A Crise Do Feudalismo

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A CRISE DO FEUDALISMO: Noes Bsicas sobre o Feudalismo: - Descentralizao Poltica. - Os que rezam, os que trabalham, os que lutam. -O papel da Igreja Catlica. - O mundo da Transcendncia. - A Importncia da Servido.

A Formao do Antigo Regime: - A recuperao da Europa comeou no sculo XV e trouxe algumas novidades de grande importncia: o absolutismo, a expanso martima e o mercantilismo. - O feudalismo foi ento substitudo pelo Antigo Regime. - Apesar de a esmagadora maioria da populao continuar no campo, o centro dinmico da economia havia se deslocado para o comrcio. - Da a importncia do mercantilismo, que consistia na interveno do Estado na economia pelo rei absolutista. TRANSIO DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO

1- Formao dos Estados NacionaisO feudalismo no se manifestou da mesma forma em toda a Europa. Porm entre os sculos XI e XIV ele sofreu srias crises que modificaram suas estruturas, preparando o caminho para um novo modo de produo, o capitalismo. Entre alguns problemas que desarticularam o feudalismo, destacamos: - As Cruzadas; - A Peste Negra; - As Revoltas camponesas (ex.: jaquerris); - A Guerra dos Cem Anos (Frana x Inglaterra). Todo um modo de produo, centrado na terra e na atividade agrria, com uma sociedade nobilirquica e estamental, passou por uma nova articulao, onde a economia urbana tinha destaque, e o comrcio papel fundamental. Aqueles que se dedicavam atividades mais liberais, como o comrcio, eram denominados burgueses. Os mercadores das cidades agrupavam-se em associaes (guildas), com o objetivo de evitar a concorrncia, criando monoplios. Tambm os artesos formavam corporaes. Na Baixa Idade Mdia, o poder dos reis era bastante limitado. Mas com a crise do sistema feudal, o enfraquecimento da Igreja e dos senhores feudais foi inevitvel. Os reis organizaram exrcitos promovendo com estes a centralizao poltica. A burguesia apoiou financeiramente o poder real. Em troca, os Estados Nacionais criaram condies para a expanso da burguesia. Esta aliana rei-burguesia foi essencial para o surgimento das monarquias nacionais. Com o tempo, a autoridade dos reis atingiu nvel to alto, que estes reis passaram a ser conhecidos como absolutistas.

2- O AbsolutismoA INTRODUO O Pioneirismo em sua organizao em sua organizao coube a Portugal e Espanha. Embora tenha se consagrado na Europa no sc. XVI e sobrevivendo at o sc. XIX, entrou em crise no sc. XVIII, com as Revolues Industrial e Francesa. Deve ser encarado como um Estado de transio do feudalismo para o capitalismo. B CARACTERSTICAS Sociedade estamental; Montagem de um sentimento nacional Controle da economia (monoplios, protecionismo)

Formao e Exrcito regular Unidades Jurdica, Fiscal, Monetria. Burocracia Administrativa C GRUPOS INTERESSADOS

