A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração...

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A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração ambiental da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro Gleisse Kelly Meneses Nunes Rio de Janeiro Setembro - 2009 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCANTARA GOMES DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA

Transcript of A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração...

A comunidade de moluscos terrestres retrata a

alteração ambiental da Vila Dois Rios, Ilha Grande,

Angra dos Reis, Rio de Janeiro

Gleisse Kelly Meneses Nunes

Rio de Janeiro

Setembro - 2009

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCANTARA GOMES

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA

ii

Gleisse Kelly Meneses Nunes

A comunidade de moluscos terrestres retrata a

alteração ambiental da Vila Dois Rios, Ilha Grande,

Angra dos Reis, Rio de Janeiro

Orientadora: Profa. Dra. Sonia Barbosa dos Santos

Monografia apresentada ao Instituto de Biologia

Roberto Alcantara Gomes da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas.

Rio de Janeiro

Setembro - 2009

iii

FICHA CATALOGRÁFICA:

iv

Gleisse Kelly Meneses Nunes

A comunidade de moluscos terrestres retrata a

alteração ambiental da Vila Dois Rios, Ilha Grande,

Angra dos Reis, Rio de Janeiro

Resultado: _________________________com grau _______

Monografia de Bacharelado submetida como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, pela Universidade do

Estado do Rio de Janeiro, avaliada pela comissão formada pelos professores:

Orientadora: _____________________________________________ Dra. Sonia Barbosa dos Santos (UERJ) 1° Examinador ____________________________________________ Dr. José Ricardo Miras Mermudes (UERJ) 2° Examinador _____________________________________________ Msc. Amilcar Brum Barbosa (UERJ) 3° Examinador _____________________________________________ Msc. Claudia Leal Rodrigues (UERJ) Suplentes: ____________________________________________ Dr. Sandra Aparecida Magalhães-Fraga (Fiocruz) _____________________________________________ Dr. Oscar Rocha Barbosa (UERJ)

Rio de Janeiro, 21de setembro de 2009.

v

À minha família por todo

apoio e carinho.

vi

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Professora Dra. Sonia Barbosa dos Santos.

À minha família, Neusa, Hudson, Gleidson, Gleivid e Luiz Eduardo pelo

conforto, carinho e apoio ao longo da minha jornada. Aos meus familiares pelo

incentivo.

A toda equipe do Laboratório de Malacologia da UERJ: Amilcar Brum

Barbosa, Claudia Leal Rodrigues, Francielle Cardoso Fonseca, Igor Christo Miyahira,

Isabela Cristina B. Gonçalves, Luciane Guilhermino, Jaqueline Lopes de Oliveira,

Luiz Eduardo Macedo de Lacerda, Patrícia do Socorro da Silva, Renata Ximenes e

Tiago Abreu Viana.

A todos os meus professores que foram sempre grandes educadores e

incentivadores.

A todos os funcionários do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento

Sustentável (CEADS) pelo grande apoio prestado durante os trabalhos de campo.

Aos funcionários do Departamento de Zoologia e da Secretaria do Instituto de

Biologia Roberto Alcantara Gomes.

Ao Instituto Estadual do Ambiente pela concessão da licença de coleta.

Ao Sr. Getúlio Cantuária por sua contribuição sobre a história de ocupação da

região da Vila Dois Rios.

Aos bibliotecários das Bibliotecas da Universidade do Estado do Rio de

Janeiro, de Museu da Universidade de São Paulo e do Museu Nacional do Rio de

Janeiro.

vii

A todos que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização deste

trabalho.

À Universidade do Estado do Rio de Janeiro e ao Instituto de Biologia Roberto

Alcantara Gomes pela infra-estrutura.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

pela bolsa de Iniciação Científica concedida.

viii

SUMÁRIO

página

LISTA DE TABELAS........................................................................................................ x

LISTA DE FIGURAS........................................................................................................ xi

RESUMO........................................................................................................................ xiii

ABSTRACT..................................................................................................................... xv

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 01

OBJETIVOS.................................................................................................................... 04

MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................. 05

Caracterização da área de trabalho.................................................................... 05

Ilha Grande........................................................................................ 05

Vila Dois Rios.................................................................................... 06

Coleta dos moluscos terrestres.......................................................................... 07

Curadoria........................................................................................................... 11

Coleta de dados ambientais............................................................................... 11

Identificação dos moluscos terrestres................................................................ 12

RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................... 13

Características das espécies coletadas................................................................ 14

Alcadia Gray, 1840............................................................................. 14

Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835)....................................... 14

Succinea meridionalis d’Orbigny, 1837............................................ 15

Gastrocopta servilis (Gould, 1843) ................................................... 16

Bulimulus tenuissimus (d’Orbigny, 1835)........................................... 17

Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846)................................................ 18

Subulina octona (Bruguière, 1789)....................................................... 19

Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834)........................................................22

Leptinaria unilamellata (d’Orbigny, 1835)...........................................23

Obeliscus Beck 1837..............................................................................25

Miradiscops Baker, 1925.......................................................................26

ix

página

Happiella Baker, 1925......................................................................... 26

Tamayoa Baker, 1925.......................................................................... 26

Ptychodon Ancey, 1888....................................................................... 26

Ptychodon schuppi (Suter, 1900)......................................................... 27

Stephanoda Albers, 1860..................................................................... 28

Habroconus semenlini (Moricand, 1846)............................................ 28

Bradybaena similaris (Férussac, 1821)............................................... 29

Área urbana da Vila Dois Rios........................................................................... 31

Encosta da Vila Dois Rios a 350 metros de altitude........................................... 33

Encosta da Vila Dois Rios a 450 metros de altitude........................................... 35

Dados ambientais................................................................................................ 38

CONCLUSÕES................................................................................................................. 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 48

x

L ISTA DE TABELAS

Página

Tabela I. Famílias e espécies coletadas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos

Reis, Rio de Janeiro......................................................................................................

