A CONTRIBUIÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS PARA O ENSINO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
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A CONTRIBUIÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS PARA O ENSINO DA
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA.
Izabela de Lima CARLOS (UFS)1
Eliane dos Santos SILVA (UFS)2
RESUMO: O presente artigo traz algumas metodologias para o professor de
Língua Portuguesa trabalhar as variações linguísticas na sala de aula, tanto as
populares como a norma padrão, que é considerada de prestígio. Faz-se um
conciso relato sobre alguns fatores que influenciam no aparecimento dos
fenômenos linguísticos presentes na língua portuguesa, mostrando como são
tratadas pela sociedade e, sobretudo, na instituição escolar. Para obter um bom
resultado a melhor indicação é o trabalho com os gêneros textuais em que
especificamos três, a saber: a revista em quadrinhos, a telenovela e o texto
literário. Estes servirão para explanar as questões que podem ser levantadas na
sala de aula, entre educador e alunos com o objetivo de uma renovação no
ensino em relação às variantes. Para isso, nos basearemos no aporte teórico de
MONTEIRO (2008) SOARES (1996), BORTONI (2005), BAGNO (2007),
MARCUSCHI (2005) e CAMACHO (1995). Desse modo, o conhecimento e a
compreensão das variantes contribuem para amenizar as diferenças linguísticas e
o julgamento social, que são consideradas as causas do fracasso escolar, dos
alunos provenientes das classes baixas e usuários de dialetos populares
desprestigiados. Enfim, a disciplina língua portuguesa pode ser trabalhada de
maneira mais eficaz e agradável para os alunos se atrelada às questões
sociolinguísticas, sobretudo com o uso dos gêneros textuais adequados a cada
caso.
PALAVRAS-CHAVE: Língua; Variação Linguística; Gêneros Textuais;
Ensino; Classes desfavorecidas.
1 Graduanda. Veiculada ao PIBID- “Escrita e Autoria: o jornal em sala de aula”. Email:
[email protected] 2 Graduanda. Email: [email protected]
INTRODUÇÃO
No contexto educacional uma problemática se evidencia: as diferenças
linguisticas e culturais que ocorrem na língua materna dos alunos-usuários.
Qual a origem dessas diferenças? O que a escola faz para minimizar esse
problema? Qual a metodologia adequada para o ensino aprendizagem de língua
materna dentro da perspectiva sociolinguística e de acordo com as orientações
dos PCNs? Essas são apenas algumas indagações que serão respondidas no
decorrer desse trabalho com o objetivo de ao final termos um panorama claro
da realidade linguística do português brasileiro e assim trabalhá-la de maneira
mais humanizadora nas nossas escolas levando em conta a pluralidade da
língua, concebendo-a em sua totalidade, pois só assim será possível uma
verdadeira democratização do ensino que seja realmente favorável à todos, e
principalmente aos alunos provindos da classe baixa que são sem dúvida
nenhuma os mais prejudicados pelo sistema educacional atual.
Para obtermos melhor resultado nesta questão, sugerimos o trabalho
com gêneros textuais, instrumentos de grande relevância nas aulas de língua,
pois eles estão presentes nas atividades comunicativas do dia-a-dia. Assim,
representando o alunado em seus aspectos sociais, culturais e regionais como
forma de ação social.
DESENVOLVIMENTO
Fatores que influenciam nas variações linguísticas
O Brasil como se sabe é um país miscigenado pela mistura de africanos,
portugueses e índios que aqui viveram. No que diz respeito à linguagem destes
povos influenciaram na composição do Português brasileiro, pois muito do
acervo linguístico deles foram assimilados ao nosso. Para compreender a
língua é necessário não perder de vista esses acontecimentos históricos uma
vez que a mesma é uma instituição social e para analisá-la devemos recorrer a
fatores de ordem extralinguísticos: socioeconômicos, culturais e históricos.
Por muito tempo acreditou-se que a língua fosse homogênea, dentro
dessa concepção a mesma era trabalhada destituída do contexto social por ser
considerada isolada, fechada e monológica (Camacho, 2004). Dentro dessa
perspectiva o falante da língua é idealizado e passivo, significando que a língua
é algo que está fora do sujeito e, portanto não pode ser modificada pelos seus
usuários.