BURGUESIA: vantagens econmicas como propriedade para as atividades martimas e comerciais. NOBREZA: conquistas de privilgios (burocracia, penses)D TERICOS O mais importante deles foi Nicolau Maquiavel (1469-1527), membro do governo dos Mdicis, de Florena. Em suas obras (Mandrgora, Discursos sobre a dcada de Tito Lvio, O prncipe), expressa revolta quanto situao da Itlia, devastada pela diviso em repblicas rivais. Aponta como soluo para o pas o despertar do interesse nacional, abrangente, postura que deveria ser assumida pelo "prncipe", a fim de restaurar a unidade da Repblica italiana. Thomas Hobbes (1588-1619), considerado por muitos o terico que melhor definiu a ideologia absolutista, articulou um sistema lgico e coerente para apresentara necessidade do Estado desptico. O prprio ttulo de seu livro, Leviat (nome do monstro fencio do caos), nos d a idia do que para ele seria esse Estado: uma grande entidade todo-poderosa que dominaria todos os cidados. Hobbes justifica o Estado absoluto apontando-o como a superao do "estado de natureza". Para ele, na sociedade primitiva ningum estava sujeito a leis, tendo to somente de satisfazer sua avidez intrnseca pelo poder, pelo interesse prprio. Levando uma "vida solitria, pobre, grosseira, animalizada e breve", todos estavam permanentemente em guerra entre si - o homem era como "um lobo para o homem" (homo homini lupus). Jacques Bossuet (1627-1704), de 1670 a 1679, cuidou da educao do filho do rei francs Lus XIV,escrevendo Memrias para a educao do delfim e Poltica segundo a Sagrada Escritura,obras em que estabeleceu o princpio do direito divino dos reis, isto , do poder real emanado de Deus. Segundo Bossuet, a autoridade do rei sagrada, pois ele age como ministro de Deus na terra, e rebelar-se contra ele rebelar-se contra Deus. Outro terico absolutista de destaque foi Jean Bodin (1530-1596), autor de A Repblica, que defendia a idia da "soberania no-partilhada". Para ele, a soberania real no pode sofrer restries nem submeter-se a ameaas, pois ela emana das leis de Deus, sendo a primeira caracterstica do prncipe soberano ter o poder de legislar sem precisar do consentimento de quem quer que seja. Hugo Grotius (1583-1645), autor de Do direito da paz e da guerra,trata basicamente do direito internacional, mas defende tambm o governo desptico, o poder ilimitado do Estado, afirmando que sem ele se estabeleceria o caos, a turbulncia poltica. E A FORMAO DO ESTADO NACIONAL PORTUGUS: Os mulumanos que haviam se instalado no condado de Portugal foram expulsos por Henrique de Borgonha. Ele, como recompensa pelos xitos militares, recebeu em casamento a mo da filha do rei de Castela e, como dote, o condado de Portugal. Henrique tornou-se conde de Portugal, regio que na poca pertencia a Castela. O sucessor de Henrique de Borgonha, seu Afonso Henrique, realizou outras vitrias sobre os mouros do sul, e, em 1139, foi aclamado rei de Portugal pelos seus soldados. O novo rei organizou a Corte portuguesa, obtendo o reconhecimento de sua autoridade pela assemblia reunida. Foi coroado pelo arcebispo de Braga, declarando-se independente da Espanha e vassalo da Santa S. A dinastia de Borgonha (1139-1383) conquistou as terras no sudeste da Pennsula Ibrica, impulsionou a agricultura, a indstria e o comrcio. A explorao mineral e a atividade pesqueira constituram-se em fontes de riqueza da regio. Em 1383, ao extinguir-se a dinastia de Borgonha, as Cortes reunidas em Coimbra elegeram o novo rei, o gro-mestre da Ordem de Avis, que ocupou o poder com o nome de Joo I. A dinastia dos Avis governou Portugal por duzentos anos, de 1383 a 1580. Os sucessores de D.Joo I organizaram os grandes descobrimentos e as conquistas que legaram a Portugal um enorme Imprio Colonial.

ANTIGO REGIME EUROPEUO sculo XV inaugurava um perodo do processo histrico da Europa ocidental: possuir terras j no era mais sinnimo seguro de poder; as relaes sociais de dominao e de explorao tambm no eram as mesmas do mundo feudal; mudanas qualitativas na economia europia abriam espao para uma nova ordem poltica e social. Tendo suas origens no feudalismo, o mundo moderno evoluiria at culminar no seu oposto - o capitalismo do mundo contemporneo. Assim, em muitos aspectos, o mundo moderno constituiu uma negao do mundo medieval, embora

ainda no se caracterizasse como um todo slido, maduro, apresentando-se como uma poca de transio. Foi o perodo de consolidao dos ideais de progresso e de desenvolvimento, que reforou o pensamento racionalista e individualista, valores burgueses que iriam demolir o universo ideolgico catlico-feudal. Entre os sculos XV e XVIII, estruturou-se uma nova ordem socioeconmica, denominada capitalismo comercial. Durante esse perodo, a nobreza, cuja posio social era ainda garantida por suas propriedades rurais e ttulos - mas que no raro enfrentava dificuldades financeiras -, passou a buscar ansiosamente meios para se impor segundo os novos padres econmicos. Por seu lado, a burguesia, mesmo prosperando nos negcios, estava longe de ser a classe social dominante, com prestgio junto aristocracia. Como desejasse exercer a supremacia de que se julgava merecedora por seu poder econmico, freqentemente incorreu no paradoxo de assumir valores decadentes, como a compra de ttulos de nobreza. Apenas no final da Idade Moderna, a classe burguesa reuniu meios para edificar uma ordem social, poltica e econmica sua prpria imagem, embora somente os acontecimentos da segunda metade do sculo XVIII, como a Revoluo Industrial, a independncia dos Estados Unidos e a Revoluo Francesa, consolidassem definitivamente a posio da burguesia, inaugurando a Idade Contempornea. Assim, sendo um perodo de transio, a Idade Moderna reforou a importncia do comrcio e da capitalizao, que constituram a base sobre a qual se desenvolveria o sistema capitalista. Como decorrncia, um novo Estado, novas normas e novos valores foram gerados segundo as novas exigncias do homem ocidental.