13

Tabela II: Análise de Variância com os dados ambientais da Vila Dois Rios, Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro e teste Tukey................................................

44

Tabela III. Sugestão para diagnóstico de ambientes de Floresta Atlântica

degradados/ recuperados, utilizando a proporção de espécies de moluscos

sinantrópicas e nativas, para cada estágio de recuperação...........................................

46

xi

L ISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1. Localização da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro...........................................................................................................................

8

Figura 2. Rua da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.......... 8

Figura 3. Canteiros gramados na parte central da Vila Dois Rio, Ilha Grande, Angra

dos Reis, Rio de Janeiro e encosta ao fundo.................................................................

9

Figura 4. Encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.... 9

Figura 5. Vista aérea da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reia, Rio de

Janeiro com localização dos pontos de coleta..............................................................

10

Figura 6. Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835).................................................. 15

Figura 7. Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837....................................................... 16

Figura 8. Gastrocopta servilis (Gould, 1843)............................................................... 17

Figura 9. Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835)..................................................... 18

Figura 10. Beckianum beckianum. (Pfeiffer, 1846)...................................................... 19

Figura 11. Subulina octona (Bruguière, 1789)............................................................. 21

Figura 12. Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834)............................................................. 23

Figura 13. Leptinaria unilamellata (d’Orbigny, 1835). .............................................. 25

Figura 14. Ptychodon schuppi (Suter, 1900). .............................................................. 28

Figura 15. Habroconus semenlini (Moricand, 1846). ................................................. 29

Figura 16. Bradybaena similaris (Férussac, 1821). ..................................................... 31

Figura 17. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na área

urbana da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro....................

32

Figura 18. Abundância dos moluscos terrestres coletados na Vila Dois Rios, Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. .....................................................................

33

Figura 19. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta

da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 350 metros de

altitude. ........................................................................................................................

34

Figura 20. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 350 m de altitude. ....................................

35

xii

Figura 21. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta

da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 450 metros de

altitude. ........................................................................................................................

36

Figura 22. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 450 m de altitude. ...................................

36

Figura 23. Percentual de espécies coletas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos

Reis, Rio de Janeiro. 0m: área urbana; 350m: encosta a 350m de altitude; 450m:

encosta a 450m de altitude............................................................................................

37

Figura 24. Temperatura ambiente e do solo (ºC) da Vila Dois Rios, Ilha Grande,

Angra dos Reis, Rio de Janeiro....................................................................................

39

Figura 25. Percentual de umidade ambiente da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra

dos Reis, Rio de Janeiro. .............................................................................................

40

Figura 26. Luminosidade (Lux) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis,

Rio de Janeiro...............................................................................................................

41

Figura 27. Profundidade da serapilheira (cm) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra

dos Reis, Rio de Janeiro...............................................................................................

42

Figura 28. Percentual de umidade da serapilheira da Vila Dois Rios, Ilha Grande,

Angra dos Reis, Rio de Janeiro....................................................................................

43

xiii

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo comparar a composição da comunidade de

moluscos terrestres em três diferentes locais da Vila Dois Rios (VDR), que se

apresentam segundo um gradiente, no qual a luminosidade e a temperatura do

ambiente e do solo diminuem e a umidade do ambiente, a profundidade e a umidade

da serapilheira aumentam, conforme passamos da área urbana para a floresta

secundária e depois, para a floresta climáxica, para construir índices utilizando a

proporção de espécies sinantrópicas de moluscos presentes nas comunidades, como

indicadores de alterações ambientais. Os locais de coleta foram: 1) área urbana (AU)

onde existe influência antrópica; 2) encosta da VDR a 350 m de altitude (VDR 350),

onde cessou a influência antrópica em 1975; 3) encosta da VDR a 450 m de altitude

(VDR 450), onde não houve influência antrópica. Em cada local foram utilizados dez

quadrats de 25x75 cm, de forma aleatória, para recolher a serapilheira, que foi

transportada até o laboratório, onde foi triada, buscando conchas e animais vivos.

Dados ambientais como profundidade da serapilheira, temperatura ambiente e do solo,

umidade relativa do ar e luminosidade foram aferidos em cada quadrat. No total,

foram coletadas 20 espécies, em 17 gêneros e 10 famílias. Na AU todas as espécies

são sinantrópicas, sete foram exclusivas. A família Subulinidade (91,5 %) foi

dominante, em especial a espécie Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) (67 %). Na

VDR 350 quatro espécies foram exclusivas, a família Systrophiidae (61%) foi

dominante. Na VDR 450 quatro espécies foram exclusivas, a família Systrophiidae

(53%) foi dominante. Houve redução da proporção da família Subulinidae da AU para

VDR 350, até sua ausência na VDR 450. Concluímos que a comunidade de moluscos

terrestres respondeu ao gradiente ambiental através de sua composição. A partir destes

xiv

dados, sugerimos a utilização da proporção de espécies de moluscos sinantrópicas para

fazer o diagnóstico de ambientes de Floresta Atlântica degradados/recuperados, da

seguinte forma: ambiente com grande influência antrópica terá de 90 a 100% de

espécies sinantrópicas; ambiente que se recupera a pelo menos 35 terá de 50 a 60% de

espécies sinantrópicas; já uma floresta a pelo menos 50 anos sem influência antrópica

terá de 0 a 10% de espécies sinantrópicas. Este trabalho permitiu estabelecer uma

metodologia rápida, de pouco impacto e principalmente de baixo custo para classificar

ou diagnosticar o estado de conservação ou modificação de fragmentos florestais na

