A CULTURA E AS ARTES NA SEGUNDA METADE … e arte da 2... · REFLEXÃO SOBRE A CONDIÇÃO HUMANA...
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A CULTURA E AS ARTES NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX
A IMPORTÂNCIA DOS POLOS CULTURAIS ANGLO-AMERICANOS Quando a Segunda Guerra Mundial termina, o Mundo não é o mesmo. Face às crueldades do
Holocausto e aos horrores dos bombardeamentos atómicos, a consciência do Homem ocidental mostra-
se chocada. Muito em particular a Europa, cuja estrela começara a empalidecer em 1918, não se encon-
trava em condições de liderar a política
internacional nem o próprio processo
civilizacional. O totalitarismo abafara-lhe
muitas das suas energias criadoras. A guerra
(1939-1945) destruíra-a como nunca,
deixando-a prostrada.
Aos Estados Unidos, uma das cabeças do
mundo bipolar que se desenhou em 1945,
coube assumir a condução do Ocidente. No
plano político e no plano económico, mas
também no campo das transformações sociais
e culturais. Pela primeira vez na história da
arte, as inovações deixaram de irradiar de Paris,
Berlim, Milão, Viena ou Moscovo.
Em Nova lorque, "capital do mundo sem
fronteiras" como Ihe chamou Le Corbusier (1887-
1965), produzir-se-ão, doravante, as alterações mais
significativas e as grandes polémicas no mundo da
arte.
O protagonismo cultural de Nova lorque
remontava ao início do século. O desafogo económico
dos EUA alimentava uma próspera burguesia, ciosa de
promoção cultural. Um generoso mecenato privado
irrompia e patrocinava a fundação de galerias e de
grandes museus, como o Le Corbusier (1887-
1965), criado em 1929, e a Fundação
Solomon R. Guggenheim, surgida dez anos
depois. Todos estes espaços se abriram aos
talentos vanguardistas, assegurando-lhes
projeção e visibilidade. De facto, eram
muitos os que procuravam Nova lorque,
seduzidos pelo brilho e pela liberdade de
expressão. Em Berlim, Viena ou em Moscovo,
repeliam-se as vanguardas, apelidadas de
"degeneradas" por Hitler e de "burgueso-
fascistas" por Estaline. A ocupação de Paris
pelos nazis, em 1940, afugentava os criadores da Cidade-Luz, enquanto a Europa devastada pela guerra
Destruição em Londres após bombardeamento alemão, 1941
Prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz
Einstein recebe a cidadania americana em 1940
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não estimulava a produção cultural. Marc Chagall (1887-1985), Walter Gropius (1883-1969), Piet
Mondrian (1872-1944), Marcel Duchamp (1987-1968), G. Grosz (1893-1959), Max Ernst (1891-1976) ou
Salvador Dali (1904-1989), tal como Bertolt Brecht (1899-1956), André Breton (1896-1966), Bela Bartok
(1881-1945), Fritz Lang (1890-1976) ou A. Einstein (1879-1955), foram alguns dos muitos intelectuais que
a América anglo-saxónica acolheu e incentivou.
Aos artistas europeus emigrados juntaram-se os talentos americanos, particularmente ativos. Do seu
encontro brotou aquela que é designada por Escola de Nova lorque, a grande responsável pela
dinamização das artes no pós-guerra. A ela se deveram as experiências vanguardistas do expressionismo
abstrato.
REFLEXÃO SOBRE A CONDIÇÃO HUMANA NAS ARTES E NAS LETRAS
O Expressionismo Abstrato
O expressionismo abstrato (1945-1960) emerge nos Estados Unidos da América, no imediato pós-
guerra. Como o seu nome indica, usa a "Iinguagem universal da abstração”; então considerada a
tendência mais correta a adotar, visto que qualquer alusão figurativa lembraria os cânones estéticos nazis
ou o realismo socialista.
O americano Jackson Pollock (1912-1956) e o holandês
Willem De Kooning (1914-1997) são os grandes expoentes
do expressionismo abstrato nos anos 40 e 50. Praticaram
uma pintura intuitiva, com formas simbólicas e
desconstruídas e cores vivas e dissonantes. Ambos
procuraram que a pintura expressasse, mais que um tema,
assunto ou objeto, o ato criativo e o gesto, ora descontraído,
ora agressivo, do pintor. Numa clara aproximação ao
automatismo psíquico dos surrealistas, a pintura tornava-se
um testemunho de sensibilidade individual e de
ocorrências psíquicas do autor, que escapavam a um
controlo racional, como eram os sonhos, os pesadelos,
os traumas.
Em 1952, o crítico americano Harold Rosenberg
utilizou uma expressão apropriada para caracterizar
aquele gestualismo do expressionismo abstrato.
Chamou-Ihe action panting (pintura de ação), numa
óbvia a alusão ao ato de pintar que aquela corrente
pretendia documentar.
O modo como Pollock trabalhava esclarece-nos
sobre a action painting. Pollock não utilizava cavalete, nem paleta ou pincéis. Estendia a tela no chão e,
correndo freneticamente à volta e por cima dela, fazia com que a tinta escorresse de latas perfuradas ou
bisnagas. De seguida, misturava as tintas com todo o tipo de materiais, como areia e fragmentos de terra,
espalhando-os com paus e trapos.
Jackson Pollock, Ilhas amarelas, 1952
Willem De Kooning, Gotham News, 1955
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O efeito obtido com a action painting jamais poderia ser previamente calculado pelo pintor. Porque
resultado do acaso, muitos quadros não têm qualquer nome, Imitando-se a apresentar um número, a
data da sua criação ou, simplesmente, a designação de "sem título': Considerava-se que o quadro só
existia no momento em que o observador o contemplava e o interpretava. Os quadros do expressionismo
abstrato mantêm, por conseguinte, toda a atualidade: eles são aquilo que a sua observação provoca no
espetador, qualquer que ele seja, onde e em que momento ele esteja.
A pop art (1958-1965) À abstração lírica e expressiva de Pollock e de De Kooning, contrapuseram
outros artistas, como Barnett Newman (1905-1970), Mark Rothko (1903-1970) e
Ad Reinhardt (1913-1967), uma abstração geométrica. Preenchiam as telas com
superfícies cromáticas claras e planas, que
deveriam produzir o efeito da pintura
pura. O interesse e a possibilidade de
indagar o estado de espírito do artista ou o
processo de criação eram absolutamente
rejeitados. Ao observador apenas se pedia
que se concentrasse no quadro.
A pop art, termo forjado
pelo crítico britânico Lawrence
Alloway, desenvolveu-se, em
simultâneo, em Inglaterra e nos
EUA, tendo atingido neste
último país uma projeção
jamais experimentada por
qualquer outra corrente pictórica.
