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possvel reconhecer cientificamente hoje, que a Criao no um mito? Pode-se afirmar, com toda certeza com base em fenmenos naturais evidentes, que o materialismo marxista, negador da Criao falso? Demonstram-no, de maneira brilhante, novas, imensas e insuspeitadas realidades naturais descobertas pela Cincia nestes ltimos vinte anos, as quais esto desvendando, diante de nossos olhos, um panorama absolutamente novo, inteiramente inimaginvel, capaz de envolver o Universo desde o tomo at a galxia, e o Reino da vida desde a molcula at ao organismo humano. um panorama imprevisto e imprevisvel, surpreendente e inquietante a um s tempo. Sucede hoje o que se verificou no passado: a humanidade encontra-se diante de uma curva ao longo de seu caminho; uma curva que atemoriza, pois no permite ver qual ser a meta. H trs sculos, a inveno do telescpio escancarou o Universo aos olhos dos homens, surpresos e atemorizados. Emergiram dos abismos dos espaos siderais mirades de estrelas e galxias. A Cincia encontrou-se perante o imensamente grande. Alguns decnios mais tarde, porm, foi inventado o microscpio. Desta vez foi o vasto mundo dos micrbios das bactrias, das clulas vivas que se desvendou aos olhos dos homens. A Cincia encontrou-se perante o imensamente pequeno. Agora somos (ns homens de hoje) os surpresos e consternados; somos ns que devemos aceitar enormes realidades naturais incrveis, aparentemente absurdas at. A inveno do supermicroscpio eletrnico escancarou aos nossos olhos uma terceira imensido. Na sua tela fluorescente podemos verificar o que sejam realmente as

A CRIAO NO UM MITOEDIES PAULlNAS Ttulo original: La Creazione non a una favola 'Edizioni Paoline, Roma, 1975, 2nd ed. Traduo Honrio Dalboseo Reviso Darei Helena Pires

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PREFCIO

clulas vivas e os microorganismos em geral. Esse formidvel aparelho demonstrou que nossos prestigiosos aparelhos e nossas mquinas mais sofisticadas nada mais so do que brinquedos infantis comparados com uma clula microscpica ou com uma bactria. 2 O submergvel atmico ou a astronave so bem pouca coisa comparado com um vermculo ou com um mosquito. Queremos gritar? Para nada serviria, pois no se volta atrs, como nunca se voltou; foroso avanar. um trauma doloroso que se repete na histria do saber humano. Devemos fazer todo o possvel para nos habituar a viver num mundo imensamente mais complexo ao que se apresenta aos nossos olhos e do que pode ser compreendido pela nossa mente. Vista atravs do microscpio eletrnico, uma folha j no uma folha; alguma coisa que no tem absolutamente nada de comum com a folha; uma extraordinria metrpole produtiva imensa na qual reinam soberanas na organizao e a ciberntica. No parece verdadeiro, no parece sequer imaginvel, no parece uma aquisio cientfica. No fcil aceitar ontem a idia da esfericidade da Terra, no fcil pensar hoje numa folha cheia de automatismos de computadores e de redes cibernticas. Diz-nos a Cincia que o corpo humano adulto compe-se de um conjunto ordenado de 60 trilhes de clulas vivas. So especializadas de forma a constiturem os seus diversos rgos. bom repeti-lo, entretanto: so 60 trilhes. Pois bem, o que uma daquelas clulas, uma s? V-se claramente e sem sombra alguma de dvida na tela fluorescente do supermicroscpio eletrnico. inteiramente

semelhante a uma prodigiosa fbrica, ultramoderna, imaginvel, no, porem, projetvel, inteiramente automatizada, portanto, em condies de funcionar sem nenhuma interveno exterior, e, alm disso, capaz de controlar toda a prpria atividade, ou seja, dirigir-se. Seu dimetro de apenas um centsimo de milmetro em mdia e, no obstante, possui numerosas mquinas, muitos dispositivos, sees de produo, cadeias de montagem e centrais energticas. 3 No tudo. Essa fbrica to fabulosamente complicada no poderia funcionar nem existir, no seria sequer imaginvel, sem um centro diretor capaz de coordenar toda a atividade e de fornecer todas as indicaes necessrias. A clula possui, portanto, o prprio centro diretor no seu ncleo. Esse centro est cheio de computadores adequadamente programados. A programao gravada em fitas apropriadas. o que tambm se verifica em nossas fbricas, nossos bancos, nossos laboratrios cientficos. Os computadores alcanaram hoje a fase adulta, podem guiar uma sonda espacial ou dirigir uma siderrgica. Ns, homens, porm, conseguimos finalmente compreender o que uma clula viva somente porque na dcada de 1920 descobrimos que os eltrons podiam ser utilizados tambm sem fio condutor. Passamos assim das aplicaes da eletricidade s aplicaes eletrnicas. Hoje podemos compreender que a clula exatamente automatizada e ciberntica, somente porque com os transistores conseguimos projetar e construir os elaboradores eletrnicos, os computadores, com os quais nos foi possvel iniciar a automao e a ciberntica.

Sem a eletrnica, sem os transistores, sem os circuitos lgicos e os circuitos integrados, sem o supermicroscpio eletrnico encontrar-nos-amos ai! E hoje na situao humilhante de ter pela cabea os mitos inventados no sculo passado, quando a clula parecia um grnulo de mucilagem. Diante dessas novas e grandiosas descobertas, a Cincia da dcada de 70 afirma que todo ser vivo realiza o prprio projeto. Primeiro existe o projeto, vem a seguir a programao gravada em fita DNA e por fim h o ser vivo. Ningum pode inserir-se no Reino da vida por iniciativa prpria no sentido em que ningum pode gerar-se por si prprio, ou ser gerado por uma fora mgica qualquer da matria como se acreditava em outros tempos. Todos os seres vivos devem derivar de seu projeto o ser construdo de acordo com a gravao de suas fitas DNA, antecipadamente programado. 4 Uma vez provado que a propriedade fundamental de todos os seres vivos sem excluso de nenhum a de ser dotados de um projeto, a Cincia chegou seguinte concluso: os tomos so projetados, as molculas so projetadas, as protenas so projetadas, os seres vivos so projetados, mas todos esses projetos menores integram um projeto de conjunto, total, o qual abrange tambm o Sistema Solar e todo o Universo. O tomo de hidrognio projetado de maneira a fazer brilhar o nosso Sol e de fornecer (ao mesmo tempo) energia a todo ser vivo a fim de que possa funcionar ser realmente vivo. projetado de maneira a fazer brilhar todo o Universo e a fazer funcionar todo ser vivo na terra. E talvez tambm em outros lugares. um milagre uma viso na qual o olho se perde atnito e a alma experimenta o tremor da comoo. a Criao que

surge em toda sua majestade no horizonte da conscincia humana pela primeira vez. D.E.R.

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I. UM DESAFIO INESPERADO INTELIGNCIA HUMANA"Todo ser vivo possui o prprio programa gravado em fitas DNA, mediante o qual se autoconstri e a seguir funciona. Desvenda-se assim o segredo da vida. No existe maior maravilha: DR. MARSHALL W. NIRENBERG, Prmio Nobel "O progresso da Cincia liquidar definitivamente a f religiosa". Existe em Moscou um instituto para o atesmo, que integra a Academia das Cincias. Elabora toda a intensa propaganda contra a religio, imposta pelo governo, e

prepara os programas para as escolas a fim de apresentar aos jovens uma viso exclusivamente materialista do mundo. Essa propaganda atinge as crianas desde o curso primrio. "As descobertas cientficas entram pela porta, enquanto a f religiosa sai pela janela". o que afirmam os incansveis propagandistas do atesmo na sua revista popular de grande tiragem Nauka i Religija (Cincia e religio). "O mundo de hoje o de Galileu, de Newton, de Darwin, de Pavlov e de Einstein. um mundo de progresso, de hipteses e de proposies arrojadas, destinadas traduo em termos experimentais. A Cincia est em desenvolvimento contnuo. Ajudou o homem a estender seu domnio alm de todos os limites da natureza. A religio pelo contrrio, somente obscurantismo; a droga da opresso social". "Com o auxlio da Cincia o homem inventou o microscpio, o telmetro, o rdio, a televiso, o radar e os crebros eletrnicos. Conseguiu tambm utilizar a energia do ncleo atmico e viajar pelo cosmo em astronave". "Podemos estar certos de que tudo isso nada mais do que uma etapa do progresso. Outras descobertas esto espera da Cincia futura, as quais desvendaro vastos e fascinantes horizontes. Planificando essas novas descobertas, o homem conseguir orientar suas atividades em termos puramente lgicos de vantagem material; ele se apoderar no somente das chaves do presente, pela primeira vez, mas tambm das do futuro". 6 "A vitria da Cincia materialista sobre o misticismo, delimitar o mundo exterior das impresses subjetivas, demonstrar que o homem uma das manifestaes da natureza, o resultado de longa evoluo dos seres vivos na Terra".

