A desarborização de ca mpinas

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VANDERLEI MACRIS [email protected] JOSÉ HAMILTON DE AGUIRRE JUNIOR E CARLOS ALBERTO GOMES HENRIQUES Por um País de todos Os ataques à arborização ur- bana de Campinas recome- çaram. Em plena véspera eleitoral, percebem-se ações absurdas de depredação do nosso patrimônio ambiental. Nossas árvores, tão maltrata- das, combalidas, descaracte- rizadas e mutiladas enfren- tam nova devastação, no ru- mo a seu triste e tenebroso fi- nal. A mais nova e perceptível destruição está evidenciada na Praça José M. de Souza, ao final da Av. Nossa Sra. de Fátima, no Taquaral. Ela é o resultado da mesma política, de subsequentes administra- ções municipais. Elevaram e mutilaram as copas das árvores deste lo- cal, até a composição de aberrações e de exemplares de risco, pela sua total fragili- zação. Lindíssimos ipês ama- relos e roxos (Handroanthus spp.), tipuanas (Tipuana ti- pu), jacarandás (Jacaranda mimosaefolia), dentre inúme- ras outras árvores foram des- truídos! O espetáculo das flo- rações, as copas excepcio- nais, o oferecimento gratuito e generoso de sombra úmi- da, protetora e refrescante, foram comprometidos por podas radicais, desnecessá- rias. A ação do poder públi- co campineiro destruiu déca- das de crescimento, irrespon- savelmente. Na praça e em seu entor- no restaram a aridez, a deso- lação e a total desconfigura- ção paisagístico-ambiental. Infelizmente, a situação não é distinta nas ruas, praças e áreas verdes de Campinas. A poda, em nossa cidade, tem sido realizada indiscrimina- damente e desprovida de cri- térios técnicos. Extrações têm seguido a mesma condi- ção. Evidenciam-se, a cada operação de manejo da arbo- rização viária e das áreas pú- blicas municipais, o despre- paro e a má gestão de nossa vegetação: uma política pre- judicial continuada, seguida- mente alardeada, sem, no en- tanto, obterem-se quaisquer reversões comportamentais. Acompanhamos, dia a dia, a derrocada das majesto- sas paineiras da Orosimbo Maia e de incontáveis outras árvores urbanas, abandona- das à própria sorte. Campinas, no passado, re- ferência nacional pela sua qualidade de vida e exem- plar arborização é, hoje, um grande cemitério de árvores, além de campo de vegetais mutilados, vandalizados e destruídos. Nossa cidade es- tá árida e desprovida dos be- nefícios desfrutáveis quando se convive, harmoniosamen- te, com o verde. Assistimos ao reinado ab- soluto da rede de energia ex- posta e obsoleta! A poluição visual, a degradação urbana e ambiental dessa alternati- va deletéria, persiste como marca de operação da con- cessionária local. Mundialmente, em na- ções e lugares que prezam o bem-estar de sua população, o enterramento da rede de energia aérea, a remoção de postes, o rebaixamento da iluminação pública e o com- partilhamento de redes de serviços públicos, permitem a preservação das árvores e de todo o seu potencial de benefícios, na área urbana. A locação adequada dessas re- des, nos leitos carroçáveis, de maneira subterrânea é usual nas localidades desen- volvidas, menos em Campi- nas, polo nacional de tecno- logia e um dos maiores PIBs do País! A realidade municipal só mudará quando agirmos cor- retamente, e compreender- mos a arborização como uma grande rede viva, presta- dora de serviços ambientais. A sustentabilidade e a sobre- vivência urbana dependem dela. Doenças causadas pela poluição, baixa umidade do ar e exposição ao sol, junta- mente aos problemas das ci- dades como ilhas de calor, poluição, enchentes, descon- forto ambiental e térmico po- dem ser amenizados e evita- dos, utilizando-se, racional- mente, árvores. O conhecimento técnico devidamente aplicado, o pla- nejamento urbano, o ade- quado uso do erário, o cum- primento efetivo da Lei 11571/03, a mudança do pa- radigma social priorizando a qualidade de vida, a reestru- turação