Ilha Grande.

xv

ABSTRACT

The aim of this study was to compare the community composition of land

snails in three different localities in the Vila Dois Rios (VDR), to build indexes using

the proportion of synanthropic species of molluscs ocurring in communities, as

indicators of environmental change. The localities appear as a gradient in which the

luminosity, atmospheric and soil temperature decreases; in the other hand, relative air

humidity, depth and moisture content of litter increases from the urban area to the

secondary forest and then to the climax forest. The sampling sites were: 1) urban area

(UA) where there is human influence; 2) VDR’s mountain slope at 350 m als (VDR

350), where human influence ceased in 1975; 3) VDR’s mountain slope at 450 m als

(VDR 450), where there were no human influence. At each area we used ten quadrats

of 25x75 cm, to collect the litter. The samples, collected at random, were transported

to the laboratory where they were searched for shells and live animals. Environmental

data such as litter depth, atmospheric and soil temperature, relative air humidity and

luminosity were measured in each quadrat. In UA all species were synanthropic being

seven exclusive. Family Subulinidae (91.5%) was dominant, especially the species

Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) (67%). In VDR 350 four species were

exclusive and Systrophiidae (61%) was dominant. In VDR 450 four species were

exclusive and, one more time, Systrophiidae (53%) was dominant. There was a

reduction in the Subulinidae proportion from UA to VDR 350 and total disappearance

in VDR 450. We concluded that the composition of terrestrial molluscs responds to

environmental gradients. From these data, we suggest the use of the proportion of

synanthropic mollusc species as a index to the diagnosis of Atlantic Forest

environments as follows: environments with large human influence will have 90 to

xvi

100% of synanthropic species; environments that are recovering for at least 35 years

will have 50 to 60% of synanthropic species; and a forest that is recovering for at least

50 years with no human influence will have 0 to 10% of synanthropic species. The aim

of this work was to establish a rapid method of low impact and low cost to classify or

evaluate the stage of conservation of forest fragments in the Ilha Grande.

1

INTRODUÇÃO

A distribuição das espécies nos ecossistemas é influenciada por diversos fatores

bióticos e abióticos, os quais operam como filtros para a dispersão. Os antigos processos de

colonização e migração humana e a recente tendência de globalização são os principais

responsáveis pela transposição das barreiras geográficas e introdução de espécies em regiões

fora de sua distribuição original (ESPINOLA & JUNIOR 2007).

A introdução de espécies exóticas tem sido amplamente discutida na comunidade

científica, devido aos problemas que causam. Representam uma ameaça à biodiversidade

local, por ter forte influência sobre as espécies nativas, via predação ou competição, e também

destruição ou modificação do hábitat, podendo inclusive levar à extinção de outras espécies

(COWIE 2001, PRIMACK & RODRIGUES 2001, AUBRY et al. 2005). As espécies introduzidas

podem ainda se tornar pestes na agricultura e ecossistemas naturais (BARKER & MAYHILL

1999).

Diversos trabalhos relatam a introdução de espécies de moluscos terrestres em várias

partes do mundo; geralmente, a distribuição dessas espécies está relacionada à ocupação

humana e sua consequente modificação de hábitat (COWIE 1998, CAMERON 2002). Algumas,

cuja origem não pode ser identificada, são denominadas espécies sinantrópicas, possuindo

ampla distribuição geográfica, ocorrendo em diversos países. Muitas das introduções recentes

foram provavelmente acidentais através de plantas de horticultura e ornamentação (COWIE

2001), sendo que a destruição ou modificação do hábitat facilita o estabelecimento de

espécies não nativas (COWIE 1998). Os impactos de espécies exóticas são uma das maiores

ameaças a muitos ecossistemas, especialmente ilhas (COWIE 2000b).

Um modo de detectar e monitorar os padrões de mudança na biodiversidade

provocados por ações humanas é utilizar espécies, ou grupo de espécies, que funcionam como

2

bioindicadoras de degradação ambiental (SANTOS et al. 2006). SCHILTHUIZEN & RUTJES

(2001) defendem que os moluscos têm várias características que permitem ter sucesso como

indicadores para avaliação da diversidade. Segundo os autores, a malacofauna pode ser

coletada facilmente de forma não destrutiva, por coleta de conchas vazias da serapilheira;

além disso, qualquer grupo de molusco terrestre pode ser coletado na serapilheira, mesmo os

arborícolas, porque suas conchas caem no chão.

Enquanto o declínio ou desaparecimento de vertebrados chama a atenção do público, a

homogeneização global de plantas e invertebrados é menos divulgada, embora, mais

preocupante, já que constitui uma maior perda de biodiversidade (COWIE 2001). Por isso é

importante estudar a malacofauna terrestre tanto em ambientes florestados como em

ambientes antrópicos, para conhecer a composição de gastrópodes terrestres nesses diferentes

ambientes e verificar se a introdução de espécies está sendo restrita aos ambientes urbanos, ou

se há risco de introdução em ambientes florestados, o que potencialmente traria diversos

prejuízos para as espécies nativas.

