A CRIAÇÃO DE COLEIRINHA

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A CRIAÇÃO DE COLEIRINHA Aloísio Pacini Tostes – Ribeirão Preto-SP Revista SOBC 2002 Arquivo Editado em 31/10/2004 Continuando na linha de bem informar o leitor do AO e na seqüência de dicas sobre a criação dos principais pássaros canoros brasileiros, não podemos deixar de mencionar a criação do Coleiro. Para tanto, partimos de experiência própria e de consultas a muitos criadores, entre eles Geraldo Magela Belo, 011-8105282, de Epaminondas Castaldelli Júnior 011-4304543, e do expert no assunto Mário Corrêa Leite 012-3581786. O Celeiro, sem dúvida, é o mais popular dos pássaros rasileiros, como disse o amigo Epaminondas Jr. em seu artigo no Jornal do CUBIVALE N. 11. Seu tamanho diminuto facilita o manejo. É a maior paixão de crianças ne gostam de pássaros. Esse lindo passarinho cantador é quase sempre o primeiro tipo de pupilo dos passarinheiros. Foi o meu primeiro, quando tinha 6 a 7 anos, lá pela linha Manhuaçu. Havia centenas deles por perto de minha casa. Hoje bem mais escasso, mas ainda é, certamente, o que existe em maior número pelo Brasil afora. Conhece-se, pelo menos, quatro formas diferentes: o coleiro de gola e o peito branco, o Sporophila caerulescens; o cabeça preta o peito amarelo Sporophila nigricoilis; o de gola e do peito amarelo; o cabeça preta do peito branco. Sobre esses dois últimos há controvérsias sobre sua classificação científica. É preciso uma melhor definição dos técnicos e livros existentes sobre a questão. Certamente serão subespécies do S. caerulescense do S. nigricoilis ou cruzamento entre eles. O difícil é conhecer as fêmeas de cada um, são idênticas. O mais comum é o S. Caerulescens - ode gola, coleira e de peito branco - e é aquele que mais se cultiva, afirmam os mais entendidos que é o mais valente e cantador. A característica principal do Coleiro é gostar de passear e de ser submetido a muita lida, isto é, quanto mais manuseado (mexido) mais canta. E seu desempenho nos torneios de canto e fibra está em relação direta com a dedicação que seu dono lhe dispensa. Depende muito disso. É, todavia, de fácil lida e fica logo muito manso com um ouço de carinho. Em suma, o Coleiro é uma ave muito apreciada por todos os segmentos de passarinheiros e para vários objetivos, especialmente os torneios de canto. Agora, pela Portaria 057 do IBAMA, só podem ser transacionados, sair de casa e participar de torneios aqueles que forem criados em ambientes domésticos e que tiverem anilha fechada, como prova disso. Está aí, também, a Portaria 118, que é a de criadouro comercial, a pessoa física ou jurídica que quiser montar um só falar com o IBAMA, em sua respectiva Superintendência Estadual. Dessa forma, compete-nos então, reproduzi-los em larga escala para poder suprir a grande demanda que está aí. Quem quiser e puder praticar sua procriação, terá, com certeza, sucesso garantido. O Coleiro reproduz-se com mais facilidade que o bicudo e o curió e com uma produtividade excelente. Na natureza, o Centro Sul do Brasil, costuma procriar entre os meses e novembro e março. Conhecido também como: Coleirinha, Coleirinho, Papa-Capim, Coleira - Coleira Laranjeira — é um pássaro de porte pequeno, 11 cm de comprimento, envergadura 17 cm, com 14 penas grandes em cada asa. De cor preta chamuscada na cabeça e costas; 1