técnica e material do Departamento de Par- ques e Jardins além da vonta- de política para transferi-lo para a Secretaria de Meio Ambiente são as nossas ne- cessidades nesse momento tão desastroso. Não pode- mos presenciar a desarbori- zação de Campinas silencio- samente; pagaremos caro por esse engano. Precisamos das árvores bem cuidadas em Campi- nas, de civilidade e de com- prometimento social. Assim, elas nos refletirão todas as suas contribuições! A cada dia o nosso País, deno- minado “de todos” por um partido que diz ser dos traba- lhadores, caminha a passos lentos rumo ao primeiro mundo. Notícias de que 28 setores do funcionalismo público fe- deral estão em greve ganham destaque nas manchetes e o resultado é assombroso: aero- portos ganham mais filas, po- liciais rodoviários federais fa- zem bloqueio armados em ro- dovias, passeatas nas princi- pais capitais, servidores acam- pam em faculdades, portos estão paralisados, agentes da polícia federal interrompe- ram investigações e o setor mais sensível de todos está sendo afetado: a saúde. Estamos à beira do caos e a indignação maior se dá a partir do momento em que o Partido dos Trabalhadores (PT), que mantinha um diálo- go aberto com a classe operá- ria — quando lhe parecia inte- ressante — vira as costas aos trabalhadores, vira as costas ao povo brasileiro. Os discursos alimentavam sonhos de “a nossa vez” e “fim dos impostos”, quando nem um e nem outro objeti- vo foi atingido. Por anos, o Partido dos Trabalhadores fez alarde com a reivindicação de refor- ma tributária. No governo, o que vemos é uma política completamente contrária. Os impostos estão atropelan- do os brasileiros e não há al- ternativa para o cidadão. Buscando novas alternati- vas para beneficiar as famí- lias de baixa renda, o PSDB recentemente apresentou uma emenda à Medida Provi- sória 563/2012 em favor da retirada dos impostos da ces- ta básica. Sem impostos, os alimentos podem ficar até R$ 28 mais baratos, deixan- do a mesa dos brasileiros mais farta e beneficiando realmente os que mais preci- sam. Com a proposta, os 13 alimentos que compõem a cesta básica teriam diminui- ção em reais de 15%, estabe- lecendo isenção total de im- postos federais (IPI e PIS/Co- fins) para carne, leite, arroz, feijão, batata, farinha, pão, café, óleo, açúcar, manteiga, tomate e banana, uma medi- da que teria um alcance so- cial inigualável neste mo- mento. A emenda, aprovada pela Câmara dos Deputados e pe- lo Senado, agora está nas mãos da presidente Dilma Rousseff. Segundo dados recentes do Departamento Intersindi- cal de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a cesta básica ficou mais cara em 17 capitais do País. Como nas famílias pobres a parcela de gastos com ali- mentação é maior, a tributa- ção excessiva dos alimentos acaba prejudicando a distri- buição de renda e contribuin- do para manter um maior nú- mero de pessoas abaixo da li- nha da pobreza. Nesta popu- lação, o gasto com alimenta- ção representa mais de dois terços da renda familiar. Contudo, ainda assim, é visível no governo petista a falta de interesse de aprova- ção deste projeto que eleva o pão de cada dia, bem ao contrário da atuação para atender as gigantes compa- nhias como a retirada do im- posto dos automóveis novos e da linha branca. A isenção de impostos na cesta básica teria grande im- pacto em todo o País, afinal, uma boa alimentação garan- te mais saúde e menos pes- soas nos hospitais, mais crianças dispostas nas esco- las, dignidade, enfim, um Brasil mais forte. Porém, enquanto o Brasil for apenas maquiado como um “país de todos”, estare- mos distantes dessa realida- de. A desarborização de Campinas Risco-Brasil: motins AMBIENTE Opinião POLÍTICA dines dalcio ■■ José Hamilton de Aguirre Junior é engenheiro florestal, mestre em Arborização Urbana; Carlos Alberto Gomes Henriques é engenheiro-agrônomo, membro da Sociedade Protetora