A construção da presença em ambientes digitais - oportunidade e desafio para alunos e...
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A CONSTRUÇÃO DA PRESENÇA EM AMBIENTES DIGITAIS:
OPORTUNIDADE E DESAFIO PARA ALUNOS E INSTITUIÇÕES
Mónica Aresta
Luís Pedro
Carlos Santos
António Augusto Moreira
Universidade de Aveiro, Portugal
Resumo: Com o desenvolvimento da Web social, a Internet assume-se como uma plataforma assente na criação, partilha e transformação de conteúdos. Mais do que um curriculum vitae, a construção de uma presença na rede pode revelar à comunidade o conjunto das experiências e capacidades dos indivíduos. Partindo da reflexão sobre o conceito de literacia digital e do papel da rede enquanto espaço de construção de identidade, este trabalho apresenta os principais resultados de um estudo de caso desenvolvido na Universidade de Aveiro, com o objetivo de analisar a identidade online de um grupo de alunos de Mestrado numa plataforma suportada institucionalmente (SAPO Campus) e em dois espaços online informais (Facebook e Twitter). Quando a presença e participação na rede se inicia cada vez mais cedo, este trabalho poderá contribuir para a análise e reflexão sobre os processos de construção da identidade na rede e da sua importância para alunos e instituições.
Palavras-chave: Identidade online, literacias digitais, modelo de análise, SAPO Campus
Abstract: With the development of the social Web, the Internet emerges as a platform based on the creation, sharing and remaking of content. More than a curriculum vitae, online presence can reveal to the community the sum of the individual’s experiences and capabilities. Starting from a reflection on the concept of digital literacy and the role of the Web as a space of identity construction, this paper presents the main results of a case study developed at the University of Aveiro, aiming to analyse the online identity constructed by a group of students from a Master Degree Course in an institutionally supported platform (SAPO Campus) and two informal online spaces (Facebook and Twitter). When the presence and participation in online environments starts increasingly earlier, this paper may contribute to the discussion, analysis and reflection about the processes of online identity construction and its importance to students and institutions.
Keywords: Online identity, digital literacy, analysis model, SAPO Campus
A rede, cenário de manifestação de competências e de construção de identidade
Com o desenvolvimento da Web social, a Internet evoluiu de um meio veiculador de informação para
uma plataforma assente na criação, partilha e transformação de conteúdos. Num contexto caraterizado pela
ligação entre sistemas e utilizadores, a rede assume-se como um espaço onde pessoas e comunidades
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convergem e interagem e onde a identidade do indivíduo, enquanto aprendente, se estende ao seu percurso de
vida e aos diferentes espaços por onde e através dos quais constrói a sua aprendizagem. Em contexto
educativo, o software social encontra aplicações ao nível da comunicação e interação entre indivíduos ou
grupos, incentivando a construção do conhecimento para além do currículo e a sua partilha com a
comunidade. O incentivo à mestria tecnológica e ao domínio das ferramentas cede assim lugar à promoção de
competências digitais orientadas para o desenvolvimento de consciência crítica em relação ao conteúdo criado
e utilizado (Ala-Mutka et al., 2008), ou seja, ao desenvolvimento de literacias digitais.
O conceito de literacia na sociedade digital
No campo da investigação, têm sido várias as tentativas de expandir o conceito de “literacia” para além
do seu significado inicial, i.e., a capacidade de ler e escrever. Surgindo muitas vezes como um conceito
umbrella que engloba diferentes aspetos da integração e utilização da tecnologia na vida dos indivíduos e
instituições, a literacia digital – defendida como a capacidade de compreender e utilizar a informação em
múltiplos formatos, a partir de uma grande variedade de fontes e quando apresentada através de
computadores (Gilster, 1997, citado por Goodfellow, 2011 e Martin, 2008) – poderá abranger:
- práticas socialmente situadas suportadas por competências, estratégias e posturas que incentivam e
apoiam a capacidade de um indivíduo para representar e compreender ideias, utilizando várias modalidades e
ferramentas digitais (O’Brien e Scharber, 2008, citado por McLoughlin, 2011);
- a utilização criativa das tecnologias, incluindo a utilização das ferramentas para satisfazer
necessidades pessoais e profissionais (Martin, 2008; SNOCUL, 2006, citado por Bawden, 2008);
- o conhecimento necessário à gestão dos espaços digitais públicos e privados que possibilita a
construção de uma identidade capaz de traduzir o perfil e o percurso dos indivíduos, integrando assim as
dimensões académicas e profissionais das suas vidas (Costa e Torres, 2011).
