A CONSOLIDAÇÃO DA FALTA DE ADERÊNCIA DE ... PP...A argamassa B - menor absorção capilar (0 aos...
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A CONSOLIDAÇÃO DA FALTA DE ADERÊNCIA DE REBOCOS
ANTIGOS – um estudo com diferentes argamassas para
grouting
Martha Tavares
Ana Fragata
Rosário Veiga
Investigação inserida na tese de Doutoramento A conservação e o restauro de revestimentos exteriores de edifícios antigos – uma metodologia de estudo e reparação que Martha Tavares desenvolve no LNEC e na FA/UTL, com o apoio da FCT (Fundação para Ciência e Tecnologia), e insere-se no Projecto Conservação de rebocos de cal: melhoria das técnicas e materiais de
reparação ( FCT | POCTI / HEC / 57723/2004) http://conservarcal.lnec.pt.
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ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO
1 Introdução2 Materiais utilizados e aplicação do produto3 Ensaios realizados4 Discussão e analise dos resultados5 Considerações finais6 Proposta para estudos futuros
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1. INTRODUÇÃO Uma das principais formas de degradação dos
revestimentos exteriores com base em cal, é a perda de aderência, ou seja, a separação entre as diferentes camadas do reboco ou entre reboco e suporte, provocando diversas anomalias: destacamento, descolamento e lacunas no revestimento. Estes revestimentos são de grande importância para a estrutura edificada, e devem ser preservadas devido à sua importância técnica, histórica e estética.
Apresenta-se um estudo sobre técnica de restauro de rebocos antigos e históricos, com recurso à técnica de consolidação através de injecções com caldas de cal (grout) para restituição da aderência.
Objectivo principal deste estudo é contribuir para definir uma metodologia de restauro conservativa, usando estratégias de manutenção dos revestimentos e das técnicas construtivas tradicionais, onde haja uma intervenção mínima, utilizando materiais compatíveis com os originais.
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Com base em estudos anteriores, definem-se na tabela 1 as exigências básicas de uma calda de cal ( Ferragni 1984 e Zajadacz 2006)
Tabela 1 – Proposta de exigências básicas para uma argamassa de grout
≥ 0,1 N/ mm² Força de arrancamento de aderência
Similar ao original Coef. capilaridade
O mínimo possívelContracção e dilatação na secagem
Menor que a do substratoResist. compressão
Menor que o do substratoMódulo elasticidade
Não menos que 48 horas Tempo de presa
Suficientemente fluida para injectar Consistência
ExigênciasPropriedades
Objectivos específicos: discutir as características das caldas de cal testadas sob condições controladas em laboratório, para posterior aplicação in situ. As caldas de cal devem ser compatíveis mecânica, física e quimicamente com o revestimento original, pois é um tratamento praticamente irreversível.
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2. MATERIAIS UTILIZADOS E APLICAÇÃO DO PRODUTO Foram ensaiadas três tipos diferentes de
argamassas industriais para grouting, obedecendo às seguintes composições:
Argamassa A – composta por cal aérea; areia micronizada e aditivos.
Argamassa B – composta por cal hidráulica, areia micronizada e aditivos.
Argamassa C – composta por cal aérea; micro areias calcárias e aditivo pozolânico.
As argamassas foram preparadas de acordo com as especificações de cada fabricante. Os produtos foram misturados com água, manualmente, durante aproximadamente 5 minutos.
Foram fabricados dois tipos de provetes.
Provetes prismáticos com 40mm x 40mm x 160mm confeccionados apenas com argamassas de grout.
Argamassa A
Argamassa B
Argamassa C
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Provetes com a simulação de um descolamento entre camadas ( arg. de cal e areia; 1:3), tijolos furados correntes, rebocados numa das faces com duas camadas de argamassa de cal, perfazendo um total de 20 mm, com um vazio entre camadas simulando assim a falta de aderência.
A aplicação da calda foi realizada após três meses de cura dos provetes. Primeiramente a zona de “descolamento” foi humedecida com uma mistura de água e álcool, para facilitar a penetração da calda.
O produto foi aplicado em seguida, com uma seringa manual, sendo as primeiras camadas ligeiramente mais líquidas que as seguintes camadas, para permitir uma maior penetração, até preencher todo o vazio. Os provetes permaneceram numa sala condicionada: T de 23º±2ºC e 50±5% de HR.
