A cura pela natureza - Remédios naturais

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A CURA PELA NATUREZAJean Aikhenbaum e Piotr Daszkiewicz ENCIClOPDIA FAMILIAR DOS REMDIOS NATURAIS Aviso: Esta obra no tem a pretenso de substituir o seu mdico. No pode substituir uma consulta mdica. A nossa abordagem no consiste numa crtica sistemtica da medicina. A nossa inteno apresentar-lhe um guia que permita ajud-lo a fazer face a certos problemas atravs do recurso s terapias ditas naturais. Tambm lhe apresentamos, nas prximas pginas, uma anlise crtica, cientfica, etnolgica e histrica de certos tratamentos. importante saber que natural no significa inofensivo. Existem toxinas terrveis que so, muitas vezes, de origem natural, e certas plantas que podemos encontrar correntemente nos nossos parques e jardins so, por vezes, mortais. Devemos tambm ter presente que a aco de qualquer substncia sempre mltipla, e que no existe aco sem reaco. Mesmo as plantas e as tcnicas delas derivadas devem ser utilizadas com moderao. Para terminar, lembramos que sempre prefervel prevenir a ter de remediar. Ttulo original: Le Pouvoir de Gurir par la Nature 1996 A casa dos meus pais cheirava bem a sopa de couve Quando o Inverno fustigava que bem que se estava em casa Mas empurrei a cancela quando chegou a Primavera para deambular rio abaixo como todos os moos de vinte anos... G. Jackno minha filha Christina, que no gosta de ir ao mdico. Ao meu av Kalman, que conhecia o poder do Verbo e sabia curar com um pouco de azeite e de limo. INTRODUO E PREFCIO pelo Dr. Jean-Pierre WILLEM Vivemos num tempo apaixonante em razo das suas contradies! E a relao que a nossa sociedade mantm com a sade uma delas. Alis o sentido da palavra sade no cessa de se alargar. Ela tanto designa os cuidados intensivos numa unidade de reanimao, como o jogging das manhs de domingo, passando pelos medicamentos de conforto. A frase bom para a sade constitui uma etiqueta indiscutvel. Alm disso, a sade especializa-se por meio de tcnicas cada vez mais cientficas e espalha-se sob a forma de crendices cada vez mais extravagantes. Por outro lado, se hoje em dia se tratam doenas que no passado eram mortais, surgem doenas primrias perante as quais somos ainda impotentes. E voltam a aparecer velhas infeces, tais como as doenas da misria, de que um dos exemplos a sarna. Esta obra uma enciclopdia de medicinas naturais Seria uma presuno pretender

conhecer perfeitamente o conjunto de terapias s quais esta enciclopdia de tratamentos naturais faz referncia, sendo certo que Jean Aikhenbaum, jornalista cientfico e fundador da revista Russir votre Sant, e Piotr Daszkiewicz, bilogo e historiador das cincias, elaboraram um guia muito completo. A sua competncia em matria de medicinas naturais, numa perspectiva cientfica e sobretudo experiencial, conjugou-se para proveito das pessoas que, a propsito, por exemplo, de uma angina, de uma gonalgia, de um edema na garganta ou de uma hemorragia nasal, podero consultar este manual, que ter um lugar privilegiado para elas. 23 Um exame da medicina, dos cuidados de sade e do doente. As suas consideraes so, na verdade, mltiplas e variadas, mas mencionarei apenas as trs principais: - O facto de que existe apenas uma medicina, com mltiplas facetas. J no se fala de medicinas diferentes, a no ser para explicar que muitas formas possveis de teraputica s o ignoradas, voluntariamente ou no, pelas Faculdades de Medicina. -A primordialidade da alimentao saudvel, equilibrada e natural. Este fenmeno conhecido h muito: Existem doentes que s se curam atravs da alimentao, j dizia Hipcrates, e Jean Rostand, entre outros, fez dele um fervoroso eco. - A vontade de cura. Uma reflexo sobre a sade Esta enciclopdia aborda tambm os diferentes aspectos da sade. -A sade comporta uma grande parte de confiana: por se pensar tanto que o progresso tcnico resolve rapidamente os problemas, as suas lentides ou impotncias suscitam decepes violentas ou a procura de terapias ditas naturais. A confiana , sem dvida, fundamental no que toca a sade: o sobreconsumo de tranquilizantes prova-o. Existe por conseguinte uma forte relao entre confiana e sade. E um bom estado de sade prova que o corpo se situa numa relao de autoconfiana, de confiana no mdico e de confiana na sociedade. - Evocando, diversas vezes, o assunto do investimento nos cuidados de

sade, os nossos autores apresentam a questo da confiana na vida, no valor da prpria vida. Ser que estar de boa sade significa no ter qualquer problema? Assistimos actualmente a um conjunto crescente de doenas fsicas bem como a uma grande dificuldade em suportar a vida. No fundo, o problema do sentido da vida que se pe. -Que utilidade tem o que fao?, que implica a pergunta: 0 que vale a minha vida? - Por outro lado, constatamos que as cincias e as tecnologias de ponta se especializam cada vez mais. Mas o custo destes avanos duplo: 24 a sade est dividida em especialidades, e o homem, na sua totalidade viva, talvez menos considerado. Alm do mais, o abismo aumenta entre as tecnologias e a populao: esta tem dificuldade em entender todas as investigaes, mas exige-as de direito, imediatamente. E o acesso de toda a populao aos cuidados de sade exige provavelmente uma orientao tornada inteligvel e mais humana. Sim, a sade precisa de humanizar-se. E no apenas no que se refere s condies de acolhimento de um grande hospital, mas, sobretudo, de modo a permitir ao homem manter uma relao justa com a sade. Certas pessoas preocupam-se de tal modo com a sua sade que dela se tornam escravas. A sade no apenas o campo do objecto (o corpo, a psique), mas tambm o do sujeito. E o domnio da sade passa pela conduo da prpria existncia e, por conseguinte, pela paz consigo mesmo... E depois pode-se, recorrer, ento, s terapias. Uma mina de informaes sobre as medicinas naturais Trata-se de um livro de boa f: a informao do pblico, e at dos terapeutas, necessitaria alis de muitos outros livros como este. Basta sabermos que o leque teraputico enorme e que necessrio actualiz-lo constantemente. Esta obra tambm uma mina de informaes sobre os mtodos tradicionais, os remdios antigos e a medicina natural. A medicina dos nossos dias tem o seu tempo, enquanto os mtodos tradicionais, experimentados ao longo de sculos, seno milnios, prosseguem incansavelmente a sua aco favorvel. A medicina moderna enganou-se no caminho A medicina moderna, dita cientfica-, enganou-se incontestavelmente no caminho nestes ltimos cinquenta anos. E contudo... Nunca antes na histria do mundo existiram tantas drogas, mas, em contrapartida, nunca antes existiram tantas pessoas dbeis, tantas pessoas verdadeiramente doentes: UM tero dos indivduos hospitalizados - um nmero aterrador - ocupam as camas dos hospitais por motivo de doenas causadas por medicamentos. Muitas delas morrem quando poderiam ter sido salvas. assim que as purgas e as sangrias dos sculos passados so actualmente substitudas pelos antibiticos e pelos corticides sistemticos, dispensados s cegas. As consequncias nocivas deste procedimento so, desde h muito, piores do que as purgare e saignare de Molire. Assim, durante sculos, os espritos duros que atravancam as nossas civilizaes ocidentais zombaram de uma prtica muito antiga, curiosa mas eficaz: o facto de uma chave grande, aplicada na nuca, estancar rapidamente a maioria das hemorragias nasais. Foi necessrio que surgissem os trabalhos do padre Leriche para que este mtodo fosse despojado da sua lenda: qualquer objecto frio (uma chave, um pedao de metal, um cubo de gelo), colocado ao nvel das vrtebras cervicais, tem por efeito excitar o sistema nervoso simptico situado diante das vrtebras, que possui entre as suas mltiplas propriedades a de provocar a contraco dos vasos sanguneos. Da o estancamento das hemorragias nasais (epistaxes).

A medicina moderna deve dar explicaes Por que razo, sempre desconhecida, na nossa poca de viagens Lua, uma simples ligadura de linho ou de l suprime certas dores: as cibras nocturnas nas pernas, as dores reumatismais nos pulsos, nos cotovelos e nos joelhos? E por que razo um banal pedao de sabo de Marselha colocado na cama evita o regresso das cibras? Ser doravante necessrio esforarmo-nos para encontrar uma explicao para a eficcia de inmeros tratamentos. ---As investigaes modernas, escrevia Lon Binet, antigo decano da Faculdade de Medicina de Paris, apenas confirmam de uma forma geral o bom fundamento dos cuidados de sade utilizados no passado de forma emprica. Mas continuamos a ignorar a razo pela qual os nossos predecessores utilizavam h sculos a cavalinha para as afeces degenerativas e tambm como agente remineralizante. Sabemos actualmente que as propriedades desta planta se devem aos seus mltiplos componentes, especialmente a silcia - cuja importncia fundamental na consolidao do nosso esqueleto; e a cavalinha uma das plantas mais ricas neste componente. A aco da silcia na teraputica, escrevia alis Louis Pasteur em 1878, dever ter um papel grandioso. As propriedades vermfugas do musgo-da-crsega foram mencionadas por Teofrasto, h 2000 anos. Utilizadas at Idade Mdia, caram no esquecimento e foi um mdico corso, como natural, que as reabilitou em 1775. Conhecemos actualmente a realidade cientfica da sua aco. Para os cancros, no primeiro sculo da nossa era, Dioscrides utilizava o clquico (mataco). Foi preciso esperarmos at 1934 para isolarmos um dos seus alcalides: a colquicina, que, no estado actual dos nossos conhecimentos, combate o desenvolvimento das clulas anrquicas dos tumores. Durante sculos, e tal como para a cavalinha, para o musgo-da-crsega e para a maioria das outras plantas, os espritos duros negaram-se evidncia da sua eficcia sob o pretexto infantil de que se ignorava a razo cientfica da sua aco. Para Henri Poincar, negar porque no se sabe explicar no nada cientfico, o que tambm afirmava Ambroise Par, sua maneira, h j quatro sculos e meio: As coisas, em medicina, no se medem ou consideram seno pelos seus resultados. Felizmente que, para muitos doentes com cancro, nem Dioscrides nem os mdicos que lhe sucederam esperaram 1900 anos para tirarem provas cientficas da aco evidente das propriedades antitumorais do clquico. com a inteno de vulgarizar todo este patrimnio natural que os nossos autores escreveram esta enciclopdia. No se trata, obviamente, de um musgo mas sim de uma alga, Alsidium helminthocorton, um remdio esquecido, conhecido dos mdicos da Antiguidade e da Idade Mdia. Redescoberto em 1775 por Stephanopol, este medicamento foi, muitas vezes, utilizado por Napoleo. As medicinas naturais contribuem para o progresso mdico Aqueles que consideram a medicina moderna como fonte de descobertas infinitas, tanto no plano das preparaes farmacuticas como no plano das intervenes cirrgicas, avaliam frequentemente a medicina natural como um travo indesejvel ao progresso. Outros parecem estar de tal modo investidos na especificidade das suas profisses que a mera meno da palavra oligoelementos ou nutriterapia lhes insuportvel. Os cuidados