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A CRIAÇÃO DE COLEIRINHA

Aloísio Pacini Tostes – Ribeirão Preto-SP Revista SOBC 2002

Arquivo Editado em 31/10/2004

Continuando na linha de bem informar o leitor do AO e na seqüência de dicas sobre a criação dos principais pássaros canoros brasileiros, não podemos deixar de mencionar a criação do Coleiro. Para tanto, partimos de experiência própria e de consultas a muitos criadores, entre eles Geraldo Magela Belo, 011-8105282, de Epaminondas Castaldelli Júnior 011-4304543, e do expert no assunto Mário Corrêa Leite 012-3581786. O Celeiro, sem dúvida, é o mais popular dos pássaros rasileiros, como disse o amigo Epaminondas Jr. em seu artigo no Jornal do CUBIVALE N. 11. Seu tamanho diminuto facilita o manejo. É a maior paixão de crianças ne gostam de pássaros. Esse lindo passarinho cantador é quase sempre o primeiro tipo de pupilo dos passarinheiros. Foi o meu primeiro, quando tinha 6 a 7 anos, lá pela linha Manhuaçu. Havia centenas deles por perto de minha casa. Hoje bem mais escasso, mas ainda é, certamente, o que existe em maior número pelo Brasil afora. Conhece-se, pelo menos, quatro formas diferentes: o coleiro de gola e o peito branco, o Sporophila caerulescens; o cabeça preta o peito amarelo Sporophila nigricoilis; o de gola e do peito amarelo; o cabeça preta do peito branco. Sobre esses dois últimos há controvérsias sobre sua classificação científica. É preciso uma melhor definição dos técnicos e livros existentes sobre a questão. Certamente serão subespécies do S. caerulescense do S. nigricoilis ou cruzamento entre eles. O difícil é conhecer as fêmeas de cada um, são idênticas. O mais comum é o S. Caerulescens - ode gola, coleira e de peito branco - e é aquele que mais se cultiva, afirmam os mais entendidos que é o mais valente e cantador. A característica principal do Coleiro é gostar de passear e de ser submetido a muita lida, isto é, quanto mais manuseado (mexido) mais canta. E seu desempenho nos torneios de canto e fibra está em relação direta com a dedicação que seu dono lhe dispensa. Depende muito disso. É, todavia, de fácil lida e fica logo muito manso com um ouço de carinho. Em suma, o Coleiro é uma ave muito apreciada por todos os segmentos de  passarinheiros e para vários objetivos, especialmente os torneios de canto. Agora, pela Portaria 057 do IBAMA, só podem ser transacionados, sair de casa e participar de torneios aqueles que forem criados em ambientes domésticos e que tiverem anilha fechada, como prova disso. Está aí, também, a Portaria 118, que é a de criadouro comercial, a pessoa física ou jurídica que quiser montar um só falar com o IBAMA, em sua respectiva Superintendência Estadual. Dessa forma, compete-nos então,  reproduzi-los em larga escala para poder suprir a grande demanda que está aí. Quem quiser e puder praticar sua procriação, terá, com certeza, sucesso garantido. O Coleiro reproduz-se com mais facilidade que o bicudo e o curió e com uma produtividade excelente. Na natureza, o Centro Sul do Brasil, costuma procriar entre os meses e novembro e março. Conhecido também como: Coleirinha, Coleirinho, Papa-Capim, Coleira - Coleira Laranjeira — é um pássaro de porte pequeno, 11 cm de comprimento, envergadura 17 cm, com 14 penas grandes em cada asa. De cor preta chamuscada na cabeça e costas; abdome branco ou amarelo; mosca branca nas asas; garganta preta em cima de uma gola branca para ter logo abaixo uma coleira de um preto bastante intenso. Os olhos enegrecidos são circundados com pequenas penas claras, formando um gatinho. Bico é delicado e possui tons amarelados, cor de laranja. Há um marcante dimorfismo sexual: a fêmea tem a cor diferente do macho. Ela é parda, castanho claro, a mesma cor dos machos jovens que vão gradativamente se tornando pretos, e já procriam pardos com a idade de 7/8 meses. Distribui-se por grande parte do   Brasil, especialmente o Centro-Sul e países limítrofes. Preferem as beiradas de matas, pomares, pastos, brejos, capoeiras e praças das cidades. Na natureza é um pássaro territorialista, isto é, quando está chocando demarca uma área geográfica em torno do ninho onde o casal não admite a presença de outras aves da espécie. Canta muito e assim delimita seu território. Quando não estão na época da reprodução, contudo, podem ser vistos em pequenos grupos junto com os filhotes. Estão sempre à procura de alimentos, tipo semente de capim verde. Para isso, agarram-se aos finos talos dos cachos para poderem se alimentar; são especialistas nisso. Embora o braquiâria, seja um capim exótico, apreciam muito sua semente e ele tem ajudado muito como alimento. Nos meses de julho e agosto costumam se juntar em grandes bandos, especialmente nos anos de seca prolongada. Nessas ocasiões, o fogo costuma destruir os capinzais fazendo com que os nossos queridos pássaros desesperados e famintos procurem os locais onde possam encontrar comida, muitas vezes até no interior das cidades. Seu canto é simples, melodioso e a frase musical tem, em geral, poucas notas; entre cinco ou dez. Não repetem o canto, mas retomam muito rápido em alguns casos um a dois segundos de espaço entre um canto e outro. Existe uma infinidade de dialetos; na verdade, cada ecossistema possui um próprio. Todavia, há alguns que

