a cosmo-profecia do movimento ao infinito · a cosmo-profecia do movimento ao infinito por Jô do...

69
andré boniatti a cosmo-profecia do movimento ao infinito Primeira Edição, (do autor) 06/2011

Transcript of a cosmo-profecia do movimento ao infinito · a cosmo-profecia do movimento ao infinito por Jô do...

andré boniatti

a cosmo-profecia do movimento ao

infinito

Primeira Edição, (do autor) 06/2011

índice a cosmo-profecia do movimento ao infinito (por Jô do Recanto das Letras) ...................................................... 5 apêndice de início de página ....................................................... 11 primeiro...................................................................................... 13

POEMA DA CRIAÇÃO - PRIMEIROS POEMAS primeiro...................................................................................... 17 segundo ...................................................................................... 18 terceiro ....................................................................................... 20 quarto ........................................................................................ 21 quinto ......................................................................................... 23 sexto ........................................................................................... 24 sétimo ........................................................................................ 26 oitavo ......................................................................................... 27 nono ........................................................................................... 29

A COSMO-PROFECIA DOS MUNDOS - SEGUNDOS POEMAS oração do pai nosso conforme a causa cósmica dos mundos ...................................... 33 primeiro...................................................................................... 35 segundo ...................................................................................... 36 terceiro ....................................................................................... 38 quarto ........................................................................................ 40 quinto ......................................................................................... 41 sexto ........................................................................................... 43 sétimo ........................................................................................ 44

oitavo ......................................................................................... 46 nono ........................................................................................... 48 décimo ....................................................................................... 50 décimo primeiro ......................................................................... 51

O HOMEM CÓSMICO - TERCEIROS POEMAS

primeiro...................................................................................... 55 segundo ...................................................................................... 57 terceiro ....................................................................................... 59 quarto ........................................................................................ 61 quinto ......................................................................................... 63

A COSMO-PROFECIA DO MOVIMENTO AO INFINITO - ÚLTIMOS POEMAS

primeiro...................................................................................... 67 segundo ...................................................................................... 69 terceiro ....................................................................................... 71 quarto ........................................................................................ 73 quinto ......................................................................................... 74 sexto - licenças para um pensamento alheio ou pausa para um café.............................................................. 766 sétimo e último .......................................................................... 80

a cosmo-profecia do movimento ao infinito

por Jô do Recanto das Letras1

O livro se divide em quatro partes:

I - poema da criação (primeiros poemas) II - a cosmo-profecia dos mundos (segundos poemas) III - o homem cósmico (terceiros poemas) IV - a cosmo-profecia do movimento ao infinito (últimos poemas)

*** Alguém exclamará: -- Mas este livro está uma bagunça, uma "zona" danada! Não batem as coisas, palavras se chocando - tudo confuso, louco, febril! Diria eu: "Ora, amigo, se ele recria o caos primordial, aludindo à juventude de Deus - talvez ao seu nascimento, seu toque inicial no Firmamento, eternamente retocado -, como querias algo estático, em ordem, pura disciplina estelar?!"

*** A sábia Natureza, que colocou no mundo Adolf Hitler (Alemanha), Alexandre (Grécia), Átila, Benito Mussolini

1 em: http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2337904

(Itália), Fidel Castro (Cuba), Francisco Franco (Espanha), Gengis Khan, George Bush (EUA), Ho Chi Min (Ásia), Joseph Stalin (Rússia), Lindon Johnson (EUA), Richard Nixon (EUA), Ronald Reagan (EUA), ordenou-lhes: “Ide, e matai e morrei. Abri espaço para as gerações vindouras. Já!” Tudo o que os homens fizeram desde o princípio dos tempos faz parte da lógica das coisas. As guerras, os extermínios em massa, as bombas atômicas, os assassínios, as traições, os gestos de paz, os Jesus, os gritos do silêncio - tudo toca a toga que rege o destino humano. Entretanto o sujeito lírico irrompe, indaga, questiona, cobra do Criador mais carinho --- ou o carinho devido às criaturas. Indagações perdidas ansiando encontrá-Lo no Infinito --- e receber respostas. Ou seja: sua competência poética (que passa antes pela competência linguística) nos deslocou, "desfixou", desacomodou e desestruturou. Seu arrazoado mexeu com todos: armou-nos, desarmou-nos, revestiu-nos enfim de humildade.

