A crise de 1929 e a intervenção do estado na economia

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A Crise de 1929 e a Intervenção do Estado na economia Após uma época de grande desenvolvimento, os EUA foram atingidos, em 1929, por uma grave crise financeira que ficou conhecida como a Grande Depressão. Teve início na Bolsa de Nova Iorque e rapidamente alastrou a todos os sectores da economia nos Estados Unidos e a todos os países com os quais os americanos mantinham ligações financeiras. As economias capitalistas que haviam crescido com o crédito e a iniciativa privada sofreram as consequências do abuso do recurso ao crédito e da excessiva produção. Face à gravidade da crise, os governos dos países capitalistas resolveram intervir directamente na economia. Começaram por reduzir as despesas públicas, reduzir as importações e tentar aumentar as exportações, praticando uma economia protecionista. Nos EUA foi posto em prática o New Deal e na Grã - Bretanha e na França foram aplicadas medidas semelhantes, o que se revelou positivo para a economia. Agrupamento de escolas da Senhora da Hora 2 Janeiro de 2012

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Professor Nuno Faustino

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A Crise de 1929 e a Intervenção do Estado na economiaApós uma época de grande desenvolvimento, os EUA foram atingidos, em 1929, por uma grave crise financeira que ficou conhecida como a Grande Depressão.Teve início na Bolsa de Nova Iorque e rapidamente alastrou a todos os sectores da economia nos Estados Unidos e a todos os países com os quais os americanos mantinham ligações financeiras. As economias capitalistas que haviam crescido com o crédito e a iniciativa privada sofreram as consequências do abuso do recurso ao crédito e da excessiva produção.Face à gravidade da crise, os governos dos países capitalistas resolveram intervir directamente na economia. Começaram por reduzir as despesas públicas, reduzir as importações e tentar aumentar as exportações, praticando uma economia protecionista.Nos EUA foi posto em prática o New Deal e na Grã - Bretanha e na França foram aplicadas medidas semelhantes, o que se revelou positivo para a economia.

Agrupamento de escolas da Senhora da Hora 2Janeiro de 2012

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A crise americana de 1929

Os Estados Unidos foram atingidos, em Outubro de 1929, por uma grave crise financeira que se alastrou a toda a economia e se repercutiu em todo o mundo.

Os anos de 1922 a 1929 foram para os Estados Unidos uma época de extraordinário desenvolvimento económico. Para tanto contribuíram os novos processos de produção e de organização do trabalho (taylorismo, concentração de empresas) e o aparecimento de novas indústrias. O aumento espectacular de riqueza fez surgir um novo estilo de vida - o american way of life, caracterizado pela posse de bens materiais (carro, casa, electrodomésticos) e pelo gosto da dança, música, cinema e outras diversões públicas. Grande parte das compras eram feitas pelo recurso ao crédito, então muito facilitado.

A atmosfera de prosperidade dos anos vinte provocou uma grande euforia na opinião pública americana. Esse clima de confiança e optimismo na economia levou os bancos e muitos particulares a investir na compra de acções. Estas, entre 1926 e 1929, subiram de forma descontrolada, atingindo valores superiores aos lucros das

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empresas. Desta forma, deixou de se investir na produção para se aplicar os capitais na especulação, o que a breve trecho levou a consequências desastrosas.

Com efeito, nos inícios de 1929, os homens de negócios aperceberam-se de uma apreciável baixa na produção de aço, na construção civil e nas vendas de automóveis. Alguns, receosos, começaram a vender as suas acções. Este movimento cresceu ao longo do mês de Outubro e no dia 24, a "quinta-feira negra", o pânico atingiu a Bolsa de Nova Iorque. Então, cerca de 13 milhões de acções foram postas à venda e muitas, apesar de grandes quebras da cotação, não encontraram compradores. Foi o crash na Bolsa de Wall Street.

A crise bolsista provocou a crise bancária. Na verdade, muitos accionistas deixaram de poder pagar as suas dívidas à banca e outros retiraram os seus fundos. Em consequência, muitos bancos reduziram os empréstimos e outros declararam a bancarrota. De imediato, toda a economia foi afectada - as empresas, por falta de vendas, limitaram a produção e baixaram os preços. Muitas foram à falência e a maioria despediu trabalhadores.

Até fins de 1932, a crise acentuou-se, levando milhões de americanos à fome e à miséria.

