A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM ORGANIZAÇÕES...

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A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM ORGANIZAÇÕES DE ALTA ROTATIVIDADE: UM ESTUDO DE CASO SOBRE EMPRESAS JUNIORES Diana Vieira de Carvalho Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso Rio de Janeiro Setembro de 2016

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A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM

ORGANIZAÇÕES DE ALTA ROTATIVIDADE: UM

ESTUDO DE CASO SOBRE EMPRESAS JUNIORES

Diana Vieira de Carvalho

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia de Produção da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM

ORGANIZAÇÕES DE ALTA ROTATIVIDADE: UM

ESTUDO DE CASO SOBRE EMPRESAS JUNIORES

Diana Vieira De Carvalho

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

________________________________________________

Prof. Vinícius Carvalho Cardoso, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Adriano Proença, D. Sc.

________________________________________________

Prof. Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti, D. Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO de 2016

Carvalho, Diana Vieira de

A Construção do Conhecimento em Organizações de Alta

Rotatividade: Um Estudo de Caso Sobre Empresas Juniores/

Diana Vieira de Carvalho – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola

Politécnica, 2016.

X, 42 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Produção, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 51-52.

1. Construção do Conhecimento. 2. Alta Rotatividade 3.

Empresas Juniores. I. Cardoso, Vinícius Carvalho. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de

Engenharia de Produção. III. A Construção do Conhecimento

em Organizações de Alta Rotatividade: Um Estudo de Caso

Sobre Empresas Juniores.

Agradecimentos

Agradeço imensamente à minha mãe Lucia Sendim não só pelo apoio e incentivo durante a

elaboração deste trabalho, mas por todo o aprendizado que me permitiu chegar até aqui.

Agradeço ter como exemplo uma mãe que nunca parou de aprender.

Agradeço também ao Vinícius, pelo excelente trabalho de orientador e principalmente por

todo o carinho e transparência a todos os momentos.

Agradeço ao Marcelo, por dividir comigo as felicidades e angustias do processo, sempre

paciente e amoroso.

E, por fim, agradeço aos meus amigos queridos do curso de Engenharia de Produção que

dividiram comigo vivências que deixarão muita saudade.

Diana Vieira de Carvalho

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM ORGANIZAÇÕES DE ALTA ROTATIVIDADE:

UM ESTUDO DE CASO SOBRE EMPRESAS JUNIORES

Diana Vieira de Carvalho

Setembro/2016

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso, D. Sc.

Curso: Engenharia de Produção

Resumo: O trabalho estuda a construção do conhecimento em organizações de alta

rotatividade de membros trazendo uma análise sobre empresas juniores. A empresa júnior

Fluxo Consultoria é utilizada como unidade de análise em um estudo de caso e é investigado

como ocorre a construção do conhecimento na Organização. O trabalho traz os resultados

dessa análise e algumas sugestões de como melhorar a construção do conhecimento na

Organização, baseado no referencial teórico apresentado e nas particularidades da Empresa.

Palavras-chave: Construção do Conhecimento, Alta Rotatividade, Empresas Juniores

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

THE KNOWLEDGE CREATION IN ORGANIZATIONS WITH HIGH TURNOVER RATES: A

CASE STUDY OF A JUNIOR ENTERPRISE

Diana Vieira de Carvalho

September/2016

Advisor: Vinícius Carvalho Cardoso, D. Sc.

Course: Industrial Engineering

Abstract: This paper study the knowledge creation in organizations that have high

turnover rates through the analysis of student organizations. The junior enterprise Fluxo

Consultoria was selected as case study and its process of knowledge creation was

investigated. The paper shows the results of this analyses and some suggestions on how to

improve knowledge creation at the organization, based on the theoretical background and the

organization's particularities.

Keywords: Knowledge Creation, High Turnover Rate, Junior Enterprise

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11

1 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 13

1.1 MÉTODO ......................................................................................................... 13

1.2 O PROCESSO ................................................................................................. 14

1.3 CRITÉRIOS DE BUSCA E RESULTADOS ...................................................... 15

1.3.1 Critérios de busca: rotatividade de funcionários ou membros ...................... 15

1.3.2 Critérios de busca: organizações estudantis ................................................. 15

1.3.3 Critérios de busca: construção do conhecimento organizacional ................ 16

1.3.4 Critérios de busca: continuidade do conhecimento ...................................... 16

1.4 CONCLUSÕES ................................................................................................ 17

2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 21

2.1 DO CONHECIMENTO INDIVIDUAL AO CONHECIMENTO

ORGANIZACIONAL .............................................................................................. 21

2.2 A GESTÃO DO CONHECIMENTO ..................................................................... 23

2.3 CULTURA ORGANIZACIONAL E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO APRENDIZADO

.............................................................................................................................. 24

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................... 27

3.1 PROTOCOLO DE ESTUDO DE CASO .................................................................... 28

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 29

4.1 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA ............................................................................ 29

4.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E MODO DE OPERAÇÃO ................................. 29

4.3 SUCESSÃO DE CARGOS ........................................................................................ 32

4.4 RECRUTAMENTO, TREINAMENTOS E CAPACITAÇÕES ...................................... 32

4.5 MISSÃO E CULTURA ORGANIZACIONAL .............................................................. 33

4.6 PROCESSOS E PADRÕES ................................................................................................. 34

4.7 MUDANÇA E INOVAÇÃO ..................................................................................................... 34

4.8 CONHECIMENTO E INFORMAÇÃO .................................................................................. 35

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO ..................................................................................... 39

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 49

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 51

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INTRODUÇÃO

Dentro das universidades é possível encontrar uma série de organizações compostas

exclusivamente ou majoritariamente de estudantes, como centros acadêmicos, grupos de

estudo, grupos de pesquisa e empresas juniores. A passagem dos estudantes por essas

organizações costuma acontecer durante um período de tempo curto já que normalmente

envolve objetivos temporários e necessariamente está restrita à permanência desses

estudantes dentro dos cursos da universidade. Além disso, grande parte das organizações

estudantis tem como objetivo principal o desenvolvimento dos estudantes e buscam impactar

um grande número deles.

Consequentemente, as organizações estudantis sofrem alta rotatividade de seus

membros. Em outros tipos de organização, uma alta rotatividade pode vir a ser uma

característica temporária e indesejada, fruto de baixa valorização dos funcionários, ou outros

fatores. Porém, nas organizações estudantis a rotatividade deve ser vista como uma

característica e não uma condição temporária, já que se encontra na essência desse tipo de

organização, e até mesmo em seu propósito.

Tendo a alta rotatividade dos membros como uma característica essencial, as

organizações estudantis possuem o grande desafio de construir conhecimento organizacional

tendo um grupo de membros em constante mutação, o que engloba o desafio de evitar que

esse conhecimento organizacional vá embora junto com os membros que partem a cada

período letivo.

Para investigar melhor esse fenômeno, este estudo traz um estudo de caso sobre a

construção do conhecimento organizacional em uma empresa júnior sediada na Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Apesar do estudo se restringir ao caso de uma única

empresa júnior, espera-se que este possa ser útil para investigar a construção do

conhecimento em outros tipos de organização que sofrem alta rotatividade, principalmente

aquelas que não estão interessadas em eliminar essa rotatividade, e sim em garantir uma

excelência apesar dela.

Este estudo apresenta seis capítulos. O primeiro capítulo trata da revisão da literatura

e busca identificar onde está a teoria em relação aos assuntos investigados e coletar

referências pertinentes ao estudo. O segundo capítulo traz um referencial teórico que guia a

elaboração deste trabalho e o terceiro capítulo traz a metodologia que foi seguida durante sua

elaboração. O capítulo quatro traz os resultados das coletas de dados do estudo de caso

proposto, que por sua vez são desdobradas em uma análise e discussão sobre a Empresa

12

analisada e é apresentado no quinto capítulo. Finalmente, o sexto capítulo traz as

considerações finais que concluem o presente estudo.

13

1 REVISÃO DA LITERATURA

Para selecionar as referências mais pertinentes a este estudo, foi realizada uma

revisão da literatura em relação aos principais tópicos abordados, que incluem a construção

do conhecimento organizacional, a rotatividade e as particularidades do tipo de organização

estudado. Neste capítulo são apresentados o método e o processo que foram aplicados e as

conclusões que foram derivadas.

1.1 MÉTODO

Na tabela abaixo estão expostos os assuntos que foram investigados e as palavras-

chave que guiaram o processo. A escolha dessas palavras chave foi baseada em uma revisão

bibliográfica preliminar, sem o rigor de uma revisão sistemática, e também considerando

algumas fontes primárias, como o livro Enabling Knowledge Creation (VON KROGH et al,

2000), o artigo The Knowledge-Creating Company (NONAKA e TAKEUCHI, 1995), assim

como o livro A Quinta Disciplina (SENGE, 2009).

O assunto da continuidade do conhecimento, entretanto, não estava no planejamento

inicial e foi adicionado ao longo do processo. O assunto surgiu durante a leitura de alguns

artigos sobre a rotatividade de funcionários e se mostrou extremamente relevante ao estudo

e, portanto, adicionado como um dos assuntos a ser abordado durante esta revisão. Em todos

os casos foram utilizados termos de busca em inglês para que um universo maior de estudos

acadêmicos fosse contemplado.