mdicos srios no concedem qualquer lugar s vitaminas e aos exerccios fsicos autoprescritos (argumento ao qual no nos oporemos). Mas o que bom para o progresso mdico ou para os cuidados mdicos e o que bom para os seres humanos so duas coisas completamente diferentes! At os mdicos podem tratar os seus doentes com esta enciclopdia Os mdicos receitam rapidamente medicamentos para acalmar dores, quando em certos casos o recurso a esta preciosa enciclopdia lhes facultaria uma soluo simplicssima. Um exemplo: quantas dores de cabea, perturbaes da viso ou zumbidos nos ouvidos no teriam cura se no se interviesse ao nvel das vrtebras cervicais, em muitos casos deslocadas? Mais um exemplo? Quantas disfunes vagossimpticas, que resistiram a cuidados diversos durante vinte anos, no poderiam ser rapidamente aniquiladas atravs da negativizao elctrica? - E em que consiste esta terapia? - Simplesmente em devolver s clulas do nosso organismo as cargas elctricas negativas benficas que estas perderam: todas as afeces degenerativas - artrose, neuroses e afeces similares, diabetes, psorase, cancro... - so concomitantes de um excesso de carga positiva. uma questo de bom senso Quando teraputicas deste tipo, ignoradas pela nomenclatura cientfica, so capazes de recuperar situaes muito comprometidas pelo abuso da quimioterapia, por que no deveriam elas ser utilizadas antes de quaisquer outras, e para as substituir, em caso de insucesso, por medicaes mais violentas? No se tratar apenas, com o conhecimento existente dos tratamentos eficazes e no txicos, de uma pura questo de bom senso? Para alcanar a verdade preciso que uma vez na vida nos dispamos de todas as opinies recebidas e reconstruamos, de novo e a partir do seu fundamento, os sistemas desses conhecimentos. Estas palavras de Descartes, esse antigo oficial do exrcito, matemtico e filsofo, dizem respeito a todas as disciplinas. E mais ainda medicina. por esta razo que a presente obra ter certamente o grande xito que merece, tanto em Frana como no resto da Europa. No uma questo de negar os resultados, por vezes, incomparveis, obtidos graas aos medicamentos modernos. Temos o exemplo da meningite tuberculosa, que, sem a estreptomicina, continuaria a ser uma doena mortal. por isso que os inmeros e pacientes trabalhos dos fundamentalistas, indispensveis aos progressos do conhecimento, devem imperativamente ser prosseguidos sem que os investigadores se tenham de interrogar se das suas descobertas sero algum dia retiradas concluses prticas. A abordagem das medicinas naturais A medicina natural assenta num mtodo lento e orgnico. Ela comea por reconhecer que o corpo humano est maravilhosamente equipado de modo a resistir s doenas e a curar as feridas. Assim, quando a doena se instala, ou se produz um acidente, a primeira abordagem das medicinas naturais consiste em ver o que pode ser feito para reforar a resistncia natural e multiplicar os agentes de cura, a fim de que estes possam agir mais eficazmente contra o processo patolgico. A eficcia da medicina natural repete-se desde os tempos mais remotos Vem-me memria um pensamento chins: No devemos acreditar ou deixar de acreditar numa teraputica, mas sim constatar ou no os seus resultados benficos. Mas o esprito, mais ou menos cartesiano, de um

29 mdico ocidental no pode, obviamente, subscrever este tipo de pensamento, que apenas aceitar como tratando-se de uma afirmao humorstica. Os resultados benficos no trabalham, portanto, a favor da convico. Aquilo que, em contrapartida, no deveria deixar dvidas no esprito dos mais cpticos a repetio da mesma eficcia em milhares de casos, por processos semelhantes na aplicao de uma mesma tcnica. Se os cpticos persistem, que se acautelem, porque o cepticismo arrisca-se a transformarse em m-f. E isto parece lamentvel no que diz respeito ao progresso mdico. Esta enciclopdia vai ajud-lo a defender a sua sade Sendo cada um responsvel pelo seu prprio bem-estar, -lhe desejvel depender o menos possvel de outrem para defender a sua sade. Cada um o promotor, o censor e o guardio da sua sade. E esta obra vai ajud-lo. Uma sntese entre medicina tradicional e medicina de ponta Muitas so as pessoas que consideram a medicina natural uma alternativa radical aos cuidados mdicos clssicos. No entanto, quando se encontram perante um problema grave, em que a sade est em jogo, essas mesmas pessoas rejeitam na totalidade todo o arsenal de plantas curativas, de cereais integrais, de vitaminas e de exerccios fsicos, que so a prpria essncia dessa medicina. E isto tanto mais absurdo que a medicina natural e os cuidados mdicos modernos no se excluem mutuamente, antes pelo contrrio. Esta a razo pela qual este livro contm no s tratamentos naturais postos prova atravs dos tempos, mas tambm as novas terapias derivadas das mais recentes investigaes. Houve poucos, at agora, a fazerem este tipo de sntese entre a medicina tradicional e a medicina de ponta. Para cada doena so propostos vrios tratamentos Esta obra, realizada graas colaborao entre um jornalista que animou e publicou a revista mdica de abordagem holstica Russir votre 30 Sant e um homem de cincia recheado de diplomas, constitui um verdadeiro balano dos tratamentos mais bem adaptados a cada caso particular. alis a sua segunda faceta de originalidade o propor vrias terapias para cada doena: o leitor encontrar assim, entre os tratamentos e produtos citados, aqueles que mais lhe convm. Consulte esta obra em todos os casos Desta forma, tudo foi feito para que lhe seja possvel consultar esta obra fcil e rapidamente, em caso de emergncia. O objectivo deste livro , na verdade, permitir a todas as mes de famlia, a cada um de ns, na presena de sintomas ou de doenas variadas (267 doenas abordadas nesta obra): -tomar as primeiras previdncias; - fazer abortar a doena, se possvel; - alertar a nossa conscincia para a eventualidade de uma afeco sria ou grave e pr-nos em guarda contra uma despreocupao perigosa.

Mas esta obra tem tambm outras ambies - Diminuir o absentismo daqueles que tm todos os motivos morais ou materiais para quererem trabalhar. - Evitar hospitalizaes inteis. - Lutar contra o abuso de uma prescrio sistemtica de drogas suprfluas, quando existem vrios remdios ditos suaves igualmente eficazes (e, muitas vezes, mais fiveis preventivamente). Tratar uma afeco benigna coisa fcil. A grande dificuldade reside justamente na apreciao da gravidade das manifestaes anormais. obviamente perigoso manifestar um optimismo exagerado, mascarando a realidade e contribuindo, deste modo, para a evoluo de uma doena que um tratamento precoce teria conseguido deter. Em contrapartida, parece-nos pernicioso usar e abusar de drogas medicamentosas, nenhuma delas desprovida de riscos (fala-se do risco iatrognico), quando a aplicao de medicinas naturais pode, sem perigo e facilmente, levar cura. 31

Esta enciclopdia um passaporte de boa sade Sado a publicao desta obra de Jean Aikhenbaum e Piotr DasAiewicz que a redigiram agregando um conjunto de prticas naturais. No nosso mundo de poluio qumica e mental, este trabalho vai trazer-nos uma lufada de ar fresco. Esta enciclopdia constitui um passaporte de boa sade. Destina-se a nos fazer descobrir um conjunto de chaves para melhorarmos a nossa sade, aumentarmos o nosso bem-estar e preservarmos a nossa qualidade de vida. Contudo, ponho em guarda os leitores contra uma automedicao sistemtica. Certas patologias devem recorrer aos mdicos (de abordagem holstica, de preferncia). Todos aqueles que se interessam pelos mtodos naturais de cura experimentaro uma grande alegria na leitura deste tratado, que muito mais do que um conjunto de receitas! Desejo um franco xito para esta obra, elaborada por dois autores srios. Dr. Jean-Pierre Willem Presidente da FLMN (Faculdade Livre de Medicinas Naturais) e dos MAPN (Mdicos de Ps Descalos) 32

1 A VIDA, ESSE FENMENO TO MISTERIOSO O nosso mundo materialista maravilhoso e cruel, mas simultaneamente ultrapassa a nossa compreenso, maior do que a prpria matria. E impossvel reduzi-lo a essa matria. Karl Jaspers SER POSSVEL DEFINIR A VIDA,),)? Todos os sistemas teraputicos tm em comum o desejo de preservar a vida. A sade pode ser considerada como um estado da vida. Ora um dos paradoxos - e eles so inmeros na cincia moderna - a sua incapacidade de explicar em que reside a vida. A biologia (que pela sua etimologia no outra coisa seno a cincia da vida) nem sequer consegue definir o seu prprio objecto! Houve tentativas de a definir pela sua estrutura qumica, pela interpretao de certos fenmenos, mas at data estas explicaes foram todas elas insuficientes. A histria da biologia tem sido marcada pelo discurso dos vitalistas em busca da clebre vis vitalis, propriedade ou substncia prpria vida, e pelos reducionistas (mecanicistas do sculo xix) que apenas viam na vida simples fenmenos fsico-qumicos. Mas nenhuma destas escolas apresentou respostas satisfatrias. Desde a experincia de WhIer, no incio do sculo xix, que sabemos que podemos sintetizar substncias orgnicas, contudo nunca consegui 33 mos descobrir um estado particular da matria viva, nem sequer uma substncia da vida. Todavia, os reducionistas nunca conseguiram criar vida in vitro (mesmo se as ltimas investigaes americanas permitiram criar sistemas polimoleculares capazes de se reproduzirem e de utilizarem recursos nutritivos). E tambm no foram capazes de explicar a sua origem. Algumas definies da vida Podemos propor vrias definies para a vida, por exemplo, a do clebre bilogo hngaro Szent-Georgyi (Prmio Nobel em 1935, pela sua descoberta da vitamina C): A vida uma poluio protenica da gua. Esta definio, proposta para ridicularizar os esforos de certos mandarins e idelogos da cincia oficial, tem a qualidade de fazer a demonstrao da nossa ignorncia e realar a importncia da gua e das protenas nos fenmenos da vida. A maioria dos dicionrios contenta-se com definies tautolgicas (que definem a vida... atravs do organismo vivo) do tipo: A vida um conjunto de fenmenos que comporta principalmente a assimilao, o crescimento, a reproduo e a morte, que caracterizam os seres vivos. Actualmente a biognese (estudo da origem da vida) dedica-se, em especial, s definies e s caractersticas da vida. Esse campo da cincia contempornea desenvolve-se de forma dinmica. Podemos contar uma boa centena de teorias sobre a origem da vida. Elas so, obviamente, apenas hipteses de escola... inverificveis.