Ao contrário da tendência abstracionista em voga no pós-guerra,
elitista e subjetiva, porque apelava a um esforço pessoal de
interpretação, a pop art (ver vídeo) reconcilia o grande público com a
arte. Em primeiro lugar, porque retoma a figuração
e se revela de fácil apreensão. Depois, porque
retira os seus temas e objetos do mundo de
produtos e de imagens que a sociedade de massas
abundantemente
consumia. Numa
assumida
concorrência com
os media visuais,
os quadros
substituem-se à publicidade, seja na divulgação de objetos de consumo
corrente, como pacotes de detergente, garrafas de Coca-Cola ou latas de
sopa, seja na exibição de rostos de artistas e personalidades famosas, cujas imagens, igualmente, as
massas consumiam na imprensa popular, no cinema e na TV. Veja-se a obra de Andy Warhol (1928-1987).
Ad Reinhardt, Azul, 1952
Andy Words, Retratos de Marilyn
Monroe, 1964
Andy Warhol, 1928-1987
Andy Warhol, Sopa da Campbell`s, 1962
Barnett Newman,
Pintura amarela, 1944
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Warhol fez da própria obra de arte um objeto de consumo corrente e quase estandardizado. Através da
técnica da serigrafia, imprimiu fotografias nas telas, reproduzindo assim de forma rápida variadas séries e
versões dos seus quadros.
A banalização da arte e a sua identificação com os media
depreendem-se igualmente da obra de um outro americano, Roy
Lichtenstein (1923-1997). Para as suas telas transpôs imagens da
trivial banda desenhada, descontextualizando-as, é certo, mas
apurando a execução técnica através do espesso contorno gráfico e
do pontilhismo provocado pela ampliação das gravuras.
Em Warhol e
Lichtenstein os
críticos pretendem
ver algo mais do que
uma glorificação da
sociedade de consumo, vislumbrando na respetiva obra
uma crítica irónica e jocosa aos padrões da cultura
americana.
A mesma
visão
sarcástica sobre os símbolos e ritos do quotidiano da so-
ciedade de consumo perpassa na pop art inglesa. Richard
Hamilton (1922-2011), Peter Blake (1932), David Hockney
(1937) ou Allen Jones (1937) distinguem-se pelo sense of
humor subtilmente provocatório. O ponto de vista formal,
para além dos processos de impressão utilizados pelos seus
colegas americanos, fazem ainda uso de colagens e da
integração de objetos comuns.
A arte conceptual (anos 60 e 70) Algumas vanguardas dos anos 60 e 70 levaram
às últimas consequências a desmaterialização da
arte. lnspirada no absurdo dadaísta, e
nomeadamente em Duchamp, que afirmava a
superioridade do pensamento do artista em
relação à execução da obra, a chamada arte
conceptual desprezou a existência material da arte.
Já em 1958, o francês Yves Klein (1928-1962)
propusera uma "exposição do vazio" numa galeria
absolutamente despida.
Ao objeto artístico a arte conceptual antepõe o
Roy Lichtenstein, M-Maybe, 1965
Allen Jones, Secretárias a trabalhar, 1972
Joseph Kosuth, Uma e três cadeiras, 1954
Richard Hamilton, Justamente o que
faz os homens tão desejados, 1956
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processo criativo que subjaz à sua execução. Recorre, por isso, com frequência, à escrita e à fotografia,
que documentam o pensamento do artista e, simultaneamente, se elevam à categoria de obras de arte.
Demarcando-se da pop art, que poderia convidar à contemplação
passiva, ou do próprio expressionismo abstrato, que exigia
envolvência emocional ao autor e ao espetador, a arte conceptual
apela à reflexão filosófica, à busca de um sentido, mas sem que o
observador sinta qualquer prazer estético. Trata-se de uma arte que,
mais do que vista, deve ser pensada, pelo que adquire um caráter
algo desconcertante, patente na obra do americano Joseph Kosuth
(1945) ou na do itaIiano Piero Manzoni (1934-1963).
Espalhada pelos EUA e pela Europa, a arte conceptual prolonga-
se numa série de tendências, em que podemos incluir o minimalismo do americano Morris Louis, o
movimento internacional Fluxus, a "pintura sistémica" americana e a "pintura analítica" europeia.
A literatura existencialista
Uma sensação de destruição e vazio, que reflete a crise do antropocentrismo ocidental, atravessou a
literatura dos anos 40 e 50. Em pouco mais de vinte anos, o mundo
vivera o absurdo de duas guerras, as
experiências totalitárias e as crueldades do
Holocausto e sobre ele pairava o terror da
bomba atómica. Como acreditar no homem?
Sob o impulso da filosofia existencialista,
colocava-se, agora, a tónica no sentido da
existência humana. É o Homem um ser
responsável? Pode escolher livremente e sem
constrangimentos o seu caminho? Onde está a
realidade da liberdade humana? A resposta a
estas questões conduziu filósofos como Karl
Jaspers (1883-1969), Martin Heidegger (1889-
1976) ou Jean-Paul Sartre (1905-1980) a inverterem o racionalismo
cartesiano. Afirmaram que, antes de pensar, o indivíduo existe e que é
em torno da sua existência como homem de carne e osso que surgem o desejo de saber, a vontade de
comunicar e a procura da verdade.
Para Sartre, figura de proa do existencialismo, o Homem é obra de si próprio,
produto das suas ações, um ser absolutamente Iivre que constrói o seu projeto
pessoal não como resposta a uma essência, a um ideal ou em nome de uma
moral universal, mas simplesmente como reação aos seus problemas concretos:
"A existência precede a essência" - assim sintetizou Sartre o existencialismo.
Sartre considerava que, num mundo hostil e sem Deus, onde o progresso dera
lugar ao fracasso e a segurança à precariedade, o Homem estava
inexoravelmente condenado à liberdade de encontrar por si próprio um sentido
para a vida. Dessa sua busca permanente nascia a angústia existencial (a náusea,
Morris Louis, Magma na Lona, 1960
“Cogumelo” formada pelo
lançamento da bomba atómica
sobre Nagasaki, 1945
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que forneceu o título a um romance de Sartre), que mais não é do que uma manifestação da Iiberdade da
condição humana.
Nos anos 40 e 50, o existencialismo tornou-se particularmente atraente. A
contingência da existência, o nada, a culpa, a morte, o absurdo preencheram páginas
de obras literárias (ensaios, romances, peças de teatro) de Sartre, Simone de Beauvoir
(1908-1986) e Albert Camus (1913-1960).
A Psicologia e a Psiquiatria sofreram, também, a influência do pensamento
existencialista, tal como o cinema com as suas figuras dos homens revoltados e anti-
heróis, o jazz com as suas improvisações, as artes plásticas com a projeção criadora
do expressionismo abstrato. Até do ponto de vista social, o impacto do existencialismo revelou-se
marcante. Afetou os hábitos de vida dos jovens no pós-guerra, incentivando a crítica aos valores
tradicionais e a busca da liberdade pessoal. Gerou, em suma, uma atmosfera reconhecível na moda e
nos estilos de vida.
O PROGRESSO CIENTÍFICO E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Após 1945, o progresso científico e a inovação tecnológica continuam a interagir, prosseguindo o
caminho iniciado em finais do século XIX. Estimulados pela concorrência económica entre as empresas e
pela competição política entre os Estados (veja-se o caso da corrida espacial incentivada pela Guerra Fria),
produzem-se admiráveis avanços científicos e tecnológicos.
