A coragem de ser imperfeito brene brown

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    Sobre a obra:

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro epoder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • A CORAGEM DE SER IMPERFEITO

    Com base em sua experincia pessoal e em pesquisas aprofundadas, a inspirada Bren Browninvestiga os paradoxos da seguinte equao: nos tornamos fortes ao aceitar a nossa vulnerabilidade, esomos mais ousados quando admitimos nossos medos. No consigo parar de pensar neste livro.

    Gretchen Rubin, autora de Projeto Felicidade

    Bren Brown se dene como uma criadora de mapas e uma viajante. Para mim, ela uma excelenteguia. E acredito que o mundo precisa de mais guias como ela que nos mostrem um caminho maisousado para o nosso mundo interior. Se voc gostaria de ser mais corajoso e conectado, maissaudvel e envolvido, deixe o GPS em casa. Este livro a rota de navegao que voc precisa.

    Maria Shriver, autora de Quem voc quer ser?

    O que me impressiona neste livro a sua combinao mpar de pesquisa consistente com bate-papona mesa da cozinha. Bren se torna uma pessoa to real em seu livro que possvel ouvir a sua vozperguntando: Voc j ousou bastante hoje? O convite contido neste livro bem claro: temos que sermaiores do que a ansiedade, do que o medo e do que a vergonha de falar, agir e se mostrar. Omundo precisa deste livro e a mistura singular que Bren consegue de calor humano, humor eliberao faz dela a pessoa certa para nos ajudar a ousar.

    Harriet Lerner, ph.D., autora de Mudandoos padres dos relacionamentos ntimos

    A coragem de ser imperfeito um livro importante um alerta oportuno sobre o perigo de perseguira certeza e o controle acima de qualquer coisa. Bren Brown nos oferece um guia valioso para amaior recompensa que a vulnerabilidade pode trazer: uma coragem maior.

    Daniel H. Pink, autor de Motivao 3.0.

    Esta a essncia deste livro: vulnerabilidade coragem em voc mas inadequao em mim. O livrode Bren, harmonizando pesquisa acadmica com histrias do Texas, nos mostra um caminho delibertao. E no pense que apenas para mulheres. Os homens, mais ainda, carregam o fardo deserem fortes e nunca fraquejarem, e pagamos um preo alto por isso. A coragem de ser imperfeito til

  • para todos ns. Michael Bungay Stanier, autor de Do More Great Work

    Cono profundamente em Bren Brown em sua pesquisa, inteligncia, integridade e qualidadecomo pessoa. Portanto, quando ela decide tratar de uma importante virtude que podemos cultivarpara ter sucesso prossional, relacionamentos saudveis, felicidade familiar e uma vida corajosa eapaixonada... eu estou dentro! Mesmo quando esta virtude se traduz na atitude arriscada de semostrar vulnervel. Bren ousou ao escrever este livro, e voc se beneciar muito ao l-lo e aocolocar a sua sabedoria afiada em prtica em todas as reas de sua vida.

    Elizabeth Lesser, autora de De corao aberto

    Em uma poca de presso constante para a conformidade e o ngimento, A coragem de serimperfeito oferece uma alternativa convincente: transformar sua vida sendo quem voc realmente .Tenha a coragem de ficar vulnervel! Ouse ler este livro!

    Chris Guillebeau, autor de A arte da no conformidade

    Um livro maravilhoso. Urgente, indispensvel e fcil de ler. No consegui coloc-lo de lado, e elecontinua a repercutir em minha vida.

    Seth Godin, autor de O melhor do mundo

  • Ttulo original: Daring GreatlyCopyright 2012 por Bren Brown

    Copyright da traduo 2013 por GMT Editores Ltda.Publicado mediante acordo com Gotham Books, um membro da Penguin Group (USA) Inc.

    Todos os direitos reservados.Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem

    autorizao por escrito dos editores.

    traduo:Joel Macedo

    preparo de originais:Melissa Lopes Leite

    reviso:Clarissa Peixoto, Isabella Leal e Rafaella Lemos

    projeto grfico e diagramao:Ilustrarte Design e Produo Editorial

    capa:Raul Fernandes

    produo digital:SBNigri Artes e Textos Ltda.

    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

    B897cBrown, Bren

    A coragem de serimperfeito [recursoeletrnico] / BrenBrown [traduo deJoel Macedo]; Rio deJaneiro: Sextante,2013.

  • 2013.recurso digitalTraduo de: Daring

    greatlyFormato: ePubRequisitos do

    sistema: AdobeDigital Editions

    Modo de acesso:World Wide Web

    ISBN 978-85-7542-959-4 (recursoeletrnico)

    1. Assertividade(Psicologia). 2.Coragem. 3. Livroseletrnicos. I. Ttulo.

    13-03650 CDD: 158CDU: 159.947Todos os direitos reservados, no Brasil, por

    GMT Editores Ltda.Rua Voluntrios da Ptria, 45 Gr. 1.404 Botafogo

  • 22270-000 Rio de Janeiro RJTel.: (21) 2538-4100 Fax: (21) 2286-9244

    E-mail: [email protected]

  • Para Steve.Voc faz do mundo um lugar melhore de mim uma pessoa mais corajosa.

  • Sumrio

    Prlogo O que significa viver com ousadia?Introduo Minhas aventuras na arena da vidaCaptulo 1 Escassez: por dentro da cultura de no ser bom o bastanteCaptulo 2 Derrubando os mitos da vulnerabilidadeCaptulo 3 Compreendendo e combatendo a vergonhaCaptulo 4 Arsenal contra a vulnerabilidadeCaptulo 5 Diminuindo a lacuna de valores: Trabalhando as mudanas e fechando a fronteira

    da falta de motivaoCaptulo 6 Compromisso perturbador: Ousadia para reumanizar a educao e o trabalhoCaptulo 7 Criando filhos plenos: Ousando ser o adulto que voc quer que seus filhos sejam Reflexes finaisAnexo Acreditar na revelao: a teoria fundamentada nos dados e meu processo de

    pesquisaPraticando a gratidoNotas e referncias Sobre a autoraConhea os clssicos da Editora SextanteInformaes sobre os prximos lanamentos

  • Prlogo

    O QUE SIGNIFICA VIVER COM OUSADIA?

    No o crtico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homemtropeou ou como o autor das faanhas poderia ter feito melhor.

    O crdito pertence ao homem que est por inteiro na arena da vida, cujorosto est manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; que

    erra, que decepciona, porque no h esforo sem erros e decepes; mas que,na verdade, se empenha em seus feitos; que conhece o entusiasmo, as grandes

    paixes; que se entrega a uma causa digna; que, na melhor das hipteses,conhece no final o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar,

    ao menos fracassa ousando grandemente.

    Trecho do discurso Cidadania em uma Repblica(ou O Homem na Arena), proferido na Sorbonne

    por Theodore Roosevelt, em 23 de abril de 1910.

    As palavras do ex-presidente americano ecoam tudo o que aprendi em mais de uma dcada depesquisa sobre vulnerabilidade. Vulnerabilidade no conhecer vitria ou derrota; compreender anecessidade de ambas, se envolver, se entregar por inteiro.

    Vulnerabilidade no fraqueza; e a incerteza, os riscos e a exposio emocional que enfrentamostodos os dias no so opcionais. Nossa nica escolha tem a ver com o compromisso. A vontade deassumir os riscos e de se comprometer com a nossa vulnerabilidade determina o alcance de nossacoragem e a clareza de nosso propsito. Por outro lado, o nvel em que nos protegemos de carvulnerveis uma medida de nosso medo e de nosso isolamento em relao vida.

    Quando passamos uma existncia inteira esperando at nos tornarmos prova de bala ouperfeitos para entrar no jogo, para entrar na arena da vida, sacricamos relacionamentos e

  • oportunidades que podem ser irrecuperveis, desperdiamos nosso tempo precioso e viramos ascostas para os nossos talentos, aquelas contribuies exclusivas que somente ns mesmos podemosdar.

    Ser perfeito e prova de bala so conceitos bastante sedutores, mas que no existem narealidade humana. Devemos respirar fundo e entrar na arena, qualquer que seja ela: um novorelacionamento, um encontro importante, uma conversa difcil em famlia ou uma contribuiocriativa. Em vez de nos sentarmos beira do caminho e vivermos de julgamentos e crticas, nsdevemos ousar aparecer e deixar que nos vejam. Isso vulnerabilidade. Isso a coragem de serimperfeito. Isso viver com ousadia.

  • Introduo

    MINHAS AVENTURASNA ARENA DA VIDA

    Passei a vida inteira tentando contornar e vencer a vulnerabilidade. Tenho averso a incertezas e aexposies emocionais. Na poca do colgio, quando a maioria de ns passa a lutar com avulnerabilidade, comecei a desenvolver e afiar o meu arsenal de defesa contra essa emoo incmoda.

    Por muito tempo tentei de tudo desde ser a garota perfeitinha at me tornar a poeta extica, aativista indignada, a profissional ambiciosa, a baladeira descontrolada. primeira vista, esses papispodem parecer estgios de desenvolvimento razoveis, seno previsveis, mas eles eram mais do queisso para mim. Todas essas etapas constituam diferentes armaduras que me impediam de me tornarexcessivamente comprometida e vulnervel. Cada ttica era construda sobre a mesma premissa:manter todo mundo a uma distncia segura e sempre ter uma sada estratgica.

    Apesar do meu medo da vulnerabilidade, sei que herdei um corao amoroso e um cartersolidrio. Ento, perto de completar 30 anos, deixei um cargo de gerncia na gigante dastelecomunicaes AT&T, arranjei um emprego de garonete e voltei faculdade para me formarcomo assistente social.

    Assim como muitas pessoas que se interessam pelo servio social, eu gostava da ideia deconsertar gente e sistemas. Foi s quando j havia terminado o bacharelado e cursava o mestradoque percebi que o servio social no tinha a ver com consertar. Em vez disso, trata-se decontextualizar e apoiar. Sua misso mergulhar no desconforto da ambiguidade e da incerteza e criarum espao de solidariedade para que as pessoas encontrem o prprio caminho.

    Enquanto eu lutava para descobrir como uma carreira no campo da assistncia social poderiarealmente dar certo para mim, fui fulminada pela armao de um de meus orientadores: Se vocno consegue medir, no existe. Ele explicava que, diferentemente de outras matrias do curso,pesquisa tem tudo a ver com previso e controle. Fiquei impressionada. Voc quer dizer que, em vezde apoiar e acolher, eu deveria dedicar minha carreira previso e ao controle? Naquele instante eudescobri a minha vocao. Hoje posso dizer que sou uma pesquisadora de dados qualitativos, ou seja:uma contadora de histrias.

    A maior certeza que eu trouxe da minha formao em servio social esta: estamos aqui paracriar vnculos com as pessoas. Fomos concebidos para nos conectar uns com os outros. Esse contato o que d propsito e sentido nossa vida, e, sem ele, sofremos. Por isso decidi desenvolver uma

  • pesquisa que explicasse a anatomia do vnculo humano, das relaes e das conexes entre as pessoas.Quando os participantes da minha pesquisa eram solicitados a compartilhar seus relacionamentos

    e suas experincias de vnculo mais importantes, sempre me falavam de decepes, traies ehumilhaes do medo de no serem dignos de uma conexo verdadeira. Parece que ns, sereshumanos, temos uma tendncia para denir as coisas pelo que elas no so, sobretudo quando setrata de experincias emocionais. Esse fato realmente chamou a minha ateno.