Porém, estudos realizados por Labov na década de 60 comprovam que a
heterogeneidade é inerente ao sistema linguístico, superando a homogeneidade
da língua e dessa forma agregando fatores extralinguísticos para a compreensão
da mesma. Além disso, a natureza discriminatória que a linguagem pode
assumir devido aos mecanismos de estigmatização são diminuídos quando a
língua é concebida pelo viés da heterogeneidade, pois a norma culta é
entendida como uma das variedades linguísticas.
Camacho (2004), diz que: “toda língua comporta variantes: (I) em
função da identidade social do emissor; (II) da identidade social do receptor;
(III) das condições sociais de produção discursiva”. Em função do primeiro
fator pertencem as variantes geográficas e socioculturais, ou seja, a região em
que mora o emissor muitas vezes pode ser identificada, pois ao falar este trás
traços dialetais específicos da sua região, por exemplo, a região nordestina se
identifica com base na abertura sistemática da vogal pretônica de dezembro e
colina, sistematicamente fechada na região sudeste; também a classe social,
idade, sexo, profissão, escolaridade, vai fazer diferença na maneira de se
expressar de cada pessoa.
No segundo e terceiro fator pertencem as variantes de registros ou
estilísticos, estes por sua vez, referem-se ao grau de formalidade da situação e
ao ajustamento do emissor à identidade social do receptor, ou seja, dependendo
para quem o emissor refere-se ele tem uma preocupação maior ou menor com a
linguagem e ainda as circunstâncias é um fator que define a escolha do falante
para o uso formal ou informal da língua.
Assim, numa conversa entre amigos em que os termos usados
geralmente são mais simples, de uso cotidiano sem maiores preocupações com
a norma padrão da língua; entretanto em situações mais formais como numa
palestra, por exemplo, o emissor tende a selecionar melhor os seus vocábulos,
aproximando-se da língua oficial, porque a circunstância daquele momento
exige uma linguagem mais elaborada. Sobre essa questão, Allan Bell afirma
que: “a escolha de estilo é essencialmente uma acomodação do falante às
características dos seus interlocutores”. (BELL apud BORTONI-RICARDO,
2005 pp. 41)
Como podemos perceber, esses fatores influenciam de maneira
favorável ou não na situação discursiva do sujeito o que pode provocar o
preconceito linguístico caso não haja adequação com a norma culta. Isso ocorre
porque a língua não está dissociada do contexto social das pessoas e, portanto,
deve ser levada em consideração para ser trabalhada de maneira mais eficaz,
sobretudo tal qual é objetivo deste artigo, poder trabalhar com a linguagem de
maneira satisfatória no ambiente escolar. Voltamos o nosso enfoque para as
classes socialmente marginalizadas, que são as mais prejudicadas pela forma
errônea na qual o processo pedagógico ocorre em nossas escolas. E como as
instituições de ensino lidam com a variação no repertório linguístico dos seus
alunos?
Contribuição da Sociolinguística
O americano Willian Labov é o iniciador dos estudos da sociolinguística,
seu primeiro estudo em 1963, tem a proposta de analisar um fenômeno de
mudança fonética a partir dos dados da fala dos habitantes da ilha de Martha’s
Vineyard. Com esta pesquisa, a nova área de estudos da linguística ganha
espaço com este modelo-metodológico desenvolvido por Labov, que consiste na
análise dos aspectos sociais que influenciam na fala dos indivíduos.
Nesta nova perspectiva a língua passa a ser vista como um sistema
heterogêneo por ser composta pelas variedades linguísticas, considerando a
variação como essencial a linguagem humana. Em meio às diversas variações
presentes na língua, temos as consideradas de prestígio e as estigmatizadas pela
sociedade, sendo que o valor atribuído à variante será de acordo com a classe
social dos falantes que fazem uso da variação.
No entanto, não deveria existir a distinção entre variante de prestígio e
variantes estigmatizadas, mas é necessário um estudo voltado para a
compreensão das diversas variações. Se referindo ao Brasil, por ser um país com
grande extensão territorial e diversificado social, cultural e economicamente é
inevitável a influencia desses fatores na língua dos brasileiros, o que a divide em
vários dialetos. Fazendo necessário um estudo que contemple as variedades
linguísticas presentes no português brasileiro, sendo a escola a responsável por
este conhecimento.
