A CONTRIBUIÇÃO DA GESTALT NA LIDERANÇA ORGANIZACIONAL

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A CONTRIBUIÇÃO DA GESTALT-TERAPIA NA LIDERANÇA

ORGANIZACIONAL

Dione Nunes Franciscato ¹*

Andrea Simone Schaack Berger ²*

RESUMO

Este trabalho traz uma reflexão teórica acerca da liderança organizacional sobre o prisma da

Gestalt-Terapia. A liderança hoje é fator primordial para o desenvolvimento de equipes, um

conceito difundido desde os primórdios da sociedade, à partir disso busca-se analisar como a

Gestalt-terapia com suas influências filosóficas, fundamentos teóricos e o contato pode

contribuir para ampliação desta competência que se faz necessária nas equipes de trabalho.

Palavras – Chave: Gestalt. Liderança. Trabalho, Contato.

ABSTRACT

This paper presents a theoretical about organizational leadership on the prism of Gestalt

Therapy reflection. Leadership today is paramount to the development of teams, a concept

used since the dawn of society factor, starting it seeks to analyze how Gestalt therapy

influences their philosophical, theoretical and contact can contribute to expanding this

jurisdiction is needed in work teams.

Key - Words: Gestalt. Leadership. Work, Contact.

¹ *Psicólogo formado pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar. Aluno do Curso de Pós – Graduação

em Gestalt–Terapia do Núcleo de Educação Continuada do Paraná – NECPAR.

² *Psicóloga, Gestalt-terapeuta, mestre em desenvolvimento organizacional pela Universidade de León, México,

Docente do Curso de Psicologia da UNIFIL e pós graduação em Gestalt-terapia NECPAR.

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INTRODUÇÃO

Neste artigo pontuaremos duas vertentes do conhecimento que podem convergir, a Gestalt-

Terapia buscando uma compreensão de homem baseada no humanismo, existencialismo e

fenomenologia e a liderança nas organizações, através da qual se pode se busca atingir os

melhores resultados para organização e como o profissional pode atingir o sucesso que

perpassa pelo trabalho de sua equipe.

A Gestalt-Terapia como qualquer teoria do conhecimento psicológico em trabalhos clínicos,

visa que o cliente possa atingir seus objetivos e resolver suas questões de ordem emocional

por si mesmo, sendo que o psicólogo é um facilitador neste contexto. Assim também o líder

nas organizações busca em uma relação de troca fazer com que sua equipe possa alcançar os

melhores resultados através de suas competências, porém direcionados em um único objetivo.

Para que possamos alinhar essas duas partes, e perceber o quanto a Gestalt–Terapia pode

contribuir para a atividade do líder, trataremos de maneira singular cada tema e teceremos

uma linha de raciocínio, partindo da visão de homem e mundo da Gestalt-Terapia

relacionando-a com a liderança, que pode se beneficiar para compreender, entender e respeitar

o outro de maneira mais funcional e humana na sua particularidade enquanto ser presente

nesta parte que denominamos como trabalho.

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1. A Gestalt-terapia

A Gestalt-terapia surge de várias contribuições, correntes filosóficas e terapêuticas de diversas

fontes. Alguns autores colocam que foi Fritz Perls que seria o fundador da abordagem, e

outros alegam ser o grupo dos sete, ou seja, Fritz Perls, Laura Perls, Paul Goodman, Isadore

Fron, Paul Weisz, Eliot Shapiro e Silvester Eastamam. Dentro deste contexto podemos

entender que todos foram importantes para o desenvolvimento da Gestalt-Terapia, todavia e

inevitável não destacar Perls.

Fritz Perls conviveu muito tempo com a Psicanálise de Freud, com o Holismo de Smuts e o

psicodrama de Moreno. Neste parâmetro o mesmo percebeu-se influenciado pela terapia

Centrada na Pessoa de Rogers, a análise transacional de Berne, a Dinâmica de Grupo de

Lewin, os grupos de encontros de Shunts e Bioenergética de Owen. Perls teve ajuda de alguns

teóricos na sua construção como a ajuda de Laura Perls e Goodman dentre vários outros.

Na base teórica da Gestalt–Terapia podemos encontrar o Existencialismo, o Humanismo e a

Fenomenologia, a Psicologia da Gestalt, a Teoria de Campo, o Holismo entre outras

influências.