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QUAIS SO AS CARACTERSTICAS DA VIDA? Qual a fronteira que separa o vivo do no vivo? - Para Henry Quastler, a unidade da vida deve caracterizar-se pela capacidade de transformar a matria, pela estabilidade de organizao e pela capacidade de adaptao e de auto-reproduo. - Para H. Kuhne, a qualidade mais importante da molcula viva reside na sua capacidade de procura e de armazenamento de informao sobre o seu meio, bem como a sua capacidade de reproduo. - Quanto aos especialistas da biognese, estes rejeitam as teses reducionistas e afirmam que muito difcil (se no impossvel) explicar o fenmeno da origem da vida atravs da simples evoluo qumica. Cada vez mais, as investigaes tendem, tal como o sugeriram os vitalistas no passado, para uma explicao de uma entidade que seria a caracterstica da vida, como por exemplo: * a bioestrutura de Macovschie; , * a protena viva (uma protena morta que, graas a uma ligao com a porfirina, se transforma numa protena viva) de Florowska; * ou ainda o bioplasma, proposto por certos bioelectrnicos. - Certos bilogos, como S. W. Fox, pensam que a vida eterna e que uma espcie de informao biolgica existe desde a criao do universo. A gnese da vida estaria inscrita no Big Bang. - Outros supem que existe uma regra universal de integrao que governa todos os processos do universo e que o aparecimento da vida a simples consequncia dessa lei (Bahadur designa-a por regra ekhalma-manav). - Para C. Porteli, a mega informao que dirige a matria e torna possvel a biognese. - P. Fong supe que a informao primordial para o aparecimento da vida, que ela (e no a matria) que deve ser primeiro estudada. As teorias e os trabalhos de Fong permitiram uma nova interpretao das tradies msticas, porque a cincia contempornea interpreta 35 cada vez mais letra o preceito segundo o qual o universo a regra da organizao do Tao, ou os primeiros versculos do Gnesis: No princpio, criou Deus os cus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Esprito de Deus se movia sobre a face das guas. Deus disse: Taa-se luz. E a luz foi feita. Quais so as consequncias destas investigaes e em que medida influenciaram as nossas teorias em matria de sade? Toda a gente concorda em reconhecer que a vida um fenmeno de uma extraordinria complexidade, apesar de existir h vrios milhares de anos. Em razo da sua complexidade e da incapacidade ou impotncia da cincia para o explicar, compreender ou simplesmente descrever, devemos rejeitar todas as explicaes simplistas. Uma doena no pode ser reduzida (salvo em certos casos raros e extremos) a um nico factor. Ou seja, no basta, por exemplo, alterar o pH, nem adicionar alguns elementos que aparentemente faltam (vitaminas, minerais, etc.), para obter resultados para os quais a Natureza necessitou de condies especficas que exigiram milhares de anos para se realizarem. Em contrapartida, somos da opinio de Hipcrates e pensamos que a Natureza, atravs dos seus mecanismos de regulao, capaz de tratar a maioria das nossas doenas. tambm importante realar que se os

estudos sobre a biognese demonstram que a vida tem capacidades excepcionais para se manter (as bactrias, por exemplo, vivem em condies extremas de calor, num ambiente de substncias txicas), existe contudo uma fronteira de alteraes ambientais para alm da qual a vida no consegue manter-se. Ao ultrapassar um certo patamar de tolerncia, a vida pode tornar-se impossvel nas suas formas actuais. Desta banal constatao podemos reter como concluso que preservar a vida e a sade em geral passa pela proteco do nosso meio ambiente. 36

A NATUREZA QUE TRATA Sado-te, Natureza, me de todas as coisas. Plnio ---Nos povos primitivos todos os indivduos so exmios naturalistas, o que no de espantar j que disso depende a sua sobrevivncia. Errist Mayr (Histoire de la biologie) Em busca das origens da Natureza H vinte e seis sculos os filsofos gregos propuseram o equivalente palavra Natureza e, tambm na mesma poca, o termo Arche (incio, origem). A etimologia da palavra Natureza globalizava o facto de as substncias serem susceptveis de se desenvolverem, durarem e se reproduzirem. Tales de Mileto dedicou-se, mais especificamente, busca das origens da Natureza. Os seus sucessores, entre os quais Anaximandro, quiseram saber o que existia na Natureza no momento da sua criao. A busca filosfica dos factores unificadores e das causas naturais dos fenmenos originais esto na base da cultura europeia. A Natureza pode tratar? Os grandes pensadores gregos debruaram-se sobre o papel teraputico da Natureza. Para Hipcrates, considerado fundador da medicina cientfica, a Natureza est na base de todas as curas. Os diversos rgos do corpo constituem uma entidade harmoniosa, e a Natureza tem a possibilidade de tratar as doenas. O papel do mdico consiste em observar o doente, seguir os progressos que a Natureza efectua em direco cura e, eventualmente, ajud-la. No deve de modo nenhum contrari-la na sua 37 aco curativa. Primum non nocere significa que o dever do mdico ou do curador o de no perturbar o desenrolar de uma aco benfica. Os preceitos que orientaram os terapeutas durante sculos estabeleciam que o mdico deve ser minisler naturae (estudante da Natureza) e no magisler nalurae (mestre da Natureza). As relaes entre Natureza e medicina Na tradio filosfica (e medicinal) existem duas correntes: -Para a primeira, o homem faz parte da Natureza. a relao conflituosa entre o nosso corpo e a Natureza que est na origem das doenas, e , por conseguinte, na Natureza que podemos encontrar os meios de preservar ou de recuperar uma boa sade. - Para a segunda, o homem o mestre da Natureza. A sua cincia e a sua tcnica tm os meios de resolver todos os problemas que lhe possam surgir, incluindo o problema da sade. Ns estamos, pela nossa parte, prximos da primeira tradio: pensamos que a Natureza pe nossa disposio todos os meios para um melhor bem-estar. Felizmente, esta tradio, mesmo tendo sido, por vezes, ocultada ao longo dos sculos, no desapareceu com a Grcia antiga. Ela acompanhou os homens e a medicina ao longo da histria. Encontramo-la na tradio da Escola de Medicina de Montpellier, onde outrora se escrevia com orgulho Hippocrate oolim Cous, nunc Monspelliensis, e nos Conselhos Gerais de Sade da clebre Escola de Salerno: Quando sentirdes que a Natureza vos quer aliviar

de alguma matria impura, Esculai os seus conselhos, ajudai-a nos seus esforos: Em vez de reterdes essa imundcie em vs, dela libertai, rapidamente e sem tardar, o vosso corpo. Fugi dos tratamentos nocivos, pois por eles se altera o sangue; Evitai a clera como um veneno funesto. O serva do estes pontos, contai que os vossos dias por meio de um regime prudente se prolongaro. 38

A Natureza que trata: a naturopatia Esta tradio hipocrtica encontra-se igualmente na naturopatia e nas teorias ecolgicas de Gaia: Terra - organismo vivo de que o homem faz parte. Esta concepo da Natureza que trata tem tido inmeros detractores, especialmente entre os mdicos e os cientistas. compreensvel, porque, se suposto a Natureza tratar, para que serviro ento os mdicos? evidente que a propagao desta teoria pe em jogo os interesses econmicos dos comerciantes de sade, dos mdicos e dos farmacuticos, mas sobretudo dos laboratrios que fabricam os medicamentos. O problema no novo. No sculo xviii um grande naturalista e mdico francs, Jean Emmanuel Gilibert, publicou as obras Autocracia da Natureza ou Primeira Dissertao sobre a Energia do Princpio Vital para a Cura das Doenas Cirrgicas e Segunda Dissertao sobre a Autocracia da Natureza na Qual se Prova que a Natureza Cura as Doenas Internas, tais como Febres, Inflamaes, Convulses e Dores. A reaco do meio mdico no se fez esperar e foi muito violenta. Gilibert foi obrigado a publicar uma rectificao: Joannis-Emmanuel Gilibert adversaria medico-praticum Lugduni, 1791, na qual explica que foi mal entendido e que, em certos casos, a interveno do mdico pode ser necessria. Ns partilhamos o ponto de vista de Gilibert: a interveno do mdico necessria apenas em certos casos. Assim, segundo o princpio hipocrtico, devemos limit-la aos casos mais srios. A medicina pela Natureza Alis, na grande tradio da medicina pela Natureza, muitos foram os pensadores que rejeitaram todas e quaisquer intervenes mdicas, salvo as mais urgentes (como a cirurgia das fracturas). Assim, Ambroise Par no foi o nico a descobrir que frequentemente a ausncia de medicamentos (no seu caso tratava-se de leo a ferver que servia para tratar as feridas) pode ser mais benfica do que o tratamento cientfico. 39 Devemos suprimir os medicamentos? Encontramos esta ideia na tradio hasdica (movimento ortodoxo judeu da Europa Central, no sculo xviii), para a qual a cura e a sade no pertencem aos mdicos, bem como nos trabalhos de Karol Rokitansky, da Escola de Viena do sculo xix. Este grande mdico declarou que cada escola de medicina ensina tratamentos teraputicos diferentes para patologias idnticas, sem mesmo assim obter uma cura para as doenas tratadas. Rokitansky chegou ao ponto de declarar que toda a matria mdica no serve para nada e que os doentes recuperam ou no a sade graas aco da Natureza; e que, nesta hiptese, por conseguinte impossvel trat-los. No somos to extremistas na nossa maneira de pensar. Partilhamos mais o ponto de vista de Galiano, que pensava, como Hipcrates, que a Natureza trata as doenas e que ns podemos observ-la e imit-la, sem reservas, atravs dos dons que ela nos proporciona. A Natureza tem a capacidade tanto de nos tratar directamente como de nos fornecer as suas capacidades teraputicas. A NATUROPATIA No possvel comparar a naturopatia com a medicina oficial, que apenas se limita a

intervir quando a doena se declara e que se esfora por fazer desaparecer os seus sintomas o mais rapidamente possvel. Ela constitui a fotografia fiel do nosso modo de vida e da nossa tcnica e sente-se assim na obrigao de trabalhar muito depressa, de responder o mais imediatamente possvel s necessidades do pblico. Comporta obviamente vantagens indiscutveis, mas gera, muitas vezes, inconvenientes maiores, inclusive riscos com consequncias difceis de avaliar. E se os medicamentos nos fizessem mais mal do que bem? Utilizamos um grande nmero de substncias qumicas de que ignoramos totalmente os efeitos, tanto para nos tratarmos como para nos alimentarmos: quem poder explicar o que acontece quando estas ditas 40 substncias penetram no nosso organismo, se combinam entre si e se acumulam nos nossos tecidos? Podemos considerar que os seres vivos esto perante vrias centenas de milhar de compostos qumicos dos quais nos impossvel avaliar as interaces. til lembrar que 25% das patologias diagnosticadas so consideradas ---iatrognicas, ou seja, resultam directamente de um acto ou de uma prescrio mdica. Os erros da medicina: muitos medicamentos so retirados do mercado Devemos, igualmente, lembrar que um grande nmero de produtos considerados andinos, que faziam parte da panplia teraputica de todos os mdicos h alguns anos atrs, foram desde ento retirados do mercado. Numa dcada, 600 medicamentos foram assim postos na lista negra. Alguns deles, ainda autorizados em certos pases, so contudo considerados perigosos e proibidos noutros!... Como se, em funo da latitude em que se encontra, o ser humano fosse diferente! Foi, alis, o caso da demasiado clebre thalidomida',que foi autorizada na maioria dos pases ocidentais mas no na Turquia. O ministro da Sade deste pas era mdico e tinha muitas reservas relativamente s novas terapias ocidentais. Podemos dizer que as reservas deste homem foram no mnimo felizes e que, se prejudicaram de alguma forma as finanas do laboratrio que comercializava este produto, evitaram nascimentos monstruosos na Turquia, tais como aqueles que ocorreram nos nossos pases... mais civilizados. A naturopatia socorre os males quotidianos No se trata de pr em causa os conhecimentos adquiridos e os progressos da medicina e da cirurgia oficiais. necessrio recorrer a essas tcnicas em certos casos limitados, especialmente nas fases agudas de certas patologias. Mas, em contrapartida, no que diz respeito maioria 41 dos males correntes, essas medicaes apresentam inconvenientes inteis. Torna-se, por conseguinte, prefervel recorrer a tcnicas que respeitem o meio ambiente e que estejam em harmonia com os princpios vitais do organismo. A naturopatia baseia-se em princpios filosficos que assentam no facto de o homem ser um microcosmos no macrocosmos, um universo no universo, um corpo feito de mares, montanhas, vales, correntes de gua, rios, desertos... Ele a imagem emblemtica e representativa das foras em movimento que o compem. Ele sofre a influncia do seu meio, do ambiente que o envolve. Se este perturbado, a perturbao reflecte-se no homem microcosmos, espelho da entidade global. A naturopatia respeita o corpo

