A copa e a midia

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MONITORAMENTO COPA | Previsões Junho de 2014

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Copa do Mundo segundo a mídia brasileira

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Junho de 2014

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ÍNDICE

ATRASO NAS OBRAS .................................................................... 4

Veja, 25 de maio de 2011 ................................................... 4

BBC Brasil, 12 de setembro de 2013 ................................. 4

Estadão, 17 de fevereiro de 2014 ........................................ 5

Sport TV, 22 de março de 2013 .......................................... 5

“O BRASIL NÃO ESTÁ PRONTO” ................................................... 6

Voz da Rússia, 23 de janeiro de 2014 ............................... 6

Folha, 9 de fevereiro de 2014 ............................................. 7

TURISTAS COM MEDO DO BRASIL ............................................... 8

France Football, 28 de fevereiro de 2014 ......................... 8

Jornal Nacional, 15 de maio de 2014 ................................ 9

Rádio Jovem Pan, 7 de dezembro de 2013 ...................... 11

O Globo, 27 de novembro de 2013 ................................... 11

Telegraph, 10 de maio de 2014 ........................................ 11

Estadão, 30 de abril de 2014 ............................................ 13

Jornal da Record, 22 de janeiro de 2013 ......................... 14

Folha de S.Paulo, 7 de janeiro de 2013 ............................ 14

O QUE DISSERAM OS FAMOSOS ................................................ 16

Época, 5 de abril de 2014 ................................................. 16

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Íntegra dos textos

Veja ............................................................................................ 17Prontos para a Copa... de 2038 .................................................................. 17

5 razões para o atraso ................................................................................. 24

Ainda pior do que os estádios... ................................................................. 26

“Vocês têm muito a fazer” .......................................................................... 28

Folha de S.Paulo ........................................................................ 30Risco de racionamento de energia faz Dilma convocar setor elétrico .......30

Blog do Luís Nassif ..................................................................... 33Folha admite o erro sobre o suposto apagão energético ........................... 33

Jornal da Record ........................................................................ 38Pode faltar energia elétrica para a Copa do Mundo de 2014 ..................... 38

SportTV ...................................................................................... 39Sanches diz que Arena Corinthians pode não receber abertura da Copa . 39

Jornal Nacional .......................................................................... 40Doze cidades do Brasil têm protestos contra a Copa do Mundo .............. 40

O Globo ...................................................................................... 46Pesquisador alerta para o perigo de surto de dengue na Copa .................. 46

Rádio Jovem Pan ........................................................................ 50Brasil corre risco de sofrer epidemia de dengue durante a Copa do Mundo .................................................................................................................... 50

BBC ............................................................................................ 51Quatro desafios do Brasil nos 6 meses até a Copa ..................................... 51

Abaixo, a BBC Brasil detalha os quatro grandes desafios que o Brasil terá nos próximos seis meses até a Copa do Mundo. ........................................ 54

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Rádio Voz da Rússia ................................................................... 66Brasil não está preparado para receber a Copa do Mundo ........................ 66

Rádio France Internacional ........................................................ 72Revista francesa diz que Copa no Brasil virou "fonte de angústia" ........... 72

Estadão ...................................................................................... 76Há 32 anos, Colômbia disse não à Fifa e desistiu da Copa de 1986 .......... 76

Folha de S.Paulo ........................................................................ 79Brasil não está pronto para sediar a Copa do Mundo, diz Valdivia .......... 79

Época ......................................................................................... 84Paulo Coelho: “A barra vai pesar na Copa do Mundo” .............................. 84

Estado de S.Paulo .................................................................... 119Sem Wi-Fi, seis estádios terão internet ‘deficiente’ na Copa do Mundo .. 119

The Telegraph (UK) .................................................................. 121World Cup fans at risk of dengue fever in Brazil ...................................... 121

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ATRASO NAS OBRAS

Veja, 25 de maio de 2011

“2038. Por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo” “No ritmo atual, o Maracanã seria reaberto com 24 anos de atraso. No ritmo atual, a Arena Amazônia ficará pronta em maio de 2024; Mineirão ficará pronto em abril de 2020; Mané Garrincha só ficará pronto em outubro de 2021.”

BBC Brasil, 12 de setembro de 2013 “A entrega dos seis estádios ainda em construção para a Copa do Mundo (Manaus, Natal, Cuiabá, São Paulo,

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Curitiba, Porto Alegre) é um dos maiores desafios do Brasil nos seis meses restantes até o Mundial.”

Estadão, 17 de fevereiro de 2014 “Curitiba corre sério risco de ser excluída da Copa do Mundo nesta terça-feira. A 115 dias da abertura da competição, as obras da Arena da Baixada estão longe de serem concluídas. Além disso, o Atlético-PR precisa de mais R$ 65 milhões para finalizar a reforma da arena, incluindo todas as exigências da Fifa. Situação parecida vivia a Colômbia, em outubro de 1982. O país, no entanto, disse não à Copa de 1986 e à entidade máxima do futebol”.

Sport TV, 22 de março de 2013 “Sanches diz que Arena Corinthians pode não receber abertura da Copa”. (...) “Acredito que sim (que a partida inaugural da Copa do Mundo será no estádio alvinegro), mas tenho obrigação de avisar a todos os órgãos públicos que existe o risco de não ter a abertura”.

FATO

Doze estádios foram entregues à Fifa até segunda quinzena de maio de 2014. As novas arenas de futebol do Brasil já são um sucesso de público. O torcedor brasileiro lotou os seis estádios que ficaram prontos em 2013 para a Copa das

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Confederações. E para a Copa do Mundo adquiriu a maior parte dos 2,6 milhões de ingressos já vendidos. Mais modernos e seguros, os novos estádios são fundamentais para impulsionar a indústria do futebol brasileiro. Estudos da Fundação Getúlio Vargas indicam que, com uma exploração eficiente e estruturas mais adequadas, o futebol brasileiro pode movimentar mais de R$ 60 bilhões por ano e gerar até 2 milhões de empregos diretos e indiretos.

“O BRASIL NÃO ESTÁ PRONTO”

Voz da Rússia, 23 de janeiro de 2014 “Brasil não está preparado para receber a Copa do Mundo

No dia 22 de janeiro a presidente brasileira Dilma Rousseff inaugurou o estádio de futebol Dunas em Natal. Este foi o primeiro estádio para a Copa do Mundo 2014 a ser inaugurado este ano.

Mas até ao Mundial ainda se tem de terminar outros seis estádios. O Brasil não consegue cumprir o calendário de preparação dos estádios. Todos os trabalhos já deviam ter sido concluídos em dezembro de 2013.

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Folha, 9 de fevereiro de 2014 “Brasil não está pronto para sediar a Copa do Mundo, diz Valdívia”

FATO

“Em 10 dias, começa a Copa do Mundo Fifa 2014 que o Brasil terá a honra de sediar. Quero reafirmar aquia todas as brasileiras e brasileiros, a todos que nos visitarão nos próximos dias, que faremos, de fato, a Copa das Copas.” (...) “Os aeroportos brasileiros, por onde a maior parte dos nossos visitantes internacionais e também dos turistas nacionais, esportistas que virão ver a Copa em todas as cidades-sede, sabem que eles estão preparados para essa demanda adicional que nós vamos receber este mês, principalmente porque esses aeroportos estão dimensionados para atender a demanda por viagens de aviões que cresceram neste país, no período, de forma sistemática, passamos de 33 milhões de passageiros a 111, 112, 113.” Discurso da presidenta Dilma Rousseff.

Investimentos em infraestrutura R$ 17,6 bilhões. Investimentos em estádios R$ 8 bilhões – R$ 4 bilhões são recursos dos governos estaduais, municipais e parceiros privados e os outros R$ 4 bilhões são oriundos de empréstimos concedidos pelo BNDES.

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TURISTAS COM MEDO DO BRASIL

France Football, 28 de fevereiro de 2014 “Os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil”. Revista francesa detona Brasil e aponta Copa no país como o “Mundial do Medo”.

“Revista francesa diz que Copa no Brasil virou ‘fonte de angústia’”. A respeitada revista France Football chegou nesta terça-feira (28) às bancas alertando em sua manchete para os riscos que pairam sobre o Mundial do Brasil. Os atrasos na entrega dos estádios, a insatisfação da população e até as diferenças de clima entre as regiões durante o evento foram citados pela publicação para justificar os temores com a organização da Copa.

FATO

Mais de 3,7 milhões de turistas vão circular pelas 12 cidades-sede, sendo 3 milhões de

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brasileiros e 600 mil estrangeiros. São mais de 5.500 estabelecimentos comerciais nas 12 cidades, mais de 567 mil vagas em hotéis e outras 69 mil em hospedagens alternativas. Previsão de receita adicional para o setor hoteleiro de R$ 2,1 bi; alimentação R$ 900 milhões e no comércio R$ 831,6 milhões.

Em dezembro de 2013, o Brasil recebeu o turista de número 6 milhões, um aumento de 5,6% no número de chegadas de estrangeiros em relação a 2012.

A QUESTÃO DOS EMPREGOS

Jornal Nacional, 15 de maio de 2014 “Precisamos de emprego e não de Copa”

Doze cidades do Brasil têm protestos contra a Copa do Mundo. 300 trabalhadores ligados à Força Sindical pediam emprego e também criticavam os gastos com a Copa.

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FATO

Empregos e renda para as pessoas e riqueza para o País. Este é um saldogarantido com a realização da Copa no Brasil. A Copa das Confederações de 2013 gerou 303 mil empregos, de acordo com a Fipe. Só a construção dos estádios gerou 50 mil empregos. A Copa do Mundo é um evento três vezes maior. A estimativa é de geração de 200 mil empregos na cadeia produtiva do turismo para a Copa do Mundo. Um movimento que também contribui para que o Brasil mantenha as menores taxas de desemprego de sua história.

O Brasil está investindo R$ 17,6 bilhões em obras de mobilidade urbana, transporte coletivo e modernização de seus principais aeroportos. São investimentos que beneficiam um enorme contingente de brasileiros, hoje e no futuro. E que permanecerão por muito tempo depois do jogo final. Realizar a Copa ajudou a acelerar o andamento dessas obras, todas absolutamente necessárias ao País. Embora algumas delas ainda não tenham sido concluídas, a estrutura para realizar a Copa do Mundo já está pronta. Levantamento da Fipe mostra que a Copa das Confederações acrescentou R$ 9,7 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2013. A expectativa

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é que a Copa do Mundo movimente três vezes mais, cerca de R$ 30 bilhões.

EPIDEMIA DE DENGUE

Rádio Jovem Pan, 7 de dezembro de 2013 “Brasil corre risco de sofrer epidemia de dengue durante a Copa do Mundo”

O Globo, 27 de novembro de 2013 “Pesquisador alerta para o perigo de surto de dengue na Copa”. Simon Hay, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, diz que organizadores e patrocinadores da competição deveriam explicitar o risco da doença.

Telegraph, 10 de maio de 2014 “Fãs da Copa do Mundo podem pegar dengue no Brasil”. Autoridades de saúde pública dizem que milhares de fãs de futebol podem estar em risco da doença, que pode causar dor articular excruciante e febre hemorrágica

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FATO

O período da Copa não é propício à ocorrência de epidemias da dengue. Vale destacar que o pico de casos de dengue, que costumaocorrer entre a 15ª e a 20ª semana do ano, já foi alcançado. A tendência agora é de queda no registro de casos por semana. Como já aconteceu durante a realização da Copa das Confederações em 2013, os municípios que sediarão os jogos da Copa fizeram ações preventivas visando a eliminação de criadouros nos estádios, arenas, fanfests, exibições públicas, centros de treinamento, rede hoteleira, aeroportos e seus entornos. Em 2013, destinou recurso adicional de R$ 363 milhões (a ser usado em 2014) para o aprimoramento das atividades de prevenção e controle da dengue dos municípios brasileiros, dos quais R$ 53,6 milhões foram repassados para as cidades-sede.

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INTERNET

Estadão, 30 de abril de 2014 “Vai faltar internet na Copa. Alguns estádios não terão wi-fi. No estádio Itaquerão onde será a abertura da Copa, o sistema provavelmente não ficará pronto.”

FATO

O Governo brasileiro cumpriu totalmente a Garantia 11 - Telecomunicações e Tecnologia da Informação, assinada como requisito à candidatura do Brasil à Copa do Mundo 2014, no qual disponibilizaria a infraestrutura para a transmissão dos jogos nas 12 cidades sede e para atender aos locais de concentração das seleções participantes. Foi implantada a rede duplicada de fibra óptica que será usada na transmissão de imagens em alta definição (HDTV - áudio e vídeo) entre as arenas e o Centro Internacional de Coordenação de Transmissão (IBC), localizado no Rio de Janeiro, investimentos de R$ 87 milhões sob responsabilidade da Telebrás.

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RACIONAMENTO DE ENERGIA

Jornal da Record, 22 de janeiro de 2013 “Pode faltar energia elétrica para a Copa do Mundo de 2014”. Mais da metade das obras de infraestrutura energética do país estão atrasadas, revela o relatório da agência nacional de energia elétrica (Aneel). Essa situação pode colocar em risco o fornecimento de energia na Copa do Mundo de 2014. Guilherme Schmidt, advogado especialista no setor de energia fala sobre o assunto.

Folha de S.Paulo, 7 de janeiro de 2013 “Risco de racionamento de energia faz Dilma convocar setor elétrico”. Dez dias depois de dizer que é “ridículo” falar em racionamento de energia, a presidente Dilma convocou uma reunião de emergência sobre os baixos níveis dos reservatórios para depois de amanhã, em Brasília. (...) Técnicos do setor acusam Dilma de estar centralizando as decisões e dizem que, se o racionamento não é uma certeza, não pode simplesmente ser descartado.

A reunião do CMSE havia sido marcada em 13 de dezembro de 2013. O jornal foi obrigado a publicar um “erramos” –“Folha admite o erro sobre o suposto apagão energético”.

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FATO

O sistema elétrico brasileiro está mais robusto: muito mais usinas e grande aumento de linhas de transmissão. Somente no governo da Presidenta Dilma Rousseff foram agregados ao parque gerador nacional 14 mil megawatts de energia e 16 mil quilômetros de linhas de transmissão. Dentro das premissas do Operador Nacional do Sistema Elétrico, o abastecimento de energia no país está garantido até2015. A segurança, a confiabilidade e a continuidade do suprimento de energia elétrica às cidades-sede está garantida com o reforço das equipes de operação e manutenção e a operação do Sistema Interligado com maior nível de segurança. O suprimento de energia ao estádio atende aos requisitos da FIFA quanto à existência de dois alimentadores oriundos de 2 subestações de distribuição distintas, geradores de back-up e sistemas de nobreak (para as cargas críticas).

Sobre o relatório da Aneel (matéria R7): Algumas dessas obras ainda encontram-se em andamento, com previsão de conclusão para maio de 2014. Entretanto, as obras prioritárias que contemplam a dupla alimentação aos estádios (critério da FIFA) e de atendimento a aeroportos e outros equipamentos prioritários envolvidos com a Copa já foram concluídas.

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O QUE DISSERAM OS FAMOSOS

Época, 5 de abril de 2014 Paulo Coelho: “A barra vai pesar na Copa do Mundo. Eu era um dos idiotas que acreditavam que a Copa do Mundo melhoraria a infraestrutura do Brasil. Eu tenho convite da Fifa, mas não vou à Copa”.

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ÍNTEGRA DOS TEXTOS

Veja

25 de maio de 2011

Prontos para a Copa... de 2038 A 36 meses do pontapé inicial para a Copa de 2014, o Brasil só investiu 7,5% donecessários para preparar seus estádios. Para virar o jogo, será preciso correr – e muito

Kalleo Coura

Mantidos os atuais padrões de gestão, organização e investimento, o Brasil tem todas as condições de fazer uma belíssima Copa do Mundo, mas só em 2038. Desde o dia 30 de outubro de 2007, quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou que o país havia sido escolhido para sediar a Copa de 2014, muito

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pouco se fez para preparar a casa. A 36 meses do pontapé inicial do torneio, a controladoria-Geral da União informa que, dos 23,7 bilhões de reais previstos para ser aplicados em obras de infraestrutura, apenas 590 milhões de reais foram efetivamente investidos. Ou seja, só 2.5% das obras saíram do papel. Os responsáveis pelos projetos insistem em afirmar que os trabalhos avançam em ritmo adequado. Mas uma análise escrupulosa da situação conduz a outra conclusão. O Brasil está atrasado, sim - e mais atrasado do que estava a África do Sul em 2007, três anos antes de sediar o evento. Mais: entre as construções em andamento, há obras com indícios de superfaturamento, estádios superdimensionados e projetos tão mal-feitos que mais parecem piada de mau gosto - como o estádio em que os responsáveis se esqueceram de prever a instalação de gramado e cadeiras.

Para aferir o ritmo em que as obras da Copa estão sendo tocadas. VEJA escolheu esmiuçar o andamento dos doze estádios que participarão do evento. A reportagem comparou o orçamento previsto para a reforma ou construção de cada arena com o valor que foi investido nelas até agora. Em outras palavras, analisou a execução orçamentária estádio por estádio. Esse método revela com nitidez a situação de cada empreitada, uma vez que, no Brasil, os pagamentos são feitos à medida que o trabalho avança no canteiro de obras. O resultado desse levantamento é de arrepiar. No ritmo atual em que os projetos caminham, nada menos do que onze dos doze estádios só estarão concluídos depois de 2014. O único que vem mantendo um ritmo de execução de orçamento

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adequado é o Castelão, de Fortaleza. Para checar de perto essa informação, VEJA organizou uma operação aérea. A bordo de helicópteros, um pelotão de fotógrafos sobrevoou todos os estádios da Copa na semana passada. As imagens captadas, que ilustram esta reportagem, são desoladoras.

O caso mais dramático é o do Maracanã, o estádio mais famoso do Brasil:- e, possivelmente, do mundo. A Fifa já decidiu que a final da Copa será disputada lá, mas faltou combinar com o governo do Rio. A reforma custará 957 milhões de reais, mas só 26 milhões foram investidos até agora - uma ninharia, em termos relativos. Se a velocidade não aumentar, o Maracanã só ficará pronto daqui a 27 anos. Na imagem que abre esta reportagem, é possível avaliar o tamanho do problema do estádio carioca. Depois de terem demolido boa parte das arquibancadas, os responsáveis pela obra descobriram que toda a estrutura de concreto que o recobre está comprometida, pelo tempo e pelas infiltrações. Será preciso retirá-la inteira, para depois colocar outra no lugar. O trabalho apenas foi iniciado, mas, pelo pequeno número de operários captado pelas lentes da reportagem de VEJA na última quinta-feira, em dia útil e horário comercial, a tarefa consumirá uma eternidade para ser concluída. Ainda é possível aprontar o Maracanã para a Copa? Sim. Mas para isso será preciso aumentar a média mensal de gastos na obra de menos de 3 milhões de reais para 29 milhões de reais - uma elevação de 907%.