Apesar do tradicionalismo do ensino de gramática nas aulas de língua
portuguesa ainda fazer parte da realidade da maioria dos professores dessa
área, existe uma outra forma de trabalhar a língua materna que se propõe mais
dinâmica, interacionista e o mais importante, veiculado com o contexto social
do aprendiz. Tal concepção não usa a dicotomia “certo” e “errado” nem impõe
uma única variedade, ao contrário esta reconhece que a variação é inerente a
língua, concebendo-a como heterogênea e por isso não privilegia uma em
detrimento da outra, porque aqui o mais importante para o professor de
português é elaborar uma metodologia que o aluno consiga assimilar o
conteúdo ao seu contexto para que realmente tenha significação para ele.
Nessa concepção o educador é acima de tudo crítico e tem consciência
que numa classe pode ter havido formas diferentes de socialização e por isso
mesmo procura levar em consideração o acervo linguístico que os alunos já
possuem, mas ensinando também as variantes de prestígio, uma vez que não
lhes podem privar desse conhecimento sob pena de se fecharem para eles as
portas, já estreitas, da ascensão social.
Seria bom, “estimular” nas aulas de língua, um conhecimento
cada vez maior e melhor de todas as variedades
sociolinguísticas, para que o espaço da sala de aula deixe de
ser o local para o estudo exclusivo das variedades de maior
prestígio social e se transforme num laboratório vivo de
pesquisa do idioma em sua multiplicidade de forma e uso.
(Bagno, 2002, p: 32)
O ensino de língua materna
A escola tem como objetivo a igualdade social, tendo em vista a
democratização do ensino, que consiste na abrangência da educação para todos,
como instrumento essencial para a conquista desse objeto. Porém, não há
democratização da escola, pois esta não está preparada para lidar com a
pluralidade cultural dos alunos, principalmente os provenientes da classe baixa,
pois a linguagem que usam no seu cotidiano não coincide com a imposta e tida
como de prestígio pela instituição de ensino.
Dessa forma, provocando um conflito linguístico e social, (nos
deteremos às questões linguísticas) na questão linguística o aluno vê-se
pressionado a substituir sua forma de se expressar pelo que encontra na escola
e que não faz parte do seu contexto social. Essas diferenças podem ser de
ordem: lexicais, fonológicos, morfológicos e sintáticas de modo a contribuir
para a estigmatização das variações populares provocando o baixo rendimento
e a evasão desses alunos, que por sua vez são vistos como inadequados por
parte da escola.
Por muito tempo, os baixos rendimentos escolares dos alunos das
classes mais abastardas receberam inúmeras explicações, desde já vale
enfatizar que para todas elas o responsável pelo fracasso escolar era o próprio
aprendiz. Assim, os programas que eram criados em cima dessa perspectiva
não surtiam os efeitos realmente esperados e nem poderia, pois o problema é
inerente a própria língua decorrente do fato de que a metodologia usada pelos
professores de português em nossas escolas não atendem as reais
particularidades de cada aluno.
Sendo assim, uma das explicações para o fracasso escolar era: a falta de
aptidões físicas necessárias para fazer o bom aproveitamento das oportunidades
concedidas de forma “igual” para todos, (uma vez que, abre suas portas para
todas as pessoas não importando a qual classe pertence) tal explicação ficou
conhecida como a “Ideologia do Dom”.
Depois surgiu a “Ideologia da Deficiência cultural” em que se
acreditava que as crianças pobres não eram favorecidas culturalmente pelo
meio no qual se encontravam, resultando na dificuldade de aprendizagem por
parte das mesmas.
E por último veio a explicação conhecida como “Ideologia das
diferenças culturais” que enxerga a existência das duas variedades linguísticas,
em que apenas uma a variedade padrão, culta é legitimada enquanto só resta a
outra, a variedade não padrão da língua, na qual faz uso as camadas mais
desfavorecidas da nossa sociedade, ser avaliada comparativamente àquelas
constituindo o que a autora Magda Soares (1996) em seu livro Linguagem e
Ensino chama de subculturas, ou seja, culturas consideradas inferiores. Diz
ainda que isso ocorre porque a escola é uma instituição capitalista e por isso
valoriza os padrões lingüísticos privilegiados pela classe dominante.
