento para schtzhund e o método preconizado neste trabalho. Sendo uma competição, alguns métodos de treinamento para o schtzhund procuram maximizar alguns pontos na prova de ataque como, por exemplo, a fixação do cão na luva (ou manga). Diz o imortal Hélio Gracie, em relação às competições de jiu-jitsu, que por vezes elas acabam por retirar a eficiência do esporte, no que se refere à defesa pessoal, no sentido de incorporar golpes e técnicas que iriam contra quem os aplica, não fosse as regras da competição. É claro, que nem por isso não devam existir competições desse eficiente esporte, que mostra seu valor em competições de vale-tudo em todo o mundo, apenas que devemos as olhar com o devido cuidado. O mesmo, podemos dizer em relação, não especificamente ao schtzhund, mas às competições de trabalho canino em si. Não cabe, no caso, uma crítica a essas competições do seu ponto de vista intrínseco, mas aos métodos de treinamento distorcidos que, por vezes, elas estimulam. Em alguns treinamentos, no afã de uma vitória dentro de regras limitadas, faz-se o cão valorizar a luva e ter uma indevida obsessão em relação a ela, quando o correto do ponto de vista de defesa funcional seria a valorização do figurante em si. Chega-se a ponto de fazer o cão “ganhar” a luva e sair “vitorioso” com ela na boca, esquecendo o figurante e a ameaça que ele representaria em uma situação real. Um cão por demais estimulado a morder objetos pode vir a ser literalmente massacrado com uma barra de ferro, ou qualquer coisa similar, sem que esboce qualquer reação de defesa. Nesse caso, quanto mais valente for o animal, maior será sua vulnerabilidade. Cães que atacam a luva no braço de seu proprietário ou treinador são outra demonstração de um treinamento totalmente absurdo do ponto de vista funcional e psicológico. O cão aprenderá a atacar sem raiva e isso o fará perder boa parte de seu potencial de ataque. Alguns defensores desses métodos advogam que são etapas iniciais, e que no final o cão se adaptará à situação real. Sinceramente, temos sérias dúvidas quanto a isso e cremos que tudo deve ser iniciado sem levar o cão a conflitos que podem, com muita chance, se tornarem insuperáveis. Além do mais, não há razão para que não se comece o adestramento pela maneira coerente e racional. Para alguns treinadores, o cão deve segurar a luva sem chacoalhá-la. Criticam o cão ir com raiva até o cobaia. Isso pode ser interessante para cães que realizam trabalho restritamente policial de captura e que, simplesmente auxiliam a um policial humano, não para animais que unicamente deles dependam a segurança de uma família e sua própria segurança. Neste último caso, quanto maior for o poder de destruição de curto prazo, melhor. Um bom cão não necessitará de mais que poucos minutos para neutralizar um malfeitor, ao contrário de um cão de rinha que necessita de muito tempo para suportá-la. O cão que simplesmente segure o meliante, sem feri-lo com gravidade, estará sujeito a que este, mais inteligente que o animal, acabe por neutralizá-lo de alguma forma, seja sutilmente com a utilização de um objeto cortante que traga escondido, seja afogando-o em uma piscina. O schtzhund, em si, bem como outras modalidades esportivas, são interessantes, desde que não haja distorções no treinamento para atingir seus objetivos que, em seu sentido, são válidos. Os métodos preconizados no decorrer deste capítulo podem ser usados com sucesso no schtzhund, ring ou qualquer outra modalidade esportiva de defesa, desde que adaptados para elas. No entanto, consideramos que competições, por muitas vezes, acabam por se tornarem negativas, na medida que procuram