ECONOMIA E SOCIEDADE DO ANTIGO REGIMECom as Cruzadas, no incio da Baixa Idade Mdia, processou-se um conjunto de alteraes socioeconmicas, decorrente do renascimento do comrcio, da urbanizao e do surgimento da burguesia. A juno desses elementos, por sua vez, impulsionou o processo de formao do Estado nacional, e lentamente foram sendo demolidos os pilares que sustentavam o feudalismo. Cada vez mais ganhavam terreno a economia de mercado, as trocas monetrias, a preocupao com o lucro e a vida urbana. Assim, se por um lado o mundo medieval se encerrou em meio crise (guerras, pestes), por outro, com o incio da expanso martima e declnio do feudalismo, afirmou-se uma nova tendncia: o capitalismo comercial. O ressurgimento do comrcio na Europa e a explorao colonial do Novo Mundo americano e afro-asitico propiciaram a ascenso vertiginosa da economia mercantil. No meio rural europeu; as relaes produtivas variavam desde as' feudais (senhor-servo) at as que envolviam o trabalho assalariado (proprietrio-campons), prenunciando o que viria a ser um regime de caractersticas capitalistas. A explorao do trabalhador e a expropriao de suas terras possibilitaram uma gradativa e crescente ampliao de riquezas nas mos dos donos das terras e dos meios de produo - a chamada acumulao primitiva de capitais. O capitalismo comercial evoluiu, assim, para uma crescente separao entre capital e trabalho. Mais e mais a burguesia acumulou patrimnio e moeda, capitalizando-se, enquanto os trabalhadores foram sendo limitados condio de assalariados, donos unicamente de sua fora de trabalho. A burguesia foi, ento, se preparando para o completo controle dos meios de produo, o que se consolidaria definitivamente com a Revoluo Industrial. Visando adequar o meio rural ao capitalismo comercial e reorganizar a produo mais eficientemente, segundo os moldes do capitalismo emergente, os proprietrios lanaram mo de diversos recursos. Um exemplo foram os cercamentos na Inglaterra: com o desvio do uso da terra para a criao de ovelhas - tarefa que requeria pouca mo-deobra e destinava-se produo de l exportada para Flandres - formou-se enorme contingente servil sem colocao no campo. Sem opes, essa massa dirigiu-se para as cidades, onde se tornou mo-de-obra disponvel, mais tarde empregada na colonizao da Amrica inglesa e, principalmente, nas unidades fabris durante a Revoluo Industrial consolidou-se a concepo de um Estado interventor, que devia atuar em todos os setores da vida nacional. No plano econmico, essa interveno manifestou-se atravs do mercantilismo.

O ESTADO MODERNOO ABSOLUTISMOComo j vimos, o Estado absoluto da Idade Moderna apresentou um carter ambguo, refletindo o sentido de transio do perodo. De um lado, foi um "Estado feudal transformado" com a burocracia administrativa, formada em grande parte pelos senhores feudais, que mantinham valores e privilgios seculares; de outro, um dinmico agente mercantil, unificando mercados, eliminando barreiras internas que entravavam o comrcio, uniformizando moedas, pesos e leis, alm de empreender conquistas de novos mercados. Entretanto, nascido da aliana rei-burguesia na Baixa Idade Mdia, da necessidade socioeconmica e da poltica da poca, acabou se tornando parasitrio e aristocrtico, necessitando cada vez mais de uma crescente tributao. Em fins da Idade Moderna, o poderio e esplendor dos reis absolutistas opunham-se ao empreendimento burgus,

lucratividade e capitalizao em curso, levando ao processo das revolues burguesas que, ao derrubar os monarcas absolutistas, inaugurariam o mundo contemporneo.