Mas, com o advento da sociolinguística, as explicações voltaram-se
para a hipótese de que a raiz de tudo estaria na própria linguagem, ou seja, as
crianças eram vítimas da opressão do dialeto padrão imposto pela escola na
qual deveria ser seguido à risca.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) propõem uma revisão do
ensino nas escolas brasileiras a fim de desenvolver a competência
comunicativa dos alunos em vez de meramente mostrar-lhes regras
gramaticais. Para isso, orientam que os professores façam uso dos gêneros
textuais, pois eles trazem uma série de textos que possuem determinadas
características que representam variadas situações sócio-comunicativas,
justamente com o objetivo de preparar os alunos para as diversas situações
discursivas do dia-a-dia.
Comparando textos orais e escritos de diversos gêneros, o aluno
perceberá as variações linguísticas, pois para os PCN é a pluralidade de textos
orais e escritos, literários ou não que fará o aluno perceber como se estrutura
sua língua. Assim, o educador coloca-o diante das diversas formas linguísticas
proporcionando uma distinção entre elas a fim de possibilitar o conhecimento e
a compreensão das mesmas. Vale ainda ressaltar que ao ficar preso ao livro
didático, o professor não forma opiniões nem a reflexão crítica do aluno.
Segundo o PCN, a pedagogia atual deve criar um ambiente de interação
onde o aluno possa desenvolver seu censo crítico e reflexivo, sendo importante
ceder o espaço na sala de aula para que ele tenha o direito à palavra, utilizando-
se de métodos que levem o aluno a interagir: como trabalhos em grupos, por
exemplo, em que todos aprendem tantos os que têm maior dificuldade quanto
os que sabem mais sobre determinado assunto. O professor deve exercer o
papel de mediador do conhecimento, proporcionando aos alunos um ambiente
de interação em que cada um possa expressar sua opinião e mostrar a
importância desta, guiando, assim o aluno a um pensamento crítico e reflexivo.
Magda Soares (1996) destaca que ao abrir espaço para interação entre o
alunado dando-lhes o direito à palavra, o educador deve mostrar que o diferente
não é melhor nem pior, mas, apenas diferente e por isso, todas as variedades da
língua devem ser reconhecidas como legítimas. Além disso, a fala egocêntrica dos
mesmos deve ser verbalizada para que o educador possa aprimorá-la.
É com esse objetivo que os PCN indicam o trabalho com gêneros textuais
na sala de aula por contemplarem as formas linguísticas, orais e escritas, com ou
sem apreciações literárias abrangendo tanto a variação padrão quanto a não padrão
da língua. O gênero literário é o mais utilizado nas escolas, porém de maneira
inadequada tratando somente dos aspectos formais, levando os alunos a identificar
quais os personagens, enredo, classes gramaticais, sem buscar a interpretação do
texto em seu conteúdo. Portanto, ao usá-lo o professor deve se deter aos aspectos
sócio-comunicativos, funcionais, cognitivos e até mesmo o suporte e o ambiente
em que estão inseridos, pois estes irão caracterizar os gêneros textuais.
Sugestões metodológicas com a prática dos gêneros textuais
Neste artigo nos deteremos aos textos que fazem uso das variações
linguísticas presentes no Brasil, sejam elas de caráter social ou geográfica. Para
tal trabalho usaremos a revista em quadrinhos: Chico Bento de Maurício de
Sousa; faremos a análise das variações linguísticas da personagem Maria do
Carmo na novela Senhora do Destino, exibida pela Rede Globo de televisão;
em contraposição, utilizaremos também um texto que faz uso da norma culta
para mostrar como as duas variedades da linguagem podem ser abordadas em
sala de aula. Além disso, os gêneros englobam todas as manifestações
linguísticas tanto orais quanto escritas, ampliando o campo de exploração nas
aulas de língua. Marcuschi (2005, pp. 19) afirma, que “os gêneros contribuem
para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia”.
O uso da revista em quadrinhos: Chico Bento
O personagem Chico Bento é um típico caipira brasileiro. Anda
descalço, usa chapéu de palha, adora pescar com o pai. Mora com os pais, seu
Bento e Dona Cotinha, em um sítio nas cercanias da fictícia Vila Abobrinha,
no interior de São Paulo. E é claro que acompanhado de todas essas
características, sua linguagem também corresponde a de um caipira. Essa
linguagem pode ser levada para análise em sala de aula, entretanto o professor
deve estar ciente de que não pode apenas ler a história e identificar as
variações, mas mostrar os fatores extralinguísticos que explicam tais variações
como o contexto, idade, escolaridade, ocupação profissional, localização
geográfica e interações sociais.