QUADRO 1 – Assuntos e Palavras Chave

Assunto Palavras Chave

Construção do Conhecimento

Organizacional

knowledge Creation | Knowledge-Creating

Learning Organization | Organizational Learning

Knowledge Management

Knowledge Enabling | Knowledge Enablers

Organizações Estudantis Student organization

Student Enterprise

Rotatividade de

Funcionários/Membros

Employee Turnover

Staff Turnover

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Continuidade do Conhecimento Knowledge Continuity

O processo que foi seguido durante a revisão literária é composto por 5 etapas,

conforme proposto por Junior e Silva (2016) e ilustrado na figura abaixo. Essas etapas são:

(1) a busca por referências; (2) a coleta das referências para um repositório organizador; (3)

a filtragem das referências; (4) o relato dos resultados; (5) o controle do processo, em paralelo

com as etapas anteriores e documenta o trajeto de realização do Mapeamento Sistemático.

FIGURA 1: Processo de Mapeamento Sistemático

FONTE: Junior e Silva (2016)

Sabendo que existem muitos subtemas dentro dos assuntos estudados, a revisão da

literatura foi conduzida buscando-se integrar os três assuntos principais para que fosse

possível focar nos subtemas mais relevantes e atingir uma perspectiva holística. Por exemplo,

dentro do tema “rotatividade de funcionários”, o subtema das causas da alta rotatividade de

funcionários não foi abordado por não ser relevante ao presente estudo.

1.2 O PROCESSO

Foi realizada uma busca na base CAPES em agosto de 2016 utilizando um filtro que

limitava a busca a materiais do tipo artigo. As buscas relacionadas ao tema de rotatividade de

funcionários e membros e ao tema de continuidade do conhecimento foram limitadas a

publicações dos últimos dez anos e as demais buscas foram limitadas a publicações dos

últimos cinco anos, buscando-se reduzir o número de resultados e possibilitar que a revisão

15

da literatura fosse concluída dentro do tempo de projeto disponível. A partir dos resultados

selecionados também foram realizadas algumas buscas manuais nas referências

bibliográficas de alguns artigos, quando se mostrou relevante.

As palavras chave foram inseridas de acordo com as seguintes combinações:

employee + turnover, staff + turnover, student + organization, student + enterprise, knowledge

+ creation, knowledge + creating, learning + organization, organizational + learning, knowledge

+ management, knowledge + enabler, knowledge + enabling e knowledge + continuity.

1.3 CRITÉRIOS DE BUSCA E RESULTADOS

Os seguintes critérios foram utilizados para guiar a inclusão ou não dos artigos

encontrados em relação a cada tema investigado:

1.3.1 Critérios de busca: rotatividade de funcionários ou membros

Em relação às buscas dentro do tema de rotatividade de funcionários e membros,

foram consideradas apenas as referências relacionadas aos conceitos de aprendizado,

conhecimento e sucessão, ou referências que englobavam o universo de organizações

estudantis. Com isso foram excluídas as demais referências, que focavam em assuntos fora

do interesse deste estudo, como a investigação sobre as intenções ou causas da rotatividade

de funcionários ou sobre formas de prevenção da mesma.

Como resultado da busca foram selecionados trinta e nove artigos a partir do título,

foram eliminados dois artigos que se encontravam repetidos e, após a leitura do resumo ou

da introdução dos mesmos, foram selecionados quatro artigos que se enquadravam nos

critérios de seleção e foram considerados relevantes ao tema deste estudo.

1.3.2 Critérios de busca: organizações estudantis

Em relação às buscas relacionadas a organizações estudantis, buscou-se incluir

apenas as referências relacionadas aos temas de aprendizado e conhecimento, ou a aspectos

relacionados à rotatividade de membros e ciclos de vida dessas organizações. Também foram

16

incluídas referências que pudessem ajudar a entender as particularidades deste tipo de

organização.

Dos sete artigos selecionados dois encontravam-se repetidos, um não foi encontrado

e um encontrava-se em língua estrangeira fora do domínio da pesquisadora. Os três artigos

restantes foram excluídos após a leitura dos resumos ou da introdução. Um deles tratava de

organizações de estudantes dentro de sala de aula, outro tratava da construção de um

ambiente de e-learning e o terceiro focava na criação de uma comunidade empreendedora,

nenhum apresentando aspectos relevantes a estudo proposto.

1.3.3 Critérios de busca: construção do conhecimento organizacional

Em relação às buscas relacionadas ao tema construção do conhecimento

organizacional, foram consideradas apenas as referências que poderiam ajudar a responder

a uma ou mais das seguintes perguntas:

Como acontece a construção do conhecimento em organizações?

O que é a construção do conhecimento organizacional?

Como promover a construção de conhecimento organizacional?

Dos artigos que se encontravam dentro dos critérios de inclusão, foram ainda

eliminados aqueles que respondiam às perguntas apresentadas acima, mas relacionados a

um contexto muito específico e diferente daquele que está sendo estudado. Também foram

eliminados artigos que respondiam a uma ou mais das perguntas apresentadas acima, mas

que focavam unicamente em sistemas da informação ou ciência da informação de forma muito

técnica, sem se relacionar com outros aspectos organizacionais.

Como resultado foram selecionados 125 artigos a partir do título, foram eliminados

doze artigos que se encontravam repetidos e, após a leitura dos resumos, esse número foi

reduzido a vinte e sete artigos. Por ainda ser um número grande de artigos para o tempo

disponível de projeto, foi realizada uma leitura preliminar dos artigos selecionados e esse

número foi reduzido para quatorze artigos.

1.3.4 Critérios de busca: continuidade do conhecimento

17

Foram selecionados artigos que falavam sobre organizações e possuíam um foco em

gestão do conhecimento ou na construção do conhecimento organizacional. Foram excluídos

os artigos que se enquadravam nos critérios mencionados, mas que apresentavam um

enfoque em trocas de cargo dentro de uma mesma empresa.

Como resultado foram selecionados nove artigos a partir da leitura dos títulos. Destes,

sete artigos foram eliminados após a leitura do resumo e dois artigos foram selecionados para

compor o conjunto de referências pertinentes a esta pesquisa.

1.4 CONCLUSÕES

Nesta pesquisa bibliográfica foram analisados vinte artigos científicos que atenderam

aos critérios de inclusão estabelecidos previamente, sendo quatro deles relacionados ao tema

de rotatividade de funcionários, dois relacionado ao tema de continuidade do conhecimento

em organizações e quatorze relacionados ao tema de construção do conhecimento em

organizações.

Em relação a organizações estudantis, a conclusão obtida foi que, no universo de

tempo investigado, nenhuma das referências publicadas apresentou informações que

pudessem ajudar a entender como uma organização estudantil funciona ou a investigar as

particularidades de uma organização estudantil sob a ótica da construção do conhecimento.

Quanto ao tema de rotatividade de funcionários, foi possível perceber que inúmeras

iniciativas no meio acadêmico focam em entender as causas de uma alta rotatividade e como

prevenir esse fenômeno, subtemas que não são do interesse deste estudo e foram

desconsiderados. Outros artigos que também ficaram de fora da seleção tratavam da

perspectiva do indivíduo dentro do fenômeno da rotatividade de funcionários, investigando os

aspectos que levam um funcionário a ter a intenção de deixar uma organização, assim como

formas de medir e quantificar essa intenção.

A partir da leitura dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos

foi possível observar que todos consideram que um grande problema da rotatividade é a perda

de conhecimento decorrente da saída de funcionários. Porém, Grensing-Pophal (2006) e

Urbancová e Linhartová (2011), afirmam que existe um lado positivo na rotatividade de

funcionários e que o fenômeno pode sim levar a resultados desejáveis, visto que novos

funcionários podem contribuir com novas ideias, novas abordagens e uma experiência vinda

de outras vivências.

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Todos os estudos mencionam a importância de lidar com a rotatividade de funcionários

de forma estratégica e citam a gestão do conhecimento como parte dessa solução. Enquanto

Grensing-Pophal (2006) foca essa gestão estratégica na necessidade de reter funcionários

chave para a Organização, os demais artigos focam na necessidade de capturar e disseminar

o conhecimento dos indivíduos antes que os mesmos deixem a Organização.

Nesse sentido, Urbancová e Linhartová (2011) introduzem o conceito de continuidade

do conhecimento, como uma forma de gerenciar a transferência de conhecimento crítico e

garantir a preservação do conhecimento organizacional. De acordo com Fidalgo et al (2012)

e Weinstein (2010), é possível observar também a importância dada à tecnologia da

informação como parte da solução de gestão do conhecimento.

Na revisão sobre o assunto de continuidade do conhecimento, ambos os artigos que

atenderam aos critérios estabelecidos propõem um processo ou metodologia para garantir a

continuidade do conhecimento em organizações que apresentam algumas similaridades.

Os dois processos consideram a importância de ser seletivo na hora de definir quais

conhecimentos são realmente importantes para a Organização e devem ser retidos, e

propõem uma etapa de transferência desse conhecimento crítico que foi anteriormente

mapeado. Ambos os processos também dão grande importância para uma última etapa que

garanta que o conhecimento seja integrado de volta aos processos e rotinas da Organização,

garantindo o reuso do conhecimento retido.

É possível observar um foco específico no processo de transferência de conhecimento,

sendo que Levy (2011) foca mais na transferência de conhecimento na forma de documentos,

enquanto Urbancová (2012) menciona uma variedade maior de métodos e formas de transferir

conhecimento, como reuniões informais, vídeos, aprendizado direto, entre outros, embora não

mencione em momento algum as diferenças entre conhecimento tácito e explícito.