TERICOS DO ABSOLUTISMONo incio da Idade Moderna, mudanas culturais expressas pelo Renascimento, que reestruturou a ideologia poltica europia, permitiram desbancar a supremacia da mentalidade escolstica. Com uma ideologia poltica livre das amarras da Igreja, puderam surgir teorias justificadoras do Estado absolutista. Para Toms de Aquino, o criador da escolstica, a poltica possua um contedo tico, estando subordinada a valores ditados pela Igreja. Segundo a concepo tomista, o imperativo da moral, do bem comum e o respeito aos direitos naturais do homem compunham os fundamentos limitadores do poder poltico. Na Idade Moderna, os intelectuais, sobrepujando a mentalidade medieval, criaram uma ideologia poltica tpica do perodo, legitimando o absolutismo. Alguns, como Maquiavel, defendiam a teoria de que a poltica, representada pelo soberano, deveria atender ao "interesse nacional". Outros, como Hobbes, partiam da concepo de um "contrato entre governados e Estado". Vrios foram os pensadores que se destacaram na teoria poltica do perodo absolutista. o mais importante deles foi Nicolau Maquiavel (1469-1527), membro do governo dos Mdicis, de Florena. Em suas obras (Mandrgora, Discursos sobre a dcada de Tito Lvio, O prncipe), expressa revolta quanto situao da Itlia, devastada pela diviso em repblicas rivais. Aponta como soluo para o pas o despertar do interesse nacional, abrangente, postura que deveria ser assumida pelo "prncipe", a fim de restaurar a unidade da Repblica italiana. Maquiavel, no livro O prncipe, aconse-lha o soberano florentino a que fique acima das consideraes morais, mantendo a autonomia poltica. Para ele, "os fins justificam os meios" e a razo de Estado deve sobrepor-se a tudo, ou seja, o soberano tudo pode fazer quando busca o bem-estar do pas. Quando est em jogo o interesse do Estado sentencia Maquiavel - at a "fora justa quando necessria". Preocupado com o estabelecimento de um Estado forte, Maquiavel defende que a autoridade do prncipe, embora s vezes brutal e calculista, vital para o seu sucesso e conseqentemente para o do Estado. Num posicionamento contrrio concepo tomista, chega a questionar se seria prefervel a um prncipe ser amado ou ser temido, e conclui: "Creio que seriam desejveis ambas as coisas, mas, como difcil reuni-Ias, mais seguro ser temido do que amado". Thomas Hobbes (1588-1619), considerado por muitos o terico que melhor definiu a ideologia absolutista, articulou um sistema lgico e coerente para apresentara necessidade do Estado desptico. O prprio ttulo de seu livro, Leviat (nome do monstro fencio do caos), nos d a idia do que para ele seria esse Estado: uma grande entidade todopoderosa que dominaria todos os cidados. Hobbes justifica o Estado absoluto apontando-o como a superao do "estado de natureza". Para ele, na sociedade primitiva ningum estava sujeito a leis, tendo to somente de satisfazer sua avidez intrnseca pelo poder, pelo interesse prprio. Levando uma "vida solitria, pobre, grosseira, animalizada e breve", todos estavam permanentemente em guerra entre si - o homem era como "um lobo para o homem" (homo homini lupus). Numa fase posterior, os homens dotados da razo, do sentimento de auto-conservao e de defesa buscam superar esse estado natural de destruio unindo-se para formar uma sociedade civil, mediante um contrato segundo o qual cada um cede seus direitos ao soberano. Dessa forma, renuncia-se a todo direito de liberdade, nocivo paz, em benefcio do Estado. Hobbes conclui que a autoridade do Estado deve ser absoluta, a fim de proteger os cidados contra a violncia e o caos da sociedade primitiva, motivo pelo qual os homens se unem politicamente, organizando-se num Estado absoluto e vivendo felizes tanto quanto permite a condio humana. . Hobbes afirma ainda que " lcito ao rei governar despoticamente, j que o prprio povo lhe deu o poder absoluto". Jacques Bossuet (1627-1704), de 1670 a 1679, cuidou da educao do filho do rei francs Lus XIV,escrevendo Memrias para a educao do delfim e Poltica segundo a Sagrada Escritura,obras em que estabeleceu o princpio do direito divino dos reis, isto , do poder real emanado de Deus. Segundo Bossuet, a autoridade do rei sagrada, pois ele age como ministro de Deus na terra, e rebelar-se contra ele rebelar-se contra Deus. A teoria de Bossuet influenciou sobremaneira os reis franceses da dinastia Bourbon, Lus XIV, Lus XV e Lus XVI, dando-Ihes subsdios para incorporar a noo de "direito divino" autoridade real. "Aquele que deu reis aos homens quis que eles fossem respeitados como Seus representantes", afirmava Lus XIV.

Outro terico absolutista de destaque foi Jean Bodin (1530-1596), autor de A Repblica, que defendia a idia da "soberania no-partilhada". Para ele, a soberania real no pode sofrer restries nem submeter-se a ameaas, pois ela emana das leis de Deus, sendo a primeira caracterstica do prncipe soberano ter o poder de legislar sem precisar do consentimento de quem quer que seja. Hugo Grotius (1583-1645), autor de Do direito da paz e da guerra,trata basicamente do direito internacional, mas defende tambm o governo desptico, o poder ilimitado do Estado, afirmando que sem ele se estabeleceria o caos, a turbulncia poltica.

O RENASCIMENTO CULTURALAs transformaes socioeconmicas iniciadas na Baixa Idade Mdia e que culminaram com a Revoluo Comercial na Idade Moderna afetaram todos os setores da sociedade, ocasionando inclusive mudanas culturais. Intimamente ligadas expanso comercial, reforma religiosa e ao absolutismo poltico, as transformaes culturais dos sculos XIV a XVI- movimento denominado Renascimento cultural estiveram articuladas com o capitalismo comercial. Primeiro grande movimento cultural burgus dos tempos modernos, o Renascimento enfatizava uma cultura laica (no eclesistica), racional e cientfica, sobretudo no-feudal. Entretanto, embora tentasse sepultar os valores da Igreja catlica, apresentou-se como um entrelaamento dos novos e antigos valores, refletindo o carter de transio do perodo. Buscando subsdios na cultura greco-romana, o Renascimento foi a ecloso de manifestaes artsticas, filosficas e cientficas do novo mundo urbano e burgus. O Renascimento no foi, como o termo pode evocar a princpio, uma simples renovao da cultura clssica e muito menos um renascer cultural, como se antes no houvesse cultura. Apenas inspirou-se na Antiguidade Clssica, sobretudo no antropocentrismo, a fim de resgatar valores que interessavam ao novo mundo urbano-comercial. Prpria das mudanas em curso e da negao do perodo anterior foi a denominao, dada ento Idade Mdia, de "Idade das Trevas". Descartando a imensa produo cultural do perodo anterior, o Renascimento caracterizou-se por ser essencialmente um movimento anticlerical e antiescolstico, pois a cultura leiga e humanista opunha-se cultura eminentemente religiosa e teocntrica do mundo medieval. No conjunto da produo renascentista, comearam a sobressair valores modernos, burgueses, como o otimismo, o individualismo, o naturalismo, o hedonismo e o neoplatonismo. Mas o elemento central do Renascimento foi o humanismo, isto , o homem como centro do universo (antropocentrismo), a valorizao da vida terrena e da natureza, o humano ocupando o lugar cultural at ento dominado pelo divino e extraterreno. Com o humanismo abandonava-se o uso de conhecimentos clssicos to-somente para provar dogmas e verdades religiosas, descartando-se a erudio medieval confinada nas bibliotecas ou na clausura dos mosteiros. Impulsionavase a paixo pelos clssicos greco-romanos numa busca de sabedorias e belezas "esquecidas" pela Idade Mdia.