"A Cincia produzida pelo intelecto do homem, ao passo que a religio fruto da fantasia, da ignorncia e do medo. As doutrinas religiosas so ingnuas e fantsticas; contradizem a Cincia e a razo. A Cincia materialista Deus, no o velho Deus da Bblia, mas um Deus novo, que surgiu pelo poder do gnio humano, um Deus feito semelhana do homem, criado pelo homem". "No temos temor algum em afirmar que restam ainda muitos enigmas por resolver e que so muitas as interrogaes espera de uma resposta certa; mas estamos absolutamente convencidos de que o progresso da Cincia tudo esclarecer, tudo explicar com causas materiais; dar uma interpretao fisicista a todos os fenmenos naturais ainda envolvidos em mistrio, tornando definitiva e incontestvel a vitria do materialismo ateu". Todas as conquistas recentes da Cincia, no entanto, demonstraram exatamente o contrrio. Nem sequer uma delas deu razo ao materialismo ateu; todas demonstraram que a Criao no um mito. Examin-las-emos, embora brevemente, uma por uma. Comecemos por aquela que diz respeito ao nosso corpo e nossa vida na Terra. A Cincia descobriu que o corpo humano programado e, portanto, gravado em cdigo, em fita. Descobriu que cada um de ns se autoconstruiu no seio materno de acordo com a programao gravada nessa fita. 7 Mais: a Cincia descobriu que nosso corpo vive hoje de acordo com a programao fixada nessa fita.

Que significa isso? Significa que sem um projeto inicial, concebido antes do aparecimento do homem na terra e sem sua programao e gravao em fita adequada, ser-nos-ia impossvel existir. Se ouvirmos a voz de um cantor e os sons de uma orquestra, isso possvel graas gravao no disco. O cantor no est presente, mas o que ouvimos sua voz; tambm a orquestra no est presente, mas ouvimo-la igualmente. A Cincia descobriu, nas dcadas de 50 e 60, o "disco" e a "gravao" da vida. Quatorze Prmios Nobel j foram entregues aos principais artfices dessa nova e surpreendente aquisio do conhecimento humano. uma descoberta imensa, inteiramente inesperada, de importncia enorme. , qui, a maior de todos os tempos. Os cientistas so unnimes em afirmar que no pode existir no Universo alguma coisa de mais maravilhoso. No conseguem imaginar algo que possa superar esse prodgio da Natureza. Em nossos dias, o disco fonogrfico comea a chegar ao ocaso; substitui-o a fita magntica. O lugar dos toca-discos porttil foi tomado pelo gravador porttil. Vozes e sons, antes gravados em discos, so transmitidos ao verniz magntico de uma fita adequada, com alguns milmetros de largura e muito fina. enrolada em bobina para funcionar com o gravador ou com o toca-fitas. Tambm os programas radiofnicos so gravados antes em fitas magnticas para serem depois "postos no ar", ou seja, difundidos pelas antenas transmissoras. 8

A mesma coisa sucede com a TV. As imagens que vemos no televisor, so antes gravadas em fita magntica para serem depois "postas no ar", na hora programada. Pode parecer at impossvel que imagens luminosas e em movimento possam ser gravadas em fita magntica. um prodgio da eletrnica, a rainha de nosso sculo. E isso no s para a televiso em preto e branco, mas tambm para as cores. Imagens em movimento, luminosas e s cores, modulam o verniz da fita de vdeo, para aparecerem depois no cinescpio dos aparelhos televisores. Foram justamente essas conquistas da tcnica que possibilitaram a gravao em fita da programao de toda forma de vida, desde o microorganismo at o homem. Sem ela, ainda hoje seria impossvel compreender que na base da vida se encontra uma programao disposta de antemo e gravada em fita adequada, como descreveremos no captulo 3. A descoberta dessa programao, existente em todos os seres vivos, assombrou e desconcertou os cientistas. Com essa descoberta, o conhecimento humano alcanou um de seus vrtices, conseguiu desvendar o segredo da vida. A PRODIGIOSA FITA DNA Aquela fita, capaz de converter a matria inerte numa imensa gama de seres vivos, indicada com a sigla internacional DNA. Existe uma nica fita DNA para todos os seres vivos, e a gravao efetuada da mesma maneira para todos, quer se- trate de um lquen ou de um carvalho, de um vermculo ou de uma baleia azul.

Gravamos em disco ou fita, qualquer voz ou som; seja um tr-l-l infantil, seja uma grandiosa sinfonia musical. Sucede igualmente para a gravao da vida, de toda forma de vida, passada ou presente. 9 Os dinossauros autoconstruram-se, "funcionaram", viveram com base na mesma gravao, na mesma fita DNA que deu origem aos homens de hoje. Variou apenas a programao. Atualmente, a classificao dos seres vivos abrange cerca de um milho de espcies animais e 350.000 espcies vegetais. Existe um projeto e uma programao para cada um deles. Varia a programao, mas a gravao a mesma para todos, protistas, plantas, animais e homens. Foi com essa programao gravada naquela fita biolgica que teve incio a vida na Terra, e foi com essa programao que ela se difundiu no tempo, at aos nossos dias. A fita DNA imensamente fina. No visvel ao microscpio. Foi possvel v-la indiretamente, mediante uma tcnica nova, extremamente sofisticada, que permite ver as sombras dos tomos mediante a difrao dos raios X. Sua espessura de apenas dois milionsimos de milmetro, igual a dez tomos. Somos incapazes de imagin-la. tambm imensamente comprida, contrariamente no poderia conter a enorme gravao necessria para fornecer todas as indicaes tcnicas e as informaes indispensveis para construir um ser vivo, complicado como . A fita de um micrbio , em mdia, mil vezes mais comprida do que o prprio micrbio. Pode caber no micrbio, espiralada e enrolada, unicamente por ser imensamente fina.

A Cincia descobriu que na fita DNA acha-se gravada a programao completa de todo ser vivo. Contm todas as indicaes tcnicas para que o ser vivo possa antes autoconstruir-se e depois funcionar", ou seja, viver. De quem derivaria esse projeto, essa programao, essa gravao em fita biogentica? 10 Evidentemente, apenas de Algum que est acima da matria e da energia, acima da prpria vida e da natureza, alm do tempo e do espao. Somente de Deus Criador. UMA GALXIA PARA CADA HOMEM Que itinerrios cientficos foram percorridos para chegar descoberta, na Natureza, de uma realidade to imensa, to majestosa? As pginas seguintes desejam ser apenas uma narrao episdica dessa aventura do conhecimento humano. A primeira grande descoberta foi a seguinte: os seres vivos so formados de clulas como a matria de tomos. Sem tomos no existe matria, sem clulas no existe ser vivo. Os menores seres vivos, as bactrias e os micrbios, so constitudos de uma s clula. O corpo humano constitudo de um nmero imenso de milhes de clulas (figura 1).

resultado de uma subdiviso contnua de clulas. A primeira dividiu-se em duas; essas duas, em quatro e assim por diante. Quando viemos luz, nosso corpo recm-nascido era constitudo de 2.300 bilhes de clulas vivas, todas derivadas daquela primeira clula. Cada um dessas mirades possua seu prprio centro diretor com a programao de todo nosso corpo, gravada em 46 fitas DNA, acondicionadas em igual nmero de continentes, os cromossomos, unidos aos pares, metade de origem materna e outra metade de procedncia paterna (figura 6). 12

11FIGURA. 1 Algumas clulas vivas, cada uma das quais dispe de centro diretor (ncleo) provido de fitas DNA, nas quais est gravada a programao de seu funcionamento. Assim, o ncleo dirige e fiscaliza a atividade de cada clula. As clulas do sangue, indicadas embaixo, referem-se aos glbulos brancos.