2. MATERIAIS UTILIZADOS E APLICAÇÃO DO PRODUTO
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3. ENSAIOS REALIZADOS
Absorção de água por capilaridade - para verificar a capacidade da argamassa de grout em absorver água por capilaridade. (EN 1015 –18:2000).
Resistência à flexão e à compressão - para avaliar a resistência mecânica das argamassas, sobre os provetes tipo prisma. (NP EN1015:11).
Ensaio de Módulo de elasticidade – para verificar a capacidade de deformação da argamassa, sobre os provetes tipo prisma. (Relatório LNEC 427/05-NRI e NF- B10-511)
Ensaio de aderência – para verificar a resistência de aderência das argamassas, realizado sobre provetes com simulação de descolamento entre camadas. (EN - 1015 -12 : 2000).
Determinação da retracção - a retracção das argamassas ensaiadas foi calculada através da determinação da variação das medidas iniciais (dimensões do molde) e finais (provete após secagem).
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A argamassa B - menor absorção capilar (0 aos 5 minutos); demorou mais tempo a atingir a saturação, demonstrando um comportamento mais constante na absorção.
A argamassa C - absorveu maior quantidade de água seguida da argamassa A. As argamassas de grout absorvem maior quantidade de água no mesmo
intervalo de tempo, quando comparadas com a argamassa nova de cal do substrato, ensaiada para comparação e possuem um Coef. de capilaridade maior que a argamassa do substrato ensaiada.
Relativamente à secagem, a argamassa C teve uma secagem mais rápida quando comparada com as argamassas A e B. A secagem ocorreu bastante mais cedo, do que em qualquer uma das argamassas de grout.
Avaliação do comportamento à água
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Tempo (min1/2)
Abso
rção c
apila
r (kg
/m2 )
Argamassa A
Argamassa BArgamassa CArgamassa substrato
Água absorvida pelas argamassas consolidadas
3,15
2,09
4,35
5,45
0
1
2
3
4
5
6
Coef
icie
nte
de c
apila
ridad
e (K
g/m
2 .min
1/2 )
Argamassa A
Argamassa B
Argamassa C
ArgamassaSubstrato
0-5 minutosCapilaridade e secagem
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
0,98
1,69
0,41
0,24
00,20,40,60,8
11,21,41,61,8
Res
istê
ncia
à fl
exão
(MPa
) Argamassa A
Argamassa B
Argamassa C
Argamassasubstrato
Avaliação do comportamento mecânico
Resistência à flexão e compressão
0,030,160,510,16Desvio
padrão**
0,620,803,711,64Valor médio
(N/ mm²)
Compres-são
0,040,100,140,07Desvio padrão
0,24 0,411,690,98Valor médio
(N/ mm²)
Argamassa substrato
Argamassa C
Argamassa B
Argamassa A
Flexão
1,64
3,71
0,8
0,62
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
Res
istê
ncia
à c
ompr
essã
o (M
pa)
Argamassa A
Argamassa B
Argamassa C
Argamassasubstrato
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não realizado: rotura durante a
furação
0,06Rotura pelo
grout
0,07(Rotura
pelo grout)
0,04(Rotura
pelo grout)
0,04(Rotura
pelo suporte)
Zona com grout
Não realizado: rotura durante a
furação
0,05(Rotura coesiva)
0,07(Rotura coesiva)
0,03(Rotura coesiva)
0,03(Rotura coesiva)
Zona sem grout
Valores de resistência
ao arrancame
nto(N/mm2)
Argamassa C
Argamassa B
Provete 3
Argamassa
BProvete
2
Argamassa B
Provete 1
Argamassa A
Argamassa de grout
Avaliação do comportamento mecânico
Resistência ao arrancamento – Ensaio de Aderência
0,03
0,07
0,03
0,05
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
Resi
stên
cia
ao a
rranc
amen
to
(Mpa
)
Arg. AArg.B-provete 1Arg.B-provete 2Arg.B-provete 3carotadora
pastilhas
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Resistência ao arrancamento – Ensaio de Aderência
Argamassa A Argamassa B
Todas as argamassas de grout (caldas de cal) possuem uma resistência semelhante à argamassa do substrato (zona sem grout).
A argamassa A, rompeu pelo suporte - a resistência à tracção do grout é superior à força coesiva da argamassa; os outros provetes não resistiram à furação com a carotadora rompendo imediatamente.