Em outras partes do mundo, existe a preocupação de relatar a ocorrência de espécies

exóticas ou sinantrópicas, por exemplo, República Checa (JUŘIČKOVÁ 2006), Israel (M IENIS

1977), Nova Zelândia (BARKER 1982), Austrália (HOLLAND et al. 2007), São Tomé e Príncipe

(GASCOIGNE 1994), Ilhas de Tristão da Cunha (PREECE 2001), México (CORREA 1999), Havaí

(COWIE 1998, 2000a,b, 2001), Argentina (MIQUEL & PARENT 1996), Uruguai (OLAZARRI

1986), Colômbia (HAUSDORF 2002) e Peru (RAMÍREZ et al. 2001).

Devido à relevância do tema, no Brasil podemos apontar algumas iniciativas do

governo brasileiro, desde 2001, com a realização em Brasília da “Reunião de Trabalho sobre

Espécies Exóticas Invasoras”, por meio de parceria entre o Ministério do Meio Ambiente -

MMA e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, onde se discutiu as linhas

gerais do problema e as principais estratégias para amenizá-lo, uma delas foi a produção de

3

um Informe Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras no país, visando sistematizar e

divulgar a informação já existente sobre o tema (MMA 2006).

Todavia, apesar dos esforços, ainda não existe uma listagem completa para espécies de

moluscos terrestres em ambientes antrópicos no território nacional, mas alguns trabalhos,

mesmo com resultados parciais ou incompletos, já foram realizados no Rio Grande do Sul (C.

OLIVEIRA 2002, SILVA 2007), no Paraná (CAMPOS et al. 2005) e na Ilha Grande (HAAS 1953,

NUNES et al. 2003, NUNES & SANTOS 2006, FONSECA et al. 2007, FONSECA et al. 2009).

O problema é ainda maior, porque parte considerável da produção científica recente

sobre florestas tropicais tem sido descritiva e fragmentada. Desse modo, apesar do crescente

interesse pela questão ambiental, pode-se observar que a importância da presença e da

influência humanas sobre o meio natural não é geralmente considerada em toda sua extensão

(HADLEY 1991 apud OLIVEIRA & NETTO 2006).

4

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi comparar a composição da comunidade de moluscos

terrestres em três diferentes locais da Vila Dois Rios, que constituem um gradiente ambiental,

visando construir índices utilizando a proporção de espécies sinantrópicas de moluscos

terrestres presentes nas comunidades malacológicas como indicadoras de alterações

ambientais.

5

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da área de trabalho

ILHA GRANDE

A Ilha Grande está localizada ao sul do Estado do Rio de Janeiro, no município de

Angra dos Reis, entre a latitude 23º05' e 23º15' S e a longitude 44º05' e 44º23' O. Por ser um

importante remanescente de Floresta Atlântica do Estado, faz parte da Área de Proteção

Ambiental dos Tamoios. Além disso, abriga o Parque Estadual da Ilha Grande, a Reserva

Biológica da Praia do Sul e o Parque Estadual Marinho da Praia do Aventureiro. Situada no

domínio da Floresta Atlântica, predominando floresta ombrófila densa de encosta com

variados graus de influência antrópica (ALHO et al. 2002, R. OLIVEIRA 2002, ALVES et al.

2005), em diversas etapas de recomposição, além de ambientes como mangues, restingas,

lagoas, rios, etc. (SANTOS & MONTEIRO 2001).

Os sinais de ocupação da Ilha Grande datam de três mil anos atrás, com uma

população de pescadores primitivos e coletores de mariscos que provavelmente praticavam

canibalismo, é possível que a atuação nas florestas se limitasse à caça e à derrubada de

grandes árvores com machado (com preferência por certas espécies) para a construção de

canoas de madeira (TENÓRIO 1999 apud WUNDER 2006). Inicialmente a Ilha Grande foi

habitada por índios goianás. Após a fase de ocupação indígena, durante todo o século XIX, a

Ilha Grande foi um significativo centro agrícola. A demanda por terra multiplicou e grandes

posses de terras agrícolas (fazendas) foram estabelecidas em diversos locais, como o Abraão,

Dois Rios e Parnaioca (WUNDER 2006), de forma que, na primeira metade do século XIX, o

café era produzido em abundância, tornando-se o elemento principal da sua lavoura (MELLO

1987).

Mais tarde, as fazendas de Dois Rios e do Abraão tornaram-se pontos de desembarque

de escravos vindos da costa da África (MACIEL et al. 1984). Às vezes, o desmatamento

6

causava uma degradação permanente da terra cultivada, mas esses impactos se restringiam a

terrenos próximos à costa que não eram inclinados demais para plantações (OLIVEIRA &

COELHO NETTO 1996 apud WUNDER 2006). Na passagem para o século XX, as plantações

haviam decaído e as florestas estavam se recuperando, uma tendência que foi reforçada ao

longo desse século. A antiga fazenda de Dois Rios foi convertida em prisão no período de

1893 a 1903, quando a Ilha Grande teve sua história associada a instituições carcerárias, com

a criação da Colônia Correcional de Dois Rios, que perdurou até 1994, quando houve a

implosão do Instituto Penal Cândido Mendes e, desde então, o local e seu entorno passaram

por várias mudanças.