A naturopatia age rearmonizando as energias que constituem a vida. Tende a estimular as defesas do nosso organismo e coloca-o num estado capaz de responder e fazer face s agresses exteriores. O corpo tem obrigao de ser forte para poder recuperar e conservar a sade, preservando simultaneamente o seu capital vital. * A doena ou as perturbaes orgnicas que dela decorrem no so um simples efeito do acaso, do inexplicvel ou da m sorte. Do mesmo modo que no passamos naturalmente de um estado de boa sade para um estado de doena. 42

ALGUMAS TEORIAS (naturopticas) Louis Kuhne combate os excessos alimentares A sua teoria As doenas manifestam-se atravs de sintomas variados, mas a sua causa sempre idntica: a sobrealimentao que forma substncias estranhas no corpo. Estas perturbam-no, prejudicam o seu bom funcionamento e a circulao sangunea. A origem da doena reside na acumulao dessas matrias estranhas no eliminadas. Estas so o resultado de o indivduo ingerir mais alimentos do que aqueles de que necessita efectivamente para compensar o desgaste do seu corpo. Louis Kul---me combate a ingesto de alimentos nocivos (carnes, vinho, especiarias, lcool, ch, caf, narcticos, medicamentos, etc., que no tm, na sua opinio, qualquer valor nutritivo) que irritam o corpo e acabam por torn-lo doente. Os rgos ficam prematuramente enfraquecidos e tornam-se incapazes de assegurar as suas funes... nada escapa s suas crticas, e j em 1850 ele se insurgia contra o tabagismo e as vacinas, o ar impuro, os vapores das cloacas, os desinfectantes e a poeira que so nocivos para o corpo e se transformam em princpios mrbidos. Estes materiais armazenados e transformados no podem, em razo da sobrealimentao, ser eliminados pelos rgos excretores. Por conseguinte, fermentam e apodrecem. Se surge alguma agresso interna ou externa, por exemplo um resfriado, um sobreaquecimento ou uma emoo, os princpios mrbidos procuram uma sada. Se encontram um obstculo no seu caminho dilatam o espao onde se movem e provocam ento tumores, hipertiroidismo, plipos, enfisema, endurecimentos, lceras, cancro... O seu mtodo Com esta filosofia (unidade das doenas, unidade do tratamento para curar todas as doenas), Kulme exclui todos os medicamentos, plantas medicinais e intervenes cirrgicas. Ele preconiza um tratamento uniforme para todas as doenas, traumatismos e feridas, atravs de: * banhos do tronco; * banhos de assento com frices; 43 * banhos de prancha; * banhos de vapor; * uma alimentao estritamente vegetariana. O mtodo natural e personalizado do professor Bilz A sua teoria Bilz elaborou uma tcnica a que deu o nome de O Novo Mtodo do Professor Bilz para Curar as Doenas. Esta teoria obteve um grande xito e conseguiu proezas e maravilhas onde a medicina da poca esbarrava contra um impasse. Bilz utilizava apenas tratamentos naturais que ele personalizava e adaptava a cada caso particular. Inspirava-se em Savonarola, mdico do sculo xv, e, mais prximos dele, em Hahn, em Pressnitz e em Frank. Era um fervoroso adepto da hidroterapia, que conseguiu adaptar maravilhosamente a cada caso.

O seu mtodo Apesar de fornecer receitas saborosas, considera que o vegetarianismo o regime mais adaptado ao homem e superior a todos os outros. No o considera, contudo, como uma regra absoluta, salvo no tratamento de certas doenas. Com efeito, aconselha a prtica de uma alimentao variada, composta por legumes, fruta, leguminosas (ervilhas, feijes), lacticnios, ovos, po integral, saladas, compotas e, eventualmente de vez em quando, um pouco de carne assada, cereais integrais, arroz, milho, trigo sarraceno, cevada, bem como manteiga e queijo. Como bebida, recomenda a gua, mas considera que se pode tomar, de vez em quando, um pouco de vinho, de ch ou de caf. Para cada caso especfico impe-se um tratamento especfico. necessrio individualizar o tratamento e personaliz-lo, de modo a torn-lo o mais eficaz possvel. 44 Para o doente, ele afirma justamente que uma sobrecarga alimentar totalmente intil. Observa tambm que a privao de alimentos provoca no organismo as mais belas curas. Bilz insurgiu-se contra as guas qumicas de SeItz, que denunciou violentamente. O que diria ele hoje perante a profuso de guas gaseificadas, com sabores de fruta e outras, adicionadas de corantes e de conservantes, que todos ns consumimos? Ele admitia que o ar era indispensvel para prosperarmos e nos desenvolvermos. Basta observar as plantas e delas retirar a nossa inspirao: as plantas necessitam de ar e de luz. Os tratamentos do padre Kneipp Kneipp utilizava nos seus tratamentos tisanas e envolvimentos por meio de banhos de vegetais. Utilizava a gua sob a forma de compressas e aplicava cataplasmas de argila. Tambm considerava a gua fria como um remdio particularmente eficaz e aconselhava a prtica de imerses frequentes e de curta durao. Shelton nega a doena Para Shelton, as doenas no existem. Aquilo que observamos e a que chamamos doenas so apenas sintomas variados. Pretender curar a doena um contra-senso porque esta no existe. O papel da doena o de preparar o corpo para um bom estado de sade. por isso que a doena deve ser gerida e no combatida. A prtica do jejum e as restries alimentares A prtica do jejum velha como o mundo e constitui provavelmente um dos meios conhecidos mais antigos para recuperar um bom estado de sade. A sua histria confundese com a histria do homem e das religies: a Bblia cita Moiss, e o Novo Testamento cita Cristo. 45 A opinio de alguns tericos e mdicos sobre o jejum - Para o Pr. Biliz: Em vez de alimentarmos o doente alimentamos a doena. A dieta o meio mais seguro de recuperar uma boa sade e de conservar a juventude e a vitalidade.

O jejum um perodo de descanso por excelncia. Logo de incio o sangue e a linfa purificam-se e produz-se um novo equilbrio que permite aos rgos vitais regenerarem-se. O jejum pode comparar-se a uma noite de repouso total para um corpo extenuado. Os jejuns so umas frias fisiolgicas de todo o nosso organismo. No so uma penitncia mas sim uma medida de desintoxicao interna que merece ser mais conhecida e desenvolvida. Para Upton Sinclair: A coisa mais importante em relao ao jejum o facto de ele proporcionar um novo nvel de sade. Toda a gente pode jejuar, as contra-indicaes so extremamente raras e os efeitos benficos fazem-se rapidamente sentir; as funes orgnicas so restauradas, e o corpo elimina os excessos de peso. - Para a Sr. Geffroy: o fenmeno da autofagia que torna o jejum num meio maravilhoso de regenerao e num extraordinrio factor de longevidade. O organismo devora as suas clulas, comeando por aquelas que esto fracas ou doentes, que perderam vitalidade e que representa um perigo para o corpo na sua totalidade. 46 O jejum faz emagrecer e rejuvenescer por esta razo que durante as curas de jejum se eliminam primeiro as gorduras e a celulite. * O Dr. Bertholet, mdico suo, afirma que a autofagia se processa da seguinte maneira: 97% da gordura desaparece, depois o bao perde 63% do seu peso, o que prova que se encontra sobrecarregado e anormalmente dilatado, e no sofre, de modo algum, com esta perda de peso. Em seguida, o fgado perde tambm 56% do seu peso, sem qualquer inconveniente. Os msculos, por sua vez, podem perder at 30% do seu volume, o sangue 17%, enquanto os nervos e o crebro 0%. Para este mdico o que o jejum no consegue curar nenhuma outra teraputica ser capaz de o fazer. * Carlon e Kunde mostraram que quando o jejum praticado por um homem de 40 anos, durante um perodo de 2 semanas: O jejum permite ao corpo regressar a uma condio fisiolgica comparvel de um jovem. Estes dois mdicos realam que, se o homem praticasse rejuvenescedores, poderia manter-se jovem ano aps ano. 47 regularmente jejuns

AS PLANTAS MEDICINAIS AS PLANTAS ACALMAM A FOME E ALIVIAM AS DORES No existe vida animal sem vida vegetal, nem mundo vegetal sem mundo mineral. O que demonstra, caso seja necessrio, que tudo o que constitui o nosso planeta se encontra estritamente interdependente. O essencial da nossa alimentao provm directa ou indirectamente do mundo vegetal. Os homens sempre procuraram nas plantas, nas flores, nas razes e nos tubrculos um meio de saciarem a fome. Depois procuraram as que eram mais aptas a ajud-los a suportar a sua misria, a sua inquietao, a sua angstia e, tambm, a aliviar as suas feridas e vencer a doena e a dor. O interesse das plantas que tratam... Qual o interesse da utilizao das plantas medicinais na poca em que as manipulaes genticas e a sntese qumica so moeda corrente? A resposta pe em evidncia as grandes tradies religiosas e todas as civilizaes que utilizaram a fitoterapia - do Egipto antigo Grcia antiga, passando pela China. Contudo, estas mostram-se incapazes de fornecer uma resposta que satisfaa as nossas expectativas. Podemos, evidentemente, falar da superioridade das substncias obtidas nos laboratrios, em condies ideais de esterilizao e de controlo de qualidade. No basta citar o exemplo dos animais que procuram re 49 mdios no seu bitopo natural, apesar de sabermos, graas aos estudos pormenorizados dos zologos, que os grandes primatas, por exemplo, escolhem espcies vegetais antiparasitrias. At sabem compor o seu regime alimentar de modo a preservarem a sua sade, tal como o fazem os babunos, que escolhem as folhas e os frutos do Balanites aegyptiaca para evitar a bilharziose. Para convencer os Ocidentais cartesianos da utilidade das plantas medicinais, difcil recorrer a concepes msticas, Lei das assinaturas (plantas cuja forma e cor se assemelham aos sintomas de uma determinada doena e que suposto trat-las), herana dos livros sagrados ou, para finalizar, convico de que o homem deve encontrar remdios para todos os males na Natureza, pois no desequilbrio da Natureza que se encontra a causa da doena. e o interesse da fitoterapia A fitoterapia no precisa de recorrer a todas estas explicaes para se justificar. Os resultados obtidos com as substncias de origem vegetal so suficientemente convincentes. Devemos lembrar que o potencial e a enorme riqueza bioqumica dos vegetais so factos indiscutveis. Eles contm vrias centenas de milhares (ou de milhes) de componentes qumicos que a sntese artificial incapaz (na maioria das vezes) de reproduzir e at, por vezes, de determinar. No que diz respeito s substncias que o homem aprendeu a reproduzir em laboratrio e que so portanto quimicamente idnticas s isoladas nas plantas, existem tambm diferenas essenciais relativamente aos produtos naturais. Quando se utilizam plantas, os seus princpios activos nunca agem sozinhos mas, sim, em sinergia com os outros componentes. So estas substncias complementares que tm frequentemente um papel activador, completando e reforando a aco dos princpios activos. Melhor ainda, quando verificamos que certos componentes