    Portanto, um pouco por acaso, eu passei a pesquisar os sentimentos de vergonha e empatia, e leveiseis anos desenvolvendo uma teoria que explica o que a vergonha, como funciona e o que fazer paracombater a crena de que no somos bons o bastante e de que no somos dignos de amor e derelacionamentos. Em 2006, descobri que, alm de compreender esse sentimento, comecei a quererinvestigar o outro lado da moeda: o que tm em comum as pessoas que lidam bem com a vergonhae acreditam no prprio valor que eu chamo de pessoas plenas?

    No meu livro A arte da imperfeio, deno os 10 sinais de uma vida abundante, que indicam oque uma pessoa plena se esfora para cultivar e do que ela luta para se libertar.

    Uma pessoa plena:

    1. Cultiva a autenticidade; se liberta do que os outros pensam.2. Cultiva a autocompaixo; se liberta do perfeccionismo.3. Cultiva um esprito flexvel; se liberta da monotonia e da impotncia.4. Cultiva gratido e alegria; se liberta do sentimento de escassez e do medo do

    desconhecido.5. Cultiva intuio e f; se liberta da necessidade de certezas.6. Cultiva a criatividade; se liberta da comparao.7. Cultiva o lazer e o descanso; se liberta da exausto como smbolo de status e da

    produtividade como fator de autoestima.8. Cultiva a calma e a tranquilidade; se liberta da ansiedade como estilo de vida.9. Cultiva tarefas relevantes; se liberta de dvidas e suposies.

    10. Cultiva risadas, msica e dana; se liberta da indiferena e de estar sempre nocontrole.

    Naquele livro escrevi detalhadamente sobre o que signica ser uma pessoa plena e sobre odespertar espiritual que advm dessa descoberta. Agora pretendo compartilhar a denio de umavida plena e apresentar os cinco temas mais importantes que surgiram na coleta de dados e melevaram s revelaes que apresento nesta obra.

    Viver plenamente quer dizer abraar a vida a partir de um sentimento de amor-prprio. Issosignica cultivar coragem, compaixo e vnculos sucientes para acordar de manh e pensar: No

  • importa o que eu zer hoje ou o que eu deixar de fazer, eu tenho meu valor. E ir para a cama noitee dizer: Sim, eu sou imperfeito, vulnervel e s vezes tenho medo, mas isso no muda a verdade deque tambm sou corajoso e merecedor de amor e aceitao.

    A definio de vulnerabilidade se baseia nos seguintes ideais fundamentais:

    1. Amor e aceitao so necessidades irredutveis de todas as pessoas. Fomosconcebidos para criar vnculos com os outros isso o que d sentido esignicado nossa vida. A ausncia de amor, de aceitao e de contato sempreleva ao sofrimento.

    2. Se os homens e as mulheres que entrevistei na pesquisa fossem divididos em doisgrupos aqueles que tm um senso profundo de amor e de aceitao e aquelesque lutam para conquistar isso apenas uma varivel os separaria. Aquelesque amam e vivenciam a aceitao simplesmente acreditam que so dignosdisso. Eles no tm vidas melhores ou mais fceis, no tm problemas menorese no passaram por menos traumas, falncias ou separaes. No meio de todasessas lutas, eles desenvolveram prticas que os tornaram capazes de se agarrar crena de que so dignos de amor, de aceitao e at mesmo de alegria.

    3. A preocupao principal de indivduos plenos viver uma vida orientada pelacoragem, pela compaixo e pelo vnculo humano.

    4. As pessoas plenas identicam a vulnerabilidade como um catalisador decoragem, compaixo e vnculos. Na verdade, a disposio para estar vulnervelfoi o nico trao claramente compartilhado por todas as mulheres e homens queeu descreveria como plenos. Eles atribuem todas as suas conquistas desde seusucesso prossional at o casamento e os momentos felizes como pais capacidade que tm de se tornarem vulnerveis.

    Desde o incio das minhas pesquisas, abraar a vulnerabilidade surgiu como uma temticaimportante. A relao entre esta e as outras emoes que estudei cou clara para mim. Nos livrosanteriores eu havia presumido que as relaes entre vulnerabilidade e conceitos diferentes comovergonha, aceitao e autovalorizao fossem coincidncias. S depois de 12 anos investigando cadavez mais fundo essa questo compreendi o papel que a vulnerabilidade desempenha em nossa vida.Ela o mago, o centro das experincias humanas significativas.

    Essa nova informao me trouxe um grande dilema: por um lado, como possvel falar sobre aimportncia da vulnerabilidade de forma honesta e relevante sem que eu mesma esteja vulnervel?Por outro, como possvel estar vulnervel sem sacrificar a prpria legitimidade como pesquisadora?

    Acredito que a receptividade emocional seja motivo de vergonha para muitos acadmicos. Noincio da nossa formao somos ensinados que manter uma distncia prudente e certo grau de

  • inacessibilidade contribuem para o prestgio do pesquisador, e que caso ele se envolva de maneiraexcessivamente emocional suas credenciais podero ser questionadas. Se em muitos ambientes seruma pessoa pedante um insulto, na torre de marm do mundo acadmico somos instrudos a vestiro formalismo como se fosse uma armadura.

    Como eu me arriscaria a estar realmente vulnervel e contar histrias sobre as atribulaes daminha jornada nessa pesquisa sem parecer uma amadora? E quanto minha armaduraprofissional?

    Meu momento para ousar grandemente, como eodore Roosevelt estimulou seus cidados afazer, chegou em junho de 2010, quando fui convidada a falar em Houston no evento da TED umaentidade sem ns lucrativos do universo da Tecnologia, do Entretenimento e do Design, que dedicada s ideias que vale a pena espalhar. A TED e os organizadores desse evento renem ospensadores e ativistas mais fascinantes do mundo e os desaam a dar a palestra de suas vidas em,no mximo, 18 minutos.

    Eu esperava que os organizadores de eventos como esses ficassem um pouco tensos e receosos como contedo da palestra de algum que se dedica a pesquisar a vergonha e a vulnerabilidade. Porm,quando perguntei equipe da TED sobre o que queriam que eu falasse, a resposta foi: Ns gostamosmuito do seu trabalho. Fale sobre o que mais a impressiona. Mostre o seu melhor. Estamos felizespor t-la em nosso evento.

    Adorei e ao mesmo tempo detestei a liberdade daquele convite. Eu oscilava entre me entregar aodesamparo e buscar refgio nos velhos amigos: planejamento e controle. Decidi encarar o desafio.

    Minha deciso de viver com ousadia derivou menos da minha autoconana e mais da f emminha pesquisa. Sei que sou uma boa pesquisadora e acreditava que as concluses que havia obtidodas informaes coletadas eram vlidas e conveis. Tambm tratei de me convencer de que o eventono era uma coisa do outro mundo: em Houston, para uma plateia pequena. Na pior dashipteses, 500 pessoas no auditrio mais umas poucas assistindo ao vivo pela internet achariam queeu era uma louca.

    Na manh seguinte palestra, acordei com uma das piores ressacas de vulnerabilidade da minhavida. Voc conhece aquela sensao de acordar e tudo parecer bem at que a lembrana de ter serevelado demais invade a sua mente e voc quer se esconder debaixo das cobertas?

    Mas no havia para onde correr. Seis meses depois, recebi um e-mail dos curadores daTED3Houston me parabenizando pelo fato de a palestra estar sendo includa no site principal daorganizao. Eu sabia que isso era bom, uma honraria cobiada, mas quei apavorada. Emprimeiro lugar, eu j estava me habituando ideia de apenas 500 pessoas acharem que eu eralouca. Em segundo, numa cultura repleta de crticos e invejosos, sempre me senti mais segura emminha carreira permanecendo longe dos holofotes. Olhando para trs, no tenho certeza de comoresponderia quele e-mail se soubesse que meu vdeo sobre a vulnerabilidade se tornaria um sucesso eque, ironicamente, me faria sentir to desconfortvel, vulnervel e exposta.

    Hoje essa palestra uma das mais visitadas no site TED.com, com mais de 5 milhes de acessose traduo para 38 idiomas. Mas nunca tive coragem de assistir ao vdeo. Fico feliz por ter chegado

  • l, mas essa exposio ainda faz com que eu me sinta realmente constrangida.O ano de 2010 foi o da palestra TED3Houston, e 2011 foi o ano de dar continuidade a ela.

    Atravessei os Estados Unidos falando para grupos variados, desde empresas da lista da Fortune 500,coaches de liderana e militares, at advogados, grupos de pais e estudantes. Em 2012 fui convidadapara dar outra palestra na conferncia principal da TED em Long Beach, na Califrnia. Para mim,essa foi minha oportunidade para divulgar o trabalho que tinha sido a base de toda a minhapesquisa: falei sobre a vergonha e sobre como ns precisamos compreend-la e super-la sequisermos verdadeiramente viver com ousadia.

    Minhas palestras em empresas quase sempre giram em torno de liderana, criatividade einovao. Desde os executivos de alto nvel at os prossionais da linha de frente, os problemas maissignicativos que todos admitiram enfrentar se originam da desmotivao, da falta de um feedbackde qualidade, do medo de car ultrapassado em meio s mudanas aceleradas e, por m, danecessidade de uma maior clareza de objetivos. Se quisermos reacender a novidade e a paixo,precisamos reumanizar o trabalho. Quando a vergonha se torna um estilo de gerenciamento, amotivao vai embora. Quando errar no uma opo, no existe aprendizado, criatividade ouinovao.

    Quando se trata de criar lhos, a prtica de estigmatizar mes e pais como bons ou maus aomesmo tempo exagerada e destrutiva e transforma a criao de lhos em um campo minado. Asquestes fundamentais para os pais deveriam ser: Voc est comprometido? Voc est atento? Seestiverem, preparem-se para cometer muitos erros e tomar decises ruins. Perfeio no existe, e oque torna os filhos felizes nem sempre os prepara para serem adultos corajosos e comprometidos.

    O mesmo serve para as escolas. Nesse contexto, no foi encontrado um problema sequer que nofosse atribudo a alguma combinao entre a desmotivao de pais, professores, diretores e/ou alunose o conflito de interesses que competem entre si para a definio de um objetivo.

    O maior desao e tambm o elemento mais graticante do meu trabalho conseguir ser, aomesmo tempo, uma construtora de mapas e uma viajante. Meus mapas, ou teorias, sobre vergonha,plenitude e vulnerabilidade no foram construdos a partir das experincias de minhas viagens, mas apartir das informaes que coletei nos ltimos 12 anos as vivncias de milhares de homens emulheres que do passos largos na direo em que eu, e muitos outros, queremos orientar nossasvidas.

    O que todos ns temos em comum a verdade que constitui a essncia deste livro: o que nssabemos tem importncia, mas quem ns somos importa muito mais. Ser, em vez de saber, exigeatitude e disposio para se deixar ser visto. Isso requer viver com ousadia, estar vulnervel. Oprimeiro passo dessa viagem entender onde estamos, contra o que lutamos e aonde precisamoschegar. Creio que poderemos fazer isso melhor ao examinarmos a ideia to difundida de nunca nosjulgarmos bons o bastante.

  • 1ESCASSEZ:POR DENTRO DA CULTURA

    DE NO SER BOM O BASTANTE

    Aps realizar essa pesquisa durante 12 anos e observar oavano do conceito da escassez, que passou a assolar nossas

    famlias, organizaes e comunidades, chego conclusode que j estamos cansados de sentir medo.