Apresentando literacia como uma ideia adaptável e evolutiva, Martin (2008) defende que este conceito –
quando aplicado aos computadores e ao digital – terá ao longo das últimas décadas compreendido três níveis:
um primeiro, técnico e assente na mestria tecnológica, centrado no saber trabalhar com a tecnologia (até aos
anos 80); o segundo, da utilização crítica e contextualizada das ferramentas, ligações e recursos digitais (anos
80-90); e o terceiro, da reflexão crítica, concretizada na compreensão do impacto transformativo humano e
social das ações digitais (após os anos 90; nesta fase, as competências específicas são substituídas por
competências genéricas ou meta-skills, tais como a capacidade de aceder, de gerir e avaliar a informação de
forma a participar efetivamente na sociedade). Segundo o autor, a competência digital (i.e. o saber trabalhar
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com a tecnologia) deverá ser compreendida como um percursor e um pré-requisito para a literacia digital, só se
podendo falar verdadeiramente de literacia digital quando abordando os segundos e terceiros níveis.
A rede, espaço de construção da identidade
Quando a tecnologia possibilita ao aprendente a aquisição e desenvolvimento de competências
ajustadas às suas necessidades e às necessidades dos contextos em que se insere, a Web assume-se como
um espaço favorável à participação e à interação, um ambiente onde o aprendente pode construir uma
identidade plena e que engloba as presenças, aprendizagens e competências desenvolvidas ao longo do seu
percurso pessoal, académico e profissional.
Compreendida como um conceito que engloba a autenticação – a informação que valida a identidade
dos indivíduos nos sistemas digitais (Boyd, 2002; Clement, 2002; McAlpine, 2005) – e o conteúdo – a
informação que o indivíduo partilha na rede de forma a comunicar e interagir com os outros – a presença
digital dos indivíduos na rede pode ser reconhecida e traduzida na publicação de conteúdo (Coiro et al., 2008;
Zhao et al., 2008; Greenhow e Robelia, 2009; Greenhow et al., 2009; Costa e Torres, 2011); na criação de
perfis (Boyd, 2008; Greenhow e Robelia, 2009); e na tipologia de participação (Fraser, 2008).
Vista como um continuum (Warburton et al., 2010), a dimensão digital da identidade poderá assim ser
entendida como o total da informação referente ao indivíduo e publicada na rede, um conjunto que se estende
desde as credenciais electrónicas que permitem o acesso a sistemas fechados até à representação complexa
do “eu” num espaço digital.
A representação do indivíduo em ambientes digitais
Online, os indivíduos representam-se através de dados e informação. No intuito de estabelecerem e se
definirem enquanto elementos de uma ou mais comunidades, poderão optar pela inclusão de informação
relativa à família ou grupo de amigos, profissão, organização ou instituição a que pertencem. Para além deste
tipo de informação (usualmente solicitada e adicionada aos perfis de utilizador de diferentes espaços online) a
identidade do indivíduo poderá ainda englobar o tipo de conteúdos que associa aos seus espaços e a forma
como se manifesta e traduz a sua presença.
Num ambiente onde os conteúdos publicados permanecem para além do tempo de vida esperado ou
percebido pelo utilizador, os indivíduos possuem pouco controlo sobre a forma como a sua identidade é
apresentada na rede. Entre as principais diferenças entre a representação dos indivíduos em ambientes físicos
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e em ambientes digitais (Boyd, 2002), encontram-se a persistência da informação; a facilidade de procura, ou
searchabillity; a replicabilidade dos conteúdos publicados; e a existência de audiências invisíveis. De forma a
controlar a permeabilidade caraterística dos ambientes online, os indivíduos poderão recorrer a estratégias
assentes no anonimato ou, em alternativa, à criação e gestão de diferentes contas de e-mail ou usernames
para diferentes plataformas ou sistemas (Boyd, 2002), numa tentativa de a agregação automática da sua
informação.