A situação se repete país afora, com casos que expõem a falta de gestão que até agora tem sido a marca da Copa no Brasil. No Mineirão, por exemplo, as obras seguem bem mais lentas do que tenta fazer crer o discurso oficial. O

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estádio está fechado há quase um ano, mas na imagem da página 91 é possível observar que nem sequer foi concluída a retirada das cadeiras de plástico vermelhas existentes no anel superior da construção. A urbanização da parte externa do estádio também segue em marcha lenta. Ou se aceleram os trabalhos, ou o campo só estará pronto para atender às exigências da Fifa em 2020.

Em Brasília, o Estádio Nacional está sendo erguido onde ficava a antigo Mané Garrincha (até a semana passada, uma seção da amiga arquibancada teimava em se manter de pé, depois de duas tentativas fracassadas de implosão). O projeto original de reforma foi tão malfeito que, por absurdo que pareça, não previa a instalação de itens tão básicos como gramado, iluminação, cadeiras e te1ão. Graças a falhas clamorosas como essas, o orçamento original, de 670 milhões de reais, terá, claro, de ser revisto. Ainda em relação ao estádio de Brasília, causa preocupação a solução de financiamento encontrada pelo governo do Distrito Federal para bancar sua construção: a venda de terras públicas. Depois que o Ministério Público questionou essa decisão com o temor de que, diante da urgência da venda, os cofres públicos poderiam sair no prejuízo -, o governo transferiu a propriedade do estádio para a Terracap, empresa pública que administra os tais terrenos. Foi apenas uma manobra burocrática para disfarçar (e manter) a fonte de financiamento desejada. "Isso mostra a total falta de planejamento com que se está administrando essa obra", diz o promotor Ivaldo Lemos Júnior, do Ministério Público doDistrito Federal.

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A falta de planejamento também é um problema que afeta a Arena Amazônia, em Manaus. Primeiro, o Tribunal de Contas da União (TCU) detectou superfaruramento na obra, que ainda está na fase de escavação e terraplenagem. Em uma amostra de contratos de 200 milhões de reais, o TCU detectou um sobrepreço de 71 milhões de reais. Logo depois, nova constatação: a capacidade do novo estádio, bancado pelo governo do estado, é ridiculamente maior do que requer a torcida da região. É claro que, se uma seleção ilustre, como a da Itália, jogar lá no Mundial, a lotação máxima, de 44 500 lugares, pode ser completada. Mas e depois? A média de público do campeonato amazonense é inferior a 1000 pagantes por jogo. A partida que atraiu mais gente neste ano foi a final do primeira rumo do Amazonense, entre Nacional e Penarol, com 2 869 testemunhas. É muito pouco para justificar o investimento - público - de quase 500 milhões de reais, sem falar nos gastos futuros com a manutenção.

Melhor seria ter deslocado a sede amazônica para Belém, no Pará, onde há mais público. Mas a escolha das sedes da Copa ficou longe de obedecer a critérios exclusivamente técnicos. Prefeitos e governadores de todo o país pressionaram a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a entrar na festa. Quem tinha padrinhos mais fones levou. Como resultado, ficou decidido que o evento terá doze sedes, quando oito, no máximo, seriam suficientes. Esse número reduziria em até 33% os custos do torneio.

Nada é tão grave, no entanto, quando a situação de três sedes: São Paulo, Natal e Curitiba. Até agora, não foi gasto um único centavo em seus estádios. No caso paulista a CBF

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quer que os jogos, incluindo a partida de abertura, sejam disputados no Estádio do Corinthians que ainda não existe. Ninguém sabe quem vai pagar pela obra, e a cada dia surge novas dificuldades. Primeiro, foram dutos da Petrobrás descobertos sob o terreno onde ficaria um lance de arquibancada. Na semana passada, revelou-se que será preciso canalizar um córrego que existe por lá. A cada entrave descoberto, sobem os custos da obra - hoje na casa de 1 bilhão de reais, o que o toma o estádio mais caro do Brasil. Sem saída à vista, na última semana a presidente Dilma Rousseff telefonou para o seu antecessor e pediu-lhe que tentasse convencer a Odebrecht, empreiteira indicada pelo próprio para tocar o projeto, a baixar o orçamento. Ainda não houve avanços, mas a empresa promete começar os trabalhos na semana que vem. Por enquanto, na área reservada, há apenas mato.

Em Natal, o Estádio Machadão dará lugar, em teoria, à Arena das Dunas. Mas a velha estrutura segue intacta. Será preciso demoli-la, para depois começar do zero o novo projeto. Em Curitiba, o Atlético do Paraná teria de pagar 130 milhões de reais para adequar a Arena da Baixada às exigências da Fifa, mas o clube só aceita desembolsar 45 milhões de reais. Quer que a administração estadual e a prefeitura, que já haviam concordado em financiar parte do projeto, arquem com mais esse papagaio. O governo finge que a bola não está com ele. "Os paranaenses podem ficar tranquilos que tudo está no cronograma e vamos cumprir todos os prazos", diz Mario Celso Cunha, secretário estadual para Assuntos da Copa de 2014. Como se vê, os gestores das obras parecem não ter pressa em resolver os problemas.

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Mas deveriam. "É evidente que apenas as cidades com a infraestrutura adequada para sediar partidas da Copa do Mundo estarão aptas para realmente receber os jogos. Se esse não for o caso de alguma cidade em 2014, ela será excluída da competição", disse a VEJA o francês Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa. Pelas regras da entidade, tanto aeroportos quanto estádios têm de estar tinindo, no máximo, seis meses ano antes do torneio.

Tudo somado, o quadro geral é o seguinte: a três anos da Copa, o Brasil só tem um estádio com execução orçamentária adequada para ficar pronto tempo de ser usado na Copa de 2014. Em outros oito, é preciso acelerar o investimentos para evitar uma tragédia. Dos três restantes, que ainda nem começaram, um terá de ser reformado e dois serão feitos a partir do zero. No capítulo de aeroportos, dos treze questão no projeto Copa, só seis começaram a ser reformados (veja o quadro na pâg. 100). Quando se fala das obras de mobilidade urbana que foram pr metidas, o caso é ainda pior. Das cinquenta anunciadas, só quatro tiveram início. Com esse quadro, é possível afirmar que hoje o Brasil está mais atrasado para a Copa do Mundo do que a África do Sul no período equivalente. Lá, naquela altura, todos os estádios integralmente novos já haviam começado a ser erguidos. As obras aeroportuárias estavam bem encaminhadas, e cidades como Johannesburgo haviam sido transformadas em canteiros de obras a céu aberto.

Estar atrás da África do Sul, no entanto, não significa, para o Brasil, não poder recuperar o tempo perdido. Odiagnóstico publicado nesta reportagem revela a situação atual dos estádios. Se o ritmo dos investimentos aumentar

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daqui para a frente, a Copa estará garantida. A questão, no entanto, não pode ser adiada nem mais um dia. Mesmo porque a lentidão, aliada à desorganização. tem tudo para desembocar num sorvedouro desmedido de recursos públicos, como ocorreu com os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio. Na ocasião, observou-se exatamente o mesmo roteiro que se vê agora: quase todas as obras atrasaram. Diante disso, foi preciso abrir os cofres do governo federal para evitar um vexame internacional. O orçamento final do Pan ficou em 4 bilhões de reais, dez vezes a previsão inicial. De todos os gastos da União, mais de 70% foram liberados nos seis meses anteriores ao evento.

Questionado por VEJA sobre a execução de apenas 7,5% do orçamento dos estádios, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, discordou que haja atraso nos trabalhos. Segundo ele, é normal que no início das obras a execução seja mais lenta do que no final. "Todos os projetos estão caminhando de forma satisfatória, só precisamos acelerar a questão de São Paulo." O otimismo é uma virtude, mas saber reconhecer um problema quando se está diante dele - ao menos no caso de gestores encarregados de uma tarefa da magnitude da Copa do Mundo - é uma obrigação.

5 razões para o atraso A falta de planejamento é a principal, mas não é a única responsável pela lentidão nas obras da Copa de 2014

1. Escolha política das sedes

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Para agraciar o maior número de compadres, o Comitê Organizador Local convenceu a Fifa a escolher doze cidades-sede para a Copa no Brasil, quando apenas oito seriam suficientes

2. Não há quem cobre

Não existe um único órgão com poderes para gerenciar, fiscalizar e cobrar a execução dos projetos da Copa, que estão a cargo de prefeituras, estados, autarquias e clubes. Na África do Sul, o governo central chamou a si essa responsabilidade. Arcou com 98% dos gastos e controlou todo o cronograma

3. Projetos malfeitos

Como a maior parte das obras que usam dinheiro público, as da Copa partiram de projetos mambembes que, como tais, exigem remendos depois. Em Brasília, por exemplo, o estádio não previa ítens básicos como gramado, traves e iluminação - tudo isso ainda terá de ser incluído, o que aumentará custos e potencializará atrasos

4. O dinheiro não aparece

Apenas 2,5% dos 23,7 bilhões de reais previstos para ser investidos nas obras de infraestrutura da Copa foram gastos até agora. No caso dos estádios, o BNDES diz que segura o dinheiro porque os responsáveis pelas obras não vêm

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cumprindo as condições contratuais. Como não há um órgão que centralize o gerenciamento dessas obras, tudo gira em círculo - a nada anda para a frente

5. Estão fazendo corpo mole

Muitos gestores de obras sabem que, como a Copa será prioridade do Brasil em 2014, às vésperas do evento o governo despejará dinheiro nos projetos que ainda estiverem inconclusos. E sabem também que investimentos "emergenciais" saem bem mais caro para os cofres públicos. No Pan-Americano de 2007, no Rio, o conjunto de obras finalizadas em cima da hora, custou 4 bilhões de reais - dez vezes a previsão inicial

Ainda pior do que os estádios... Nuvens negras rondam os aeroportos brasileiros. Apenas seis dos treze terminais localizados nas regiões que receberão jogos da Copa começaram a ser reformados. Para piorar, o ritmo das obras iniciadas é ainda mais lento do que o verificado nos estádios. O projeto mais portentoso - e um dos mais atrasados é a construção do terceiro terminal do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

É uma obra crucial para o sucesso do torneio: será por lá que a maior parte dos turistas chegará ao país. E será a partir daquela pista que eles levantarão voo rumo a outros estados. O novo terminal e as obras complementares

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custarão 1,2 bilhão de reais, mas até agora só foram investidos 30 milhões de reais, ou 2,5% do valor previsto. No Galeão, no Rio de Janeiro, a reforma está orçada em 687 milhões de reais. Dessa quantia, foram liberados 64 milhões desde 2008, quando começaram as obras. Nesse ritmo de execução orçamentária, o terminal só ficará pronto vinte anos depois da final da Copa.

"Não há razão lógica que explique a lentidão crônica nas obras aeroportuárias brasileiras. Em outros países elas acontecem de forma muito mais célere", diz o comandante Ronaldo Jenkins, diretor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias. Ele tem razão. Recentemente, a pista principal do Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, foi totalmente reconstruída. A obra levou menos de quatro meses até a entrega. Não passou pela cabeça de nenhum engenheiro americano que ela pudesse se estender por anos a fio. Já no Brasil, o tempo médio gasto para reformar um aeroporto é de 36 meses. "Os aeroportos são uma de nossas maiores preocupações", diz o francês Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa. "Esperamos que, com a privatização de alguns deles, o processo receba o impulso necessário."

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado à Presidência da República, diz que dez dos treze aeroportos não ficarão prontos para a Copa. Com uma agravante: mesmo que sejam entregues, dez deles já estariam operando em "situação crítica", ou seja, acima de sua capacidade nominal, em 2014. Isso significa que os projetos subestimaram o crescimento da demanda nacional por passagens aéreas. Um dos casos mais eloquentes é o do

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Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte. As obras de reforma nem sequer começaram, mas o Ipea acredita que, em 2014, seu movimento será 25% superior ao estimado no projeto que será seguido. Isto é, mesmo que a obra seja feita a toque de caixa, o aeroporto precisará de uma segunda reforma quando a primeira for entregue.

“Vocês têm muito a fazer” Principal responsável pelo Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, o executivo Danny Jordaan esteve à frente de todas as obras realizadas por seu país para receber o torneio mundial de futebol - um trabalho coroado de sucesso. Atualmente, Jordaan é vice-presidente da Associação Sul-Africana de Futebol. De Johannesburgo, onde mora, ele falou a VEJA por telefone.

Ainda é possível recuperar o atraso das obras brasileiras?

Estive aí em novembro, muita coisa deve ter mudado desde então, o que eu posso afirmar é que vocês têm muito mais a fazer do que nós tivemos. Além de investir em estádios, centros de treinamento, hotéis e tecnologia da informação, é preciso lembrar que, quanto mais cidades-sede um país tem - nós tivemos nove, enquanto vocês optaram por doze -, maior é a infra-estrutura necessária. Afora isso, o Brasil é um país de dimensões continentais e tem de investir muito dinheiro em rodovias, trens e, principalmente, aeroportos.

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Havia um controle eficiente das obras por parte do Comitê Organizador na África do Sul?

Sim. Fazia parte das prerrogativas do comitê monitorar e intervir para ter absoluta certeza de que tudo estava nos eixos. Tínhamos vários sistemas de planejamento e gestão, além de equipes técnicas para inspecionar as obras toda as semanas Entregamos tudo a tempo.

O que é preciso fazer para que a Copa deixe um legado positivo para um país?

É preciso ter em mente que a Copa do Mundo não é feita apenas de estádios. Antes da competição, nossos portos, aeroportos, rodovias e trens estavam em frangalhos. Para receber bem os turistas e permitir que os times e os torcedores chegassem aos locais das competições sem contratempos, planejamos a reforma de todas essas estruturas e conseguimos executá-las dentro dos prazos. O aeroporto da Cidade do Cabo, por exemplo, estava quase 50% pronto três anos antes da Copa do Mundo. Foi uma excelente oportunidade para melhorar as condições da população e estender os benefícios da Copa para além do seu término.

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Folha de S.Paulo

7 de janeiro de 2013

Risco de racionamento de energia faz Dilma convocar setor elétrico Eliane Cantanhêde

Dez dias depois de dizer que é "ridículo" falar em racionamento de energia, a presidente Dilma Rousseff convocou reunião de emergência sobre os baixos níveis dos reservatórios, para depois de amanhã, em Brasília.

A reunião foi acertada entre Dilma, durante suas férias no Nordeste, e o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, que a presidirá. Balanço e propostas serão levadas diretamente à presidente.

Dirigentes de órgãos do setor tiveram de cancelar compromissos para comparecer.

Na avaliação do governo, os níveis dos reservatórios estão até 62% abaixo dos registrados no ano passado e a situação tem piorado por causa do intenso calor, sobretudo no Sudeste.

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Com temperaturas que chegam a 40 graus em cidades como o Rio de Janeiro, o consumo de energia com arcondicionado, ventilador e refrigerador tem disparado.

Técnicos do setor acusam Dilma de estar centralizando as decisões e dizem que, se o racionamento não é uma certeza, também não pode ser simplesmente descartado. Um deles diz que o risco "está acima do prudencial".

Mesmo antes da reunião, já vinham sendo tomadas medidas extras para garantir a produção de energia, como a reativação da usina de Uruguaiana, parada desde 2009, e o acionamento a plena capacidade das usinas térmicas, muito mais caras do que as hidrelétricas.

Há duas ironias, conforme análise dos órgãos do setor.

Uma é que a situação só não fugiu ao controle porque o crescimento econômico de 2012 foi pífio, na ordem de 1%. Se tivesse sido de 4,5%, como previra o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o consumo da indústria estaria bem maior e haveria risco imediato de faltar energia.

A segunda ironia é que a reunião governamental e o sinal amarelo pela falta de chuvas ocorrem justamente quando enchentes assolam o Rio de Janeiro, deixando milhares de desabrigados.

Além da preocupação pontual, com o momento presente, o governo teme que a situação se mantenha ao longo deste ano, pressionando todo o setor no último trimestre e no início de 2014.

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Quanto à Copa, há certa tranquilidade, porque os estádios, preventivamente, estão sendo equipados com modernos e potentes geradores.

Oficialmente, estarão presentes ao encontro de quarta-feira os integrantes do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), que é presidido pelo ministro das Minas e Energia e é convocado, por exemplo, quando há apagões de grandes proporções, como ocorreu mais de uma vez em 2012.

Participarão a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a ANP (agência de petróleo), a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

O CMSE se reporta ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), órgão de assessoria direta da Presidência da República. É possível que também o conselho venha a ser convocado proximamente por Dilma a debater a questão.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/01/1210891-risco-de-racionamento-de-energia-faz-dilma-convocar-setor-eletrico.shtml

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Blog do Luís Nassif

11 de janeiro de 2013

Folha admite o erro sobre o suposto apagão energético

Folha de São Paulo | 10 de janeiro de 2013

Aos 45 do segundo tempo

Eliane Cantanhêde

BRASÍLIA – Como previsto, o governo tentou desmentir a manchete de segunda da Folha sobre a reunião de emergência do setor elétrico marcada para ontem para discutir o nível preocupante dos reservatórios, ou o que o setor privado vem chamando, talvez com exagero, de “risco de racionamento”.

Desmentir notícias desconfortáveis, aliás, é comum a todos os governos: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”.

Por isso, guardei uma carta, literalmente, na manga: o e-mail enviado por um dos órgãos participantes às17h56 da última sexta-feira: “A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE informa aos agentes que a 53ª Assembleia Geral

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Extraordinária foi transferida para o dia 14 de janeiro [...]. O adiamento deve-se à coincidência da data anterior [9/1] com a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), convocada pelo Ministério de Minas e Energia”.

Não se desmarcam assembleias gerais do dia para a noite, porque elas custam um dinheirão, envolvem dezenas de pessoas na organização, centenas de convidados e deslocamentos. A CCEE só fez isso porque foi convocada de última hora, cinco dias antes, para a reunião de Brasília.

O governo, porém, insiste que é coincidência que a reunião ocorra no meio do turbilhão -e da assimetria das chuvas. O ministro Lobão até me disse que estava marcada havia “um ano”. Para comprovar, me remeteu para o cronograma de reuniões no site do ministério.

Sim, estava lá, mas o cronograma foi postado no site precisamente às 15h14min30s de segunda, dia 7, horas depois de a manchete da Folha sacudir o governo, o setor, talvez o leitor/consumidor.

Há muito o que discutir: as falhas do sistema, a falta de planejamento, a birra de são Pedro, os custos das térmicas e, enfim, como ser transparente com indústrias, concessionárias e usuários. Aliás, uma obrigação de qualquer governo.

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Nem seria necessário mais nada para entender que a tese salvacionista de Cantanhêde não se sustentava, pois bastaria ver o cronograma de reuniões do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico para saber se, como a colunista insinuou, tal cronograma fora composto às pressas para desmentir a tese da “reunião de emergência”.