    Ns queremos viver com ousadia.

    Durante uma de minhas palestras, uma mulher da plateia comentou: As crianas de hoje se achammuito especiais. O que est transformando tantas pessoas em narcisistas? Sinto certa tristeza quandovejo como o termo narcisismo vem sendo usado. O Facebook to narcisista! Por que as pessoasacham que o que elas esto fazendo to importante? As crianas so to narcisistas! sempre eu, eu,eu... Meu chefe narcisista demais. Ele se acha melhor do que todo mundo e est sempre rebaixando osoutros.

    E enquanto os leigos usam narcisismo como um diagnstico que serve para tudo desde aarrogncia at o comportamento rude , os pesquisadores e prossionais ligados sade fsica emental esto testando a elasticidade do conceito de todas as formas imaginveis. Recentemente, umgrupo de pesquisadores fez uma anlise em trs dcadas de canes que chegaram ao topo dasparadas de sucesso. Eles registraram uma tendncia estatstica signicativa para o narcisismo e ahostilidade na msica popular. Em consonncia com a hiptese, encontraram uma diminuioexpressiva do uso de ns e nosso e um aumento do uso de eu e meu.

    Os pesquisadores tambm relataram um declnio das palavras relacionadas a solidariedade eemoes positivas, e um aumento das palavras relacionadas a ira e comportamentos antissociais,como dio e matar. Dois pesquisadores da equipe, Jean Twenge e Keith Campbell, autores dolivro e Narcissism Epidemic (A epidemia do narcisismo), argumentaram que a incidncia dotranstorno de personalidade narcisista mais que dobrou nos Estados Unidos nos ltimos 10 anos.

  • Ento isso? Estamos cercados de narcisistas? Ns nos transformamos em uma sociedade depessoas egostas e pretensiosas, que s se interessam por poder, sucesso, beleza e em se tornaremimportantes? Ser que estamos com o ego to inado que acreditamos ser superiores mesmo quandono estamos contribuindo com nada relevante nem produzindo algo de valor?

    Se voc como eu, provavelmente estar reetindo um pouco e pensando: Sim. O problema exatamente esse. No comigo, claro. Mas, em termos gerais, essa parece ser mesmo a situao.

    reconfortante ter uma explicao, principalmente uma que faa com que nos sintamos melhor arespeito de ns mesmos e deposite a culpa nos outros. Na verdade, sempre que escuto pessoas usaremo argumento do narcisismo, ele geralmente vem acompanhado de um tom de desprezo, raiva ejulgamento.

    Nossa primeira inclinao curar os narcisistas colocando-os em seu devido lugar. Noimporta se estou falando com professores, grandes executivos ou meus vizinhos, a reao a mesma:Esses egocntricos tm que saber que no so especiais, que no esto com essa bola toda, que noso os reis da cocada preta e que precisam descer do salto alto.

    O tema do narcisismo penetrou tanto na conscincia social que a maioria das pessoas o associa,corretamente, a um padro de comportamento que inclui ideias de grandeza, uma necessidadegritante de admirao e falta de empatia. O que quase ningum compreende que todo nvel degravidade nesse diagnstico est determinado pelo medo da humilhao. O que signica que noconsertamos o narcisismo de algum colocando a pessoa no lugar dela e lembrando-a de suasimperfeies e de sua mediocridade. A humilhao est mais para a causa desses comportamentos doque para a sua cura.

    Analisando o narcisismo pelaslentes da vulnerabilidade

    Diagnosticar e rotular pessoas cujas batalhas so mais contextuais ou adquiridas do que genticas ouorgnicas , com frequncia, bem mais prejudicial do que til para a cura e a mudana.

    Catalogar o problema colocando o foco em quem as pessoas so em vez de nas escolhas que elasesto fazendo deixa todo mundo isento: Que pena. Eu sou assim. Como acredito que devemosresponsabilizar as pessoas por seus comportamentos, no estou falando aqui de culpar o sistema,mas de entender as causas para que seja possvel lidar com os problemas.

    Costuma ser til identicar modelos de comportamento e entender o que eles podem indicar, masisso bem diferente de ser denido por um diagnstico, algo que, como mostra a minha pesquisa,geralmente aumenta o medo da vergonha e impede as pessoas de procurarem ajuda.

    Precisamos compreender essas tendncias e inuncias comportamentais, mas considero maisproveitoso, e at mais transformador em muitos casos, examinar os modelos de comportamentopelas lentes da vulnerabilidade. Por exemplo, quando analiso o narcisismo sob esse ponto de vista,enxergo o medo da humilhao de ser algum comum. Identico o receio de nunca se sentir bom o

  • bastante para ser notado, amado, aceito ou para perseguir um objetivo. Algumas vezes, o simples atode humanizar problemas lana uma luz importante sobre eles, luz que muitas vezes se apaga nominuto em que o rtulo estigmatizante lhe lanado.

    Essa nova denio de narcisismo traz muita clareza e ilumina tanto a fonte do problema quantosuas possveis solues. Consigo ver com nitidez como e por que cada vez mais pessoas se esforampara tentar acreditar que so sucientemente boas. Percebo uma mensagem subliminar por todos oslugares dizendo que uma vida comum uma vida sem sentido. E noto como as crianas que crescemnum ambiente de reality shows, culto celebridade e mdia social sem controle podem absorver essamensagem e desenvolver uma viso de mundo completamente distorcida: O meu valor dado pelaquantidade de pessoas que curtem minhas postagens no Facebook ou no Instagram.

    Pelo fato de sermos todos suscetveis propaganda de massa que deagra tais comportamentos,essa nova lente de observao remove a oposio ns versus aqueles malditos narcisistas.

    A vontade de acreditar que o que estamos fazendo tem importncia facilmente confundida com oestmulo para sermos extraordinrios. sedutor usar o parmetro do culto celebridade para medira signicncia ou insignicncia de nossas vidas. As ideias de grandeza e a necessidade de admiraoparecem um blsamo para aliviar a dor de sermos to comuns e inadequados. Sim, essespensamentos e comportamentos, no nal, causam mais dor e levam a mais isolamento. Porm,quando estamos sofrendo e o amor e os relacionamentos esto pesando na balana, ns nosagarramos quilo que parece nos oferecer maior proteo.

    Certamente existem situaes em que um diagnstico pode ser necessrio para que o tratamentocorreto seja encontrado, mas todo mundo tambm pode ser beneciado pela abordagem dos conitosatravs das lentes da vulnerabilidade. Sempre possvel aprender alguma coisa quando consideramosas questes a seguir:

    1. Quais so as mensagens e as expectativas que denem a sociedade em quevivemos? Como a cultura social influencia nossos comportamentos?

    2. De que maneira as diculdades que enfrentamos produzem comportamentoscujo objetivo principal nos proteger?

    3. Como nossos comportamentos, pensamentos e emoes esto relacionados vulnerabilidade e necessidade de um forte sentido de valorizao?

    Voltando problemtica anterior, sobre estarmos ou no cercados de pessoas com transtorno depersonalidade narcisista, acredito que exista uma poderosa inuncia social em ao agora mesmo e que o medo de ser comum faa parte dela , mas tenho certeza de que a resposta est em umacamada mais profunda. Para encontrar a fonte, devemos passar longe da linguagem abusiva eestigmatizante.

    Se ampliarmos a perspectiva, a viso muda. Sem perder de vista os problemas que viemos

  • discutindo, podemos enxerg-los como parte de um quadro maior. Isso nos permite identicarperfeitamente a maior inuncia cultural de nossa poca o contexto capaz de explicar o que todosidenticam como uma epidemia de narcisismo. Alm disso, ele tambm proporciona uma visopanormica das ideologias, dos comportamentos e dos sentimentos que esto transformandolentamente quem ns somos e a maneira como vivemos, nos relacionamos, trabalhamos, lideramos,cuidamos dos lhos, governamos, ensinamos e nos conectamos uns com os outros. Esse contexto aque me refiro a nossa cultura da escassez.

    Escassez: o problema de nuncaser bom o bastante

    Um aspecto crucial do meu trabalho encontrar uma linguagem que expresse com preciso os dadosobtidos e tambm seja profundamente compreendida pelos participantes da pesquisa. Quando aspessoas ouvem ou leem a frase Nunca ser __________ o bastante, levam apenas alguns segundospara comearem a preencher as lacunas:

    1. Nunca ser bom o bastante.2. Nunca ser perfeito o bastante.3. Nunca ser magro o bastante.4. Nunca ser poderoso o bastante.5. Nunca ser bem-sucedido o bastante.6. Nunca ser inteligente o bastante.7. Nunca ser correto o bastante.8. Nunca ser seguro o bastante.9. Nunca ser extraordinrio o bastante.

    Uma de minhas autoras favoritas sobre escassez Lynne Twist, ativista global e arrecadadora defundos sociais. Em seu livro e Soul of Money (A alma do dinheiro), ela se refere escassez comoa grande mentira. Lynne escreve:

    Para mim e para muitos de ns, o primeiro pensamento do dia, ainda na cama, : Nodormi o suciente. O seguinte : No tenho tempo suciente. Esse pensamento de nosuficincia vem a ns automaticamente, antes mesmo de podermos nos dar conta de suapresena ou examin-lo. Passamos a maior parte de nossas vidas ouvindo, explicando,reclamando ou nos preocupando com o que no temos em quantidade ou grau suciente. (...)Antes de nos sentarmos na cama, antes de nossos ps tocarem o cho, j nos sentimos

  • inadequados, j camos para trs, j perdemos, j damos falta de alguma coisa. E quandovoltamos para a cama noite, nossa mente recita uma ladainha de coisas que noconseguimos ou no zemos naquele dia. Vamos dormir com o peso desses pensamentos edespertamos para lamentar mais faltas. (...) Essa situao interna de escassez, essa tendnciamental escassez, habita no mago do cime, da cobia, do preconceito e de nossas interaescom a vida.

    A escassez, portanto, o problema de nunca ser ou ter o bastante. Ela triunfa em uma sociedadeonde todos esto hiperconscientes da falta. Tudo, de segurana e amor at dinheiro e recursos, passapor uma sensao de inadequao ou falta. Gastamos uma enormidade de tempo calculando quantotemos, no temos, queremos ou poderemos ter, e quanto todos os outros tm, precisam e querem ter.

    O que torna essa avaliao constante to desoladora que, quase sempre, comparamos nossavida, nosso casamento, nossa famlia e nosso trabalho com a viso de perfeio inatingvelpropagada pela mdia, ou ento comparamos nossa realidade com a viso ccional de quantoalgum prximo de ns j conquistou.

    A nostalgia do passado tambm uma forma perigosa de comparao. Repare com quefrequncia voc compara a sua vida atual com uma lembrana de bem-estar que a nostalgia editouem sua mente, mas que nunca existiu de verdade: Lembra-se de quando...? Ah, bons tempos!

    A fonte da escassez

    A escassez no se instala numa cultura da noite para o dia. O sentimento de falta e privao oresceem sociedades com tendncia vergonha e humilhao e que estejam profundamente enraizadas nacomparao e despedaadas pela desmotivao. (Quando menciono uma cultura com tendncia vergonha no quero dizer que tenhamos vergonha de nossa identidade coletiva, mas que h muitosentre ns sofrendo com a questo da desvalorizao que vem modelando a sociedade.)