Essa descoberta pode ser recuada ao ano 1675, quando Marcelo Malpighi, fundador da cincia da vida, perscrutando com um dos primeiros microscpios, conseguiu ver a estrutura ntima das plantas. Percebeu que so constitudas de nmero enorme de partculas fundamentais, s quais chamou utrculos. Sua descoberta antecipara-se demasiado aos tempos, e foi logo esquecida. Em 1838, o naturalista alemo, Matthias Schleiden, perscrutando as plantas com microscpio aperfeioado, percebeu nitidamente sua estrutura celular; redescobriu os "tomos da vida". Seu amigo Theodor Schwann, zologo, pesquisou tambm os organismos animais e descobriu que eles so constitudos de conglomerados de clulas. Toda clula deriva de outra clula; jamais uma clula se forma espontaneamente; a vida deriva sempre da vida. Nosso corpo teve incio de uma nica clula-ovo, menor do que o pingo do i. A autoconstruo de nosso organismo foi o

FIGURA 6 Esquema de clula viva tpica. So indicadas apenas algumas de suas partes mais importantes. O ncleo contm as fitas DNA, com a gravao de toda a programao. Os nuclolos so sees separadas e produzem os ribossomos. A fbrica constituda pelo retculo endoplasmtico. Os mitocndrios so geralmente algumas centenas. Toda a clula percorrida por canalculos, a fim de permitir o transporte de matrias-primas e dos produtos acabados, bem como a eliminao dos resduos para o exterior

No homem adulto, essas clulas so, segundo clculos oficiais, no inferiores a 60 trilhes. alguma coisa de imenso, sem dvida, mas ainda mais imenso que toda a programao da autoconstruo e do funcionamento do ser humano existe nas fitas DNA contidas em cada uma daquelas mirades ilimitadas de clulas, uma por uma. Cada qual possui o prprio centro diretor, que tudo dirige, coordena e verifica. As fitas DNA 13 esto contidas naquele centro (figura 5). Quarenta e seis fitas DNA multiplicadas por 60 trilhes para cada homem.

FIGURA 5 O supermicroscpio eletrnico mostrou que a clula viva, embora microscpica, , na realidade, uma prodigiosa fbrica ultra-automatizada e ciberntica, capaz de superar a fantasia mais arrojada. Fitas DNA e "robs" RNA so base do seu funcionamento.

UMA POPULAO DE CLULAS. Infelizmente, nossas possibilidades de imaginao so muito exguas. Na sua aventura atravs dos sculos, o homem sempre descobre alguma coisa 14 que o consterna. Hoje nossa vez de ficarmos perplexos e atnitos diante das novas e inimaginadas realidades, que ultrapassam a fantasia mais ousada. Sessenta trilhes de clulas vivas para cada homem e cada uma delas exige sua poro de oxignio para funcionar, quer o fornecimento adequado de substncias energticas para consumir, e pede substncias nutritivas para as necessidades metablicas, a fim de poder continuar em vida, para no morrer. Devemos respirar sem cessar, dia e noite, a fim de carrear o oxignio indispensvel a essa imensa populao de clulas vivas, igual a dos habitantes de 20.000 terras. Com a respirao devemos eliminar continuamente do corpo o gs anidrido carbnico, que o resduo da atividade orgnica das clulas. Nosso corao deve pulsar continuamente para bombear o sangue, carregado de oxignio, glicosdio e substncias nutritivas, a fim de chegar aos "habitantes daquelas 20.000 terras", sem esquecer um sequer. A organizao da

distribuio "a domiclio" das clulas perfeita. Baseia-se numa imensa rede de microscpicos vasos sangneos, os capilares; essa rede liga as vrias artrias s veias correspondentes; fecha o sistema circulatrio. Se os capilares dessa rede fossem unidos em linha um ao outro, teramos o comprimento de 95.000 quilmetros. Cada homem necessita de tantos capilares suficientes para dar volta a terra duas vezes, e ainda sobrariam 15.000 quilmetros. Os vasos capilares so formados de clulas vivas, como qualquer outra parte do corpo. Em mdia so necessrias dez para cada milmetro. No difcil calcular quantas so necessrias para construir toda a rede capilar. O comprimento total de 95.000 quilmetros igual a 95 milhes de metros, ou seja, 95 bilhes de milmetros. As clulas necessrias so, portanto, 950 bilhes, do total de 60 trilhes disponveis. Somente para o sistema circulatrio: corao, artrias, veias e capilares, 15 so necessrios 20 trilhes de clulas vivas. Outras 10 trilhes so necessrias para o sistema esqueltico, pois tambm nossos ossos so constitudos de clulas vivas, os ostecitos. J temos 30 trilhes de clulas. A seguir temos os outros sete sistemas de nosso corpo. O clculo de 60 trilhes est certamente muito prximo da realidade. ATIVIDADE AUTOMATIZADA Embora as clulas de nossos corpos sejam to numerosas, todas funcionam, todas executam algum trabalho til; nenhuma vive de rendas. As clulas do fgado, por exemplo, so laboratrios qumicos atarefadssimos. Algumas se ocupam da fabricao daquele

litro de blis de que precisamos para a digesto. Outras tm tarefa inteiramente diversa, no, porm, menos importante: devem reconhecer de vista e destruir todos os venenos e todos os micrbios que, a cada refeio, engolimos descuidadamente. Terminada a digesto, uma grande massa de partculas alimentares transferida do intestino para o fgado, mediante a veia porta. So bilhes dessas partculas. No obstante a quantidade, as clulas do fgado verificam-nas cuidadosamente uma por uma. Se existe entre elas um micrbio ou um elemento txico, imediatamente atacado e demolido. Seus restos so enviados aos rins, para que providenciem a eliminao pelas vias urinrias. Outras clulas, ao invs, so encarregadas de "tecer" protenas. Existem muitas protenas nos alimentos, mas nosso corpo quer suas prprias protenas, por isso demole tudo o que ingerimos e utiliza os componentes para preparar outras, as que lhe so necessrias. Trabalho enorme. Enfim, muitas clulas do fgado devem armazenar o acar glicosdio, ou seja, o combustvel necessrio para o organismo. Mas para fazer isso devem antes convert-lo em glicognio. A toda solicitao de "combustvel", devem reconverter o glicognio em glicosdio e envi-lo ao 16 corao, para que possa chegar a todo o corpo. Cada clula viva, porm, um automatismo. Como sabe o que deve fazer? Age no mbito de uma organizao mais vasta, em cuja base existe a gravao nas fitas DNA. Todo o trabalho a ser realizado disposto de antemo, portanto, programado e gravado naquelas fitas. CIBERNTICA

Para dar um ponto de apoio nossa imaginao, podemos comparar a clula viva a uma fbrica completamente automatizada e, portanto, capaz de funcionar sozinha, sem nenhuma interveno exterior (veja figura 5 na pgina 14). Os progressos da eletrnica e da automao permitem projetar, pelo menos teoricamente; uma fbrica desse tipo. Para p-la em ao, para faz-la funcionar e control-la, bastariam sinais eltricos gravados nas pistas de uma fita magntica. Esses sinais chegariam antes a um conjunto de elaboradores eletrnicos adequadamente programados, capazes de interpretar os sinais provenientes da fita e de convert-los em ordens de operao, as quais, tambm constitudas de sinais eltricos, chegariam aos rels e aos dispositivos mecnicos para a partida ou mesa das mquinas em repouso, mediante os aparelhos ou sistemas de transmisso. Assim, os sinais provenientes dos cabeotes de leitura do gravador, acionariam todo o ciclo produtivo da fbrica, em todos os seus mnimos pormenores. Um elaborador eletrnico vigiaria toda a atividade da fbrica, os produtos semi-elaborados e os acabados. Interviria imediatamente ao surgir alguma anomalia. De outra forma, seu funcionamento tornar-se-ia rapidamente catico e todo o sistema se autodestruiria. Uma fbrica assim automatizada seria ciberntica. 17 O princpio da ciberntica simples. Funcionando, a mquina ou o aparelho, produz um sinal eltrico. Enquanto tudo corre bem, esse sinal sempre o mesmo. Terminado o trabalho, ou fazendo- se necessrio outro material ou verificando-se um estrago, o sinal sofre uma alterao.

O elaborador eletrnico, encarregado da vigilncia da mquina ou do aparelho, verifica continuamente o sinal que recebe. Logo que percebe uma variao qualquer, interpreta-a e providencia para as ordens necessrias, de acordo com a programao. Uma fbrica assim projetada, desprezando os pormenores, seria inteiramente automatizada e deveria funcionar normalmente. No seria possvel projet-la de nenhuma outra forma. Programao, gravao em fita magntica, sinais eltricos, comandos operacionais e controles eletrnicos seriam a base dessa hipottica fbrica em condies de trabalhar sozinha, projetada por seres humanos, mas na ausncia deles. A CORRIDA DE PIONEER - 10 Outro exemplo de projeto programado e gravado em fita o das sondas interplanetrias e das astronaves. Sozinhas, sem a gravao inserida no elaborador eletrnico de ordem e de guia, no poderiam iniciar a corrida em torno da Terra, seguindo uma rbita preestabelecida, e muito menos alcanar a Lua ou um planeta. aquela gravao que substitui o grupo de cientistas que predisps seu lanamento no espao. como se estivessem a bordo. O feito do Pioneer-10 espetacular. uma corrida em direo aos limites do Sistema Solar; sair dele e lanar-se no Cosmo aberto. Leva uma mensagem para o povo extraterrestre ao qual, eventualmente, chegar. Corre numa rota csmica, como se estivesse sobre trilhos, com extrema preciso. Como se autoguia? Como pode correr atravs do Cosmo, como se estivesse sobre trilhos? Meses a fio, um grupo de cientistas do Centro de Estudos Ames da Nasa, em Mountain View, na Califrnia, alinhou cifras e fez clculos