O impacto resultante dessa sequencia histórica de intervenções na Ilha Grande é que

atualmente, nas regiões onde cessou a atividade agrícola, as florestas se recuperam

amplamente, graças à predominância de ciclos neutros durante quase um século (WUNDER

2006). O que não ocorreu nas regiões da baixada da Vila Dois Rios, que durante as atividades

do presídio, continuaram sendo utilizadas para plantação de diversos produtos agrícolas, que

serviam para a população carcerária, funcionários do presídio e seus familiares. Dentre os

principais produtos, podemos destacar banana, aipim, milho, capim, hortaliças, etc., além da

retirada de madeira para servir de lenha aos fornos.

VILA DOIS RIOS

Atualmente as áreas ocupadas pelas fazendas apresentam mata secundária em

processo de sucessão ecológica. A vegetação da área urbana da Vila Dois Rios (23º 05’ – 23º

15’S; 44º 05’ – 44º 23’ O) é constituída por grandes jardins e gramados, algumas árvores

introduzidas de grande porte e arbustos de médio porte. Ao redor temos floresta secundária

em regeneração há cerca de 20 anos. Em geral, os topos dos morros se mantiveram

7

razoavelmente preservados, ocorrendo apenas cortes seletivos de árvores de grande porte. A

Vila Dois Rios faz parte do Parque Estadual da Ilha Grande.

A equipe do Laboratório de Malacologia da UERJ vem realizando coletas na Vila

Dois Rios e região de entorno desde 1995, quando a Vila Dois Rios passou a ser administrada

pela UERJ, que se tornou um campus avançado. Atualmente, na referida vila, está instalado o

Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS), que é utilizado por

pesquisadores e alunos que contam com uma boa infra-estrutura para desenvolver suas

atividades de campo.

Buscando comparar locais com diferentes fases de regeneração da mata, foram

realizadas coletas em três localidades da Vila Dois Rios que representam um gradiente

ambiental:

1) Área urbana da Vila Dois Rios, onde atualmente moram aproximadamente 115

moradores. Esta vila foi estabelecida junto com a implantação do Complexo Penal, em 1894,

antes disso, o local fazia parte da fazenda de Dois Rios. Nível do mar (23º 11.106’ S; 44º

11.547’ O) (Fig. 2 e 3).

2) Encosta voltada para a Vila Dois Rios a 350 metros de altitude (23º 10.410’ S; 44º

11.746’ O), onde ocorreu cultivo de capim para alimentação de bois até o ano de 1975 (Fig.

4).

3) Encosta voltada para a Vila Dois Rios a 450 metros de altitude (23º 10.339’ S; 44º

11.812’ O), onde não ocorreu cultivo Fig. 4).

Coleta dos moluscos terrestres

As coletas foram realizadas em 24/10/2003 (região de encosta) e 01/04/2004 (área

urbana) na Vila Dois Rios, Ilha Grande, no município de Angra dos Reis, ao sul do estado do

Rio de Janeiro (Fig. 1).

8

Figura 1. Localização da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Figura 2. Rua da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

9

Figura 3. Canteiros gramados na parte central da Vila Dois Rio, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro e

encosta ao fundo.

Figura 4. Encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Foto: Luiz Eduardo M. de

Lacerda.

10

Em cada local foram utilizados dez quadrats de 25 x 75 cm (Fig. 5), de forma

aleatória, para coletar a serapilheira, que foi recolhida com ancinhos e as mãos até que o solo

ficasse exposto e, acondicionada em sacos plásticos identificados, para transporte até o

laboratório (NUNES 2007).

Figura 5. Vista aérea da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro com localização dos pontos

de coleta marcados com asteriscos vermelhos.

No Laboratório do CEADS, a serapilheira foi triada, minuciosamente, a olho nu, com

o auxílio de bandejas e pincéis. Os moluscos encontrados em cada ponto de coleta foram

mantidos em placas de Petri, separados, identificados, contados e tabulados para posterior

identificação ao menor nível taxonômico possível.

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11

Curadoria

Para limpar as conchas vazias coletadas, elas foram separadas e identificadas,

colocadas em placas de Petri, imersas em água por aproximadamente 48 horas, e escovadas

com pincéis macios para retirar o excesso de sujeira. Conchas maiores ou mais sujas

demoraram mais tempo de molho. Quando as conchas estavam limpas, elas foram colocadas

para secar sobre papel absorvente em placa de Petri por aproximadamente 96 horas, ou até

que ficassem completamente secas.

Os animais encontrados vivos foram mantidos imersos em água previamente fervida e

resfriada, até o relaxamento total (THOMÉ & LOPES 1973, THOMÉ 1975), depois foram fixados

com álcool a 96° GL, para futuros estudos taxonômicos e moleculares.

Tanto as conchas como os animais coletados com a parte mole foram armazenados em

frascos plásticos de diversos tamanhos, potes de vidro ou ependorfes, receberam um número

de tombo, uma etiqueta contendo os dados de coleta e foram depositados na Coleção de

Moluscos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Col. Mol. UERJ).

Coleta de dados ambientais

Em cada ponto de coleta (quadrat) foram coletadas as seguintes variáveis ambientais,

de acordo com propostas da literatura (MENEZ 2002):

a) Profundidade da serapilheira: foi medida em seis pontos dentro do quadrat de 25 X

75 cm, afundando um palito graduado em centímetros na serapilheira até que fosse percebida

a resistência oferecida pelo solo. Utilizou-se a média de cada ponto de coleta nas análises

estatísticas.

b) Temperatura ambiente (máxima, média e mínima): foi medida com uso de

higrotermômetro digital TFA da marca Biocristal que ficou em repouso no quadrat durante a

coleta da serapilheira.