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são mais apreciados e cultivados pêlos criadores. São eles: o tuí-tuí-zero-zero ou tuí-tuí-zel-zel (o mais comum), exemplo desse canto está na fita do Cabrito; já nos cantos mais sofisticados, considerados clássicos, o Coleiro emite a terceira nota, assim: tuí-tuí-grom-grom-grom-ze-ze-zel-zel-zeli ou tuí-tuí-tcho-tcho-tcho-tchá-tchá-tchaá e outras variações, para frases bem parecidas. A diferença está apenas no entendimento e na  interpretação de segmentos de criadores nas nomenclaturas  onomatopéicas das notas. Há criadores que cultivam esse tipo de canto como é o caso de João da Quadra 016-6334186. É exemplo desse tipo de canto são as gravações dos Coleiros Mirante e Capricho. A alimentação básica deve ser de grãos, notadamente o alpiste 50%, painço amarelo 30%, senha 10%, niger 10%, acrescentar  periodicamente o painço português legítimo. É salutar que de  disponibilize, também, ração de codorna misturada a 50% com milharina adicionando Mold-Zap® à base de 1 gr. por quilo. Dois dias por semana administrar polivitamínico tipo Orosol®, Rovisol® ou Protovit®, este à base de 2 gotas para 50ml d'água. Já sua alimentação especial para a fase de reprodução deverá ser a seguinte. Quando houver filhotes no ninho, em uma vasilha separada, colocar 3 vezes ao dia, farinhada assim preparada: 6 partes de milharina, 1 parte de farelo de soja torrado, 1 parte de germe de trigo, premix F 1 da Nutrivet® (4 colheres de sopa para 1 quilo),  sal 2 gr. por quilo, Mold-Zap® 1 gr. por quilo, Mycosorb® 2 gr. por quilo. Após tudo isso estar muito bem misturado, coloque na hora de servir uma gema de ovo cozido e uma colher cheia de "aminosol®" para uma colher bem cheia de farinhada. Dá-se larvas, utilizando a chamada "praga da granja"; é a melhor e tem mais digestibilidade. Oferecer até o filhote sair do ninho. Essa larva é miúda e condizente com o tamanho do bico do Coleiro. É bom, também, colocar à disposição das aves "farinha de ostra" batida com areia esterilizada e sal mineral (tipo aminopan®). Outra questão importante diz respeito ao lugar adequado para que eles possam exercer a procriação. Esse local deve ser claro, arejado e sem correntes de vento. A temperatura ideal deve ficar na faixa de 25 a 35 graus Celsius e umidade relativa entre 40 e 60%. O sol não precisa ser direto, mas se puder ser, melhor. A época para a reprodução no Centro Sul do Brasil é de novembro a maio, coincidente com o período chuvoso e com a choca na natureza. Deve-se utilizar gaiolas de puro arame, com medida de 60cm comprimento X 30cm largura X35 cm altura, com quatro portas na frente, comedouros pelo lado de fora para dentro da gaiola. A tala, a medida entre um arame e outro não pode ser maior do que 13mm. No fundo, ou bandeja da gaiola, colocar papel, tipo jornal, para ser retirado todos os dias logo que a fêmea tomar banho. Logo depois se deve retirar a banheira para colocá-la no outro dia bem cedo. O ninho, tipo taça, tem as seguintes dimensões: 6 cm de diâmetro X 4 cm de profundidade, e será colocado pelo lado de dentro da gaiola. Pode ser feito de bucha ( Luffa cylindricd) por cima de uma armação de arame. Para estimular a fêmea prender raiz de capim ou fiapos de casca de coco, assim ela cobrirá o ninho com estes materiais. O número de ovos de cada postura é quase sempre.