Será nesse sentido que, na rede, alguns utilizadores – designados por White (2008) por visitantes –
poderão optar pela criação de diferentes identidades, outros – os residentes (White, 2008) – poderão sentir a
necessidade e o desejo de construir uma identidade mais sólida e consistente, estabelecendo através dela as
bases para a construção de uma reputação na rede. Neste cenário, a identidade online dos indivíduos surge
como uma forma de revelar a soma das suas experiências, as suas competências e capacidades, a sua forma
de comunicar, interagir e partilhar no espaço online. Mais do que um curriculum vitae, a identidade online dos
indivíduos poderá revelar a amigos, pares e comunidade o seu percurso enquanto pessoa, bem como a soma
das suas experiências pessoais, académicas e profissionais.
A construção da identidade em ambientes digitais
A existência de uma identidade na rede tornou-se um fenómeno impossível de contornar, quer por
indivíduos quer por instituições. Numa economia do conhecimento onde a capacidade de pesquisar, avaliar,
criar e partilhar informação e sintetizar conhecimento adquirem cada vez maior importância (Margaryan et al.,
2008), os alunos olham para as escolas e universidades como espaços capazes de suportar a criação de
comunidades de aprendizagem, espaços onde podem aprender a aprender, e onde a criatividade e a inovação
são trabalhadas e incentivadas (Anderson, 2007) de forma a desenvolverem novas formas e competências
relacionadas com a aprendizagem, passíveis de serem aplicadas ao longo das suas vidas.
Estudo de caso - Metodologia
No âmbito do programa doutoral em Multimédia em Educação (Universidade de Aveiro), e no sentido de
perceber como é que se constrói, gere e percepciona a presença construída em ambientes digitais,
desenvolveu-se um estudo de caso onde se analisou a identidade construída e manifestada por um grupo de
alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia (MCMM) numa plataforma suportada institucionalmente e
em dois espaços informais. Tendo como campo de estudo a presença manifestada no SAPO Campus
(plataforma integrada de serviços Web 2.0 desenvolvida na Universidade de Aveiro e baseada na criação de
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conteúdos pelo utilizador e que faculta, aos seus utilizadores, uma infraestrutura tecnológica de suporte ao
desenvolvimento de competências ao nível da colaboração, partilha e comunicação e da construção da
identidade) e no Facebook e Twitter, o estudo de caso procurou identificar os aspetos que caraterizam a
identidade construída na rede e avaliar a importância (percebida por alunos, instituição e comunidade) da
identidade online enquanto meio de manifestação e divulgação de competências.
Para o estudo, foram consideradas como técnicas de recolha de dados o inquérito por questionário, a
observação direta não participante e o inquérito por entrevista. A aplicação de questionários aos participantes
(n=13, amostra por conveniência) possibilitou a identificação dos contextos de utilização das ferramentas do
software social. A observação direta não participante contemplou a análise dos conteúdos publicados pelos 13
participantes no SAPO Campus, no Facebook e no Twitter durante um período de dez meses (correspondentes
a um ano letivo), analisados e codificados segundo a tipologia de conteúdo (i.e. conteúdo de caráter pessoal,
social, académico, profissional e organizacional) e segundo o formato (i.e. mensagens de texto, partilha de
ligações, conteúdos áudio/vídeo e partilha de fotos). Foi analisado um total de 3692 publicações, distribuídas
da seguinte forma: SAPO Campus, 347 publicações; Facebook, 1249 publicações; Twitter, 2096 publicações.
A realização de entrevistas (semiestruturadas, em profundidade) aos participantes possibilitou a
caraterização, pelos próprios, da identidade construída na rede, das motivações para a construção dessa
identidade, a identificação dos mecanismos de gestão adotados na gestão da presença online e a avaliação do
potencial e/ou real impacto da identidade construída na rede.
Resultados
Partindo da informação recolhida pela aplicação dos questionários, pela observação direta e pela
realização de entrevistas, verificou-se que no SAPO Campus os participantes constroem uma identidade
assente na partilha de conteúdos de teor académico, sobretudo mensagens de texto. Entre as principais razões
para esta situação, encontra-se a associação entre a plataforma e a Universidade de Aveiro – e consequente
associação da sua presença à imagem da Universidade – terá exercido influência ao nível da seleção, teor e
publicação dos conteúdos, nomeadamente na adoção de um discurso mais profissional, estruturado e
direcionado para o universo académico e de investigação. Referindo-se especificamente à importância de
construir uma identidade associada à identidade online da instituição, a maioria dos participantes aponta a
transferência ou repercussão da credibilidade institucional como uma das maiores vantagens na construção de
uma identidade no SAPO Campus.
