A Cultura Do Algodão
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A cultura do algodão herbáceo (Gossypium hirsutum L. raça latifolium Hutch. ), realizada em
condições de sequeiro destaca-se como uma das mais importantes para a região Nordeste , em
especial para os pequenos é médios produtores, tendo assim importância social e econômica muito
elevada para o agronegócio nordestino, sendo que esta região é na atualidade um dos maiores pólos de
consumo industrial de algodão da América Latina, junto com o Estado de São Paulo e o México.
Uma das grandes vantagens desta atividade é que mais de 75 % do custo de produção é com mão-de-
obra o que significa ocupação para milhares de trabalhadores rurais. O algodão produzido pelas
pequenas propriedades na região Nordeste é todo colhido a mão, o que proporciona, quando esta
operação é bem feita, a obtenção de um produto de elevada qualidade intrínseca, ou seja de tipo
superior, de 1 a 3 na classificação de algodão em caroço, com também qualidade intrínseca da fibra
superior, especialmente a reflectância a finura, a resistência e a fiabilidade. Os pequenos produtores
de algodão herbáceo no Nordeste têm grande tradição com o cultivo desta malvácea e utilizam muito
pouco insumos, principalmente fertilizantes inorgânicos, herbicidas e inseticidas, tendo assim a
grande vantagem com relação as demais áreas de produção do Brasil, de ter um custo de produção
bem menor, o que eleva a rentabilidade, apesar de ter um potencial de produção bem menor do que,
por exemplo o do Mato Grosso, condições de cerrado com grandes produtores.·
O algodão é um produto que tem mercado garantido dentro da própria região Nordeste e não é
perecível o que se constitui em uma grande vantagem para o produtor. Neste sistema de produção são
evidenciados os passos tecnológicos para a cultura do algodão para o pequeno produtor desta cultura
em condições de sequeiro (dependente de chuvas) na região Nordeste.
Escolha da área manejo e conservação de solos
O uso inadequado de áreas com o algodão herbáceo e arbóreo, tem sido o principal factor de
degradação dos solos do Nordeste brasileiro. Por isso, antes do desbravamento se deve proceder a um
panejamento racional da capacidade de uso dos solos da propriedade. Os principais factores a serem
levados em consideração, são: o relevo actual da superfície (erosão), profundidade, drenagem, textura e
fertilidade do solo. Deve-se escolher áreas planas e levemente onduladas. Terras com declive acima de
12% devem ser deixadas com sua vegetação nativa ou exploradas com culturas perenes, pois o
algodoeiro herbáceo é uma das culturas que mais expõem o solo aos agentes erosivos, sobretudo as
águas das chuvas, conforme pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1. Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por erosão. Médias ponderadas para três tipos
de solo do Estado de São Paulo.
Tipo de uso
Perda de
Solo Água
t/ha % de chuva
Mata 0,004 0,7
Pastagens 0,04 0,7
Cafezal 0,9 1,1
Algodão 26,6 7,2
Fonte: Bertoni et. Al. (1982)
Visto que o algodoeiro é exigente em nutrientes minerais, de raiz pivotante, a cultura requer solos
profundos e de média a alta fertilidade. Quanto à textura, o algodoeiro se desenvolve satisfatoriamente
em solos a partir dos arenosos até os argilosos, desde que existam condições de equilíbrio entre
nutrientes, umidade e aeração. Os arenosos, com algumas exceções, geralmente são pobres em
nutrientes e de baixo poder de retenção de água, o que pode ser melhorado com a adição de matéria
orgânica. Os muito argilosos, apesar de ricos em nutrientes, podem prejudicar o desenvolvimento das
plantas, por falta de oxigenação; no entanto, há solos argilosos bem estruturados, que permitem boa
circulação de ar. Isto significa que o algodoeiro pode ser cultivado em solos de textura variável, porém
bem estruturados, com boa drenagem, fertilidade de média a alta, profundos e relevo plano a ondulado.