Cada fêmea choca 3/4 vezes por ano, podendo tirar até 8 filhotes por temporada. As coleiras podem ficar bem próximas umas das outras separadas por uma divisão de tábua ou plástico, mas não podem se ver, de forma alguma. Senão, matam os filhotes ou interrompem o processo do choco, se isto acontecer. Utilizar um macho de excelente qualidade, de preferência um campeoníssimo, para 5 fêmeas. Nunca deixá-lo junto pois ele quase sempre prejudica o processo de reprodução, quase sempre mata os filhotes. O melhor, é colocá-lo para galar e imediatamente afastá-lo da fêmea. O filhote nasce aos treze dias depois de a fêmea deitar e sai  do ninho também aos treze dias de idade e pode ser separado da mãe com 35 dias. Com 8 meses, ainda pardos, já poderão procriar. As anilhas serão colocadas do 7° ao 10° dia, com anilha 2,3 mm - bitola 1 a ser adquirida do Clube onde seja sócio. Pode-se trocar os ovos e os filhotes de mãe quando estão no ninho. Fundamental, porém, é que se tenha todo o cuidado com a higiene. Lembremos que os fungos, a coccidiose e as bactérias são os maiores inimigos da criação, e têm as suas ocorrências inversamente relacionadas com a higiene dispensada ao criadouro. Armazenar os alimentos fora da umidade e não levar aves estranhas para o criadouro antes de se fazer a quarentena, são cuidados indispensáveis. Os tipos de torneio mais comuns são: 1) Fibra – os pássaros são dispostos em círculo, um a 20 centímetros do outro; aquele que mais cantar no final da prova é o que ganha; 2) Canto livre- Ganha aquele que mais cantar em 5 minutos, ele compete sozinho, não é analisada a qualidade do canto; 3) Canto Clássico — A ave é examinada sozinha durante 5 minutos; ganha aquela que tiver o canto mais perfeito dentro do padrão pré-escolhido. Tem sido realizados torneios de Coleiros por quase todo o Brasil; sem poder citar todos, destacamos aqueles que tivemos a oportunidade de presenciar ou ser convidado: Porto Alegre-RS , Florianópolis-SC SAC, Paranaguá- PR , Jacareí -SP-

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CÜBIVALE , Ribeirão Preto-SP, Campos-RJ , Cachoeiro do Itapemirim-ES, Belo Horizonte -MG, Brasília-DF, São Paulo-SP SERCA, Duque de Caxias-RJ. Como vimos, as regiões são as mais diversas, a paixão é nacional, sem fronteiras. Por fim, como sempre dissemos, não podemos deixar de mencionar mais essa importante questão: como em todos os tipos de pássaros canoros, os produzidos domesticamente têm muito mais qualidade do que seus irmãos selvagens, isto porque poderemos cruzar os melhores com melhores. Isso é um grande fator de incremento da criação. Quem poderá duvidar disso, a seleçâo através da genética funciona, e funciona bem. É só testar. A confiança da classe é grande, a responsabilidade também, os aficionados são muitos, a demanda é enorme, as matrizes estão aí, capturar é proibido; daí criatórios em ação, o respeito da sociedade e hobby preservado. 