No geral, o assunto de continuidade do conhecimento não apresentou grandes

novidades em relação ao tema da gestão do conhecimento e as conclusões consideradas

mais importantes para este estudo foram a ênfase no mapeamento de qual seria o

conhecimento mais importante para a organização e onde ele se encontra, assim como a

importância de reintegrar esse conhecimento em processos e rotinas que garantam a sua

retenção.

A partir da leitura dos artigos sobre conhecimento organizacional que atenderam aos

critérios de inclusão estabelecidos foi possível observar que grande parte deles possuem

como motivação ao estudo do tema o fato das organizações estarem vivenciando hoje uma

economia baseada no conhecimento. Nesse ambiente competitivo, usar de forma efetiva o

19

conhecimento organizacional é visto como uma forma de sustentar uma vantagem

competitiva. (ODELIUS e DE CASTRO SENA, 2014; HANDZIC e DURMIC, 2015; OMOTAYO,

2015; ALSINA e VARGAS, 2015; BUTA, 2015; BORDEIANU, 2015; CHIRUMALLA e PARIDA,

2016)

Muitos autores mencionam o fato de existirem diferentes concepções acerca de

conhecimento organizacional e, para ilustrar isso, Alvarenga Neto e Rivadávia (2008) citam

uma série de termos utilizados por alguns autores ao tratarem desse assunto, como “gestão

do conhecimento”, “comunidades da prática”, “gestão estratégica do capital intelectual”,

“inteligência competitiva”, “aprendizado organizacional” e alguns outros, ilustrando uma

variedade de perspectivas.

Também é possível notar que, apesar de existirem diferentes concepções sobre

conhecimento organizacional e gestão do conhecimento, diversos dos artigos selecionados

(ALVARENGA NETO et al, 2011; ALVARENGA NETO e RIVADÁVIA, 2008; ODELIUS e DE

CASTRO SENA, 2014; GUTA et al, 2012), estão alinhados com o conceito proposto por Von

Krogh et al (2000), de que é preciso criar condições e contextos habilitadores para garantir a

criação do conhecimento organizacional. Alvarenga Neto et al (2011) concluem que o conceito

de ba proposto por Von Krogh et al (2000) é uma condição indispensável à criação do

conhecimento organizacional.

Outro conceito presente em muitos dos artigos é a ideia de que as organizações

precisam se tornar organizações que aprendem, fomentando uma cultura do aprendizado.

(HERNÁNDEZ e SANABRIA, 2012; ODELIUS e DE CASTRO SENA, 2014; BORDEIANU,

2015; CHIRUMALLA e PARIDA, 2016; ANDOLŠEK e ANDOLŠEK, 2015). De acordo com

Andolšek e Andolšek (2015), uma cultura inapropriada pode agir como uma barreira

organizacional para a construção do conhecimento. Bordeianu (2015) afirma que desenvolver

uma cultura do aprendizado é o ponto de partida da organização que aprende e, além de ser

um componente essencial de um ambiente que suporta o conhecimento, a cultura do

aprendizado garante o desenvolvimento da gestão do conhecimento na organização, que,

segundo o autor, é uma prática que não sobreviveria sozinha.

20

21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A partir do que foi concluído na revisão da literatura, elaborou-se este capítulo, que

trata do referencial teórico que vai guiar o estudo. Ele está dividido em três subseções que

tratam respectivamente da construção do conhecimento organizacional a partir de

conhecimentos individuais, da gestão do conhecimento nas organizações, e sobre o papel da

cultura organizacional na institucionalização do aprendizado nas organizações.

2.1 DO CONHECIMENTO INDIVIDUAL AO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL

Segundo Nonaka e Kono (1998), existem duas dimensões do conhecimento tácito:

uma dimensão técnica, muitas vezes referida como o “know-how”, e uma dimensão cognitiva

que se traduz em crenças, ideais, valores, esquemas e modelos mentais e molda a forma

como percebemos o mundo. O conhecimento tácito, e principalmente sua dimensão cognitiva,

encontra-se profundamente integrado nas pessoas à medida que está enraizado em suas

ações, experiências, ideais, valores e emoções. (NONAKA e KONO, 1998)

Apesar de apresentar características que o tornam difícil de ser compartilhado com os

outros, o conhecimento tácito é considerado por Von Krogh et al (2000) o ponto de partida na

criação de conhecimento organizacional e de qualquer tipo de conhecimento novo. De acordo

com o autor, a criação do conhecimento é um processo social tanto quanto um processo

individual e está incorporado também na interação entre as pessoas, e no convívio com o

ambiente. (VON KROGH et al, 2000)

“A criação de conhecimento organizacional, portanto, deve ser entendida como um processo que amplifica “organizacionalmente” o conhecimento criado por indivíduos

e os cristaliza como parte da rede de conhecimento da organização”. (NONAKA e TAKEUCHI, 1995)

Essa ideia é apresentada na teoria da criação do conhecimento organizacional

proposta por Nonaka e Takeuchi (1995). Os autores sugerem um modelo ilustrado na figura

2, apelidado por alguns autores de modelo SECI, que pretende representar como de fato

acontece a criação do conhecimento organizacional a partir de conhecimentos individuais.

22

Figura 2 - Modelo SECI Fonte: adaptada de Nonaka e Takeuchi (1995)

De acordo com o modelo SECI, a criação do conhecimento organizacional acontece

por meio de uma interação dinâmica e contínua entre conhecimento tácito e explícito, gerando

quatro diferentes processos: socialização (tácito em tácito), externalização (tácito em

explícito), combinação (explícito em explícito), e internalização (explícito em tácito). Segundo

os autores, esses processos podem ser descritos da seguinte forma:

Socialização se refere ao compartilhamento e disseminação de conhecimento

tácito através de interações envolvendo proximidade, ao invés de instruções

verbais ou escritas. Esse processo acontece, por exemplo, quando um aprendiz

ganha conhecimento ao observar uma pessoa mais experiente realizar uma

tarefa.

Externalização diz respeito à articulação e expressão de conhecimento tácito

através da tradução do mesmo em formas mais compreensíveis. A externalização

permite que as intenções e ideias de um indivíduo sejam compartilhadas com um

grupo e provoquem reflexão coletiva.

A etapa de combinação procura desenvolver o conhecimento explícito,

aumentando sua complexidade. Isso acontece através de três processos: a

captura e integração de conhecimento explícito, sua disseminação, e seu

processamento para que se torne mais utilizável, através, por exemplo, de

relatórios e documentos.

Por último, a etapa de internalização trata da transformação do conhecimento

explícito em conhecimento tácito organizacional, que ocorre quando o

conhecimento é incorporado em ações e práticas da organização.

(NONAKA e TAKEUCHI, 1995)

23

2.2 A GESTÃO DO CONHECIMENTO

Apesar do aprendizado individual ser indispensável ao aprendizado organizacional, o

aprendizado individual não garante que o aprendizado organizacional realmente ocorra

(SENGE, 2009). De acordo com Bordeianu (2015), é papel da gestão do conhecimento ajudar

a empresa a tornar seu capital humano - ou seja, competências, expertise, know-how,

experiência de mercado, e todo o capital pertencente às pessoas que compõe a organização

- em capital intelectual.

Em uma definição mais prática, Von Krogh et al (2000) afirmam que o objetivo da

gestão do conhecimento é o de estimular profissionais individuais a realizarem um bom

trabalho ao mesmo tempo em que capturam seus conhecimentos e os transformam em algo

que a organização possa usar, como novas rotinas, novas percepções sobre clientes ou

conceitos para novos produtos.

Como conhecimento é um ativo intangível, Von Krogh et al (2000) apresentam a ideia

de que o papel dos gestores não é o de controlar a criação do conhecimento, e sim dar suporte

para que ela aconteça. Alvarenga Neto e Rivadávia (2008) afirmam que a palavra “gestão”

quando associada a “conhecimento” deve ser compreendida como a promoção ou o estímulo

para a construção e compartilhamento de conhecimento organizacional.

A gestão do conhecimento deve garantir que a organização apresente um contexto

operacional adequado para a criação do conhecimento, e que o mesmo aconteça de forma

eficiente e efetiva (VON KROGH et al, 2000). Guta et al (2012) também suportam essa ideia

afirmando que os gestores devem estar cientes dos fatores que facilitam ou inibem o

aprendizado organizacional para que possam tomar medidas que criem condições favoráveis

para que o aprendizado organizacional ocorra.

Von Krogh et al (2000) chamam isso de facilitar a criação do conhecimento, o que

inclui facilitar relacionamentos e conversas, assim como o compartilhamento de conhecimento

local através da organização ou além de suas fronteiras, impulsionando o processo de

criação. Os autores adaptaram o conceito Japonês de “ba” para se referir a um contexto

facilitador.