Cumpriu seu destino o poema!, saído de mãos tão aflitas, indagadoras... Trata-se de uma reflexão de alto nível, não só de astros girando como de sentimentos incomodando, exigindo luz, atenção, renovação. Captou o artista a magia impossível da verdade poética. Então não era impossível: porém só a tornam possível, concretizando-a, aqueles que como ele perseguem sempre o

ideal de beleza. Estranha noite da alma! Leveza pura, magnífica quietude, salmo solitário... Assim André contribui para o cumprimento da saga do gênero humano: perdendo tempos oficinando palavras, expressões e hosanas à Criação.

Aqui, abrigados na sua profecia, ficamos mais livres do poder das palavras. Ou ainda mais senhores delas. Também palavras soltas são poesia. E as dele são mais que soltas: distantes, magmáticas, telúricas, enigmáticas – caos planetário. Estranhas palavras-anjos, anunciando dunas eternas que vão se desdobrando no dele, no nosso deserto. Por que seu poema é profundo? Porque são suas palavras profundas lanças, que atravessam nossa sensibilidade, nossa natureza humana. Sim: não há outro meio de sentir, senão refletindo sobre o que lemos: e para refletir, só sentindo, só sendo cativados e irresistivelmente arrebatados para o interior da obra de arte.

*** André: um dia, Deus em pessoa o chamará diante do Trono para cumprimentá-lo pela visão original, percuciente,

única, sem frescuras ou medos, admonitória, divinatória enfim que você teve das criações dele, produzindo um relato móvel como o Tempo e o Cosmos. Dirá das palavras que você restaurou ou inventou para falar melhor de seres e coisas. Com tal atitude, você fez se mover, evoluir uma língua viva, pois que a revolveu e ousou remodelá-la, contribuindo para o seu engrandecimento,

ininterrupto há mil anos. E aludirá carinhosamente ao seu gesto de colocar nomes místicos, intocáveis pela Humanidade todos em letras minúsculas, substantivos simples: deus, jesus cristo, moisés, buda, gandhi, trismegisto, heráclito, spinoza, natureza,

mulher, universo e andré -- gesto de extrema humildade sua, diante de Tudo. Um dia. Isto sem contar sua capacidade de descrever, narrar o Big Bang, encerrando-o num poema épico. E aprisionando nele, também, em lexemas inescapáveis, um infinitésimo de Deus.

There’s a sign on the wall But she wants to be sure ‘Cause you know sometimes words have two meanings...

(Stairway to Heaven — Led Zeppelin) O homem, cada um dos homens, é um sonho a mais, um sonho fugaz criado pela tenaz e constante vontade de viver, imagem efêmera que o espírito infinito da natureza desenha na página do tempo e do espaço...

(Arthur Schopenhauer)

apêndice de início de página

tudo que escrevo são anotações, cuidadosas, turvas e conturbadas, tais que o papel se confunda ao querer narrá-las e o ouvido que escutá-las seja surdo.

primeiro

primeiro era o movimento puro na mente do feto na barriga da mãe e era a promessa do amor a nascença do ser éssendo da essência, a sensação incorpórea do corpo e da mente éssendo da essência,

e o pensamento no vazio de entendimento éssendo movimento éssendo sopro éssendo sonho éssendo sendo pensamento ser não sendo movimento fúria acesa do embevecimento da lira anti-forme das potências do norte e o desnorte. era a mente intrínseca do corpo que movia e era o caos e a penumbra volitiva, era a flor e florescia, era a flama

o fogo fluido da sandice, sono insone, seio virgem, mata virgem, selva insone o coração, éssendo sonho, éssendo sendo movimento.