isolados so txicos, outras substncias que contm essa toxicidade diminuem ou neutralizam completamente a sua aco nefasta. E, finalmente, no devemos esquecer o aspecto econmico da fitoterapia, que se torna muito importante nas nossas sociedades hipermedicalizadas, nas quais o custo da segurana social cada vez mais elevado. Podemos 50 frequentemente encontrar plantas muito eficazes entre as espcies banais, as especiarias, os legumes, as plantas ubquas (que se encontram em todo o lado). A utilizao de certas plantas exticas, que se podem cultivar em casa, agora tambm possvel. O poder de cura das plantas est hoje cientificamente confirmado Inmeros investigadores, mdicos, cientistas ou simples curiosos, redescobriram desde a ltima guerra a medicina dos simples. Analisaram e testaram centenas de variedades de plantas. Conhecemos agora os principais componentes de inmeras espcies, que os antigos ignoravam. Estes estudos confirmaram, igualmente, o seu conhecimento emprico e apercebemo-nos de que as tisanas, as decoces e outras preparaes nas quais as plantas possuem uma virtude teraputica eram sempre prescritas adequadamente. Podemos ento afirmar que as plantas tm todos os poderes? Que as ervas, as flores, as razes tm todas as virtudes, que constituem o remdio ideal, a panaceia universal? Decerto que no, mas elas tm, em muitos casos, a faculdade de ajudar o corpo a vencer a doena e a recuperar a sade, em situaes nas quais at as medicinas mais sofisticadas falham. As plantas tm, meramente, a pretenso de poder constituir uma ajuda complementar interessante de um tratamento mdico. A LEI DAS ASSINATURAS OU A FACE MSTICA DA FITOTERAPIA As virtudes teraputicas das plantas - Em frica, as raparigas utilizam uma planta mgica Kigelia africana, para aumentar o tamanho e o volume dos seios e tratar a esterilidade. -No Norte da Europa, os Escandinavos desde tempos pr-histricos que tratam as doenas respiratrias com a Lobariapulmonaria. 51 - O salgueiro Salix sp., cura os reumatismos, e o castanheiro-da-ndia suposto curar as hemorridas. Estas quatro plantas medicinais foram utilizadas por diferentes civilizaes, em pocas diferentes, para tratar diversas doenas. A descoberta das suas virtudes foi feita sem qualquer correlao. Contudo, possuem inegavelmente factores comuns. Estas quatro plantas foram descobertas graas Lei das assinaturas. A lei das assinaturas revela as virtudes das plantas *Os frutos da Kgelia africana tm aspecto flico. *A Lobariapulmonaria um lquen foliceo que se assemelha a um lbulo pulmonar. *O salgueiro cresce, frequentemente, em terrenos inundados e pantanosos e, como facto conhecido, os reumatismos esto associados humidade. *As razes do castanheiro-da-ndia assemelham-se a veias hipertrofiadas. Nestes quatro exemplos a cincia moderna confirma as virtudes teraputicas evocadas pelas assinaturas. At foi possvel identificar e isolar os componentes qumicos que traduzem a

aco teraputica da linguagem da doutrina das assinaturas para a linguagem da qumica dos medicamentos do sculo xx*A Kigelia africana contm esterides cuja assinatura qumica idntica s das hormonas sexuais. *O salgueiro contm derivados saliclicos (como a aspirina). *Um cido, prximo do cido cetrtrico, conhecido pelo seu forte poder antibitico, foi isolado a partir da Lobaria pulmonaria. *Os sapondeos anti- inflamatrios justificam as virtudes do castanheiro-da-ndia. Qual a frmula mgica que permitiu descobrir as virtudes das diversas plantas? Como que as civilizaes primitivas chegaram s mesmas concluses e aos mesmos resultados que os Ocidentais do sculo xx? Os nossos antepassados no dispunham nem de laboratrios, nem de aparelhos sofisticados, nem de cromatografia. 52 Quem formulou primeiro a lei das assinaturas? Nunca descobriremos o inventor desta doutrina; ela surgiu provavelmente com os primeiros homens. Nem sequer conseguimos determinar que civilizao ou que continente foi precursor em matria de decifrao dos sinais divinos da cura. Para os Europeus esta doutrina est ligada medicina e filosofia de Paracelso, que transformou a antiga regra na lei simula similitibus curantor (o semelhante cura-se pelo semelhante). Esta lei pretende que cada planta contm um sinal que indica a sua prescrio. Por exemplo, uma folha em forma de corao trata perturbaes cardacas, outra em forma de fgado e as flores de cor amarela so indicadas contra a ictercia. Por outro lado, Giambattista della Poria associou a botnica astrologia e dedicou a sua obra Phytognomococa ao estudo e descrio das assinaturas em relao com o cosmos. A base terica desta lei pertence concepo hipocrtica e j era conhecida na Grcia antiga. Mas foi provavelmente no sculo xvi que a doutrina das assinaturas entrou no cnone do conhecimento mdico e na filosofia ocidental. Foi tambm nessa poca que os viajantes e conquistadores espanhis descobriram que esta lei no pertencia apenas aos Europeus. No tempo de Paracelso a doutrina das assinaturas tornou-se no verdadeiro paradigma do conhecimento humano. A lei das assinaturas decifra os sinais das plantas evidente que a poca de Paracelso favorecia a redescoberta, a divulgao e a predisposio para a doutrina dos sinais. Em primeiro lugar porque o homem (e tambm o cientista) vivia com a conscincia da omnipresena divina e o medo da morte. Virava-se para Deus e pedia-Lhe que levasse em conta os seus infortnios. A certeza de que no estamos ss com as nossas doenas predominava nas mentalidades. Segundo a teoria dos alquimistas, e de Paracelso em particular, a viso das relaes entre micro- e macrocosmos que constitui a base importante da doutrina das assinaturas, porque: 53 Existe uma correspondncia entre o que acontece nos astros e o que acontece na terra, uma influncia do cu sobre os objectos que constituem a Natureza. Esta ideia teve um papel importante na filosofia do sculo xvi. A teoria das assinaturas est em sintonia com a viso que os alquimistas tinham da matria, ou seja, com a concepo da transformao. , com efeito, a Natureza que impe um sinal na matria-prima (amorfa) e a transforma em matria ltima, que possui a forma caracterstica associada s virtudes medicinais.

Os alquimistas, e em particular Della Porta e Paracelso, desenvolveram toda uma teoria da cosmogonia dos sinais. Devemos lembrar que os princpios desta teoria so idnticos ou, pelo menos, quase idnticos, em todas as civilizaes. Como identificar esses sinais Os sinais podem ser assimilados aos sintomas, s causas das doenas ou aos rgos (sinais organolpticos e, eventualmente, aos processos fisiolgicos) do corpo humano. A ficria (Ficaria sp.) um bom exemplo de sinal sintomtico: as suas razes so inchadas, tm a forma de hemorridas, e da o seu nome corrente, ervadas-hemorridas. As plantas cuja aparncia se assemelha de uma serpente ou de um escorpio foram, durante muito tempo, utilizadas para neutralizar a aco dos venenos. Elas pertencem ao grupo dos sinais causais (ligados s causas das doenas). Em certas culturas, a utilizao destes sinais ia ao ponto de tratar feridas feitas por flechas com plantas que serviam para o fabrico das flechas. Contudo, os sinais organolpticos eram provavelmente os mais frequentes. As plantas em forma de fgado (como a Repatica nobilis) ou de pulmo (como a Lobaria pulmonaria) esto presentes em todas as farmacopeias. 54 Para terminar, no podemos esquecer os sinais ligados aos processos fisiolgicos. As plantas com suco branco era suposto estimularem a lactao, Nos ndios, a pedra-vermelha eztetl tinha a capacidade de estancar as hemorragias. Quais so esses sinais? - frequentemente a morfologia de uma planta (ou parte dela) que constitui o sinal: - As folhas da Hepatica nobilis (anmona-heptica) so recortadas em trs lbulos profundos com a forma de fgado. O talo da Lobaria pulmonaria lembra os alvolos pulmonares. - As cores constituem a segunda grande classe de sinais: As plantas amarelas so, com frequncia, utilizadas no tratamento da ictercia ou das afeces da vescula biliar. - Estes dois sinais (a morfologia e a cor) esto, muitas vezes, presentes em simultneo: * As folhas da pulmonria tm a aparncia de alvolos no s por causa da sua forma, mas tambm das suas manchas brancas. * A cor vermelha da parte inferior de uma folha de anmona-heptica refora a semelhana com o fgado. - Mas o sabor e o aroma constituem, igualmente, sinais utilizados pelo homem. -Todas as partes de uma planta podem constituir sinais: a raiz (ficria, orqudeas), os talos (lianas), a flor (Sarothamnus), o fruto (Kigleya) e tambm o ltex (Chelidonium majus). -Na tradio chinesa utilizou-se tambm a repartio anatmica dos

sinais: os botes e as flores representavam as partes superiores do corpo, e as razes as partes inferiores. -Os sinais podem estar ligados no apenas planta, mas tambm sua ecologia. O salgueiro e a rainha-dos-prados, utilizados como antipirticos e para tratar o reumatismo, pertencem classe de sinais 55 definidos pelo seu habitat, j que ambos crescem em terrenos habitualmente inundados. -O homem estudou frequentemente as capacidades especficas dos organismos a fim de os decifrar: *Assim, na Amrica do Sul utilizava-se a pele de nandu contra os males do ouvido, por causa da grande dimenso das orelhas deste animal. *Considerando a coragem e a fora do tigre, os Chineses utilizam o p dos ossos deste animal como panaceia necessria para recuperar as foras do organismo, enfraquecido pela doena. *As flores da erva-de-so-joo (hiperico) so amarelas, mas se as desfizermos entre os dedos tornam-se vermelhas, o que lembra a reaco da pele s queimaduras do sol (as flores desta planta so utilizadas em inmeros cremes cosmticos). No devemos contudo esquecer que certos sinais nunca foram confirmados (por exemplo, a utilizao da noz, que pela sua forma se assemelha ao crebro, nunca demonstrou qualquer eficcia contra as dores de cabea). - Para descobrir certos sinais o homem observou os animais, como o caso da quelidnia, que, segundo uma tradio popular, utilizada pelas andorinhas. - Os sinais ligados ao sistema reprodutor do homem (flico, testicular ou vaginal) constituem uma grande parte dos afrodisacos e tambm das plantas antisifilticas. -No devemos esquecer a categoria dos sinais lingusticos, em que o nome da planta nos indica as suas propriedades. Mas desde h muito que esta categoria parece secundria, j que o homem descobriu primeiro as caractersticas dos vegetais e s depois lhes atribuiu um nome. A aceitao da existncia de sinais lingusticos exige obrigatoriamente a aceitao da existncia de nomes primrios (supostamente existentes antes do conhecimento). Por outro lado, devemos realar que determinadas concepes psicolingusticas (sobre as relaes entre o crebro, o espao, o tempo e a lngua) tentam explicar este fenmeno. 56 A fitoterapia decorre da lei das assinaturas O homem sempre procurou uma panaceia para curar os seus males. Para este efeito, a lgica da teoria das semelhanas assenta sobre a busca de uma planta que possua o maior nmero possvel de sinais. da que derivam todos os estudos sobre as plantas que possuem a forma do corpo humano, como, por exemplo, a mandrgora e o ginseng. Inicimos estas reflexes com o exemplo das assinaturas que foram confirmadas pela biologia molecular. Podemos tambm demonstrar que inmeras assinaturas utilizadas no passado no tm qualquer poder teraputico (ou talvez no tenham ainda pura e simplesmente revelado os seus segredos aos nossos laboratrios?). Querer isto dizer que a doutrina das assinaturas no credvel? Que todas as plantas descobertas atravs desta lei so o resultado de um mero acaso? Ou tratar-se-ia talvez de falsos sinais (mal escolhidos ou mal interpretados) que no constituem o reflexo de uma teoria exacta? certo que a doutrina das assinaturas foi uma hiptese para um