O conceito de ba parte do princípio de que o uso do conhecimento exige a

concentração de recursos do conhecimento em um certo espaço e tempo e pode ser definido

como “um lugar onde o conhecimento é compartilhado, criado e utilizado” (NONAKA e KONO,

1998; VON KROGH et al, 2000). Mas um ba não precisa ser necessariamente um espaço

24

físico, ele pode combinar aspectos de espaços físicos, virtuais e mentais, desde que seja uma

rede de interação entre os participantes. (VON KROGH et al, 2000)

As interações que estão no coração do ba podem ocorrer em diversas situações como

em uma reunião de departamento, durante um exercício de brainstorm, em um retiro

empresarial, em interações pela internet, ou mesmo em situações informais fora do espaço

de trabalho. (VON KROGH et al, 2000)

Segundo Nonaka e Kono (1998), existem quatro tipos mais comuns de ba e cada um

deles suporta um processo particular de conversão do conhecimento. Esses processos

suportados pelos diferentes tipos de ba são os mesmos incorporados no modelo SECI que

garantem a interação entre conhecimentos tácito e explicito, culminando na construção do

conhecimento organizacional. Os mesmos podem ser definidos da seguinte forma:

A Criação suporta o processo de socialização e é um tipo de ba onde os

“indivíduos compartilham sentimentos emoções e experiências” e está

estritamente ligado à visão e à cultura da organização.

A Interação é um ba que suporta a externalização de conhecimento tácito,

representando o processo de externalização.

O ba virtual suporta o processo de combinação através de um ambiente virtual.

Um ambiente colaborativo que permite interações coletivas e garante a

combinação de conhecimento explícito de forma eficiente.

A Execução facilita a conversão de conhecimento explícito em tácito suportando

o processo de internalização.

(NONAKA e KONO, 1998)

Como cada empresa apresenta suas particularidades, o modo operacional de uma

organização deve estar de acordo com os tipos de interação que se deseja promover e que

sejam adequados para a construção do conhecimento naquele contexto. Podem existir casos

em que seria interessante enfatizar processos de socialização, e outros em que uma ênfase

em ba virtual e em atividades de documentação sejam mais adequados. (VON KROGH et al,

2000)

2.3 CULTURA ORGANIZACIONAL E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO APRENDIZADO

Buta (2015) apresenta ideias semelhantes em relação à gestão do conhecimento e

sua função de suporte às transformações entre conhecimento tácito e conhecimento explícito.

25

O autor complementa que para se tornar uma organização que gerencia a construção do

conhecimento é preciso construir uma cultura que tenha esse foco, ou seja, uma cultura

baseada no conhecimento.

Qualquer unidade social que compartilhe uma história terá desenvolvido uma cultura,

o que significa também que existe algum nível de estabilidade estrutural no grupo, já que a

cultura não é apenas algo compartilhado, mas também algo que define o grupo, algo estável.

(SCHEIN, 2009). Schein (2009) define cultura como:

“(...) um fenômeno dinâmico que nos cerca em todas as horas, sendo constantemente desempenhada e criada por nossas interações com outros e moldadas por comportamento de liderança, e um conjunto de estruturas, rotinas,

regras e normas que orientam e restringem o comportamento. “ (SCHEIN, 2009)

Schein (2009) afirma que quando um grupo vivencia situações e resolve problemas

internos e externos à organização são compartilhadas uma série de suposições básicas que

compõe a cultura desse grupo e são estáveis no sentido de que são difíceis de mudar. Esse

padrão de suposições é o que determina grande parte do comportamento do grupo e acaba

influenciando todos os aspectos de uma organização.

A cultura pode ser conectada a um histórico de aprendizagem, uma vez que é formada

através do aprendizado do grupo e é também passada para novos membros através de

processos de socialização. A cultura é refletida em ensinamentos sobre o modo correto de

perceber, sentir e pensar dentro do contexto daquela organização. (SCHEIN, 2009)

Quando o conceito e os processos de aprendizagem fazem parte da cultura, os

membros da organização são vistos como solucionadores de problemas e aprendizes

proativos que refletem e experimentam não só em relação ao ambiente externo, mas também

em relação aos relacionamentos internos da organização. Uma cultura da aprendizagem

requer que tempo e recurso sejam dedicados para a construção de conhecimento. (SCHEIN,

2009)

Schein (2009) afirma que uma cultura da aprendizagem requer que os membros da

organização possam se conectar e interagir, posicionando a comunicação e a informação

como aspectos centrais. De acordo com o autor, os membros do grupo não devem ser apenas

capazes de se conectar, mas devem tornar-se sensíveis às informações relevantes a uma

tarefa e se tornar o mais aberto possível em compartilhá-la.

Uma ideia semelhante é apresentada por Andolšek e Andolšek (2015), que

mencionam a importância de tornar o compartilhamento de conhecimento em um processo

institucional. De acordo com o autor, quando as atividades de gestão do conhecimento

tornam-se parte da estrutura de valores e normas da organização, os processos de

26

compartilhamento do conhecimento tornam-se uma orientação duradoura e persistente aos

membros da organização.

Os autores mencionam termos como “cultura”, “valor”, “estrutura”, “normas”,

“processos”, “regras”, “políticas” e “rotinas” ao se referir a aspectos institucionais que devem

direcionar as atividades de compartilhamento de conhecimento, e afirma que “(...) as

organizações devem desenvolver políticas de compartilhamento do conhecimento,

suportadas por orientações de valor, regras e normas. Esses são padrões de valor

específicos, que interpretam e influenciam orientações e interações entre pessoas”

(ANDOLŠEK e ANDOLŠEK, 2015)

27

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Dentre as diferentes estratégias de pesquisa, o estudo de caso foi o método

selecionado para o desenvolvimento deste estudo. Essa escolha se baseou no fato de que os

estudos de caso representam uma estratégia adequada para pesquisas que colocam

questões do tipo “como” ou “por que” e quando o foco se encontra em fenômenos

contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (YIN, 2015)

A escolha da organização estudada levou em conta dois critérios principais: A

maturidade da organização – organizações com mais tempo de vida foram priorizadas por

apresentarem potencial de ter uma estrutura mais estável que facilitará o estudo - e a

facilidade de contato – organizações que se mostraram mais abertas a contribuir com o estudo

foram priorizadas.

Para guiar o estudo de caso proposto foi elaborado um protocolo de estudo de caso a

partir das conclusões obtidas na etapa de revisão da literatura e nos conhecimentos

enfatizados na base teórica do trabalho. A partir da releitura desses capítulos iniciais buscou-

se desvendar quais aspectos de uma organização devem ser investigados para que o

processo de construção do conhecimento em uma organização de alta rotatividade possa ser

explicitado.

Entrevistas gravadas foram a principal fonte de evidência utilizada neste estudo de

caso. Um total de seis membros da organização foram entrevistados, sendo três membros

mais recentes, que estavam na organização há apenas três semanas, e três membros mais

antigos que ocupavam cargos diversos: Coordenador, Diretor e Vice-Presidente.

Posteriormente à realização das entrevistas alguns registros organizacionais em

arquivo também foram acessados para coletar informações complementares, para verificar

dados citados ou para confirmar algumas suposições. Os principais registros acessados foram

o organograma da Empresa, o mapeamento de alguns de seus processos, um edital de

candidatura à um dos cargos da Empresa, um edital de seleção de novos membros e um

estudo de clima organizacional.

28

3.1 PROTOCOLO DE ESTUDO DE CASO

Ao invés de perguntas bem definidas, as entrevistas foram feitas em cima de

direcionamento sobre o que se desejava investigar. Os seguintes aspectos foram incluídos no

protocolo e guiaram as entrevistas realizadas:

Características principais da cultura organizacional;

Interpretações individuais sobre a missão da organização;

Particularidades de uma organização estudantil que se encontra dentro de uma

universidade;

Práticas de gestão do conhecimento e suas particularidades;

Os conhecimentos críticos da organização;

Os atores da organização detentores de conhecimentos críticos;

Aprendizado organizacional;

Aprendizado individual dentro da organização;

Como a organização lida com mudança e qual seu histórico de mudanças;

Espaços de interação dentro da organização – físicos e virtuais;

O modo de operação da organização em relação a:

o Pessoas, com foco em rotatividade, tempo de permanência, atores externos

e experiência anterior;

o Processos, com foco na rigidez ou flexibilidade dos mesmos, os processos

mais importantes, revisão e melhoria de processos e processos de

transferência de conhecimento;

o Tecnologia, com foco em compartilhamento e comunicação, transparência,

armazenamento, acesso e utilização de informações.

29

4 RESULTADOS

Este capítulo se destina a apresentar o que foi levantado a partir das entrevistas e

outros métodos de investigação e está dividido em oito subseções, a primeira contendo uma

apresentação geral da Empresa e as demais agrupando informações sobre outros aspectos

organizacionais que foram considerados relevantes ao estudo.

4.1 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA

A Fluxo Consultoria foi criada em 1993 por alunos dos cursos de Engenharia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é considerada hoje uma empresa júnior de

referência no mercado nacional. A Fluxo tem sua sede na Escola Politécnica e conta com o

apoio da Universidade, de seus departamentos e alguns de seus laboratórios vinculados.

A Fluxo Consultoria realiza projetos de consultoria em engenharia há vinte e três anos,

inclusive para clientes de grande porte como a Odebrecht, Vale e Marinha do Brasil. Além da

excelência, um dos objetivos principais da organização é o desenvolvimento de seus

membros e da engenharia nacional.

Atualmente a organização conta com noventa e cinco membros, sendo que vinte e

nove destes, ou seja, aproximadamente trinta por cento, entraram na Empresa

aproximadamente três semanas antes da data das entrevistas. Essa rotatividade se repete

semestre a semestre de forma voluntária à medida que os membros deixam a organização.