O Ministério das Minas e Energia, porém, antecipou-se ao que este blog iria publicar e enviou carta ao jornal provando que nunca houve reunião de emergência alguma, conforme a “barriga” que o veículo cometeu sob influência de sua colunista. Sem remédio, a Folha publicou a carta em sua edição desta sexta-feira. Veja, abaixo, a manifestação do Ministério.

Folha de São Paulo | 11 de janeiro de 2013

Painel do Leitor

Energia

No dia 7/1, a Folha publicou a seguinte manchete de capa: “Escassez de luz faz Dilma convocar o setor elétrico”, com o subtítulo “Reunião de emergência discutirá propostas para evitar riscos de racionamento”. O texto remetia para reportagem em “Mercado” sob o título “Racionamento de luz acende sinal amarelo”.

Tratava-se de uma desinformação. Na mesma data da publicação, preocupado com a repercussão da reportagem, principalmente nas Bolsas, o ministro

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Edison Lobão, em telefonema à autora da reportagem, a jornalista Eliane Cantanhêde, esclareceu que a reunião em referência não fora convocada pela presidenta da República, nem tinha caráter de emergência. Tratava-se, conforme relatou, de reunião ordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), marcada desde o ano passado.

Além desses esclarecimentos não terem sido prestados na reportagem sobre o assunto publicada em 8/1 (“Lobão confirma reunião, mas descarta riscos”, “Mercado”), a jornalista, na coluna “Aos 45 do segundo tempo” (“Opinião”, ontem), põe em dúvida a veracidade das informações do Ministério de Minas e Energia. Para que não reste dúvida sobre o assunto, consta na ata da 122ª Reunião do CMSE, realizada em 13/12/2012, precisamente no item 12, a decisão de realizar no dia 9/1/2013 a referida reunião ordinária.

Antonio Carlos Lima, da Assessoria de Comunicação Social do Ministério de Minas e Energia (Brasília, DF)

– (...) O Ministério das Minas e Energia também entendeuque a matéria tinha, se não objetivo, ao menos potencial para tumultuar a economia, do que decorreu queda do valor das ações das empresas geradoras de energia, as quais, desfeita a farsa, recuperaram-se na última quinta-feira.

O mais engraçado mesmo, porém, foi a tréplica de Eliane Cantanhêde. Leia abaixo.

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Folha de São Paulo | 11 de janeiro de 2013

Painel do Leitor

RESPOSTA DA JORNALISTA ELIANE CANTANHÊDE – De fato, a reunião foi marcada em dezembro, mas, diante dos níveis preocupantes dos reservatórios, ganhou caráter emergencial – evidenciado pela intensa movimentação do governo. A Folha contemplou no dia 8/1 a versão do ministro de que não havia risco de racionamento.

É piada, não é mesmo? A matéria de Cantanhêde na Folha do dia 7 não disse que a reunião “ganhou caráter emergencial” devido aos “níveis preocupantes dos reservatórios”; disse que era de emergência, convocada às pressas. Não foi por outra razão que a própria Folha retificou a matéria mentirosa e alarmista logo abaixo da resposta de sua colunista, na seção “Erramos”.

Veja, abaixo, a retratação da Folha – obviamente que sem o destaque que o jornal deu à “barriga” que cometeu por obra e graça de uma “jornalista” cujo trabalho, há muito, pauta-se por motivações político-partidárias, para dizer o mínimo.

Folha de São Paulo | 11 de janeiro de 2013

Seção “Erramos”

MERCADO (7.JAN, PÁG. B1) A reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico havia sido marcada

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em 13 de dezembro de 2012, e não neste ano, conforme informou a reportagem “Racionamento de luz acende sinal amarelo”, de Eliane Cantanhêde.

http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/folha-admite-o-erro-sobre-o-suposto-apagao-energetico

Jornal da Record

22 de janeiro de 2013

Pode faltar energia elétrica para a Copa do Mundo de 2014 Mais da metade das obras de infraestrutura energética do país estão atrasadas, revela o relatório da agência nacional de energia elétrica (Aneel). Essa situação pode colocar em risco o fornecimento deenergia na Copa do Mundo de 2014. Guilherme Schmidt, advogado especialista no setor de energia fala sobre o assunto.

http://noticias.r7.com/jornal-da-record-news/2013/01/22/pode-faltar-energia-eletrica-para-a-copa-do-mundo-de-2014/

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SportTV

22 de março de 2013

Sanches diz que Arena Corinthians pode não receber abertura da Copa O Corinthians tem um problema extracampo para resolver. O clube ainda não conseguiu a liberação de empréstimos na casa dos R$ 820 milhões - os R$ 400 milhões do BNDES, além dos R$ 420 milhões da Prefeitura de São Paulo - para dar sequência à construção da Arena Corinthians. Assim, o estádio escolhido para receber o jogo de abertura da Copa de 2014 pode em breve ter as obras paralisadas. Quem garante é o ex-presidente do Timão Andrés Sanches, em entrevista ao "Arena".

- Acredito que sim (que a partida inugural da Copa do Mundo será no estádio alvinegro), mas tenho obrigação de avisar a todos os órgãos públicos que existe o risco de não ter a abertura. O Corinthians não vai gastar mais. Se não tiver solução nos próximos dias, a obra vai parar - afirmou Andrés.

Diante da impasse, o ex-presidente diz que a solução é simples: a engenheria finaceira envolvendo BNDES e os CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento) precisa ser resolvida o mais rápido possível.

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- Houve mudança do prefeito (em São Paulo, com a saída de Gilberto Kassab e a entrada de Fernando Haddad, vencedor das eleições no fim de 2012), e o banco não quer aceitar as garantias. É uma burocracia terrível. Em um primeiro momento, (a obra) para. Em um segundo momento, redesenha o estádio. Estão sendo feitas no estádio um monte de coisas que o Corinthians não precisa, então teria que desfazer algumas coisas. Já avisei à Fifa, ao COL (Comitê Organizador Local), ao governo. Eles falaram que vão tentar ajudar.

http://sportv.globo.com/site/programas/arena-sportv/noticia/2013/03/obras-da-arena-corinthians-podem-parar-afirma-andres-sanchez.html

Jornal Nacional

15 de maio de 2013

Doze cidades do Brasil têm protestos contra a Copa do Mundo Nesta quinta-feira (15) houve protestos contra a Copa do Mundo em 12 cidades do Brasil. Em Porto Alegre, Salvador, Maceió, João Pessoa, Fortaleza, Palmas, Sorocaba e Bauru, as manifestações reuniram, cada uma, entre 50 e 300 pessoas, segundo as autoridades.

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Em Brasília, Belo Horizonte e Rio, o número variou entre 600 e 1,3 mil pessoas. Em São Paulo, houve vários protestos nesta quinta-feira, o maior deles com cinco mil pessoas, segundo a PM.

Maior protesto reúne 5 mil pessoas em São Paulo, segundo a PM

Em São Paulo, pela manhã, um grupo de cem pessoas, segundo a PM, queimou pneus e bloqueou a Rodovia Anhanguera, que liga a capital ao interior.

Foram vários protestos por moradia e contra a Copa. . “A gente tem que ter nossa casa, ao invés de ter Copa, temos que ter nossa moradia”, afirmou Nivalda de Jesus, manifestante.

Muita fumaça fechou o caminho para a Arena Corinthians, na Zona Leste. Segundo o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, cerca de três mil pessoas se reuniram perto do estádio. A Polícia Militar diz que eram duas mil. Torcedores do Corinthians, dono do estádio, foram à arena para evitar vandalismo.

Em outro protesto, 300 trabalhadores ligados à força sindical pediam emprego e também criticavam os gastos com a Copa.

Houve outro bloqueio na Marginal Pinheiros e muitos motoristas tentaram sair de ré. “Parou tudo, todo dia, virou festa agora. Todo dia para, não dá, meu. Todo mundo sofre”, comentou Maria Glória Lopes, auxiliar de produção.

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No fim da tarde, cerca de cinco mil professores municipais em greve, na contagem da PM e do sindicato, fizeram uma passeata rumo à região central da cidade. Havia faixas pedindo educação padrão Fifa.

Enquanto os professores marchavam para o centro, outro protesto, contra os gastos com a Copa do Mundo começou na Avenida Paulista. Eram 2 mil pessoas, segundo a PM.

Na mesma região, na Rua Augusta, 20 pessoas foram presas com coquetéis molotov, segundo a polícia. Ali perto, outro grupo começou a colocar fogo em sacos de lixo. Manifestantes depredaram uma concessionária e destruíram um caminhão. Houve confronto com a polícia.

Depois do confronto na região da Avenida Paulusta, os manifestantes foram para a região do Estádio do Pacaembu. Cerca de mil pessoas passaram pelo local. O policiamento foi reforçado para evitar que a praça também fosse ocupada. Os manifestantes seguiram e o protesto de dispersou.

A Polícia Militar ainda não divulgou um balanço das manifestações e do confronto. Das 20 pessoas detidas, sete ainda continuam na delegacia, prestando depoimento.

Manifestantes e policiais entram em confronto em Fortaleza Em Fortaleza, 300 estudantes, segundo a Polícia Militar, protestaram a favor do Passe Livre e contra a Copa do Mundo.

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Manifestantes e policiais entraram em confronto nas proximidades da empresa de transporte. Os PMs dispararam balas de borracha e bombas de gás e o grupo revidou com pedras.

Os policiais apreenderam estilingues e bombas de fabricação caseira. Os estudantes se refugiaram no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. Mas já deixaram o local.

Grupo queima sacos de lixo no centro de Belo Horizonte A Polícia Militar de Minas Gerais estima que 600 pessoas tenham participado de uma manifestação na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte.

Servidores municipais em greve e sem-teto se uniram a integrantes de outros movimentos populares que protestavam contra a Copa e o aumento no preço das passagens de ônibus.

Depois da passeata, o grupo queimou sacos de lixo e uma catraca de ônibus em frente à prefeitura.

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Mais de mil pessoas caminharam pelas ruas do centro do Rio No Rio, professores em greve por melhores salários se juntaram a ativistas contrários à Copa. Segundo a PM, 1,3 mil pessoas caminharam por uma das principais avenidas do centro, até a sede da prefeitura. E, lá, se dispersaram.

Depois, alguns manifestantes tentaram atrapalhar o trânsito. A Polícia Militar acompanha de perto.

Manifestantes usam cruzes em protesto no Estádio Mané Garrincha Em Brasília, pela manhã, um grupo de sem teto invadiu um prédio público. Logo depois, foi retirado pela polícia.

À tarde, 200 pessoas, segundo a Polícia Militar, ocuparam duas faixas do Eixo Monumental. Seguiram pro Estádio Nacional Mané Garrincha, onde puseram cruzes de madeira, num protesto contra as mortes de operários durante a construção das arenas da Copa.

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Ministro do Esporte condena violência nas manifestações O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse que considera legítimo o ato de reivindicar. Mas condenou a violência nas manifestações.

“Geralmente, as manifestações são mais a favor de alguma coisa, a favor da moradia, do ensino público, da segurança do transporte. Não sei porque transformar manifestações que são manifestações de reivindicações favoráveis a algumas bandeiras em manifestações contra a Copa ou contra o governo. Acho que isso ultrapassa a própria natureza ou os objetivos das manifestações. O que não se concebe e o que a lei proíbe são manifestações violentas como as que já ocorreram causando mortes de um cinegrafista, por exemplo, depredação do patrimônio público ou privado. Isso nós não podemos conceber”, disse o ministro.

Dilma Rousseff afirma que Copa vai deixar legado para o Brasil A presidente Dilma Rousseff falou sobre o legado que a Copa vai deixar.

“Acredito que esse compromisso de brasileiros homens e mulheres com a boa recepção dos que vierem nos visitar é algo que faz parte da cultura, da alma e do ânimo do povo brasileiro. Nós podemos dizer em alto e bom som: o legado

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da Copa é nosso. Por que? Ninguém que vem aqui assistir à Copa leva consigo, na sua mala, aeroporto, porto, não leva obras de mobilidade urbana, nem tão pouco estádios. O que eles podem levar na mala? A garantia e a certeza de que esse é um país alegre e hospitaleiro”, declarou a presidente.

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/05/doze-cidades-do-brasil-tem-protestos-contra-copa-do-mundo.html

O Globo

27 de novembro de 2013

Pesquisador alerta para o perigo de surto de dengue na Copa Simon Hay, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, diz que organizadores e patrocinadores da competição deveriam explicitar o risco da doença

RIO - A dengue pode manchar a imagem do Brasil e atrapalhar a realização da Copa do Mundo de 2014. Simon Hay, especialista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicou um artigo na revista “Nature” desta semana no qual afirma que os organizadores e os patrocinadores da competição deveriam explicitar o risco da doença. De

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acordo com Hay, torcedores e atletas podem contrair o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti sobretudo em três cidades: Fortaleza, Natal e Salvador, todas no Nordeste.

A previsão de Hay é que a dengue estará perto de seu pico nestas cidades justamente na época em que a competição será realizada, entre os dias 12 de junho e 13 de julho. De acordo com ele, o Rio de Janeiro não deverá estar com risco alto neste período, mas é preciso manter o monitoramento. Para o especialista, é fundamental que medidas de prevenção sejam tomadas na fase de preparação para o torneio, ressaltando que não há cura para a doença.

- A ideia é concentrar as atividades normais de controle ao mosquito da dengue nas áreas ao redor do estádio sobretudo nos meses e semanas que antecedem a Copa do Mundo. O padrão de controle é o uso de inseticidas, mais conhecidos como fumacês - afirmou Hay ao GLOBO. - A Fifa, as autoridades brasileiras e os patrocinadores da Copa do Mundo devem usar sua influência e experiência para comunicar os riscos.

O especialista do Reino Unido ressalta que o mosquito da dengue está adaptado às cidades. Ele e seus colegas examinaram mapas da distribuição da doença no Brasil, além dos registros de sua variação sazonal. Os cientistas reconhecem, no entanto, que é difícil fazer uma previsão da gravidade do risco de surto de dengue.

- Porém, diferentemente do clima, podemos influenciar no número de mosquitos promovendo um controle agressivo antes da Copa do Mundo - disse Hay. - Eu não quero dissuadir qualquer um de ir à Copa nem destacar o Brasil,

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que é um entre os mais de cem países em todo o mundo que estão lutando contra a dengue. Meu objetivo é informar aos espectadores incautos sobre o risco e das maneiras de se proteger.

Risco no Brasil é enorme, diz especialista brasileiro Já Ricardo Lourenço, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz e membro do Comitê Assessor do Programa Nacional de Controle da Dengue, ressalta que o Ministério da Saúde já desenvolve um plano nacional voltado para grandes eventos, como a Copa.

- O principal é ter prevenção – disse Lourenço. - Há um comitê, do qual faço parte, que está elaborando um plano com todas as ações. O importante é reduzir a população do mosquito. Por isso, precisaremos da mobilização das pessoas para reduzir os índices de infestação do Aedes, além dos guardas de endemia, que ficam mais voltados para o controle de áreas públicas ou terrenos abandonados.

O especialista brasileiro, que ainda não teve acesso ao trabalho de Hay, explica que a gravidade de um surto de dengue depende de vários fatores. Por isso, é muito difícil fazer previsões.

- As condições epidemiológicas variam muito dentro de um bairro, falar de uma cidade é muito complicado – salientou Lourenço. - Mas não precisa fazer um estudo tão amplo para saber que o risco no Brasil é enorme. Temos os quatro

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sorotipos da dengue, mas há áreas em que o sorotipo 4 ainda não circulou, sendo que o risco de epidemia é maior onde a população está suscetível ao vírus. Quanto aos estrangeiros que vêm para Copa, tudo depende da procedência deles: ou eles podem levar para uma cidade um sorotipo que ainda não está circulando naquele local, ou, por outro lado, podem estar mais suscetíveis ao sorotipo viral que já existe numa determinada região.

Nunca houve epidemia em junho e julho, diz Ministério da Saúde O Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, por sua vez, afirma que o Brasil nunca teve epidemia de dengue em junho ou julho. Historicamente, o aumento da doença ocorre entre março e abril, podendo chegar a maio, sobretudo no Nordeste.

- Este pesquisador não deve conhecer bem dengue e no Reino Unido pode não haver muita gente com a experiência que adquirimos no Brasil - afirmou Barbosa. - Só usamos o fumacê quando há transmissão alta; nunca teve epidemia em junho e julho; e nossas medidas de combate à dengue são permanentes.

O representante do Ministério da Saúde informou, ainda, que durante a Copa das Confederações houve um programa de divulgação de informações de saúde. Isto será ampliado para a Copa do Mundo, mas não exclusivamente para a dengue.

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- Vamos divulgar todas as informações para que os turistas possam aproveitar a Copa do Mundo da melhor maneira. Quem for para a selva, por exemplo, deve tomar cuidado com a malária e tomar vacina para febre amarela. Vamos fazer uma ampla divulgação, junto com outras medidas de prevenção que estão sendo tomadas.

http://oglobo.globo.com/brasil/pesquisador-alerta-para-perigo-de-surto-de-dengue-na-copa-10899721

Rádio Jovem Pan

7 de dezembro de 2013

Brasil corre risco de sofrer epidemia de dengue durante a Copa do Mundo Especialistas alertam: o risco de aparecer uma epidemia de dengue no Brasil durante a Copa do Mundo é alto. Um novo tipo da doença acaba de ser descoberto na Malásia, e, até 2014, os casos devem aumentar. As informações foram divulgadas recentemente pela revista Nature.

Estima-se que o país receberá cerca de 600 mil turistas durante o período dos jogos, fato que, ao lado do grande

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trânsito interno de torcedores, deve contribuir para o registro da dengue por aqui.

A principal preocupação é com as cidades onde as temperaturas são altas mesmo no inverno, como Salvador, Fortaleza e Natal, palcos de algumas partidas.

http://jovempan.uol.com.br/noticias/brasil/brasil-corre-risco-de-sofrer-epidemia-de-dengue-durante-copa.html

BBC

12 de dezembro de 2013

Quatro desafios do Brasil nos 6 meses até a Copa Para provar que é capaz de sediar grandes eventos, o Brasil terá que vencer desafios

Faltando exatos seis meses para a abertura da Copa do Mundo, o Brasil ainda busca vencer alguns desafios nos preparativos para o torneio e alcançar o grande objetivo de provar ao mundo sua capacidade para organizar grandes eventos.

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No dia 12 de junho de 2014, Brasil e Croácia entrarão em campo para disputar a primeira partida da Copa na Arena Corinthians. Até lá, o governo brasileiro, juntamente com o Comitê Organizador Local (COL), precisa entregar à Fifa os seis estádios que ainda estão em construção – dos 12 que serão utilizados na Copa -, incluindo o próprio estádio paulista, que sediará a abertura.

Além dos palcos das partidas, o país se comprometeu também com obras de infraestrutura e mobilidade urbana. Parte delas está em andamento e, segundo o cronograma divulgado pelo governo no último mês, deverá estar pronta até junho do ano que vem.