Quanto aos aspetos que caraterizam a identidade online construída na plataforma suportada
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institucionalmente e aquela construída em ambientes informais, verificou-se que enquanto no SAPO Campus a
presença é maioritariamente académica e assente em mensagens de texto (posts), nas redes informais a
presença é sobretudo social. No Facebook, 82% dos conteúdos publicados pelos participantes foram incluídos
nesta categoria, e a maioria das publicações registadas (56%) consistiram na partilha de conteúdos
áudio/vídeo, seguidas de ligações para outros espaços. No Twitter, segunda rede analisada, 81% dos
conteúdos são de teor social, com predominância da partilha de ligações; de realçar, contudo, a presença de
10% de conteúdos de caráter académico, composto na sua maioria pela partilha de ligações.
No que se refere à gestão da identidade – i.e., às medidas adotadas para a gestão da presença na rede
–, o cuidado prévio na publicação de conteúdos surge como a medida mais indicada pelos participantes, que
referem ainda a edição e seleção prévia de conteúdos, a não publicação de conteúdos de caráter pessoal, a
adequação dos conteúdos ao espaço onde serão publicados como sendo as principais formas de gestão da sua
presença na rede.
Questionados quanto à importância da identidade online, os participantes reconhecem a relevância da
presença construída na rede enquanto forma de demonstração das capacidades adquiridas e desenvolvidas ao
longo do percurso académico e profissional e não apenas como espaço social, apontando. Não obstante, do
total de conteúdos analisados (3692 publicações) apenas 3,3% foi codificado em “profissional”, i.e.,
publicações relacionadas com a atividade profissional ou que traduzissem as competências dos indivíduos.
A análise da presença construída em ambientes digitais
Durante as entrevistas, quando solicitados a refletir sobre a presença que constroem na rede, os
participantes no estudo abordaram a construção da identidade online do ponto de vista pessoal, caraterizando
o tipo de presença manifestada, descrevendo os processos de seleção e gestão dos conteúdos e ligações que
associam à sua identidade, e refletindo sobre o real e/ou potencial impacto dessa mesma presença. No
decorrer do tratamento e análise das transcrições, foram identificadas três grandes áreas em redor das quais
os participantes descreviam e caraterizavam a sua forma de estar na rede, e que poderão ser entendidas como
três eixos em redor dos quais se construirá a identidade online: a representação digital (a informação e os
conteúdos que o indivíduo publica e partilha na rede e que concretizam a dimensão digital da sua identidade);
a gestão da privacidade (os mecanismos ou estratégias a que o indivíduo recorre de forma a ter um maior
controlo e gerir a sua representação na rede); e a reputação (o impacto real ou potencial da identidade online
construída pelo indivíduo). Cruzando essa informação com os resultados da análise das participações e perfil
dos participantes, desenhou-se a proposta de Modelo para Análise da Identidade Online (Aresta, 2013),
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apresentado no Quadro 1, e ao qual foram associadas subcategorias, estabelecidos os objetos de análise e
definidos os indicadores.