    Nos ltimos 10 anos, testemunhei grandes mudanas no Zeitgeist de meu pas. Identiquei essastransformaes por meio da coleta de dados e as reconheci nos rostos das pessoas que encontrei,entrevistei e com quem conversei. O mundo nunca esteve numa situao tranquila, mas a dcadapassada foi to traumtica para um grande nmero de pessoas que isso chegou a causar mudanasem nossa sociedade. Passamos pelo 11 de Setembro, por vrias guerras, recesso, desastres naturaisde enormes propores e pelo aumento da violncia gratuita e dos assassinatos em escolas.Testemunhamos acontecimentos que vm dilacerando nossa sensao de segurana com tamanhafora que ns os vivenciamos como traumas pessoais, mesmo sem estarmos envolvidos neles deforma direta.

    E quando se trata do nmero impressionante de desempregados e subempregados em diversaspartes do mundo, como se todos tivssemos sido diretamente afetados ou fssemos prximos de

  • algum que passou ou esteja passando por isso.A preocupao com a escassez a verso da nossa cultura para o estresse ps-traumtico. Ela

    surge depois que estivemos no limite por muito tempo e, em vez de nos unirmos para resolver oproblema (o que requer vulnerabilidade), camos zangados e assustados. No apenas a sociedademais ampla que est sofrendo: encontrei as mesmas dinmicas de isolamento e raiva nasmicrossociedades da famlia, do trabalho, da escola e da comunidade. E todas elas compartilham amesma frmula de vergonha, comparao e desmotivao. A escassez encontra terreno frtil nessascondies e as perpetua, at que uma massa crtica de pessoas comea a fazer escolhas diferentes e aremodelar os contextos menores a que pertencem.

    Um modo de pensar sobre os trs componentes da frmula da escassez e a maneira como elesinuenciam a sociedade reetir sobre as questes a seguir. Enquanto estiver lendo as perguntas,tenha em mente todos os ambientes ou sistemas sociais dos quais voc faz parte, seja em sala de aula,em famlia, na comunidade ou talvez em sua prpria equipe de trabalho.

    1. Vergonha: O medo do ridculo e a depreciao so usados para controlar aspessoas e mant-las na linha? Apontar culpados uma prtica comum? Ovalor de algum est ligado ao sucesso, produtividade ou obedincia?Humilhaes e linguagem abusiva so frequentes? E quanto ao favoritismo? Operfeccionismo uma realidade?

    2. Comparao: A competio saudvel pode ser benca, mas h comparao edisputa o tempo todo, velada ou abertamente? A criatividade tem sido sufocada?As pessoas so connadas a padres estreitos em vez de serem valorizadas porsuas contribuies e talentos especcos? H um modo ideal de ser ou um tipo dehabilidade usado como medida de valor para todos?

    3. Desmotivao: As pessoas esto com medo de correr riscos ou tentar coisasnovas? mais fcil car quieto do que compartilhar ideias, histrias eexperincias? A impresso geral de que ningum est realmente prestandoateno ou escutando? Todos esto se esforando para serem vistos e ouvidos?

    Quando vejo essas perguntas e penso sobre a nossa macrossociedade, a mdia e o panoramasocial, econmico e poltico, minhas respostas so sim, sim e sim!

    Quando penso na minha famlia, sei que essas so as questes exatas que meu marido e eutentamos superar todos os dias. Uso a palavra superar porque desenvolver um relacionamento, criaruma famlia, implantar uma cultura organizacional, administrar uma escola ou promover umacomunidade religiosa, de um jeito que seja fundamentalmente oposto s normas sociais governadaspela escassez, exige conscincia, compromisso e muito trabalho todos os dias. A macrossociedadeest sempre exercendo presso sobre ns e, a no ser que tenhamos vontade de recuar e decidir lutar

  • pelo que acreditamos, o estado permanente de escassez se torna o modus operandi.Somos convocados a viver com ousadia cada vez que fazemos escolhas que desaam o ambiente

    social de escassez.O oposto de viver em escassez no cultivar o excesso. Na verdade, excesso e escassez so dois

    lados da mesma moeda. O oposto da escassez o suciente, ou o que chamo de plenitude. Em suaessncia, a vulnerabilidade: enfrentar a incerteza, a exposio e os riscos emocionais, sabendo que eusou o bastante.

    Se voc retornar aos trs blocos de perguntas sobre escassez e se perguntar se desejaria carvulnervel em algum contexto denido por aqueles valores, a resposta para a maioria de ns umsonoro no. Se voc se perguntar se essas condies o levam a desenvolver o amor-prprio e aautovalorizao, a resposta no, mais uma vez. Os elementos mais raros em uma sociedade daescassez so a disposio para assumir nossa vulnerabilidade e a capacidade de abraar o mundo apartir da autovalorizao e do merecimento.

    Aps realizar essa pesquisa durante 12 anos e observar o avano do conceito de escassez, quepassou a assolar nossas famlias, organizaes e comunidades, chego concluso de que j estamoscansados de sentir medo. Todos queremos ser corajosos. Ns queremos viver com ousadia. Estamosfartos do discurso geral que insiste em perguntar constantemente O que devemos temer? e A quemdevemos culpar?.

    No prximo captulo conversaremos sobre os mitos da vulnerabilidade que abastecem a escassez esobre como a coragem comea a abrir caminho quando nos mostramos e nos permitimos ser vistos.

  • 2DERRUBANDO OS MITOSDA VULNERABILIDADE

    verdade que quando estamos vulnerveis ficamostotalmente expostos, sentimos que entramos numacmara de tortura (que chamamos de incerteza)

    e assumimos um risco emocional enorme.Mas nada disso tem a ver com fraqueza.

    Mito 1: Vulnerabilidade fraqueza

    A percepo de que estar vulnervel seja sinal de fraqueza o mito mais amplamente aceito sobre avulnerabilidade e tambm o mais perigoso. Quando passamos a vida nos afastando e nosprotegendo de um estado de vulnerabilidade ou de sermos vistos como sentimentais demais, camoscontentes quando os outros so menos capazes de mascarar seus sentimentos. Chegamos ao ponto de,em vez de respeitarmos e admirarmos a coragem e a ousadia que esto por trs da vulnerabilidade,deixarmos o medo e o desconforto se tornarem julgamento e crtica.

    Vulnerabilidade no algo bom nem mau: no o que chamamos de emoo negativa e nemsempre uma luz, uma experincia positiva. Ela o centro de todas as emoes e sensaes. Sentir estar vulnervel. Acreditar que vulnerabilidade seja fraqueza o mesmo que acreditar que qualquersentimento seja fraqueza. Abrir mo de nossas emoes por medo de que o custo seja muito altosignifica nos afastarmos da nica coisa que d sentido e significado vida.

    Nossa rejeio da vulnerabilidade deriva com frequncia da associao que fazemos entre ela e asemoes sombrias como o medo, a vergonha, o sofrimento, a tristeza e a decepo sentimentos queno queremos abordar, mesmo quando afetam profundamente a maneira como vivemos, amamos,trabalhamos e at exercemos a liderana. O que muitos no conseguem entender, e que me consumiuuma dcada de pesquisa para descobrir, que a vulnerabilidade tambm o bero das emoes e das

  • experincias que almejamos. Quando estamos vulnerveis que nascem o amor, a aceitao, aalegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a conana e a autenticidade. Se desejamos umaclareza maior em nossos objetivos ou uma vida espiritual mais signicativa, a vulnerabilidade comcerteza o caminho.

    Sei que difcil acreditar nisso, sobretudo quando passamos tanto tempo achando quevulnerabilidade e fraqueza so sinnimos, mas a pura verdade. Vulnerabilidade incerteza, risco eexposio emocional. Com essa definio em mente, vamos pensar sobre o amor.

    Acordar todos os dias e amar algum que pode ou no nos retribuir, cuja segurana no podemosgarantir, que pode estar em nossas vidas um dia e partir sem aviso no outro, que pode ser el at amorte ou nos trair no dia seguinte isso vulnerabilidade. O amor incerto e oferece um riscoincrvel. Amar algum nos deixa emocionalmente expostos. Sim, assustador e, sim, ns podemosser magoados, mas voc consegue imaginar a sua vida sem amar ou ser amado?

    Exibir nossa arte, nossos textos, nossas fotos, nossas ideias ao mundo, sem garantia de aceitaoou apreciao, tambm signica nos colocar numa posio vulnervel. Quando nos entregamos aosmomentos felizes de nossa vida, mesmo sabendo que eles so passageiros e que o mundo nos diz parano sermos felizes demais para no atrairmos desgraa essa uma forma intensa devulnerabilidade.

    O grande perigo que comeamos a enxergar os sentimentos como fraqueza. Com exceo daraiva (uma emoo secundria, que serve apenas como uma mscara socialmente aceitvel paramuitas emoes secretas bem mais difceis que experimentamos), estamos perdendo a tolerncia emrelao aos sentimentos e, em consequncia, em relao vulnerabilidade.

    Se quisermos recuperar a parte essencialmente emocional de nossa vida, reacender nossa paixo eretomar nossos objetivos, precisamos aprender a assumir nossa vulnerabilidade e acolher as emoesque resultam disso. Para alguns de ns um aprendizado novo e, para outros, uma recapitulao. Dequalquer forma, minha pesquisa me ensinou que a melhor maneira de comear denindo,reconhecendo e compreendendo a vulnerabilidade.

    A denio de vulnerabilidade se tornou realmente palpvel para mim com os exemplos que aspessoas compartilharam quando pedi que completassem a frase: Vulnerabilidade ___________________. Eis algumas das respostas:

    expressar uma opinio impopular.me defender e me impor.pedir ajuda.dizer no.comear meu prprio negcio.ajudar minha esposa de 37 anos com cncer de mama em estgio avanado atomar decises sobre seu testamento.tomar a iniciativa do sexo com minha esposa.

  • tomar a iniciativa do sexo com meu marido.escutar meu lho dizer que seu sonho reger a orquestra e incentiv-lo, mesmosabendo que isso provavelmente nunca vai acontecer.telefonar para um amigo cujo filho acaba de morrer.decidir colocar minha me num asilo.o primeiro encontro amoroso depois do divrcio.ser o primeiro a dizer Eu te amo sem saber se a declarao ser retribuda.mostrar alguma coisa que escrevi ou alguma obra artstica que eu tenha criado.ser promovido e no saber se terei sucesso no novo cargo.ser demitido.me apaixonar.tentar alguma coisa nova.apresentar o novo namorado para a famlia.ficar grvida depois de trs abortos.esperar o resultado da bipsia.fazer exerccios em pblico mesmo quando no sei bem o que estou fazendo equando estou fora de forma.admitir que estou com medo.voltar para a partida depois de ter errado muitas jogadas.dizer ao meu diretor que ns no teremos como bancar a folha de pagamentono prximo ms.demitir funcionrios.apresentar meu produto para o mundo e no ter retorno.me impor e defender meus amigos quando ouo crticas a respeito deles.ser responsvel.pedir perdo.ter f.

    Essas aes soam como fraqueza para voc? Colocar-se ao lado de algum que atravessa umagrande diculdade fraqueza? Assumir responsabilidade coisa de gente fraca? Voltar para o jogodepois de perder um gol feito sinal de fraqueza? NO. Vulnerabilidade soa como verdade e sinalde coragem. Verdade e coragem nem sempre so confortveis, mas nunca so fraquezas.

    verdade que quando estamos vulnerveis camos totalmente expostos, sentimos que entramosnuma cmara de tortura (que chamamos de incerteza) e assumimos um risco emocional enorme.Mas nada disso tem a ver com fraqueza.