Os coleirinhas

 

Os Coleirinhas săo pássaros muito comuns. Pertencem ŕ grande família dos Fringilídeos e ao gęnero Sporophila. Săo pássaros pequenos, de coloraçăo variada, sendo na maioria pobres em cores exuberantes. Temos conhecimento de 26 tipos diferentes e principais de Coleirinhas, os quais, na maioria, săo de pequeno tamanho, apresentam uma figura semelhante e, alguns deles, trazem uma marcaçăo de cor preta, em forma de colar, na altura do peito.

O tipo mais característico em nosso meio, e de resto em todo o Brasil, e mesmo nos países vizinhos de língua espanhola, é o Sporophila caerulescens, que alguns chamam somente por Coleirinha(o), outros somente por Papa-Capim ou Coleirinha Papa-Capim, e que outros, por motivos que desconhecemos, chamam deC8oleirinho Cruzeiro (Rio Grande do Sul) e de Coleirinho Virado. Sua zona de distribuiçăo geográfica abrange quase todo o Brasil, com certas áreas de preferęncia, mais a Argentina, o Uruguai, a Bolívia e o Paraguai. Nestes países vizinhos seu nome popular é Corbatita.

A plumagem deste espécime tem a cor cinza no dorso, é branca no ventre, tem a fronte preta ou escura e, logo abaixo do bico, tem na garganta uma mancha também preta. No peito apresenta um colar ou coleira de cor preta. Apresenta dimorfismo sexual apresentando-se as fęmeas com coloraçăo mais pálida. Os filhotes machos, antes da muda, se assemelham ŕs fęmeas e năo tem coleira.

Vivem em bandos e principalmente em lugares onde abunda alimentaçăo. Em cativeiro, dentre várias sementes, apreciam as sementes de Capim Arroz (Crista de Galo).

O canto deste pássaro é muito controvertido, sendo para uns agradável e para outros insignificante. Na verdade, os bons tipos săo exímios cantores, apresentando notas de boa melodia, se bem que baixas.

A procriaçăo destes pássaros se inicia nos meses mais quentes do ano. O ninho é em forma de tigela aberta e a fęmea deposita de 2 a 3 ovos de cor branca e salpicados de manchas marrons. Os filhotes se desenvolvem rapidamente, chegando alguns espécimes machos a cantar já nos seis meses, quando ainda năo possuem a cor definida dos tipos adultos.

Este Sporophila caerulescens tem hábitos migratórios assim como a maioria dos outros pássaros que pertencem a este gęnero. Năo apreciam os climas frios e sempre estăo a migrar para as regiőes de climas mais quentes e amenos. Aqueles espécimes que habitam em regiőes de inverno menos rigoroso passam a adotar hábitos sedentários.

Além do tipo acima descrito, que é um dos mais comuns, existe em nosso meio um certo Coleiro do Brejo (Sporophila c. me/anocephala), que é disputado pela preferęncia de inúmeros amantes de aves. De belo canto e de bela plumagem, este tipo, muito comum no Rio Grande do Sul, se constitui numa das grandes posses dos ornitófilos que conhecemos. Conforme seu próprio nome indica (melanocephala; cabeça preta), tem a cabeça de cor preta e, abaixo do bico, na garganta, tem uma mancha de cor branco-marfim; possui no peito uma coleira de cor preta e, do lado ventral, é amarelento, cor de telha. As asas que tęm a cor do ventre apresentam marcaçőes pretas. No conjunto é um belo pássaro. Na fronte, e

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de cada lado, tem uma pequena manchinha branca ou creme. Geralmente o Sporophila c. melanocephala possui canto próprio e agradável, porém, em alguns espécimes de "cabeça mole", o canto pode se assemelhar com o de outros pássaros (Azulăo, Curió, Canário etc.). Há dimorfismo sexual acentuado. Tem o hábito de viver e nidificar, de preferęncia, entre junco de lagoas e banhados.