Quadro 1 Modelo para a Análise da Identidade Online (Aresta, 2013)
Representação Digital [RD]
Subcategoria Objeto de análise Indicadores
Elementos
de Identificação
[RD/EI]
Nome de utilizador e.g. escolha do nome real, nickname como nome digital
Imagem de perfil e.g. seleção de retrato, avatar, como imagem de representação
Informação Adicional
[RD/IA]
Informação biográfica e.g. partilha de informação referente a nome, data de nascimento, profissão
Informação de contacto e.g. partilha de informação referente a endereço postal, endereço de e-mail
Mote, Interesses e preferências
e.g. informação referente a interesses, preferências, mote pessoal
Relação com a comunidade
e.g. informação que evidencia a ligação com a comunidade
Ligação para outros espaços
e.g. informação que estabelece a ligação com outros espaços onde o indivíduo constrói a sua presença
Conteúdo
[RD/C]
Tópicos e.g. seleção de tópicos de acordo com as caraterísticas do espaço online onde o conteúdo é publicado (espaço pessoa, profissional)
Seleção de tópicos de acordo com as preferências do indivíduo, independentemente do espaço online onde o conteúdo é publicado
Estrutura do discurso Adequação do discurso ao espaço online onde o conteúdo é publicado
Partilha de conteúdo independentemente do espaço online onde é publicado
Tipologia de conteúdo Seleção e partilha de conteúdo (pessoal, social, académico, profissional, organizacional) de acordo com ou ajustado ao espaço online onde é publicado
Tipologia de conteúdo independente do espaço online
Formato do conteúdo Seleção e partilha de conteúdo (mensagem de texto, ligação, vídeo/áudio, foto) de acordo com ou ajustado ao espaço online onde é publicado
Formato do conteúdo independente do espaço online onde é publicado
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Gestão da Privacidade [GP]
Subcategoria Objeto de análise Indicadores
Processo de Registo
[P/PR]
E-mail de registo ou nome de utilizador
e.g. utilização de diferentes contas de e-mail ou nomes de utilizador aquando do registo em diferentes espaços online; mesmo endereço de e-mail e/ou do mesmo nome de utilizador no registo em diferentes espaços online
Gestão de Contactos
[P/GC]
Rede de contactos (friends, followers)
e.g. associação ou segregação de contactos de acordo com o espaço online onde a identidade é construída; associação de contactos independentemente do espaço online onde a identidade é construída
Gestão de Contextos
[P/GCtx]
Conteúdo republicado entre espaços
e.g. sincronização automática de conteúdo entre plataformas, estabelecendo ligação entre espaços diferentes; republicação de conteúdo em plataformas diferentes daquelas onde foi inicialmente publicado
Reputação [R]
Subcategoria Objeto de análise Indicadores
Demonstração de competências ou capacidades
[R/DCC]
Conteúdo publicado e.g. seleção e partilha de conteúdo com a finalidade de demonstrar ou revelar a existência de competências gerais ou específicas
Visibilidade e Exposição
[R/VE]
Conteúdo reproduzido (entre plataformas)
e.g. partilha de conteúdo em plataformas ou espaços diferentes daqueles onde foi inicialmente publicado, aumentando a visibilidade e exposição dos conteúdos produzidos
Interação com pares
e/ou especialistas
e.g. contacto e interação com colegas e/ou especialistas, divulgando trabalhos ou partilhando opinião em determinados ou vários campos de conhecimento
Ligação à Identidade Institucional
[R/LII]
Referência, menção ou ligação à identidade online da instituição
e.g. reprodução de conteúdo publicado pela instituição; partilha de informação referente ao cargo, emprego ou papel na instituição
Nesta proposta, a representação digital do indivíduo na rede é entendida como toda a informação e
conteúdo que este partilha de forma a criar uma identidade online, organizada em três subcategorias:
elementos de identificação (informação adicionada pelo indivíduo como forma de representação), informação
adicional (informação que o indivíduo partilha de forma a contextualizar a sua presença nos espaços onde
constrói a sua identidade) e conteúdo (publicações partilhadas pelo indivíduo nos seus espaços online e que
contribuirão para a definição e construção da sua identidade). No que se refere à gestão da privacidade, esta
engloba os mecanismos e estratégias adotados pelo indivíduo para a gestão da sua identidade online, passíveis
de serem analisadas em três vertentes: processo de registo, gestão de contactos e gestão de contextos. Por
fim, e relativamente à reputação, esta é considerada do ponto de vista do indivíduo, i.e., da finalidade ou
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objetivos que orientam a construção da sua presença na rede, articulando-se entre: a demonstração de
capacidades ou competências (a forma como o indivíduo utiliza a presença na rede para revelar a pares e/ou à
comunidade as suas capacidades e/ou competências); a visibilidade e exposição da presença construída na
rede (aumentada pela reprodução de conteúdos entre plataformas e/ou pela interação com pares e
especialistas, de forma a trabalhar a sua reputação em determinada área); e o apoio ou ligação a identidades
online institucionais (um cenário onde a presença construída pelo indivíduo é associada à presença da
instituição que frequenta/na qual trabalha).
A figura 1 procura representar, de forma gráfica, a organização das diferentes dimensões e as relações
e associações passíveis de existir entre cada uma delas.