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obter o máximo em certos aspectos, o que acaba por prejudicar os demais. Por essa razão, que as provas de temperamento a que estão sujeitos os dogues brasileiros não são classificatórias, mas aprovatórias. OBSTINAÇÃO x INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: Os defensores de uma maior obstinação do cão pela manga advogam que isso é necessário para que o cão possa absorver os castigos que lhe são impostos pelo figurante: correto, o cão precisa estar mordendo ferozmente algo para que tenha a sensação de revide e não venha a fugir. Só que isso, ao nosso ver, deve ser realizado em uma etapa mais avançada. Depois do animal perceber que o figurante é a real ameaça e estar bem fixado em sua pessoa e não na manga. Isso é colocado e faz parte das etapas de treinamento a que nos referimos anteriormente. Tratando-se especificamente do ataque ao cobaia, podemos dizer que este se divide em três etapas, não muito bem definidas: na primeira, o cão deverá morder a manga (sendo, às vezes, inicialmente, necessária a presença da “lingüiça”), e o figurante largá-la assim que o cão a abocanhar, chamando o cão para si, impondo castigo leve; a segunda, que só deverá se iniciar após o cão estar muito bem fixado no figurante e não na luva, deverá alternar o que foi feito anteriormente com ataques em que o figurante mantém a luva mais presa e impõe ao animal, gradualmente, um castigo mais severo, quando este estiver mordendo a luva (a dosagem das duas formas de procedimento deve ser dada de acordo com a resposta do cão. Se este estiver se fixando por demais na manga, o cobaia deverá largá-la mais e chamar o cão mais para si); na terceira etapa, o cobaia deverá impor o castigo no nível mais severo, com apenas dois ou três toques do bastão, só que com alto nível de energia, respeitando, é claro, a capacidade de cada animal e logo largar a manga, o que, também, deverá ser feito de imediato pelo cão. Durante a vida do animal, todas três formas acima deverão ser repetidas, de tempos em tempos, sem excesso, pois isso pode desinteressar o cão para o ataque, modulando-as de acordo com a resposta de cada exemplar. É claro que o uso do bite em substituição à manga traz vantagens muito expressivas. Na verdade, o cão efetivo deverá possuir um bom grau de obstinação e de inteligência emocional. A falta de um desses fatores o predispõe a ser vítima de um malfeitor que reaja firmemente ao ataque do cão. A obstinação só deve ser amplificada após os reflexos que resultam em uma inteligência emocional, ou funcional, estejam bem arraigados. Métodos que postulam o caminho inverso são mais lentos e bem menos eficazes. A falta de obstinação ou a obstinação cega são coisas que devem ser evitadas em um cão efetivo. COMO CORRIGIR UM CÃO “MANGUEIRO”: Nada melhor para retirar o costume indevido de um cão se fixar em uma manga que outra manga. Se o cobaia largar a manga e o cão não a largar, mesmo sob provocações de cobaia, este deverá atrai-lo com outra manga. O método de alternâncias de mangas é o que mais resultado dá para retirar essa indevida fixação. Após algumas investidas, dependendo de cada exemplar, o cão se tornará apto a ser atraído sem que o cobaia use a manga. Jamais deveremos impor castigos severos no cão quando este estiver preso à luva solta, pois isso o tornará ainda mais obstinado em relação a ela. Se uma provocação moderada não resultar efeito de chamar o animal para o cobaia, um castigo severo, paradoxalmente, será ainda pior, pois o cão, irracionalmente, se vingará na manga do castigo que lhe é imposto. Outro recurso válido, que deve ser usado concomitantemente, é repetir várias sessões de provocação sem o uso da manga, que de início deverá ser escondida, até, sutilmente, ficar à vista do animal. Devemos lembrar um dos princípios básicos de que "cada cão é um cão, assim como cada homem é um homem". Há animais que melhores resultados teremos simplesmente ao cobaia se afastar da manga e ficar de longe, fazendo que o cão dela se desinteresse. Devemos sempre lembrar que a inteligência, a flexibilidade e a observação, assim como a insistência e o carinho são as melhores ferramentas de um adestrador, ainda que muitos se condicionem a apenas um método e insistam, por vezes, nos caminhos mais difíceis para a especificidade de cada animal. COMO DEVE SER A MANGA? Alguns defendem que a melhor manga (ou luva) deve ser de bom diâmetro e bem dura. No entanto, uma manga com tais características distorce a mordida natural, aperfeiçoada em milhões de anos, para uma mordida, embora firme, sem o impacto necessário para uma eficiente perfuração. Uma manga de diâmetro muito grande acabará por tirar do cão o costume de chacoalhar e dilacerar, fazendo-o, inclusive, morder uma porção de carne superior à sua capacidade de dilaceração. Cabe lembrar que a força máxima dos músculos masséteres não é exercida quando estes estão muito distendidos, e é bom que o cão se acostume a morder a porção exata. É claro que um cão que apenas mordisque a manga, abocanhando porções muito pequenas, será ainda mais indesejável.

Uma manga muito dura fará com que o cão acabe por abocanhá-la firmemente, mas tenderá a lhe tirar, aos poucos o impacto mandibular, como um saco muito duro acabará fazendo com que o boxeador acabe por golpear com menos força. Em verdade, a luva não deve ser por demais dura ou macia, embora esta segunda opção deva ser usada inicialmente.

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A manga de grande diâmetro e muito dura é utilizada quando não se deseja que o cão dilacere, mas apenas mantenha firme o agressor, coisa, como já vimos acima, é desejável apenas para um cão de captura policial, não para um cão que deve minimizar as possibilidades de que alguém venha a fazer mal à sua família ou a si próprio.