12

c) Temperatura do solo: foi medida com um termômetro Incotherm (graduação -35 a

55 °C) que foi parcialmente enterrado no solo, imediatamente ao lado do quadrat, por alguns

minutos durante a coleta da serapilheira.

d) Umidade relativa do ar (máxima, média e mínima): foi medida com uso de

higrotermômetro digital TFA da marca Biocristal que ficou em repouso ao lado do quadrat

durante a coleta da serapilheira.

e) Luminosidade: foi medida através de luxímetro digital LDR- 208 da marca

Instrutherm posicionado cerca de 50 cm acima do quadrat.

No momento da triagem, a serapilheira foi separada em folhas e galhos, e estes foram

acondicionados em sacos de papel com peso conhecido, e pesados com a intenção de obter o

peso úmido. Depois foram colocados em estufa a 55ºC até a secagem total do material, que

foi novamente pesado, para obter o peso seco. O processo foi repetido para cada amostra até

que fosse verificada a estabilização do peso. Calculando a diferença entre o peso úmido e o

peso seco, é possível calcular o percentual de umidade da serapilheira por regra de três

simples.

Foi verificada a normalidade para cada variável ambiental antes da realização da Análise

de Variância através do programa Systat 11.0, com o objetivo de verificar se existia diferença

estatisticamente significativa entre as médias das áreas (UNDERWOOD 1997), posteriormente,

foi realizado teste de Tukey para verificar entre quais áreas há diferença estatisticamente

significativa.

Identificação dos moluscos terrestres

Ainda no CEADS, todos os animais foram observados sob microscópio estereoscópio

da marca Leica modelo MZ6, separados por morfotipos e tabulados. Depois, no Laboratório

de Malacologia da UERJ, foram novamente analisados e determinados até o menor nível

taxonômico possível. Um representante de cada espécie ou morfotipo foi selecionado e

desenhado em câmara clara acoplada ao microscópio Olympus, modelo SZH10, para facilitar

a observação de caracteres de importância taxonômica.

13

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total foram coletadas 20 espécies, 17 gêneros e 10 famílias, como mostra a tabela I.

Tabela I. Famílias e espécies coletadas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 0m: área

urbana; 350m: encosta a 350m de altitude; 450m: encosta a 450m de altitude.

Família Espécie 0m 350m 450m

Helicinidae Alcadia sp. 1

Neocyclotidae Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835) 1

Succineidae Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837 3

Pupillidae Gastrocopta servilis (Gould, 1843) 1

Bulimulidae Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835) 15

Bulimilidae sp.3 1

Subulinidae Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) 182

Subulina octona (Bruguière, 1789) 32

Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834) 24

Leptinaria unilamellata (d`Orbigny, 1835) 10 1

Obeliscus sp. 2

Systrophiidae Miradiscops sp. 2 5

Happiella sp. 12 3

Tamayoa sp. 1

Charopidae Ptychodon schuppi (Suter, 1900) 1 2

Ptychodon sp.1 1 2

Ptychodon sp.2 1

Stephanoda sp. 2

Euconulidae Habroconus semenlini (Moricand, 1846) 2

Bradybaenidae Bradybaena similaris (Férussac, 1821) 4

Riqueza 8 9 8

Abundância 271 23 17

14

Características das espécies coletadas

Uma breve busca bibliográfica foi realizada, procurando a localidade tipo, as

características das espécies ou gênero (para aqueles que não foram identificadas até a

categoria específica), a distribuição geográfica e os trabalhos que foram realizados no país

abordando as espécies encontradas neste trabalho.

Família Helicinidae

Alcadia Gray, 1840

Concha heliciforme, enrolada, subglobosa ou ligeiramente deprimida, apresenta

“pêlos”, com calo perto da columela, que é achatada, quase retilínea. Perióstraco muitas vezes

coberto com linhas de “pêlos”. Abertura semioval, quase triangular. Perístoma mais ou menos

expandido, separado da columela, na maior parte curvo; opérculo sólido, semioval (GRAY

1857).

Família Neocyclotidae

Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835) (Fig. 6)

Localidade-tipo: Rio de Janeiro (D’ORBIGNY 1837). Espécie nativa, encontrada em

ambientes florestados.

Concha dextrógira, helicoidal, deprimida, de cor marrom, apresenta estrias

unilamelares regulares entre as quais existem microestrias. Abertura é circular e o opérculo

também. Espira apresenta-se cônica com ápice obtuso e convexo; linha de sutura profunda.

Protoconcha é elevada, lisa e possui, em média, 1 ½ voltas sem estrias ou pontuações.

MONTEIRO (2005) comparou a morfologia da concha desta espécie em três diferentes

regiões da Ilha Grande e concluiu que a concha dessa espécie não sofre interferência das

alterações ambientais, nas áreas estudadas, o que poderia ser explicada pela presença do

15

opérculo, que auxiliaria na manutenção das condições hidroeletrolíticas, minimizando a

influência do ambiente sobre o animal.

Ocorrência: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná (MORRETES 1949). Ilha

Grande, Angra dos Reis Rio de Janeiro (HAAS 1953), nas trilhas da Parnaioca, Caxadaço e

Jararaca (MONTEIRO 2005), na trilha da Jararaca de 100 a 400 m de altitude e na trilha do Pico

do Papagaio de 200 a 400 m de altitude (NUNES 2007).

Família Succineidae

Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837 (Fig. 7)

A localidade-tipo desta espécie não foi encontrada no material pesquisado.