FATORES GERADORES DO RENASCIMENTOAs transformaes econmicas do final da Idade Mdia, associadas ao processo de urbanizao e ascenso da burguesia, tornaram as concepes artstico-literrias feudais inadequadas. Novas exigncias afloraram, refletidas no desenvolvimento comercial e na nova sociedade urbana emergente, As primeiras manifestaes renascentistas apareceram e triunfaram onde essas transformaes j predominavam - na Itlia. Reaberto o mar Mediterrneo, com as Cruzadas, as cidades italianas de Florena, Veneza, Roma e Milo transformaram-se em grandes centros de desenvolvimento capitalista, motivo pelo qual apresentavam as condies necessrias para a germinao e proliferao do Renascimento. Alm disso, surgiram na Itlia os mecenas, ricos patrocinadores das artes e das cincias, que objetivavam no s a promoo pessoal, mas tambm proveitos culturais e econmicos. Destacaram-se como protetores das artes os Mdicis, em Florena, e os Sforza, em Milo. Os italianos contavam ainda com uma viva presena da cultura clssica, graas aos seus muitos monumentos e runas, o que contribua para o revigoramento de valores pr-feudais. Foi tambm a Itlia o principal plo de atrao dos sbios bizantinos, pensadores formados pela cultura clssica grega, que para l se dirigiam fugindo da decadncia do Imprio Romano do Oriente e das crescentes presses dos turcos otomanos.

Completando a imensa gama de componentes que detonaram o incio do Renascimento na Itlia, havia ainda as influncias dos rabes, povo que obtivera, ao longo dos sculos, enorme repositrio de valores da Antiguidade Clssica e que mantinha contatos comerciais com os portos italianos.

FASES DO RENASCIMENTOHouve precursores do Renascimento, como Dante Alighieri (1265-1321), natural de Florena, que escreveu a Divina comdia em dialeto toscano. Entretanto, apesar de sua obra criticar o comportamento eclesistico, Dante ainda apresentava fortes influncias medievais. O Renascimento italiano se imps efetivamente a partir do sculo XIV, estendendo-se at o sculo XVI. Chamamos de Trecento (os anos trezentos) a fase do sculo XIV, Quattrocento (osanos quatrocentos) a do sculo XV e Cinquecento (os anos quinhentos) o perodo mais criativo, que foi de 1500 a 1550.

O TRECENTO - SCULO XIVNas artes plsticas, a principal figura desse perodo foi Giotto (1266-1337), que rompeu com a tradicional pintura medieval e seu imobilismo, caracterizado por uma hierarquia rgida que determinava a importncia dos personagens pintados (Cristo sempre estava acima dos santos, era maior que os anjos e estes apareciam acima dos santos). Giotto fez do humano e da vida o foco de suas pinturas, dando s suas figuras um aspecto humano com traos de individualidade, destacadamente em So Francisco pregando aos pssaros e Lamento ante Cristo morto. Nas letras, o perodo caracterizou-se pelo uso da lngua italiana (dialeto toscano), embora ainda houvesse fortes influncias medievais. Dois autores se destacaram: Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375). Petrarca, considerado o "pai do humanismo e da literatura italiana", imprimiu em sua obra pica, De frica, marcantes traos dos clssicos greco-latinos. Apesar disso, em algumas obras, como nos poemas Odes a Laura, evidenciava-se ainda uma forte religiosidade crist medieval, aliada ao trovadoresco das canes dos cavaleiros do sculo XIII. Boccaccio o autor de Fiammetta, Filistrato e Decameran, conjunto de contos que ressaltam o egosmo, o erotismo e o anti-clericalismo, desprezando os ideais ascticos do perodo medieval.