A Psicologia da Gestalt, uma das influências da Gestalt-terapia, teve seu início no século XIX,

na Alemanha e Áustria, sendo Gestalt uma palavra alemã, tendo em seu significado a forma,

configuração, reunião das partes o que forma o todo.

A Gestalt–Terapia se fundamentou na filosofa de reflexão humanista, principalmente nas

potencialidades individuais que são compartilhadas com os outros. O humanismo busca com

principal valor o enfoque na relação no qual toda existência humana se realiza em um

contexto interpessoal, acreditando no potencial da pessoa ultrapassando sua existência, dessa

forma a Gestalt – Terapia se coloca ao lado da psicoterapia humanista, no momento que ela

promove a idéia de homem como centro, como valor positivo, capaz de se autogerir e regular-

se. Ginger e Ginger (1995) colocam que o humanismo “é uma forma de devolver ao homem

toda sua dignidade, seu direito ao respeito em todas as suas dimensões”. Nesta visão

complementamos “o todo” do pressuposto filosófico, atentando a visão existencial e

fenomenológica.

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O existencialismo como base teórica para Gestalt-Terapia, busca responder um ponto de

interrogação que é a existência. Perls apud Ribeiro (1985, p.32) coloca que “a ‘existência’ que

aqui está aplicada é o homem que se torna o centro da atenção, encarado como ser concreto

nas suas circunstâncias, no seu viver, nas suas aspirações totais. Centrado nos problemas do

homem, o existencialismo penetra nos seus pensamentos concretos, nas suas angústias e

preocupações, nas suas emoções interiores, nas suas ânsias e satisfações”.

Neste contexto percebemos quanto o existencialismo na sua teoria trata de um ser particular,

concreto, com vontade e liberdade pessoais, consciente e responsável, sendo uma expressão

de uma experiência individual, singular: trata diretamente da existência humana. Kierkegaard

dizia que “a subjetividade é a verdade, a subjetividade é a realidade”. Isto significa a

necessidade de se tentar compreender o individuo a partir de sua singularidade, de seu

manifestar-se subjetivo. Conhecer é, portanto, fazer um apelo à existência, à subjetividade.

(RIBEIRO,1985 p.33)

Em Gestalt-Terapia a proposta é de ver o homem como um ser particularizado, singularizado

no seu modo de ser e agir, concebendo-se como único no universo e individualizando-se a

partir do encontro verdadeiro entre sua subjetividade e sua singularidade. Em todo este

contexto o encontro entre psicoterapeuta e cliente tem que ser um encontro existencial,

baseado na relação e não apenas num confronto mais ou menos criativo, e talvez espontâneo,

entre técnico e cliente, entre médico e paciente. Encontro existencial significa encontro real

entre duas pessoas, numa relação paritária, onde ambos estão sob uma luz: o fato de estar e de

ser no mundo, numa tentativa de compreender, de experenciar, de reavaliar, de fortalecer, de

singularizar o que significa de fato, existir. (RIBEIRO,1985 p.34)

Dentro dessas considerações compreendemos quanto a Gestalt-Terapia se fundamenta numa

visão especifica da existência. Ela é e faz um apelo constante à liberdade humana, à

individualidade, à responsabilidade pessoal e coerente. Ela vai além dos sentimentos de

massa, dos valores introjetados e não assumidos. Como o existencialista, também o gestaltista

é uma pessoa incomodada e que incomoda, porque ambos vivem e possuem mensagens

diretas, desinteressadas, descompromissadas. (RIBEIRO, 1985)

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A fenomenologia em Gestalt-Terapia tem seu espaço como método para o processo clínico,

por sua vez Frazão e Fukumitsu (2013) definem em seu termo literal fenomenologia como

“estudo dos fenômenos”, isto é, daquilo que é dado à consciência. Neste contexto uma das

primeiras tarefas que a fenomenologia se propõe é justamente elucidar “o reino das

essências”, ou seja, para esta ciência não se pode conhecer jamais aquilo que sé da por si

mesmo, a coisa em sí, é preciso suspender todo e qualquer posicionamento ontológico e toda

“realidade empírica”. Assim, tudo que for aparente, óbvio e preconcebido é colocado em

questão segundo Husserl.