A Física, a Química e a Biologia foram as ciências em que se processaram as maiores investigações
teóricas. Os seus efeitos tecnológicos mais marcantes fizeram-se sentir na produção da energia nuclear,
na eletrónica, na informática e na cibernética e, finalmente, nos progressos médicos e alimentares que
prolongaram a vida.
A produção de energia nuclear remonta às investigações de grandes
nomes da Física, como Max Planck (1858-1947), Albert Einstein (1879-1955),
Niels Bohr (1885-1962), Enrico Fermi (1901-1954). Sabemos como foi trágica
a sua primeira aplicação, com as bombas atómicas lançadas sobre o Japão,
em agosto de 1945.
Na década de 50, a energia nuclear conheceu fins pacíficos, permitindo
produzir electricidade, acionar submarinos e navios, revolucionar os sistemas
de diagnóstico
na Medicina
sem o perigo
de absorção de
raios X no
corpo humano,
como é o caso
da tomografia axial computadorizada (TAC).
Máquina de tomografia computorizada
Radiografia: aplicação prática
da energia atómica
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Notáveis progressos ocorreram nos domínios da eletrónica, após a Segunda Guerra Mundial. A
invenção do transístor, que substituiu as válvulas eletrónicas, e do chip ou circuito integrado,
possibilitaram a miniaturização e aperfeiçoamento de
equipamentos que se
tornaram imprescindíveis
no quotidiano de grande
parte da Humanidade - a
rádio, a televisão, os
computadores, os
telefones, os
eletrodomésticos e os
automóveis. O laser, feixe de ondas luminosas de intensidade mil
vezes superior à da luz, veio a ser outra das maravilhas eletrónicas,
com aplicações na medicina, no lar e na guerra, nos suportes de
imagem e de som.
De entre a tecnologia eletrónica, o computador merece uma
referência especial. Registou notáveis avanços, no período de que
nos
ocupa-
mos, permitindo acelerar os cálculos, o
armazenamento, a recuperação e a
distribuição de informação. Na origem da
revolução da informática, que mais não é do
que o tratamento científico da informação, os
computadores tornaram-se indispensáveis na
administração estatal, na gestão contabi-
lística, no controlo de processos industriais, na
triagem de correspondência, na vida
académica, na pesquisa científica.
Os progressos da eletrónica e da
informática interligaram-se com a criação da
inteligência artificial e a expansão da
cibernética. Foram produzidos os robôs, máquinas inteligentes que tomam decisões e se deslocam.
Contribuíram para a automatização da indústria e
para a exploração do
espaço extraterrestre.
Às pesquisas
bioquímicas do século
XX se devem grandes
progressos na medicina
e na alimentação, que
preservaram a vida e a
prolongaram.
ENIAC, 1.º computador do mundo, 1946
Unimates, 1.º robot industrial, 1960
Foguetão Saturno V: lançamento
da Apollo 11 em 1969
Circuito integrado
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Descoberta em 1928 por Alexander Fleming (1881-1955) a penicilina foi produzida industrialmente na
década de 40, permitindo salvar imensas vidas das infeções bacterianas.
Efeito análogo tiveram as vacinas,
tratamentos profiláticos para as
doenças transmitidas pelos
microrganismos (vírus e bactérias).
As décadas de 50 a 70 revelaram-se
particularmente férteis na
obtenção de vacinas responsáveis
pela regressão da poliomielite, do
sarampo e da própria pneumonia.
Os transplantes cardíacos,
iniciados em 1967, registaram uma
taxa razoável de sucessos suscitando, pela complexidade envolvida, a
confiança progressiva na medicina cirúrgica.
Cobertura mediática semelhante à dos transplantes cardíacos teve o nascimento, em 1978, da
primeira criança cuja conceção ocorreu fora do corpo humano, aquilo a que chamamos "fertilização in
vitro". Estava dado um gigantesco passo nas técnicas de reprodução assistida, que conheceram um
grande progresso nas décadas que se seguiram.
Pelas suas repercussões no ramo da biotecnologia', pode dizer-se que a
descoberta, em 1953, da
estrutura do ADN e do código
genético foi das mais atraentes e
controversas do século XX. As
informações genéticas contidas
nos filamentos de ADN auxiliaram
nas pesquisas patológicas (de
doenças hereditárias e de outras,
como o cancro, consideradas
alterações genéticas) e
imunitárias.
Para além da medicina, a ciência salvou muitas vidas pelas investigações que estimulou no campo
alimentar. Ainda na primeira metade do século XX, os cientistas tinham promovido a criação de famílias
de plantas mais fortes e mais produtivas. Resultado de avanços na agronomia, nas técnicas reprodutivas e
na genética viria a iniciar-se, em 1962, a chamada "Revolução Verde" no México, posteriormente alargada
à índia e ao Paquistão. O cultivo de variedades de trigo, milho e arroz, de grande rendimento e resistência
às pragas, converteu-se num
auxiliar precioso para os
agricultores empobrecidos,
solucionando muitas das
carências alimentares.
De facto, se alguns
malefícios têm sido associados
ao progresso científico (caso
da ameaça nuclear, da
Alexander Fleming, inventor da penicilina Jonas Salk, inventor da e um
tipo de vacina contra a
poliomielite, 1952
Christiaan Barnard, foi capa
da revista TIME, em 1967ao
ter realizado o 1.º
transplante do coração
Watson e Francis H. Crick olham para o seu
modelo de ADN, dupla hélice, 1953
Os OGM têm desempenhado um papel importante no combate à fome no mundo.
Serão eles perigosos? Disponível na Internet: http://rpcf-projet.fr/les-ogms-danger/
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poluição, do esgotamento dos recursos naturais, da manipulação genética), o balanço final da evolução
científico-tecnológica é acentuadamente positivo. Mais bens de consumo foram prodigalizados, a
esperança de vida aumentou e a humanidade ficou, como nunca, interligada por uma rede de
comunicações que fez da Terra uma aldeia global.
MEDIA E HÁBITOS SOCIOCULTURAIS
Os novos centros de produção cinematográfica
Nos anos 50 do século XX, novos desafios se colocaram à indústria cinematográfica dos EUA, que
enfrentou a concorrência da televisão e as perseguições de que realizadores atores foram vítimas pela
Comissão de Atividades Antiamericanas. O esplendor dos filmes a cor projetados em ecrãs panorâmicos
e as superproduções musicais, que fascinavam pelas canções e coreografias, contribuíram para
perpetuar a magia do cinema.
Ao mesmo tempo, Hollywood investia em temáticas
socioculturais mais próximas do grande público que frequentava
os cinemas. A pensar nos adolescentes, já que as gerações mais
velhas preferiam o conforto da televisão no lar, muitos filmes
expressaram a rebeldia, a irreverência e a inadaptação dos jovens
dos subúrbios.
Entretanto, novos centros de produção cinematográfica
irrompiam. Na índia, nos estúdios ditos de Bollywood, produziu-se
um cinema-espectáculo, com uma construção musical própria,
que, através de discórdias famiIiares e de amores
contrariados, de peripécias históricas e políticas, preten-
dia transmitir os anseios de uma nação recém-
independente. O cinema japonês revelou-se ao
Ocidente com o filme "Às Portas do Inferno" (1950), de
Akira Kurosawa (1910-1998), uma reflexão sobre a
identidade nacional. No Brasil, nos anos 60, despontou
o chamado cinema novo brasileiro, que teve em Glau-
ber Rocha (1939-1981) o seu maior representante.