Figura 1 Dimensões do Modelo para a Análise da Identidade Online
Definidas as categorias e os parâmetros, o Modelo para a Análise da Identidade Online foi novamente
aplicado à informação referente a cada um dos participantes no estudo, revelando pontos comuns que,
sistematizados e organizados, resultaram no desenho de dois tipos de perfis passíveis de descrever a
identidade construída na rede: identidade orientada pelo contexto; e identidade orientada pelo utilizador.
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Quando construindo uma identidade online orientada para o contexto, os participantes revelam ter
cuidado na seleção e produção dos conteúdos a publicar, adequando o tipo de discurso, tópicos abordados e
tipologia de conteúdo ao contexto ou plataforma (e.g. conteúdos académicos na plataforma académica,
conteúdos sociais nas redes informais); quanto à identidade orientada pelo conteúdo, esta traduz uma
presença orientada pelos interesses do utilizador, um reflexo da sua identidade real, e não as caraterísticas ou
particularidades dos espaços online.
De acordo com a finalidade com que constroem a sua presença, os participantes incluídos no primeiro
grupo foram ainda divididos em dois subgrupos: aqueles que constroem uma identidade assente na publicação
de conteúdos que tornam visível a sua presença na rede mas que não revelam demasiado sobre a sua
identidade; e aqueles que utilizam a rede de forma assumida e intencional para trabalhar uma identidade
orientada para a construção de uma reputação enquanto alunos e profissionais.
Quanto à identidade orientada pelo utilizador – e ainda que utilizem a rede como espaço de divulgação
de competências e construção de uma reputação profissional – os participantes incluídos neste grupo afiram
publicar conteúdo de acordo com as suas preferências, não se coibindo de abordar temáticas mais sensíveis
como questões políticas, ideológicas ou sociais. Não adotando medidas especiais ao nível da gestão da
privacidade, não assumem cuidados particulares ao nível da gestão de contactos e, conscientes da visibilidade
e exposição da sua presença, adotam a reprodução de conteúdo entre plataformas e a interação com pares e
especialistas como forma de divulgar os trabalhos desenvolvidos.
Considerações finais
Ao refletir sobre os processos de construção da identidade na rede, o estudo apresentado poderá ser
entendido como uma abordagem e um ponto de partida para a exploração do fenómeno e da importância da
presença na rede. Quando o conceito de literacia digital engloba o conhecimento necessário à compreensão do
impacto transformativo e social das ações digitais (Martin, 2008) e à gestão dos espaços digitais públicos e
privados onde o indivíduo constrói a sua identidade (Costa e Torres, 2011), a consciência relativamente à
importância da dimensão digital da identidade poderá ter como consequência a alteração da forma como
alunos e instituições olham para os papéis que desempenham no sistema e contexto educativos. No que diz
respeito aos alunos, ao considerarem a instituição que frequentam como um espaço onde podem desenvolver
a sua autonomia e trabalhar uma identidade forte, poderão estabelecer, desde muito cedo, uma base para a
construção de uma reputação que os acompanhará ao longo do seu percurso académico e profissional. As
instituições de ensino, por seu lado, deveriam considerar os seus alunos como promotores ativos da sua
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própria qualidade, oferecendo-lhes não só as condições para o desenvolvimento do seu currículo académico
(do nível básico ao superior) mas também da sua identidade e presença digital, apresentando os seus alunos
não como produtos padrão mas como entidades singulares e com as competências adequadas e que refletem
as necessidades atuais.
Quando a presença e participação na rede se inicia cada vez mais cedo (de acordo com os dados
Eurostat de 05/11/2012, em Portugal, 72% dos indivíduos entre os 16 e 24 anos utiliza a internet para fins
pessoais), a reflexão sobre a construção da identidade em ambientes digitais deverá fazer parte das
preocupações e programas de indivíduos e instituições, e não apenas das de Ensino Superior. Num cenário em
que a contextualização de dados e informação assume uma importância crescente, este estudo de caso – e
consequente discussão – poderá trazer alguma informação sobre a forma como os alunos constroem a sua
presença na rede, e assim refletir sobre a forma como as questões da identidade online poderão ser discutidas
e incluídas na planificação de atividades e na exploração e construção da presença em ambientes digitais.
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer ao Labs.sapo/UA e à equipa do SAPO Campus pelo apoio a esta
investigação. Trabalho realizado com o apoio financeiro da FCT e do FSE no âmbito do II Quadro Comunitário
de apoio (ref. SFRH/BD/70474/2010).
Referências
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