A CRÍTICA DE HUME À CAUSALIDADE E SUA INFLUÊNCIA NA “REVOLUÇÃO COPERNICANA” DE KANT
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LEANDRO DA SILVA FARIAS
A CRÍTICA DE HUME À CAUSALIDADE E SUA INFLUÊNCIA NA “REVOLUÇÃO COPERNICANA” DE KANT
UNICASTELO
SÃO PAULO
2013
LEANDRO DA SILVA FARIAS
A CRÍTICA DE HUME À CAUSALIDADE E SUA INFLUÊNCIA NA “REVOLUÇÃO COPERNICANA” DE KANT
Trabalho desenvolvido durante o curso de pós graduação latu-sensu de filosofia da linguagem na filosofia contemporânea, como parte da avaliação referente à disciplina origens da filosofia contemporânea, da universidade Camilo Castelo Branco.
UNICASTELO
SÃO PAULO
2013
Para tratarmos deste assunto, se faz necessário apontar a crítica que Hume
faz ao princípio de causalidade e suas consequências, somente então, é que
estaremos em condições de analisar as influências dessa crítica. Para apresentar a
crítica de Hume, uma etapa anterior se faz imperiosa, qual seja – entender,
basicamente, as ideias de nosso autor no tema tratado.
Nosso filósofo, juntamente com os outros empiristas, acredita que todas as
ideias surgem de nossas experiências sensoriais. Aliás, essas experiências geram
todas as percepções de nossa mente. Seguindo seu método de análise, ele faz uma
distinção entre os tipos de existentes de percepções que são as impressões e as
ideias1; no primeiro caso trata-se daquilo que é o resultado imediato de nossas
experiências, aquilo que tem uma vivacidade maior quando vemos, ouvimos,
sentimos, amamos, odiamos, etc.; no segundo, trata-se de uma cópia das
impressões, ou ainda, daquilo que nos resta quando as impressões já não estão
mais presentes, aquilo que é menos vivaz e que temos consciência quando
refletimos acercas das experiências, sensações acima referidas.
Ademais, há uma outra distinção feita por nosso autor – relações de ideias e
questões de fato2. As relações de ideias caracterizam-se, segundo Hume, por não
dependerem de nada que possa haver no universo, mas apenas de operações do
pensamento, como o próprio nome diz, são relações entre ideias. Isto posto,
podemos afirmar, que as relações de ideias quando intuitivamente ou
demonstrativamente certas, não suportam a afirmação oposta. De modo distinto, as
questões de fato, não são verificadas da mesma maneira, as proposições contrárias
a qualquer afirmação é sempre possível; não implicando contradição. Destarte, as
questões de fato são todas baseadas na noção de causa e efeito.
Conseguimos até aqui, verificar a estrutura do entendimento humano que se
baseia nas experiências do mundo; que por sua vez geram dois tipos de
percepções: as impressões, que são as percepções mais vivazes; e as ideias que
são as percepções menos vivazes. Outra distinção que é feita concerne às relações
de ideias e questões de fato. As relações de ideias são obtidas mediante a reflexão
e operação de nosso pensamento, estabelecendo-se como evidentes e
demonstráveis pela simples operação reflexiva, tendo ainda a característica de 1 Cf. HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano, p. 134.
2 Cf. Ibid., p. 137.
serem, quando certas, logicamente necessárias. Diferentemente, as questões de
fatos baseiam-se no princípio de causa e efeito.
É aqui que Hume inicia seu ataque ao princípio de causalidade, porquanto ele
defende que a causalidade se fundamenta na experiência. Desta maneira, as
próprias questões de fato em última análise se baseiam, igualmente, na experiência.
Assim sendo, toda noção que temos de causalidade, isto é - o nexo entre duas
coisas, das quais a segunda é previsível a partir da primeira3; baseiam-se na
experiência e não podem ser previsíveis como era crido até então. Destarte, a
causalidade não tem a característica de ser logicamente necessária.
Se até então, se defendia que a partir de dadas causas, se poderia logicamente e
necessariamente inferir seus efeitos; a partir de Hume, isto já não é mais possível,
haja vista que se a causalidade depende das experiências, não posso de maneira
alguma extrair efeitos de causas por mais evidentes que elas me pareçam.