A outra parte acabou sendo postergada e será entregue somente depois do Mundial por conta de atrasos na execução ou no financiamento dos projetos.

Todas essas obras faziam parte da Matriz de Responsabilidades, um documento assinado por representantes do governo federal e pelos responsáveis de todas as 12 cidades-sede contendo todos os projetos que deveriam ser feitos para a organização da Copa do Mundo no Brasil – incluindo as obras de estádios, aeroportos, portos, hotéis, etc, consideradas o grande "legado" da Copa.

Dos 108 projetos que constavam na Matriz, 21 já foram concluídos e 22 foram excluídos da lista porque não ficarão prontos até junho de 2014. Essas obras acabaram entrando no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e, mesmo não sendo entregues para o Mundial, continuarão contando com os incentivos do governo concedidos para as

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intervenções da Copa do Mundo – isenção fiscal, financiamento público, etc.

Áreas Obras Previstas Obras Concluídas Mobilidade urbana 45 3 Aeroportos 30 10 Portos 6 1 Infraestrutura de turismo 41 nenhuma Hotéis 16 7 Fonte: Ministério do Esporte (algumas das 'obras previstas' não estão listadas na Matriz de Responsabilidades)

Para comprovar que é capaz de realizar grandes eventos como a Copa do Mundo, o Brasil precisará vencer os desafios de finalizar todas essas obras a tempo para o torneio, que receberá 32 seleções e, segundo estimativas do próprio governo, pelo menos 600 mil turistas de todo o mundo.

A preocupação principal da Fifa até agora tem sido com os estádios, já que as outras obras não são consideradas "essenciais" para a realização do Mundial. Ainda assim, o COL promete à entidade "a melhor Copa de todos os tempos" e garante que o país estará devidamente preparado para receber o maior evento esportivo do mundo em 2014.

"A Copa é uma grande oportunidade para a gente mostrar que, além de termos grandes jogadores, nós também somos grandes organizadores e vamos mostrar ao mundo que

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organizar também é o nosso forte. Faremos dessa Copa do Mundo a mais bonita de todos os tempos", garantiu Ronaldo, ex-jogador da seleção e membro do COL, em visita à BBC em Londres no último mês.

Abaixo, a BBC Brasil detalha os quatro grandes desafios que o Brasil terá nos próximos seis meses até a Copa do Mundo. 1. EstádiosA entrega dos seis estádios ainda em construção para a Copa do Mundo (Manaus, Natal, Cuiabá, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre) é um dos maiores desafios do Brasil nos seis meses restantes até o Mundial.

Nem mesmo o Comitê Organizador Local (COL) ou o próprio governo brasileiro admitem a possibilidade de algum dos estádios não ficar pronto para a Copa.

Eles reconhecem, porém, o atraso das obras - nenhuma das seis em andamento será entregue dentro do prazo inicial estipulado pela Fifa, que termina em 31 de dezembro.

Não é apenas necessário finalizar todos os seis estádios restantes até a Copa – é preciso entregá-los à Fifa com

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tempo suficiente para que ela realize neles os tradicionais "eventos-teste", que servem como ensaios para o Mundial.

A expectativa do governo brasileiro e do COL é de que todos os palcos dos jogos da Copa estejam nas mãos da Fifa até abril.

Natal, Porto Alegre e Manaus

Dos seis estádios ainda inacabados, três são motivo de maior preocupação para a Fifa: Arena da Baixada (Curitiba), Arena Pantanal (Cuiabá) e a Arena Corinthians (São Paulo).

As demais arenas, embora atrasadas, mostram estar com obras adiantadas, e a expectativa é de que sejam concluídas já em janeiro.

A Arena das Dunas, em Natal, está 94% concluída, faltando apenas finalizar a colocação dos assentos e fazer o acabamento.

Já o Beira-Rio, em Porto Alegre, tem 92% das obras prontas, restando ainda por fazer o restante da cobertura e a colocação dos últimos assentos.

Em Manaus, a construção da Arena Amazônia tem 90% de avanço, com o gramado já concluído e com a instalação das cadeiras e do sistema elétrico em execução.

Curitiba, Cuiabá e São Paulo

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O caso do estádio Arena da Baixada, em Curitiba, é o mais preocupante e levou até à realização de uma reunião separada com a Fifa na segunda-feira passada, um dia antes da entidade se reunir com todas as outras cidades-sede para saber as atualizações das obras.

"A Fifa tinha definido que o Atlético-PR faria o primeiro jogo teste no dia 26 de janeiro, mas o gramado vai terminar de ser colocado no dia 21, então é impossível", explicou o secretário da Copa do Paraná, Mário Celso Cunha, em entrevista à BBC Brasil.

"Agora o primeiro jogo-teste ficou entre para o fim de fevereiro, para testar o gramado, a iluminação, o placar. E a inauguração, com 100% executado, será dia 26 de março, dia do aniversário do Atlético-PR."

Segundo o secretário, a principal dificuldade de Curitiba para cumprir os prazos do estádio têm sido com relação ao financiamento dele pelo BNDES, pela demora do banco em liberar o dinheiro. O orçamento da obra já está estourado – a previsão era de R$ 184,6 mi e o custo atual é de R$ 326,7 mi – e ainda faltam pelo menos R$ 9 mi serem liberados para a conclusão dos trabalhos.

A Arena Pantanal, em Cuiabá, é outra em situação preocupante.

Até a semana passada, o estádio estava sem o gramado, sem a cobertura e sem os assentos. A grama foi colocada em tempo recorde – menos de 24h – na quinta-feira e, assim, as seleções que irão jogar no estádio puderam ver como está o campo na visita que fizeram no último final de semana.

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O caso da Arena Corinthians – que deve receber o jogo de abertura do Mundial, Brasil e Croácia, em 12 de junho – se tornou preocupante após o acidente ocorrido na obra ainda no fim de novembro, quando o estádio se encaminhava para cumprir o prazo estipulado pela Fifa.

O guindaste que erguia o último módulo da cobertura acabou caindo com a peça, matando dois operários. Com isso, a parte da obra onde ocorreu o acidente está interditada e o guindaste só voltará a operar ali no dia 16 de dezembro.

Apesar disso, o gramado do estádio já está pronto e as cadeiras estão sendo colocadas. O atual prazo da entrega da obra completa é abril de 2014 para eventos-teste.

"A previsão do Corinthians, proprietário do estádio, é de realizar esses eventos aumentando gradativamente a capacidade do público e testando vários aspectos logísticos do estádio", explicou a coordenadora do Comitê Paulista para a Copa, Raquel Verdenacci, à BBC Brasil.

"Em um período de 30 dias haverá oportunidade para cerca de três eventos oficiais", estimou.

2. Mobilidade UrbanaSeis meses antes da Copa, o país tem apenas três obras de mobilidade urbana concluídas, em Belo Horizonte, Recife e Salvador, e muitas das 42 em andamento trabalham com prazo apertado, com entrega até maio de 2014, um mês antes da partida de abertura do Mundial.

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Entre as obras previstas estão VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), BRTs (Bus Rapid Transit), corredores e vias, além de iniciativas em estações, terminais e centros de controle de tráfego.

No último balanço divulgado pelo Ministério do Esporte no fim de novembro, o governo diz que o plano de investimento total para a Copa soma neste momento R$ 25,6 bilhões, com o teto ainda chegando a R$ 33 bilhões. Do montante, R$ 8 bilhões estão destinados a obras de mobilidade urbana.

Quanto aos atrasos, alguns são mais significativos, como em Recife, palco de um cenário que se repete em muitas das outras 11 cidades-sede.

As cinco obras de mobilidade urbana na capital pernambucana, orçadas em R$ 1,4 bilhão, já tiveram prazo de conclusão em 2012, 2013 e atualmente têm previsão de entrega para 15 de maio de 2014, menos de 30 dias antes do início da Copa, no dia 12 de junho do mesmo ano.

Em Cuiabá, a principal obra de mobilidade, um VLT orçado em R$ 1,4 bilhão, só terá parte do trajeto de 22 quilômetros entregue antes da Copa, segundo admitiu recentemente o próprio ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Espera-se que a obra reduza em até 12% o número de carros em circulação na capital mato-grossense.

Quanto ao legado do Mundial para a população, as obras de mobilidade urbana previstas na Matriz de Responsabilidades são consideradas as de maior relevância, e os atrasos ou até mesmo exclusões de algumas delas são

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vistos como falhas pelos críticos que monitoram os gastos públicos.

Para depois da Copa

Com 11 obras que não integram mais a lista de exigência de conclusão antes do Mundial, Porto Alegre é a campeã das exclusões. São obras em avenidas, construções de corredores de ônibus (BRTs), melhorias em terminais e na rodoviária da cidade.

Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Brasília, Natal e Salvador também desistiram de obras de mobilidade, mas a mais emblemática é de longe a construção de uma linha de monotrilho em São Paulo, orçada em R$ 1,8 bilhão, e que agora dependerá de outra fonte principal de financiamento para ser concluída.

A primeira etapa da Linha 17-Ouro, como é conhecido o projeto, deve ser entregue somente no fim de 2014. Com 7,7 quilômetros de extensão, ligará a Marginal Pinheiros ao aeroporto de Congonhas.

Para o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luís Fernandes, a Matriz de Responsabilidades é um "plano estratégico de investimentos", que vai sendo atualizado com o tempo. "Novas oportunidades surgem, projetos sãoreavaliados, alguns são incluídos e outros precisam ser retirados", explica em entrevista à BBC Brasil.

Dentre os motivos para excluir uma obra, ele argumenta que, no caso de Porto Alegre, o governo local solicitou a

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retirada e decidiu optar por uma nova fonte de financiamento.

"Outras obras não eram tão essenciais para a realização do evento como se pensou, e em alguns casos a obra não ficaria pronta até a Copa do Mundo. Mas nenhuma das obras considerada por nós como essencial caiu da Matriz", diz.

3. AeroportosCom o aumento exponencial do número de passageiros domésticos nos últimos dez anos, os aeroportos brasileiros já se encontravam em preocupante situação de gargalo antes de a Matriz de Responsabilidades ser assinada, em 2010.

À frente das obras nos aeroportos em 11 das 12 cidades-sede do Mundial, orçadas em R$ 5,6 bilhões, a Infraero e concessionárias privadas divulgaram no dia 26 de novembro um balanço das intervenções de melhorias e obras de expansão em andamento.

De acordo com os números, o governo já confirma que ao menos quatro aeroportos - Rio de Janeiro (Galeão), Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza - não terão todas as obras prontas até a abertura do Mundial.

Das cidades-sede, Recife é a única que não tem previsão de obras aeroportuárias. As melhorias no Aeroporto Internacional Guararapes-Gilberto Freyre, orçadas em R$ 18,5 milhões, foram excluídas da Matriz, assim como a ampliação da pista de pouso e decolagem do Aeroporto

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Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, que custariam R$ 228,2 milhões.

Ao menos duas obras de mobilidade urbana excluídas do documento também afetam o setor de forma indireta, no que diz respeito ao acesso aos terminais urbanos: o monotrilho da Linha 17-Ouro, que ligaria a Marginal Pinheiros ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e o VLT-Linha 1, que ligaria o Terminal Asa Sul ao Aeroporto Internacional de Brasília.

"Tudo estará pronto para a Copa"

Apesar dos contratempos, a Infraero diz garantir que até a abertura da Copa todas as obras serão concluídas.

A seis meses do início do Mundial, no entanto, alguns dos atrasos são significativos. Em Curitiba, somente 9,15% da ampliação do terminal de passageiros estão prontos. No Rio de Janeiro, o aeroporto do Galeão, o terminal 2 tem apenas 43,51% de conclusão, e na capital gaúcha os trabalhos só começaram dois meses atrás.

Gustavo do Vale, presidente da Infraero, admitiu no lançamento do balanço que, no caso do Galeão, parte das obras no terminal 1 não serão entregues a tempo, e a capitais do Paraná e Ceará terão apenas 30% dos trabalhos concluídos.

Já o balanço atualizado pelo Ministério do Esporte aponta que das 30 intervenções em andamento no setor, dez já foram concluídas e a grande maioria ainda em curso tem prazo de até abril e maio de 2014.

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O secretário-executivo da pasta, Luís Fernandes, admitiu à BBC Brasil reconhecer que as obras aeroportuárias são motivo de preocupação, mas aposta no sucesso das melhorias e expansões. "Temos segurança de que estarão prontas para a Copa do Mundo. E nesse terreno tentamos garantir não só a infraestrutura para a recepção de um alto volume de passageiros mas também um conjunto de iniciativas para melhorar a gestão dos aeroportos", afirmou.

Em todos os 11 aeroportos estão previstas obras de expansão ou melhoria dos terminais de passageiros. Em cinco - Belo Horizonte, Curitiba, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo (Guarulhos) - há também obras em pistas e pátios; e em Salvador uma nova torre de controle será construída.

Para a Infraero, os melhores exemplos de bom andamento das obras são os aeroportos de Brasília (65% de conclusão), o novo aeroporto de Natal, em construção em São Gonçalodo Amarante (71%) - embora as obras de acesso estejam atrasadas; o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo (80%) e o de Viracopos, em Campinas (74%).

Os quatro terminais aéreos foram privatizados e as obras estão a cargo das concessionárias (em parceria com a Infraero) vencedoras dos leilões de licitação.

No caso dos aeroportos de Confins (Belo Horizonte) e do Galeão, a Infraero disse, em entrevista recente à BBC Brasil, que um Plano de Ações Imediatas visará "melhorar rapidamente a experiência do usuário na utilização dos aeroportos" através de um "conjunto de investimentos e intervenções operacionais de curto prazo".

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Analistas e especialistas do setor, no entanto, temem que essas e outras medidas não passam de uma "otimização do que já existe" e que os aeroportos só conseguirão atender à grande demanda gerada pelo evento graças a esses planos alternativos.

"Eu tenho certeza de que dificilmente essas obras ficarão prontas no prazo. Eu acredito que durante a Copa do Mundo haverá muito trabalho inacabado, mas teremos essa espécie de 'maquiagem', e os turistas não vão perceber. Vamos ver muitos painéis cobrindo áreas do aeroporto, mas nós sabemos que do outro lado está o atraso do que não foi feito", disse o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, em entrevista recente à BBC Brasil.

4. HotéisO setor de hotelaria também é um dos que apresentam desafios para a realização da Copa do Mundo no Brasil.

Os dados mais atualizados mostram que, de 16 empreendimentos que conseguiram uma fatia do R$ 1,034 bilhão disponibilizado pelo ProCopa Turismo (linha de crédito especial do BNDES para reformas ou novos prédios), apenas sete já foram concluídos.

Mais um tem previsão de conclusão para janeiro de 2014 e outro para maio do mesmo ano, apenas um mês antes do jogo de abertura do Mundial.

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Segundo o BNDES o objetivo do ProCopa Turismo é a "modernização e ampliação da oferta hoteleira" no país e a aposta é que haja um aumento de 15% na capacidade até o início da Copa.

No entanto, a lista inclui seis hotéis com data de inauguração marcada para os meses seguintes ao evento, e alguns até estão previstos para abril e maio de 2015, quase um ano após o Mundial.

O caso mais notório é o do Hotel Glória, no Rio de Janeiro. O empresário Eike Batista obteve R$ 190 milhões do BNDES para a compra e reforma do hotel que, após a falência de algumas de suas empresas, está em processo de venda e se encontra em situação indefinida.

Entre os sete empreendimentos que já foram inaugurados ou tiveram as reformas concluídas, três estão no Rio de Janeiro, dois na Bahia, um em Pernambuco e um São Paulo.

Dos nove empreendimentos restantes na lista dos 16 que receberam recursos do ProCopa Turismo, sete estão no Rio de Janeiro, um no Rio Grande do Sul e um no Rio Grande do Norte.

Preços altos

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou ainda em setembro ao portal de notícias UOL que os investimentos no setor hoteleiro devem aumentar a oferta de leitos para turistas que viajarão pelo país, e isso evitaria aumentos abusivos nas diárias durante o evento.

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Mas um levantamento feito pela Embratur no início de novembro mostra que algumas diárias no Rio de Janeiro chegam a ser duas vezes e meia maiores do que o preço médio de alta temporada de verão e quase 50% mais elevados do que os praticados durante o Réveillon 2013-2014. Em Porto Alegre, os preços chegam a ser sete vezes mais altos.

De acordo com a pesquisa, a média da diária cobrada para janeiro de 2014, durante o verão carioca, é de R$ 438,03. Para o Réveillon, é de R$ 739,87. Na Copa, R$ 1.105,11.

Em algumas cidades, a alternativa aos preços altos dos hotéis são os hostels, que oferecem quartos compartilhados por um valor bem mais acessível.

"Aqui em São Paulo, temos hotéis das grandes redes nacionais e internacionais e temos também várias opções econômicas, com mais de 2.500 leitos em hostels", disse Raquel Verdenacci, coordenadora do Comitê Paulista da Copa, à BBC Brasil.

Além da questão do preço alto, outro desafio que as 12 cidades-sede terão que enfrentar nos próximos meses é o de preparar o setor hoteleiro para receber os 600 mil turistas estrangeiros que são esperados pelo Ministério do Turismo.

Algumas delas já admitem que faltará quartos para suprir a alta demanda. Em recente entrevista à BBC News, o chefe da Secopa-MT (Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo do Mato Grosso), Maurício Guimarães, descreveu um cenário que pode ser comum a outras

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cidades-sede: "Não haverá quartos de hotel suficientes para os torcedores, mas a cidade dará um jeito."

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/12/131211_seismeses_copa_rm_jp.shtml

Rádio Voz da Rússia

23 de janeiro de 2014

Brasil não está preparado para receber a Copa do Mundo No dia 22 de janeiro a presidente brasileira Dilma Rousseff inaugurou o estádio de futebol Dunas em Natal. Este foi o primeiro estádio para a Copa do Mundo 2014 a ser inaugurado este ano.

Mas até ao Mundial ainda se tem de terminar outros seis estádios. O Brasil não consegue cumprir o calendário de preparação dos estádios. Todos os trabalhos já deviam ter sido concluídos em dezembro de 2013.

A direção da FIFA expressou o seu desagrado pelo ritmo a que estão a decorrer os trabalhos. O presidente dessa organização Joseph Blatter escreveu indignado na sua página do Twitter: “Nunca vi este tipo de atrasos na preparação de um país para organizar um torneio de

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futebol.” O Brasil só conseguiu ter prontos apenas 6 estádios de futebol dos 12 estádios previstos. Contudo, parece que Blatter não está muito seguro da sua posição: depois das suas linhas indignadas ele troca a ira pela misericórdia e parece tranquilizar a si próprio: Dilma Rousseff prometeu construir todos os estádios e realizar uma Copa digna.