O QUATTROCENTO - SCULO XVO entusiasmo pela cultura greco-romana fez renascer, na literatura desse perodo, as lnguas clssicas e o paganismo. Em Florena, foi criada a Escola Filosfica Neoplatnica, com o patrocnio do mecenas Loureno de Mdici. Na pintura, tiveram grande importncia os artistas de Florena, que introduziram a tcnica a leo. Dentre eles, podemos destacar Masaccio (1401-1429), que, embora tenha tido uma breve passagem pelo cenrio artstico de Florena, influenciou a pintura ao romper com resqucios da arte medieval, chamados de "gtico tardio". Deu aos seus trabalhos realismo, volume e peso, tomando da arquitetura e da escultura alguns de seus princpios bsicos. Conseguiu transportar para suas telas a geometria em perspectiva do arquiteto Brunelleschi e do escultor Donatello. Suas pinturas mais famosas so A expulso de Ado e Eva do paraso, Tributo, Distribuio de esmolas por So Pedra e Histrias de Ananias. SandroBotticelli(1445-1510)foi outro desta queda pintura renascentista. Suas obras apresentam figuras leves, tnues, quase imateriais traduz uma convico pessoal de que a arte antes de tudo uma expresso espiritual, religiosa, simblica. Seus personagens buscam a beleza neoplatnica e alcanam, em Nascimento de Vnus, a unio entre o paganismo clssico e o cristianismo. A nudez brilhante da deusa do amor no sugere o amor fsico, mas a inocncia, como que nascendo purificada das guas do Batismo. Alm de Nascimento de Vnus, suas telas mais famosas so Alegoria da primavera e Fallade e o centauro. Leonardo da Vinci (1452-1519),um dos humanistas mais completos do Renascimento, considerado figura de transio, pois viveu a metade do Quattrocento e o incio do Cinquecento .No primeiro perodo, quando Florena era o plo cultural da Itlia,a arte ainda imitava os modelos clssicos e predominava o uso das lnguas clssicas. No Cinquecento, Roma transformou-se no eixo renascentista, ao mesmo tempo que a lngua italiana era usada fluentemente assim como o latim e o grego. Predominavam nesse perodo a originalidade, a criao tanto na forma como no contedo, o que resultava numa arte prpria - fuso do clssico com o moderno. Ao longo de sua vida, a obra de Leonardo da Vinci incorporou as tendncias de cada um desses perodos e ele foi de pintor e escultor a urbanista e engenheiro; de msico e filsofo a fsico e botnico. Esboou inventos que s sculos mais tarde se concretiza-riam, como, por exemplo, o pra-quedas, o escafandro, o canho, o helicptero, etc. Suas telas mais famosas so Gioconda (Monalisa), Santa Ceia e Virgens das rochas. I O CINQUECENTO- SCULO XVI Nesse perodo, em que o uso da lngua italiana foi sistematizado, destacaram-se alguns escritores como: Francesco Guicciardini, com Histria da Itlia;Torquato Tasso,autor de Jerusalm libertada; e Ariosto, autor de Orlando, o

furioso. Entretanto, foi Nicolau Maquiavel (1469-1527) o iniciadordo moderno pensamento poltico, o maior expoente literrio do perodo. Em O prncipe, defende um Estado forte, independente da Igreja, um governo absolutista em favor do qual todos os meios so justificveis, estando a "razo de Estado" acima de qualquer outro ideal. Escreveu tambm a Histria de Florena, Discurso sobre a primeira dcada de Tito Lvio e a pea Mandrgora,considerada a mais perfeita obra teatral escrita em lngua italiana. Nas artes do Cinquecento, destacou-se Rafael Sanzio (1483-1520), um dos mais populares artistas da Renascena, que deixou uma imensa produo, apesar da morte prematura aos 37 anos. Destacam-se, entre seus trabalhos, os retratos dos papas Jlio 11e Leo X e a decorao de algumas salas do Vaticano. Tendo entre seus mais importantes trabalhos a Escola de Atenas, Rafael pintou ainda inmeras madonas - tema que fascinava os italianos -, mesclando elementos religiosos e profanos: "No so retratos de santas, porque a sensualidade eclipsa a emoo mstica que deveriam apresentar. E tampouco chegam a ser figuras humanas, porque, embora adorveis, sua beleza invadida por uma abstrao idealista Michelangelo Buonarroti (1475-1564), denominado o "gigante do Renascimento", pelo destaque de suas pinturas, esculturas, arquitetura e obra potica, foi outro grande artista do Cinquecento. Retratou com maestria a dor e a paixo, e sua maior obra foi o conjunto de afrescos pintados na Capela Sistina sobre passagens da Bblia, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. No final do sculo XVI, o Renascimento italiano entrou em vertiginosa decadncia, pois a expanso martima e as grandes descobertas, quebrando o monoplio comercial italiano no Mediterrneo, transferiram para o Atlntico o eixo econmico e comercial europeu. Por outro lado, os novos centros comerciais que emergiram impulsionara os valores renascentistas surgidos na Itlia. Ao mesmo tempo, emergiu na Itlia a Contra-Reforma, reao catlica a movimentos protestantes que teve em Roma seu centro difusor e que se indispunha contra as manifestaes culturais renascentistas. Uma das primeiras vtimas da Contra-Reforma foi Giordano Bruno (1548-1600), humanista queimado vivo como herege, por ter-se insurgido contra a concepo de que o universo feito de coisas fixas, criadas por um Deus transcendente, e ter defendido as concepes copernicanas de um universo infinito e ilimitado, em permanente transformao, que se confunde com o prprio Deus.