trabalho de investigao que deu resultados muito interessantes. Ela permitiu a descoberta de inmeras plantas medicinais, e no esqueamos que Paracelso, grande partidrio desta doutrina, est na origem das bases da qumica e da farmacologia modernas. At os que ridicularizaram as assinaturas no podem ocultar a importncia do contributo que esta teoria pode ter no campo da fitoterapia. ALGUMAS NOES SOBRE A QUMICA DAS PLANTAS No lhe vamos fazer um curso terico A utilizao de frmulas qumicas num livro faz baixar a sua venda em 20%, e at o simples facto de se utilizarem palavras como fenol ou flavonide pode desencorajar o leitor. No pensamos, por isso, como o fazem muitos responsveis do marketing dos laboratrios farmacuticos, que uma frmula ou um nome qumico complicado (por exemplo, parahidroxi-meta-nitro-hidroxibenzoato de metilo) possa aumentar, graas ao seu efeito psicolgico (placebo), a eficcia dos medicamentos. 57 Os leitores interessados no aspecto e na composio qumica dos remdios naturais podem consultar, se o desejarem, livros de fitoqumica ou de bioqumica, de que damos referncias no fim desta obra. Limitar-nos-emos, nas linhas que se seguem, ao estritamente necessrio e no lhe apresentaremos qualquer frmula qumica rebarbativa. Verifique a composio qumica das plantas Os princpios activos das plantas podem ter um carcter qumico muito variado e serem compostos por fenis, flavonides, antocianos, glcidos, lpidos, aminocidos e protenas, chiqumatos, poliacetatos, terpenos, esterides, alcalides, etc. Alguns deles so venenos terrveis. o caso, por exemplo, da estricnina, da ergotamina, do curare, da cocana... Parece-nos indispensvel lembrar este facto, j que certos mdicos e terapeutas tm uma deplorvel tend ncia para banalizar e subestimar o poder da fitoterapia. A composio qumica das substncias de origem vegetal confirma no s a sua eficcia sobre o organismo humano, mas tambm o perigo que a sua m aplicao poderia representar. A guerra qumica das plantas entre si Perguntamo-nos frequentemente qual poder ser o papel destas substncias para os vegetais? Por que razo as plantas sintetizam estes princpios activos? Em inmeros casos a cincia no tem capacidade para fornecer uma resposta a esta pergunta. Mas sabemos que algumas dessas substncias activas tm um papel na guerra qumica que as plantas travam entre si. Por exemplo, a Cafluna vulgaris inibe, graas sntese dos seus mediadores qumicos, o desenvolvimento da Avenafatua e deste modo livra-se de um concorrente. O Eucalyptus globulus intoxica os seus concorrentes por meio de fenis e terpenos, utilizando um pequeno coleptero, o Paropsis atomaria, que come as suas folhas e ingurgita as substncias 58 activas para mais tarde as libertar na proximidade de plantas das quais pretende livrar-se. A intensidade das armas qumicas das plantas tal que uma substncia isolada a partir do ltex, o Panthenium argentatum, inibe a aco das outras espcies numa concentrao de O,000 1 %! Para se obter 20 g desta substncia seria necessrio utilizar 20 kg das suas

razes. Compreendemos, deste modo, a terrvel eficcia de que dispem as plantas para se defenderem das doenas causadas por bactrias ou fungos, e tambm dos seus diversos predadores: das lagartas aos mamferos. A ttulo de curiosidade, podemos acrescentar que esta aco constitui uma das hipteses apresentadas para tentar explicar o desaparecimento dos dinossauros. Esta tese d a entender que, no decurso da sua evoluo, as plantas se foram aperfeioando quimicamente cada vez mais. Tornaram-se ento txicas para os seus predadores e conseguiram sair vitoriosas dos dinossauros, que no conseguiram desenvolver mecanismos de desintoxicao. Esta teoria desenvolveu-se, mas desde os trabalhos de Alvarez que se admite geralmente a teoria da ocorrncia de uma catstrofe csmica como explicao para a sua extino. Contudo, no se considera, actualmente, uma atitude sria pr em dvida o poder da aco biolgica dos princpios activos inerentes fitoterapia. As plantas tambm nos protegem As substncias contidas nas plantas podem ter ainda outras funes biolgicas. Explica-se que a grande quantidade de bioflavonides contidos nas folhas de certas espcies funcionam como filtros contra as radiaes ultravioletas e desempenharam um papel primordial durante a colonizao da terra no perodo siluriano. possvel que estas substncias venham ainda a ter um papel importante, no futuro, no que diz respeito proteco do homem contra as radiaes resultantes da destruio da camada de ozono. Segundo as ltimas investigaes americanas, a presena de fenis garante uma proteco imunitria e tambm uma possibilidade de adap 59 tao. No caso das plantas que vivem em ecossistemas pobres em azoto, certas espcies utilizam componentes orgnicos para substituir este elemento. Os fenis, segundo esta teoria, formam com as protenas complexos acessveis (contrariamente s protenas que, s por si, so incapazes de faz-lo) s plantas como fonte de azoto. Um dos autores desta obra trabalhou durante vrios anos na investigao dos mecanismos de resistncia das plantas s poluies atmosfricas e s doenas fngicas. Pde constatar que o aparecimento ou o desenvolvimento desta resistncia so sempre acompanhados de um aumento importante dos teores em componentes fenlicos. Parece ento que os princpios activos constituem um elemento-chave do sistema de defesa dos vegetais contra o stress ambiental e as suas diversas patologias. Os estudos farmacolgicos sobre os flavonides realam a complexidade da sua aco sobre o organismo: a capacidade de libertar histaminas, a facilidade de amalgamao s plaquetas sanguneas e a capacidade de bloquear os efeitos inflamatrios das toxinas do fgado, o efeito sobre o sistema enzimtico (os flavonides depositados nas folhas agem no sistema enzimtico e inibem a aco dos parasitas). A descoberta da presena destas substncias na superfcie dos tecidos vegetais permite compreender melhor o sistema imunitrio das plantas. So, por conseguinte, os vegetais que, em razo das substncias activas de que dispem, tm fortes possibilidades de substiturem, com eficcia, os antibiticos. Alm disso, certos flavonides tm, independentemente do seu poder antimicrobiano, um poder antiarteriosclertico. A aco teraputica das plantas

O mistrio da Natureza tal que torna impossvel substituir o poder teraputico da planta por um dos seus princpios activos, isolado quimicamente. A razo deste fenmeno simples: a sua aco teraputica baseia-se, em geral, no efeito combinado de vrios princpios activos. o caso, em particular, da salva, que age atravs dos seus muitos componentes antibiticos e anti-spticos, bem como dos seus taninos (aco adstringente). 60 Algumas noes sobre a combinao dos princpios activos das plantas importante saber que uma planta possui sempre vrios princpios activos. As espcies (mas tambm os diversos especimenes da mesma espcie) diferenciam-se pela estrutura qumica de alguns dos seus componentes e pela sua quantidade (que depende sobretudo de factores ecolgicos). Contudo certos autores tentaram simplificar a classificao fitoteraputica das plantas escolhendo os princpios que caracterizam as suas utilizaes teraputicas. A ttulo indicativo, apresentamos alguns tipos quimioteraputicos, com as suas espcies: Plantas com alcalides Aconitum napeflus (acnito), Bryonia alba (brinia), Conium maculatum (cicuta), Cordyalis cava (cordiala tuberosa). Como podemos verificar, so plantas com uma forte aco, txicas, mas encontram-se neste grupo espcies mais utilizadas na terapia, como o Leonurus cardaca (agripalma cardaca). Plantas com vitaminas Petroselinum crispum (salsa cultivada), Ribes nigrum (groselha). Plantas com aco antibitica Hieracium pilosella (pilosela), Plumbago europeaea (dentelria-da-europa). Plantas com heterssidos sulfricos Allium porrum (alho-porro). 61 Plantas com heterssidos fenlicos Arctostaphyllos uva ursi (uva-de-urso). Plantas com flavonides psella hursa pastoris (bolsa-de-pastor). Plantas com heterssidos cumaruicos Melilotus officinalis (trevo coroa-de-rei) Plantas com renunculssidos Anemone nemorosa (anmona-dos-bosques) Plantas com antracenssidos Rhamnus cathartica (escambroeiro). Plantas com taninos

Fagiis sylvatica (faia). Plantas com princpios amargos Artensia absinlhum (absinto). Plantas com cardenlidos Digitalis lanata (digitlia). Plantas com saponssidos Beta vulgaris (beterraba). Plantas com essncias e resinas Ocinium basilicum (manjerico). Plantas com glcidos Borago officinalis (borragem). Plantas com componentes inorgnicos Pulmonaria officinalis (pulmonria). 62

FITOTERAPIA DAS PLANTAS INFERIORES (Criptogamas) A maioria dos manuais de fitoterapia, bem como as obras sobre sade relacionadas com plantas, preocupam-se apenas com as plantas superiores (pteridfitas, gimnospermas e angiospermas). Contudo, a imensa variedade de cogumelos, de algas e de lquenes ultrapassa o nmero de plantas correntemente utilizadas pelos terapeutas. Esta riqueza manifesta-se pelo nmero impressionante de espcies e pela sua profuso em substncias bioqumicas. Estes organismos so pioneiros na preparao do terreno para outros organismos que lhes sucedem. Encontram-se frequentemente em estado de concorrncia e travam uma verdadeira guerra qumica entre si. So dotados de extraordinrias capacidades. Houve tempos em que o homem procurou os seus remdios no mundo estranho dos cogumelos e das algas. por esta razo que decidimos apresentar alguns deles, com as respectivas utilizaes teraputicas tradicionais. A MICOTERAPIA OU O TRATADO DOS COGUMELOs MEDICINAIS O Outono o perodo por excelncia dos cogumelos. Mas evidente que os verdadeiros apreciadores de cogumelos no ligam muito a este pequeno pormenor, j que possvel cultiv-los praticamente todo o ano. 1 Segundo os novos sistemas taxinmicos, os cogumelos j no so considerados plantas. Contudo, por razes prticas, inserimo-los neste captulo. 63 De facto, existem espcies que aparecem nos primeiros dias da Primavera e outras que at existem no Inverno. Mas o Outono a estao por excelncia dos cogumelos. Quando os colhemos e provamos, negligenciamos quase sempre as suas propriedades medicinais. Contudo, no que diz respeito sua composio bioqumica, os cogumelos so provavelmente os mais ricos e variados de todos os organismos vivos. Os cogumelos tambm so medicinais: uma tradio popular antiga As capacidades metablicas dos cogumelos so ainda pouco conhecidas. Mas para dar uma ideia da sua fora vital, basta lembrarmos que o Bovista gigantea pode atingir, apenas numa noite, o tamanho de uma abbora grande e pesar 7 kg (conhece-se mesmo um exemplar com 15 kg). Acrescentemos que o p (composto em grande parte pelos esporos deste soberbo cogumelo) utilizado na farmacopeia chinesa como expectorante. Lindley, bilogo americano, calculou que alguns cogumelos produzem 60 milhes de clulas por minuto. A sua grande actividade e riqueza enzimtica predestinava-os a todos os tipos de enzimoterapia. Alis, desde h muito que se utilizam os fermentos oxidados dos cogumelos, especialmente no tratamento da hipertenso. Desde a descoberta da penicilina que os investigadores se interrogam sobre o facto de os cogumelos superiores serem tambm dotados dos mesmos princpios activos. O estudo e a observao da sua vida confirmam esta hiptese. Constatou-se com frequncia a no germinao dos gros na proximidade imediata dos clebres crculos das bruxas. Estes locais eram assim chamados porque os cogumelos surgiam a em grande quantidade, formando um crculo, que era considerado mgico por muitos povos. A morte das plantas vizinhas o resultado provvel da aco de uma substncia comparvel dos antibiticos. As medicinas populares sempre lhes atriburam propriedades anti-infecciosas. Sabemos empiricamente que os esporos do Colybia radiata e os do Amonita inaurata, bem como dos cogumelos de tabuleiro, tomados em quantidade suficiente, curam as tosses rebeldes. As