Com o nome comum de Coleiro do Brejo săo conhecidos ainda mais tręs outros pássaros: o Sporophila c. colaris, o Sporophila pileata e o Sporophila c. ochrascens. De uma maneira grosseira, e para simplificar o entendimento, se pode dizer que todos se assemelham entre si.

O Sporophila collaris colaris tem a cabeça, a nuca e a cauda pretas; o dorso e a cobertura da cauda săo de cor parda-amarelada; a garganta é clara; o peito, o ventre e o uropígio săo amarelos cor de telha. Na fronte, e de cada lado, tem uma pequena manchinha de cor clara ou branca. Na garganta tem uma marcaçăo preta que lembra uma coleira. Este coleiro recebe também os nomes populares de Coleiro do Sapę ou Coleiro Ganga.

Já o Sporophila pileata apresenta uma cor castanho parda com asas e cauda de cor escura; o lado ventral é quase branco e, ao nível do peito ou garganta, possui uma marcaçăo em forma de coleira.

. Sobre o Sporophila c. ochrascens năo sabemos como definir ou descrever com segura precisăo.

Além dos espécimes descritos acima podemos ainda citar mais 21 tipos diferentes, mas também característicos, que compreendem outras espécies e subespécies, recebem os nomes populares mais variados, como os de Patatíva, Caboclinho etc., os quais, a nós parece, săo termos que se confundem com o de Coleirinha ou săo quase que sinônimos.

Assim pois temos a Sporophila plumbea que é a mais característica e conhecida das Patativas, de cor cinza predominante (Iat.: plumbum, chumbo), sem mancha preta sob o bico, de ventre branco e com coleira preta e bem marcada. Além dos tipos vistos acima podemos destacar ainda a S. p. white leyana (Patativa da Amazônia), a S. p. aurantrirostís (Patativa do Bico Amarelo), aS. leucoptera (Patativa Chorona), a S. n. nigricolis (Coleirinha da Serra), a S. melanops (coleirinha amarela), a S. c. helimayre (Coleirinha do Peito Amarelo), a S. falsirostris (Cigarrinha), a S. lineola (Bigodinho), a S. albogularis (Brejal), a S. b. pileata (Caboclinho Paulista), a S. b. bouvreuil (Caboclinho Fradinho) a S. ruficolis (Caboclinho Paraguaio), a S. palustris (Caboclinho Papa Branco), a S. cinnamomea (Caboclinho Goiano), a S. m. hipoxantha (Caboclinho Vermelho), a S. nigro rufa (Caboclinho de Campo Grande), a S. castaneiventris (Caboclinho do Amazonas), a S. melanogaster (Caboclinho Bico de Ferro), a S. m. minuta (Caboclinho do Norte), e a S. B. saturata (Caboclinho do Peito Branco).

Dos espécimes referidos acima há alguns que, sendo mais conhecidos, merecem também uma maior destaque, assim como já se fez com o Coleiro Virado, a Patativa e alguns Coleiros do Brejo.

Dentre estes destaca-se de início o Bigodinho (Sporophila Iineola) de lindo e mavioso canto. Este tipo tem todo o dorso negro e uma estria branca no vértice; sob cada olho, e de caca lado da cara, há uma marcaçăo branca que se assemelha a um bigode. O ventre é branco com uma marcaçăo preta na garganta. Bico e pés pretos. Apesar de somente apresentar duas cores, a preta e a branca, estas se distribuem de tal forma que dăo ao tipo uma beleza toda original.

Após o Bigodinho se faz necessário, também, que todo o interessado em aves de gaiola, e em especial as de pequeno porte, conheça o Sporophila b. bouvreuil ou Caboclinho Fradinho. É muito pequeno. Os machos tęm toda a porçăo inferior clara, levemente rosada; asas pretas com marcaçőes brancas; cauda preta; coroa da cabeça preta "assim como o frade".

O Sporophila n. nigricolis, chamado vulgarmente de Coleiro da Bahia e também de Coleirinha da Serra tem a presença da cor preta na cabeça, na nuca e na garganta; a cauda é preta com reflexos esverdeados; o peito, o uropígio e o ventre săo brancos; a parte interna da cauda é acinzentada.