O ensaio de arrancamento não foi realizado sobre a argamassa C, pois a argamassa rompeu antes da colagem da pastilha.
A argamassa B, rompeu pelo grout - resistência semelhante à da argamassa do substrato,, significando que a resistência à tracção do grout é inferior à força coesiva da argamassa do substrato, o que pode ser considerado positivo.
Argamassa C
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliação do preenchimento dos vazios
A observação da superfície de rotura no ensaio de aderência mostrou que :
As argamassas A e B preencheram de maneira uniforme os vazios.
Na argamassa C observaram-se vazios e fissuração; levando a pensar que esta argamassa não preenche facilmente os vazios. O aspecto pulverulento da superfície de rotura parece também indicar que ela não carbonatou por completo.
Argamassa A
Argamassa B
Argamassa C
Argamassa C
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação da capacidade de deformação da argamassa
Ensaio de Módulo de elasticidade
86071162Desvio -padrão
2715202544513123Valor médio(MPa)
Argamassa substrato
Argamassa C
Argamassa B
Argamassa A
Módulo de
elasti-cidade
4451
2025
31232715
0
5001000
1500
20002500
3000
3500
40004500
5000
Mód
ulo
de e
last
icid
ade
(Mpa
)
Argamassa A
Argamassa B
Argamassa C
Argamassasubstrato
A argamassa B foi a que apresentou um módulo de elasticidade mais elevado; sendo, no entanto, os valores obtidos bastantes moderados.
A argamassa C obteve o menor valor inclusive um resultado inferior ao da argamassa do substrato ensaiado.
A argamassa A foi a que obteve valores intermédios entre a B e a C para resistência e módulo de elasticidade Estas argamassas A e Cpoderão ser adequadas para consolidação de argamassas antigas muito fracas.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação da retracção da argamassa
5,6151Argamassa C
1,3158Argamassa B
1,3158Argamassa A
Retracção (%)Médio
ComprimentoArgamassa de grout
• Foram determinados os comprimentos de cada provete após secagem e comparadas com os comprimentos iniciais.
• A retracção foi perceptível visualmente, quer no comprimento quer na largura.
Facilidade de injecção: Todas as argamassas se mostraram facilmente injectáveis, aparentemente com boa fluidez. A quantificação deste parâmetro deverá ser feita posteriormente através de um estudo reológico.
Tempo de presa: Nas argamassas A e B às 36 horas foi observado início de presa enquanto que na argamassa C a presa deu-se mais tarde, contudo às 48 horas todas as argamassas apresentaram presa.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão de um aditivo hidráulico é um factor importante para o aumento da
resistência destas argamassas; pois como elas secam no interior da parede, sem a presença de ar, consequentemente a sua
carbonatação ocorre lentamente.
A argamassa B, composta por ligante hidráulico, obteve menor absorção, maior
resistência mecânica, mas também menor deformabilidade.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A quantidade deste aditivo hidráulico não pode ser demasiada, para não haver um
aumento excessivo da resistência mecânica; provocando outras anomalias.
A argamassa B e a argamassa A obedecem aos requisitos básicos para uma argamassa de grout, sendo possível a sua utilização para restituir a aderência de
revestimentos antigos constituídos por cal resistentes e bem carbonatados.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A argamassa C, mais fraca e deformável, poderá ser adequada para consolidar rebocos de menor resistência. No
entanto, será necessário assegurar uma carbonatação mais completa, que evite o
efeito de pulverulência observado.
A escolha dependerá da avaliação sobre as características mecânicas da
argamassa a tratar e o grau de anomalia presente no revestimento,
nomeadamente: a profundidade, teor de humidade na parede etc..
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6. PROPOSTA PARA ESTUDOS FUTUROS
Continuar este estudo e ensaiar novas argamassas formuladas no âmbito da investigação.
Realizar novos ensaios sobre estas argamassas é um dos nossos objectivos, designadamente: ensaio de reologia, envelhecimento acelerado, porosidade e ainda ensaios in situ sobre um revestimento antigo.
Com a continuidade deste estudo pretende-se aprofundar os conhecimentos nesta área e difundi-los pelo meio técnico nacional e internacional, de forma a contribuir para uma melhoria das intervenções de conservação em revestimentos de paredes antigas, através do uso de materiais tradicionais.