da Diversidade das Espécies (Proesp) O Rio de Janeiro foi seques- trado na última quarta-feira durante grande parte do dia por conta de uma car- reata de três mil vans que parou a cidade de ponta a ponta. “Queremos usar nos- sa ferramenta de trabalho para obrigar a prefeitura a aceitar nossas reivindica- ções”, declarou um dos or- ganizadores referindo-se, com certeza, aos tecelões in- gleses que usaram martelos para quebrar os teares me- canizados no início da Revo- lução Industrial há mais de três séculos. A manifestação foi orga- nizada por um candidato a vereador, algumas das rei- vindicações são justas e es- tavam sendo examinadas pelas autoridades, mas só poderão ser atendidas de- pois das eleições por força da legislação. Para quem não vive no Rio: o sistema de vans da cidade está infil- trado por milícias crimino- sas como forma de lavagem de dinheiro. Uma “operação-padrão” da Polícia Federal parou ae- roportos e portos na alta temporada quando chegam os turistas do Hemisfério Norte; uma parede da polí- cia rodoviária federal seccio- nou o País e impediu a cir- culação de mercadorias, al- gumas perecíveis, no mo- mento em que a economia do País emitia sinais de es- tagnação; a greve nas uni- versidades federais está comprometendo drastica- mente o atendimento médi- co da população em todo o País, em alguns estados es- tão praticamente suspen- sos os transplantes de ór- gãos; uma greve dos servi- dores do Judiciário em Bra- sília quase impede o início do julgamento da Ação Pe- nal 470, vulgo “Mensalão”. Um motim tomou conta do Brasil e, ironicamente, os amotinados são designa- dos como “servidores públi- cos”. São servidores de seus interesses e de suas corpora- ções, o bem público está acima das manobras e joga- das de guildas e gangues. O governo demorou mui- to para reagir, esquecido da sua condição de defensor do interesse público. Só na sexta-feira acordou quando o Advogado-Geral da União, Luís Inácio Adams, condenou os excessos dos grevistas, o absurdo de algu- mas reclamações e a radica- lização das manifestações. A esta altura, diante do mo- dismo dos motins, o murro na mesa deveria ter sido da- do de forma mais robusta, ruidosa e explícita, de prefe- rência pela grande especia- lista em matéria de broncas arrasadoras — Sua Excelên- cia, a Presidente da Repúbli- ca. A Justiça do Trabalho precisa capacitar-se de que o direito de greve não pode sobrepor-se aos interesses majoritários, a disputa legíti- ma entre empregados e em- pregadores não pode sacrifi- car os inocentes, aqueles que merecem as atenções de ambos. Os chamados “serviços mínimos” consti- tuem um avanço democráti- co que não podem ser des- considerados, apesar do no- me não podem ser minimi- zados, ao contrário, a socie- dade justa e desenvolvida exige que sejam maximiza- dos. A queda de braço entre o capital e o trabalho ou, no caso, entre poder e contra- poder, não pode sacrificar o bem-estar da sociedade nem a sua segurança. A “operação-padrão” é um duplo escárnio: escan- cara as deficiências dos nos- sos paradigmas de atendi- mento e exibe a estultice dos que imaginam estar na vanguarda dos movimen- tos sociais. O que se con- vencionou chamar de Risco- Brasil é um sistema múlti- plo de complacências com a baderna. De nada adianta- rá investir 80 bilhões de reais em logística e infraes- truturas se a superestrutura — nossa consciência social — está minada pela cruel- dade. ■■ Vanderlei Macris é deputado federal pelo PSDB-SP “Brasileiro não quer ver jagunços na tela” Fernando Meirelles, no Festival de Gramado, ao anunciar por que desistiu de dirigir Grande Sertão: Veredas, de Gui- marães Rosa. A2 CORREIO POPULAR Campinas, sábado, 18 de agosto de 2012 Editor: Rui Motta [email protected] - Editora-assistente: Ana Carolina Martins [email protected] - Correio do Leitor [email protected] ■■ Alberto Dines é jornalista opiniã[email protected]