Ribeiro (1985) coloca que Fenomenologia é uma filosofia, é uma metodologia, implica em

uma específica visão do mundo. Fenômeno é uma palavra grega derivada de um verbo que

significa “manifestar-se, aparecer”. Podemos, portanto, definir etimologicamente fenômeno

como aquilo que aparece, como aquilo que é aparente na coisa ou a aparência da coisa.

Heidegger, estudando a relação existente entre palavras gregas cujo o significado português é

“manifestar-se” e “fenômeno”, relacionou-as a outras palavras gregas cuja a raiz significa

“luz”. “Assim o fenômeno é o que se revela ou se faz patente por si mesmo, revelar-se só é

possível ‘a uma luz’, de outro modo, não poderia ‘ver se’. O fenômeno é, pois , o que se

revela por si mesmo na luz”. Nesta premissa temos como dizia Husserl chegar às coisas

mesmas, sendo fenomenologia por ele “a ciência descritiva das essências da consciência e

seus atos”. (RIBEIRO, 1985)

A fenomenologia, portanto, busca captar a essência mesma das coisas e para isto ela busca

descrever a experiência do modo como ela acontece e se processa. Husserl diz que é preciso

colocar a realidade entre parênteses, suspendendo todo e qualquer juízo. Não afirmar, nem

negar, mas antes abandonar-se à compreensão é o modo de atingir a realidade, assim como ela

é. Ao realizarmos este movimento estamos chegando às coisas mesmas, assim como são,

como se apresentam, sem nenhum juízo a priori, superando a oposição entre essência e

aparência reduzindo fenomenologicamente. (RIBEIRO, 1985)

Neste sentido assim como o filósofo, o psicoterapeuta deve portar-se diante do fenômeno

numa situação de escuta do ser , desvelando-se ao mesmo tempo em que este também se

desvela, recusando-se a instalar-se na verdade ou no seu sistema de verdades e certezas para

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compreender a realidade de fora de si próprio. Tal postura tem muito a ver com o vazio

fecundo, com o vazio criativo dos orientais e que tanto é recomendado por Perls que dizia:

“quando eu penso que sei, eu não sei nada, quando eu penso que não sei, aí começo a saber”.

Um das outras influências teóricas e a Psicologia da Gestalt que surge no início do século 20,

sendo seus principais expoentes Wertheimer, Köhler e Koftfka. Ao afirmar que percebemos

totalidades que são diferentes das somas das partes. Edgar Rubin (1886 – 1951),

fenomenólogo dinamarquês e ex-aluno de Husserl, foi o primeiro a afirmar que a percepção

visual se organiza em figura e fundo, ou seja, a nossa percepção se organiza pelo princípio de

figura/fundo: percebemos a totalidade e, dependendo das circunstâncias, algo se destaca,

torna-se mais proeminente, fica em primeiro plano – a figura-, enquanto o restante permanece

em segundo plano - o fundo, integrando os dois pontos e o que chamamos de Gestalt

configuração ou totalidade. (FRAZÃO E FUKUMITSU, 2013)

Outra das teorias que compõe a Gestalt-Terapia e teoria de campo de Kurt Lewin que foi base

para muitos estudos de Perls, ele se propõe a fundamentar nossa compreensão sobre o sentido

das ações de uma pessoa é algo que se coaduna à relação dela com seu meio. Segundo essa

teoria, “meio” ou “campo” referem-se a “quando” e “onde” algo pode produzir uma diferença

na percepção da pessoa. Além disso, a noção de tempo se apresenta como unidade situacional,

como foco no presente, que se articula com os dados a ele anteriores e aponta para

possibilidades futuras. Lewin critica assim a psicologia da época (1890-1947), influenciada

pelo paradigma aristotélico que impregna nossa cultura (não apenas a ciência), paradigma

esse baseado em um pensamento classificatório, estatístico-histórico e abstrato. De acordo

com Lewin, a psicologia até então não enxergava o ser humano de forma integrada. Neste

contexto Lewin coloca que campo e o “espaço vital psicológico” indicando a totalidade dos

fatos que determinam o comportamento do individuo num certo momento, sendo dotado de

duas regiões: a pessoa e o ambiente. (FRAZÃO E FUKUMITSU, 2013)

Percebemos que as bases teóricas da Gestalt-Terapia forma ela mesma, sendo uma junção de

varias partes como um lindo mosaico, essa é um pouco da compreensão da teoria do Holismo

(TICHA in Frazão e Fukumitsu, 2013). Um dos grandes estudiosos foi o próprio Perls no

tema do Holismo, algumas obras serviram de base como The Organism (1995) de Goldstein e

o livro de Jan Smuts Holism and evolution. Perls (2002) coloca que o Holismo, assim também

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defendido por Smuts, é de certa forma “uma atitude que compreende o mundo não apenas em

átomos, mas em estruturas que têm significado diferentes, na soma de suas partes”.