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A dimensão mundial e a amplitude da crise

A crise norte-americana propagou-se rapidamente a todo o mundo capitalista e aos países subdesenvolvidos. A mundialização da crise económica ficou a dever-se, sobretudo, à retirada dos capitais americanos da Europa, à retracção do comércio internacional e à redução das compras de matérias-primas pelas nações industrializadas aos países subdesenvolvidos.

A crise americana de 1929 provocou uma depressão económica a nível mundial. Com efeito, todos os países, com excepção da União Soviética, que possuía um sistema económico diferente, foram afectados. Para esta extensão generalizada da crise contribuíram vários factores:

- peso da economia dos Estados Unidos no mundo - este país constituía a maior potência económica mundial e a que mais empréstimos tinha concedido a outros países;

- retirada dos capitais americanos no estrangeiro - com o eclodir da crise, os bancos e empresários dos Estados Unidos retiraram em massa os capitais que tinham colocado

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na Europa. Daí resultou uma crise bancária que, em 1931, levou à falência de grandes bancos austríacos e alemães e à desvalorização da libra inglesa. De imediato, por toda a parte, multiplicaram-se as falências e o encerramento das mais diversas empresas;

- retracção do comércio internacional - a saída maciça dos capitais americanos da Europa afectou a actividade económica nos países capitalistas e reduziu as suas compras no estrangeiro. Em consequência todo o comércio foi prejudicado;

- diminuição das compras de matérias-primas aos países subdesenvolvidos - os Estados Unidos e, depois, os países industrializados da Europa reduziram as suas compras de matérias-primas e produtos agrícolas aos países novos como, por exemplo, o café do Brasil, a lã da Austrália, os cereais da Argentina. Ora, como estes países baseavam as suas exportações nessas mercadorias, logo, viram limitadas as suas compras de produtos industrais.

Assim, em 1931-1932, a crise alimentou a própria crise: a quebra geral da procura provocou, a nível mundial, uma baixa dos preços (de 50% nas matérias-primas e de 30% nos produtos industrializados), da produção (cerca de 40% à escala mundial) e das trocas internacionais (em cerca de 30%). A quebra da actividade económica originou, por sua vez, uma grave crise social: aumento do desemprego que, em toda a parte, se tornou o símbolo dos "anos negros" que então se viviam e, rapidamente, contribuiu para a diminuição da população.

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A Grande Depressão da economia mundial

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Os problemas sociais: o desemprego

A grande crise de 1929-1932 provocou um enorme número de desempregados pelo que, nas cidades, uma multidão de pobres acorria aos refeitórios populares para receber sopa e pão.

A depressão de 1929-1932 causou um profundo impacto na sociedade, em particular a nível do desemprego. Com efeito, durante esse período, a falência de milhares e milhares de empresas (mais de 80 mil nos Estados Unidos) provocou, em todo o mundo, cerca de 30 milhões de desempregados. Os países mais afectados foram os Estados Unidos (onde 12 milhões de pessoas perderam os seus postos de trabalho), a Alemanha (6 milhões) e a Inglaterra (com 3 milhões).

Todos os grupos sociais foram atingidos pela crise. Para além dos operários e dos camponeses (os mais duramente afectados), as camadas médias da sociedade viram diminuídos os seus rendimentos com a rápida desvalorização da moeda. Os empresários, por sua vez, vítimas de falência, conheceram também sérias dificuldades

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económicas. Nos arredores das cidades ergueram-se os bairros de lata, de que são exemplo as Hoovervilles nos Estados Unidos.

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Os problemas sociais: a proletarização

Oferta de trabalho por 1 dólar por semana (Nova Iorque, 1930) -por toda a parte ofereciam-se serviços a baixo preço.

A miséria do proletariado e o empobrecimento da pequena burguesia provocaram grandes agitações sociais. Nas cidades, filas e filas de desempregados acorriam aos refeitórios populares e às instituições de assistência. Nos meios rurais, multidões de homens percorriam as estradas em busca de alimento. Todos ofereciam os seus serviços por baixo preço.

A depressão provocou, também, o descontentamento e a desconfiança no sistema político liberal e no capitalismo. Uns (atingidos pela miséria) inscreveram-se nos sindicatos e criticavam a iniciativa privada; outros (empobrecidos ou arruinados) engrossaram as fileiras de grupos políticos extremistas, defensores de governos ditatoriais. Assim, um pouco por toda a parte, a depressão pôs em causa o liberalismo económico e desacreditou a democracia. Alguns países enveredaram por soluções ditatoriais e outros, embora fiéis aos ideais de liberdade, viram aumentar a intervenção dos governos na economia a fim de ultrapassarem as dificuldades que se faziam sentir, tal como foi o caso de alguns países ocidentais.