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JOSÉ HAMILTON DEAGUIRRE JUNIOR ECARLOS ALBERTO GOMESHENRIQUES

Por um País de todos

Os ataques à arborização ur-bana de Campinas recome-çaram. Em plena vésperaeleitoral, percebem-se açõesabsurdas de depredação donosso patrimônio ambiental.Nossas árvores, tão maltrata-das, combalidas, descaracte-rizadas e mutiladas enfren-tam nova devastação, no ru-mo a seu triste e tenebroso fi-nal.

A mais nova e perceptíveldestruição está evidenciadana Praça José M. de Souza,ao final da Av. Nossa Sra. deFátima, no Taquaral. Ela é oresultado da mesma política,de subsequentes administra-ções municipais.

Elevaram e mutilaram ascopas das árvores deste lo-cal, até a composição deaberrações e de exemplaresde risco, pela sua total fragili-zação. Lindíssimos ipês ama-relos e roxos (Handroanthusspp.), tipuanas (Tipuana ti-pu), jacarandás (Jacarandamimosaefolia), dentre inúme-ras outras árvores foram des-truídos! O espetáculo das flo-rações, as copas excepcio-nais, o oferecimento gratuitoe generoso de sombra úmi-da, protetora e refrescante,foram comprometidos porpodas radicais, desnecessá-rias. A ação do poder públi-co campineiro destruiu déca-das de crescimento, irrespon-savelmente.

Na praça e em seu entor-no restaram a aridez, a deso-lação e a total desconfigura-ção paisagístico-ambiental.Infelizmente, a situação nãoé distinta nas ruas, praças eáreas verdes de Campinas. A

poda, em nossa cidade, temsido realizada indiscrimina-damente e desprovida de cri-térios técnicos. Extraçõestêm seguido a mesma condi-ção.

Evidenciam-se, a cadaoperação de manejo da arbo-rização viária e das áreas pú-blicas municipais, o despre-paro e a má gestão de nossavegetação: uma política pre-judicial continuada, seguida-mente alardeada, sem, no en-tanto, obterem-se quaisquerreversões comportamentais.

Acompanhamos, dia adia, a derrocada das majesto-sas paineiras da OrosimboMaia e de incontáveis outrasárvores urbanas, abandona-das à própria sorte.

Campinas, no passado, re-ferência nacional pela suaqualidade de vida e exem-plar arborização é, hoje, umgrande cemitério de árvores,além de campo de vegetais

mutilados, vandalizados edestruídos. Nossa cidade es-tá árida e desprovida dos be-nefícios desfrutáveis quandose convive, harmoniosamen-te, com o verde.

Assistimos ao reinado ab-soluto da rede de energia ex-posta e obsoleta! A poluiçãovisual, a degradação urbanae ambiental dessa alternati-va deletéria, persiste comomarca de operação da con-cessionária local.

Mundialmente, em na-ções e lugares que prezam obem-estar de sua população,o enterramento da rede deenergia aérea, a remoção depostes, o rebaixamento dailuminação pública e o com-partilhamento de redes deserviços públicos, permitema preservação das árvores ede todo o seu potencial debenefícios, na área urbana. Alocação adequada dessas re-des, nos leitos carroçáveis,

de maneira subterrânea éusual nas localidades desen-volvidas, menos em Campi-nas, polo nacional de tecno-logia e um dos maiores PIBsdo País!

A realidade municipal sómudará quando agirmos cor-retamente, e compreender-mos a arborização comouma grande rede viva, presta-dora de serviços ambientais.A sustentabilidade e a sobre-vivência urbana dependemdela. Doenças causadas pelapoluição, baixa umidade doar e exposição ao sol, junta-mente aos problemas das ci-dades como ilhas de calor,poluição, enchentes, descon-forto ambiental e térmico po-dem ser amenizados e evita-dos, utilizando-se, racional-mente, árvores.

O conhecimento técnicodevidamente aplicado, o pla-nejamento urbano, o ade-quado uso do erário, o cum-primento efetivo da Lei11571/03, a mudança do pa-radigma social priorizando aqualidade de vida, a reestru-turação técnica e materialdo Departamento de Par-ques e Jardins além da vonta-de política para transferi-lopara a Secretaria de MeioAmbiente são as nossas ne-cessidades nesse momentotão desastroso. Não pode-mos presenciar a desarbori-zação de Campinas silencio-samente; pagaremos caropor esse engano.