Todas as teorias descritas configuram a Gestalt-Terapia, sendo importante sua explanação,

todavia ao trabalharmos a relação entre duas pessoas temos o termo “Contato” que segundo

D’ Acri, TICHA, e Orgler (2012) é um instrumento que nos transporta das partes para

totalidade, da quantidade para qualidade, do imanente para o transcendente, da matéria para o

imaterial. Este Contato possui fronteiras mais flexíveis, aonde vamos além do contato como,

olhar, prestar atenção, tocar, respeitar o outro como ele é, este pode transformar, curar isto é

um processo de se encontrar com o outro no outro.

Fazer Contato para Ribeiro (2006,p.91) tem a ver com relacionar-se, com encontrar-se

consigo mesmo e com o outro, sem nunca perder a perspectiva de que tudo ocorre no mundo.

Fazer contato é estar presente a si mesmo, é olhar para dentro e se reconhecer como sendo si

mesmo. A essência do contato, mais que estar em contato com o outro, é estar em contato

consigo mesmo. Estar em contato consigo mesmo ou com o outro ocorre em diferentes níveis:

do sentir, do pensar, do fazer, do falar. Estas, entre outras, são quatro formas de estar consigo

e com o outro, e os diversos níveis de contato relacionam-se com esses diferentes sistemas.

Neste contexto teórico podemos utilizar desta base para alinharmos com a competência da

liderança no mundo do trabalho, e como podemos utilizar dessa ferramenta para ser um líder

melhor para seus liderados para si mesmo enquanto pessoa.

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2. Liderança

Diniz (2004) afirma que a liderança é a capacidade de inspirar, motivar e movimentar pessoas

a atingirem e superarem metas, ultrapassando seus limites, ou seja, tornar claro para sua

equipe, os objetivos que pode alcançar, de tal forma que compreenda e aceite sinceramente e

honestamente tais objetivos e a influência do líder.

Hunter (2005), por meio do seu personagem principal, que é um monge cheio de sabedoria,

caracteriza que liderar é conseguir que as coisas sejam feitas através das pessoas. Ao trabalhar

com pessoas e conseguir que as coisas se façam através delas, sempre haverá duas dinâmicas

em jogo: a tarefa e o relacionamento. Para esse autor, a liderança que vai perdurar, deve ser

baseada na influência e na autoridade. A autoridade sempre se estabelece ao servir aos outros

e sacrificar-se por eles. O líder presta um serviço que tem origem na identificação e na

satisfação das necessidades legítimas dos membros do grupo.

Segundo Oliveira et al (2004), ser líder significa desenvolver habilidades, competências e

talentos internos. Um líder precisa ter ou saber como conquistar oportunidades que aparecem

em sua vida, aproveitando-as e valorizando-as ao máximo quando essas aparecem.

Maximiniano (2004) acredita que a liderança não pode ser vista apenas como habilidade

pessoal que torna algumas pessoas mais aptas a influenciar outras. Muitas vezes o contrário

também ocorre, ou seja, um grupo necessita de um líder e escolhe alguém para desempenhar o

papel. Em outros casos, o líder parece ser uma figura temporariamente eficaz, cujo sucesso

depende apenas da existência de uma missão, complementada a missão, o líder torna-se

desnecessário e é dispensado pelo grupo. Para esse autor, a liderança participa, age, contribui

e trabalha junto com a equipe.

Para Chiavenato (1992, p. 147) a liderança é uma influência interpessoal exercida numa dada

situação e dirigida através do processo de comunicação humana para a consecução de um ou

mais objetivos específicos, o líder neste encontro promove mudanças, em conjunto com o os

preceitos da organização, porém pode este fazer de alguns estilos de liderança estilos básicos

de liderança como: a autocrática, a liberal e a democrática.

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Fonte: CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando Pessoas: o passo decisivo para a administração

participativa. São Paulo: Makron Books, 1992, p.12.