A média de permanência de um membro na organização é de 396 dias e a maioria deles cursa

entre o primeiro e o sexto período da faculdade de engenharia.

4.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E MODO DE OPERAÇÃO

Para entender como a Fluxo funciona é preciso caracterizar não apenas sua estrutura

organizacional interna, mas também sua relação com alguns atores complementares e atores

externos que têm participação fundamental no dia a dia da Empresa. A figura 3, apresentada

abaixo, foi elaborada para ilustrar esses relacionamentos.

30

Figura 3 - Estrutura Organizacional, Atores Complementares e Atores Externos – Elaboração própria

O coração operacional da Empresa é organizado matricialmente de forma que cada

membro pertence ao mesmo tempo a uma diretoria e uma coordenação. As diretorias

representam divisões funcionais do trabalho, e seu conjunto é formado pelas seguintes

Diretorias: Marketing, Pessoal, Projetos e Administrativo Financeiro. As coordenações, por

sua vez, dizem respeito às subdivisões dentro da engenharia, no sentido de que cada

coordenação lida com projetos relativos ao campo de estudo de uma ou mais engenharias –

algumas são agrupadas devido ao alto número de subdivisões.

Acima dessa estrutura matricial existe ainda o presidente, o vice-presidente, e a

assessoria de qualidade, que é coordenada pelo vice-presidente. Esses atores trabalham com

uma visão mais holística da Organização e estão voltados ao desenvolvimento interno da

Empresa. A assessoria de qualidade é responsável, por exemplo, pela coleta e análise de

indicadores de performance, pela gestão do conhecimento, por propor e analisar melhorias

em processos, pelo mapeamento de processos e pela busca de inovação.

Um assessor de qualidade é alocado em cada diretoria e fica responsável por

acompanhar os grupos de e-mail e as reuniões dessa diretoria, por coletar indicadores de

desempenho e analisa-los junto com o diretor e por cuidar das planilhas e documentos da

área. O assessor possui um momento durante algumas reuniões quando pode levantar algum

tema, propor melhorias a processos e colher feedbacks. De acordo com a Vice-Presidente, o

objetivo é ter os olhos da qualidade dentro de cada diretoria.

31

Em relação aos atores complementares, é imprescindível ressaltar a importância dos

estagiários e dos professores orientadores. Todo projeto iniciado pela Fluxo vai contar com

um professor orientador, que será um professor da UFRJ que tenha a expertise necessária

ao projeto, e com pelo menos um estagiário que é contratado temporariamente para

desenvolver o projeto. Os estagiários também são alunos da UFRJ, mas de períodos mais

avançados e que já tenham os conhecimentos necessários ao projeto.

Da forma como está estruturada a Organização, os membros efetivos não

desenvolvem os projetos, apenas os gerenciam e fazem o relacionamento com os clientes.

Toda a parte técnica é desenvolvida pelos estagiários. Os professores orientadores têm a

função de avaliar se o projeto está sendo bem conduzido contribuindo com sua experiência

naquele campo de conhecimento e também são responsáveis por assinar a aprovação técnica

de alguns projetos que exigem esse rigor.

Durante o desenvolvimento dos projetos são realizadas diversas reuniões com o

professor orientador e com os estagiários e, apesar dos mesmos serem os responsáveis pela

parte técnica do trabalho, os gerentes precisam estudar para adquirir um conhecimento sobre

o assunto suficiente para que saibam gerenciar efetivamente o projeto e avaliar seus

resultados.

Outro ator complementar importante para a Fluxo é o Conselho Consultivo, um

conselho formado por antigos integrantes da Fluxo. Esse conselho participa de uma reunião

mensal junto ao presidente, ao vice-presidente, diretores e coordenadores onde são

apresentados dados sobre o desempenho da Empresa e sobre o andamento das diversas

ações iniciadas por cada uma das diretorias. De acordo com a Vice-Presidente da Empresa,

o conselho é importante pois seus membros trazem uma experiência de mercado que falta à

Organização, ao mesmo tempo em que estão familiarizados com a Empresa e suas

particularidades.

Por último, é preciso mencionar o relacionamento que a Fluxo mantém com outras

organizações estudantis dentro da UFRJ. Além de algumas parcerias com centros

acadêmicos e equipes de competição de naturezas diversas, a Fluxo participa do Movimento

Empresa Júnior (MEJ), que tem como objetivo formar, por meio de uma cultura

empreendedora e inovadora, profissionais capacitados para transformar o país. Como parte

do movimento acontece anualmente o Encontro Nacional de Empresas Juniores (ENEJ), que

se propõe a ser um espaço de desenvolvimento e integração para os membros do MEJ.

Uma das atividades estimuladas pelo MEJ é o compartilhamento de casos de sucesso

entre empresas juniores. Os membros da Fluxo são frequentemente estimulados a

32

elaborarem cases onde descrevem um problema enfrentado pela Organização e como o

mesmo foi superado. Esses cases podem ser submetidos nos encontros regionais e

concorrem a premiações no evento.

4.3 SUCESSÃO DE CARGOS

Quando um aluno se torna membro efetivo da Organização ele recebe duas funções,

uma relacionada à diretoria e outra relacionada à coordenação onde ele foi alocado, podendo

atuar como assessor ou gerente de projetos ou em outras atividades secundárias da Empresa.

Um membro fica em média um ano nesses cargos.

Uma vez dentro da Organização, os membros efetivos podem se candidatar e

concorrer via processo seletivo interno para os cargos de coordenador, de diretor ou a uma

das vagas na presidência. Caso selecionado, o membro ganha direito ao cargo durante um

ano, ao final do qual ocorre um novo processo seletivo. Os membros que chegam a ocupar

esses cargos de liderança permanecem na Empresa em média dois anos.

O não preenchimento de algum dos cargos de liderança acontece com certa

frequência e pode ser resultado ou da falta de candidatos ou da falta de preparo dos

candidatos disponíveis. Atualmente o Diretor de Projetos está ocupando também dois cargos

de coordenador, resultado da falta de candidatos preparados. De acordo com o Diretor de

Projetos, o preparo de um candidato pode acontecer pontualmente por iniciativa voluntária de

algum líder da empresa quando um membro mostra interesse. Porém não existe nenhum

direcionamento institucional quanto a isso nem nenhum tipo de trilha formativa ou qualquer

procedimento formal.

4.4 RECRUTAMENTO, TREINAMENTOS E CAPACITAÇÕES

De seis em seis meses acontece o Processo de Admissão de Membros Efetivos

(PAME), destinado a selecionar candidatos para a atribuição de Membro Efetivo da Fluxo

Consultoria. O processo é composto por uma prova, uma dinâmica de grupo, uma entrevista

individual e duas semanas de capacitação.

A capacitação é dada pelos próprios membros da Organização que já possuem mais

experiência. Durante essa capacitação os novos membros aprendem sobre os processos e

rotinas da Organização relativos à diretoria e à coordenação na qual eles serão alocados.

33

Durante essas semanas cada candidato vai trabalhar em um projeto fictício no qual vai aplicar

o que é ensinado. Muitas vezes os candidatos recebem projetos em áreas do conhecimento

diferente da que eles estudam para facilitar na avaliação dos novos membros.

Membros antigos da Organização também participam das semanas de capacitação

caso estejam mudando de diretoria ou de coordenação, o que é feito via processo seletivo

interno. Além dessa capacitação inicial a Empresa promove capacitações esporádicas fruto

de parcerias com outras empresas ou promovidas por membros do conselho.

Quando indagados sobre sua motivação de participar da Fluxo Consultoria todos os

membros entrevistados citaram o desenvolvimento pessoal como um forte incentivo. Outras

motivações citadas foram a possibilidade de extensão da rede de relacionamentos e

amizades, e a importância curricular, visto que a Fluxo é vista como uma empresa estudantil

de renome.

4.5 MISSÃO E CULTURA ORGANIZACIONAL

A Missão da Fluxo Consultoria é voltada ao desenvolvimento e capacitação de seus

membros e é interpretada exatamente dessa forma por todos os membros entrevistados, até

mesmo os membros mais jovens, que estavam na Empresa há apenas três semanas. Esse

amplo conhecimento sobre a missão da Organização pode estar relacionado ao fato da

mesma ser frisada logo durante a semana de capacitação, que é onde diversos aspectos da

cultura da Organização já são reproduzidos também.

Foram levantadas três características principais em relação à cultura da Fluxo:

cooperação, aprendizado e resultados. Essas características culturais foram notadas em

todos os entrevistados, até mesmo nas perguntas que não buscavam desvendar a cultura da

Organização.

A cultura de cooperação está representada no ávido interesse dos membros da

Organização em trabalhar em equipe e em ajudar na formação de outros membros. Existe um

sentimento de time e de companheirismo que colaboram para esse espírito cooperativo. O

fato de todos os membros serem estudantes de graduação parece contribuir com esse

aspecto, visto que todos se veem como iguais, independente do cargo que ocupam.

A cultura voltada ao aprendizado pode ser percebida na motivação dos membros em

usar a experiência de trabalhar na Fluxo como um meio de se desenvolver e ganhar

conhecimento e experiência. Existe também uma cultura forte de dar feedbacks constantes

34

para os membros mais novos, durante todo o desenvolvimento dos projetos. Essa cultura

pode ser vista enraizada no modo de operação já que uma prática perpetuada na Organização

é a de pesquisar e estudar projetos antigos que sejam similares a um novo projeto que está

começando.