poema da criação primeiros poemas

primeiro

não era a forma mas a fúria do tempo antes de tempo, era unicamente movimento, ser em si movimento para fora de si

para dentro, era unicamente movimento, caos.

segundo

cálculo do infinito a matemática que retrocede para o zero quando estende para o eterno movimento incalculável onde tudo nada fosse tudo sendo inteiramente, caos.

música e silêncio, movimento sem mesura, fúria de tempo antes de tudo movimento antes de tempo, fomento da fome de vida, movimento, música, insurreições mozartianas da inocência da harmonia, cadência sem rima, pensamento sem formas, vagar bêbado de mente insciente de per si por ser em si nada sendo movimento matemático inaudito ao infinito

movimento.

terceiro

a isenção de lógica do universo é a única lógica possível.

quarto

primeiro era a vontade de deus sem prumo para toda a eternidade adiante para si, era a vontade e era a potência, a vibração da corda tensa, a reticência,

era a vontade. e era deus. mas deus e a vontade, sendo a vontade de deus, não é senão um mesmo eu, um ser somente, deus e a vontade de deus. era a vontade. para além de todo espaço todo espaço ao infinito. era a vontade. e a tenção era fúria, e da fúria íntima do coração sem razão, onde o tento tencionava por si mesmo sem razão, era em si o movimento e por

espaço tinha deus era a vontade, movimento puro para antes de si e para além de tudo para dentro, pensamento que pensara-se a si mesmo,

fúria de tempo antes de tempo, movimento, era a vontade, e a vontade era deus, e deus era o universo, e o universo, movimento, e o movimento era o princípio, era o gênesis.

quinto

no princípio era o princípio e era o fim e era um todo em si eternamente tudo o nada, era o princípio e era o fim e era o caos o que não era tudo sendo indestrinçável e era o ser. caos. que era era. ser não é.

mas que era ser ser será sendo em si o ser somente, que tendendo, ser não sendo, a si tendia e fim em si princípio era, caos. caos por luz que luz é treva quando a treva, por ser luz, somente é luz por ser a treva que uma vela só se acende para o filho anoitecido e à luz só dá-se o que era noite e noite é só conforme a luz que à noite dá-se. caos.

sexto

ao caos era a música do caos ao movimento e era a voz de deus cantando e era o suspiro do universo se alastrando, e tudo d’alma enchia pois. o corpo incorpóreo da música

do movimento que movia sem o tino da harmonia o movimento que movia era o gozo dolorido, era o gemido, a sinfonia da demência, era o caos, era a paixão que embebecia, o coração que entontecia e arrebentava a melodia e a resistência ‘esfalecia e a corda tensa retinia a aconteciência, a aconteciência era música o movimento ao infinito, era o atrito, era mozart no céu, era o primeiro silêncio da mente que se ouvia, o movimento

que movia ele mesmo e era o si que tendia escala acima para o cimo incontinente da histeria primeira da criação do universo.

sétimo

e do movimento que movia houve o atrito entre as forças das digressões do caos, e grandes massas de energia etérea esfuziaram pela eternidade do movimento puro, era a energia cósmica que espargia como a poeira úbere da corporeidade primeira

das formas.

oitavo

era o seio fecundo intrínseco na energia cósmica era o tempo o que era a fúria e sempre o fora tempo antes de tempo, tento que tencionava por si mesmo presente para todo o tempo eternamente

tempo natureza primeira, princípio de nascença e de morte (e morte de vida é tenção de movimento para o tempo), conceito sem eixo, eixo girabundo alucinado da circunstancialidade

impermanente do universo, permanência inexorável da física pletórica do vinho da fermentação cósmica da vida, movimento, e é com tempo que se aprende o giro infixo na ordem incidente da interdependência dos corpos fenomênicos entre as poeiras cosmológicas dos sistemas caleidoscópicos do mundo e do desmundo.