para programar com exatido a rota csmica do Pioneer10. 18 prefixada para a durao de doze anos, com velocidade mdia de 120 mil quilmetros horrios. Prev a passagem atravs do Grande Ghoul Galctico, uma zona de meteoritos e poeira csmica. Abrange um percurso arqueado para transpor Marte, a 219 milhes de quilmetros. Os cientistas da NASA previram que o Pioneer- 10 teria alcanado Jpiter dia 3 de dezembro de 1974, passando a 140 mil quilmetros da sua superfcie. Naquele dia, sinais de rdio transmitidos da Terra puseram a funcionar suas duas tele cmaras. As imagens aproximadas do gigante congelado apareceram nos vdeos dos televisores nas Amricas e na Europa. A corrida do Pioneer-10 no espao vigiada continuamente pela NASA. Prossegue na rota estabelecida, graas programao previamente traada. Foi gravada em cdigo em fitas magnticas, inseridas depois num crebro eletrnico ultraminiaturizado, instalado a bordo. este crebro eletrnico que controla continuamente o percurso da sonda, confrontando-o com o programado. Utiliza algumas estrelas como pontos de referncia. Qualquer desvio da rota imediatamente compensado. Os onze instrumentos cientficos instalados a bordo do Pioneer-10 funcionam e continuam a recolher dados regularmente. Aparelhos de rdio transmitem incessantemente esses dados ao Centro Ames. Tambm a clula-ovo, que deu incio ao nosso corpo, autoguiou-se de maneira semelhante. Tambm ela serviu-se de uma programao preestabelecida, gravada em cdigo, em fitas, e confiada inteligncia "artificial" de seu centro

diretor. Nosso corpo recm-nascido, to logo veio luz, foi a primeira etapa de uma longa viagem, seguindo um itinerrio rigorosamente preestabelecido e controlado. Parece uma fbula; no entanto a realidade; uma realidade imensa, fantstica. 19

II. NOVOS PRODGIOS DA NATUREZA"As maravilhas de nossa tcnica esto ao nvel de brinquedos infantis, se comparadas com as da Natureza: DR. GEORGE WALD, Prmio Nobel "O menor e mais simples ser vivo, um microorganismo constitudo de clula nica, e imensamente mais complexo e mais bem organizado do que qualquer dos nossos crebros eletrnicos, ou do que qualquer outro aparelho, ainda que seja uma astronave. Seria comparvel somente a uma prodigiosa fbrica ultraautomatizada e ciberntica, capaz de dirigir e fiscalizar toda a sua prpria atividade, e, portanto, em condies de funcionar completamente sozinha, e, alm disso, capaz de providenciar os concertos de eventuais estragos, se fosse possvel projet-la e constru-la. Um submarino atmico ou a instalao de um centro telefnico de discagem direta a longa distncia para toda uma nao so bem pouca coisa diante de uma ameba. So quase nada diante de um organismo pluricelular como, por exemplo, um vermculo ou um fio de erva. o que hoje afirmam todos os cientistas, todos indistintamente, qualquer que seja a nao qual pertencem.

"O corpo humano, formado como de 60 trilhes de clulas vivas, cada uma das qual fabulosamente complicada, uma galxia viva. Consegue autoconstruir-se sozinho, partindo de uma nica clula, de acordo com a programao de tudo o que deve ser feito, gravada nas fitas DNA, reunida no seu centro direcional, o qual providencia o fornecimento de todos os 'planos de construo', para projetar a construo dos vrios rgos, a coordenao da sua atividade e para tornar eficiente todo aquele imenso sistema biolgico". Os cientistas chegaram a essas surpreendentes e desconcertantes concluses, aps o advento do supermicroscpio eletrnico. 20 Com esse novo formidvel instrumento de observao, uma microscpica clula viva torna-se do tamanho de um boi, uma folha assume as dimenses de uma cidade. Visto, ao invs, ao microscpico tico, aumentado 1000 ou ao mximo 2000 vezes, um micrbio sempre um micrbio, um fio de erva sempre um fio de erva. Vistos, porm, ao supermicroscpio eletrnico, aumentados 200.000 vezes, at 800.000 vezes, o micrbio e o fio de erva so alguma coisa de inteiramente diferente, alguma coisa que no tem absolutamente nada de comum com eles. UM MUNDO NOVO O que se v, ao pr os olhos no binculo do supermicroscpio eletrnico, alguma coisa nunca vista, um mundo novo que atordoa e tolhe a respirao. O supermicroscpio eletrnico o novo olho da Cincia. Sua potncia igual de um grande telescpio. A luz j no luz, para tudo o que existe sob certa ordem de grandezas. Isto , j no ilumina o que pequeno alm de certo limite; no ilumina um vrus e uma protena.

Os raios eletrnicos, como os empregados para a televiso e o radar, possuem comprimento de onda mais curto do que o da luz, conseguindo assim "iluminar" tambm o vasto mundo submicroscpico, impenetrvel luz. Para os raios eletrnicos necessria a tela fluorescente e por isso que o supermicroscpio eletrnico se baseia no mesmo princpio do televisor, embora inteiramente diverso e de dimenses muito maiores. H alguns sculos, antes da inveno do microscpio tico, era impossvel imaginar que todos os seres vivos so constitudos por microscpicas clulas funcionando por prpria conta. Semelhante idia teria parecido simplesmente absurda. 21 Aps a inveno do microscpio tico, tornou- se evidente que a vida se baseia nas clulas. Que as clulas vivas, porm, so prodigiosas fbricas ultra-automatizadas, programadas com a gravao em fitas e providas de inverossmeis redes cibernticas de fiscalizao, no podia passar pela mente de ningum. Os grandes telescpios mostram-nos as imensas galxias disseminadas pelo Universo. Com eles adquirimos o conhecimento do imensamente grande. Os supermicroscpios eletrnicos escancaram aos nossos olhos um universo novo, insuspeitado, o do infinitamente organizado, o universo das clulas vivas. Diante de tudo o que existe em nosso Universo, tudo o que nossa tcnica nos pode oferecer acha-se ao nvel de brinquedos de criana. Essa verificao ps em crise a prpria Cincia. REALIDADE FABULOSA Como possvel que a clula viva seja uma prodigiosa fbrica ultra-automatizada e ciberntica? Como possvel

que seja fabulosamente to complexa a ponto de rebaixar em nvel de brinquedo de criana uma astronave ou uma central telefnica de discagem direta distncia? Ela o por numerosas razes, uma das quais, que se comporta como uma fbrica automatizada capaz de preparar todos os seus engenheiros, todos os tcnicos e todos os operrios dos quais tem necessidade... Se assim no fora, quem receberia as ordens emitidas continuamente pelas fitas DNA? Quem se encarregaria de ler as informaes tcnicas nelas transcritas? Quem executaria o trabalho de acordo com o planejamento preestabelecido? Quem se ocuparia dos "projetos construtivos" transcritos nas maravilhosas fitas DNA? Por quanto maravilhosas sejam, sozinhas essas fitas DNA, com a transcrio em cdigo da forma que deve receber um organismo vivo e de como deve funcionar, para nada serviriam. 22 Seriam iguais a pacotes de desenhos tcnicos relativos construo de um avio a jato, jogados em pleno deserto; consumi-los-ia a areia. Podia a Criao dispor inteiramente o projeto de antemo, program-lo e grav-lo em fitas adequadas, para depois no se interessar absolutamente de todo o resto? Eis por que a clula viva base de toda: forma de vida - uma fbrica automatizada, funcionando (os engenheiros, tcnicos e operrios tambm. automatizados. Funciona com robs. Esses robs so designados com a sigla internacional RNA. So os robs - RNA da clula.