A Europa, por sua vez, foi berço de importantes
realizadores e movimentos
cinematográficos. Na Suécia,
revelou-se Ingmar Bergman (1918-2007), autor de grande sensibilidade na
exploração de temáticas intimistas. Na Itália, desenvolveu-se o cinema
neorrealista que contestava o universo artificial dos estúdios. Os filmes
decorriam em cenários naturais, com atores frequentemente não profissionais, e
explorava os pequenos-grandes problemas da gente comum. Salientam-se, na
realização, os nomes de Roberto Rossellini (1906-1977) e Vittorio de Sica (1901-
1974).
Cena do filme “Sétimo Selo” realizada por Ingmar
Bergman, 1957
Akira Kurosawa
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Outro movimento europeu digno de menção nasceu em França, em finais dos anos 50, e partiu de
jovens cineastas (François Truffaut (1932-1984),
Jean-Luc Godard (1930), Claud Chabrol (1930-
2010) e Jacques Rivette (1928), alguns deles
críticos da revista Cahiers du Cinéma. Chamou-
se "Nouvelle Vague" e defendeu o cinema
"como arte”; reivindicando para os realizadores
o título de "autores de filmes': As suas obras evi-
denciam uma narrativa ágil e moderna,
dirigindo-se a um público jovem, intelectual e
cosmopolita que já não se revia no
sentimentalismo e moraIismo dos filmes americanos.
Dinamizado por uma diversidade de países, realizadores e movimentos, merecedor dos mais
variados festivais e prémios, o cinema continuou, no terceiro quartel do século XX, a mobilizar massas e
a despertar paixões, preservando o estatuto digno de Sétima Arte.
O impacto da televisão e da música no quotidiano
A televisão
As primeiras experiências televisivas tiveram lugar, ainda nos anos 30, na Grã-Bretanha, nos EUA,
em França e na Alemanha. O segundo conflito mundial fez parar os esforços desenvolvidos, pelo que só
após 1945 a televisão se junta ao cinema e à
rádio como grande meio de comunicação.
Desde então, os EUA tomam a dianteira no
que toca a progressos tecnológicos que
embaratecem a televisão e a tornam mais
atrativa. É lá que existem mais aparelhos por
habitante e que se passa mais horas em frente à
TV.
Bem cedo, a televisão assumiu-se como um
veículo privilegiado de entretenimento. O horário
nobre mistura comédias estereotipadas, com
risos gravados em fundo sonoro, e séries dramáticas ou de
ação com telenovelas e concursos de dinheiro. São
programas que se destinam a garantir elevado número de
audiências e de receitas através da publicidade. Muitos deles
foram exportados dos EUA, contribuindo para a
disseminação do "american way of life”.
Ao entretenimento, a televisão associou o papel de fonte
de informação e de conhecimento dos grandes
acontecimentos internacionais, como foi o caso da chegada
do homem à Lua, em 1969.
Família americana a assistir pela televisão a um discurso de
Kennedy, 1962
Chegada do homem à Lua em 1969, transmitido em
direto pela televisão
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Cientes do poder da TV, os políticos não a negligenciaram. Desde a campanha presidencial americana
de 1960, ficou provado o impacto da televisão nos comportamentos eleitorais. Pode dizer-se que o
vencedor se decidiu nos debates televisivos
diretos, em que um John Kennedy (1917-
1963) vigoroso, determinado e bem-parecido
deitou por terra o candidato republicano,
Richard Nixon (1913-1994), que se mostrou
acabrunhado e em baixa forma física. Nascia
a figura do político telegénico.
A própria guerra do Vietname (1964-1973)
teve um desfecho que muito ficou a dever à
televisão. Quando os Americanos se
confrontaram com as imagens
avassaladoras da chegada dos caixões com
os seus soldados ou dos bombardeamentos de napalm, a guerra passou a travar-se também com a
opinião pública e o
presidente Lyndon Johnson
(1908-1973) sentiu-se
obrigado a iniciar
negociações para resolver o
conflito.
Poderosa e
manipuladora, acusada de
provocar o declínio da
leitura e da frequência das
salas de cinema, a TV
permaneceu o media que
mais necessidades satisfez até fins do século XX, divertindo,
informando, suscitando emoções e rompendo a barreira do isolamento.
A música
O protagonismo dos jovens nas sociedades ocidentais do pós-guerra e as maravilhas da eletrónica
contribuíram para a popularidade da música ligeira a partir dos anos 50. Em particular o rock and roll,
com o seu gestual erótico e o seu ritmo enérgico e vibrante, em tudo afastado da linha melódica e
adocicada da canção dos anos 40, parecia ser a música que melhor exprimia a
rebeldia e o anticonformismo de uma nova juventude, apostada em se
demarcar das gerações paternas.
O rock and roll, que combinava os ritmos afro-americanos com a música
country branca, conheceu o seu primeiro grande êxito nos EUA, em 1955, com
Rock Around the Clock, cantado por BiII Haley (1925-1981). Um ano depois,
também nos EUA, emergiu a primeira superestrela do rock and roll: Elvis Presley
(1935-1977). O "rei do rock”; como ficou conhecido, cantava com notável vigor
físico e, fazendo rodar as ancas, produzia um resultado sexualmente eletrizante.
Imagens da Guerra do Vietnam, fuga após bombardeamento de napalm, 1972
A série televisiva Bonanza que ocupou o imaginário
dos telespectadores americanos entre 1959 e 1973
A série televisiva O fugitivo que
ocupou o imaginário dos
telespectadores americanos entre
1963 e 1969
Elvis Presley, O rei do
rock and roll
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Até 1962, as estrelas americanas brilharam no panorama do rock and roll. Naquele ano, a situação
mudou com o aparecimento dos Beatles, um grupo britânico de Liverpool que, durante 8 anos, construiu
uma das mais fulgurantes carreiras de que há memória na música
ligeira. Influenciados pelos ritmos americanos que ouviam os
marinheiros da sua cidade natal entoar, os Beatles produziram uma
música original, com arranjos diversificados, sons eletrónicos e
letras de apreciável criatividade. No fim do verão de 1963, as suas
músicas ocupavam os lugares cimeiros dos tops britânicos e, no
ano seguinte, a juventude
americana rendia-se
completamente à
beatlemania. No decorrer da
tournée efetuada nos EUA, o
quarteto britânico era
cercado por multidões de fãs
aos gritos, fosse durante os espetáculos (quase inaudíveis), nos
hotéis ou nos aeroportos.
Os Rolling Stones, outro êxito da música britânica, criaram uma
imagem de "perigosos degenerados”; que se coadunava com 0
espírito irreverente do rock.