tempo.

nono

fez-se o quente e fez-se o frio, e frio fizeram-se as distâncias do quente e quente eram as longitudes do frio e houve o espaço e ao espaço ocorreu-lhe a complacência primeira entre a

treva e a luz. era o instinto primeiro da sobrevivência.

a cosmo-profecia dos mundos segundos poemas

oração do pai nosso conforme a causa cósmica dos mundos pai nosso, causa cósmica dos mundos, movimento fim mesmo em seu princípio ser essência existimento e potência infinitude física de energia alucinada para a vida e para a morte. pai. rendo-me na noite ao céu do mundo, do mundo azul chamado terra, e vou distante como olhasse o universo e não sinto os pés no chão, além de ti é ti somente ser não sendo força viva do presente eternamente, vitral gótico de meus olhos clarabóia onírica da minha

paixão. pai. inferno e céu de meu amor. meus átomos rodopiam afora o corpo e afora a mente e agregam corpos diluentes

do futuro e do passado, reza ensandecida de meu corpo para ti,

universo do mundo. névoa ininterrupta da inocência aritmética. perdão rijo dos músculos tácitos da uva, vinho da uva, fermento do pão, água da chuva, semente da uva, terra do

chão. pai. pai universo, irmandade de forças e energias e átomos e sonhos, caos, abismo e harmonia, ritmo e melodia, nexo e desnexo, pai universo, causa cósmica dos mundos,

pai nosso, que estais no céu.

primeiro

houve grande guerra nos céus entre as forças de bem e de mal e tão-somente era o bom o mesmo mal e o mesmo bem de amor e sexo choque gâmico das energias para a proliferação dos mundos

progenitura de vida e de morte, e houve a valsa sísmica das geleiras e dos sóis, a poeira cósmica da

inconsistência elástica do espaço, o susto elétrico da intelecção das formas, houve o siso e a loucura, a fúria efusiva da vida, a noção primeira de força, a espada embebida do sangue das veias do punho aguerrido do amor e do ódio, o amor... o testamento da guerra escrevia nas rubricas da existência a essência irracional e impenitente do ser era o instinto da

sobrevivência.

segundo

era dentro do coração o coração, força furiosa de aniquilamento e criação, núcleo autônomo

da fúria do amor, da lira do tempo e do caos, o coração dentro do coração, ilicitude crônica da providência química das paixões,

éter lírico, físico e anti-físico do alimento cítrico da mente corpórea e incorpórea, da vida dos mundos, da

constituição da flor e da instituição cósmica do pecado dos céus, a criação vérsica da unidade, a unidade múltipla e a multiplicidade una de deus e do diabo. o coração dentro do coração e a introspecção eólica dos tufões. o amor acima de tudo. o coração que dava ao céu a dissidência do céu e ao mundo a dissidência dos mundos a convergência e a implicância, e houve o primeiro pulmão, a condensação e a rarefação, a respiração

divina ou o sonho primeiro do existimento primeiro da poesia, a névoa pneumática da ciência dos céus, era a aconteciência, o coração.

terceiro

tudo quer viver, dentro de si sem nada saber como o queira querer quer viver, insciente de si, nem sabe de ser, quer viver, é a serpente do amor que cravou-lhe as presas intrépidas no

coração

e espargiu os venenos venosos da fúria do instinto primeiro da vida, viver, a ciência científica e irracional do querer, o pulso do impulso sangüíneo, a corrente vertente do ser, a pira do fogo da alma dos mundos no corpo encravada quer viver, viver, o suicida, é o instinto da vida que fá-lo morrer, quando a promessa da morte é o único meio de poder-se viver, quer viver, canta a irracionalidade dos mundos, científico é a aconteciência de todas as coisas, porque vem ser o que é vindouro sob a lei e a lei tem existência por essência, e não ciência,

decorrência, e a razão é só um modo, um acidente de coração e o coração não tem razão dele sendo a criação de corpo, mente e intelecção da não razão. quer viver.