So iguais em todos os seres vivos. Os robs- RNA de um micrbio so absolutamente iguais aos de um elefante. Os de um rato so exatamente os mesmos de um homem. Como existe uma nica fita DNA para todos os seres vivos da Terra, assim existe uma multido de robs - RNA iguais para todos, micrbios, plantas, animais e homens. Sendo nica a fita DNA, nica a gravao e nico o cdigo empregado na transcrio, tambm os executores no podem ser seno nicos para todos. Mais: a prpria fita DNA a geradora dos robs - RNA. Enquanto a fita magntica de nossos gravadores produz sinais eltricos, a fita DNA produz robs. Em nossos gravadores, os sinais eltricos fluem atravs de fios condutores, circuitos e transistores, chegando por fim bobina mvel do alto-falante. Na clula viva, ao invs, o que corre, o que est em atividade so os robs-RNA. So eles que preparam tudo o necessrio para que o dispositivo biolgico possa funcionar, eles que constroem ferramentas de trabalho e mquinas-utenslios. 23 Pode parecer absurdamente fantstico, mas realidade que estamos apalpando. Como poderia funcionar a fbrica prodigiosa que a clula viva, sem seus robs - RNA? ROB - RNA A fbrica inteiramente automatizada, capaz de funcionar sozinha, que imaginamos no captulo anterior, dispensava os robs. Os robs eram, na realidade, substitudos pelos servomecanismos, pelos rels, pelos dispositivos de comando acionados por sinais eltricos emitidos pelos elaboradores eletrnicos. Os sinais eltricos exigem, porm, fios condutores, uma rede imensa de coligaes. A clula

viva dispensa-os. Gera robs em lugar de sinais eltricos. Os robs comportam-se como se fossem inteligentes, visto estarem inseridos na organizao. Quando se tornam desnecessrios, so demolidos. o sistema produtivo mais racional que se possa imaginar. Faz-se necessrio exigir determinado trabalho, por exemplo, produzir uma dos milhares de protenas 'de que a clula precisa? Pode ser constituda, por sua vez, por um milheiro de partes componentes menores. Que faz a clula viva para ordenar a montagem de todos esses componentes? Parte de um "projeto de construo" gravado numa das fitas DNA, a qual indica a seqncia linear exata das conexes dos componentes. gerado um RNA tcnico, capaz de levar fbrica o "projeto de construo". uma espcie de chefe de seo com poderes para fazer os RNA - operrios trabalharem. A fita DNA e o cromossomo que o contm so organizados de forma a gerarem aquele RNA-tcnico com toda facilidade. Dispem do material necessrio e tambm de meios operacionais adequados. 24 O RNA-tcnico traz a marca exata do "projeto de construo" presente na fita DNA. Um estratagema permite evitar que seja confundido com o prprio DNA. Tudo meticulosamente previsto. O RNA-tcnico sai do centro diretor e vai fbrica, a fim de mandar preparar a protena. indicado com o termo internacional Messenger-RNA. A sigla empregada m-RNA. o rob mensageiro.

Tambm os robs-operrios' so produzidos pelo centro diretor, gerados em nmero adequado pelas fitas DNA, de acordo com a natureza da produo de conjunto, da clula inteira. Somente os m-RNA so produzidos um por um. Para a montagem de uma protena basta um RNA-tcnico e um ou mais grupos de operrios-RNA. Os RNA-engenheiros so postos em ao somente ao se tratar de construes mais complicadas, como a seguir se ver. UMA FBRICA PRODIGIOSA Que poderiam fazer sozinhos os robs-RNA? Nada absolutamente. Como poderiam executar o trabalho confiado a eles? So maravilhosos, mas a clula em que trabalham no o menos. Todas as estruturas dessa "fbrica" maravilhosa funcionam, todas so automatizadas, todas esto sob as ordens e a fiscalizao do centro diretor. Essas estruturas so, na realidade, aparelhos tais que substituem todas as mquinas e todas as obras de alvenaria de uma nossa fbrica. A clula viva tpica tem forma esferoidal. Assemelha-se a um conjunto industrial construdo no interior de uma esfera com o ncleo direcional no centro. Em torno do ncleo est a fbrica. Longas e amplas paredes, colocadas uma em seguida outra, so as sees onde trabalham os robsRNA (figura 6, pgina 13). 25 Voltemos protena a ser preparada. O m-RNA com o "projeto de construo" est pronto. Sai do centro. A fbrica est em plena atividade. Uma espcie de "crebro eletrnico" vigia tudo, sabe onde existe um lugar livre. Envia o m-RNA parede tal, ao ponto tal, onde h aquela vaga. O m-RNA alcana o lugar designado. A parede prende-o imediatamente e desdobra-o em todo o seu comprimento.

A parede deve necessariamente desdobr-lo e ret-lo firmemente Toda a construo da protena executada sobre ele, que a base sobre a qual realiza o trabalho. Os robs-operrios acorrem imediatamente. Primeira coisa a fazer: correr ao almoxarifado e pegar as primeiras partes componentes, para com elas iniciar a montagem da protena. Os robs encarregados do transporte so designados com o termo transfert-RNA. Sua sigla t-RNA. Outros robs devem juntar as partes componentes, soldlas, de sorte a formar um todo nico. So os ribossomal-RNA, os r-RNA. O Messenger-RNA estendido semelhante cadeia de montagem de uma fbrica de automveis. muito comprido. Um aspecto surpreendente da imensa organizao em atividade numa clula viva queo messenger-RNA comporta-se tambm como um monotrilho retilneo. A parede sobre a qual fixado encarrega-se de colocar no mono trilho um veculo com trs assentos. No uma fbula. 26 O centro direcional no produz somente todos os operrios necessrios, mas prepara tambm vagonetes adequadas para os operrios, enquanto trabalham ao longo da cadeia de montagem.

As paredes da fbrica tm sua disposio os robsoperrios e as vagonetes de trs assentos, adaptados para correr no monotrilho. As vagonetes so tambm sees de montagem. Sua importncia fundamental na organizao produtiva da clula viva. As vagonetes so designadas pelo termo ribossomos. Consistem de duas partes, uma motora, em contato com o monotrilho, e outra com funo de habitculo para os trs tRNA. Os ribossomos so preparados numa seo especial do centro direcional. Denomina-se nuclolo. Ao supermicroscpio eletrnico v-se a fbrica da clula constituda de grande nmero de paredes, e vem-se distintamente os ribossomos fixados nelas. Em mdia, os ribossomos so uma dezena de milhares. No sem razo os primeiros cientistas que viram o interior de lima clula viva e verificaram ser uma fbrica organizada daquela forma, ficaram estupefatos e atnitos. Ns no podemos sequer imaginar aparelhos automatizados capazes de ordenar a construo de robs-tcnicos, robsoperrios, vagonetes-sees de montagem correndo num monotrilho. Estamos imensamente longe da fronteira absoluta da tcnica da Natureza, parte integrante da Criao. O ROB - RNA TRABALHANDO Comea a montagem da protena. O Messenger-RNA colocou o ribossomo no monotrilho. Trata- se agora de pr no lugar o primeiro dos mil 27

componentes. necessrio imediatamente um t - RNA, o encarregado do transporte daquele primeiro componente. Existe um t-RNA para cada componente. O t-RNA entra no ribossomo e toma o seu lugar. Pode fazlo, porque isso o que exige o "projeto de construo". Segura o componente fora do ribossomo. Entra imediatamente um segundo t-RNA, o que traz o segundo componente pedido pelo "projeto de construo". Tambm este segura o componente fora do ribossomo. Intervm imediatamente um r-RNA, que solda os dois componentes. Para fazer isso usa um aparelho de soldar apropriado, que uma das muitas enzimas utilizadas na fbrica. designado pelo termo peptidyl transferase. Para fazer uma soldagem no basta um utenslio, mas preciso tambm energia, fora. O r-RNA, alm de usar aquele utenslio, emprega tambm energia orgnica armazenada num continente adequado. Esse continente de energia indicado com a sigla internacional ATP. um continente Universal de energia orgnica. Em todos os seres vivos na Terra, sejam de nossa ou das eras pr-histricas, existem idnticos DNA, idnticos RNA, idnticos ribossomos, bem como idnticos ATP. Enquanto se efetua a soldagem dos dois componentes, entra no ribossomo o terceiro t-RNA, com o terceiro componente exigido. To logo a soldagem estiver terminada, o primeiro t-RNA est livre; sai do ribossomo e vai ao almoxarifado buscar outra carga.