Para Warren Bennis (1996) “O processo de tornar-se um líder é muito parecido com o

de tornar-se um ser humano bem integrado”. Useen (1999) amplia o conceito de liderança,

dizendo que: “Liderar não significa apenas ter seguidores, mas saber quantos líderes se

conseguiu criar entre esses seguidores”. Neste contexto que se busca a liderança nas

organizações, em que compreendem melhor seus liderados, onde antes de serem profissionais

em suas áreas são pessoas em busca de sentido de vida para sua existência.

Autoritário

A ênfase é centrada no líder que líder fixa as

diretrizes, sem qualquer participação do grupo,

determina providências e as técnicas para

execução das tarefas.

Democrático

A ênfase é centrada no líder e nos

subordinados. As diretrizes são debatidas e

decididas pelo grupo, estimulado e assistido

pelo líder. O próprio grupo esboça as

providências e as técnicas para atingir o alvo.

Liberal

Ênfase nos subordinados. Há liberdade

completa para as decisões grupais ou

individuais, com participação mínima do líder.

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3. A Gestalt-terapia e a liderança organizacional

Podemos perceber que o encontro de Líder e Liderado, Terapeuta e Cliente é de fato único

para ambos, ou seja, a função do terapeuta está em ajudar o cliente a perceber suas

experiências, a partir de um espelhar dos comportamentos, o exame dos modos como se

comporta, destaque dos pontos positivos, e exames de sentimentos. Não há verdades

absolutas, e não há uma causa única para as ações. É preciso valorizar o conhecimento que o

cliente tem de si, buscando o significado da sua experiência. Para o mundo trabalho o líder

tem que estar atendo ao universo de seu colaborador é assim como na Gestalt utilizar de tal

empatia para que consiga através de feedbacks assertivos conduzir sua equipe de modo

humano e responsável.

O método fenomenológico é um instrumento de trabalho que nos permite ver um objeto e

descrevê-lo como chega à consciência. Tal processo passa, primeiro, pelos sentidos, pois são

eles que nos permitem descrever a realidade, para só então o intelecto proceder a uma redução

que nos traz a essência do objeto observado. Assim estamos sempre diante de fenômenos

cujas características ou aparências nos colocam em contato com a essência das coisas. O

fenômeno, enquanto a coisa-em-si, é um simples e pura aparência e, enquanto um em-si-da-

coisa, é um objeto para minha consciência, que o qualifica e delimita em função da relação

que a realidade estabelece no encontro humano. A coisa-em-si nos revela a existência do

objeto observado, o em-si-da-coisa nos dá sua essência, como uma redução transcendental, no

sentido de que até a essência de qualquer ser é essência particularizada pela observação

daquele sujeito especifico. Não temos acesso à essência em estado puro, a não ser como um

ato de pura cognição, mas, neste caso, saímos do método e vamos para a filosofia. (RIBEIRO,

2006)

O líder ao compreender que seu liderado tem características únicas e formas diferentes de

fazer e se expressar no meio, poderá assim retirar desse mesmo o seu melhor potencial e

entender suas fraquezas e como ajudar ele a superar de maneira humana.

Um dos mecanismos que o líder pode utilizar para entender a essência da problemática de

seus liderados passa por respostas assertivas como: expressão direta de pensamentos e

sentimentos, escuta do outro, elaboração de questões abertas que visam conhecer as opiniões e

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desejos do outro (“O que pensas sobre…”), frases curtas e diretas, expressões iniciadas por

eu, distinção entre fatos e opiniões (“A minha opinião …”) e sugestões e críticas construtivas

que se centram na ação do outro e não na culpa excessiva. (Back & Back, 2005; Hargie &

Dickson, 2004 - et al 2012).

Um das teorias que pode ajudar o líder a compreender sua equipe passa pela Teoria de Campo

de Kurt Lewin, ou seja, compreendendo o espaço vital psicológico dos seus liderados e da sua

equipe, muito dos comportamentos apresentados por eles terão um fundamento nessa relação

do meio e a pessoa. “Será que o meio no qual os liderados trabalham afetam sua forma de

ser?”, ou “uma pessoa pode alterar o comportamento dos demais?”. Muitas dessas respostas

podem ser administradas através da compreensão do campo e da essência de muitos aspectos

relacionados no entre de líder e liderados ou liderados e ambiente, ou liderados e liderados e

tantos outros fatores. O que define a boa gestão e ter a sensibilidade necessária para

compreender o outro em suas diversas figuras e fundos.