Ainda no decurso da década de 60, cantores como Bob Dylan
(1941), Joan Baez (1941) e Donovan (1946), promoveram, nos
EUA, a aproximação do rock à música folk. A canção converteu-se
em instrumento de crítica social e política, denunciando a pobreza,
o racismo, a destruição da Natureza, as armas nucleares e a guerra
do Vietname. O rock continuava a assumir-se como um dos pilares
da contestação juvenil.
A hegemonia dos hábitos socioculturais norte-americanos
No pós-Segunda Guerra Mundial, os EUA fascinavam pela prosperidade económica e pela sociedade
da abundância, pelos avanços tecnológicos, pelo dinamismo artístico e cultural.
Os filmes de Hollywood e os programas de TV difundiam os valores e os estereótipos do "american
way of life". O rock and roll e as suas estrelas americanas mereciam do resto do mundo o mesmo
entusiasmo que as vedetas de cinema.
Para os pequeno-burgueses, que
conheceram as dificuldades dos anos da
guerra, possuir uma casa individual, com
uma cozinha apetrechada com ele-
trodomésticos, uma sala de estar com TV
e ter um carro na garagem eram sonhos
que faziam viver. As donas de casa
rendiam-se aos cafés solúveis, às sopas
instantâneas e às comidas previamente
Capa do álbum Abbey Road dos Beatles,
1969
Capa do álbum dos Let it Bleed dos Rolling
Stones, 1969
Joan Baez e Bob Dylon Stones, 1969
“American way of life”, 1960
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cozinhadas que lhes aliviavam a "escravatura" do lar. Apesar de criticada pelos conservadores, a Coca-
Cola tornou-se a bebida
favorita. O "fast-food"
expandiu-se pelo mundo.
Até Jean Paul Sartre (1905-
1980), como nos conta a sua
companheira Simone de
Beauvoir (1908-1986), ex-
perimentou uma alegria
enorme quando, terminada a
Segunda Guerra, lhe foi
oferecida oportunidade de
visitar os EUA.
Alterações na estrutura social e nos comportamentos
A terciarização da sociedade
A expansão económica dos "Trinta Gloriosos" anos do segundo pós-guerra repercutiu-se na estrutura
da população ativa. Nos países capitalistas liberais,
a mecanização, a pesquisa agronómica e
zoológica, a utilização cada vez maior de adubos e
as práticas de irrigação conduziram a uma
produtividade sem precedente dos solos, que
permitiu elevadas exportações. Os progressos
técnicos tornaram desnecessários muitos dos
agricultores. O setor primário recuou de tal modo
que se anunciou a "morte do campesinato.
A aceleração do êxodo rural conduziu ao
aumento da população urbana. Nos países
desenvolvidos, as massas rurais e os imigrantes
encontraram emprego na indústria, a atividade
responsável pela criação do maior número de
riqueza, em virtude de uma intensificação do ritmo de
trabalho. No entanto, os trabalhadores empregues no
sector secundário não registaram um aumento
significativo devido à automação do fabrico industrial.
Foi para o sector terciário que grande parte da
população ativa se deslocou, pelo que a terciarização é
a característica mais relevante a assinalar na evolução
social do mundo desenvolvido, durante as três décadas
de prosperidade.
A explosão do terciário também se relacionou com
Típico escritório americano de uma companhia de seguros,
1960: imagem retirada do filme O Apartamento, realizado
por Jeffrey Sheldrake, 1960
Trabalhadores da Fábrica de Fiação de Tecidos de
Santo Tirso, 1960
Funcionária pública a operar com máquina de
recenseamento, 1960
Coca-Cola tornou-se um símbola
do “American way of live”
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uma subida de qualificação das massas trabalhadoras, devida ao aumento da escolaridade. Naquele setor
em expansão, que contava cada vez mais com o universo feminino nas suas fileiras, os empregados
encontravam trabalho como funcionários do Estado, como quadros técnicos e empregados de escritório
das empresas industriais, como trabalhadores do comércio, da publicidade dos transportes, dos media,
dos bancos, das forças de segurança ou ainda nos setores ligados à educação, à saúde e ao lazer.
Os anos 60 e a gestação de uma nova mentalidade
Movimentos contraditórios atravessam a civilização ocidental nos anos 60. Por um lado, elogia-se a
prosperidade, o bem-estar e o consumismo das sociedades desenvolvidas. Por outro, critica-se o
individualismo, a desumanização e o
materialismo do capitalismo. No ar
paira o medo de um conflito nuclear,
que nunca esteve tão próximo como
em 1962, aquando da crise dos mísseis
de Cuba.
Muitos são os que buscam uma
resposta para os descontentamentos e
as inquietações. A Igreja Católica
procura adaptar-se aos novos tempos.
O Concílio Vaticano II reunido sob a
iniciativa de João XXIII (1881-1963) e
terminado sob o pontificado de Paulo VI (1897-1978), aborda questões relacionadas com a Guerra Fria, a
promoção da paz, a desigualdade entre homens e povos, a par de assuntos especificamente religiosos,
como o celibato dos padres, a celebração da missa nas línguas nacionais e o diálogo com as várias
religiões cristãs.
O ecumenismo ficou como uma das heranças do Concílio e, desde então, reconhecem-se os esforços
para esbater os dissídios e procurar a concórdia entre a família cristã, considerada primordial no
processo de entendimento entre os homens. Todavia, os resultados ficaram aquém das expectativas. Em
matéria de costumes e moral (como os relacionados com a contraceção) e de dogmas (como o do
celibato), a Igreja Católica manteve-se conservadora, não conseguindo
deter a vaga de descristianização.
Nos anos 60, com efeito, outras bandeiras, que não as da religião, e
outros referentes
ideológicos motivavam
a Humanidade: a
proteção da Natureza,
a igualdade de direitos
entre brancos e povos de cor e entre homens mulheres,
o pacifismo, a reforma do sistema educativo e a
liberdade sexual.
Depressa a comunidade científica e os leigos se
aperceberam do alto preço a pagar pelos progressos
tecnológicos. Acidentes em centrais atómica,
Concílio Vaticano II, 1962-1965
Papa Paulo VI
Protesto dos fundadores da Greenpeace contra os
testes nucleares americanos, 1971
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contaminações químicas mortais, que punham em risco homens e
ecossistemas, o superpovoamento do planeta, alertaram para a
necessidade redução das experiências nucleares e para o
problema da poluição e do esgotamento dos recursos naturais.
Um conjunto de organizações ("Greenpeace") e de iniciativas
sucederam-se desde os anos 60, com o objetivo de controlar o
crescimento o económico e de garantir a proteção ambiental.
Nascia a ecologia.
O baby-boom do pós-guerra determinou, nos anos 60, a
existência, no mundo ocidental, de um excedente considerável de
jovens. Nos EUA, por exemplo, mais de metade da população
tinha, a meio da década, idade inferior a 30 anos.
Procurando um estilo de vida alternativo ao dos progenitores,
os jovens protagonizaram um poderoso movimento de
contestação. Nos Estados Unidos da América, as universidades de
Berkeley, em São Francisco, e
de Columbia, em Nova lorque,
foram ocupadas, em 1964, pelos estudantes que exigiam mudanças
radicais no funcionamento dos cursos e se mostravam atentos aos
grandes problemas que os cercavam. Apoiavam ativamente a luta dos
negros pela conquista dos direitos cívicos, a emancipação da mulher e
envolviam-se no vasto movimento pacifista contra a participação dos
Estados Unidos na guerra do Vietname (1964-1973).