Nesse mesmo instante, o ribossomo pe-se em movimento. Avana um passo no monotrilho da cadeia de montagem. Enquanto o r-RNA efetua a segunda soldagem, entra outro t-RNA com o quarto componente. O ribossomo avana mais um passo. 28 Forma-se assim uma primeira parte da protena, que sustentada pelo ltimo t-RNA de turno, com o auxlio da parede. Essa parte de protena denominada cadeia peptdica. TUDO ULTRA-AUTOMATIZADO Em nossas fbricas, o tempo dividido em minutos; na clula viva dividido de maneira extremamente mais rpida, em microssegundos. Vista por ns, a atividade da clula parecer-nos-ia rapidssima. No obstante, a montagem de uma longa protena, com milhares de componentes, executada por mais de um grupo de RNA. A parede encarrega-se de colocar no mono trilho do m-RNA, quatro, cinco ou- mais ribossomos, a intervalos regulares, de modo a obter mais cadeias peptdicas simultaneamente. a prpria parede que depois se encarrega da conexo delas, com r-RNA apropriados, constituindo assim uma cadeia nica. A protena no est ainda acabada. Deve passar por outra seo a fim de assumir a forma necessria. ainda a parede que se encarrega da transferncia. Fica-se boquiaberto ao observar, ao supermicroscpio, todo o desenvolvimento enorme daquelas paredes da fbrica que so chamadas, com termo antiquado, de membranas. Possuem uma parte exterior, sobre a qual se realizam as elaboraes, e uma parte interna, para depsito de materiais e utenslios de trabalho. Entre uma membrana e outra existe uma como que vescula achatada, cheia de lquido citoplasmtico. O conjunto das vesculas forma a

rede de comunicao da fbrica; a rede alcana o ncleo direcional por um lado e o exterior da clula por outro. Ao longo da rede acham-se os almoxarifados de matriasprimas e os de "combustvel", ou seja, glicosdio. So denominados vacolos (figura 7)

O lquido flui em sentido nico, tendo sido, por isso, aventada a hip6tese de que agiria como sistema circulatrio, participando da assuno de diversas substncias do ambiente exterior, do transporte interno dos produtos semi-acabados e dos acabados, bem como da expulso dos resduos da clula. O conjunto denominado sistema vacuolar. Toda a instalao industrial estuante e dinmica chamada retculo endoplasmtico. A abreviatura internacional ER. 30 Essa rede enorme de membranas, de canalculos e vacolos parecia, vista aos primeiros microscpios, semelhante a um retculo. O termo ficou. As ativssimas membranas esto sujeitas ao desgaste e devem ser substitudas. Esto em conexo com uma seo apropriada da fbrica, na qual so preparadas continuamente novas membranas. Ao supermicroscpio vem-se as que esto em atividade recobertas de ribossomos, ao passo que as novas, espera de entrar em servio, no os possuem. O grupo das membranas novas forma o complexo de Golgi." Grupos de RNA apsitos so encarregados da demolio imediata de tudo o que na fbrica posto fora de uso. Tambm o Messenger-RNA que trouxe ao ER o "projeto de montagem" de nossa protena, foi imediatamente demolido, destrudo, logo que ela ficou pronta, para que sua presena no causasse confuso. Redes cibernticas apropriadas fiscalizam tudo o que ocorre na clula. Milhares de protenas, dos mais diversos tipos, preparadas contemporaneamente ao longo das membranas do ER, de acordo com os projetos de construo. Os messengers-RNA so equipados de igual nmero de

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FIGURA 7 Uma zona da clula viva vista ao supermicroscpio eletrnico, ampliada 80.000 vezes. No alto, esquerda, se v uma parte do ncleo diretor. Debaixo dele, uma parte da "fbrica", isto , do retculo endoplasmtico, formado por longas membranas (vistas em seo), ao longo das quais esto dispostos os ribossomos. Vem-se alguns mitocndrios e alguns vacolos.

tcnicos- robs; outros milhares de grupos de t-RNA e de rRNA encarregam-se da execuo do trabalho, dentro dos ribossomos que se movimentam nos mono trilhos das cadeias de montagem. Em outras sees, entrementes, so reunidos tomos para a obteno de partes componentes a serem estocadas nos almoxarifados. Tudo se processa rpida e corretamente, sob a direo do centro e sob a vigilncia dos instrumentos cibernticos de verificao. Que dizer de tudo isso, se tivermos presente que a ultraautomatizada e fabulosamente complicada clula viva mede, em mdia, 10 centsimos de milmetro?

Foi o bilogo alemo Hans Spemann quem os descobriu em 1918. Recebeu o prmio Nobel. No sabemos ainda o que sejam os organizers e como agem. Indubitavelmente so dirigidos pelas fitas DNA, visto que nelas est gravada toda a programao. provvel que sejam tambm produzidos pelos DNA. CONSTRUIR UM SER VIVO (figura 8)FIGURA 8 A formao de um pintinho completamente programada e gravada em fitas DNA, contidas nos cromossomos do centro germinativo do ovo. As ordens dadas pelas fitas DNA so executadas pelos RNA e pelos organizers. Tudo corre de maneira extremamente exata, sob a vigilncia contnua das redes cibernticas

31 ORGANIZERS Quando a "construo" a ser feita complicada, os robsRNA no bastam. Eles "trabalham" no interior da clula viva, na sua "seo industrial", o retculo endoplasmtico, e por toda parte onde seja necessrio, mas no alm dos limites da clula. Podem produzir complicadas molculas proticas, mas no podem ser empregados na "construo" de grandes sistemas biolgicos, como pode ser um fio de erva ou, em nvel muito mais elevado, um pintinho. . Entram ento em atividade os engenheiros do DNA, os organizers que providenciam a montagem das clulas especializadas, de sorte a obterem rgos que funcionam. curioso que os organizers tenham sido descobertos cerca de quarenta anos antes dos RNA, quando ainda no se sabia nada das fitas DNA. Eles so mais volumosos e movimentam-se no exterior das clulas, sendo assim mais visveis.32

Os olhos esto no lugar. Formados exatamente como necessrios para poderem captar os raios da luz, possibilitar s imagens de se formarem na retina e serem transmitidas. Fitas DNA, robsRNA e organizers esto construindo, com o ritmo preciso de um cronmetro, aquilo que ser um pintinho, no interior de um ovo. Conseguem realizar um prodgio inimaginvel: converter as substncias orgnicas existentes na gema e na clara, nas inumerveis partculas que compem o pintinho e as colocam todas no lugar exato. Com aquelas substncias constroem ossinhos, fibras nervosas e fibras musculares, alvolos pulmonares, clulas epiteliais etc. Depois utilizam- -nas automaticamente, de acordo com as ordens emitidas pelas fitas DNA, comunicadas pelos organizers. Com as fibras musculares constroem um corao, com seu complicado e engenhoso mecanismo de ventrculos e com seu admirvel jogo de vlvulas, a fim de que possa dilatar-se e contrair- se harmoniosamente. 33 O que acontece no interior do ovo, graas obra daqueles artfices invisveis, semelhante a uma exploso vista em cmara lenta. Milhes de passagens sucedem-se com base em seqncias rigorosamente preestabelecidas. H sempre as substncias certas, no lugar certo, no momento certo. Ao dcimo segundo dia de trabalho incessante, todas as partes principais do pintinho esto prontas. Seus ossinhos j foram construdos e colocados numa nica estrutura bem ordenada. Dois dias depois, comea a aparecer a penugem amarela sobre a pele. No dcimo oitavo dia, com a cabecinha dobrada sobre o peito, o pintinho comea a piar debilmente. O que tero feito os robs-RNA e os organizers para produzir todo o necessrio e realizar a construo? "Um pintinho - afirmam os cientistas - muito mais complicado do que um avio a jato". Tudo isso ultrapassa os limites dentro dos quais as comparaes possuem significado e est alm de todos os graus correspondentes as nossas idias de progresso. FUNCIONAMOS COM A ENERGIA DA LUZ Tudo posto a funcionar com energia apropriada, predisposta exatamente s necessidades da clula viva. Mas a clula, enquanto viva, no pode dispensar a energia? talvez um motor? outro imenso prodgio da Natureza, que a Cincia de nossos dias ps em evidncia. Para nada serviriam as eficientssimas fitas DNA e os robs - RNA; os ribossomos ficariam imveis; toda a "fbrica" da clula viva ficaria paralisada, como tambm seu retculo endoplasmtico, sem uma energia 34 seria a prodigiosa fbrica ultra-automatizada que . No teria possibilidade de existir. O que lhe fornece energia? Sabemo-lo muito bem: o Sol que fornece energia a toda a vida na Terra. As plantas captam a energia contida nos raios solares, inserindo-a em continente apropriado: a molcula de acar glicosdio. a "gasolina" dos seres vivos. No se vive na Terra, se falta essa "gasolina" e se no se estiver em condies de utilizla.