A cultura de resultados pode ser associada à grande ênfase que a Empresa bota em

suas metas de performance, que são traçadas anualmente. Todos os entrevistados

mencionaram a superação das metas ano a ano para justificar porque consideravam que a

Fluxo estava aprendendo e evoluindo como empresa. Foi possível observar também que as

metas geram nos membros da Organização grande motivação e dedicação em atingir os

resultados esperados.

4.6 PROCESSOS E PADRÕES

O Funcionamento da Fluxo é todo baseado em processos, rotinas e padrões bem

definidos. De acordo com a Vice-Presidente da Empresa é isso o que garante um padrão de

qualidade no trabalho realizado apesar da alta rotatividade de membros. A padronização na

Fluxo vai desde a definição do processo a ser seguido durante as atividades principais da

Organização – prospecção de clientes, contratação de estagiários, candidatura a projetos,

gestão de projeto, encerramento de projeto, desligamento de membros ...– até à padronização

de documentos. Segundo a Vice-Presidente da Empresa, nem todos os procedimentos estão

registrados, mas os membros possuem um bom conhecimento sobre os mesmos e não

exibem nenhum tipo de dificuldade em segui-los.

Diversos momentos de encontro entre membros também são protocolados. Todos os

membros participam de uma Reunião Geral uma vez por mês; cada diretoria possui uma

reunião semanal com seus membros; a reunião com os membros do conselho também

acontece mensalmente, dentre outras. Além dessas reuniões, a Organização promove um

encontro semestral de imersão quando todos os membros passam um final de semana fora

do Rio de Janeiro trabalhando e socializando.

4.7 MUDANÇA E INOVAÇÃO

Os membros da Organização veem a Fluxo como uma empresa aberta a críticas e

sugestões de mudança em relação a seu funcionamento, seus processos e rumo da

35

Organização. Os membros mais jovens julgam ser de responsabilidade dos membros mais

antigos avaliar se as sugestões são relevantes, já que eles possuem maior conhecimento

sobre a Empresa.

De acordo com a Vice-Presidente, realmente existe espaço para enviar propostas de

mudanças e é papel da assessoria de qualidade analisar se as mesmas são viáveis ou não.

Porém, ela afirma que chegam poucas sugestões e geralmente vindas das mesmas pessoas.

A maior parte é enviada por membros que acabaram de entrar na Organização.

Como parte dessa iniciativa de coletar sugestões de melhoria a Empresa promove um

torneio semestral intitulado Top Five que busca selecionar as melhores ideias. Em cada

edição são propostos alguns temas baseados nos problemas que a Fluxo está enfrentando e

os membros podem enviar ideias de mudanças para cada categoria. As cinco melhores ideias

ganham um prêmio e são postas para debate. Porém, de acordo com a Vice-Presidente, a

quantidade de ideias recebidas nas últimas edições do torneio vem sendo baixa, comparado

a edições anteriores.

Apesar dos esforços para coletar ideias e sugestões a Vice-Presidente afirma que a

Empresa possui dificuldades em implementar as mudanças selecionadas. Ela inclusive citou

que já ouviu de um membro da Fluxo que ele não enviava ideias para o Top Five porque não

via as ideias sendo implementadas.

A Vice-Presidente contou que participou de uma grande mudança na Empresa quando

o sistema de dados foi implementado e afirmou que houve grande resistência dos membros

em adotar os novos procedimentos e em aprender a usar o sistema. Um aspecto benéfico

desse processo foi ter sido implementado pouco antes da entrada de novos membros que

não sabiam diferenciar o novo sistema dos procedimentos antigos e acabaram auxiliando a

mudança.

4.8 CONHECIMENTO E INFORMAÇÃO

Quando indagados sobre o conhecimento crítico da Organização, os entrevistados

apresentaram a ideia de que os integrantes mais antigos são os maiores detentores de

conhecimento dentro da Empresa e são vistos pelos membros mais recentes como uma fonte

de conhecimento de fácil acesso. Porém, os membros mais novos mencionaram que ainda

não sabem mapear exatamente a quem recorrer para tirar certas dúvidas.

36

O compartilhamento de conhecimento dentro da Organização é visto como uma

atividade rotineira e fácil de acontecer. O fato de todos serem amigos e estarem em um

contexto similar foi citado como um fator que facilita as trocas porque torna os membros da

Organização acessíveis uns aos outros, independentemente de suas posições dentro da

Organização.

Essa cooperação em geral acontece de modo informal e através de iniciativas

espontâneas. Foi citado que muitas vezes depois de participar de alguma capacitação um

membro avisa aos outros membros e marca uma hora para compartilhar o que aprendeu com

quem estiver interessado. Essa comunicação acontece por meio de grupos formados em

diferentes recursos de comunicação.

A Empresa utiliza tecnologias como e-mail, WhatsApp, Skype e Telegram como canal

de comunicação entre seus membros. Além de grupos envolvendo todos os membros da

Fluxo, essas tecnologias também são utilizadas para formar grupos focais de trabalho. As

diretorias e coordenações possuem grupos específicos envolvendo seus membros e, sempre

que um projeto é iniciado, são formados grupos com os participantes daquele projeto para

facilitar o fluxo de comunicação. Apesar da segregação em grupos, é do entendimento de

todos os entrevistados que qualquer canal de comunicação dentro da Empresa pode ser

acessado por todos, caso exista interesse.

As interações fora do mundo virtual acontecem tanto dentro da Empresa quanto pelos

corredores da UFRJ, onde a Empresa está alocada. A estrutura física da Organização é bem

pequena em relação à quantidade de membros: atualmente com mais de noventa membros

a fluxo conta com um espaço de aproximadamente 100m². Para lidar com a falta de espaço

os membros se revezam na utilização do espaço físico marcando plantões de trabalho em

horários alternados e dão prioridade de uso aos estagiários que estão trabalhando em projetos

e aos cargos de liderança. De acordo com um dos entrevistados a estrutura física limita um

pouco o espaço de socialização entre os membros, mas o fato da Empresa estar dentro da

UFRJ ajuda já que esses momentos de socialização podem acontecer em outros espaços

anexos.

Além do conhecimento dos membros mais antigos, todos os entrevistados citaram a

importância do conhecimento que a Fluxo detém em relação a projetos antigos. A Vice-

Presidente contou que a Empresa começou a ser rígida em relação à documentação de seus

projetos desde 2003, quando sofreu uma grave crise e quase faliu devido a problemas legais

que poderiam ser evitados com uma documentação apropriada.

37

Desde então a Empresa trata com grande seriedade a documentação de seus projetos

e implantou há menos de dois anos um sistema de gerenciamento de banco de dados (SGBD)

para facilitar a inclusão, alteração ou consulta das informações armazenadas. A ferramenta é

muito utilizada para pesquisa de projetos semelhantes ou na busca de informações sobre qual

professor orientador é mais adequado para determinado projeto, ou sobre a performance de

determinado estagiário durante alguma parceria com a Empresa.

De acordo com os membros as informações sobre um projeto são inseridas ao longo

do seu andamento e é uma responsabilidade do gerente do projeto. Os assessores por sua

vez possuem a responsabilidade de realizar uma auditoria semanal para verificar se todas as

informações foram inseridas corretamente e passar essa informação no grupo de e-mails

daquela coordenação. Caso o gerente não atualize os dados algumas vezes seguidas ele

perde pontos na ferramenta de controle de membros utilizada pela Empresa.

Todos os membros entrevistados apontaram a ferramenta como uma importante fonte

de informação, principalmente para estudar sobre projetos antigos e evitar repetir erros.

Porém, a Vice-Presidente afirmou que ainda é preciso fortalecer a cultura de manter os

registros atualizados. Segundo a entrevistada, os processos de apoio muitas vezes não são

registrados por não terem um processo de controle formal como no caso dos documentos de

projeto. Um dos entrevistados também mencionou que o que é registrado pode não ajudar em

alguns casos, como quando ele quis entender o que antigos membros sentiram ao lidar com

uma situação de crise e encontrou apenas registros de ações tomadas ou documentos

produzidos.

38

39

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO

Este capítulo vai apresentar uma análise da situação atual da Fluxo Consultoria em

relação à construção do conhecimento organizacional. Para auxiliar a análise, foram

levantadas dezessete práticas que, de acordo com a revisão bibliográfica e com os

conhecimentos levantados no referencial teórico, são práticas importantes para garantir a

construção do conhecimento em organizações de alta rotatividade. No quadro 2, apresentado

abaixo, são indicadas cada uma das práticas mencionadas, a avaliação da Fluxo em relação

a essa prática e a justificativa dessa avaliação. O desenvolvimento e cada um dos critérios

dentro da Fluxo foi avaliado e ilustrado com nenhuma, uma, duas ou três estrelas para facilitar

a leitura do nível de desenvolvimento encontrado.

QUADRO 2 - Avaliação das práticas da Fluxo Consultoria em relação à Construção do Conhecimento

Prática Organizacional Avaliação da

Fluxo Embasamento da Avaliação

A organização aproveita aspectos

positivos da rotatividade, como as

novas ideias, novas abordagens

e a experiência trazida por novos

membros.