No caso de Chico Bento, os fatores que tem relevância em sua
linguagem e que devem ser discutidas são o cotidiano, por morar no interior
(na roça), seu léxico é formado por palavras que são utilizadas neste ambiente e
seus conhecimentos também são restritos a este lugar e por isso seu
estranhamento em relação aos objetos que fazem parte do script da cidade.
Como também suas relações sociais que correspondem às pessoas da região e,
por isso, estas não trazem nada de diferente para ser acrescentado ao seu
repertório linguístico.
No entanto, para que tal atividade surta efeito, é necessário que o
professor faça um plano de aula, uma pesquisa prévia sobre o personagem, pois
são as suas características que determinam sua forma linguística. No caso de
Chico Bento, a história se passa nos anos 60, então a questão histórica deve ser
levada em consideração, isso oferece um meio para que o professor possa fazer
uma comparação dessas formas linguísticas, de como era dito antes e como é
falado atualmente. É importante também que o professor mostre aos alunos
como a linguagem é necessária para identificação das pessoas, pois se Chico
Bento tivesse todas essas características, mas sua língua fosse a norma culta,
com certeza não chamaria a atenção do leitor, e perderia a força de
representação de um caipira.
Porém, o educador também deve ter em mente que a personagem não é
uma representação real da população caipira e que nem todas as pessoas
daquela região falam daquela forma. Assim fazendo uma distinção entre a
linguagem da revista e a da realidade. O professor poderá fazer uma atividade
em que os alunos irão dizer se conhecem pessoas que falam daquela forma, se
a resposta for positiva, procurar fazer uma comparação dos aspectos
extralinguísticos para chegar a conclusão da variação linguística utilizada por
estas pessoas.
O auxílio da telenovela para o ensino da variação
Os meios de comunicações estão cada vez mais presentes na vida das
pessoas e nos lugares mais diversos, sobretudo as telenovelas que possuem
certo poder de persuasão na vida real das pessoas comuns, levando-as a fazer
julgamentos sobre determinados assuntos, muitas vezes até de uma forma
distorcida. A linguagem utilizada na maioria das vezes é a de prestígio, mas em
alguns casos é feito uso de dialetos regionais para chamar atenção do
telespectador de modo que ele possa identificar em qual lugar o personagem
nasceu, evidenciamos, porém que em muitos casos os traços regionais
aparecem um tanto carregados.
Pois bem, um desses casos ocorre na novela Senhora do Destino
exibida pela rede Globo entre os anos 2004 e 2005, às 21 horas considerado
horário nobre, assistida por uma grande quantidade de telespectadores. A
protagonista é Maria do Carmo, uma nordestina, que tem seu sotaque bem
típico de sua região, porém é notável que sua forma de falar não corresponde
ao modo das pessoas que são representadas por ela. Desse modo, esse tipo de
personagem, que tenta passar a cultura e os costumes -aos quais está incluída a
linguagem- de determinadas regiões acabam exagerando e não mostrando a
realidade, assim criando estereótipos que servem de chacota para as pessoas de
outras regiões que não tem o conhecimento verdadeiro da realidade desta.
Por isso, a novela em específico a personagem, pode ser trazida para a
sala de aula para ser feita uma análise linguística. Por se tratar de um gênero
em que a maioria das pessoas tem acesso, inclusive pela classe baixa que
corresponde à maioria dos alunos da escola pública, a professora poderá fazer
uma abordagem em relação ao repertório linguistico utilizado pela personagem.
Como por exemplo, as de caráter lexicais que apresentam certas expressões
desconhecidas tanto pelos alunos de outras regiões como no próprio nordeste.
Ex: varada de fome, porreta, marmota.
Portanto, só com o entendimento dessas variações é que os alunos
poderão vê-las de forma diferente amenizando o preconceito. No caso da
região nordeste, a situação já é preocupante por existirem preconceitos de
diversos aspectos, como sociais, geográficos, culturais e ainda o linguístico.
Então o melhor é, na sala de aula, usar esses personagens como forma de
diminuir esses preconceitos; podendo ainda abrir um espaço na aula para falar
sobre as diferenças dialetais existentes no Brasil e principalmente o professor
deve evidenciar que não existe culturas ou variação melhor ou pior que outra,
mas apenas diferente e que quanto a esta última, a escolha pela a qual usar vai
depender da situação ou circunstância que o sujeito está inserido.
