A Contemporaneidade Da Música Brasileira

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    Fruto da semente tropicalista plantada em 1968, emmovimento liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, amúsica brasileira contemporânea tem hoje sotaque planetá-rio.Referência mundial de padrão estético desde que a BossaNova agregou ao samba elementos do jazz,a partir de 1958,a música brasileira interage cada vez mais com os sons univer-sais sem perder as suas características básicas. João Gilbertovoltou ao Carnegie Hall, em junho,para celebrar os 40 anosdo célebre concerto que popularizou naquele palco america-no, em escala mundial, a velha bossa, mas a MPB – siglaque carimba a produção fonográfica nacional desde os anos60 – já representa aos olhos do Mundo muito mais do que osamba sincopado de João Gilberto,Tom Jobim e Cia.

    Terra natal de João Gilberto, a Bahia é também o maiorceleiro dessa interação da música brasileira contemporâneacom o Mundo. Foi lá que o batuque de blocos afro como

    Mauro Ferreira

    Martinho da Vila

    Olodum se fundiram com a batida do reggae esamba-reggae, ritmo que é a célula-máter da músicmente rotulada como axé-music.Analisada com pdentro de seu próprio país de origem,por ser prodpiração de compositores negros, a axé-music tevdiluída no Brasil pela indústria fonográfica – que repertório dos compositores baianos em sucessivxados discos ao vivo – mas seu ritmo impera nasBahia e o som de seus tambores ecoa nos quatroMundo. Astros como Paul Simon e Michael Jarecrutaram o batuque do Olodum. E Daniela Mercantora que propagou com mais ênfase a músicpartir dos anos 90 – desenvolve sólida e progress

    internacional.A Bahia ainda dá as cartas no mercado nacilevada em conta a origem de ícones da MPB com

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    Veloso,Gilberto Gil e João Gilberto, além do sucesso popu-lar dos intérpretes de axé-music, como a cantora IveteSangalo – mas o sotaque planetário da música brasileira sefaz ouvir em cada canto do Brasil. No Recife, o falecidoChico Science fez história nos anos 90 quando, a bordo deseu grupo, a Nação Zumbi, reprocessou o maracatu, ritmonativo, com linguagem pop. Nascia o Mangue Beat, ouMangue Bit, como também é chamado o movimento maisinfluente da música brasileira na última década. A reboquedo sucesso de Science, outros grupos aprofundaram a suareceita – caso do Mundo Livre S/A – e a cena musical do

    Recife foi revitalizada, com o aparecimento de muitae repercussão em todo o Brasil e até no exterior.

    Fenômeno semelhante ao de Pernambuco, mas restrito ao Espírito Santo, aconteceu mais recentemeVitória, a capital do Estado. O grupo Casaca arrastadões estimadas em 30 mil pessoas para ver seus shreceita, no caso,é tocar o congo (tradicional ritmo cacom a mesma linguagem pop com que Chico Scienum banho de loja no maracatu.Atenta ao fenômeno ba,a gravadora multinacional Sony Music contratou o

    Chico César

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    Casaca e está lançando em escala nacional o segundo disco dabanda, na esperança de projetar a versão pop do congo emtodo o Brasil.Enquanto isso, o Maranhão se torna a Jamaicanacional e de lá exporta o reggae de grupos como Tribo de Jah.

    Por conta desses fenômenos locais, segmentação e plu-ralidade se tornaram as palavras-chaves da música brasileiracontemporânea.O mercado musical trabalha hoje com dife-rentes fatias de público.Se o samba aindadá o tom nos quin-tais do Rio de Janeiro, com muita repercussão nos pagodesarrmados em São Paulo, a música gaúcha continua restritaao Rio Grande do Sul, Estado caracterizado pela autosufi-

    Chico Science

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    ciência e independência do seu mercado local.E é eslidade permite o aparecimento de compositores cparaibano Chico César e o pernambucano Lenine. Atemperam as matrizes dos ritmos nordestinos com pop eletrônico e, não por acaso, Chico César e Lendois dos artistas mais bem-sucedidos no exterior. Tafaz sucesso no exterior uma cantora carioca que soubninguém soar universal cantando samba, balada, popquer ritmo. Seu nome? Marisa Monte, uma das campvendas no mercado fonográfico brasileiro.

    Na ala pop, fortalecida no mercado contempodesde 1982,quando o estouro da Blitz abriu o mercao rock nacional, a repercussão externa é bem menorpelo fato de a maioria dos grupos reproduzir em seuestética universal do rock. Mas é inegável a importcena nacional de grupos como Titãs, Barão VermParalamas do Sucesso,esta a primeira banda a mesclabrasileiros com reggae e rock, já em 1986.

    Os grupos de rock desempenharam, a partir dos80, o papel revolucionário feito pela estupenda geraçlada nos anos 60, quando despontaram nomes comoBuarque, Edu Lobo,Paulinho da Viola, Milton Nasci(estrela quase solitária no céu mineiro),Martinho da V já citados Caetano e Gil. Hoje, estes compositores pro

    de forma menos profícua e, não raro, dedicam-se a revisionistas,mas é essencial a importância deles partrução e solidificação da música brasileira contempo

    Aos olhos do Mundo,o Brasil é cada vez mais recdo pela sua produção nacional.E este reconhecimentse limita ao visual exótico de Carmen Miranda ouà bBossa Nova, que bebeu nas águas do jazz americanisso,foi rapidamente assimilada nos Estados Unidos.ca brasileira contemporânea hoje tem identidade própincorporar sotaque pop,esta rica música nacional,lon

    diluir, fica cada vez mais forte para conquistar o mun

    Mauro Ferreira,37 anos,é jornalista,crítico e pesquisador mAtua no mercado desde 1987. Foi repórter e crítico de MPB dcarioca O Globo de 1989 a 1997, ano em que foi convidado a no jornal carioca O DIA, onde assina até hoje a coluna Estúdnovidades do meio musical.Paralelamente, Mauro faz críticas para a revista IstoÉGente, de circulação nacional.

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