A energia de a luz solar est base de toda forma de vida. Desde o micrbio at ao homem, todos utilizamos essa energia para viver, todos "corremos com a fora da luz solar"; todos somos mais ficcionistas cientficos do que imaginamos. Qual o processo para colocar a energia solar num continente? Os plastdios c1orofilianos das folhas so aparelhos capazes de executar esse prodgio. Encontram- se em clulas vivas apropriadas, organizadas para esse fim e colocadas na parte superior, exposta luz. Cindem as molculas de gua nos seus componentes: dois tomos de hidrognio e um de oxignio. Os raios de luz energizam o eltron dos tomos de hidrognio. Energizados, os tomos formaro o acar glicosdio, juntamente com o anidrido carbnico previamente tomado do ar. o processo da fotossntese. Os plastdios c1orofilianos so complicadssimos aparelhos qumico-eletrnicos. Por terem conseguido entrever parcialmente o seu funcionamento, Hans Krebs e Melvin Calvin receberam o prmio Nobel. A energia da luz , portanto, convertida em energia eletrnica. Essa eletrnica de que tanto hoje nos orgulhamos, foi utilizada pelos seres vivos desde que comearam a existir na Terra, desde h 2,2 bilhes de anos at hoje. Com essa energia as plantas funcionam; com ela funcionam tambm todos os animais e todos os homens; A ns chega-nos juntamente com os farinceos e em maior ou menor quantidade com todos os outros elementos. 35 A ENERGIA DA VIDA Seriam eletrnicos os seres vivos? No. A energia eletrnica seria incapaz de faz-los funcionar. necessria uma energia muito mais "fina", predisposta exatamente para os microscpicos aparelhos biolgicos; a energia orgnica,

64 vital, metablica, acondicionada adequados, aos quais aludimos, ATP. As prprias clulas vivas que captam os raios da luz e lhe extraem a energia, para funcionarem devem converter essa energia na outra, a orgnica. Tambm estas a extraem das molculas de ATP, que elas mesmas carregaram. Para converter a energia eletrnica na energia vital do ATP, so necessrias "centrais eltricas" (figura 5, pgina 14). So chamadas mitocndrios(figura 6, pgina 13). Existem "mitocndrios em todas as clulas vivas. No se encontrou nenhuma delas com menos de 50 mitocndrios e nenhuma com mais de 2.000. Seu nmero adequado s necessidades energticas de cada clula. Vistas na tela do supermicroscpio, as "centrais energticas" parecem incrivelmente complexas. Cada uma delas tem a aparncia de um "submergvel", mas no casco h milhares de esferazinhas, cada uma das quais um laboratrio. Abre a molcula de glicosdio, utilizando o oxignio que ns tomamos do ar com a respirao (figura 9A).FIGURA 9A Esquema de mitocndrio, a.. central eltrica" de cada clula viva. extremamente complexo. Converte a energia eletrnica contida nas molculas de acar glicosdio, a gasolina dos seres vivos, em outra energia, de tipo biolgico. Cada uma das esferazinhas exteriores um laboratrio qumico; cuida para que entrem no mitocndrio somente os eltrons energizados, provenientes do glicosdio. No ncleo germinativo de um ovo de galinha existem algumas centenas dessas centrais eltricas". Sem elas o pintinho no poderia ser construdo.

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encontramo-nos imediatamente diante de um dos numerosos enigmas da imensidade organizada que a vida. O evidente que a luz que energiza todos os seres vivos, ela que faz funcionar a todos os que vivemos na Terra, com a potncia do Sol. UMA VISO NOVA Ora, se supormos que cada uma de nossas clulas funcione com 100 "centrais eltricas" somente, o resultado que nosso corpo vive com a energia que lhe produzida por 100 vezes 60 trilhes, ou seja, seis milhes de bilhes dessas "centrais. No interior das "centrais" entram somente os eltrons energizados, extrados do glicosdio. No entram sozinhos, pois so transportados por um continente adequado, denominado co-enzima DPN. Simultnea e continuamente milhares de eltrons energizados entram em cada mitocndrio. No se conhece a maneira como feita a traduo em reservatrios "J as molculas de da energia. O que evidente por ora somente que os eltrons saem descarregados do mitocndrio, ao passo que os ATP saem carregados. Calculou-se que com uma molcula de glicosdio so carregadas 36 molculas de ATP. Faltando os condutores eltricos na clula viva, o transporte executado pelo vaivm dos ATP. Portanto, onde quer que a energia seja necessria, energizam toda a microscpica fbrica ultra-automatizada, voltando a seguir "central" para serem recarregados. 37 Se nos perguntarmos que , na realidade, a energia orgnica, obtida da 'energia eletrnica do glicosdio, Unidas num todo formariam um dos rgos mais importantes e volumosos, o encarregado de dar fora vital e calor a todo o nosso organismo, como tambm de fazer funcionar todo o sistema nervoso central e os sentidos a ele conexos. Sendo subdividido naqueles seis milhes de bilhes de "centrais", espalhadas por todo o corpo, parece inexistente. Ningum, no passado, surpreendeu- se pela falta de rgo to importante. No era visto, e por isso parecia claro, indiscutvel que o nosso corpo no precisava dele. E isso para todos os seres vivos, no excludos os micrbios. Foi somente na dcada de cinqenta, quando o supermicroscpio eletrnico' possibilitou a viso das "centrais" em cada clula viva, que se compreendeu a enorme importncia da energia orgnica para o "funcionamento" de qualquer ser vivo. Antes dessa descoberta, acreditava-se que os seres vivos extraam energia da combusto dos alimentos glucdios, imaginados como mquinas a vapor com fornalha e tudo. Os materialistas exultavam, constatando que a Cincia do sculo passado facultava a possibilidade de degradarem

qualquer organismo ao nvel de mecanismo. Hoje, a situao inverteu-se. No se consegue compreender como pode a clula viva ser to fabulosamente complexa, no obstante sua pequenez que a torna invisvel a olho nu. 38 Parece inteiramente inverossmil que possa ser provida de centro direcional automatizado, com a programao gravada em fitas DNA, e que possa ter grande aparelhagem acionada pelos robs- -RNA. Parece impossvel que aquele centro direcional possa fiscalizar e coordenar tudo, empregando uma densssima rede ciberntica. Parece absurdo que consiga captar a energia solar, acumul-la sob forma de energia eletrnica, para utiliz-la depois de transform-la em energia orgnica. E parece fabuloso que essa energia seja distribuda no interior da clula viva mediante os continentes ATP, recarregados por apsitos "centrais eltricos". Ontem, o homem consternava-se ante a imensido do Cosmo; pareciam-lhe excessivas as galxias majestosamente, rotantes a milhes de anos- -luz de distncia. Hoje, consterna-se ante os 60 trilhes de prodigiosas "fbricas" ultra-automatizadas, perfeitamente programadas e exatamente cibernticas, funcionando com DNA e RNA, que formam o seu corpo. As descobertas da Cincia colocam-nos diante de nova viso do mundo, talvez num nvel demasiado alto para os que vivemos neste sculo. Dissipa-se ao invs, a viso materialista do mundo, imposta ontem por razes de comodidade, e que continua a ser imposta hoje s massas ignorantes.

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III. TODOS OS SERES VIVOS SO PROGRAMADOS EM CDIGO"Se as fitas DNA de um homem de um s - fossem unidas linearmente, poderiam circunscrever todo o Sistema Solar". DR. FRANCIS COMPTON CRICK, Prmio Nobel PARA QUE SERVE O CDIGO? Por que somos todos programados em cdigo? Em que consiste esse cdigo? No podemos dar ordens a uma mquina, como a um ser humano. No h possibilidade de instru-Ia a fim de que saiba o que fazer como se fosse uma aluna de curso primrio. No podemos dizer a uma porta fechada "abre-te"; necessrio usar a chave, a qual possui uma dentio em cdigo. Abre somente aquela, porta. Com o cdigo Morse transmitimos mensagens' "pelo fio" ou "via rdio". So dois sinais, dois' impulsos eltricos, um breve (o ponto), e um longo (a linha). A vogal E indicada pelo ponto; a consoante T, por uma linha. As outras letras do alfabeto conseguem-se com um conjunto de pontos e linhas. O A um ponto e uma linha, o B uma linha e trs pontos, etc. O cdigo da vida, o cdigo DNA, tem, ao invs, quatro sinais.

Com esses quatro sinais transcrita e gravada toda a programao de um ser humano, naquele metro e setenta centmetros de DNA que se encontra em toda clula. Esse outro surpreendente aspecto da imensidade da Criao. Alm disso, com esses quatro sinais gravada a programao de qualquer outro ser vivo na Terra. Com eles ditado como deve ser preparada a pata de um dromedrio ou a asa de uma borboleta, a penugem amarela do pintinho ou a crnea alva do olho humano. 40 Que bastem quatro sinais para gravar to imensa quantidade de informaes, no deve ser motivo de surpresa. Esses quatro sinais do cdigo DNA so outras tantas substncias qumicas especialssimas. Possuem um nome, o qual, porm, no tem nenhuma relao com a funo. Isso porque foram descobertas muito antes da fita DNA. J em 1896, o qumico suo Friedrich Miescher conseguiu isolar uma estranha substncia do ncleo direcional da clula. Chamou-a nuclena. Depois descobriu azoto e fsforo na substncia. Por fim, evidenciou-se-lhe que a nuclena continha quatro substncias diversas e chamou-as: adenina, guanina, timina e citosina. Quatro nomes de fantasia. Eram os quatro sinais do cdigo da vida. A DESCOBERTA DE CRICK E WATSON Como foi descoberta a prodigiosa fita DNA gravada com aquelas quatro substncias-sinal, alinhadas uma atrs da outra? Miescher notara que a nuclena formada de cido deoxiribsio, ou seja, DNA. Durante 80 anos ningum teve a mnima idia do que podia ser aquilo. Finalmente, por volta