Só o fato de os bilhetes para as futuras partidas estarem sendo vendidos rapidamente já é uma prova que o mundo acredita no Brasil. Como podiam os torcedores não acreditar no Brasil? Este é um país onde futebol é quase uma religião. Estragar a festa do futebol seria um sacrilégio. A presidente Dilma escreveu no seu blogue que a futura Copa será a “Copa das Copas”:

“No Brasil, a Copa estará em casa, pois este é o país do futebol. Todos os que vierem ao Brasil serão bem recebidos, porque somos alegres e acolhedores. Amamos o futebol e por isso recebemos esta Copa com orgulho e faremos dela a Copa das Copas”.

Ninguém tem dúvidas acerca da paixão dos brasileiros pelo jogo mais popular do mundo. As dúvidas são outras: das capacidades e possibilidades para o país preparar a tempo os estádios e outras infraestruturas para a Copa Mundial de Futebol em 2014. Tanto mais que todos os prazos já foram ultrapassados. Dezembro era a reta da meta no fim da qual o Comitê Organizador Local da Copa devia ter dito: Bem-vindos aos estádios!

Infelizmente não chegámos a ouvir esse tipo de apelo. Pelo contrário, ainda em finais de 2012 o secretário-geral da

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FIFA Jérôme Valcke já tinha comentado com bastante dureza os ritmos da construção dos novos estádios. Os brasileiros ficaram mesmo indignados e quase obrigaram o dirigente da FIFA a pedir desculpas pela crítica alegadamente sem fundamento e a acusação de que eles não sabiam fazer as coisas. Mas eis que o mesmo Valcke afirma a 21 de janeiro que o estádio de Curitiba poderá ser excluído da lista de estádios que irão receber a Copa do Mundo se a organização não acelerar os ritmos de construção. “Nós não podemos realizar partidas sem um estádio e a construção deste já atingiu seu limite crítico”, disse Jérôme Valcke segundo uma citação da France-Presse. Também foi marcada a data para a entrega final do estádio – o dia 18 de fevereiro! O estádio de Curitiba ainda não tem gramado, não tem assentos para os espectadores, o centro de imprensa não está pronto, a cobertura não está montada … Entretanto o custo de construção inicial do estádio subiu dos 180 milhões de reais para os 265 milhões.

Para Curitiba estão planejados quatro jogos da fase de grupos, incluindo um da seleção russa. Além do estádio de Curitiba, na lista dos estádios por acabar também figuram os de São Paulo, Cuiabá, Porto Alegre e Manaus. O ministro do Esporte brasileiro, Aldo Rebelo, culpa disso tudo a natureza e o caráter dos brasileiros: que somos lentos no arranque, mas… Mas uma coisa é verdade – ainda falta entregar seis estádios.

O futebolista brasileiro Ronaldo, membro do Comitê Organizador da Copa disse com uma voz rouca, da emoção ou do resfriado, na coletiva de imprensa: “Um, dois meses de atraso, não tem importância. Os estádios estarão prontos

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para o Mundial. Todos eles”, garantiu, sem demonstrar preocupação com a prorrogação do prazo para a entrega dos estádios de Natal, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Cuiabá e São Paulo.

Fazer tudo em cima da hora faz parte do "jeitinho brasileiro", disse Ronaldo: “O gringo, no geral, não conhece o nosso jeitinho brasileiro de ser e fazer as coisas. É muitocaracterístico isso no brasileiro, de fazer as coisas no último momento e começar uma correria, mas a gente tem todas as garantias de que todos os estádios estarão prontos.”

Temos de notar que na coletiva de imprensa de 31 de dezembro houve muita ironia e brincadeira. O ministro do Esporte Aldo Rebelo comparou a lentidão na construção dos estádios com uma noiva que se atrasa:

“No Brasil temos uma instituição muito tradicional, que é o casamento. Nunca fui a um casamento em que a noiva chegasse na hora, mas nunca vi um casamento deixar de acontecer por causa disso. Não há nada que comprometa a realização da Copa. Nós queremos que os estádios sejam entregues o quanto antes possível porque as arenas precisam passar pelos eventos de teste.”

Em janeiro, além da inauguração do estádio em Natal, a comissão de aceitação irá visitar o estádio mais tropical – Manaus, onde deverão jogar os compatriotas de Joseph Blatter, os suíços. Outras duas arenas esportivas deverão, ao que tudo indica, ser entregues só em fevereiro.

A tarefa mais difícil será a reconstrução do estádio de Itaquera, em São Paulo, onde se deve realizar a cerimônia

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de abertura da Copa do Mundo de Futebol. Como se sabe, no início de dezembro nesse estádio ocorreu uma derrocada sobre um setor e caiu uma torre de iluminação. Os engenheiros e os operários estão terminando agora a reconstrução da parte que sofreu a derrocada. O secretário-geral da FIFA Valcke pôde testemunhar a capacidade dos brasileiros para fazerem milagres: o estádio de Itaquera já está quase pronto para receber a cerimônia de abertura.

Além dos problemas de construção a organização do Mundial enfrentam um inesperado problema social. Durante os grandes protestos do inverno passado, as pessoas expressaram o seu descontentamento, nomeadamente, pelos gastos financeiros excessivos com a realização da Copa do Mundo. A isso se juntaram, neste momento, outras ações de protesto. Os habitantes de um dos bairros do Rio de Janeiro entraram em confrontos com a polícia protestando contra o derrube de suas casas no âmbito de preparação para o Mundial 2014.

Os confrontos ocorreram perto do estádio do Maracanã. É aqui que se deve realizar a partida final da Copa do Mundo. “Isso é especulação imobiliária: eles querem construir aqui um centro comercial. Os brasileiros devem se sacrificar para que tudo corra bem na Copa do Mundo”, declarou um dos ativistas. Desde 2010 da zona circundante do Maracanã foram desalojadas 637 famílias. As autoridades municipais planejam terminar o derrube das casas até finais de janeiro.

Algumas pessoas falam da possibilidade de aumentar as ações de protesto mais próximo da data do início da Copa do Mundo. Relativamente a isso a direção da FIFA expressa

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uma perfeita tranquilidade. "Eu sou um otimista, não um covarde. Então, eu não tenho medo. Mas sabemos que haverá novas manifestações, protestos. Os mais recentes, na Copa das Confederações, no mesmo país, nasceram das redes sociais. Não havia nenhum objetivo, reivindicações reais, mas, durante a Copa do Mundo, haverá mais concretas, mais estruturadas. Mas o futebol estará protegido, eu acho que os brasileiros não atacarão diretamente o futebol. No país deles, é uma religião", disse Joseph Blatter numa entrevista ao jornal suíço 24 Heurs.

Por mais calma olímpica que o dirigente da FIFA demonstre, o governo brasileiro está tomando medidas para o reforço da segurança dos participantes e dos torcedores doMundial de Futebol. Para reforçar a polícia as cidades anfitriãs dos jogos irão receber 10.650 elementos da Força Nacional de Segurança. Esses homens foram treinados para a manutenção da ordem pública em qualquer local onde se realizem partidas da Copa.

Esses destacamentos especiais já ganharam experiência de manutenção da ordem nos Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro e dos eventos realizados na altura da visita ao Brasil do Papa Francisco. Não houve qualquer reparo a fazer ao seu trabalho. O lado financeiro da questão é um segredo, mas alguns dados sugerem que a segurança da Copa do Mundo 2014 custou 1 bilhão de reais, um pouco menos que o planejado para o mesmo efeito nos Jogos Olímpicos de 2016.

http://portuguese.ruvr.ru/2014_01_23/Brasil-nao-est-preparado-para-receber-a-Copa-do-Mundo-FIFA-2014-7044/

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Rádio France Internacional

29 de janeiro de 2014

Revista francesa diz que Copa no Brasil virou "fonte de angústia" Elcio Ramalho A respeitada revista France Football chegou nesta terça-feira (28) às bancas alertando em sua manchete para os riscos que pairam sobre o Mundial do Brasil. Os atrasos na entrega dos estádios, a insatisfação da população e até as diferenças de clima entre as regiões durante o evento foram citados pela publicação para justificar os temores com a organização da Copa.

“Medo do Mundial no Brasil”, escreve em sua manchete a revista. A cinco meses do pontapé inicial da Copa, o Brasil está longe de ser o lugar ideal imaginado pela Fifa para organizar a maior festa do futebol que, segundo a France Football, “se tornou uma fonte de angústia”.

Ilustrada com uma foto do acidente com a cobertura do Itaquerão em São Paulo no mês de novembro, a revista diz, em seis páginas, que os atrasos na entrega dos estádios, a alta vertiginosa dos preços, o risco de manifestações

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gigantescas e até as diferenças de clima entre as regiões fazem do Mundial uma preocupação para a Fifa a 140 dias da abertura da Copa.

A revista pondera o entusiasmo com a possibilidade de o Brasil conquistar em casa um inédito 6° título de campeão mundial. “A realidade já revelou o lado obscuro e menos glamuroso deste desafio”, escreve a France Football.

A revista revela que a organização do evento expõe duas faces diferentes: por uma lado, as exigências da Fifa, “às vezes desmedidas, normalmente inadequadas”, e, por outro, um país de crescimento econômico fraco, com problemas políticos, corrupção e uma alta de preços considera insuportável.

Como comparação, a publicação lembra que o Brasil investiu para construir ou renovar 12 estádios e com outras obras da Copa mais de 11 bilhões de euros, enquanto o orçamento do governo para a educação no país em 2013 foi de 12,8 bilhões.

Até o super-heroi Batman, personagem presente em diversos protestos e que se tornou símbolo da contestação social, parece ser impotente diante de tantos problemas, ironiza a France Football. Entre os desafios estão a aceleração para entrega dos estádios que faltam, limitar a ira dos brasileiros e até contornar as dificuldades que surgirão com as temperaturas diversas entre as regiões durante o Mundial.

A revista lembra as recentes declarações do presidente da Fifa, Joseph Blatter, de que nunca um país esteve tão

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atrasado na preparação de uma Copa do Mundo, e do secretário-geral, Jérôme Valcke, admitindo que a competição vai ser realizada sem infraestruturas totalmente instaladas e testadas.

Segundo a revista, o ritmo imposto na corrida contra o tempo para as obras já deixaram 4 vítimas fatais, em referência aos acidentes com as Arenas de Brasília, Manaus e São Paulo. Em sua reportagem, France Football estima que os compromissos entre governos locais e empreiteiras que se beneficiaram dos atrasos para cobrar preços exorbitantes foi extremamente prejudicial para o contribuinte brasileiro. “Os doze estádios foram financiados pelo Estado embora o compromisso tenha sido com fundos privados”, escreve a France Football.

“Latas de tinta”

Em relação a obras de infraestrutura, a revista afirma que os 600 mil turistas esperados no Brasil durante a Copa deverão transitar por aeroportos com “latas de tinta e andaimes pelos corredores” nos terminais, em referência aos atrasos nas principais portas de entrada para as cidades escolhidas como sedes da competição. Em Curitiba, cita a reportagem, o canteiro de obras não avançou 20% do que estava previsto.

Para a revista, não apenas os brasileiros que protestam nas ruas têm motivos para reclamar. Até os próximos jogadores que criaram o movimento "Bom Senso Futebol Clube"

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também saíram a campo para defender seus interesses, como um calendário de jogos menos carregado.

Sobre as diferenças de clima durante a Copa, France Football explica a seus leitores que mesmo sendo disputado no período de inverno, algumas cidades como Manaus e Recife preocupam pelo calor excessivo. Segundo a revista, as condições climáticas podem afetar a saúde dos jogadores e atrapalhar sua recuperação entre os jogos.

Confiança demais

Em entrevista concedida à revista, o presidente da Fifa confessa que a entidade possa ter tido uma confiança excessiva no Brasil para organizar o maior evento do futebol mundial. Blatter voltou a reafirmar que nunca um país teve tanto tempo, 7 anos, para realizar uma Copa e garantiu que a presidente Dilma Roussef prometeu a ele provar que “o país estará pronto”.

Durante a entrevista o presidente da Fifa afirmou que “o orgulho não deve fazer esquecer os compromissos do governo com as obras de infraestrutura”.

http://www.portugues.rfi.fr/esportes/20140128-france-football-diz-que-copa-no-brasil-virou-fonte-de-angustia

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Estadão

17 Fevereiro 2014

Há 32 anos, Colômbia disse não à Fifa e desistiu da Copa de 1986 País, que enfrentava dificuldades econômicas em 1982, preferiu não atender 'às extravagâncias' da entidade

Diego Salgado - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Curitiba corre sério risco de ser excluída da Copa do Mundo nesta terça-feira. A 115 dias da abertura da competição, as obras da Arena da Baixada estão longe de serem concluídas. Além disso, o Atlético-PR precisa de mais R$ 65 milhões para finalizar a reforma da arena, incluindo todas as exigências da Fifa. Situação parecida vivia a Colômbia, em outubro de 1982. O país, no entanto, disse não à Copa de 1986 e à entidade máxima do futebol.

Escolhida sede do Mundial no dia 9 de setembro de 1974, a Colômbia enfrentava dificuldades econômicas no começo da década de 1980. O cenário levou o presidente Belisario Betancur, empossado no cargo em 7 de agosto de 1982, a tomar a decisão. Segundo o político, a realização do

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megaevento em solo colombiano não estava de acordo com a realidade do país.

"Aqui não se cumpriu com a regra de ouro em que a Copa deve servir à Colômbia e não a Colômbia à multinacional Fifa. Por essa razão, a Copa de 1986 não ocorrerá no nosso país. Não há tempo para atender às extravagâncias da Fifa e seus sócios", disse Betancur no dia 25 de outubro de 1982.

A Fifa, por sua vez, rebateu as críticas do presidente colombiano. Segundo a entidade, a culpa era do país, que não soube se organizar. "A Fifa não tem culpa se a Colômbia, apesar de ter tido 12 anos para se preparar, diz que não consegue organizar uma Copa do Mundo. Acredito que Betancur deveria ficar triste com a situação e assumir a responsabilidade, em vez de fazer críticas à Fifa. Tenho certeza que vários países vão querer organizar a Copa”, declarou à época.

As exigência da entidade estavam, sobretudo, ligadas às capacidades dos 12 estádios necessários para a Copa do Mundo de 1986. As arenas que seriam utilizadas na primeira fase deveriam ter mais de 40 mil lugares. Nas fases seguintes, os locais teriam que comportar até 60 mil torcedores. O estádio da final, por sua vez, precisaria ter capacidade para receber 80 mil pessoas.

ATRASOS

Em 1979, a preparação colombiana para o Mundial já dava sinal de atrasos. Na ocasião, apenas um estádio estava pronto: o Olímpico Pascual Guerrero, em Cali, qua havia sido utilizado no Pan-Americano de 1971. Somente mais um

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estava em obras, o Metropolitano Roberto Meléndez, em Barranquilla.

Em abril de 1982, antes da posse de Betancur, uma reunião do governo local com um grande grupo econômico local, o Grancolombiano, já previa que seria complicado erguer tantos estádios para a competição. A Colômbia ainda ampliaria o estádio usado por Nacional e Independiente de Medellin. A capacidade passaria de 32 mil para 60 mil lugares. Bogotá, Ibagué, Bucaramanga também seriam as sedes da Copa de 1986.

PLANO B

Após a desistência, a Fifa marcou uma reunião do Comitê Executivo da entidade, que seria realizado no dia 18 de dezembro daquele ano, em Zurique. No encontro, seriam abertas as inscrições para os novos candidatos. Segundo a Fifa, os 23 países da Concacaf e mais nove da Conmebol poderiam se tornar sede da Copa. Faltavam apenas 43 meses para a abertura do Mundial.

O Brasil logo se candidatou. Giulite Coutinho, então presidente da CBF, confirmou o interesse. Mas os problemas econômicos do País também impediram a organização do evento. Canadá, Estados Unidos e México também eram apontadas como possíveis sedes. Em junho de 1983, em Estocolmo, a Fifa decidiu conceder aos mexicanos a organização do Mundial.

O país realizou a preparação para a competição mesmo com o terremoto ocorrido dia 19 de setembro de 1985, queatingiu 8,1 graus na escala Richter. Os 52 jogos foram

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disputados em 12 estádios – assim como a Fifa exigiu aos colombianos. Seis deles, porém, tinham menos de 40 mil lugares. Cinco já haviam sido usados na Copa de 1970.

http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,ha-32-anos-colombia-disse-nao-a-fifa-e-desistiu-da-copa-de-1986,1131396

Folha de S.Paulo

9 de fevereiro de 2014

Brasil não está pronto para sediar a Copa do Mundo, diz Valdivia Alternando jogos e descanso neste ano, Valdivia volta a campo hoje, contra o Audax, às 17h, no Pacaembu. Com 100% de aproveitamento em seis jogos no Paulista, o Palmeiras talvez nem precisasse dele. Mas o técnico Gilson Kleina quer o meia em campo. E o chileno quer jogar.

No ano do centenário do Palmeiras e da Copa do Mundo, Valdivia quer continuar a dar sua volta por cima.

Em entrevista exclusiva à Folha, o jogador fala sobre o Mundial –tanto sobre o desejo de jogá-lo quanto dos problemas de organização.

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Também critica a conivência do rival Corinthians com as torcidas organizadas e a violência de um modo geral.

E revela se arrepender de ter jogado muitas vezes sem o tempo adequado de recuperação durante a última gestão Felipão no clube, em 2012.

*

Folha - Qual sua expectativa quanto a disputar uma Copa no país onde mora?

Valdivia - A ansiedade é grande. Meu objetivo é representar o Chile em mais uma Copa. Disputá-la aqui seriamaravilhoso. Por isso, tenho me preparado muito, para jogar bem pelo Palmeiras e poder ser convocado.

Você acha que o Brasil está pronto para receber a Copa?

Não, não está pronto. Rivaldo, Romário e muitos jornalistas dizem isso, e eu concordo. Aqui há problemas de segurança, acesso, trânsito, aeroportos. A Copa vai ser a melhor de todos os tempos, mas porque o Brasil é o país do futebol, vive disso, e os melhores jogadores estarão aqui. Mas falta muito quanto à organização.

Leio que há centros de treinamentos que não estão prontos, como o da Rússia, em Itu, que há ampliações com lonas em aeroportos. A imagem que vai ficar para os estrangeiros vai ser ruim. Mesmo assim, vai ser a melhor Copa. O povo e os jogadores vão fazer a diferença.

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A imprensa chilena diz que o técnico do Chile, Jorge Sampaoli, está questionando sua convocação. Como é sua relação com ele?

Ele foi um dos poucos a acreditar que eu ainda tinha como jogar pelo meu país. E, para preservar minha sanidade mental, não leio a imprensa chilena.

Você parece mais leve, mais feliz. Está mesmo?

Estou, mas não que eu fosse infeliz. No passado, havia muita fofoca no Palmeiras. Agora, comissão técnica, diretoria e jogadores não permitem isso. O Gilson Kleina deposita confiança em todos, a responsabilidade é dividida.

Você foi cobrado em excesso, injustamente?