observaes 64 populares sobre a aco desinfectante do p do Polyporus sulfureus, do Polyporus umbellatus, do Polyporus frondosus e at do vulgar Boletus luteus foram confirmadas. Nas receitas antigas preconizava-se uma mistura composta do lactrio apimentado para tratar a tuberculose pulmonar. Sabia-se tambm que o p do Lycoperdnpirifrine curava os resfriados e as dores de garganta e o do BolletusfeIlus e do Russula delica reduzia as secrees excessivas em casos de bronquite. J no sculo xix mdicos no convencionais constatavam a existncia de propriedades antibacterianas nos cogumelos. Assim, o Dr. Curtis prope uma tintura de agrico falide ou de agrico bulbex contra a clera e contra a doena de Bright. As experincias confirmam o seu forte poder antibitico contra bactrias tais como os estafilococos dourados e os bacilos de Koch. A clitocibina, extrada dos cogumelos Clilocybe candida e Clitocybe gigantea, foi a primeira substncia isolada nos cogumelos superiores que confirmou as suas propriedades antibiticas. Depois da descoberta da estreptomicina, as investigaes sobre as propriedades dos clitcibos e sobre as vrias espcies de cogumelos caram em desuso. Mas provvel que a crise que atravessam os antibiticos, bem como o regresso da tuberculose e das doenas infecciosas, faam renascer as investigaes sobre as suas propriedades. Alm disso, sabe-se que certas espcies, como o triclomo de So Jorge (Tricholoma georgi), tm uma aco antibitica comparvel dos mais potentes antibiticos sintticos actuais. Propriedades antibiticas e doenas de civilizao As propriedades antibiticas dos cogumelos no so as nicas virtudes destas espcies que podem ser utilizadas pela nossa sociedade. Muitos deles podem ter um papel importante no tratamento das doenas de civilizao. Infelizmente abandonmos muito rapidamente as investigaes sobre os cogumelos de tabuleiro (cultura) Agaricus campester, cujos resultados eram promissores no tratamento das alergias. Tambm possvel que certos cogumelos possam substituir vantajosamente as plulas antistress e os meios qumicos inibidores do cansao. 65 O clebre miclogo George Becker descreveu o caso de uma pessoa que depois de mastigar e ingerir a cera branca espessa e amarga que recobre o polporo Ganodemia appIanatum viu desaparecer em poucos minutos o cansao que a acometia. Observou tambm que depois de comer dois silercas crus, Marasmius oreades, experimentou durante alguns minutos um sentimento de alegria e de leveza muito agradveis. A medicina popular, por outro lado, utiliza o p esporal (a poro de 1 colher) de certos licoperdos (bexiga-de-lobo) para combater a sonolncia e aumentar a presso arterial. Remdios que no necessitam de preparao A incomparvel vantagem da micoterapia reside no facto de a maioria dos remdios base de cogumelos no exigir praticamente qualquer tipo de preparao. - o p do Mucidula radicata, tomado tal qual, cura rapidamente todas as inflamaes de garganta, incluindo as anginas! - O lactrio apimentado um notvel antiblenorrgico (antibitico e antigonoccico). As suas propriedades foram descobertas em 1930 por um miclogo amador de nome Bataille e foram posteriormente confirmadas por G. Becker. Antigamente

os lenhadores do condado franco curavam-se destas doenas consumindo 2 a 3 destes cogumelos assados na grelha. -Os cogumelos do grupo lactrio foram tambm utilizados como diurticos para a gravela e para os clculos urinrios. O seu suco foi aproveitado com grande eficcia para eliminar as verrugas. redescoberta dos lactrios... As descobertas em etnobotnica eram divulgadas como notcias de sensao na imprensa especializada. A nota publicada por S. Berthoud em Les petites chroniques de la Science, em 1860, sobre a aco de um 66 cogumelo, provavelmente o Phallus impudico, a este respeito muito evocadora: Trata-se de um cogumelo que possuiria uma propriedade que no possuem, infelizmente!, nem as nossas gentes simples nem a nossa farmacopeia, nem sequer as nossas guas, de curar essas doenas implacveis que so a gota e o reumatismo. O cogumelo dos pobres... e dos ricos Este cogumelo, que existe em abundncia no Norte da sia, no Cucaso e at nas florestas da Europa (as que ainda merecem este nome), nasce sob camadas de folhas e detritos de ramos que a humidade, a fermentao e a aco do tempo transformam em humo, nas proximidades de aveleiras, de fusanos e de alfeneiros. De Junho a Agosto o criptogama - que na Rssia chamado zemliane maslo (ou manteigada-terra) - aparece primeiro sob a forma de uma bola subterrnea oblonga, de cor esbranquiada e aveludada. Quinze dias depois esta bola rompe-se e dela nasce um cogumelo grande e slido que no tarda em secar e em espalhar sua volta, medida que se vai reduzindo em p, um cheiro acre que irrita a garganta. Os habitantes da Ucrnia colhem o zemliane maslo quando este se encontra ainda na sua forma ovide, abrem-no e recolhem o seu muco em vasilhas e deitam manteiga ou gordura derretida, para o preservar do contacto com o ar. Utilizam-no com eficcia em frices para curar os reumatismos de que muito frequentemente sofrem, devido insalubridade das suas cabanas construdas na floresta e na proximidade de pntanos. E assim no que diz respeito aos pobres! Para os ricos, secam-se em estufa os ps e os chapus dos cogumelos manteiga-da-terra reduzidos a p. Este p depois macerado em lcool e enviado para toda a Rssia, onde, segundo o Dr. Kalenitchenko, professor de Fisiologia da Universidade de Khrkov, muito utilizado para curar radicalmente a gota e a hidropisia. 67

O cogumelo: um remdio universal Os nomes vulgares de certos cogumelos revelam a sua utilizao teraputica tradicional. Como podemos constatar lendo os manuais do sculo XIX: O polporo dos farmacuticos (ou agrico) era utilizado, ainda h pouco tempo, contra a diarreia, em aplicao externa nas doenas dos olhos, nas manchas e nas erupes cutneas, nas feridas e nas lceras e tambm contra as hemorridas. Actualmente os camponeses suos utilizam-no para purgar o gado. Em certas regies da Europa ainda utilizado contra os suores nocturnos dos tuberculosos. O agrico (Pol>porusfomentarius, assim chamado pelos cirurgies) foi utilizado contra as hemorragias externas. Para a sua preparao: ... escolhem-se os mais jovens, separam-se dos tubos e da casca, depois de amolecidos durante algum tempo numa cave (ou noutro local fresco). Em seguida cortam-se em fatias que se batem com fora com um mao de madeira, afim de as espalmar e esticar; molhamse de vez em quando, batem-se de novo e depois esfregam-se entre as mos at adquirirem um certo grau de moleza e de doura. O 6(lagrico utilizado na homeopatia A homeopatia sempre o utilizou. J Hal---mernann propunha a utilizao da falsa-oronia. Devemos realar que os mdicos homeopatas empregam o nome Agaricus muscarius h muito tempo e erradamente, j que este cogumelo no um agrico! Este remdio utilizado para os espasmos musculares, os abalos, os tremores e a epilepsia. 68 A tintura obtida a partir destes cogumelos, depois de devidamente limpos, descascados e cortados em pequenos pedaos macerados em lcool, um meio eficaz contra a tinha, o impetigo e as impigens. A propsito do hongo, esse remdio milagroso Quando se fala em micoterapia, deve mencionar-se o clebre hongo ou cogumelo-do-ch. A primeira informao sobre este misterioso organismo foi publicada em 1913 pelo Dr. Lindau. Este mdico alemo descobriu que os habitantes de Mitau, um porto no mar Bltico, consideravam como um remdio milagroso um cogumelo, trazido pelos marinheiros do Extremo Oriente, onde era acompanhado de um verdadeiro ritual durante a sua preparao e consumo. A origem deste cogumelo permanece obscura. Ser ele originrio dos campos de arroz da China, do Peru ou da Europa? A sua cultura espalhou-se por muitas regies. As investigaes demonstraram que o hongo no um simples cogumelo mas sim uma associao de microrganismos, de bactrias e de cogumelos. Infelizmente, os componentes do hongo so muito variveis, e as suas propriedades esto em estrita relao com a forma como cultivado. Nos anos 60, a Europa Ocidental apaixonou-se pelo hongo. Mas esta moda, bem como as investigaes feitas em diversos laboratrios, foram rapidamente abandonadas. contudo indiscutvel que este cogumelo merece que nos interessemos de novo por ele. A TERAPIA PELAS ALGAS

O mar parece ser uma fonte teraputica ainda muito mal conhecida e pouco utilizada. Contudo muitos so os especialistas que pensam que a riqueza bioqumica dos organismos martimos mais importante do que os da terra. Devemos realar que a utilizao teraputica das algas, salvo algumas excepes, recente e que os nossos antepassados desenvolveram mais (excepto no Extremo Oriente) uma fitoterapia baseada nas plantas terres 69 tres. Alm disso, relativamente aos organismos martimos, os antigos interessaram-se mais por certas toxinas ou tinturas de origem animal, do que pelas algas. As algas so antibiticos naturais H algumas dcadas que certas substncias so objecto de estudos aprofundados. Neles utiliza-se o fenmeno do antagonismo bioqumico (os organismos libertam substncias biologicamente activas para inibir o desenvolvimento de outros organismos) de certas espcies de algas, de modo a descobrir os princpios antibacterianos e antifngicos. Descobriu-se que estes antibiticos naturais no s inibem a proliferao de certos organismos patognicos mas tambm tornam as bactrias menos agressivas. A penetrao das bactrias na clula hospedeira torna-se difcil e at impossvel. Certos terapeutas invocam como argumento a origem martima da vida para justificar a sua utilizao na terapia. Esta estranha coincidncia est associada descoberta dos evolucionistas do sculo xix, que sublinhavam a grande semelhana entre a composio qumica da gua do mar e a dos lquidos fisiolgicos dos organismos, incluindo o do homem. Os bioqumicos, para grande espanto seu, redescobriram a unidade do mundo vivo. Constatou-se, assim, que os cidos biliares de inmeros peixes so idnticos aos do homem. As algas: uma soluo milagrosa contra os retrovrus? Nos tempos da SIDA, a ausncia de um remdio antiviral constitui um dos maiores falhanos da medicina contempornea. Deste ponto de vista, o mar e os seus produtos parecem propor-nos uma alternativa. As investigaes mostraram que certas substncias (derivados sulfnicos dos polissacridos) provenientes das algas tm uma aco sobre os vrus da poliomielite e do herpes e podem ser utilizadas no tratamento destas doenas. Os extractos de um rodfito do Pacfico, o Schizymenia pacfiqua, tm uma aco inibidora sobre a transcriptase inversa (enzima-chave no fun 70 cionamento dos retrovrus) dos pssaros e dos mamferos. Alm disso, podem utilizar-se estes extractos de maneiras e em doses no nocivas para as outras enzimas. Sero as algas uma soluo milagrosa"contra as doenas causadas por retrovrus? uma hiptese a investigar. Devemos acrescentar que a riqueza martima das substncias antivrus no se limita s algas e s plantas. Tambm existem outros organismos que nos oferecem meios de luta contra os vrus, nomeadamente as esponjas, como, por exemplo, uma espcie originria do mar das Carabias, a Tethyda crypta. Algumas algas medicinais: apanhe-as durante as frias

possvel encontrar um equivalente para a fitoterapia clssica graas s algas. Apresentamos em seguida algumas algas medicinais. Devemos acrescentar que a sua maioria acessvel sob diversas formas de preparao. Algumas podem mesmo ser recolhidas durantes as frias beira-mar. E a sua preparao idntica das plantas superiores (decoces, tinturas-me, banhos, etc.) Alsidium helniinthochostor Musgo-da-crsega - Vermfugo - Estimula a glndula tiride - Faz parte dos regimes de emagrecimento - Uso externo: sob a forma de cataplasmas, para tratar as papeiras. Ascophy11um nodosum Sargao-negro - Espcie muito rica em iodo - Utiliza-se como o Fucus vesiculosus. Corraffina officinalis %Vermfugo - Hipoglicemiante - Diminui a taxa de colesterol Anticoagulante. Cystoseira fibrosa Espcie aconselhada aos diabticos, tem uma aco hipoglicemiante. Tambm faz baixar o colesterol. 71