    Quando pedimos que completassem a frase: A sensao de estar vulnervel __________, asrespostas foram igualmente significativas:

  • tirar a mscara e esperar que o verdadeiro eu no seja muito decepcionante.como no ter mais que engolir sapos.o encontro da coragem com o medo.estar no meio da corda bamba: mover-se para a frente ou para trs igualmente assustador.ter mos suadas e corao disparado.estar com medo e empolgado; aterrorizado e esperanoso.sair de uma camisa de fora.subir num galho alto, muito alto.dar o primeiro passo na direo daquilo que voc mais teme.estar totalmente presente.estar muito desconfortvel e assustado, mas tambm se sentir humano e vivo.ter um tijolo na garganta e um n no peito.como aquele momento terrvel na montanha-russa quando estamos perto doprimeiro mergulho.liberdade e libertao.ter medo, todas as vezes.pnico, ansiedade, medo, desequilbrio, seguidos de liberdade, satisfao,encantamento e depois um pouco mais de pnico.arriscar o pescoo diante do inimigo.infinitamente aterrorizante e dolorosamente necessria.a de uma queda livre.como aqueles dois segundos entre ouvir um disparo e esperar para ver se vocfoi baleado.se deixar perder o controle.

    E sabe qual foi a resposta que apareceu inmeras vezes em nosso esforo para entender melhor avulnerabilidade? Estar nu.

    como ficar nu no palco e esperar por aplausos em vez de deboches. estar nu quando todos os outros esto vestidos. como estar nu em um sonho: voc est no aeroporto completamente pelado.

    A psicologia e a psicologia social produziram provas convincentes sobre a importncia de admitira vulnerabilidade. No campo da psicologia do bem-estar, estudos mostram que a vulnerabilidadepercebida, ou seja, a capacidade de reconhecer nossos riscos e exposies aumenta grandementenossas chances de aderir a algum tipo de programa de sade mais positivo. Para conseguir que os

  • pacientes se comprometam com rotinas de preveno, os psiclogos trabalham a vulnerabilidadepercebida. E o que torna isso realmente interessante que no o nosso nvel verdadeiro devulnerabilidade que importa, mas o nvel de vulnerabilidade que admitimos ter diante de certa doenaou ameaa.

    No campo da psicologia social, pesquisadores da inuncia e da persuaso que examinam comoas pessoas so afetadas por propaganda e marketing realizaram uma srie de estudos sobrevulnerabilidade. Eles descobriram que os participantes que se consideravam imunes ou invulnerveisaos anncios enganadores eram, na verdade, os mais suscetveis. A explicao dos pesquisadoressobre esse fenmeno diz tudo: Longe de ser um escudo ecaz, a iluso de invulnerabilidadedesencoraja a reao que teria fornecido uma proteo genuna.

    Uma das experincias de minha carreira que mais gerou ansiedade foi falar na conferncia TED aque me referi na Introduo. Como se no bastassem todos os medos naturais associados a dar umapalestra lmada de 18 minutos diante de uma plateia altamente bem-sucedida e de expectativa muitoelevada, eu era a ltima palestrante do evento. Durante trs dias quei sentada assistindo a algumasdas mais incrveis e instigantes explanaes de minha vida.

    Depois de cada uma delas eu me afundava um pouco mais na poltrona com a constatao de que,para a minha palestra funcionar, eu teria que desistir de tentar fazer como todos os demais eprecisaria me conectar com a plateia. Eu queria desesperadamente assistir a algo que eu pudesseimitar ou usar como modelo, mas as falas que me impactaram mais fortemente no seguiam umformato: elas foram simplesmente autnticas. Isso quer dizer que eu teria obrigatoriamente que ser eumesma. Precisaria estar vulnervel e aberta. Deveria deixar o texto de lado e olhar as pessoas nosolhos. Eu teria que ficar nua.

    Quando nalmente pisei no palco, a primeira coisa que z foi travar contato visual com a plateia.Pedi aos tcnicos de iluminao que ajustassem os reetores de maneira que eu pudesse ver aspessoas. Eu precisava de conexo. Simplesmente ver a audincia como pessoas, e no como aplateia, me fez lembrar que os desaos que me assustavam como estar nua tambm metiammedo em todo mundo. Acho que essa a razo pela qual a empatia pode ser conquistada sem anecessidade de palavras: basta olhar no olho do outro e receber uma resposta amistosa.

    Durante a palestra perguntei ao pblico duas coisas que revelam bastante sobre os muitosparadoxos que denem a vulnerabilidade. Primeiro, indaguei: Quantos de vocs se esforam parano carem vulnerveis por associarem a vulnerabilidade fraqueza? Muitos levantaram as mospor todo o auditrio. Depois, perguntei: Quando vocs viram as pessoas passarem por esse palco, seexpondo e cando vulnerveis, quantos acharam que elas eram corajosas? Novamente, muitoslevantaram as mos.

    Ns gostamos de ver a vulnerabilidade e a verdade transparecerem nas outras pessoas, mastemos medo de deixar que as vejam em ns. Isso porque tememos que a nossa verdade no sejasuciente que o que temos para oferecer no seja o bastante sem os artifcios e a maquiagem, sem

  • uma edio pronta para exibio. Eu estava com medo de subir ao palco e mostrar plateia o meuverdadeiro eu aquelas pessoas eram muito importantes, muito bem-sucedidas, muito famosas; omeu verdadeiro eu, por outro lado, muito desordenado, muito imperfeito, muito imprevisvel.

    Eis o cerne da questo:Quero testemunhar a sua vulnerabilidade, mas no quero ficar vulnervel.Vulnerabilidade coragem em voc e fraqueza em mim.Eu sou atrada pela sua vulnerabilidade, mas sou repelida pela minha.Lembro-me de que, enquanto eu me aproximava do palco, tratei de me concentrar em meu

    marido, que estava na plateia, e em minhas irms e alguns amigos, que assistiam pela internet.Tambm tirei coragem de algo que havia aprendido naquelas palestras da TED uma lioinesperada que recebera sobre fracasso. A grande maioria dos palestrantes que me antecederam falouabertamente sobre o fracasso. Eles contaram suas desventuras e os insucessos que tiveram durante oprocesso de elaborao de seu trabalho e sobre como esses percalos s fortaleceram suas paixes.Isso me deixou impressionada e inspirada.

    Quando chegou a minha vez, respirei fundo e esperei ser chamada enquanto recitava minhaorao da vulnerabilidade: D-me coragem para aparecer e deixar que me vejam. Ento, algunssegundos antes de ser apresentada ao pblico, me veio mente a imagem de um peso de papel queest sobre a minha mesa de trabalho, onde se l: O que voc tentaria fazer se soubesse que no iriafalhar? Empurrei essa pergunta para longe a m de criar espao para uma nova pergunta. Quandosubi ao palco, literalmente sussurrei para mim mesma: O que vale a pena fazer mesmo que eufracasse?

    Sinceramente no me lembro muito do que falei, mas, quando tudo acabou, l estava eu,mergulhada em completa vulnerabilidade novamente! O risco valeu a pena? E como! Souapaixonada pelo meu trabalho e cono no que aprendi com os participantes da minha pesquisa.Realmente acredito que conversas honestas sobre vulnerabilidade e sobre vergonha podem mudar omundo. As minhas duas palestras foram falhas e imperfeitas, mas eu caminhei para a arena e dei omelhor de mim. O desejo de nos expor nos transforma. Ele nos torna um pouco mais corajosos acada vez.

    Desde telefonar para um amigo que passou por uma terrvel tragdia at comear o seu prprionegcio, passando por car aterrorizado ao experimentar uma sensao de libertao, avulnerabilidade a grande ousadia da vida. O resultado de viver com ousadia no uma marcha davitria, mas uma tranquila liberdade mesclada com o cansao gostoso da luta.

    Mito 2: Vulnerabilidade no comigo

    Quando ramos crianas, costumvamos pensar que quando crescssemos no seramosmais vulnerveis. Mas crescer aceitar a vulnerabilidade. Esta'r vivo estar vulnervel.

  • Madeleine LEngle, escritora americana

    Perdi a conta das vezes em que ouvi as pessoas dizerem: um tema interessante, masvulnerabilidade no comigo. E o comentrio era logo reforado por uma justicativa que levavaem conta a prosso ou o gnero: Sou engenheiro e detesto vulnerabilidade, Sou advogada e comovulnerabilidade no caf da manh, Homens no sabem o que vulnerabilidade. Acredite: eu j agiassim. No sou homem nem engenheira nem advogada, mas j repeti essas ideias umas 100 vezes.Infelizmente, no existe um carto com passe livre de vulnerabilidade. No podemos optar por carfora da incerteza, do risco e da exposio emocional que perpassam nossa experincia diria. A vida vulnervel.

    Examine novamente a lista de exemplos da pgina 29. Aqueles so os desaos de estar vivo, deestar em um relacionamento, de ter um vnculo. Mesmo se resolvermos abrir mo dosrelacionamentos e optarmos pelo isolamento como forma de proteo, ainda assim estaremos vivos esujeitos vulnerabilidade. Fazer as perguntas a seguir a si mesmo bastante til para quem se vpreso ao mito de que vulnerabilidade no comigo. Se no souber responder, pea ajuda a algumprximo.

    1. O que eu fao quando me sinto emocionalmente exposto?2. Como me comporto quando me sinto muito desconfortvel e inseguro?3. Estou disposto a correr riscos emocionais?

    Antes que eu comeasse a trabalhar essas questes, minhas respostas eram:

    1. Tenho medo, raiva, assumo uma atitude crtica e controladora, quero fazer ascoisas de maneira perfeita, com preciso cirrgica.

    2. Fico com medo, com raiva, assumo uma atitude crtica e controladora, coperfeccionista, querendo fazer as coisas com preciso cirrgica.

    3. No trabalho, no me sinto nem um pouco disposta se h excesso de crtica,julgamentos, atribuio de culpa e humilhao. Assumir riscos emocionais comas pessoas de quem eu gosto sempre esteve relacionado ao medo de que algumacoisa ruim pudesse acontecer.

    Quando ngimos que podemos evitar a vulnerabilidade, tomamos atitudes que so, muitas vezes,incompatveis com quem ns realmente desejamos ser. Experimentar a vulnerabilidade no umaescolha a nica escolha que temos como vamos reagir quando formos confrontados com a

  • incerteza, o risco e a exposio emocional.No Captulo 4, examinaremos os comportamentos conscientes e inconscientes que utilizamos para

    nos proteger quando acreditamos que a vulnerabilidade no tem nada a ver conosco.

    Mito 3: Vulnerabilidade exportotalmente a minha vida

    Uma linha de questionamento que ouo com frequncia diz respeito cultura do m da privacidade.Pode haver vulnerabilidade em demasia? No seria o caso de superexposio? Essas perguntas soinevitavelmente seguidas de exemplos do atual culto celebridade. O que dizer quando certa atriz decinema posta no Twitter sobre a tentativa de suicdio de seu marido? Ou quando rostos conhecidos daTV dividem com o resto do mundo detalhes ntimos de suas vidas e da vida de seus filhos?