Sim. Quando o Palmeiras não conseguia os resultados positivos, o fato de eu não jogar era mais importante do que os erros dos que estavam em campo. Eu era culpado por derrotas em que não havia atuado. Aqueles que podem mais têm de ser mais cobrados. Mas a cobrança não pode ser sobre um jogador só. Isso mexia comigo.

Passei por cima dos protocolos médicos, voltei a jogar antes do tempo e me machuquei. Fiz isso muitas vezes. Até porque as pessoas me pediam "por favor, me ajude, jogue..."

Foi na época do Felipão?

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Sim.

*E por que você jogava? *

Acho que faltou autoridade do departamento médico para me vetar. Eu poderia ter sido mais firme. Isso prejudicou minha imagem. Parecia que eu não queria jogar.

Hoje você sente dores?

Sinto. Mas hoje trabalho com um especialista cubano em reabilitação física, o José Amador, que atua também na seleção do Chile. Ele me ajuda a me livrar da dor.

Como você vê os atos de violência contra jogadores?

Bater esperando mudança do jogador é um erro. Quando torcedores arremessaram uma xícara em mim no aeroporto da Argentina [em março de 2013, após jogo pela Libertadores], eu cheguei a dizer para a diretoria que queria ir embora. Mas uma parte minha queria ficar e dar a volta por cima.

Você participa do Bom Senso F.C.? Acredita no movimento?

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Participo, sim. Aos poucos, vai dar certo. Os jogadores do futuro é que vão se beneficiar. Se os sindicatos fossem mais duros, não precisava do Bom Senso.

Você apoiaria uma greve?

Depende. Pela violência da torcida do Corinthians, como se comentou recentemente, não. Porque não adianta nada a gente fazer greve se a diretoria do Corinthians não fizer como o [presidente do Palmeiras] Paulo Nobre e tiver uma postura firme com as torcidas organizadas.

Olhando para sua carreira, você acha que deveria ter saído menos à noite?

Muito jogador sempre saiu à noite e se tornou fenômeno. Tem muito jogador crente, que nunca saiu, mas também nunca jogou bem. Quando mais saí, entre 2006 e 2008, foi quando joguei melhor. Não há regra.

É difícil ser o Valdivia?

Muito difícil. É muita responsabilidade. Ser o camisa 10 do Palmeiras, que já teve Ademir da Guia e Alex, estar sempre de cabeça erguida para receber críticas... O couro precisa ser duro. Mas não tem problema. Pode vir que eu aguento. Responsabilidade e caráter há de sobra aqui.

http://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2014/02/1409539-brasil-nao-esta-pronto-para-sediar-a-copa-do-mundo-diz-valdivia.shtml

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Época

5 de abril de 2014

Paulo Coelho: “A barra vai pesar na Copa do Mundo” O escritor brasileiro mais famoso do mundo diz que não vem ao Brasil ver os jogos do campeonato mundial de futebol porque está decepcionado com o governo, a Fifa e os escritores nacionais

LUÍS ANTÔNIO GIRON, DE GENEBRA

O escritor Paulo Coelho tem 66 anos e convive com dois stents no coração por causa de um acidente vascular que sofreu em novembro de 2012. Mas nunca esteve tão jovial como agora. Sempre em estado de exaltação e hiperatividade, casado há 34 anos com a pintora Christina Oiticica, ele está à frente de um movimento de jovens escritores fantásticos que pretendem renovar a ficção literária por meio da interação das redes sociais. Ao longo dos anos, aprendeu a dominar as ferramentas da internet. Isso lhe permite controlar tudo o que acontece em torno de sua obra na rede. Tem 28 milhões de seguidores nas redes sociais, dialoga e interage com seus leitores, que hoje ele prefere chamar de internautas. Seu novo romance,

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Adultério (Sextante, 240 páginas, R$ 24,90), conta uma história tradicional de traição, mas inova no método. Pela primeira vez, um grande escritor conhecido mundialmente se valeu das redes sociais para construir enredos e criar personagens. Ele concedeu esta entrevista exclusiva em seu apartamento em Genebra, na Suíça. Enquanto realizava várias tarefas simultaneamente (computador, arco e flecha e orações), abordou os mais variados assuntos, do seu desagrado com o Brasil atual aos avanços do papa Francisco. Não visita o Brasil oficialmente há uma década, nem pretende comparecer à Copa do Mundo, apesar de ser convidado vip da Fifa. Mesmo torcendo pelo Brasil, ele faz previsões não muito otimistas em relação ao evento. Além de temer o aumento da violência dos protestos em torno dos estádios, ele não aposta que o Brasil vai ganhar a Copa. O Brasil corre o risco de ter uma grande decepção. O tema que predominou nessa conversa que durou seis horas foi o de sua predileção: a arte de contar histórias. E sobre isso ele tem muito a ensinar aos desnorteados autores brasileiros. Esta é provavelmente a entrevista mais longa de Paulo Coelho já publicada. E talvez uma das mais densas.

Época - Por que o senhor trocou a França pela Suíça?

Paulo Coelho - Tudo começou em 2006 quando entrei na viagem que a Europa ia começar a proibir imigrantes e exigir vistos. Era paranoia. A Europa está vivendo um momento complicado, desemprego, essas coisas todas. E eles iriam começar a pedir visto para todo mundo, como já

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houve antes. Eu entrei na paranoia de que precisava ter uma residência europeia, e eu não tinha.

Época - Mas o senhor morava na França, em Tarbes, nos Pirineus, e depois em Paris, não é isso?

Coelho: Eu não morava lá. Eu passava alguns meses lá. Porque se eu morasse eu iria ser grampeado em 60% do meu dinheiro. Não podia exceder três meses de permanência. Tinha só visto de turista e não permissão de residência. Na França não dava. Tinha a Espanha e Portugal.

Época - A França cobra impostos altíssimos. Tanto que o ator Gérard Depardieu abriu mão da cidadania francesa.

Coelho - Eu entendo o Gérard Depardieu que adotou a cidadania russa e não só eles outros artistas franceses que foram embora. Todos eles saíram da França. O imposto na França é bem aplicado, você vê onde ele está, o governo mostra o que está fazendo com ele. O francês tem tudo. Meu advogado é suíço e ele me sugeriu para pedir o visto na Suíça. Eu disse que seria muito difícil. Ele disse que eu tinha meus amigos no país e poderia recorrer a eles. Disse: ‘Faça seu lobby, consiga três cartas e a gente tenta dar um jeito’. A Suíça não é impossível, mas é hiperdifícil, e em certas cidades como Genebra é impossível. O Ivo Pitanguy tem uma casa em Statt, mas aqui não. Eles admitem que o estrangeiro compre uma casa só em certas cidades. Eu queria aquilo que eu tinha na casa dos Pirineus e que não tinha mais em Paris: campo, possibilidade de andar todo

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dia e aeroporto. Pedi ajuda ao Klaus Schwab, presidente db Fórum Econômico de Davos, pedi ao meu editor e a Adolf Ogi, o presidente da Suíça. Mas o presidente tinha ciúmes de mim. A gente se encontra em alguns comitês, mas não somos amigos. Eu me lembro que eu estava no banheiro com ele, a gente fazendo xixi e eu disse olha, eu vou precisar de uma carta sua me recomendando para ter permissão de residência na Suíça. Ogi foi simpático, político: ‘Deixa que eu quebro, desde que seja dentro da lei.’ Pela resposta, pensei que não iria conseguir. Mas o advogado insistiu e mandou a carta. Um dia depois, a carta de resposta chegou para o meu advogado. Não acreditei. Meu advogado me disse o que aconteceu: ‘A secretária do Ogi, que é sua fã, insistiu que ele deveria assinar a permissão! Botou a carta na frente dele e disse: assina aqui’. Eu tinha a permissão de residência. Basta pagar impostos e não cometer crimes.

Época - E o senhor comunicou a mudança de residência à Receita Federal do Brasil?

Coelho - Sim. Em 2006, comuniquei à Receita de que era residente fiscal em outro país. Aqui pago imposto de cerca de 30% sobre a renda, mais ou menos como o Brasil. Mudei a residência fiscal. Tudo o que eu ganho no Brasil vem para cá, já como imposto retido lá na fonte antecipadamente. Peguei a certidão negativa e cinco anos depois continuo legal. É o sétimo imposto já que vou declarar na Suíça. E aí tem uma série de sutilezas. Eu morava em um outro apartamento aqui perto. Em Genebra não se acha apartamento e é dificílimo uma permissão para morar em

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Genebra. Em 2009, aluguei um apartamento logo que vim de Paris e me arrependi porque o apartamento tinha sido feito por Le Corbusier, um suíço que fez mal à Arquitetura. Experimentei o que era Le Corbusier. Para mim, nunca mais. Eu disse à Christina que ela tinha três dias para comprar um apartamento, e ela consegui um apartamento ótimo de 800 metros quadrados de terraço e só 200 metros quadrados. Lá eu recebia todo mundo, o presidente suíço, o Fernando Henrique Cardoso, todo mundo. Genebra só pode ser uma quantidade fechada de habitantes: 195 mil.

Época - Em 2009, o senhor resolveu mudar de atitude em relação à imprensa também?

Coelho - Sim. Eu resolvi que não ia dar mais entrevistas porque entrevistas não vendem livros. Eu tinha notado que o contato com comunidades sociais poderosas era melhor,não tanto na época. Eu resolvi lançar meus livros com as redes sociais para não ter que responder perguntas sobre o que faço com meu dinheiro, como eu explico o meu sucesso etc. Aí a minha agente, Mônica, insistiu que eu desse uma entrevista para uma televisão da Suécia.

Época - Aliás, entrevista como a que estamos fazendo está virando um gênero raro, porque as pessoas estão se autoentrevistando pela internet.

Coelho - É claro, elas postam no Twitter. Quando tem que declarar alguma coisa, faz pela internet. Eu topei a

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entrevista para a Suécia. A mulher veio até o meu apartamento e imaginava que eu morava em um castelo. Aí fui ler o post no Twitter dela no dia seguinte e ela disse que eu morava em um cabana. Não era cabana. Era um apartamento de cinco cômodos. A pessoa tem mania de grandeza projetada na celebridade. Eu fui dar uma entrevista e a mulher me esculhambou.

Época - O senhor morava em uma cabana com muito amor em Genebra...

Coelho - Pois é, uma cabana em uma cidade com o metro quadrado mais caro do mundo. Eu entendi aquilo como um sinal de que eu devia mudar. Resolvi comprar outro apartamento. Vim ver este em Champel, gostei, tem terraço, lareira, tiro ao alvo, supermercado. Aqui perto, tem tudo o que eu preciso. Eu fui falar com o advogado e ele disse que ninguém podia ter apartamento, exceto os suíços. Só com uma permissão de residência com direito a trabalhar aqui, que leva dois anos. A saída foi usar meus contatos, e levei dois meses. E aí comprei este apartamento e ainda não vendi o outro. E posso trabalhar aqui. Eu posso abrir uma loja, ser empregado de alguém etc. Por isso que me mudei para cá.

Época - Por que o senhor escolheu Genebra para viver, uma cidade considerada entediante?

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Coelho - Todo mundo me pergunta isso. É um lugar praticamente habitado por suíços, e as pessoas são raras e vão para casa cedo. Mas é uma das cinco cidades do mundo que têm a maior qualidade de vida: sistema de saúde e transporte, e segurança. São três coisas fundamentais para mim.

Época - Houve algum motivo forte para o senhor se afastar do Brasil?

Coelho - Faço questão de ser brasileiro e adoro o meu país. Sou um exilado cultural do Brasil. O país me decepciona em vários sentidos. Ele foi dominado por uma onda de conservadorismo que despreza as conquistas do povo, como os direitos trabalhistas para as empregadas domésticas e a mobilidade dos trabalhadores, como as faixas de ônibus, que acho totalmente justas. O trabalhador tem que sair de casa longe e aí tem à disposição a faixa de ônibus. E as pessoas ficam furiosas porque tem engarrafamento. Ora bolas. Respeite o trabalhador, pegue o ônibus. É o que a gente faz aqui: o ônibus com horário e ninguém vai roubar. A classe média brasileira se sente desprivilegiada porque a empregada e o trabalhador têm direitos. Este é um direito básico de qualquer pessoa, o direito ao transporte. Na Suíça, você pode sair de carro. Mas o sinal só deixa passar dois carros por vez. Em um mês de carro em Genebra você não aguenta mais. Aí pegar ônibus é mais confortável. É alucinante ir ao centro de carro. O táxi e o ônibus têm privilégios. Estou muito contente de morar em Genebra, e todo mundo me critica. É uma cidade sem muitos atrativos,

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mas adoro aqui. O fato de ter dois apartamentos aumentou o imposto, mas tudo bem.

Época - O senhor não sente falta do apartamento de Copacabana ou da casa dos Pirineus?

Coelho - Nenhuma! Eu sou um cara que não olho para trás. Eu me mudei da rua Raimundo Corrêa para a avenida Atlântica e não senti nada. E hoje quando vou ao apartamento da Atlântica não sinto nada, porque minha alma já não está mais lá. Cogito seriamente, da próxima vez, ficar em hotel. As coisas vão perdendo a sua energia. Vou porque sou obrigado a ir aos Pirineus porque você não pode abandonar uma casa. Havia uma casa entre mim e os Pirineus. Comprei e derrubei a casa que estava entre mim e os Pirineus e fiz um lado, diante de mim só tinha terrenos cultivados. Você não precisa de muito espaço. Ninguém precisa. É uma ostentação tremenda. Não vou dizer que me arrependo de ter uma casa lá porque foi minha primeira casa na Europa. Mas podendo vender, eu vendia.

Época - Faz tempo que o senhor não vai ao Brasil?

Coelho - Foi em 2012. Não faço trabalho mais em nenhum lugar do mundo. Não viajo a mais lugar nenhum, eu não dou entrevista. Eu escolhi o seguinte: quero continuar com o trabalho que eu amo muito. Mas este trabalho não meexige que eu viaje. Eu tinha um novo mundo para conhecer em um raio de, vamos dizer, uma hora. Conheci muitos

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lugares durante dois anos. Depois fiquei com preguiça de sair de casa. Aí eu decidi com a Christina, ‘ meu amorzinho não podemos continuar assim não. Vamos virar plantas. Vamos nos forçar a ir além, e visitar pelo menos três locais por semana’. Só neste ano já visitamos 144 cidades. Eu aproveito a vida, mas às vezes me vem uma dúvida de que talvez nem tanto. Daí, me viro para Chris e pergunto: ‘Será que estou perdendo alguma coisa?’

Época - Seus leitores não sentem falta do contato pessoal?

Coelho - Não, porque estão ligados comigo na internet. Minha ausência física não ocorre só no Brasil. Deixei de fazer turnês de lançamento e noites de autógrafos porque eram muitos desgastantes. A última vez que fiz isso anos atrás, em Moscou, houve tumulto, 500 pessoas ficaram de fora da livraria gritando que queriam entrar. Era impossível controlar a multidão. Desde então, mantenho contato direto com os meus leitores pelo blog, pelo Twitter e pelo Facebook. Mas o Brasil é minha terra e nunca estou distante dos leitores. Essa cobrança eu tenho no mundo inteiro. Eles cobram a minha presença.

Época - O senhor deixou de fazer turnês e marcar presença em pequenas livrarias?

Coelho - Sim, desde 2006. Era uma experiência muito frustrante, pela maneira como a coisa era apresentada. Anunciavam o evento, o leitor vinha. Tinha graças a Deus

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500 leitores por sessões, em qualquer lugar. Esses leitores não me davam um só livro, mas uma média de cinco livros cada um para eu assinar. Eu olhava o leitor, falava com ele, assinava. Mas não sou uma máquina de assinar. Acrescentado o fato de que todo mundo tem uma máquina fotográfica e quer tirar um retrato comigo, cinco livros multiplicados por 20 segundos, entre abrir o volume e assiná-lo, dá dois minutos por leitor. Em uma hora, eu tinha falado com 30 leitores. Em duas horas, 60... E as pessoas nervosas, e o cara da livraria querendo fechar. Isso se repetiu com tanta frequência que eu resolvi não dar mais autógrafos. É uma regra que estabeleci em 2006. Há exceções, como na Fnac de Genebra etc. No Brasil, eu me defrontava com o mesmo problema, quero dizer, com a mesma bênção. A ausência do contato direto e físico não diminuiu o meu contato com o leitor.

Época - Em relação a seu trabalho, a internet se tornou muito mais influente que os meios de comunicação tradicionais?

Coelho - Quase não concedo mais entrevistas e já não preciso da imprensa como antes para lançar meus livros. Hoje sozinho tenho mais seguidores do que o número total de leitores dos dez jornais de maior circulação no mundo. No Facebook, agora, estou abaixo de Shakira e do Facebook na lista que calcula a frequência de páginas que estão falando. O MIT - Massachusetts Institute of Technology, divulgou recentemente uma pesquisa sobre as maiores celebridades do mundo. No Brasil, eu sou o quarto mais

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famoso. Pelé é o primeiro e eu sou o quarto. O Lula é o décimo. Quer dizer, estou presente no Brasil.

Época - O senhor tem ido incógnito ao Brasil?

Coelho - Sim. Tem pessoas que eu gosto muito no Brasil. Quando tenho alguma coisa para dizer, vou lá e digo.

Época - O senhor recebe muitas críticas e reprimendas de internautas que não gostam de sua obra. Isso o incomoda?

Coelho - Não, isso é natural. Quem não é trolado não existe na internet.

Época - O senhor pretende ir à Copa?

Coelho - Não. Eu tenho convite da Fifa, mas não vou à Copa. Eu tenho ingresso, e você não pode passar o ingresso para outro, quando você é brasileiro, que é o meu caso, porque tem o número do imposto de renda. Nunca sonhei nem quis a cidadania Suíça. Prefiro aguentar tirar visto americano a deixar de ser brasileiro. Quero ser brasileiro até o final dos meus dias. O que mais decepcionou foi o governo brasileiro. É profundamente legítimo que o Brasil mostre ao mundo a situação atual do governo brasileiro. E isso ocorrerá durante a Copa, quando todos os olhos estarão voltados para o Brasil. Isso não será uma coisa negativa. Seria contraditório com meus princípios ter meus ingressos, estar lá dentro, sabendo o que está acontecendo lá fora. Já que o foco vai

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estar no Brasil, são mais justas as reivindicações que são feitas.

Época - O que está acontecendo no Brasil, de bom e ruim?

Coelho - No lado bom, o governo aumentou a qualidade de vida do brasileiro. Há milhões de pessoas que saíram da linha da pobreza. É um processo que vem dos tempos de Fernando Henrique Cardoso. O Brasil vem melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. Por outro lado, existe um descaso. O poder cega. Você só vê as coisas boas e não as negativas. Acontece um aumento brutal da violência nas cidades, injustiças que vêm acontecendo, corrupção. Enfim, não preciso enumerar zilhões de fraudes. Falta de infraestrutura.