Concha de forma oval, brilhante, geralmente translúcida e muito frágil; existem

conchas opacas e relativamente fortes. O número de voltas varia de 2 1/6 a 3 1/6 e as conchas

atingem o comprimento de 13,1 mm. As voltas são convexas. As linhas de sutura ligeiramente

inclinadas, são bem marcadas e profundas. As linhas de crescimento são relativamente

acentuadas. Abertura ovalada, vertical e bem arredondada na base. Columela arqueada,

suboblíqua. Perístoma delgado e sem sinuosidade (LANZIERI 1965). Espécie sinantrópica.

A espécie é muito higrófila e pode abrigar parasitas. LANZIERI (1965) relatou o

encontro de dois exemplares com esporocisto de Trematoda no tentáculo.

Distribuição: Rio de Janeiro, Curitiba e Paraná (MORRETES 1949). Maceió, Rio de

Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina, Peru e Chile (LANZIERI 1965). Ilha

Figura 6. Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835). Escala 5 mm.

Foto: Amilcar B. Barbosa.

16

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953). Do Rio de Janeiro à Patagônia (SIMONE

2006).

Figura 7. Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837. Desenho copiado de LANZIERI (1965).

Família Pupillidae

Gastrocopta servilis (Gould, 1843) (Fig. 8)

Localidade-tipo: Matanzas, Cuba (SOLEM 1961), México (BIELER & SLAPCINSKY

2000), espécie neotropical (CHRISTENSEN & KIRCH 1986, COWIE 1998). Espécie sinantrópica.

Concha alongada; ápice agudo, cor castanho pálido; cinco voltas, muito delicada,

sutura bem definida. Abertura semioval, perto do eixo da concha, a porção transversa

ligeiramente oblíqua. Um dente lamelar perto da junção do lábio externo, um grande dente

columelar cônico, na base um dente pequeno, e próximo, um outro dente, colocado de modo a

formar um tripé regular com os outros dois, e acima deste em quinto dente inconspícuo. Lábio

ligeiramente evertido, não achatado, às vezes um pouco flexionado à direita; umbílico

pequeno (GOULD 1843 apud PISBRY 1916-1918). O número e a forma dos dentes da abertura

são característicos da espécie (PILSBRY 1926).

Distribuição: do México à Argentina (PILSBRY 1926). Levada para o Havaí desde o

século XIX através do comércio (CHRISTENSEN & KIRCH 1986). Ceará (MORRETES 1949). Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953).

17

Família Bulimulidae

Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835) (Fig. 9)

Localidade-tipo: Rio de Janeiro (PILSBRY 1897-1898). Espécie nativa, sinantrópica.

Concha umbilicada, oval-cônica, muito fina, transparente, pouco brilhante, decussada

pelo crescimento de estrias e linhas espirais delicadas; pálida córnea, algumas vezes fulvo.

Espira conóide, ápice bastante agudo, sutura simples. Seis voltas, ligeiramente convexas,

aumentando com velocidade moderada; a última volta convexa, não descendente na frente,

ligeiramente atenuada na base. Columela suboblíqua, algumas vezes quase vertical. Abertura

oval, perístoma simples, não expandido, agudo; margem columelar refletida na parte superior

(PILSBRY 1897-1898).

ARAÚJO et al. (1960) caracterizam a concha com comprimento total de 12 a 20 mm,

com 5 a 6 voltas da espira. Concha embrionária ornamentada em zig-zag na primeira volta da

espira e até a metade da segunda volta. O resto da concha apresenta apenas estrias de

crescimento mais visíveis nas suturas.

DUTRA (1988) observou que os indivíduos desta espécie ocorrem verticalmente nos

ramos e talos de ervas; eventualmente foram encontrados no solo, em locomoção sobre folhas

caídas; possuem excepcional habilidade de adaptação às condições ambientais.

SILVA et al. (2008) ao estudarem aspectos do desenvolvimento e reprodução em

laboratório, relataram que este molusco tropical, que é amplamente distribuído no Brasil, é a

Figura 8. Gastrocopta servilis (Gould, 1843). Imagem disponível em:

www.jaxshells.org/gast20.jpg; Imagem do Dr. Wayne Van Devender do

Departamento de Biologia, Appalachian State University, EUA.

18

única espécie de sua família com importância parasitológica. MEIRELES et al. (2008)

estudaram a influência da dieta e do isolamento no crescimento dos indivíduos desta espécie

em condições de laboratório, verificaram a influência da densidade populacional no

crescimento e que a dieta oferecida exerceu grande influência na biologia dos animais.

Distribuição: Natal, Maranhão e Pará (BAKER 1913). Rio de Janeiro, Bahia,

Pernambuco e Mato Grosso (MORRETES 1949). Pernambuco (DUTRA 1988). Espírito Santo e

São Paulo (SIMONE 2006).

Família Subulinidae

Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) (Fig. 10)

A localidade-tipo desta espécie não foi encontrada, no material pesquisado. PILSBRY

(1906) relata que esta espécie está presente em várias partes do mundo. Segundo o autor,

algumas formas de Opeas (atualmente Beckianum e Lamellaxis), nenhuma delas bem

conhecidas, foram descritas a partir da Índia Ocidental, em geral são espécies bem

distribuídas, como: O. beckianum, O. gracilis, O. micra e O. goodalli. Por outro lado, COWIE

Figura 9. Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835). Desenho

copiado de ARAÚJO et al. (1960).

19

(1998) afirma que a região de origem desta espécie é América Central e do Sul. Espécie

sinantrópica.