Precisamos das árvoresbem cuidadas em Campi-nas, de civilidade e de com-prometimento social. Assim,elas nos refletirão todas assuas contribuições!

A cada dia o nosso País, deno-minado “de todos” por umpartido que diz ser dos traba-lhadores, caminha a passoslentos rumo ao primeiromundo.

Notícias de que 28 setoresdo funcionalismo público fe-deral estão em greve ganhamdestaque nas manchetes e oresultado é assombroso: aero-portos ganham mais filas, po-liciais rodoviários federais fa-

zem bloqueio armados em ro-dovias, passeatas nas princi-pais capitais, servidores acam-pam em faculdades, portosestão paralisados, agentes dapolícia federal interrompe-ram investigações e o setormais sensível de todos estásendo afetado: a saúde.

Estamos à beira do caos ea indignação maior se dá apartir do momento em que oPartido dos Trabalhadores(PT), que mantinha um diálo-go aberto com a classe operá-ria — quando lhe parecia inte-ressante — vira as costas aostrabalhadores, vira as costasao povo brasileiro.

Os discursos alimentavamsonhos de “a nossa vez” e“fim dos impostos”, quandonem um e nem outro objeti-vo foi atingido.

Por anos, o Partido dosTrabalhadores fez alardecom a reivindicação de refor-ma tributária. No governo, oque vemos é uma políticacompletamente contrária.Os impostos estão atropelan-do os brasileiros e não há al-ternativa para o cidadão.

Buscando novas alternati-vas para beneficiar as famí-lias de baixa renda, o PSDBrecentemente apresentouuma emenda à Medida Provi-

sória 563/2012 em favor daretirada dos impostos da ces-ta básica. Sem impostos, osalimentos podem ficar atéR$ 28 mais baratos, deixan-do a mesa dos brasileirosmais farta e beneficiandorealmente os que mais preci-sam. Com a proposta, os 13alimentos que compõem acesta básica teriam diminui-ção em reais de 15%, estabe-lecendo isenção total de im-postos federais (IPI e PIS/Co-fins) para carne, leite, arroz,feijão, batata, farinha, pão,café, óleo, açúcar, manteiga,tomate e banana, uma medi-da que teria um alcance so-

cial inigualável neste mo-mento.

A emenda, aprovada pelaCâmara dos Deputados e pe-lo Senado, agora está nasmãos da presidente DilmaRousseff.

Segundo dados recentesdo Departamento Intersindi-cal de Estatística e EstudosSocioeconômicos (Dieese) acesta básica ficou mais caraem 17 capitais do País. Como nas famílias pobres aparcela de gastos com ali-mentação é maior, a tributa-ção excessiva dos alimentosacaba prejudicando a distri-buição de renda e contribuin-do para manter um maior nú-mero de pessoas abaixo da li-nha da pobreza. Nesta popu-lação, o gasto com alimenta-ção representa mais de doisterços da renda familiar.

Contudo, ainda assim, é

visível no governo petista afalta de interesse de aprova-ção deste projeto que elevao pão de cada dia, bem aocontrário da atuação paraatender as gigantes compa-nhias como a retirada do im-posto dos automóveis novose da linha branca.

A isenção de impostos nacesta básica teria grande im-pacto em todo o País, afinal,uma boa alimentação garan-te mais saúde e menos pes-soas nos hospitais, maiscrianças dispostas nas esco-las, dignidade, enfim, umBrasil mais forte.

Porém, enquanto o Brasilfor apenas maquiado comoum “país de todos”, estare-mos distantes dessa realida-de.