O líder que busca um contato humano com seu liderado acaba, gerando mudanças

significativas no contexto do trabalho. A Gestalt segundo Polster & Polster (2001) define o

contato como o meio para a pessoa mudar, e para mudar a experiência que tem do mundo. A

mudança é o resultado deste contato, na medida em que ocorrem assimilação do que é

nutritivo e a rejeição do que é nocivo. Na organização pode-se propor que liderar é um

exercício continuo do contato, a todo o momento o trabalho sofre e gera mudanças no

ambiente e nos trabalhadores, o líder que mantém um contato mais humano com seus

subordinados, alimenta na relação aspectos mais nutritivos para com a realização de tarefas,

metas e objetivos da equipe favorecendo um ambiente de desenvolvimento e cooperação.

A Gestalt-terapia faz do conceito de contato sua alta definição instrumental e essencial.

Trabalhar o contato nas e das pessoas no mundo é o caminho a fim de que a relação cliente -

terapeuta tem a visibilidade e se torna funcional e operacional. Mediante a observação

cuidadosa de como as pessoas fazem contato, poderá perceber quem elas são. O contato é,

portanto o existencial que nos leva a essência mesma da pessoa, na medida em que mostra

como as pessoas fazem suas escolhas e por meio delas revelam seus mais íntimos do seu ser,

do contato consigo mesmo que nascem todas as possibilidades de contatos com o mundo.

Quando bloqueamos o contato em nós mesmo, perdemos a dimensão do outro, que é quem

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primeiro nos revela nossos lados ocultos. Expressamos o contato nas mais variadas formas:

através do que experimentamos, do como experenciamos, do para que existimos, e, numa

síntese desses momentos, podemos transcender por intermédio da sensação de uma totalidade

conseguida.(Ribeiro, 2006/2007)

No mundo do trabalho o líder está a todo o momento tocando nesta parte, ou seja, na relação

existencial continua com seus subordinados, desta forma é primordial conhecer a si mesmos,

para poder agir com o outro exercendo seu papel com responsabilidade sobre sua equipe e

para com a organização.

O contato conforme descrito por D’ Acri ,TICHA, e Orgler (orgs.2012) pode transformar,

curar, é um dar atenção necessária para compreender o outro na sua real necessidade. O líder

que olha no olho de seu liderado, que está presente no momento da tarefa, respeitando o outro

em suas limitações, colocando-se para ajudar, acolhendo em momentos difíceis, orientando de

maneira humana quando necessário e desenvolvendo autogestão em seus liderados, promove

não só contato saudável, como um ambiente favorável para trabalho extraindo o melhor de si

mesmo e da equipe.

O grande desafio do líder é saber liderar suas emoções e sentimentos, conhecer

profundamente quem ele é, no seu mais intimo “Eu” a Gestalt-Terapia esta a serviço da

humanidade e do humano, desta forma conhecer suas bases teóricas nos ajudará no mundo

trabalho, mas conhecer quem somos, nos transformará em homens melhores, pessoas mais

integradas e conscientes do nosso sentido de vida e existência no mundo.

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4. Considerações finais

No mundo de hoje cada vez mais competitivo e tecnológico, temos percebido que as relações

humanas estão fragilizadas e superficiais, voltadas a um sentido capital. As organizações com

seus resultados e metas acabam por construir sujeitos alienados ao mundo do ter é não do ser,

a Gestalt vem na sua maneira de ver o homem e o mundo trazer luz a uma forma mais humana

nas relações como um todo.

O líder do futuro será aquele que conseguir enxergar que máquinas precisam apenas de peças

sendo a maneira mais lógica de funcionamento, porém para que tudo funcione neste mundo é

preciso do ser humano, este que é complexo na sua forma de existir e se fazer mundo,

entender de gente é o segredo do sucesso, saber quais são suas necessidades, e aonde eu posso

ajudar, farão com que os líderes do futuro possam ser pessoas melhores e profissionais

brilhantes.

A Gestalt-terapia com seus fundamentos teóricos e práticos é mais uma ferramenta para

ajudar não só os líderes do trabalho, mas a serem pessoas de existência, com sentido claro do

nosso dever neste mundo, pois nós só estamos de passagem, que possamos passar de maneira

saudável para eu e para o outro.

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