Contudo, os de textura mediana, com pH entre de 5,5 e 7,0 são os mais indicados para o cultivo do
algodão, principalmente devido à facilidade de seu manejo. Solos rasos e/ou com afloramento de
rochas, e/ou relevo acentuado (acima de 12%) não devem ser usados com algodão herbáceo, devendo
ser ocupados por pastagens, culturas perenes ou vegetação nativa, de forma que se obtenha o equilíbrio
do meio ambiente com a situação econômica da propriedade, visando à proteção ambiental e a
sustentabilidade dos sistemas agrícolas.
Antes do desmatamento da água e, por conseguinte, do preparo do solo, deve-se efetuar um
planejamento racional do uso do solo, para evitar problemas que venham causar sua degradação.
Relevo, pedregosidade, afloramento de rochas, profundidade e textura do solo são os aspectos que
merecem mais atenção neste momento.
Conservação e preparo do solo
Nas áreas novas, após o desmatamento, destoca e retirada da lenha, os restos da vegetação cortada
devem ser enleirados em nível, com distância de 20 a 30m entre fileiras (Figura 3). Havendo pedras
soltas na superfície, estas poderão ser apanhadas e distribuídas junto às leiras, de maneira que formem
muretas de pedra (Figura 4) o que dever ser feito, também, em áreas já trabalhadas. Outras práticas
simples de controle da erosão podem ser usadas como a utilização de terraceamento, que pode controlar
mais de 70% da erosão.
O uso de capinas alternadas e o plantio de algumas linhas de uma cultura mais densa (exemplos:
gergelim, cana-de-açúcar, capim, cunhã, sorgo ou feijão) formando faixas de retenção de água a cada
20m ou 30m, dependendo da declividade, seriam outras alternativas.
O melhor preparo do solo é aquele que proporciona as melhores condições para germinação,
emergência e desenvolvimento do sistema radicular das culturas, com o mínimo de operações e sempre
conservando o solo. O teor de umidade do solo, no momento do preparo, é de grande importância. O
solo dever ser trabalhado com sua consistência friável, ou seja, na prática seus torrões podem ser
facilmente rompidos em frações menores, quando comprimidos entre os dedos, sem aderir aos mesmos.
Com esta umidade, qualquer máquina opera com o mínimo esforço, conseqüentemente realizando
melhores serviços, menos onerosos e com menor risco de compactação do solo. Obedecendo esta
condição de umidade e levando-se em conta a textura como fator principal sugerem-se, aqui, algumas
técnicas de preparo do solo, lembrando-se que cada trecho de uma propriedade possui suas
particularidades e exigem decisões próprias.
Para melhor entendimento, classificam-se os solos em três classes de textura, descritas a seguir:
a) Solos arenosos: teores de areia superiores a 70% e o de argila inferior a 15%.
São solos permeáveis, de baixa capacidade de retenção de água e de baixos teores de matéria
orgânica. Seu preparo deve ser efetuado com o mínimo possível de operações que favoreçam a
semeadura. Em geral, uma simples aração e gradagem com grade destorroadora, são suficientes. As
práticas conservacionistas são indispensáveis nesses tipos de solo, por serem altamente suscetíveis à
erosão.
b) Solos medianos: apresentam certo equilíbrio entre os teores de areia, silte e argila.
Normalmente, são permeáveis, bem drenados, média capacidade de retenção de água e médio índice
de erodibilidade. Melhores resultados têm sido obtidos com o preparo invertido, que consiste na
trituração dos restos culturais e invasoras com grade destorroadora e, logo após, uma aração. A
aração deve ser feita de 20 a 30cm de profundidade e, de preferência, com arado escarificador ou de
aivecas.
c) Solos argilosos: com teores de argila acima de 35%.