A desarborização deCampinas

Risco-Brasil:motins

AMBIENTE

Opinião

POLÍTICA

dinesdalcio

� � José Hamilton de Aguirre Junior éengenheiro florestal, mestre em ArborizaçãoUrbana; Carlos Alberto Gomes Henriques éengenheiro-agrônomo, membro daSociedade Protetora da Diversidade dasEspécies (Proesp)

O Rio de Janeiro foi seques-trado na última quarta-feiradurante grande parte dodia por conta de uma car-reata de três mil vans queparou a cidade de ponta aponta. “Queremos usar nos-sa ferramenta de trabalhopara obrigar a prefeitura aaceitar nossas reivindica-ções”, declarou um dos or-ganizadores referindo-se,com certeza, aos tecelões in-gleses que usaram martelospara quebrar os teares me-canizados no início da Revo-lução Industrial há mais detrês séculos.

A manifestação foi orga-nizada por um candidato avereador, algumas das rei-vindicações são justas e es-tavam sendo examinadaspelas autoridades, mas sópoderão ser atendidas de-pois das eleições por forçada legislação. Para quemnão vive no Rio: o sistemade vans da cidade está infil-trado por milícias crimino-sas como forma de lavagemde dinheiro.

Uma “operação-padrão”da Polícia Federal parou ae-roportos e portos na altatemporada quando chegamos turistas do HemisférioNorte; uma parede da polí-cia rodoviária federal seccio-nou o País e impediu a cir-culação de mercadorias, al-gumas perecíveis, no mo-mento em que a economiado País emitia sinais de es-tagnação; a greve nas uni-versidades federais estácomprometendo drastica-mente o atendimento médi-co da população em todo oPaís, em alguns estados es-tão praticamente suspen-sos os transplantes de ór-gãos; uma greve dos servi-dores do Judiciário em Bra-sília quase impede o iníciodo julgamento da Ação Pe-nal 470, vulgo “Mensalão”.

Um motim tomou contado Brasil e, ironicamente,os amotinados são designa-dos como “servidores públi-cos”. São servidores de seusinteresses e de suas corpora-ções, o bem público estáacima das manobras e joga-das de guildas e gangues.

O governo demorou mui-to para reagir, esquecido dasua condição de defensordo interesse público. Só nasexta-feira acordou quandoo Advogado-Geral daUnião, Luís Inácio Adams,condenou os excessos dosgrevistas, o absurdo de algu-mas reclamações e a radica-lização das manifestações.A esta altura, diante do mo-dismo dos motins, o murrona mesa deveria ter sido da-do de forma mais robusta,ruidosa e explícita, de prefe-rência pela grande especia-lista em matéria de broncasarrasadoras — Sua Excelên-cia, a Presidente da Repúbli-ca.

A Justiça do Trabalhoprecisa capacitar-se de queo direito de greve não podesobrepor-se aos interessesmajoritários, a disputa legíti-ma entre empregados e em-pregadores não pode sacrifi-car os inocentes, aquelesque merecem as atençõesde ambos. Os chamados“serviços mínimos” consti-tuem um avanço democráti-co que não podem ser des-considerados, apesar do no-me não podem ser minimi-zados, ao contrário, a socie-dade justa e desenvolvidaexige que sejam maximiza-dos. A queda de braço entreo capital e o trabalho ou, nocaso, entre poder e contra-poder, não pode sacrificar obem-estar da sociedadenem a sua segurança.

A “operação-padrão” éum duplo escárnio: escan-cara as deficiências dos nos-sos paradigmas de atendi-mento e exibe a estulticedos que imaginam estar navanguarda dos movimen-tos sociais. O que se con-vencionou chamar de Risco-Brasil é um sistema múlti-plo de complacências coma baderna. De nada adianta-rá investir 80 bilhões dereais em logística e infraes-truturas se a superestrutura— nossa consciência social— está minada pela cruel-dade.

� � Vanderlei Macris é deputado federalpelo PSDB-SP

“Brasileiro não quer ver jagunços na tela”Fernando Meirelles, no Festival de Gramado, ao anunciar por que desistiu de dirigir Grande Sertão: Veredas, de Gui-marães Rosa.

A2 CORREIO POPULARCampinas, sábado, 18 de agosto de 2012 Editor: Rui Motta [email protected] - Editora-assistente: Ana Carolina Martins [email protected] - Correio do Leitor [email protected]

� � Alberto Dines é jornalista

opiniã[email protected]