quarto

depois da ossatura do corpo fez-se o corpo tudo muito lentamente até chegar à mente.

quinto

onde deus entende estende e é a mente a ordem perfeita da destruição e criação dos mundos, todos os tempos do tempo presente, o passado fecundo e o futuro incorrente das digressões eternas da espada

e do cio, onde deus entende para todo o sempre eternamente, e é a mente a substância potencial, o inchaço histérico e espasmódico da nascença da vida e do amor, onde a ideia se pensa e pensamento é movimento, depois do céu depois do mundo, antes ainda de que tudo, templo de essências, dentro em si a potência substancial de todas as coisas, de todos os seres, de toda energia, de

todas as formas templo dos mundos, persistência elástica da semente embora o fruto,

princípio futuro, mente, negabilidade da morte, onde a inerência de todo devir processa o presente para todos os tempos do tempo presente, e é a mente tão-somente.

sexto

existência por essência, existimento, que era ser e ser será sendo o ser e tão-somente, o movimento para dentro, eixo, pedra móvel da inconseqüência intolerante do tempo e fermento, pão da prece científica

do acontecimento, mão cogitabunda da inocência, presciência e acidente insciente da potência, aconteciência, devenir. absurdo cósmico da sombra, nem verdade nem mentira, pois que sendo inda vem ser nunca ausente de si mesmo.

sétimo

não era terra, fogo, água ou ar, era o elemento vital, o sumo corpóreo das densidades intrínsecas do instinto da vida, o sumo corpóreo do pensamento dos céus, a suma corpórea das forças do cosmos e as forças dos mundos

do cosmos, a físis, o vento fecundo do sul e do norte e o desnorte. e fez-se a terra, e fez-se o fogo, e fez-se a água, e fez-se o ar, fez-se o elemento vitalício da vida de cada mundo, o elemento quinto da essência das substâncias químicas da infusão e difusão dos pares de massa e da dissidência gâmica dos pólos do sul e do norte e o desnorte.

fez-se o meio propício para o cio cósmico da natureza naturada e do pai. fez-se e nunca cessou o vento do sul e o vento do norte.

oitavo

para o nascimento e para a morte da vida é o meio propício é a uberdade dos ventos cósmicos das

energias da lua e do sol e da treva dos mundos, a uberdade de mãe de natureza naturada e de pai naturante,

a uberdade de frio e calor, a vida existe, não basta uma missa somente para tantas procissões

astrofísicas acerca dos céus e acerca do pó da existência. a mãe é fecunda na terra e nos céus e para além do entendimento dos

homens. licenciosas, muitas mulheres desnudaram-se para as núpcias, e outras ainda, pacienciosas, aguardam o tempo, quando o seio abastado da virgem mana o leite vertente do veio

que rega o sentido da vida. o tempo dos mundos.

nono

onde a natureza entende estende o véu do leite da mãe mulher menstrua dos poros do chão menstruação cálida e concupiscente do coração para o fruto que nasce do fogo do ventre dos músculos da estrutura óssea do corpo

da incidência mítica da flor paradisíaca da beleza dos céus da verdade da flor, cobre o deserto árido do espetáculo plácido da cor e palor, da oniria pendente da mente da fonte da vida, do solo sagrado do que brota e que

morre. estro indômito e aborígine do amor, veio do vinho que corta as distâncias da alma dos simples, véu verde de minha terra, cor e palor dos mundos do cosmos da terra e do céu, rosa-fruto da prece do pó, da existência fecunda, geleiras e sóis, meio, ciência silente da brevidade eterna

do pai e da mãe, coração do universo.