Época - A Copa não é positiva para o Brasil?

Coelho - Eu era um dos idiotas que acreditavam que a Copa do Mundo melhoraria a infraestrutura do Brasil. Eu vi isso em Barcelona nos Jogos Olímpicos. Barcelona é antes e depois dos Jogos Olímpicos. Lutei pela entrada no Brasil em comitês na Copa e nas Olimpíadas. Nunca mais. A barra vai pesar na Copa. A Copa será um foco de manifestações justas por um Brasil melhor. Os protestos vão explodir durante os jogos porque vai haver mais gente fora do que dentro dos estádios. Espero que isso ajude a mudar o Brasil. Isso dará visibilidade ao brasileiro e ao estrangeiro. O Brasil não está despedaçado por causa das manifestações. Mas ele está

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longe de ser aquela coisa que o governo pinta. Temos problemas estruturais que vão estourar ainda, problemas econômicos básicos. Chegará o momento em que alguém vai apresentar a conta. Eu me sentiria profundamente constrangido de assistir a jogos de futebol com o Brasil vivendo tantos problemas. Pode ser que eu vá, mas para ver os jogos na televisão.

Época - Ser convidado especial é muito bom, não?

Coelho - É maravilhoso. Você tem bufês fantásticos, vai de ônibus especial, você janta, encontra pessoas. É uma sensação tão maravilhosa. É uma delícia. Mas tenho de ter uma posição política.

Época - O Brasil tem chances de vencer a Copa?

Coelho - Não sei. Eu torço pelo Brasil. Tem um ótimo time. Eu já cravei muito resultado. Disse a Época que o Brasil ia ganhar a Copa das Confederações e ganhou. Eu previ Brasil e França – o L’Express cravou na capa e eu acertei. Agora não sei. Certamente o Brasil irá à final com a Alemanha ou a Espanha, duas seleções fortíssimas nesta Copa. A Argentina não. A Suíça vai surpreender. Eu ousaria dizer que a Suíça vai para as quartas. No futebol, você tem que ser otimista, não tem outra escolha. O Brasil tem chances de não ganhar.

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Época - As manifestações de rua vão aumentar durante os jogos? Ou o clima será de panis et circenses?

Coelho - Não chega a ser assim. Para o exterior isso pode ser. A Copa é a coisa mais importante do mundo. O brasileiro está muito mais consciente. Para o Afeganistão, a Copa vai ser panis e circenses. Ainda espero que o circenses interfira no panes no Brasil.

Época - A Fifa prometeu conforto ao público.

Coelho - Pois é, prometeu reservar ingressos para incapacitados e pessoas com problemas de mobilidade. Fifa não cumpriu o que prometeu. O Romário denunciou isso. O Brasil vai contar com polícia e repressão violenta.

Época - Hoje as manifestações no Brasil incluem o vandalismo. Os Blackblocs têm um papel positivo na mudança do Brasil?

Coelho - Não. É o fim da picada. Eles são vândalos que se escondem no anonimato das máscaras. Não há nada mais covarde e condenável que o anonimato. É a coisa que mais me deixa triste com a internet. Todo mundo se julga com direito de insultar. Isso faz parte. Quem não é trolado não existe. Todo mundo que existe tem que ser trolado. Porque você está incomodando. O Blakcbloc é o anonimato real. As pessoas cobrem seus rostos e aproveitam para vandalizar.

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Época - O que o senhor acha de astros como Caetano Veloso posarem vestidos de blackblocs?

Coelho - Me surpreende certos artistas, como Caetano Veloso, posarem para uma foto fantasiados de blackbloc. Ele depois disse que não sabia do que se tratava. Ora, Caetano não é ingênuo. Eu não posaria para uma foto vestido com traje de um movimento que eu não conheço. Acho que ele também não faria isso. Artistas que apoiam blackbloc apoiam a covardia. Porque o blackbloc se aproveita de movimentos por motivos espúrios.

Época - O senhor não posaria para uma foto vestido de blackbloc?

Coelho - Jamais. Nem diria que eu não sabia o que eu estava fazendo. Eu sei o poder da minha imagem, como os artistas sabem o poder de sua imagem. Toda hora vivo essa situação: o político corrupto, o fundamentalista, o antissemita querendo tirar foto comigo. Me desculpe, mas não tiro. Pode ocorrer, mas quando eu sei, não. Para não falar de convites de ir para tudo quanto é país, para o tapete vermelho, todo canto. Eu recuso, porque estou ocupadíssimo para visitar minhas cidadezinhas.

Época - O resultado da Copa vai interferir nas eleições presidenciais?

Coelho - Sim, mas vai ser difícil a Dilma não ganhar. Até porque o PT, depois de reformas estruturais, começou a

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derrapar para o clientelismo. Já seria o momento de renovar o cenário brasileiro. Existe um lado do Brasil que eu detesto: o moralismo. O Brasil está ficando moralista demais, no mau sentido.

Época - Mas há candidatos que podem se opor à Dilma com uma agenda talvez mais moderna.

Coelho - Marina Silva é a figura mais emblemática do moralismo. Eu ficaria muito assustado se a Marina Silva ganhasse. Representa tudo o que o Brasil deveria evitar: o moralismo, o conservadorismo e o atraso. Ela está acabando com as chances de Eduardo Campos, se é que ele tinha alguma. Os dois perderam tudo, é uma aliança que não deveria ter sido feito. Aécio também não vai ganhar. O problema não é o PT no poder ser incompetente. É seus adversários serem ainda piores. São adversários de uma incompetência única na história do Brasil.

Época - Sua defesa das biografias não-autorizadas é veemente. O que o senhor acha dos artistas que se reuniram para tentar impor a censura às biografias?

Coelho - Eu entendo que o Roberto Carlos seja contra as biografias. Ele é o que é. Mas não perdoo o Chico Buarque. Logo ele, o artista libertário por excelência, vir defender a ideia de controlar a informação sobre a vida pública dele, isso me desapontou profundamente. Se sair uma nova

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biografia do Chico, não vou ler nem comprar, pois eu sei que é chapa-branca. Minha geração envelheceu mal.

Época - Qual a sua atitude diante das várias biografias sobre você e até de uma cinebiogafia que estreia em agosto, Não pare na pista?

Coelho - Nunca vistorio as biografias produzidas sobre mim. O Fernando Morais fez minha biografia [O mago, de 2008] e agora se considera dono do assunto. Não gostou quando a jornalista Hérica Marmo lançou A canção do mago, em 2007, ano em que ele estava escrevendo a dele. A biografia de Hérica é melhor que a de Fernando Morais. Eu disse: ‘Fernando, você não é dono da minha vida. Nem eu sou, como você quer ser?’Eu não sabia de nada até então, e adorei o filme. Porque ele é fiel à minha vida, inclusive nas partes negativas, como minha relação conturbada com Raul Seixas e o desprezo que manifestei contra meus pais quando eu era hippie. O ator Júlio Andrade está excelente como Paulo Coelho. Sou dono de minha vida? Claro que não. Todo mundo tem o direito de exprimir o que pensa sobre a vida dos outros.

Época - O senhor quase morreu dois anos atrás. Esse fato mudou sua forma de ver o mundo ou mesmo a sua forma de escrever?

Coelho - Foi uma morte anunciada. O médico disse que eu ia morrer na operação. Soube na segunda-feira que iria

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morrer na quarta-feira. Não acreditei. Na noite de terça para quarta, eu estava com o iPad, Christina estava dormindo. Não me abalei. Naquele momento, fiz um balanço de minha vida e concluí que havia feito tudo o que eu sonhara: vivia há mais de 32 anos com a mulher que eu amava, a metade da minha vida, fiz todas as loucuras que podia fazer, paguei um preço por isso, mas não me arrependi. Comi todas as mulheres que podia ter comido, viajei ao mundo como mochileiro, fui rico. E terceiro: realizara o sonho de ser escritor e o projeto de levar a milhões de pessoas a mensagem de que elas podem realizar suas lendas pessoais. Larguei tudo para lutar por um sonho. E quarto, era bem-sucedido. Pensei: morro tranquilo. Estava pronto. Christina ia ficar muito bem financeiramente. Eu já tinha meu testamento escrito havia alguns anos, grande parte do dinheiro iria para as obras sociais (no final, ele irá todo). A iminência de morrer não mudou minha vida. Continuo a ser o que sou. A única coisa que eu rezo é estar naquele mesmo espírito de quando soube iria morrer. Claro que eu me arrependo de algumas coisas, seria egoísta se não tivesse me arrependido. Mas me vinguei de quem devia me vingar, chutei quem me chutou. Não mudei na minha maneira de escrever, na minha vida e na minha fé. Me perguntei se não tinha feito algo que queria. A resposta foi não. Comprei um avião em 2006, pequeno, carrega sete pessoas. Um ano depois de ter viajado muito, me arrependi, já queria vender, mas não se vende avião.

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Época - Mas o senhor se tornou mais crítico nos últimos tempos, não?

Coelho - Certamente estou mais crítico com relação ao mundo, porque eu vejo que minha geração traiu seus ideais, tornaram-se moralistas. Estou desiludido com o neoconservadorismo que assolou a humanidade. Tudo aquilo que lutamos em nome da liberdade virou conservadorismo total. Com 66 anos, estou talvez um pouco mais crítico. As guerras são as mesmas, as pessoas se comportam da mesma maneira, infelizmente a manipulação é a mesa. Mas isso não quer dizer que perdi a esperança de que essa situação seja reversível - nem a fé. Continuarei lutando no que eu posso de alimentar o desejo de dizer às pessoas para darem um basta e seguirem o sonho delas. Largue isso!

Época - Como surgiu a ideia do romance Adultério?

Coelho - Você já ouviu falar do Relatório Kinsey? É um livro que quando eu era criança estava muito em voga. O entomólogo Alfred C. Kinsey começou a ver que os alunos deles tinham problemas de sexualidade. Ele parou de estudar insetos para se dedicar à sexualidade. E viu que o problema das pessoas era sobretudo a culpa. Ele dizia: “Todo mundo que vem até mim acha que só ele se masturba, só ele gosta de homem, só ele tem certos fetiches. Então vou estudar o tema.” Com uma bolsa da Fundação Rockfeller, ele publicou em 1950 o tratado O comportamento sexual do homem. Aquilo virou um bálsamo para milhões de homens. Eu resolvi fazer um post

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perguntando sobre o que mais angustia as pessoas hoje em dia. Eu queria escrever algo sobre a depressão. Submeti a ideia nos fóruns da internet e no meu blog e pedi que os internautas enviassem relatos sobre suas experiências de depressão. Recebi centenas de respostas, mas o problema não era a depressão. Todo mundo se julgava infeliz por causa do adultério. Foi uma surpresa descobrir que o que atormenta mais as pessoas hoje não é a depressão, mas a traição. As pessoas achavam que era depressão, mas eu sabia que não era porque eu tenho um deprimido na família, o irmão da Christina. Nos fóruns, observei como as pessoas discutiam a traição. Muitos amigos que se separaram por causa de uma noite de sexo. Aí a pessoa que se separa se arrepende. E aí foquei em uma pessoa. Foi o e-mail detalhado de uma leitora que serviu para eu criar a personagem de Linda e construir um enredo sobre a culpa e a traição. O livro é 100% verdade.

Época - Como os eu leitor vai reagir ao livro?

Coelho - Não sei. Mas a esta altura do campeonato, tenho de fazer o que o meu coração manda. Tem gente que não vai comprar. Você não vai dar à sua mulher ou ao seu marido um livro chamado Adultério. Porque vai ficar com a pulga atrás da orelha. Por outro lado os editores queriam que eu mudasse o título. O mais sugerido foi “O caso”. Eu teimei, vamos ver se as pessoas estão maduras para lidar com esse título. Porque 50 Tons de cinza é um título que não muda nada, por exemplo. Vamos ver no que vai dar.

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Época - No livro, o senhor distingue a reação à traição feminina da masculina. Como é essa diferença?

Coelho - O homem que trai é como se isso fosse uma coisa tolerável pelos outros. É uma tristeza ver esses caras traindo porque eles querem recuperar a juventude perdida. A mulher que trai é uma puta. Ora, isso não é justo. O mundo é extremamente machista com relação a isso.

Época - Uma das mensagens do livro é sobre a importância do amor. Como diz a narradora de Adultério, “é melhor não viver do que não amar”. O amor continua a exercer seu papel em um mundo cada vez mais materialista?

Coelho - Cito Paul McCartney, que respondeu: “All you need is Love” (tudo do que você precisa é amor). O amor é o elo entre tudo, entre todos os tipos de amor. Linda está em busca do amor não no sentido de fazer sexo. É o de paixão pela vida. As pessoas acham que casamento deve permancer sempre igual. Casamento é uma força viva. Tem conflitos. Manter casamento como o meu foi por meio dos conflitos, graças a Deus. O segredo é saber que o interessante no casamento é o desafio diário dele. Achar que está tudo certo porque você ama ou a mulher te ama, isso não existe. É preciso lidar com as crises, com as diferenças de opinião.

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Época - A nova literatura erótica jovem adulta de E.L. James e outras autoras reafirma o papel do macho. O senhor gosta desse tipo de livro?

Coelho - Claro que reafirma a figura do macho. Mas parabéns a 50 Tons de cinza, porque, sem esse fenômeno editorial, o mercado teria sofrido muito mais. Foi um livro que fez mercado editorial. Não conheço a E.L. James, mas já gosto dela. Ela mobilizou as pessoas a entrar na livraria. Era algo que não acontecia há algum tempo.

Época - Por que os fenômenos editoriais estão mais difíceis de acontecer hoje?

Coelho - O mais recente foi O Código Da Vinci, de Dan Brown, foi um fenômeno editorial inesperado. É um mercado imprevisível e em avançado estado de negação. As pessoas não querem mais ler.

Época - Os novos fenômenos editorais, como A Guerra dos Tronos, de George R.R. Martin, em que os autores escrevem as histórias quase ao mesmo tempo em que são filmadas, ajudou a derrubar o livro em papel?

Coelho - O auge do livro foi em 2008. O mercado cresceu e, de repente, entrou em queda livre. Só fizeram sucessos trilogias como Crepúsculo e Jogos Vorazes. É como Justin Bieber: a gente não entende muito, mas as pessoas gostam e vende para caramba e estimula a leitura. O que acontece agora é a concentração do mercado em menos pessoas e

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empresas. Hoje em dia as pessoas têm muita informação semelhante à dos livros. Conto uma história num post no blog e ela tem a mesma situação de um livro. A literatura está se transformando, da mesma maneira como a literatura se transformou com a invenção da imprensa. Apareceu a literatura popular, que não existia antes da imprensa. Ela era limitada aos mosteiros e aos conventos. De repente, começaram a contar boas histórias, e aí surgiram os Contos da Cantúária, Shakespeare etc. Antes a literatura era escrita em versos, depois a prova. O livro eletrônico não é nenhuma ameaça.

Época - Mas a ascensão do livro digital e a concentração da indústria do livro vão alterar o mercado?

Coelho - O que mais lamento é a desaparição das livrarias. As livrarias têm uma função social, descoberta e de entretenimento. Os livreiros não conseguiram segurar a onda – e as livrarias de bairro estão sendo varridas pelas grandes redes. E as grandes redes vão fechar. A primeira grande cadeia de livrarias a fechar suas portas foi a Borders em 2010.

Época - Qual dos novos meios digitais foi o mais determinante para a transformação da maneira de escrever ficção?

Coelho - Os blogs proporcionou a mudança radical. Foram os posts que mudaram tudo. Ninguém mais lia um texto de

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15 parágrafos. Até reduzir para três parágrafos. Você está compartilhando conhecimento e dizem que eu não estou ganhando nada. É a necessidade do ser humano de compartilhar e dividir.

Época - Há mais de dez anos você oferece seus livros de graça pela internet. Isso lhe causou problemas?

Coelho - Causou no início, para as editoras, para mim nunca. Para mim só aumentaram os leitores, e só aumentaram desde então. Estou semeado no BitTorrent com os meus livros. O fato é que sempre tem que ter um culpado. Não é a pirataria. Se a pirataria atrapalhou em algo, foi no modelo econômico do cinema. Mas o cinema já está mudando com os serviços de streaming como Netflix. A Apple foi a salvação do mundo da música.

Época - Como a indústria do livro vai se adaptar?

Coelho - A falácia é que o livro eletrônico ameaça o impresso. Não é verdade. Se o menino ler Adultério e gostou, ele vai falar para a mãe, que acaba comprando o livro na livraria. O que se quer é um preço único e alto. É outra falácia. Por isso, com preço alto, as pessoas não vão mais ler. O público do livro digital, mas o em papel se destinam a públicos diferentes. Os livros digitais têm de custar bem menos que US$ 9,99. Eu sugiro US$ 2,99. E assim haveria uma diferença de preço considerável e ajudaria a enobrecer o livro em papel. Mas todo mundo é

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obrigado a pagar caro por causa dos oligopólios. A indústria do livro tem que encontrar um novo modelo de negócios. Por enquanto, estão se formando grandes conglomerados editorais, como agora Penguin/Harpers Collins – grupo que comprou o grupo espanhol Santillana e sua filial no Brasil, a editora Objetiva, que agora se uniu à Companhia das Letras. Aonde isso vai chegar, não sei. O resultado, por enquanto, é que em 2013, a venda dos livros digitais caiu tremendamente.

Época - O senhor sempre foi ousado. Hoje tem medo de correr riscos?

Coelho - Não tenho medo de esquiar risco. Lançar um livro é o maior risco que um escritor pode ter. Ninguém me obriga a escrever, a nada na essência da minha coisa. Os pequenos riscos físicos sim, como subir uma escada ou esquiar, eu preciso tomar cuidado. Mas lançar um livro, escrever um post, escrever algo no que acredito, discutir.

Época - Mas o senhor não pulou de asa delta para escrever um capítulo de Adultério?

Coelho - Não, ainda não pulei do alto de uma montanha. Mas ainda pretendo fazê-lo. Tentei em Interlaken. Quase fui, mas no fim eu amarelei. Pensei, pensei e dançou. Um dia eu volto lá.

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Época - O senhor trabalha por impulso ou por projeto?

Coelho - A minha literatura é totalmente guiada pelo inesperado. Nunca planejei livro nenhum. Eu nunca podia sonhar que um dia iria escrever sobre o adultério, palavra de honra, até descobrir que era um problema para as pessoas. E escrevi sem segredo. Eu costumo partir de uma ideia vaga. Mas nunca é a primeira opção que eu faço. Quero escrever sobre a traição terrível, da amizade. A toda hora tenho ideias. Eu sempre comecei com uma ideia A e terminei com a ideia B, C, ou D. Quando escrevi Brida, na verdade eu queria escrever Na margem do Rio Pedra, mas não consegui. É sempre assim, mas termina vindo a coisa. Eu sou guiado por um tema, por encadeamento que você vai se distanciando.