Pouco

desenvolvido

A Organização possui rotinas de coleta de

ideias e sugestões que se estende aos

membros mais novos. Porém, não existe

ênfase em valorizar esses novos olhares e

frequentemente o que é coletado não chega a

ser desenvolvido além da ideia.

A organização consegue reter

funcionários chave apesar da

rotatividade.

Pouco

desenvolvido

Os processos de candidatura aos cargos de

liderança são uma rotina da Fluxo com esse

direcionamento já que buscam manter por

mais tempo os membros mais bem

capacitados. Porém, diversas vezes os cargos

de liderança não são preenchidos por falta de

candidatos ou pelo despreparo dos mesmos.

Existem processos formais de

captura e disseminação do

conhecimento tácito dos

indivíduos que vão deixar a

organização.

Não

desenvolvido

Não existe uma preocupação especial com a

retenção de conhecimento tácito durante o

processo de desligamento de membros da

Fluxo.

40

Prática Organizacional Avaliação da

Fluxo Embasamento da Avaliação

A organização utiliza Tecnologias

da Informação como parte da

solução de gestão do

conhecimento.

Amplamente

desenvolvido

A Tecnologia da Informação é amplamente

usada para garantir a comunicação e

compartilhamento entre membros. A TI

também é utilizada para armazenamento,

edição e busca de informações através do

SGBD implantado na Organização.

Conhecimentos mapeados como

importante para a organização

são capturados e retidos.

Pouco

desenvolvido

O histórico dos projetos é considerado pela

Organização um ativo muito valioso e é

armazenado em banco de dados. Também

acontece com frequência a coleta de ideias e

sugestões de melhoria a processos e rotinas.

Inclusive, ao solicitar ideias relacionadas a

situações críticas que a Empresa está

vivendo, a Fluxo ajuda a capturar

conhecimentos considerados realmente

importantes para seu contexto. Porém, o

registro dos projetos não engloba aspectos

tácitos do conhecimento gerado, e também

não existe nenhum esforço adicional em

capturar esse conhecimento tácito no

processo de desligamento de membros. Por

fim, a retenção do conhecimento capturado

também está fragilizada na empresa, uma vez

que a mesma apresenta dificuldades em

implementar melhorias.

A organização reusa os

conhecimentos retidos através da

integração dos mesmos em

processos e rotinas.

Pouco

desenvolvido

A assessoria de qualidade busca fazer a

revisão de processos e rotinas de acordo com

aprendizados identificados, porém, a

Organização muitas vezes não é eficaz na

implantação e a integração não ocorre.

41

Prática Organizacional Avaliação da

Fluxo Embasamento da Avaliação

A organização desenvolve

contextos facilitadores (ba) que

suportam processos de

Socialização.

Amplamente

desenvolvido

Entre os membros efetivos os momentos de

socialização ocorrem naturalmente e com

frequência. Apesar do espaço físico limitado

da Empresa, sua localização dentro da

universidade acaba sendo estratégica por

permitir o uso de espaços adjacentes que

garante a convivência dos membros mesmo

em contextos não relacionados ao trabalho

desenvolvido pela Organização. Também é

importante mencionar a convivência intensa

entre membros antigos e novos durante as

semanas de capacitação. A estrutura matricial

do núcleo operacional também se mostrou

favorável à promoção de momentos de

socialização uma vez que novos membros

acabam sendo obrigados a socializar com

mais pessoas da Organização. Momentos de

socialização também ocorrem entrem

membros de diferentes empresas juniores

durante os encontros regionais e nacionais

promovidos pelo MEJ. O desenvolvimento da

maioria dos projetos também envolve

processos de socialização com os clientes,

principalmente pelos estagiários.

42

Prática Organizacional Avaliação da

Fluxo Embasamento da Avaliação

A organização desenvolve

contextos facilitadores (ba) que

suportam processos de

Externalização.

Desenvolvimento

suficiente

O modo operacional da Fluxo inclui uma série

de reuniões periódicas entre os membros,

com estagiários e professores orientadores e

com membros do conselho consultivo que

suportam processos de externalização.

Também acontece uma reunião geral com

todos os membros uma vez por mês.

Assessores de qualidade da Empresa se

mostram presentes em diversas dessas

reuniões para captar os conhecimentos

externalizados e coletar outros feedbacks.

Também podemos citar o Top Five, o torneio

de ideias como um processo de

externalização que ocorre periodicamente.

Porém, um ponto que ainda precisa ser

desenvolvido é o suporte à externalização nos

momentos de desligamento de membros.

A organização desenvolve

contextos facilitadores (ba) que

suportam processos de

Combinação.

Desenvolvimento

suficiente

Foi possível identificar alguns contextos que

suportam processos de combinação como as

construções colaborativas de documentos que

contam com muitas trocas de feedback entre

os membros; todo desenvolvimento dos

projetos e seus entregáveis; os relatórios e

estudos organizacional que são desenvolvidos

internamente; as fichas de avaliação e

relacionamento de estagiários e professores

orientadores; assim como os casos

elaborados para os encontros promovidos

pelo MEJ.

43

Prática Organizacional Avaliação da

Fluxo Embasamento da Avaliação

A organização desenvolve

contextos facilitadores (ba) que

suportam processos de

Internalização.

Pouco

desenvolvido

A Organização suporta contextos facilitadores

de internalização, porém sua é efetividade é

questionável. Existe um direcionamento da

Organização e a alocação de recursos para

atividades e processos que buscam a

internalização de aprendizados dentro da

Organização, como a revisão e melhoria de

processos e implantação de melhorias em

suas práticas e rotinas. Porém, a Empresa

aparenta ter dificuldades em implementar

mudanças e concretizar os processos de

internalização.

Os membros da organização

buscam transformar seus

aprendizados em algo que a

organização possa incorporar.

Pouco

desenvolvido

Embora o aprendizado e o desenvolvimento

individual sejam amplamente incentivados e

valorizados na Organização, não existe forte

preocupação com o retorno desse

aprendizado e sua incorporação na Empresa.

Uma hipótese é que a baixa quantidade de

ideias enviadas para o Top Five seja um

reflexo disso.

A organização acredita que o

papel dos gestores não é o de

controlar a criação do

conhecimento, e sim dar suporte

para que ela aconteça.

Pouco

desenvolvido

A Organização ainda baseia grande parte de

suas ações de gestão do conhecimento em

atividades de controle, principalmente controle

das informações que são armazenadas.

Comunicação e informação são

aspectos centrais no dia a dia da

organização e garantem que os

membros possam se conectar e

interagir.

Amplamente

desenvolvido

Utilizam tecnologias de comunicação de modo

eficaz e transparente garantindo conexão e

interação entre os membros.

Existem políticas de

compartilhamento do

conhecimento suportadas por

orientações de valor, regras e

normas.

Amplamente

desenvolvido

O compartilhamento entre os membros da

Organização é amplo e é suportado

principalmente pela cultura da Organização e

pela empatia que os membros compartilham

por estarem todos vivenciando contextos de

vida similares.

44

Prática Organizacional Avaliação da

Fluxo Embasamento da Avaliação

Os membros da organização são

sensíveis ao compartilhamento

de informações e conhecimentos

que julgam relevantes.

Amplamente

desenvolvido

Os membros da Organização demonstraram

sensibilidade em compartilhar conhecimentos

úteis ao desenvolvimento dos membros no

contexto da Organização. Membros do

conselho consultivo também demonstram

essa sensibilidade, aliada a um maior

conhecimento do mercado e dos

conhecimentos que possam ser úteis à

Organização.

A organização possui uma cultura

bem definida que é passada com

sucesso para os novos membros.

Amplamente

desenvolvido

A Organização não apenas apresenta uma

cultura forte, mas também é eficiente e eficaz

em transmitir essa cultura. Membros que

estavam na Organização há apenas três

meses demonstraram amplo entendimento e

alinhamento com a cultura da Organização,

da mesma forma que os membros mais

antigos.

A organização apresenta uma

cultura voltada ao aprendizado.

Amplamente

desenvolvido

Os membros da Fluxo demonstram forte

interesse e empenho em buscar o

desenvolvimento psessoal e da Organização.

Após a análise do que foi levantado e do quadro resumo que foi desenvolvido, é

possível notar que a Fluxo Consultoria está estrategicamente organizada para funcionar

apesar da grande rotatividade de membros. Isso acontece porque seu modo de operação

garante que projetos de excelência sejam entregues sem grande necessidade de retenção de

conhecimento técnico.

O envolvimento de professores orientadores e de estagiários nos projetos garante que

um conhecimento técnico seja temporariamente agregado à Organização e utilizado no

desenvolvimento dos projetos. O fato dos professores orientadores serem profissionais

altamente capacitados e pesquisadores dentro de seus campos de estudo garante ainda que

esse conhecimento técnico seja sempre um conhecimento atualizado e confiável. Nesse

sentido, é possível notar a importância que a Universidade tem como um estoque de

conhecimento.

45

Porém, essa forma de se estruturar traz ainda mais complexidade à Organização, já

que não apenas seus membros sofrem grande rotatividade, mas também os estagiários e

professores orientadores, que possuem um vínculo temporário com a Organização. Tudo isso

exige muita coordenação, e é nessa coordenação que a Fluxo direciona grande parte de seus

esforços.

A Empresa é toda estruturada em cima de rotinas e processos bem definidos, tanto

em relação aos processos de gestão de projeto quanto às suas atividades secundárias.