décimo

seres de músculo, envoltório atômico das carnes do fruto da fé do coração sem razão, impregnação de energia física e anti-física de pensamento, movimento e sensação,

sangue e sonho, insurgência química da paixão, núcleo colérico do instinto corpóreo da vida, tensão da fibra embriológica dos mundos, seres de músculo, filhos do tempo da morte e do amor, propagam-se nos ventos como indômita ciência da ebulição psíquica dos éteres e átomos, como a insânia insone da inteligência mística de deus, e como em dédalos de noite avançam rijos as correntes da vontade e do prazer.

décimo primeiro

movimento ser não sendo era o tento por si mesmo entendendo que era sendo movimento, e movimento, por vir ser o que era sendo, compreendia entendimento sem razão

mas pensamento que pensava movimento para o tempo, e era pois discernimento a forma esférica dos mundos, sensação do ser profundo por presente de si mesmo, e havia assim, por conseqüência, o ser em si da inteligência. entendendo a extensão o coração correspondia a vontade que movia o fogo vivo da existência e era assim por presciência ao movimento, pensamento que se pensa, inteligência,

diligência inconseqüente da ciência eficiente da criação e da tenção

para adiante eternamente e para sempre.

o homem cósmico terceiros poemas

primeiro

era o animal, era o instinto da sobrevivência a intraciência primeva do corpo, a correspondência extensa de corpo coa terra e co fogo, coa lua, coa morte, a fibra do forte, era a mente, pensar que se pensa e que sente presente e pressente o tento do tempo do cio e do corte, o concílio da sorte e a fúria do estio. mas as mãos, ramaria da terra, labutando a promessa do fruto e da prece, cravaram, abertas aos céus, os dedos no véu dos éteres castos ungindo os espaços da fome de fé, manava das chuvas do cosmos, a terra embebendo, da lira o fomento, a metáfora, o logos,

fizera do pó o pensamento e do entendimento, no corpo insculpido, fizera-se o nó.

segundo

mundo fundo tão profundo é o ser do mundo, sentado e só cogitabundo o pensamento vai sem rumo, entre bêbados e loucos, dança a lua junto à tribo de hermeneutas que clama o logos

e a verdade, junto heráclito e spinoza, jesus cristo, buda, gandhi e uma rosa florescia bem pertinho ao coração, mundo vivo, fogo vivo da vontade, cúpula de pensamentos esvoaçados e atirados contra os muros e as paredes, mas tão simples borboletas de asas tenras, erradias mariposas buscando bobas pernoitar à luz do sol, mundo, somente vulto, o ser por dentro, onde a idéia íntima comprimida somente em si e nada mais conluia o prazer e

a morte,

essa fundura imensa do teu ser, onde a mente mergulhara e acabara por morrer na asfixia entre as brumas cosmo-químicas desse desejo obsessivo de possuir o que a nós não nos pertence, mundo, quieto, arreio a turba e te respiro, já não tenho um pensamento, somente essa cascata indecifrável do pó de estrelas que esvaecem castas, intocáveis penetra o ouvido esse silêncio eterno tão finito! e ausculta, tenro e mítico, ausculta surdo o coração.

terceiro

a longa barba mui grisalha se espalmava pelo peito, a cabeleira despenteada dentro do meu pensamento o movimento do silêncio, quieto e mudo, ali sentado, numa pedra do caminho,

esse eremita deslocado cruzara as pernas lento e calmo e deixara a noite que descesse ao pôr do sol. na poeira elástica dos éteres ia indo se espargindo aquele velho, mas não ele, que sentara e se calara, tão-somente a mente ia, se espargindo pelo cosmos, c’um cajado, inda trazia um livro aberto em que escrevia, em letra extensa, muitas coisas que dizer saber não sei, porque o signo era ilegível e só os borrões é que explicavam, claramente, os percursos desse louco pelos becos da logia. que entre estrelas caminhava. e era noite.