Esses solos, com exceção dos de cerrado, cuja fração de argila é representada com óxidos hidratados de
ferro e alumínio, com elevado poder de floculação, apresentam baixa permeabilidade e alta capacidade
de retenção de água. A alta força de coesão entre as partículas, além de proporcionar grande resistência
a penetração, o solo agrega-se facilmente aos implementos, como também o torna muito suscetível à
compactação. Por isso, merece cuidados especiais no seu preparo, principalmente no que diz respeito ao
teor de umidade, no qual o solo deve estar friável. Em trabalho realizado em um Vertissolo, Medeiros &
Santos (1990) observaram que a aração com arado de aiveca foi a melhor opção de preparo em relação
ao rendimento de algodão. Os arados escarificadores e de discos também podem ser usados. Quando se
trata de áreas recém-desbravadas, onde há tocos e excesso de raízes, o arado de disco se torna mais
adequado. Após a lavra, se necessário, procede-se a uma ou duas gradagens, com grade niveladora, para
eliminar o excesso de torrões na superfície.
Em situação de alta infestação de plantas daninhas trepadoras e/ou restos culturais herbáceos, antes da
aração se efectua um roço para evitar embuchamentos e facilitar a penetração dos implementos.
Todas as operações de preparo do solo, plantio e tráfego de máquinas e veículos, devem ser feitas em
nível.
Análise e correcção do solo
A análise de solo visa conhecer a disponibilidade de nutrientes, presença de elementos tóxicos às plantas
e para diagnóstico e eficiente manejo da fertilidade.
No solo está a base alimentar do algodoeiro. O conhecimento da disponibilidade nutricional oferecida
pelo solo à cultura, é muito importante para o agricultor, até porque o algodoeiro, como a maioria das
culturas, é exigente em nutrientes e, com base nos resultados da análise do solo, pode-se promover o
equilíbrio nutricional do algodoeiro, através da adubação adequada, favorecendo a obtenção de boas
produtividades.
Os procedimentos para a coleta de amostras de solo para análise, são:
a) dividir a propriedade em áreas de 10 ha para a retirada das amostras. Cada uma dessas áreas deverá
ser uniforme em utilização, topografia etc.;
b) cada área escolhida deverá ser percorrida em ziguezague, retirando-se com trato, pá ou enxada,
amostras de 15 a 20 pontos diferentes, que deverão ser colocadas em balde limpo. Todas as amostras
individuais de uma mesma área uniforme, deverão ser bem misturadas dentro do balde, retirando-se uma
amostra final de mais ou menos 500g;
c) as amostras deverão ser retiradas da camada superficial do solo, até a profundidade de 20cm, tendo-se
antes o cuidado de limpar a superfície dos locais escolhidos, removendo as folhas e outros detritos;
d) não retirar amostras de locais próximos a residências, galpões, formigueiros, estradas, depósito de
adubos, pocilgas, currais etc;
e) identificar a amostra final com o nome da propriedade e do proprietário, município, gleba, cultura
anterior e cultura a ser implantada e correções anteriores, encaminhando-a a um laboratório de solo.
De posse do resultado, deve-se procurar um técnico para proceder à recomendação de adubação correta
para área.
A calagem é uma prática agrícola que visa corrigir a acidez e eliminar a toxidez de alumínio e manganês
trocáveis do solo e ofertar, às plantas, maior disponibilidade de cálcio e magnésio, elementos essenciais
para o estabelecimento e produção da cultura, além de promover a maior disponibilidade dos nutrientes,
especialmente do fósforo. A calagem do solo deve ser realizado pelo menos 2-3 meses antes do plantio,
pois a reação do calcário é lenta e somente se manifesta após a sua solubilização no solo. A quantidade
de calcário a ser colocada e utilizada dependerá do resultado da análise de solo, onde são considerados
aspectos como o teor de alumínio trocável e teores de cálcio e magnésio no solo. Deve-se distribuir o
calcário de maneira uniforme, nos 20cm de profundidade, sendo metade antes da aração e o restante
antes da gradagem