O trabalho com a variação padrão
É importante entender que a norma padrão precisa ser ensinada, pois
como língua oficial ela está presente na literatura, nos documentos, nos livros
acadêmicos, enfim nas situações mais formais. Porém, ao ensiná-la o professor
não deve considerá-la como única, mas preparar o aluno para as situações reais
de sua vida em que ela será exigida, como numa entrevista de emprego, numa
palestra, numa conversa com autoridades, na mídia e etc.
Para tal atividade o tipo textual a ser usado será os clássicos propostos
pela ementa, que foram escolhidos na elaboração do currículo e devem estar
apropriados à realidade de cada turma, visando o nível de conhecimento, faixa
etária, contexto social e regional. Porém, observa-se um grande problema no
ensino de língua portuguesa, que consiste na forma errônea no ensino-
aprendizagem da norma padrão, pois a melhor maneira de adquiri-la é com a
prática da leitura e da escrita por parte dos alunos.
Os gêneros textuais é uma ferramenta indispensável para tal objetivo,
com o seu uso, em específico os que trazem a norma padrão em sua
composição, os alunos aprenderão as regras da gramática nos textos,
observando sua funcionalidade de forma contextualizada. Assim, deixando de
lado o tradicionalismo do uso da gramática como veículo único de aprendizado
dessas regras.
Dessa forma, os professores devem procurar uma nova maneira de
trabalhar com os clássicos da literatura, que são os mais utilizados pela escola,
como por exemplo, os textos de Machado de Assis que são referência da boa
escrita. Nessa perspectiva, devem deixar de lado os aspectos estruturais
encontrados nesses textos, e se deterem as questões que envolvem a
interpretação das condições discursivas presente nas obras. A partir daí os
alunos irão compreender a funcionalidade da linguagem utilizada pelo autor.
Sendo assim, a aprendizagem da norma-padrão dar-se-á de maneira natural,
sem necessariamente colocar os alunos diante da repetição de regras em frases
soltas e descontextualizadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma, podemos concluir que o trabalho com gêneros textuais é
um instrumento de grande utilidade nas aulas de língua portuguesa, por
abranger as diversas formas linguísticas e dessa forma favorecer a
aprendizagem da mesma. Os alunos provenientes das classes baixas que
geralmente têm a sua socialização no dialeto não padrão e por isso acabam
sendo prejudicados pela rigidez na qual as escolas brasileiras impõem a forma
normativa, esta porém mais próxima do alunado que teve sua socialização na
norma de prestígio e por isso já estão acostumados a utilizá-las no meio em que
vivem, bastando apenas aprimorar seus conhecimentos quando chegam à
escola.
Ao realizar o levantamento dos fatores que contribuem para a
diversidade linguística no Brasil tínhamos como propósito contribuir para os
profissionais da área de língua portuguesa, ou os que virão ser, para a
importância da criticidade do educador, para que o educador esteja consciente
da sua responsabilidade enquanto mediador do conhecimento.
Somente se dando conta dessa heterogeneidade da língua é que a
problemática que se faz presente no contexto educacional poderá ser
transformada, pois se o aluno percebe que a variedade popular que ele trás ao
chegar à escola não tem que ser substituída e, portanto renegada, taxada como
“errada” ele sentirá de fato muito mais segurança em fazer perguntas, interagir
e o conflito linguístico bem como a exclusão não acontecerá.
Torna-se evidente versar que a norma-padrão deve continuar sendo
ensinada, mas, o modo como é transmitida aos alunos é que deve ser revisto.
Assim a relevância de preservar os saberes sociolionguisticos e os valores
culturais dos alunos está no fato de assegurar a identidade cultural dos mesmos.
Enfim, a disciplina língua portuguesa pode ser trabalhada de maneira
mais eficaz e agradável para os alunos se atrelada às questões sociolinguísticas
e, claro, dentro das orientações dos Parâmetros curriculares nacionais (PCN),
sobretudo com o uso dos gêneros textuais adequados a cada caso como
mostramos alguns exemplos no tópico: sugestões metodológicas com a prática
dos gêneros textuais.
Referências bibliográficas
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