Em 1968, Paris tornou-se o epicentro de uma revolta estudantil
sem precedentes que atingiu a Europa. Foi o "Maio de 68” que se
iniciou na Universidade de Nanterre e logo atingiu a Sorbonne. O
Quartier Latin transformou-se num verdadeiro campo de batalha entre
os estudantes barricados e as forças da ordem. Tendo por referentes as figuras revolucionárias de Fidel
Castro (1926), Che Guevara (1928-1967) e Mao Tsé-Tung (1893-1976), os estudantes denunciavam a falta
de condições das universidades, onde os
professores e as instalações escasseavam face ao
boom de inscrições; simultaneamente, clamavam
contra a guerra do Vietname, o imperialismo
americano e o totalitarismo soviético. A crise
ganhou rapidamente foros de sublevação social e
política, quando, a 13 de maio, explodiram as
greves e ocupações de fábricas e, posteriormente
presidente De Gaulle (1890-1970) ameaçou
demitir-se.
Apesar de fracassado, pela reposição pronta
da ordem, o "Maio de 68" tornou-se o símbolo
de um combate em que se amalgamaram o conflito de gerações, o descontentamento social e a reação
ao autoritarismo. Por isso, as suas repercussões extravasaram o Ocidente democrático e capitaIista, para
Martin Luther King, a proferir o
famoso discurso “I have a
dream”, 1963
Geração Baby-boom, Wostock, 1969
Protesto de estudantes, “Maio 68”,
em França
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também se fazerem sentir na cidade de Praga
que, nesse mesmo ano de 1968, se revoltou
contra a invasão soviética.
Uma outra faceta da contestação juvenil fez-
se sentir na revolução dos costumes
desencadeada pelo movimento hippie, que teve
o seu coração nas cidades de Los Angeles e São
Francisco, na Califórnia. Abandonando os lares
paternos, os jovens levavam uma vida
alternativa em comunas. Adeptos da liberdade
sexual, do amor livre e amantes da paz ("make
love, not war" foi o seu slogan preferido), os
hippies evidenciavam total despojamento e
despreocupação, visíveis no vestuário leve, colorido e florido, nos cabelos soltos e compridos, nos pés
frequentemente descalços, no consumo de drogas alucinogénicas que os "libertavam" da Terra e
conduziam ao "paraíso"...
Afirmação dos direitos da mulher
A entrada em massa de mulheres no mercado de trabalho e a expansão da educação superior
conferiram ao sexo feminino uma crescente
visibilidade social e cultural. Ao longo dos
anos 60, os movimentos feministas, que
haviam marcado as primeiras décadas do
século com as suas ações sufragistas,
receberam um impulso notável,
convertendo-se em instrumento de
emancipação das mulheres.
Por entre manifestações, marchas de
protesto e campanhas de pressão junto dos
órgãos do Governo, o feminismo dos anos
60 tornou-se particularmente ativo na luta
pela igualdade de direitos da mulher. Essa
igualdade pretendeu-se civil (em muitos países, a mulher casada era considerada um ser juridicamente
inferior e submetida à tutela do marido.. .), no trabalho (onde as mulheres eram alvo de discriminação
salarial, para já não falar na ausência generalizada de proteção à maternidade) e na vida afetiva
(reivindicando a realização da mulher enquanto mulher e não apenas como esposa submissa e mãe
abnegada).
Foi no contexto da luta pela igualdade afetiva da mulher que ocorreram as ações mais mediáticas do
movimento feminista. Citam-se as campanhas pela contraceção, pelo direito ao divórcio e ao aborto, que
mobilizaram a opinião pública, adquirindo um cariz de "revolução sexual" efetuada no feminino.
Mulheres lutam contra leis anti-aborto, Washington, 1971
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A CULTURA NO MUNDO ATUAL
Dimensões da ciência e da cultura no contexto da globalização
Primado da ciência e da inovação tecnológica
A economia globalizada, que se constrói a partir dos anos 80, estimula a investigação científica e a
inovação tecnológica que dela resulta. Rentabilizar recursos humanos e materiais, gerir empresas,
dominar mercados, controlar a informação, melhorar a qualidade de vida das populações, sem a qual o
consumo declinaria, tornam-se objetivos que o capitalismo neoliberal persegue.
Governos e entidades privadas investem
significativamente na ciência e na tecnologia, tendo em
conta a obtenção de melhores desempenhos na
educação, no exercício profissional e na produção
de bens e serviços. Assim incentivados, os
progressos, tão férteis já no 3.º quartel do século XX
aceleram-se nas últimas décadas. E todos parecem
interessar-se por eles. O mundo dos
computadores, da Internet, da realidade virtual e dos
telemóveis, as questões relativas ao ADN, ao
genoma e à clonagem, à biodiversidade e ao aquecimento global enchem as páginas dos jornais e das
revistas e abrem noticiários televisivos. Os livros de vulgarização científica, antes em número pouco
significativo, tornam-se comuns nas livrarias. Tratando-se de assuntos que afetam a vida à escala
planetária, dificilmente lhes ficamos indiferentes.
Nos domínios da eletrónica, da informática, da comunicação e das biotecnologias produziram-se as
mais marcantes conquistas técnico-científicas. De tal forma a vida da Humanidade se viu
irreversivelmente alterada que os especialistas não hesitam em afirmar que entramos na era da 3.ª re-
volução industrial.
Eletrónica, informática, revolução da comunicação
Aos progressos da eletrónica se deve uma
autêntica revolução nas indústrias da eletrónica,
de automóveis e aeroespacial. A eletrónica, não
esqueçamos, constitui o suporte físico da
informática que, desde os anos 80, com a
introdução do computador pessoal nas empresas e
nos lares, altera todos os domínios da vida
humana: da robotização da produção às transações
comerciais, bancárias e financeiras; da gestão
económica aos serviços administrativos; da
regulação dos transportes e do trânsito aos meios de diagnóstico médico e aos lazeres.
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Da eletrónica e da informática deriva a revolução da informação e da comunicação que é uma das
marcas do nosso tempo. Através das chamadas autoestradas da comunicação
(retransmissores de televisão, satélites civis, rede Internet, sistemas de
orientação geográfica como o GPS, cabos de fibra ótica) chega-nos uma profusão
de informações sob a forma de palavras,
imagens e sons, que podemos ler, ver e
ouvir nos mais variados suportes: aparelhos
de rádio e televisão, vulgares telemóveis,
smartphones, computadores, tablets. Em 2010, cerca de 2 mil milhões de pessoas, isto é, quase 30% da
população mundial, estavam ligadas à Internet, na qual, desde 2004,
florescem as redes sociais. Nos mais diversos cantos da terra, circulam em simultâneo as mesmas
informações e saberes, sejam os eventos políticos, as cotações bolsistas, as novidades culturais e do
mundo artístico ou as facetas da vida pessoal. O mundo em que vivemos é, com efeito, o da sociedade
da informação e comunicação, também conhecido por "aldeia global". Um mundo cada vez mais
uniformizado nos gostos e padrões culturais, com as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC)
a converterem-se em instrumento privilegiado da globalização.