    A vulnerabilidade se baseia na reciprocidade e requer conana e limites. No superexposio,no catarse, no se desnudar indiscriminadamente. Vulnerabilidade tem a ver com compartilharnossos sentimentos e nossas experincias com pessoas que conquistaram o direito de conhec-los.Estar vulnervel e aberto passa pela reciprocidade e uma parte integrante do processo de construoda confiana.

    No podemos ter sempre garantias antes de compartilhar algo; entretanto, no expomos nossaalma na primeira vez que encontramos algum. Nunca nos aproximamos dizendo: Oi, meu nome Bren e esta a minha maior diculdade. Isso no vulnerabilidade. Pode ser desespero, carnciaafetiva ou necessidade de ateno, mas no vulnerabilidade. Partilhar adequadamente, com limites,signica dividir sentimentos com pessoas com as quais temos um relacionamento e que querem fazerparte de nossa histria. O resultado dessa vulnerabilidade mtua e respeitosa um vnculo maior,mais confiana e mais envolvimento.

    A vulnerabilidade sem limites leva a falta de empatia, desconana e isolamento. De fato, comoveremos no Captulo 4, a exposio total uma forma de se proteger da verdadeira vulnerabilidade.Portanto, informao em excesso no um caso de vulnerabilidade demasiada, mas de falncia davulnerabilidade, quando nos afastamos da sensao que ela provoca para us-la apenas em situaesde carncia e necessidade de ateno ou para nos entregarmos aos comportamentos extremados quese tornaram lugar-comum na sociedade de hoje.

    Para dissipar o mito de que a vulnerabilidade compartilhar nossos segredos com todo mundo,vamos examinar a questo da confiana.

    Quando falo sobre a importncia de car vulnervel, aparecem sempre muitas questes sobre anecessidade de confiar nos outros:

    Como sei se posso confiar em algum o bastante para ficar vulnervel?S me mostrarei vulnervel a algum se estiver seguro de que essa pessoa no me

  • decepcionar.Como saber se algum ir trair minha confiana?Como desenvolver a confiana nas pessoas?

    No existe teste de conana nem luz verde para sinalizar que seguro nos abrirmos. Osparticipantes da pesquisa que responderam a essas perguntas descreveram a conana como umprocesso de construo lenta, por camadas, que vai acontecendo com o tempo. Em nossa famlia nosreferimos confiana como o pote de bolinha de gude.

    Minha lha Ellen teve sua primeira experincia de traio no terceiro ano do ensino fundamental.Durante o recreio, ela contou para uma coleguinha de turma algo engraado e levementeconstrangedor que tinha acontecido com ela mais cedo naquele mesmo dia. Por volta do lanche datarde, todas as garotas da turma j sabiam de seu segredo e estavam pegando no seu p. Foi umalio importante, mas dolorosa, porque at aquele momento ela nunca considerara a possibilidade deque algum pudesse fazer tal coisa.

    Quando Ellen chegou em casa, ela caiu no choro e me disse que jamais tornaria a contar seussegredos para algum. Estava muito magoada. Foi de cortar o corao. Para piorar as coisas, elame disse que, quando voltou para a sala, as colegas ainda estavam rindo dela com tamanhaintensidade que a professora as separou e retirou algumas bolinhas de gude do pote que havia na sala.

    A professora de Ellen tinha um grande pote de vidro a que ela e as crianas se referiam como opote de bolinha de gude. Ela mantinha uma caixa com bolinhas coloridas prxima ao pote, esempre que a turma fazia boas escolhas coletivamente, ela lanava bolinhas de gude no pote. Porm,sempre que a turma quebrasse regras ou no prestasse ateno, a professora retirava algumasbolinhas. Quando e se as bolinhas enchessem o pote, os alunos seriam recompensados com umafesta.

    Por mais que eu quisesse dizer a Ellen No divida seus segredos com essas garotas! Assim elasnunca vo mago-la de novo, deixei meus medos e minha raiva de lado e comecei a tentar descobrircomo ter uma conversa franca com ela sobre conana e relacionamentos. Enquanto procurava amaneira certa de traduzir minhas prprias experincias de conana e o que aprendia sobre o assuntocom a minha pesquisa de campo, pensei em como a metfora do pote de bolinha de gude seriaperfeita.

    Sugeri a Ellen que pensasse sobre suas amizades como potes de bolinha de gude. Sempre queuma pessoa lhe oferecer apoio, for carinhosa com voc, defend-la ou guardar o que voc conou aela em particular, coloque uma bolinha de gude no pote. Se uma amiga ou um amigo for cruel,desrespeitoso ou espalhar seus segredos, uma bolinha dever ser retirada. Quando lhe perguntei seisso fazia sentido, ela acenou positivamente com a cabea e disse entusiasmada: Eu tenho amigas queencheriam o pote de bolinha de gude!

    Ento ela descreveu quatro amigas com quem sempre podia contar, que sabiam alguns de seussegredos e nunca os revelaram a ningum e que tambm haviam compartilhado alguns com ela.

  • So amigas que me chamam para sentar com elas mesmo se forem convidadas para a mesa dasgarotas mais populares do colgio.

    Foi um momento sublime para ns duas. Quando lhe perguntei como essas meninas se tornaramamigas to conveis e dignas das bolinhas de gude, ela pensou por um instante e respondeu: Notenho certeza. Como as suas amigas conquistaram as bolinhas de gude? Depois de pensarmos juntaspor um tempo chegamos s nossas concluses. Algumas das respostas de Ellen foram:

    Elas guardaram meus segredos.Elas me contaram seus segredos.Elas se lembraram do meu aniversrio.Elas sabem quem so a vov e o vov.Elas sempre me incluem nas coisas divertidas.Elas sabem quando estou triste e me perguntam por qu.Quando falto escola por estar doente, elas pedem s suas mes que telefonem para sabercomo estou.

    E as minhas? Exatamente as mesmas com exceo de que para mim, vov e vov so minhame e meu padrasto. Quando minha me chega numa festinha dos meus lhos, uma grandealegria ouvir uma de minhas amigas dizer: Oi, Deanne, que bom ver voc! Eu sempre penso: Elase lembrou do nome da minha me. Ela se importa conosco.

    Confiana colocar uma bolinha de gude de cada vez.O dilema do ovo e da galinha vem tona quando pensamos sobre o investimento que as pessoas

    tm que fazer nos relacionamentos antes mesmo de o processo de construo da confiana comear. Aprofessora no disse: Eu no vou comprar o pote e as bolinhas de gude antes de saber se a turmaser capaz de fazer boas escolhas coletivamente. O pote estava l desde o primeiro dia de aula. Naverdade, ao nal do primeiro dia, ela j havia enchido o fundo dele com uma camada de bolinhas.As crianas no disseram professora: Decidimos no fazer boas escolhas porque no acreditamosque voc colocar bolinhas no pote. Elas trabalharam duro e abraaram alegremente a ideia, porqueconfiaram na professora.

    Um dos psiclogos que mais admiro no campo dos relacionamentos John Gottman. Seu livroe Science of Trust: Emotional Attunement for Couples (A cincia da conana: sintonia emocionalpara casais) uma obra inspiradora sobre a anatomia da conana. Em um artigo no site GreaterGood da Universidade de Berkeley, Gottman descreve a construo da conana de uma maneiratotalmente compatvel com o que encontrei em minha pesquisa e tambm com o que Ellen e euchamamos de pote de bolinha de gude:

    De acordo com a pesquisa, descobri que a conana construda em momentos muito

  • pequenos, que eu chamo de momentos de porta entreaberta . Em qualquer interao h umapossibilidade de conexo com seu parceiro ou de distanciamento dele.Vou dar um exemplo disso em meu prprio casamento. Certa noite, eu queria muito concluira leitura de um livro policial. Achei que soubesse quem era o assassino, mas estava ansiosopara conrmar minha suspeita. A certa altura, coloquei o livro na mesa de cabeceira e melevantei para ir ao banheiro.Quando passei pelo espelho, vi a imagem reetida de minha esposa, e ela me pareceu triste,escovando seus cabelos. Era um momento de porta entreaberta.Eu tinha uma escolha. Poderia sair daquele banheiro pensando: No quero lidar com atristeza dela esta noite; quero ler meu livro. Mas, em vez disso, talvez por ser um sensvelpesquisador de relacionamentos, decidi ir at ela. Segurei a escova que estava em suas mos eperguntei: O que est acontecendo, querida? Ela me disse que estava triste.Naquele exato momento, eu estava construindo conana; eu estava ali para apoi-la. Euestava me conectando com ela em vez de escolher me dedicar apenas ao que eu queria. So emmomentos assim que a confiana construda.Um momento como esse pode no parecer importante, porm, se ns sempre escolhermosvirar as costas para as necessidades do outro, a conana no relacionamento vai sedeteriorando lenta e gradualmente.

    Quando pensamos em traio nos termos da metfora do pote de bolinha de gude, a maioria dens imagina algum em quem conamos fazendo algo to terrvel que nos obrigasse a pegar o pote ejogar fora todas as bolinhas. Qual a pior traio de conana que voc pode imaginar? Ele me traicom minha melhor amiga. Ela mente sobre como gastou o dinheiro. Algum usa minha vulnerabilidadecontra mim. Todas so traies terrveis, sem dvida, mas h um tipo especco de traio que ainda mais desleal e igualmente corrosivo para a confiana no relacionamento.

    Na verdade, esta traio geralmente acontece muito antes das outras todas. Estou falando datraio do descompromisso. De no se importar. De desfazer o vnculo. De no desejar dedicar tempoe esforo ao relacionamento. A palavra traio evoca experincias de falsidade, mentira, quebra deconana, omisso de defesa quando nosso nome est envolvido em intrigas ou fofocas e de nosermos escolhidos como algum especial entre outras pessoas. Esses comportamentos so certamentetraioeiros, mas no so as nicas formas de traio. Se eu tivesse que escolher uma forma de traioque tenha aparecido com muita frequncia em minha pesquisa e que tenha se mostrado a maisperigosa em termos de corroso do elo de conana em um relacionamento, eu mencionaria odescompromisso.

    Quando as pessoas que amamos ou com quem temos uma forte ligao param de se importarconosco, de nos dar ateno e de investir no relacionamento, a conana comea a se extinguir e amgoa vai crescendo. O descompromisso gera humilhao e desperta nossos maiores medos: de serabandonado, desvalorizado e desprezado. O que pode fazer dessa traio obscura algo muito mais

  • perigoso do que uma mentira ou at mesmo do que um caso fortuito o fato de no conseguirmoslocalizar a fonte de nossa dor no h acontecimento, nenhuma evidncia explcita de ruptura. E issopode deflagrar um processo de loucura.

    Podemos dizer a um parceiro descompromissado: Voc no parece mais se importar com nossocasamento. Mas sem uma prova disso, a resposta pode facilmente ser a seguinte: Chego em casatodo dia do trabalho s sete da noite. Ponho as crianas na cama. Levo a famlia para passear nodomingo. O que mais voc quer de mim? Ou, no ambiente de trabalho, quando sentimos vontade dedizer: Por que no me do mais feedback? Digam que gostam de mim! Reclamem de alguma coisa!Mas me faam lembrar que eu ainda trabalho aqui!