quando então ele voltava, já envolto à madrugada, dos passeios corriqueiros por infernos e por céus, recostava ao travesseiro e dizia, já morrendo, tão que é triste e todo isento, que doía o coração, não que a dor fosse um problema, nem que fora algum dilema, só queria essa razão: tendo tudo compreendido, de moisés a trismegisto, — perguntava já em delírio uma só interrogação: “por que diabos é que dói um coração?”

quarto

o pensamento habita o seio, entranha o veio de tuas veias, chupa a seiva desse sumo teu corpóreo líquido e soluto, esse corpo resoluto de energia e movimento,

esse cosmos comprimido, rijo, rico e tão perfeito dentro, essa sombra de desejos, essa luz de noite eterna. condensa-te de inteiro nesta forma rarefeita, deixa os olhos que percorram tua estrada inusitada, tem por fim uma outra estrada e assim segue ao infinito, — os teus olhos não alcançam, o teu corpo é pequenino. o teu corpo tem exato o tamanho do universo se os teus olhos têm poder de ver os céus da incompletude, estes céus daqui, porém para além dos pensamentos, estes céus por se fazerem tão mais densos e complexos que os azuis da tarde quente,

ou mesmo a noite, essa noite que te cobre, ela arraiga no teu sangue, e arrouba-te do mundo, muito embora houvesse o mundo, mas agora há mansidões. tão profundo esse teu corpo, tão infenso à morte certa, ora intui e ora entorna, ora se aderrama nessas plagas e vai dar no fim do mundo, onde a vida continua como um presente de tua fé.

quinto

a mente estende como um fruto, como a relva vai no chão, desce pelo corpo, embebe, banha, molha,

flui. o homem cósmico na chuva ateava um fogo vivo onde a brasa intumescia do fermento da oração, e saía a pés descalços sobre a terra andando séculos e eras, éons entre os céus e a canção. erguia um templo às mansidões, o fogo abria as incursões pelas plagas do universo, estrelas, mundos, ventos ébrios que assopravam as distâncias, giros doidos de uma dança da nudez dos corpos rijos que diluíam em metáforas

e valsas, como o sol enlaça a noite nos crepúsculos. e o eremita nessa hora se curvara, o violeiro, nas varandas, dedilhara sem propósito ou razão dedilhara tão-somente dedilhara o coração.

a cosmo-profecia do movimento ao

infinito últimos poemas

primeiro

( movimento para além do entendimento o ser não sendo movimento ) e segue a mente se alastrando pelos prados entoando a música

infinita, infinda e viva, e inaudível ao ouvido, e entontecida

se aderrama loucamente, o tempo eterno do presente, e aflui da terra e aflui do fogo, e é o espírito das águas, vendaval da fúria prenhe da ciência indissolúvel de tudo aquilo que dilui, é a alma que aderrama, o perpétuo e imenso mantra do universo que aderrama, e dança o logos no silêncio o canto mudo dentro em si cogitabundo da canção que deus compôs, não sabendo, só se é sendo, entendendo

as entrelinhas entre a bruma noctívaga e a ciência irracional da carne e fruto, cardiomundo de pulsões etereais. pensais... cogito, ergo:

nada, é o silêncio então quem fala, é a música que embala e que espalma o corpo nu, e puramente e tão-somente o corpo nu.

segundo

o espírito busca, ofusca e se perdeu, e o que ficou selado, nestas carnes encravado, foi na alma o que se deu, como o ser do movimento da inquietude deste espírito,

este espírito-torrentes que perdera o juízo certo das noções da abstração, não, não era a fórmula matemática que empregara em vãs empreitas, era a pintura louca de um artista-manicômio que a cegueira obstruíra de arranjar a cor nos sonhos, mas a tinta esvoaçada, a espátula embaçada na memória ensandecida de um prostíbulo arruinado que guardara as almas nuas dos amantes inda vivos entre os ossos que dormiam cemiteriais na luxúria