Outro tipo freqüentemente encontrado em nosso meio, trazido por viajantes do norte e nordeste do Brasil é o Sporophila leucoptera, que se conhece por Patativa Chorona ou simplesmente Chorăo. A porçăo superior do corpo do macho é acinzentada; a cauda e as asas săo mais escurecidas. A porçăo ventral é branca. O bico é vermelho. A fęmea se distingue do macho por apresentar a porçăo inferior do corpo em tonalidade vermelho-clara.

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O Brejal, ou Coleirinha do Brejal, é o Sporophila albogularis. É muito parecido com o nosso Coleiro Cruzeiro. A cor predominante é a acinzentada, ou preto fosca, sendo que nas asas existem penas mais carregadas de preto; o peito, a garganta e o ventre săo brancos. Tem uma coleira preta bem marcada na altura da garganta. O bico é amarelo alaranjado.

De uma maneira geral todos os pássaros tratados aqui e pertencentes ao gęnero Sporophila săo ainda conhecidos como Papa-Capim. Há, no entanto, uns espécimes deste gęnero que, sendo de maior tamanho, já săo considerados como Papa-Arroz; geralmente săo citados ao lado dos que anteriormente referimos, apesar de năo guardarem entre si algumas características comuns, que seja, aspecto e tamanho!

Dentre estas outras aves do gęnero Sporophila, de maior tamanho, destaca-se a Sporophila superciliaris e a Sporophila frontalis (Pichochó Estrela), sendo que, nesta oportunidade, apenas destacaremos a segunda.

O Pichochó Estrela, também conhecido como Pichanchăo, Papa-Arroz e Chăo-Chăo, é comum na regiăo sul do Brasil. Na porçăo dorsal, em repouso de asas, mostra-se de cor esverdeada, tendo a cor oliva ou azeitonada; o lado ventral é esbranquiçado. Sobre os olhos apresenta marcaçőes brancas (estrias) e, nas asas, marcaçőes amarelas. Este tipo anda em bandos rondando os arrozais. O canto do Pichochó Estrela é semelhante ao do Coleiro Cruzeiro.

Como muitas vezes se confunde o Pichochó Estrela descrito acima com o Hapospliza unicolor, também chamado de Pichochó, lembramos de que este último é praticamente unicolor e de cor acinzentada. Um nada tem a ver com o outro!

Coleirinho, Papa-Capim, Sporophila Caerulescens

Por Ana Roberta de Almeida VeterináriaRevista pássaros número 53

A espécie mais abundante e conhecida do gęnero no Sudeste do Brasil. Macho com as partes superiores cinza-escuras, ŕs vezes com uma tinta esverdeada; face, garganta anterior e faixa sobre o papo (colar) negras; estria malar, nódoa na garganta posterior e barriga brancas ou amareladas; especulo tanto pode estar presente como pode faltar; bico de colorido variado: cinzento, amarelo, esverdeado ou anegrado, o que corresponde a várias denominaçőes populares ("coleirabico-laranja", "coleira-bico-dechumbo", etc.): Fęmea parecida ŕquelas de Sporophila plumbea, Sporophila nigricollis e Esporophila albogularis. Voz: "Tzri", "zlit", "zjă" (chamada); o canto consiste em um gorjear rápido um tanto fraco, a estrofe costuma atingir um ponto culminante seguindo-se depois uma breve escala descendente, p. ex., "djüle, djüle, djüle, djüledjí-djülo, djülo,-tschrrr", ŕs vezes canta voando; há dialetos de diferentes populaçőes mesmo em vales vizinhos; os amadores classificam os cantos com terminologia própria, p. ex., "tuí-tuí" (referindo-se ao começo do canto), "canto serra" (quando brigam); as fęmeas também podem cantar. Vive nos campos de cultura e capinzais. Ocorre no Brasil centro-ocidental e meridional (da Bahia ao Rio Grande do Sul), Uruguai ŕ Bolívia, Peru e na margem direita do baixo rio Amazonas a leste do Tapajós; parece năo ocorrer no Nordeste, regiăo dominada por Sporophila albogularis. Segue a expansăo de gramíneas forrageiras altamente sementíferas, invadindo assim áreas onde năo ocorria (p. ex. o Distrito Federal). Some periodicamente, p. ex., das regiőes serranas do Espírito Santo e Rio Grande do Sul. "Coleirinha-dupla", "Coleira-da-mata", "Paulista", "Papacapim-de-peito-amarelo" (sendo este tręs últimos nomes referentes aos espécimens de partes inferiores amareladas), "Coleirinha*".