    Com os lhos, as atitudes tm mais peso do que as palavras. Quando paramos de nos interessarpor suas vidas, no perguntando mais como foi seu dia nem querendo saber mais de seus gostosmusicais, de suas amizades, eles cam ressentidos e com medo (em vez de aliviados,independentemente do temperamento que os adolescentes possam ter). E por no conseguiremexpressar bem como se sentem com nosso desinteresse, quando paramos de nos esforar paraparticipar, eles comeam a agir de maneira extravagante, pensando: Isto vai chamar a atenodeles.

    Assim como a conana, a maioria das experincias de traio se acumula lentamente, com umabolinha de gude de cada vez. Na verdade, as traies grandes e visveis que mencionei antes so maisfrequentes aps um perodo de desinteresse e de corroso lenta da confiana.

    Para concluir, a conana um produto da vulnerabilidade que cresce com o tempo e exigetrabalho, ateno e comprometimento total. Conana no uma postura nobre uma coleo debolinhas de gude que cresceu.

    Mito 4: Eu me garanto sozinho

    Uma qualidade que temos em alta conta em nossa sociedade individualista a capacidade de se virarsozinho. Mesmo que possa parecer infeliz e deprimente, admiramos a fora que isso evoca e segarantir sozinho algo reverenciado.

    A jornada da vulnerabilidade no foi feita para se percorrer sozinho. Ns precisamos de apoio.Precisamos de pessoas que nos ajudem na tentativa de trilhar novas maneiras de ser e no nosjulguem. Precisamos de uma mo para nos levantar quando cairmos (e se voc se entregar a umavida corajosa, levar alguns tombos). Durante o desenrolar da minha pesquisa, os participantesforam muito claros em relao necessidade que sentem de apoio, encorajamento e, por vezes, ajudaprossional quando voltaram a entrar em sintonia com sua vulnerabilidade e sua vida emocional. Amaioria de ns sabe muito bem prestar ajuda, mas, quando se trata de vulnerabilidade, precisosaber pedir ajuda tambm.

    S depois que aprendermos a receber com um corao aberto que poderemos nos doar com umcorao aberto. Ao vincularmos julgamentos ajuda que recebemos, de forma consciente ou

  • inconsciente, tambm estaremos vinculando julgamentos ajuda que prestamos.Todos ns precisamos de ajuda. Sei que no poderia ter concludo nem a pesquisa nem este livro

    sem estmulos fortes, que vieram de meu marido, da minha terapeuta, de vrios livros e de amigos efamiliares que estavam em uma jornada parecida. Vulnerabilidade gera vulnerabilidade; e acoragem contagiosa.

    H alguns estudos muito respeitados sobre liderana que sustentam a ideia de que pedir ajuda essencial e que vulnerabilidade e coragem contagiam. Em um artigo de 2001 publicado na HarvardBusiness Review, Peter Fuda e Richard Badham usaram uma srie de metforas para explicar comolderes estimulam e sustentam a mudana. Uma das metforas a de uma bola de neve. A bola deneve comea a rolar quando um lder se dispe a car vulnervel diante de seus subordinados. Apesquisa demonstra que essa atitude de vulnerabilidade considerada corajosa pelos membros daequipe e estimula os outros a seguir o mesmo caminho.

    Um exemplo da metfora da bola de neve contida na pesquisa de Harvard a histria de Clynton,o diretor-executivo de uma grande empresa alem que descobriu que seu estilo centralizador deliderana estava impedindo os gerentes de tomarem iniciativas. Os pesquisadores explicam:

    Ele poderia ter agido em particular para mudar seu comportamento, mas, em vez disso,trouxe a questo tona durante um encontro anual com seus 60 principais gerentes, em quereconheceu seus erros e reformulou seu papel, tanto em nvel pessoal quanto organizacional.Ele admitiu que no tinha todas as respostas e pediu que sua equipe lhe ajudasse a dirigir aempresa.

    Ao estudarem a transformao que sucedeu a esse encontro, os pesquisadores relataram que aecincia de Clynton aumentou, sua equipe prosperou, houve ganhos em termos de iniciativa einovao, e a empresa superou em desempenho alguns concorrentes muito maiores.

    Da mesma forma, minhas maiores transformaes pessoais e prossionais ocorreram quandocomecei a perceber quanto meu medo de car vulnervel estava me tolhendo e reuni coragem pararevelar minhas lutas e pedir ajuda. Depois de fugir da vulnerabilidade, descobri que aprender a seentregar ao desconforto da incerteza, do risco e da exposio emocional era, de fato, um processodoloroso.

    Eu acreditava que podia optar por no me sentir vulnervel; logo, quando isso acontecia quandoo telefone tocava com notcias inimaginveis, quando eu tinha medo ou amava to intensamente que,em vez de sentir gratido e alegria, eu s conseguia me preparar para a perda , eu tentava controlaras coisas. Eu controlava as situaes e as pessoas minha volta. Fazia de tudo, at que no tivessemais energia. Parecia corajosa por fora, mas estava apavorada por dentro.

    Aos poucos fui percebendo que essa couraa era pesada demais para eu carregar e que a nicacoisa que ela realmente fazia era me impedir de conhecer a mim mesma e de me deixar ser conhecida

  • pelos outros. A falsa proteo exigia que eu casse encolhida e silenciosa por trs dela, sem chamarateno para minhas imperfeies e vulnerabilidades. Era exaustivo.

    Eu me lembro de um momento muito agradvel, quando meu marido e eu estvamos deitadosno cho vendo Ellen dar piruetas e fazer danas loucas no tapete. Olhei para Steve e disse: No engraado como eu a amo ainda mais por car assim to vulnervel e desinibida, parecendo umaboba? Eu nunca faria isso. Voc consegue se imaginar sendo to amado assim? Steve olhou paramim e respondeu: Pois eu te amo exatamente assim. Confesso que, como algum que quase nuncase arriscava a car vulnervel e sempre fazia de tudo para no parecer boba, nunca me ocorrera quedois adultos pudessem se amar dessa forma; que eu pudesse ser amada pelas minhasvulnerabilidades, e no apesar delas.

    Todo o amor e o apoio que recebi sobretudo de Steve e de Diana, minha terapeuta meencorajaram a comear aos poucos a correr mais riscos e a me mostrar no trabalho e em casa demaneiras inusitadas. Aproveitei mais oportunidades e tentei coisas novas, como ser contadora dehistrias. Aprendi a estabelecer novos limites e a dizer no, mesmo quando cava com medo dedeixar algum amigo magoado ou de recusar uma oferta prossional coisas que, provavelmente,mais tarde lamentaria. Mas at aqui eu no me arrependi de nenhum no.

    Retomando o discurso O Homem na Arena do presidente Roosevelt, aprendi tambm que aspessoas que me amam, aquelas com quem realmente posso contar, nunca so os crticos que meapontam o dedo quando fracasso. Tambm no esto na arquibancada me assistindo. Elas estocomigo na arena, lutando por mim e segurando a minha mo.

    Nada transformou mais a minha vida do que descobrir que uma perda de tempo medir meuvalor pelo peso da reao das pessoas nas arquibancadas. Quem me ama estar ao meu lado,independente dos resultados que eu possa alcanar.

    Ns no podemos aprender a ser mais vulnerveis e corajosos por conta prpria. Muitas vezesnossa primeira e maior ousadia pedir ajuda.

  • 3COMPREENDENDOE COMBATENDO A VERGONHA

    A vergonha extrai seu poder do fato de no ser explanada. Essa a razopela qual ela no deixa os perfeccionistas em paz to fcil nos manter

    calados! Se, porm, desenvolvermos uma conscincia da vergonha a pontode lhe dar nome e falar sobre ela, ns a colocaremos de joelhos. A vergonhadetesta ser o centro das atenes. Se falarmos abertamente sobre o assunto,ela comear a murchar. Assim como a exposio luz mortal para os

    gremlins, a palavra e a conversa lanam luz sobre a vergonha e a destroem.

    Vulnerabilidade e vergonha

    H pouco tempo, depois que terminei uma palestra sobre famlias plenas, um homem me abordouainda no palco. Ele me estendeu a mo e disse: Eu s quero lhe dizer obrigado! Apertei sua mo esorri com simpatia enquanto ele olhava para o cho, parecendo lutar contra as lgrimas.

    Ento, ele respirou fundo e falou: Confesso que no queria vir aqui esta noite. Tentei escapar de todo modo, mas a minha mulher

    no deixou. , isso comum comentei, dando risada.Ele ento prosseguiu: Eu no entendia por que ela estava to animada. Eu lhe disse que no imaginava uma maneira

    pior de passar uma quinta-feira noite do que ouvindo uma mulher especialista em vergonha. Minhaesposa disse que era muito importante para ela e que eu parasse de reclamar, ou estragaria tudo.

    O homem fez uma pausa de alguns segundos e ento me surpreendeu com uma pergunta: A senhora f de Harry Potter?Fiquei parada tentando conectar tudo o que ele estava dizendo. Como no consegui, preferi

  • simplesmente responder: Sim, sou uma grande f. Li todos os livros, vrias vezes, e vi e revi os lmes. Na verdade, sou

    fantica pelo bruxinho. Mas por qu?Ele me olhou um pouco encabulado antes de se explicar. Bom, eu no sabia nada sobre a senhora e, enquanto meu medo de vir aqui esta noite crescia,

    comecei a imaginar voc to assustadora quanto o professor Snape. Eu a via vestida de negro, com afala arrastada e um tom macabro.

    Achei tanta graa que quase me engasguei com a gua que estava bebendo. Eu adoro o Snape! No sei se gostaria de ser parecida com ele, mas um de meus personagens

    favoritos na histria.Rimos juntos da projeo que ele havia feito do Snape, mas logo as coisas foram cando mais

    srias. O que a senhora disse realmente fez sentido para mim. Principalmente a parte de termos tanto

    medo do lado sombrio. Qual foi a frase que a senhora citou usando a imagem da luz? Ah, uma de minhas prediletas: Somente quando temos coragem suciente para explorar a

    escurido, descobrimos o poder infinito de nossa prpria luz.Ele concordou. Sim! Tenho certeza de que era por isso que eu no queria vir. incrvel a quantidade de energia

    que gastamos tentando evitar esses territrios difceis da alma, quando eles so os nicos que podemnos libertar. Cresci passando muita vergonha e no quero que meus trs filhos vivam isso. Meu desejo fazer com que eles saibam que so bons o bastante. Que no tenham medo de conversar sobre olado duro de suas vidas conosco.

    Nesse ponto ns j estvamos com os olhos marejados. Fiz um gesto meio desajeitado oferecendoum abrao e ele se aproximou. Depois daquele contato fsico, ele olhou para mim e perguntou:

    necessrio superar a vergonha para chegar vulnerabilidade? Sim. O contato com a prpria vergonha fundamental para abraar nossa vulnerabilidade.

    No podemos nos deixar ser vistos se ficarmos aterrorizados pelo que as pessoas podem pensar.Enquanto eu tropeava tentando encontrar a melhor maneira para explicar de que forma a

    vergonha nos impede de ser vulnerveis e conectados com a vida, eu me lembrei de uma passagemmuito querida de Harry Potter.

    Voc lembra quando Harry ficou achando que era mau porque andava com raiva o tempo todoe tinha sentimentos perversos?

    Sim, claro! respondeu ele animadamente. Na conversa com Sirius Black! a lio demoral da histria inteira.