Inclusive, essa rigidez não se limita aos macroprocessos, grande parte do funcionamento da

Empresa está mapeado e desdobrado ao nível de ações e procedimentos rotineiros. Isso

também facilita o treinamento de novos membros e a manutenção do funcionamento da

Organização apesar dos constantes e robustos movimentos de entrada e saída de membros.

A manutenção da cultura da Organização também se mostrou muito importante para

assegurar estabilidade em relação às orientações de valor compartilhadas, e a Fluxo se

apresentou capaz de manter uma cultura forte apesar da rotatividade. Pôde-se observar que

os membros da Organização compartilham grande empatia por estarem vivenciando

contextos similares, e isso parece contribuir para que ocorram muitos momentos de

socialização. Durante esses momentos, conhecimento tácito é compartilhado, contribuindo

para a perpetuação da visão e cultura da Empresa.

A cultura da Organização também está estritamente ligada ao aprendizado. O

desenvolvimento pessoal foi amplamente citado como uma das motivações dos membros em

se juntarem à Organização e essa orientação, pode ser notada ainda além dimensão

individual. A Organização também apresenta dentro de sua estrutura diversos processos e

rotinas voltados para o desenvolvimento e crescimento organizacional.

Os cargos de liderança e a assessoria de qualidade executam um papel importante

para o desenvolvimento e aprendizado da Organização, uma vez que buscam rever processos

e coletar conhecimentos locais para incorporar nos processos e rotinas. O conselho consultivo

também contribui apresentando um conhecimento de mercado que os membros da

Organização não possuem, aliado a um conhecimento sobre a Organização e seu histórico

de desenvolvimento durante um período maior de tempo.

Porém, apesar de ter esse foco no aprendizado e garantir uma cultura, uma estrutura

e processos voltados para tal, a Organização demonstrou dificuldades em concretizar

melhorias. As causas dessa falta de efetividade na implantação de mudanças não foram

investigadas mais a fundo, mas, uma hipótese que pode ser levantada é que sejam uma

consequência da rigidez da Organização em processos e procedimentos.

46

Durante as entrevistas, a Vice-Presidente da Fluxo apresentou um conhecimento,

baseado em vivência própria, de que a implementação de mudanças pode ser facilitada caso

a Empresa utilize estrategicamente os períodos de maior rotatividade, quando ocorre a

entrada de novos membros que não sabiam diferenciar novos procedimentos de

procedimentos antigos.

Além do potencial de melhorar a efetividade das mudanças na Organização, essa

prática pode ter um efeito secundário em relação ao aumento do engajamento dos membros

no desenvolvimento da Empresa. Uma vez que passem a acreditar mais na capacidade da

Empresa em desdobrar propostas em melhorias, é provável que os membros se tornem mais

motivados, por exemplo, a enviar ideias para o Top Five, e se tornem mais ativos em

transformar conhecimentos locais em algo que a Organização possa utilizar para se

desenvolver e aprender.

Esse é um excelente exemplo de um conhecimento tácito que a Organização deveria

internalizar para que se torne um conhecimento duradouro que não será perdido quando a

atual Vice-Presidente deixar a Empresa. A Fluxo Consultoria precisa melhorar sua capacidade

em transformar este e outros insights em direcionamentos Institucionais para que a

construção do conhecimento atinja a dimensão organizacional.

De forma geral, a Fluxo deveria voltar mais esforços para capturar o conhecimento

tácito de seus membros antes que os mesmos deixem a Organização, principalmente em

relação aos cargos de liderança, que estão mais focados no desenvolvimento interno da

Empresa e possuem membros com mais vivência organizacional. É importante que esse

direcionamento seja incorporado aos procedimentos de desligamento de membros, que hoje

em dia é tratado mais como uma formalidade do que como um instrumento de gestão do

conhecimento.

A construção do conhecimento na Fluxo também seria facilitada caso a Empresa

conseguisse manter alguns membros chave por mais tempo na Organização, porém, essa

pode ser uma prática que vai de oposição aos objetivos mais fundamentais da Empresa.

Manter alguns membros por mais tempo seria benéfico para garantir que a Empresa tenha

membros com maior vivência e maior potencial de propor e implementar mudanças e

melhorias efetivas na Organização. Porém, é preciso estar atento para que esta não se torne

uma prática que limite a experiência e o desenvolvimento proporcionado pela Fluxo a poucos

membros, restringindo o alcance do aprendizado que a Empresa oferece aos alunos da

Universidade.

47

Mesmo que não seja alterada a estrutura de sucessão de cargos atual, a Fluxo precisa

dedicar esforços para garantir que existam membros interessados e capacitados para assumir

os cargos de liderança da Empresa. Atualmente, mesmo existindo poucos cargos de liderança

comparado com o total de membros da Organização, muitas vezes os mesmos ficam vagos.

Como todos os membros possuem a forte motivação e meta de se desenvolverem

individualmente, a implementação de um processo de treinamento formal para esses cargos

pode ser interessante tanto para a Organização, pois aumenta as chances de existirem

profissionais capacitados concorrendo às vagas, quanto para os membros, que terão mais

uma chance de aprender e, mesmo que acabem não ocupando o cargo em questão, terão um

potencial maior de engajamento dentro da Organização.

De forma geral, é possível concluir que a Organização apresenta uma estrutura e uma

forma de operação que ilustram um direcionamento estratégico em lidar com a rotatividade

de seus membros e que consegue garantir seu funcionamento de forma satisfatória. A rigidez

em processos e rotinas e a capacidade de perpetuar uma cultura forte voltada ao aprendizado

e à cooperação se mostraram importantes para esse funcionamento pleno.

A construção do conhecimento organizacional também é uma preocupação da

Organização e sua estrutura engloba processos e rotinas voltados à captura de

conhecimentos locais e à integração desses conhecimentos na Empresa. Porém, em alguns

aspectos, as práticas de aprendizado organizacional são de efetividade limitada já que a

Empresa ainda possui alguma dificuldade em implementar as mudanças necessárias para

que os conhecimentos tácitos importantes sejam incorporados na Organização. Nesse

sentido, foram apresentadas algumas propostas e direcionamentos identificados como

potencialmente benéficos às fragilidades mapeadas.

48

49

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho foi desenvolvido segundo o método proposto e acredito que tenha

respondido às questões levantadas inicialmente, apresentando como acontece o processo de

construção do conhecimento em uma organização de alta rotatividade através de um estudo

de caso da Fluxo Consultoria.

Restringir o estudo de caso a apenas uma organização pode ser citada como uma das

limitações desse trabalho, que não apresenta conclusões com potencial de generalização.

Porém, a organização escolhida se mostrou adequada ao estudo proposto uma vez que

apresenta claramente os desafios da construção do conhecimento em uma organização

estudantil.

Os aspectos organizacionais levantados durante as entrevistas e coleta de dados se

mostraram suficientes para embasar a análise realizada e, apesar de suas limitações, eu

acredito que o estudo entregou com validade cientifica o que foi proposto.

O trabalho me trouxe a clareza de que a construção do conhecimento organizacional

depende da capacidade da organização em concretizar mudanças, visto que estas são o que

permitem que processos, rotinas e orientações da organização sejam modificados

incorporando aprendizados e perpetuando-os. Uma organização que aprende, portanto, é

uma organização que não apenas gera conhecimento, mas uma organização que também

incorpora esses conhecimentos em sua estrutura e seu modo de operação.

Essa interpretação levanta uma forte relação entre o processo de construção do

conhecimento organizacional e o processo de planejamento estratégico já que o planejamento

estratégico busca direcionar as mudanças que uma organização efetua. Essa conclusão

evidencia a oportunidade de ampliação deste estudo com a investigação sobre os processos

de planejamento estratégico da organização estudada.

O estudo também trouxe a relação entre rigidez organizacional e a dificuldade em

mudar. Uma hipótese que me despertou curiosidade e poderia ser melhor investigada é a de

que o contexto de rigidez em processos e rotinas possa condicionar os funcionários a

construírem conhecimento em relação a como executar as rotinas da melhor forma, enquanto

dificulta a construção de conhecimentos sobre como melhorar através da transgressão do

padrão.

É possível visualizar dois potenciais caminhos de desdobramento e extensão deste

estudo. O primeiro caminho seria a ampliação do conjunto de organizações estudantis

50

estudadas, para que sejam atingidas conclusões mais robustas sobre essa categoria. Nesse

sentido, seria necessário estudar mais a natureza dessas organizações para entender

exatamente quais características são compartilhadas entre elas e quais são as

particularidades da construção do conhecimento nas organizações estudantis.

Um outro caminho seria ampliar este estudo para um conjunto de organizações, não

necessariamente de natureza estudantil, que tenham a necessidade de conviver

estrategicamente com a alta rotatividade de funcionários. Como mencionado na introdução

do estudo, as organizações estudantis possuem essa particularidade de a rotatividade

precisar ser vista como uma característica e não uma condição temporária. Assim como as

organizações estudantis, outras organizações também podem apresentar essa característica,

seja na Organização como um todo, seja em um departamento específico.

Nesse sentido, espera-se que este trabalho possa ser útil para investigar a construção

do conhecimento em outros tipos de organização que sofrem alta rotatividade, principalmente

aquelas que não estão interessadas em eliminar essa rotatividade, e sim em garantir uma

excelência apesar dela.

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