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COLEIRO E SUAS DOEÇAS

Por Ana Roberta de Almeida VeterináriaRevista Pássaros 47

Os Coleiros săo pássaros de fibra muito especiais, porém a sua maior fragilidade ocorre no sistema respiratório nos períodos pré, durante e pós muda (seca de muda), onde podem sofrer graves distúrbios, por diferentes agentes patológicos (vírus, fungos, bactérias, ácaros ).

Doenças do sistema respiratório inferior

O sistema respiratório inferior incluem os brônquios principais, os pulmőes, os sacos aéreos e os ossos pneumáticos. Como os sacos aéreos săo pouco supridos com sangue e năo possuem cílios e secreçőes grandulares para auxiliar a remoçăo dos agentes infecciosos e do material estranho, eles săo relativamente suscetíveis a doença. Note que os sacos aéreos năo se comunicam diretamente entre si.

Etiologia(causa do problema)

As causas subjacentes ou os fatores predisponentes que levam a doenças dos brônquios, dos pulmőes e dos sacos aéreos, incluem itens mecânicos, ambientais, infecciosos, parasitários e neoplásicos.• Os fatores mecânicos incluem inalaçăo de material estranho (por exemplo: sangue, soluçăo de ali-mentaçăo forçada) , resultando em dispnéia (distúrbio respiratório) aguda, no caso da aspiraçăo de grandes volumes a morte é geralmente instantânea; • Os fatores ambientais incluem irritantes aerógenos e toxinas. A inflamaçăo> resultante pode causar excesso e produçăo de muco, alteraçőes pulmonares crônicas (por exemplo: espessamento dos brônquios e aéreossaculite; > A inalaçăo de toxinas (por exemplo: o Monóxido de Carbono e vapores de Polímero provenientes do Teflon/ revestimento de panelas) podem causar hemorragia pulmonar aguda e morte; > As alergias podem causar inflamaçăo do tecido pulmonar, com espessamento e edema (coleçăo de líquido) peribronquico;·Os agentes infecciosos (como bactérias, vírus, fungos e micobactérias) podem levar a pneumonia e granuIomas pulmonares ou de saco aéreo;• Os parasitos dos brônquios, dos pulmőes e dos sacos aéreos podem causar tosse, espirros e respiraçőes profundas e muito lentas; • A neoplasia (crescimento celular disforme irregular com malignidade) dos brônquios e dos pulmőes é incomum mas devesse considerar, no ano passado atendi dois casos.

Sinais clínicos

Os sinais clínicos incluem:

1 Dispnéia aguda ou severa, oscilaçăo da cauda e movimentos respiratórios acentuados (o pássaro fica muito ofegante);

2 Podem apresentar tosse e espirros;

3 Sons respiratórios abafados e estertores audíveis (ruídos) durante a respiraçăo. d) Problemas respiratórios de vias superiores intercorrentes.

Diante desses sinais clínicos procure imediatamente assistęncia Médica Veterinária, porém para prevençăo mantenha o pássaro em ambiente arejado, absolutamente protegido de correntes de vento e com sementes limpas livres de toxinas com água e alimentos sempre frescos e fundos de gaiola limpos a areia comestível deve ser servida em potinhos e năo no fundo da gaiola.

É válido ressaltar que estes processos patológicos podem acometer qualquer pássaro.

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