Chondrus crispus Musgo-da-irlanda. Utiliza-se para tratar: o a arteriosclerose - as doenas respiratrias - as patologias gstricas (hiperacidez, inflamaes intestinais, priso de ventre) - o raquitismo (banhos). Dignea simplex No Japo utilizada como vermfugo sob o nome de kaninso. Fucus vesiculosus Carvalho-marinho (tambm o Fucus platycarpus e o Fucus serratus) uma espcie muito abundante em Frana, especialmente na Bretanha. Os seus princpios activos, a sua aco e a sua posologia so semelhantes aos da Laminaria digitata, mas o seu teor em iodo muito mais elevado - Alm disso tem propriedades hemostticas e por isso indicado contra as hemorragias externas. Gelidium sp. (Tambm Pterociadia sp.) Espcies utilizadas por via interna para perturbaes gstricas (estados inflamatrios, priso de ventre crnica). Hisikia fusiforme Faz parte de um prato japons. Faz baixar a taxa de colesterol. Laminaria digitata, Chicote-das-bruxas (As suas propriedades so idnticas s da Alaria esculenta.) Esta alga comum nas costas brets e normandas. Tem inmeras virtudes curativas ( amplamente utilizada). - remineralizante * reconstituinte estimulante da circulao sangunea Influencia favoravelmente a glndula tiride. - laxante e diurtica (presena de manitol). tambm um estimulante geral do metabolismo celular. - interessante em regimes de emagrecimento e - faz baixar o colesterol. - Em banhos uma aliada eficaz contra os reumatismos e as perturbaes circulatrias. 72 - Absorvida por via interna descrita como uma verdadeira panaceia, e muitos autores aconselham-na para: - a arteriosclerose - as doenas dos olhos - a menopausa - a priso de ventre - as neuroses o envelhecimento prematuro - a queda de cabelo - a astenia - o cansao e - a convalescena. - Prepara-se por decoco: 50 g do talo seco para 1 litro de gua fria. Deixar macerar durante 6 horas, em seguida ferver durante um quarto de hora e deixar em infuso durante 15 minutos. Filtrar. Tomar 1 a 2 chvenas por dia. - Ou em tintura-me: 50 g da planta seca para meio litro de lcool a 50. Deixar macerar durante ]0 dias. Tornar 20 a 40 gotas num pouco de gua, 2 vezes por dia. - Para banhos: utilizar a planta seca. Existem no comrcio preparaes prontas a utilizar. As algas que pertencem ao gnero Laminaria (a que pertence esta espcie) fazem parte do prato japons Kombu. Mas ateno: as espcies do gnero Laminaria contm uma proporo importante de iodo, agem sobre as glndulas hormonais, e a sua aco anticoagulante exige que sejam utilizadas com prudncia. por isso prefervel utiliz-las sob a prescrio de um especialista!

Laminaria hyperborea, Laminria-de-clouston Idntica espcie anterior. Laminaria saccharina, Boldri-de-neptuno Idem. Lithothaninium calcereum, Marl Recomendada para as acidoses gstricas (incluindo as lceras), em decoco: 50 g do talo para 1 litro de gua. Tomar 1 a 2 chvenas por dia. 73

Rhodymenia palmata, Sargao-de-vaca A decoco provoca uma transpirao abundante. Spirulina maxma e Spirulina platensis A primeira espcie, misturada com milho, constitui o clebre tecuitlatl, prato tradicional dos Astecas. A outra espcie ainda consumida lia frica negra. Estas duas espirulinas tm propriedades - antl-inflamatrias e - de emagrecimento, Constituem uma fonte importante de amlnocidos. Encontram-se, frequentemente, na cozinha vegetariana, como tempero aromatizante dos pratos e saladas. Undaria sp. As espcies deste gnero fazem parte da cozinha oriental (Wakame no Japo, Miyok na Coreia, Quindai-cai na China). Demonstrou-se que o consumo desta espcie facilita a assimilao do clcio (tem uma aco antialrgica notria). A Undariapinnatifida cardiotnica - certos autores aconselham-na nas curas antitabaco. Em tintura-me: tomar 30 a 50 gotas por dia. OS LQUENES: UMA SIMBIOSE ENTRE AS ALGAS E OS COGUMELOS a Lei das assinaturas que faz surgir em grande plano a importncia medicinal dos lquenes nas doenas dermatolgicas (ainda agora, em vrias lnguas, a expresso lquen serve para designar sintomas) e tambm no que diz respeito a outras patologias. A lei das assinaturas impe o tratamento -0 Lobaria pulmonaria, semelhante a um lbulo pulmonar (o lquen-pulmonar, erva-dospulmes), utilizado no tratamento das afeces 74 das vias respiratrias. interessante realar que este lquen contm um cido prximo do cido cetrrico, dotado de um poder antibitico. - O Parmelia sulcala um lquen que se assemelha a um crebro. Foi portanto utilizado contra as dores de cabea. -O Pelligra canina, misturado com pirrienta, previne contra a raiva (da o seu nome). -O lquen dos muros, o Xantharia parietina, foi utilizado como sucedneo do quinino porque contm crisopicrina. - O Pertusaria amara um excelente antipirtico. Graas lei das assinaturas o homem descobriu um verdadeiro tesouro bioqumico. Actualmente conseguimos isolar cerca de 200 substncias (princpios activos) liqunicas, e a lista est longe de ter acabado. E, para finalizar, os estudos dos Japoneses mostram que algumas destas substncias tm propriedades antitumorais e que outras possuem factores inibidores das replicaes virais. 75

AS PLANTAS EXTICAS OS CINCO CONTINENTES POSSUEM PLANTAS MEDICINAIS A maioria das plantas medicinais que apresentamos pertencem flora da Europa. certo que os outros continentes possuem tambm uma grande riqueza vegetal. Os nossos leitores podem encontrar informaes sobre a flora africana, asitica, americana e australiana, se o desejarem. Infelizmente, frequente as espcies apresentadas no estarem disponveis em Frana. Alm disso a utilizao de algumas dessas plantas, presentes nas coleces botnicas francesas, est interdita. A flora tropical e a sua utilizao teraputica so, frequentemente, pouco conhecidas e at ignoradas. Segundo J. M. Watt (Plants potentially useful in mental health, Lloydia 1/1967), conhecem-se actualmente 200 espcies africanas que esto potencialmente disponveis (fazem parte das farmacopeias locais) para o tratamento de doenas mentais. 55 espcies africanas so antiepilpticas e 3 espcies tm uma aco antiamnsica (descoberta sem precedentes, que consideramos como quase excepcional). Trata-se das seguintes plantas: - Adenia lobata; - Adenia cissampeloides; - Gardenia neuberias. Para realar a riqueza da flora extica, apresentamos as plantas da famlia das cactceas e dos alos, cuja grande maioria pode ser comprada em Frana. So bem conhecidas e possuem um vasto leque de possibilidades teraputicas. 77

O ALOS Aloe sp. A aparncia desta planta engana os no especialistas que pensam que o alos um cacto. Na realidade uma Liliaceae (actualmente classificada na famlia das Asphodelaceae). O gnero alos est representado por cerca de 250 espcies. O maior (Aloe arborescens) pode atingir 5 metros de altura. O Aloe succotrina um dos remdios mais antigos da humanidade. O seu suco, aloana, conhecido desde h 3000 anos na Somlia e no Egipto. Os poderes mgicos e teraputicos do alos remontam noite dos tempos O alos vem mencionado na Bblia e faz parte dos remdios citados no papiro de Edwin Smith. No Egipto tem a reputao de preservar a vitalidade e a beleza. Estava presente durante as cerimnias funerrias e era considerado como um sinal divino da renovao da vida. As lendas atribuem-lhe um papel na preparao da mumificao dos corpos. Faz tambm parte das plantas secretas do Atharvaveda (um dos quatro Vedas). O alos era conhecido dos Gregos, que o traziam da ilha de Socotra. Dioscrides menciona as suas virtudes relativamente cicatrizao de feridas, de arranhes e de chagas. Plnio, o Antigo, descreve, na sua Histria Natural a cura de Alexandre, o Grande, ferido por uma flecha. Hipcrates aprecia as suas capacidades para curar tumores. Esta planta panaceia foi redescoberta por Alberto, o Grande, que a introduziu na farmacopeia medieval. Era ento largamente utilizada como remdio heptico. O alos est presente no Codex de Meletios da medicina bizantina. Tambm est presente na farmacologia chinesa: Li Shih-Shen cita-o como tnico para as doenas do estmago e do aparelho digestivo. Os grandes viajantes portugueses, espanhis e ingleses trouxeram novas espcies de alos dos seus pases de origem, bem como informaes sobre as doenas para as quais eram prescritas. Foi assim que se descobriu o alos do Cabo e o alos do Natal. 78 Esta planta tem, nas culturas primitivas, um papel mgico. Em frica, ela neutraliza a influncia dos mortos que voltam terra para perturbar o esprito dos vivos. Nos Camares, ela protege as mulheres contra os acidentes que podem ocorrer ao cultivarem os seus jardins. No Mali, pendurado no tecto, afasta os espritos e atrai a boa sorte. Os Mexicanos fabricam grinaldas de alos para dar sorte. As jovens Maias besuntam o rosto com suco de alos para atrair os rapazes. A capacidade feronmica (de atraco) foi observada e utilizada na frica do Sul, onde os Afrikaaners e os Zulus afirmam que o perfume do alos um potente perfume sexual. Os poderes de cura do alos As virtudes dos alos so mltiplas: -So cicatrizantes em uso externo, colagogos, laxantes e purgativos em uso interno. - Tm uma slida reputao no tratamento de queimaduras, at mesmo nas queimaduras causadas por irradiaes. - Certas tribos da frica do Sul utilizam-no no tratamento anti-sifiltico e antibitico. - O Dr. Jefi`rey Bland, que estudou a influncia do alos no sistema digestivo, verificou que esta planta melhora o pH gstrico e permite uma melhor assimilao das protenas.

- A tradio africana e as investigaes americanas atribuem ao alos uma aco be