Época - O senhor não acha que esses esquemas novos causam pânico entre os autores, especialmente os consagrados como o senhor, no sentido de que os direitos autorais possam ser reduzidos?

Coelho - Acho que autores que entram em pânico por causa de direitos autorais deveriam escolher outra profissão. Ninguém começa a escrever pensando nisso - a ideia é manifestar sua alma através da escrita. Eu, por exemplo, gasto um tempo enorme postando textos no Twitter e Facebook, não ganho um centavo por isso, mas creio estar cumprindo meu papel social.

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Época - Passado um ano do pontificado do papa Francisco, que análise você faz do pontificado. O papa está empenhado em transformar a igreja ou é, como alguns dizem, mera estratégia retórica?

Coelho - Não apenas empenhado, mas já começou com reformas estruturais profundas. Francisco está sendo um divisor de águas. É óbvio que, em uma instituição milenar, estas reformas vão demorar para serem vistas - e além do mais há a resistência do clero mais radical no Vaticano. Mas estudei em colégio jesuíta, e sei que são tenazes quando se propõem a fazer algo. Francisco é jesuíta.

Época - Sua atitude na Feira de Frankfurt, de criticar os critérios da curadoria brasileira e se retirar da comitiva brasileira criou uma cizânia no meio literário nacional. De um lado, estão os autores que se consideram literatos bradando contra sua atitude. De outro, estão os jovens escritores fantásticos que o apoiam e o cultuam como um deus. Por que o senhor tomou essa atitude?

Coelho - A comitiva de autores brasileiros que excursionou para Frankfurt foi para lá por nepotismo. Além disso, saí do evento porque a maior parte dos 70 autores convidados não representava a literatura brasileira viva da atualidade. Na realidade, tratava-se de um grupo de amigos que foi viajar às custas do governo, medíocres que não só não fazem boa literatura como não possuem leitores. Quem são eles? Pretensiosos que não sabem escrever e nem planejar um enredo. Bom, prometi que vou à Feira de Frankfurt deste

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ano, porque senão me queimo com o presidente, que é meu amigo.

Época - O que o deixou mais irritado no caso Frankfurt?

Coelho - Foi o Manuel da Costa Pinto, o curador da comitiva brasileira ter afirmado a um jornal alemão de que eu e Jorge Amado vendíamos livros, mas éramos péssimo. No meu caso, ele disse que eu não poderia nem mesmo ser considerado representativo da literatura brasileiro. Que esse cara está dizendo? O talento de Manuel da Costa Pinto é ser jurado de qualquer coisa. O destino dele é este. Ele não é capaz de vender um único livro com as críticas dele. Até para ler uma crítica é difícil. Achei as afirmações dele grosseiras, porque eu havia sido convidado pelo presidente da Feira de Frankfurt. Aceitei sem ver a lista. Quando eu vi os escritores escalados, não acreditei. Eu conhecia no máximo 19 – e um eu tenho dúvidas, que sou eu mesmo. Quem são esses outros 50, de quem nunca ouvi falar e de quem nunca havia lido um livro. Será que eu estou tão por fora assim da literatura brasileira? Fui pesquisar. Perguntei a todo mundo e ninguém conhecia. E os outros caras, que estão nas listas de mais vendidos, batalhando e representando a literatura brasileira, por que eles não estão na lista? Escritores excelentes do gênero fantástico, como Eduardo Spohr, André Vianco, a dupla Jovem Nerd e Raphael Dracon? Não concordava com aquilo. Disse ao presidente que uma pressão deveria ser feita para substituir nomes, e ele respondeu que todas as pressões haviam sido feitas Eu não tinha me preocupado com a lista porque é

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claro que eu ia estar lista, não é mesmo? Fiquei revoltado. Era uma chance única para mostrar o que se produz no Brasil. Eu vou estar nesse time? Eu não! Nunca fiz parte dessa turminha. Estava tudo armado para eu ir: 26 dos 27 os ônibus da Feita de Frankfurt tinham minha foto – o outro ônibus exibia a foto de Dan Brown. Tinha até uma versão de Onde está Wally comigo como personagem. Se eu fosse, eu validaria aquele festival de mediocridades.

Época - Sua atitude ajudou a desmascarar o esquema de panelinhas da literatura brasileira?

Coelho - Assim espero. Verifiquei se eles apareciam referidos na imprensa de língua alemã. Nenhum, salvo aqueles que falavam de mim. O Sérgio Sant’Anna falou mal de mim, e aí foi citado. Mas sobre a literatura dele, nada? Ignacio de Loyola Brandão falou, daí saiu, porque disse que fui indelicado. Não me arrependo nenhum pouco e marcou uma posição clara. Eu iria validar o nepotismo e o clientelismo.

Época - Na vida literária brasileira, hoje vale muito mais o marketing dos autores que seus livros.

Coelho - Marketing também entre eles. O cara fala do outro para não sem quem e assim por diante. Esses autores não escrevem nem para a elite. Eles escrevem um para o outro. Eles sofrem a síndrome de Van Gogh compulsiva, pensando que quando morrerem vão ser reconhecidos – e nunca o

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serão. Na literatura brasileira, essa síndrome é um problema sequíssimo. Dizem que os grandes artistas não foram reconhecidos no seu tempo. É mentira. Todos os grandes músicos foram reconhecidos quando vivo, de Bach, Mozart a Beethoven. Balzac, Zola, os escritores também foram. Van Gogh não foi reconhecido porque o irmão dele, Theo, não queria. Estava planejando um grande evento para lançá-lo. Van Gogh não era um pobre coitado. Os pintores que se destacaram – Picasso, Dalí, Velázquez. Vão estudar história de arte.

Época - O que esses escritores deveriam fazer para melhorar suas obras?

Coelho - Eu não sei. São pessoas que vivem de clichês, ao contrário do que às vezes sou acusado. Em vez de entender que o que fez a sabedoria humana pudesse atravessar milênios foi uma coisa chamada uma boa história. A história vem lá do início dos tempos, desde o Bhagavad Gîta na antiguidade. Jesus era um grande contador de histórias. Os escritores desde o século XX sofreram da influência de James Joyce, e passaram a achar que escrever difícil e não contar uma história era bacana. Experimentar é extremamente válido. Mas a maior experiência é a simplicidade. Vá para as coisas totalmente simples porque as muletas, os artifícios, tudo isso cai por terra, e vai restar a essência. Mas como eu acho que essa turma de escritores literários brasileiros não tem confiança no que escreve, complica de tal maneira que dá vontade de parar o livro na quarta páginas. Eles já eram complicados e resolveram ficar

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ainda mais complicados. Viraram europeus. Só que são brasileiros. Essa literatura que faz nem literatura universal, nem mesmo literatura. É uma pena porque é uma negação, quem sofre é o livreiro e o leitor. É diferente da literatura fantástica.

Época - Como a nova geração de autores fantásticos está colaborando para alterar a cena literária?

Coelho - Usei minha fama para apoiar esses jovens que cresceram com a internet que estão mudando o jeito fazer ficção no Brasil. Isso porque eles sabem contar uma história. Em primeiro lugar, eles conseguiram se impor no mercado cada vez mais global pelas próprias forças, pelo talento de suas histórias. Eles abriram o mercado brasileiro e abriram os olhos dos livreiros porque mostraram que nem todo mundo é igual a aquele pessoal que foi para Frankfurt. No meu tempo, o rótulo pejorativo era autoajuda. Agora existe um novo rótulo. Já que a indústria do livro não consegue explicar o que está acontecendo, eles criaram o rótulo “Jovem Adulto”. É um termo depreciativo, de gueto. Vá ler um livro de George R.R. Martin, J.K. Rowling, John Green e Ricky Riordan e você vai notar que são grandes escritores. Não fazem literatura Jovem Adulta. Fazem literatura, pronto. Você um livro desses caras, e eles prendem a leitura. Não é fácil jogar com a literatura fantástica.

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Época - O senhor mesmo nunca usou literatura fantástica em suas obras, até por devoção a Jorge Luis Borges.

Coelho - Nunca, por devoção ao Borges e ao Robert Heinlein, autor do romance de ficção científica Duna, George Orwell e seu 1984. Tem Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, que me marcou mundo. É por isso que nunca escrevo sobre o Brasil por culto a Jorge Amado. Não posso escrever sobre o Brasil depois que Jorge Amado fez isso tão bem. As pessoas me cobram se eu vou escrever uma trilogia fantástica, porque isso dá certo. Não consigo. Se algum dia eu escrever fantasia será com pseudônimo porque é um gênero que eu adoro ler e detesto escrever. Duna dá de dez em Tolkien.

Época - A nova geração que você tem inspirado e liderado talvez espere do senhor um tipo de saga fantástica à George R.R. Martin.

Coelho - É, a última coisa que eles querem é ler sobre adultério. É um risco, e é tentador escrever literatura fantástica. Sinto muita tentação, mas...

Época - Mas você é um autor brasileiro, com personagens brasileiros, não?

Coelho - Vejo o mundo com olhos brasileiros. É isso que importa. Não consigo ver o mundo com olhos suíços, franceses ou americanos. Eles têm visões de mundo muito diferentes, não contraditórias, mas diferentes. Então o

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escritor brasileiro está na alma, não naquilo que ele escreve. Minha história pode se passar na Suíça ou no Nordeste do Brasil. E está na língua portuguesa, na qual escrevo e a qual eu procuro simplificar ao máximo, usando palavras compreensíveis porque eu quero é comunicar.

Época - Os autores jovens o inspiraram?

Coelho - Inspirado na nova legião de jovens autores fantásticos, ele planeja escrever uma saga fantástica em vários volumes, usando pseudônimo. Sou admirador de ficção científica e da literatura fantástica. Será uma experiência estimulante.

Época - As editoras disseminaram a obra desses autores que o senhor desqualifica como representativos. Elas estão erradas?

Coelho - Elas embarcaram nisso e no conto do vigário de Frankfurt, apostaram em autores nacionais ruins, mas agora viram que não iam dar em nada. Neste ano, as editoras cortaram os autores brasileiros. Algumas tinham 15 autores e cortaram para três.

Época - Hoje o poder de opinião está com os internautas?

Coelho - O poder está nas mãos de quem ele tem que estar: nos caras que usam a internet, escutam música, e não tem jeito de derrubar isso. Hoje o ídolo jovem é Justin Bieber. E

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todo mundo nos jornais e revistas adora odiar o Justin Bieber, como se os ídolos da minha geração fossem melhores. É um bando de velhos que escreve, eles não entendem nada do que está acontecendo. Leia a vida de Keith Richards, Raul Seixas, Jim Morrison, eles eram mais doidos. Justin Bieber é vítima do falso moralismo de uma geração que tem medo de envelhecer. Ninguém ouve esses caras. Nunca ouvi Justin Bieber. Para mim a música parou num certo tempo. Ultimamente ouvi a fadista Mariza. Espetacular. Eu só conhecia Amália Rodrigues. Fiquei alucinado com a Mariza.

Época - Os imortais da Academia Brasileira de Letras se chatearam com suas ausências no chá das quintas-feiras.

Coelho - Eles estão certos. Eu deveria fazer mais pela literatura brasileira do que eu tenho feito. Tenho o maior respeito pela Academia. Gosto de praticamente todos os integrantes de lá. É uma situação respeitável que soube se manter. Não se modernizou, nem é o propósito. Tenho muito orgulho de pertencer a ela.

Época - Por que o senhor insiste em escrever?

Coelho - Diferente de muitos autores, eu escrevo para ser lido. Os leitores são a meta de tudo o que faço. Eles são os juízes da literatura, não os críticos.

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Época - Não há mais livros em sua casa. Eu me lembro o quanto o senhor gostava da companhia deles em outros lugares em que morou. O que aconteceu?

Coelho- Agora só leio livros digitais no tablet. Até porque é mais fácil de carregar nas minhas viagens. Bibliotecas particulares de escritores são coisas obsoletas.

Época - Como o senhor analisa a sua obra em retrospecto? Ela mudou muito ao longo do tempo?

Coelho - Minha obra ganhou um sentido que eu jamais esperaria quando a contemplo em perspectiva. Quando eu olho Diário de um mago ou O alquimista – que está na lista do The New York Times. Quando eu olho para trás, não tem nenhum um livro de que não tenha gostado, exceto As valkírias. Eu devia ter ido além. Um livro que ninguém gostou que eu adoro é um suspense é O vencedor está só (2008). É um livro crítico sobre a ascensão da superclasse. As pessoas se queixam que não tem misticismo nele. Sinto muito, talvez comprendam ou não compreendam. Mas faz farte de minha vida.

Época - O senhor diz que é preciso mudar o mundo. A sua obra mudou o mundo ao longo dos últimos 30 anos?

Coelho - Não acho que nenhuma obra muda o mundo. Mas eu acho que minha obra teve uma boa influência. Se ela tivesse mudado o mundo, eu não estaria um pouco decepcionado. Mas você vê o Obama e os grandes cantores

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de rock me citarem. É legal, porque a coisa está viva. Quem vai mudar o mundo é uma massa crítica que no momento está tendendo para o outro lado. A arte ajuda, mas não muda. O que muda são os atos.

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/04/bpaulo-coelhob-barra-vai-pesar-na-copa-do-mundo.html

Estado de S.Paulo

30 de abril de 2014

Sem Wi-Fi, seis estádios terão internet ‘deficiente’ na Copa do Mundo Metade dos estádios não fecharam acordo para instalação de redes Wi-Fi; Paulo Bernardo diz que internet nesses estádios serão 'deficientes'

Por Agências

RIO DE JANEIRO – A rede de dados de telefonia móvel será deficiente em metade das 12 arenas da Copa do Mundo, reconheceu nesta quarta-feira o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

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Os problemas devem ocorrer na Arena Corinthians, em São Paulo, sede da abertura do Mundial, na Arena da Baixada, em Curitiba, e no Mineirão, em Belo Horizonte, além de outros três estádios que o ministro não soube informar.

O motivo para as falhas na transmissão de dados está relacionado à falta de instalação de redes Wi-fi para reforçar o sinal de internet dentro dos estádios, diante do cenário deatrasos nas obras de praticamente todas as arenas.

Segundo o ministro, apenas o sinal da rede móvel das operadoras de telefonia vai estar operando, o que não deve ser suficiente com a perspectiva de um uso elevado dentro das arenas.

“Vai ficar deficiente o serviço do ponto de vista de dados nestes estádios”, disse Bernardo a jornalistas em Brasília.

“Em pelo menos seis estádios já colocamos uma rede de Wi-fi e nesses a internet vai funcionar melhor do que nos outros. Mesmo que façam agora, dificilmente vai dar tempo de oferecer um serviço de boa qualidade”, acrescentou.

O problema de cobertura já foi sentido durante a Copa das Confederações em 2013, um ensaio para a Copa do Mundo, com 73 mil torcedores no Maracanã mal podendo mandar uma mensagem de texto para comemorar a vitória do Brasil por 3 x 0 sobre a Espanha na final.

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, afirmou recentemente que estava profundamente preocupado de que, na maioria dos casos, as comunicações para os

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torcedores e para a imprensa, não serão totalmente testadas antes do início da Copa, em 12 de junho.

http://blogs.estadao.com.br/link/sem-wi-fi-seis-estadios-terao-internet-deficiente-na-copa-do-mundo/

The Telegraph (UK)

10 de maio de 2014

World Cup fans at risk of dengue fever in Brazil Public health officials say thousands of football fans may be at risk from the disease, which can cause excruciating joint pain and haemorrhagic fever

Harry Alsop

British football fans have been warned that they run the risk of contracting dengue fever, if they do not take adequate protection.

With around three million tickets sold for the World Cup, around half a million football fans are expected to go to Brazil in June and July this year.

Many of the English contingent may be expecting sunburn or heatstroke to be their biggest health concerns.

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But Simon Hay, professor of Epidemiology at Oxford University, says World Cup fans may be at risk from a far more serious problem.

Dengue fever is endemic in parts of Brazil, particularly in the northeast. There were 1.4 million cases nationwide last year.

Scientists working with Prof Hay have identified nine of Brazil’s stadiums as being in dengue-plagued areas.

"Dengue fever could be a significant problem in some of the tournament locations, and preventive measures are needed," Prof Hay writes in the journal Nature.

"Fifa, the Brazilian authorities and the World Cup sponsors must use their influence and experience to communicate the risk."

The season for dengue fever usually ends in May, a month before the World Cup is due to begin.

But the northeast of Brazil is experiencing a heatwave, and public health officials warn that the mosquito breeding season may extend through the World Cup.

The north-eastern cities of Natal, Fortaleza, Recife and Salvador will host 21 games between them, including Germany vs Portugal, Spain vs the Netherlands and potentially, several England games.

England’s first game against Italy will be held in the humid setting of Manaus, in the Amazon rainforest.

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If England finish top of their group, they will play the runners-up from Group C in Recife’s Arena Pernambuco on June 29.

Should they win that game, their quarter-final will be held in Salvador’s Arena Fonte Nova six days later.

If they finish second, their quarter-final will be held in the Estadio Castelao in Fortaleza.

Climate researchers from the University of Reading say there is a 60 per cent chance of an El Nino event during the World Cup, which could cause heatwaves and drought in Brazil.

El Nino is characterised by higher sea temperatures in the Pacific Ocean.

It usually causes high amounts of rain, leading to floods on the west coast of North America.

But in South America, it can cause drier and hotter weather and create the ideal breeding conditions for mosquitoes.

Dengue fever is a viral infection that usually produces a severe fever and high temperature, among other symptoms that may require hospitalisation.

The disease has a simple stage and a severe stage that affects around five per cent of sufferers.

It can cause seizures and excruciating joint pain, explaining why dengue is also known as “break bone fever”.

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The virus has five separate subtypes, with subsequent infection by another type more likely to lead to severe symptoms, such as the life-threatening dengue haemorrhagic fever.

It is transmitted by female Aedes aegypti mosquitoes, which bite during the day and lay their eggs on stagnant water.

There is no cure or vaccine, so public health bodies in Brazil have tried to reduce the threat of Dengue fever using insecticides and larvicides, and by targeting the areas of water on which mosquitoes breed.

But there may be a novel solution on hand in time for the World Cup.

British biotec company Oxitec has created a mosquito with a modified gene that can only be kept alive with the antibiotic tetracycline. The modified males are released to mate with the wild female population. Their offspring is unable to survive without antibiotics.

Brazil has, for the past two years, conducted a trial of the genetically modified mosquitoes in Bahia state.

Brazilian firm Moscamed released the world's largest ever swarm of GM mosquitoes in Jacobina, a town in Bahia, last month.

“We need to provide alternatives because the system we have now in Brazil doesn’t work,” said Aldo Malavasi, the president of Moscamed.

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“We have thousands and thousands of cases of dengue and that costs a lot for the country. People are unable to work.”

The company has reported a 90 per cent drop in wild Aedes aegypti mosquitoes in the town so far.

http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/southamerica/brazil/10821850/World-Cup-fans-at-risk-of-dengue-fever-in-Brazil.html

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