A EXPANSO DO RENASCIMENTONo conjunto dos pases europeus, o movimento renascentista no despertou com o mesmo mpeto, no demonstrou o apego ntimo aos clssicos, nem enfatizou o humanismo, como aconteceu na Itlia. Ao contrrio, espelhou caractersticas especficas em cada regio, desenvolvendo um humanismo bem aos moldes cristos: preocupao com problemas de ordem prtica, predominncia da tica sobre a esttica. A literatura e a filosofia tiveram maior destaque, em detrimento da pintura e da escultura.

PASES BAIXOSO progresso comercial dos Pases Baixos (Flandres e Holanda) e a sua posio privilegiada na Revoluo Comercial fizeram surgir nessas regies grandes renascentistas, como Erasmo de Rotterdam, os irmos Van Eyck, Hieronymus Bosch e Pieter Brueghel. Erasmo de Rotterdam (1466-1536), considerado o "prncipe dos humanistas", usou uma linguagem simples e elegante para esclarecer problemas teolgicos e superar a angstia metafsica da Europa de sua poca: devido tenso religiosa, criada pelo reformista protestante Lutero, vivia-se a contestao de valores cristos seculares, como a unidade da Igreja, a autoridade papal suprema. Alm disso, fervilhavam crticas ao comportamento eclesistico e a alguns pontos doutrinrios (o livre-arbtrio, a importncia da liturgia, etc.). Nesse contexto, desprezando as doutrinas escolsticas, Erasmo escreveu Elogio da loucura, obra em que denuncia algumas atividades da Igreja e a imoralidade do clero delineando a atuao da Reforma protestante. Entretanto, se por um lado estimulou o aparecimento do protestantismo, por outro, condenou a Reforma, pois defendia a tolerncia e a humildade como os caminhos mais sensatos para se alcanar o verdadeiro cristianismo. Erasmo condenou publicamente o reformador Lutero pela criao de novos dogmas que substituam os papais. Segundo o prprio Erasmo, "cada religio pode compendiar-se com uma s palavra: paz, e a paz religiosa somente pode existir limitando-se ao menor nmero possvel em definies teolgicas". Erasmo tambm autor de Adgios e Colquios, por meio dos quais critica a sociedade da poca, recorrendo a concepes clssicas, como o antropocentrismo. Numa passagem de Colquios, por exemplo, o papa Jlio II, personagem principal, encontra, aps sua morte, a porta do paraso fechada e ameaa So Pedro de excomunho caso no a abrisse imediatamente. O dilogo entre o papa e Pedro se faz como entre um prepotente pecador e a verdade pura da Igreja vitoriosa.

Na pintura flamenga, destacaram-se os irmos Van Eyck, com a tela Adorao do cordeiro, obra executada com a nova tcnica a leo. Sobressaiu tambm a pintura de Pieter Brueghel, que se singularizou pelo aspecto social impresso em suas telas, em que aparecem homens do povo e festas populares, como casamentos e feiras de aldeia. Destacam-se O alquimista, Banquete nupcial Dana campestre, Os cegos. Outro grande pintor do perodo foi Bosch, cuja obra considerada, no mnimo, como algo inquietante, um verdadeiro caleidoscpio, por exprimir sensaes que beiram o fantstico, os mistrios da mente humana, numa anteviso do surrealismo - escola artstica do sculo XX. Suas obras mais famosas so: As tentaes de Santo Anto, Carroa de feno e jardim das delcias.

ALEMANHANa Alemanha, a efervescncia artstica foi beneficiada pela Reforma luterana e pelas guerras que se seguiram. Os maiores expoentes na pintura foram: Albrecht Drer (1471-1528), autor de Auto-retrato, Natividade e Adorao da Santssima Trindade; e Hans Holbein (1497-1543), autor de Cristo na sepultura e de retratos de importantes personagens da poca, como Henrique VIII, Erasmo e Thomas Morus.