de 1950, o grande qumico americano Carl Linus Pauling, Prmio Nobel, descreveu as protenas, pela primeira vez. J era um passo, muito importante. Para "funcionar", elas devem possuir certa forma, devem ser enoveladas ou dobradas ou enroladas maneira de hlice. A forma mais comum a de um fio de l enrolado num carretel, o qual, porm, no existe. A disposio muito regular e as espiras so unidas mediante "pontos de hidrognio" adequados. De acordo com a posio e o nmero das espiras, o enrolamento pode ser do tipo alfa-hlice ou beta-hlice; freqentemente uma protena consiste em mais de um enrolamento, dispostos em estrutura espacial. Ignoramos o significado dessas estruturas; encontramo-nos na situao de quem no consegue compreender porque as rodas so redondas. Quase dez anos antes, em 1941, outro grande cientista americano, o Dr. Osvald Theodore Avery, do Instituto Rockfeller de Nova Iorque, conseguira descobrir que o DNA contm as informaes genticas indispensveis para 41 a autoconstruo dos seres vivos. No conseguiu, porm, embora consumindo nisso toda sua vida, compreender como aquelas informaes so inseridas no DNA. Suas pesquisas encalharam por causa das tremendas complicaes dos fenmenos biolgicos inerentes. Depois de 1951 evidenciara-se que o DNA devia ser semelhante a uma protena enrolada helicoidalmente, muito longa. Era necessrio, porm, v-Ia, examin-Ia e saber qual era sua forma. Milhares de cientistas lanaram-se a. essa meta, na "corrida ao DNA". O supermicroscpio no era suficiente. Fazia- se necessrio fixar a sombra dos tomos do DNA numa pelcula fotogrfica, mediante a tcnica da difrao dos raios X, para partir, daquelas sombras, disposio dos tomos na

estrutura do conjunto. Quando uns raios-X atingem um tomo ou um agrupamento de tomos de uma molcula, desviado, por causa da carga eltrica negativa dos eltrons dos prprios tomos. O tamanho do desvio depende do nmero dos eltrons. As fotografias com a difrao dos raios X mostram a disposio dos tomos de uma molcula. A fotografia, porm, s possui duas dimenses, ao passo que a molcula possui trs. necessrio fazer montanhas de clculos. Trabalho extremamente exaustivo e difcil. Um jovem cientista ingls, Francis Compton Crick, entrara na corrida. Trabalhava numa pequena oficina, semelhante a uma garagem de bicicletas, no recinto da Universidade de Cambridge. Tinha 36 anos. Dos Estados Unidos veio algum ajud-lo: James Dewey Watson, com apenas 24 anos. Eram jovens, cheios de energias e podiam trabalhar 18 horas por dia. Corriam na dianteira de todos os outros. Idealizaram nova frmula de anlise matemtica: o clculo conformacional, com o qual conseguiram idealizar modelos precisos de estruturas. No inverno de 1954 chegaram grande descoberta. Foram os primeiros a constatar que o DNA efetivamente uma compridssima fita, enrolada a dupla hlice, semelhante a uma escada em caracol, e que os "sinais" em 42 cdigo (figura 10A) so os degraus dessa escada. Receberam o Prmio Nobel em 1961.

FIGURA 10A Os quatro sinais do cdigo, com os quais transcrito o programa de toda forma de vida, esto dispostos como os degraus de uma escada em caracol. Os degraus da escada so formados pelos dois filamentos, cada um dos quais constitudo de uma sucesso de acar (z) e fosfato (p). Os quatro sinais so: (a) = adenina, complementar de (t) = timina, guanina (g) complementar de citosina (c). A linha vertical no centro no existe; apenas um ponto de referncia.

43 As fitas DNA so, na realidade, um par de filamentos paralelos. Entre um e outro se acha um par de substnciassinal. A mensagem gravada, de certo modo, maneira dos caracteres de uma linha de impresso; a cada carter corresponde uma das quatro substncias- sinal. O DNA SE DUPLICA AUTOMATICAMENTE

As fitas DNA duplicam-se fcil e exatssimamente. Sendo formada de um par de filamentos, cada fita pode abrir-se como um zper. Formam-se assim duas semifitas, como na figura 11, as quais suprem a construo da parte que falta, completando- se assim a duplicao: no lugar de uma fita, h duas. outro imenso portento da Natureza.

Um dos dois sinais elemento da mensagem e encontra-se num dos filamentos. O outro scio do primeiro, e encontra-se no outro filamento. Como j dissemos, os quatro sinais so: adenina (A), guanina (G), timina (T) e cito sina (C). Formam sociedade, isto , so complementares: a adenina (A) e a timina (T), a guanina (G) e a citosina (C). Se a "mensagem" num dos filamentos constituda, por exemplo, da seguinte sucesso de sinais: AAAGGAACTTCC... , sua "negativa", ou seja, a outra parte da mensagem no outro filamento, : TTTCCTTGAAGG ... Cada sinal de cdigo, isto , cada uma das quatro substncias, apia-se no prprio "suporte", que um acar particular, o deoxiribsio, vale dizer, acar ribsio com um tomo de oxignio a menos em cada molcula. Cada "suporte" solidamente unido ao que se segue e ao que precede, mediante uma ligao apropriada, constituda de fosfato. O resultado uma sucesso compridssima de acar-fosfato-acar- fosfato. . o que ilustra a figura 9B.

FIGURA 11 Quatro fitas DNA provenientes de uma. A esquerda est indicado como a fita DNA se desdobra em duas; abre-se a maneira de zper. Os dois filamentos reconstroem-se automaticamente, dando origem a duas fitas DNA (centro), depois quatro, destas duas. O corpo humano adulto possui 23 pares de fitas DNA multiplicado por 60 trilhes. Todas derivadas das fitas existentes na clula-ovo da concepo.

Admirvel a maneira como foi assegurada a duplicao. 44 Em cada fita DNA, entre uma "balaustrada" e outra, ou seja, entre os dois filamentos que a compem, so colocados os sinais do cdigo, de certo modo como se fossem degraus. Cada "degrau" formado de dois sinais, em lugar de um s, o que bastaria se a fita nunca tivesse que se duplicar.

FIGURA 9B 45 Esquema de fita DNA. Consiste de dois filamentos com funo de suporte. So enrolados em forma de hlice em espiral. Entre os dois filamentos se acham as substncias - sinal do cdigo DNA. Cada uma est unida ao prprio "suporte" (acar dioxiribsio). Os suportes esto unidos com um fosfato (ponto preto). Cada filamento formado por uma sucesso de acares e fosfatos. constitudo assim para se poder dividir e formar duas fitas DNA, exatamente iguais.

Cada um dos dois filamentos consiste nessa sucesso de "suportes" e de ligaes, de acares e de fosfatos. "Suportes" e ligaes so todos exatamente iguais, de sorte que o comprido filamento uniforme, flexvel e fortssimo. Um sinal, isto , uma daquelas quatro substncias- base, colocado sobre o prprio "suporte" de acar deoxyribse, com a prpria ligao, para se unir aos outros, forma uma unidade fundamental do DNA. denominado nucleotdeo. A fita DNA, de certa forma, semelhante s protenas, mas enquanto estas so formadas de compridas cadeias de aminocidos, o DNA formado por compridssima sucesso de nucleotdeos ou, melhor, por dupla srie de nucleotdeos visto que so dois filamentos, cada qual com o prprio alinhamento de sinais de cdigo. O CUMPRIMENTO CSMICO DO DNA Quanto mede a fita DNA que se acha no centro diretor de cada uma de nossas clulas vivas? subdividida em 46 segmentos, como se dissssemos em 46 "bobinas". O comprimento total de um metro e setenta centmetros. Mediu- a o Dr. Nirenberg, americano, o primeiro que conseguiu decifrar uma "palavra" transcrita em cdigo DNA. Recebeu o Prmio Nobel. Nossas clulas vivas so 60 trilhes, como j sabemos. Ora, em cada uma delas, uma por uma, sem excluso de uma sequer, existe aquele metro e 46 setenta centmetros de fita DNA. Sem ele no poderia existir. Com um clculo simples, constataremos outro fato

desconcertante. O comprimento da fita DNA que temos dentro de ns, aquele que podemos imaginar formado por todas as fitas DNA unidas linearmente, resulta de 1,7 O x 60 trilhes. Resultado: 102 trilhes de metros, igual a 102 bilhes de quilmetros. uma constatao que nos deixa um tanto perplexos! No esqueamos, entretanto, que essa fita imensamente fina. to extraordinariamente comprida quanto extraordinariamente fina. A espessura de 2 milionsimos de milmetro, igual a 10 tomos. Mediu-a o Dr. Francis Compton Crick. Se considerarmos o comprimento da rbita da Lua em torno da Terra, no podemos deixar de sorrir, pois "apenas" de 2 milhes e 400 mil