Ciência e desafios éticos: a Biotecnologia
O último quartel do século XX assistiu à explosão das ciências ligadas à vida de um modo tão intenso
que, no início do novo milénio, a biotecnologia surge, a par da informática e da eletrónica, como uma
área decisiva do desenvolvimento tecnológico.
A evolução das ciências biológicas interliga-se, aliás, com o progresso da eletrónica e da informática.
Foram estas tecnologias que permitiram o estudo dos organismos a um nível molecular e que
possibilitaram o tratamento da enorme
quantidade de dados com que lida a
microbiologia. Como pontos-chave na
evolução das ciências biológicas
consideram-se a produção de ADN
recombinante, a invenção da tecnologia de
sequenciação genética e a descoberta da
reação em cadeia da polimerase.
Em consequência, os avanços na
genética precipitaram-se: desvendaram-se
códigos genéticos, incluindo o genoma
humano; produziram-se organismos
geneticamente modificados, como é o caso
dos transgénicos; clonaram-se plantas e
animais; transformou-se a produção
alimentar; aprendeu-se a intervir de forma
mais racional na resolução dos problemas
ambientais e progrediu-se no tratamento
Disponível na Internet:
http://pt.slideshare.net/elidamarnunes/aplicaes-da-biotecnologia
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das doenças.
A genética abre agora caminho à hegemonia da medicina preventiva e terapêutica, havendo esperança
de que o uso de células embrionárias (células estaminais) permita
a regeneração de órgãos e a cura de doenças degenerativas. As
células estaminais têm o potencial para se transformar em
qualquer tipo de célula do corpo.
Os progressos da genética exercem grande impacto
mediático. Suscitam tanto a admiração como a desconfiança,
dado que remetem para as complexas fronteiras da ciência, da
religião e da ética. Políticos, homens da Igreja, cientistas e
vulgares cidadãos interrogam-se, com efeito, sobre os limites da
ciência. Será
admissível criar
embriões para
produzir células estaminais? Não poderá uma previsível
clonagem humana abrir a porta a um controlo eugénico que
faz lembrar a seleção racial?
Face à impossibilidade de obter consensos e de travar a
pesquisa científica, prestigiadas organizações, como o
Conselho da Europa e o Parlamento Europeu, reiteram a
necessidade de um exercício responsável e ético da ciência
para que a dignidade humana seja respeitada.
Declínio das vanguardas e pós-modernismo
Os anos 80 assistem a uma reação curiosa relativamente aos propósitos vanguardistas que
envolveram as artes plásticas na década anterior. Critica-se a falta de inspiração criativa, de sentimento
e de alma por parte dos artistas conceptuais da década anterior, de tão empenhados que estavam em
apenas suscitar no observador complexas operações mentais e reflexões filosóficas.
Surge, então, uma arte mais autêntica e intensa, liberta de convenções e seguidismos vanguardistas.
Nos anos 90, o pós-modernismo, propõe-se revitalizar a arte, incorporando diferentes contributos e
estilos do passado, que se lhe afiguram como alternativas potencialmente válidas para o presente. Num
exercício de ecletismo e de pluralismo, a que muitos chamam anarquismo estético, podemos ver os
artistas pós-modernistas recuperarem a figuração, proporcionando uma arte percetível pelos sentidos;
a integrarem, nas suas obras, referências expressionistas, abstratas, futuristas, dadaístas ou
surrealistas; ou, ainda, a prolongarem a pop art, que consideram a primeira forma de arte pós-
modernista, já que, não conceptualizando, se limitava à reprodução, real ou deformada, da realidade
visível.
Neoexpressionismo e transvanguarda
Na Alemanha, um conjunto de pintores, de que se destacam Georg Baselitz (1938), A. R. Penk (1939),
Anselm Kiefer (1945) e Jörg Immendorff (1945-2007), fazem renascer a herança do movimento
Disponível na Internet:
http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.ph
p?term=Biotecnologia&lang=3-da-biotecnologia
Criador e criatura: Wilmut alimenta sua ovelha
favorita. Disponível na Internet: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL7043-5603,00-
PAI+DE+DOLLY+FALA+SOBRE+FUTURO+DA+CLONAGEM.html
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expressionista "Die Brücke”, apresentando uma pintura
figurativa com formas distorcidas e cores dissonantes. É o
chamado neoexpressionismo.
Em Itália, o
neoexpressionismo
encontra o seu
correspondente na
transvanguarda,
protagonizada,
entre outros, por
Sandro Chia
(1946), Enzo Cucchi
(1949), Mimmo
Paladino (1948) e Francesco Clemente (1952). Inspira dos nas
mais diversas correntes, estes artistas produzem uma pintura
em que as figuras deformadas e grotescas se revelam
fortemente perturbadoras.
Outras formas de expressão artística
Eclética, como já dissemos, a arte pós-moderna rompe fronteiras entre estilos e manifestações
artísticas, empenhando-se, inclusive, na via da interdisciplinaridade. O conceito de arte amplia-se.
Em Nova lorque, desde os anos 80, e, mais
tarde, na Europa emergem, nos corredores do
metropolitano e nos bairros degradados, grafitos
realizados, maioritariamente, por jovens oriundos
da comunidade negra. Sem intenção de
constituírem arte, mas tão-só de marcar um
território nas paredes, a verdade é que os
grafitos rapidamente se convertem em objeto
artístico digno
das galerias e
dos museus de
Manhattan. A experimentação artística prossegue nos anos 90. Surge uma arte
vídeo que
dispensa quer a
narração de tipo
cinematográfico,
quer a articulação
lógica entre as
imagens. Fá-Ias
suceder,
repetidas,
Jorg Immerdorff, Café Deutschland, 1984
Sandro Chia, Pão e Vinho , 1984
Dondi White, Grafiitti no Metro, 1980
Disponível na Internet:
http://ograndesign.blogspot.pt/2013/04/arte-e-fome-doinconsciente-
sendo.html
Disponível na Internet:
https://rafabee.wordpress.com/2011/03/22/v
ideo-arte/
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sobrepostas, sem nexo, de um modo frenético. Surrealistas e
futuristas teriam, certamente, apreciado.
O computador, por sua vez, transforma-se em precioso
auxiliar artístico. As
imagens virtuais
nele produzidas
revolucionam os
efeitos especiais no
cinema,
beneficiando os
filmes de ficção científica e o cinema de animação.
Em finais do século XX, a arte tenta, efetivamente, todas as
experiências, num afã de colaboração que a leva ao mundo da
moda e do design, do cinema e do espetáculo. Se a arte é vida,
nada há que não seja arte. E, como diz Anna-Carola Krauße, até o
nada, talvez, seja arte.