INGLATERRANa Inglaterra, o Renascimento s floresceu efetivamente no sculo XVI, aps a Guerra das Duas Rosas, quando despontaram os literatos Thomas Morus e William Shakespeare, seus maiores expoentes Thomas Morus (14761535), chamado o chanceler filsofo, era amigo ntimo de Erasmo de Rotterdam. Escreveu Utopia, obra em que descreve "um pais de lugar nenhum", onde as leis so poucas, a administrao beneficia, sem distino, todos os cidados, o mrito recompensado, a riqueza repartida e todos vivem uma vida perfeita. Utopia exalta a paz, a compreenso e o amor e condena a intolerncia, o desejo pelo poder e pelo dinheiro. Morus mescla em sua obra os ideais da civilizao clssica com os do cristianismo- forjando uma sociedade perfeita em decorrncia do uso da inteligncia e da razo. Foi com o teatro de William Shakespeare (1564- 1616), entretanto, que a Inglaterra mais se evidenciou no Renascimento. Suas tragdias conseguem traduzir verdades eternas, espelhando um gnio com liberdade de esprito e descrena nos dogmas. Nelas, o drama psicolgico faz vir tona a intensidade da alma humana com todas as suas mltiplas faces. Shakespeare firmou um trabalho que ainda hoje fascina artistas e platias em todo o mundo, seja em dramas como Romeu e Julieta, Otelo, Rei Lear, Macbeth e Hamlet, em dramas histricos como Ricardo 111, Jlio Csar e Antnio e Clepatra ou em comdias como As alegres comadres de Windsor. FRANA Rabelais demonstrou todo o talento do humanismo francs em Gargntua e Pantagrue, a comdia que satiriza a Igreja, a escolstica, as supersties e a represso, em oposio glorificao do homem, da liberdade e do individualismo. Na filosofia, Michel Montaigne com a obra Ensaios, expressou seu ideal de equilbrio: o sentimento de estar em harmonia com o universo aceitando-o como ele . ESPANHA A Espanha viveu do sculo XVI ao XVII um clima antagnico: de um lado, as riquezas das grandes navegaes, que poderiam favorecer o desenvolvimento cultural; de outro, o cristianismo, que o bloqueou com o movimento da Contra-Reforma. Mesmo nesse contexto contraditrio, despontaram artistas como o pintor Domenikos Theotokopoulos, conhecido como El Greco (1541-1614), cujas mais clebres telas so O enterro do conde Orgaz e Vista de Toledo sob a tempestade. No teatro destacaram-se Tirso de Molina (1571-1648), autor da dramatizao histrica Don Juan, e Lope de Vega (1562-1635), produtor de mais de duas mil peas, a maioria comdias. O maior escritor da Renascena espanhola, entretanto, foi Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de Dom Quixote, obra considerada a maior stira j produzida em todos os tempos.

PORTUGALPortugal, que viveu praticamente os mesmos problemas da conjuntura espanhola, apresentou um movimento humanista intimamente relacionado com as grandes navegaes. Por isso, foram expressivos a epopia, a historiografia e o teatro. Os ideais estticos do Renascimento chegaram a Portugal com S de Miranda (1481-1558), aps viagem Itlia. No teatro, Gil Vicente (1465-1536) destacou-se com seus autos, como o Auto da visitao e o Auto dos Reis Magos. Contudo, o maior brilho literrio coube ao poeta Lus Vaz de Cames (1525-1580), com seu pico Os Lusadas, a maior epopia em lngua portuguesa.

O RENASCIMENTO CIENTFICO

A efervescncia cultural da Renascena impulsionou o estudo do homem e da natureza. O Universo j no era mais aceito como obra sobrenatural, fruto dos preceitos cristos. O esprito crtico do homem partiu para a cincia experimental, a observao, a fim de obter explicaes racionais para os fenmenos da natureza. Surgem ento alguns cientistas de renome. Nicolau Coprnico (1473-1543), em De revolutionibus orbium celestium, refuta o geocentrismo ptolomaico, formulando a teoria heliocntrica que foi completada no sculo XVII pelo italiano Galileu Galilei (1564-1642). Tycho Brahe (1546-1601) faz observaes precisas sobre os astros e Johann Kepler (1571-1630) apontou o movimento elptico dos astros, preparando o caminho para a descoberta da lei da gravitao universal, de Isaac Newton (1642-1727). Na medicina despontaram Miguel Servet (1511-1553) e William Harvey (1578-1657), que descobriram o mecanismo da circulao sangnea - a circulao pulmonar pelas artrias e o retorno do sangue ao corao pelas veias. Ambroise Par (1509-1590) defendeu a laqueao (ligao) das artrias, em lugar da tradicional cauterizao, para deter hemorragias, e Andr Veslio (1514-1564) transformou-se no pai da moderna anatomia, publicando em 1543 o primeiro livro extenso sobre o assunto: Sobre a estrutura do corpo humano. Veslio atraiu estudantes de todo o mundo para as suas aulas em Pdua, fazendo da anatomia uma cincia. O Renascimento retirou da Igreja o monoplio da explicao das coisas do mundo. Aos poucos, o mtodo experimental passou a ser o principal meio de se alcanar o saber cientfico da realidade. A verdade racional precisava ser sempre comprovada na prtica, empiricamente (empirismo). Assim, apesar de a Reforma e a ContraReforma terem freado o mpeto renascentista, estavam lanados os fundamentos que derrubariam definitivamente a escolstica, fundamentada no misticismo. A crtica, o naturalismo, a dimenso humanista culminaram no racionalismo, no empirismo cientfico dos sculos XVII e XVIII. Dessa forma, as principais barreiras culturais do progresso cientfico foram suficientemente abaladas para no mais representarem ameaa ao progresso capitalista burgus em curso.