Para nosso autor, a causalidade somente parece ter a força vinculante ou
evidência, por causa do hábito, do costume. Isto posto, não há motivo algum para
que possamos defender ou nos basear no princípio de causalidade a não ser o
hábito. Com isso, se pode afirmar que todos os nossos conhecimentos das questões
de fato estão no mesmo nível de crenças religiosas. Afinal de contas, não há motivo
lógico para que uma coisa seja, tal qual, acreditamos que será.
Ainda temos uma outra consequência destas afirmações – se nossos
conhecimentos das questões de fato se referem ao mundo, mas não são
logicamente necessárias como demonstrado, como então a ciência pode se
estabelecer e prever fatos que podem ser conhecidos exclusivamente quando
experienciados e não a priori?
É justamente neste ponto, que a crítica de Hume ao princípio de causa e
efeito, se fará sentir nas preocupações filosóficas de Kant, fazendo com que este
tenha que encontrar um modo de justificar como é possível haver ciências, tal qual a
física, que sejam universais e necessárias. Hume acredita que as ciências são a
melhor explicação que temos e que devemos continuar a utilizá-las, não obstante
não haver motivos racionais para acreditar em suas conclusões; a única coisa que
nos faz aceita-las é que funcionam, mas não há nada que as impeçam de serem
diferentes.3Nicola, ABBAGNANO. Dicionário de filosofia, p. 141-148: causalidade.
Diante desta crítica à causalidade, que acaba por atingir em cheio as ciências,
Kant tenta justificar como é possível haver a priori conhecimento das questões de
fato, que em linguagem kantiana passam a ser expresso da seguinte maneira: Como
são possíveis juízos sintéticos a priori? Ressaltamos que em termos kantianos as
questões de fato, são análogas aos chamados juízos sintéticos. A pergunta desta
maneira é justamente o que dissemos acima – como podemos saber a priori de
questões que necessitam da experiência para serem confirmados? Ou ainda, como
podemos antes mesmo da experiência, saber de conhecimentos que pressupõem a
experiência?
Todos estes questionamentos são frutos da crítica feita por Hume à
causalidade, pois a partir dele já se sabe que a causalidade não se demonstra pelo
princípio de contradição, não sendo assim necessário. Kant então, apresenta sua
conhecida “virada copernicana”, apresentando o sujeito que conhece não apenas
como passivo, que recebe o objeto do conhecimento; mas, em parte, constituindo o
modo pelo qual o objeto aparece à ele. Assim, como em parte colaboramos no modo
com que os objetos aparecem a nossa mente, podemos saber algo mesmo antes de
eles aparecerem, pois que esse algo que colocamos no objeto parte de nós e
podemos conhece-los a priori.
Vimos, portanto, que a “virada copernicana” empreendida por Kant é uma
saída ao dilema que se impõe ao conhecimento humano pela crítica que Hume faz
ao princípio de causalidade. É porque, Hume mostra que não podemos saber de
fatos da experiência a priori, que Kant ao perceber que isto atinge inclusive às
ciências, que ele vê a necessidade de encontrar uma explicação, uma alternativa
para assegurar universalidade e necessidade às ciências. Esta justificação é a sua
“virada copernicana”.
Supomos, pois, que conseguimos apresentar a crítica de Hume ao princípio
de causalidade, suas consequências e a influência de tal crítica na “virada
copernicana” desenvolvida por Immanuel Kant.
BIBLIOGRAFIA
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia; 5ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
DUDLEY, Will. Idealismo alemão; tradução de Jacques A. Wainberg. Petrópolis: Vozes, 2013. (Série Pensamento Moderno)
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. 1ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores)
KLIMKE, Federico. Historia de la filosofia. Barcelona: Labor, 1947.
MONDIN, Battista. Curso de filosofia; tradução de Benôni Lemos. São Paulo: Paulinas, 1981. Volume 2.
PORTA, Mario A. G. A filosofia a partir de seus problemas: didática e metodologia do estudo filosófico. 3ª edição. São Paulo: Loyola, 2007.