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A Intervenção do Estado na economia

As tentativas de superação da crise

As medidas do governo britânico para superar a crise foram a limitação das importações e o fomento das exportações.

A gravidade e a extensão da crise no mundo capitalista obrigaram os governos a tomar medidas urgentes. As primeiras foram as tradicionalmente adoptadas pelo capitalismo liberal:

- Lançamento de tarifas alfandegárias para limitar as importações e favorecer as exportações;

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- Redução dos gastos públicos e dos salários para equilibrar os orçamentos e limitar o consumo;

- Aumento dos impostos e combate à fuga de capitais.

Contudo, estas medidas vieram agravar ainda mais a situação. Perante tal fracasso, os governos passaram a intervir mais directa e crescentemente na economia. Assim, os governos de União Nacional (coligação dos partidos conservador, liberal e trabalhista) na Inglaterra, da Frente Popular (coligação de socialistas, comunistas e radicais) em França e de Roosevelt nos Estados Unidos intervieram através de:

- Lançamento de grandes obras públicas e de subsídios a empresas para reduzirem o desemprego;

- Regulamentação da produção, dos salários e do horário de trabalho, de modo a relançarem o consumo;

- Desvalorização da moeda para favorecer as exportações.

Nos países de regime totalitário - como a Itália de Mussolini e a Alemanha de Adolf Hitler - os governos seguiram uma política de autarcia, isto é, de auto-suficiência em produtos agrícolas e industriais. Para isso:

- Reorganizaram as empresas fundamentais para a economia do país e protegeram-nas da concorrência internacional;

- Estimularam a produção das indústrias siderúrgicas, naval, química e aeronáutica a fim de reduzirem o desemprego e fortalecerem o poderio militar do país.

Uma e outra política económica combateram, mais ou menos eficazmente, os problemas económicos e sociais da Grande Depressão. A recuperação foi particularmente mais rápida na Inglaterra e mais lenta em França.

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A política do New Deal nos Estados Unidos

Campanha eleitoral de Roosevelt - O falhanço da política económica do presidente republicano Hoover levou à vitória do candidato democrata Roosevelt, em Novembro de 1932. O seu êxito eleitoral repetiu-se em 1936 e em 1940.

Em inícios de 1933, os Estados Unidos atingiram a fase mais crítica da Grande Depressão - mais de 30% da população activa encontrava-se desempregada e psicologicamente abatida. Com efeito, as medidas tomadas pelo presidente Hoover (1929-1933), como o aumento das taxas alfandegárias, o apoio a empresas em dificuldade e a limitação da imigração, tinham falhado. A massa de desempregados e de empresários falidos exigiam reformas económicas e sociais mais profundas.

O presidente que lhe sucedeu, Franklin Roosevelt (1933-1945), empreendeu uma nova política de combate à crise, o New Deal, isto é, "um novo acordo", uma "nova distribuição de rendimentos".

Uma vez eleito, Franklin Roosevelt criou uma equipa de trabalho que, progressivamente, lançou o New Deal. Este plano de recuperação económica e de repartição da riqueza do país constou de duas fases essenciais:

1ª) Entre 1933 e 1935, o New Deal teve uma orientação fundamentalmente económica: reorganizou-se o sistema bancário e financeiro, que esteve na origem da crise, criando-se para o efeito um seguro dos depositantes e um plano de controlo das emissões de acções da Bolsa;

- Reanimou-se a agricultura através da diminuição da área de produção e elevação dos preços;

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- Empreendeu-se uma série de obras públicas, com destaque para o TVA (Tennessee Valley Authority);

- Fomentou-se a indústria, através da fixação dos níveis de produção e dos respectivos preços de venda ao público.

2ª) Entre 1935 e 1938, o New Deal visou a melhoria das condições sociais - estabelecimento do salário mínimo, fixação do horário semanal do trabalho e atribuição de subsídios aos desempregados.

Assim, a política do New Deal teve como finalidades principais controlar o mercado financeiro do país (para impedir nova crise), reestruturar a agricultura e a indústria (para relançar a economia) e combater o desemprego (para melhorar as condições de vida das massas trabalhadoras).

Em 1939, apesar de alguns problemas sociais, a economia americana estava praticamente recuperada.