    Exatamente! Sirius pediu a Harry que lhe escutasse com muita ateno e falou: Voc no umapessoa m. Voc uma pessoa muito boa a quem coisas ruins aconteceram. Alm do mais, omundo no est dividido entre pessoas boas e Comensais da Morte. Todos ns temos luz e trevasdentro de ns. O que importa a maneira como escolhemos agir. Este quem voc realmente .

    Isso mesmo disse ele, triunfante.

  • Todos sentimos vergonha. Todos temos o bem e o mal, a escurido e a luz dentro de ns. Mas,se no nos reconciliarmos com nossa vergonha, com nossos conitos, comearemos a acreditar queh algo errado conosco, que ns somos maus, defeituosos e, pior ainda, comearemos a agir combase nessas crenas. Se quisermos ser pessoas plenas, estar inteiramente conectados com a vida,precisamos ficar vulnerveis. E para isso temos que aprender a lidar com a vergonha.

    A essa altura, a esposa j esperava por ele na escadinha do palco. Ele me agradeceu, deu-meoutro rpido abrao e foi ao encontro dela. Quando j estava l embaixo, voltou-se para mim e disse:

    Voc pode no ser o Snape, mas uma tima professora de Defesa Contra as Artes das Trevas!Nunca me propus a ser uma pregadora ferrenha da vergonha nem uma professora de Defesa

    Contra as Artes das Trevas, mas depois de passar uma dcada inteira estudando o efeito devastadorque a vergonha tem sobre a forma como vivemos, amamos, educamos os filhos e lideramos pessoas,eu me vi praticamente gritando a plenos pulmes: Sim, difcil falar sobre a vergonha. Mas essaconversa no tem a metade do perigo produzido pelo nosso silncio! Todos ns sentimos vergonha. Etodos temos medo de falar sobre ela. E quanto menos falamos, mais a vergonha aumenta.

    Precisamos estar vulnerveis se quisermos mais coragem, se quisermos viver com ousadia. Mas,como eu disse ao meu amigo f de Harry Potter, como podemos deixar que nos vejam se a vergonhado que as pessoas podem pensar nos amedronta tanto?

    Digamos que voc tenha desenvolvido um produto, escrito um artigo ou criado uma obra de arteque deseja mostrar para um grupo de amigos. Compartilhar alguma coisa que se criou uma partevulnervel, mas essencial, de uma vida comprometida e plena. o smbolo de viver com ousadia.Mas, dependendo da maneira como a pessoa foi criada ou de como se relaciona com o mundo, ela,consciente ou inconscientemente, atrela sua autoestima maneira como seu produto ou obra recebido pelos outros. Em outras palavras, se gostam do que ela produz, a pessoa acha que temvalor; se no gostam, ela no tem valor.

    Uma destas duas coisas acontece nesse momento do processo:

    1. Uma vez que voc descobre que sua autoestima est ligada ao que voc produzou cria, pouco provvel que v mostrar o que fez, e, se mostrar, antes irretirar uma camada ou mais do melhor de sua criatividade ou inovao a mde tornar a receptividade menos arriscada. H muita coisa em jogo para quevoc exponha o lado mais ousado de sua criao.

    2. Se voc mostra o seu trabalho sem limitar o seu lado mais criativo e areceptividade no das melhores, voc ca arrasado. Se o que tem a oferecerno bom, ento voc no bom. As chances de querer um feedback, de insistire de voltar para a mesa de criao so pequenas. Voc se fecha. A vergonha lhediz que voc no talentoso o bastante e que j deveria saber disso.

  • Se estiver imaginando o que acontece quando voc atrela sua autoestima sua arte ou ao seuproduto e as pessoas gostam muito do que voc faz, deixe-me responder a partir de minha experinciapessoal e prossional: voc est numa enrascada ainda maior. Tudo que a vergonha precisa parasequestrar e controlar sua vida est justamente a. Voc transferiu sua autoestima para o que aspessoas pensam. Teve sucesso algumas vezes, mas agora totalmente dependente disso.

    Munido de uma conscincia da vergonha e de uma boa capacidade de lidar com ela, este cenrio completamente diferente. Voc ainda quer que os outros respeitem e at admirem o que criou, mas asua autoestima no est em jogo. Voc tem conscincia de que muito mais do que uma pintura,uma ideia de vanguarda, uma boa tcnica de vendas, um bom discurso ou uma boa colocao nalista dos mais vendidos. Sim, ser decepcionante e difcil se os amigos e colegas de trabalho nocompartilharem de seu entusiasmo ou se as coisas no caminharem bem, porm, essa decepoestar ligada ao que voc faz, e no ao que voc . Independentemente do resultado, voc j ousougrandemente, e isso, sim, est totalmente alinhado com o seu valor, com a pessoa que quer ser.

    Quando nossa autoestima no est em jogo, estamos muito mais dispostos a ser corajosos e acorrer o risco de mostrar nossos dons e talentos. Minha pesquisa com famlias, escolas e empresasdeixou claro que as sociedades que no so prisioneiras da vergonha geram pessoas muito maisabertas a pedir ajuda, aceitar ajuda e dar retorno. Essas sociedades tambm desenvolvem indivduoscomprometidos, ousados, que esto dispostos a tentar sempre de novo at verem tudo dar certo muito mais aptos a se tornarem inovadores e criativos em suas atividades.

    A autovalorizao nos inspira a ser vulnerveis, a compartilhar sem medo e a perseverar. Poroutro lado, a vergonha nos mantm atroados, tmidos e medrosos. Nas sociedades com tendncia vergonha, em que pais, lderes e administradores, consciente ou inconscientemente, estimulam aspessoas a vincularem a sua autovalorizao ao que elas produzem ou posio que ocupam,observa-se muito mais isolamento, culpa, maledicncia, estagnao, favoritismo e uma total escassezde criatividade e renovao.

    Peter Sheahan escritor, conferencista e presidente da ChangeLabs, uma empresa de consultoriaglobal que cria e executa projetos de mudana de comportamento de grande alcance para clientescomo Apple e IBM. Peter e eu tivemos a chance de trabalhar juntos durante um perodo, e percebi queseu ponto de vista sobre a vergonha certeiro. Ele diz:

    O assassino secreto da inovao a vergonha. No conseguimos medi-la, mas ela est l.Sempre que algum no compartilha uma nova ideia, que deixa de passar para seus gerentesalgum feedback muito necessrio ou que tem medo de se expor diante de um cliente, pode tercerteza de que a vergonha est por trs disso. Aquele medo profundo que todos temos de errar,de ser depreciados e de nos sentir menos do que o outro o que nos impede de assumir osriscos indispensveis para fazer nossas empresas avanarem.Se voc quer implantar uma cultura de criatividade e renovao, em que riscos concretos tmque ser assumidos tanto em nvel coletivo quanto individual, comece por desenvolver nos

  • gerentes a capacidade de estimular a vulnerabilidade em suas equipes. E talvez isso exija queeles prprios estejam vulnerveis primeiro. Este conceito de que o lder precisa estar nocomando e ter todas as respostas ultrapassado e paralisante. Ele causa um impactoprejudicial sobre as pessoas ao arraigar a ideia de que elas sabem menos e so inferiores. E areceita para o fracasso : a vergonha se transforma em medo; o medo conduz averso aorisco; a averso ao risco aniquila a inovao.

    Em resumo, viver com ousadia exige autovalorizao. A vergonha envia os gremlins, que enchemnossas cabeas com mensagens limitadoras.

    O termo gremlin como ns o conhecemos vem do lme de comdia de horror de StevenSpielberg, Gremlins, da dcada de 1980. Os gremlins so pequenas criaturas do mal que causamdevastao por onde passam, monstrinhos manipuladores que tm prazer no prejuzo dos outros. Emmuitos ambientes culturais, inclusive no meu, o termo gremlin tornou-se sinnimo de mecanismo davergonha.

    Por exemplo, recentemente eu estava tendo diculdade para concluir um artigo. Liguei para umaamiga para falar de meus bloqueios e ela imediatamente me perguntou: O que os gremlins estodizendo?

    Essa uma maneira muito eficaz de perguntar sobre as mensagens secretas de dvida e autocrticaque alimentamos na mente. Minha resposta para ela foi: Um deles anda dizendo que meu texto estchato e que ningum se interessa por esse assunto. Outro est sussurrando que serei muito criticada eque mereo isso. E o maior de todos no para de me importunar, dizendo: Escritores de verdade noprecisam se esforar tanto assim. Escritores de verdade no redigem frases sem sentido.

    Entender nossos mecanismos da vergonha, ou a fala crtica dos gremlins, fundamental paravenc-la, isso porque nem sempre podemos culpar outra pessoa. Algumas vezes, a vergonha resultado de carmos repetindo as velhas frases limitadoras que ouvamos quando ramos crianasou que simplesmente absorvemos da cultura de medo que nos cerca. Meu amigo e colega RobertHilliker costuma dizer: A vergonha sempre comea como uma experincia entre duas pessoas, masquando quei mais velho aprendi a passar vergonha completamente sozinho. s vezes, quandoousamos caminhar na arena da vida, o maior crtico que enfrentamos somos ns mesmos.

    A vergonha extrai seu poder do fato de no ser explanada. Essa a razo pela qual ela no deixaos perfeccionistas em paz to fcil nos manter calados! Se, porm, desenvolvermos umaconscincia da vergonha a ponto de lhe dar nome e falar sobre ela, ns a colocaremos de joelhos. Avergonha detesta ser o centro das atenes. Se falarmos abertamente sobre o assunto, ela comear amurchar. Assim como a exposio luz mortal para os gremlins, a palavra e a conversa lanamluz sobre a vergonha e a destroem.

    Assim como Roosevelt disse em seu discurso, quando ousamos grandemente ns cometemoserros e nos decepcionamos vrias vezes. Haver fracassos, equvocos e reprovaes. Se quisermos sercapazes de avanar em meio s duras decepes, aos sentimentos de ingratido e s tristezas, que so

  • inevitveis em uma vida plena e bem vivida, no poderemos achar que os revezes so provas de quesomos indignos de amor, de aceitao e de alegria. Se zermos isso, nunca nos mostraremos nemtentaremos de novo. A vergonha espreita nos becos escuros da arena, esperando at que saiamosderrotados e determinados a nunca mais correr riscos. Ela d uma gargalhada e diz: Eu avisei queisso era um erro. Eu sabia que voc no era bom o bastante.

    Saber lidar com a vergonha ser capaz de dizer: Isso di. Isso decepcionante e talvez atdevastador. Mas o sucesso, o reconhecimento externo e a aprovao dos outros no so os valoresque me controlam. O meu valor a coragem, e eu fui corajoso. No me envergonho disso.

    No podemos abraar a vulnerabilidade se a vergonha estiver sufocando nossa valorizao enossa conexo com a vida. Sejamos corajosos! Vamos envolver nossos coraes e mentes nessaexperincia chamada vergonha para que possamos conquistar uma vida plena.

    O que a vergonha e por que to difcil falar sobre ela

    Costumo comear todas as palestras e todos os textos sobre vergonha com as trs primeiras coisasque as pessoas precisam saber sobre o assunto:

    1. Todos ns a sentimos. A vergonha universal e constitui um dos sentimentoshumanos mais primitivos. As pessoas que no experimentam esse sentimentoso carentes de empatia e no sabem se relacionar.

    2. Todos ns temos medo de falar sobre a vergonha.3. Quanto menos ns falarmos sobre a vergonha, mais controle ela ter sobre

    nossas vidas.

    H algumas maneiras bastante ecazes de reetir sobr