Dinamismos socioculturais
Revivescência do fervor religioso e perda de autoridade das Igrejas
No mundo ocidental, há um século atrás, acreditava-se
que os progressos científico-tecnológicos e a crescente
laicização da sociedade fariam recuar a Fé e provocar,
até, a "morte de Deus". O número de praticantes do
Cristianismo diminuiu. No que se refere à Igreja
Católica, há menos devotos na missa, uma menor
procura dos sacramentos bem como uma escassez das
ordenações sacerdotais. É com desagrado que as
hierarquias veem os homens e as leis civis a violarem
os preceitos que
condenam: a
contraceção e o
aborto, o divórcio e
as uniões
homossexuais. Dir-
se-á haver uma crise de autoridade da Igreja Católica que, à semelhança
de Igrejas Protestantes, ainda enfrenta escândalos sexuais.
Apesar deste quadro, assistiu-se, desde as últimas décadas do século
XX, a uma revivescência do fervor religioso no Ocidente. Papas como
João Paulo II (1920-2005) e Francisco (n. 1936), galvanizam multidões.
Nos EUA, pátria do capitalismo e da inovação técnica e científica,
consolidou-se um fundamentalismo cristão entre os protestantes
Disponível na Internet:
http://casa-atelier.com/moda-e-arte-juntas/
Disponível na Internet:
http://www.catho.com.br/carreira-
sucesso/noticias/o-que-e-arte-digital
Encontro entre o Papa emérito Bento XVI e o Papa
Franciscico, 2013 Disponível na Internet: http://papa.cancaonova.com/francisco-visita-bento-xvi-
para-as-felicitacoes-natalinas/
Ataque às torres Gémeas, Nova
Iorque, 11 de setembro de 2001
Disponível na Internet: http://maimagazine.net/o-inferno-do-11-de-
setembro/
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evangélicos, que acreditam na autoridade absoluta da Bíblia. Conservadores e adversários da laicização da
sociedade tiveram um papel importante nas eleições
de Ronald Reagan (1911-2004) e, posteriormente, de
G. W. Bush (1946).
Pelo mundo fora, aliás, o fundamentalismo religioso
tem ascendido. Entre os muçulmanos, por exemplo, há
forças e partidos que se apoiam na religião para
condicionarem a vida social e a organização política.
Em conjugação com outros fatores, a interpretação
estrita dos textos religiosos derivou no radicalismo
islâmico, que defende a tradição e propugna pelo
combate às influências ocidentais.
Individualismo moral e novas formas de associativismo
Não sem razão se acusam as sociedades desenvolvidas de uma obsessão pelo consumo que as faz
mais egoístas que solidárias. O individualismo campeia nas famílias, nas relações de vizinhança e de
trabalho, nos comportamentos políticos, sindicais e
religiosos.
Se alguns sociólogos consideram a sociedade pouco
empenhada civicamente e disso culpam a globalização
económica, pelas suas solicitações materiais, outros,
porém, distinguem sinais indesmentíveis de revitalização
das sociedades civis. E apontam, como exemplo, o
aparecimento de novas formas de associativismo, que
pretendem responder à crise do Estado-Providência e à
exclusão social decorrentes da referida globalização, ao im-
pacto devastador de muitos conflitos armados que
enxameiam a cena mundial, à degradação do planeta...
Nas últimas décadas, com efeito, a mobilização
associativa sobressai, no mundo ocidental, como um
espaço onde se experimentam formas de luta contra a
pobreza e se afirmam novas solidariedades. Cresce o
número de associações ambientalistas, de acolhimento
aos refugiados, para a integração de imigrantes, para a
luta contra o racismo e a xenofobia, para a defesa dos
direitos das mulheres e das crianças, para a prestação
de cuidados de saúde e de apoio alimentar; de clubes
da terceira idade; de ligas protetoras dos animais; de
organizações desportivas, culturais, de lazer, de
salvaguarda do património...
De forma silenciosa ou com aparato mediático, o
Combatentes do Estado Islâmico, na cidade síria de Raqqa Disponível na Internet: http://www.publico.pt/mundo/noticia/cameron-defende-
opcao-militar-para-travar-expansao-do-estado-islamico-1666745
O individualismo como consequência da
globalização Disponível na Internet:
http://depredando.blogspot.pt/2012/12/beneficios-privados-prejuizos-
publicos.html
Associativismo como resposta aos problemas gerados
pela globalização Disponível na Internet: http://jornalc.pt/cerveira-prolonga-prazo-para-candidaturas-
concessao-de-apoios-associacoes-concelho/
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associativismo mobiIiza a sociedade civil num exercício saudável de cidadania. Contra os profetas da
desgraça, a Humanidade mostra-se capaz de protagonizar grandes causas, provando que solidariedade e
fraternidade não são palavras vãs.
Hegemonia da cultura urbana
A sociedade global tece-se de permanentes fluxos: e de pessoas e de bens, de conhecimentos e de
referentes culturais que os novos meios de comunicação transmitem à velocidade da luz. A
multiculturalidade domina as sociedades desenvolvidas e, muito em particular, a sua paisagem urbana. Novas
manifestações
culturais, ligadas
ao espetáculo, à
música e ao
desporto,
elegeram as
cidades como
palco nas últimas
décadas. São os
jovens quem
protagoniza muitas destas formas de cultura urbana. Oriundos dos subúrbios e com fortes ligações às
minorias étnicas, animam as ruas com os seus skates ou patins em Iinha, os ritmos do rap e da
breakdance, os seus grafitos e tags. Eis
os traços mais comuns da cultura hip-
hop, que nasceu nos bairros negros de
Nova lorque, nos anos 70, e se
espalhou pela Europa na década
seguinte. Com as suas histórias de rua,
narrativas de droga, violência e crime
e, sobretudo, pelo seu espírito de
conflito com o sistema, o rap
converteu-se numa espécie de poesia
urbana que expressa a revolta da juventude. Por isso foi rapidamente absorvido por outras naturalidades
e etnias.
Outras formas de cultura urbana
derivam da tecnologia. A cultura techno,
associada à música produzida por
síntese sonora a partir de sons
reapropriados de CD ou faixas de vinil,
nasce nos anos 80 em Detroit e de-
pressa galga as fronteiras dos EUA. A
tecnologia conduz ainda muitos jovens
ao mundo do ciberespaço, como os
otakus japoneses, obcecados com as suas consolas de vídeo.
Principais ingredientes do Hip-Hop Disponível na Internet: http://blog.djkingstun.com/
Disponível na Internet: http://www.evarapdiva.com/
Jovem adepto da cultura otakus rodeado por
imagens de banda desenhada Disponível na Internet: http://meepcraft.com/threads/how-much-of-
a-weeaboo-otaku-are-you.31823/page-2
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Cultura urbana é também a moda, com a imaginação quase delirante dos desfiles; o cinema, a
eterna fábrica de sonhos; o teatro com a magia do palco; os espetáculos desportivos com a inevitável
adrenalina, os rituais de consumo nas atraentes superfícies de que não se consegue fugir. Finalmente,
cultura urbana continua a ser a dos museus e galerias com as suas exposições, a dos concertos, a dos
quiosques e livrarias, a dos inúmeros gestos da vida social, feita de encontros e desencontros.
Couto, Célia Pinto de; Antónia, Maria; Rosas, Monterroso. Um Novo tempo da História. Porto Editora,
Porto, sd. Adaptado