Concha umbilicada, oval-oblonga, ápice aguçado, fina, translúcida, hialina esverdeada,

densamente costelada e estriada. Nove voltas, convexa, a última sobre um quarto final do

comprimento total, base arredondada, columela curta. Abertura ampla, semioval; perístoma

simples, agudo, margem columelar estendida. (PFEIFFER 1846 apud PILSBRY 1906). Mede

cerca de 8 mm, tem 8 ½ voltas fortemente convexas, apresenta estriação (PILSBRY 1926).

Distribuição: Índia Ocidental PILSBRY (1906). Do México ao Brasil (PILSBRY 1926).

Pará, Rio de Janeiro e São Paulo (MORRETES 1949). Do México ao Rio de Janeiro (TILLIER

1980). Rio Grande do Norte e Roraima (SIMONE 2006). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro (HAAS 1953), nas trilhas do Caxadaço e da Jararaca (SANTOS & MONTEIRO 2001), nas

trilhas do Pico do Papagaio e da Jararaca apenas em 100m de altitude (NUNES 2007).

Subulina octona (Bruguière, 1789) (Fig. 11)

Localidade-tipo: Guadalupe, Índias Ocidentais (SOLEM 1961). Antilhas (BIELER &

SLAPCINSKY 2000). THOMÉ et al. (2006) consideram a espécie nativa no Brasil tropical,

embora afirme que a localidade tipo e holótipo são desconhecidos. TILLIER (1980) afirma que

a espécie é introduzida em toda a região intertropical, sendo impossível determinar com

Figura 10. Beckianum beckianum. (Pfeiffer, 1846). Foto retirada de

SIMONE (2006), exemplar com 6 mm.

20

precisão seu local de origem. Por outro lado, COWIE (1998) relata o Neotrópico como região

de origem. SIMONE (2006) destaca esta espécie como introduzida e relata sua ocorrência na

África, mas com um ponto de interrogação. BESSA et al. (2000) afirmam que esta espécie é

encontrada em várias partes do mundo, sempre associadas a ambientes antrópicos. Pelo

exposto, é possível perceber que a origem desta espécie é muito controversa, embora a

maioria dos autores pesquisados indique a região Neotropical. Espécie sinantrópica.

ARAÚJO & BESSA (1993) caracterizam a concha como pequena, medindo entre 13 x

4mm, com espira muito longa, graças ao número de voltas que apresenta (oito). A amplitude

das voltas aumenta progressivamente até a volta corporal. Não apresenta nenhuma

ornamentação característica, evidenciando de forma não muito marcada, as linhas de

crescimento. A abertura é de forma ovalada sem dentes ou lamelas e com perístoma cortante.

O bordo columelar apresenta uma leve projeção no sentido do eixo, mais alargada em sua

metade. As suturas são evidentes, porém muito profundas. THOMÉ et al. (2006) caracterizam a

espécie da seguinte forma: concha alongada, amarelada, lisa, levemente estriada e com

protoconcha lisa.

É hospedeira intermediária de parasitos. BESSA et al. (2000) relataram a infecção por

Angiontrongylus vasorum (Baillet, 1866). Em laboratório, já foi verificada a influência do

substrato na reprodução (D’ÁVILA & BESSA 2005a, BESSA & ARAÚJO 1995b) e no crescimento

(D’ÁVILA & BESSA 2005b) desta espécie.

DUTRA (1988) relatou o encontro de indivíduos desta espécie no solo e também abaixo

do entrelaçado de ramos e raízes sobre o solo, segundo o autor, a espécie tem excepcional

habilidade de adaptação às condições ambientais. D’ÁVILA et al. (2006) verificaram a

presença de comportamento agregativo.

Segundo BESSA & ARAÚJO (1995a), são capazes de fazer autofecundação, o que

aumentaria seu sucesso em colonizar novos ambientes (SANTOS & MONTEIRO 2001).

21

D’ÁVILA et al. (2004) estudaram a resistência à dessecação de S. octona e verificaram

que, depois de 36 horas em câmara climatizada à 35ºC e 80% de umidade relativa do ar, todos

os indivíduos morreram, contudo, os indivíduos desta espécie podem se enterrar no substrato

para superar períodos desfavoráveis. Esse comportamento é muito frequente para esta espécie,

observado mesmo em períodos favoráveis, ele reduz o risco de dessecação já que o substrato

fornece a umidade necessária à sobrevivência destes moluscos e pode funcionar como uma

barreira física à evaporação de água corporal.

Figura 11. Subulina octona (Bruguière, 1789). Desenho

copiado de ARAÚJO & BESSA (1993).

Distribuição: Ceará e Pará (BAKER 1913). Do México ao

Brasil e Equador (PILSBRY 1926). Pernambuco, Rio de Janeiro

e Paraná (MORRETES 1949). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio

de Janeiro (HAAS 1953). Amapá, Amazonas, Pará, Ceará,

Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio

Grande do Sul e Rondônia (ARAÚJO & BESSA 1993). Rio

Grande do Sul (THOMÉ et al. 2006). Amplamente distribuída

em regiões tropicais (BIELER & SLAPCINSKY 2000). Sua

presença é assinalada em várias partes do mundo, vivendo em

jardins próximos aos domicílios humanos (BESSA et al.

2000).

22

Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834) (Fig. 12)

Localidade-tipo: Mirzapur, Ceylon, Índia, China, Formosa e Japão (PILSBRY 1906).

Embora ROTH (1997) relate que a origem desta espécie é incerta, COWIE (1998) relata sua

origem como desconhecida, mas sugere que possa ser Neotropical. Espécie sinantrópica.

Concha dextrógira, heliciforme, nos indivíduos jovens e cônica-alongada com ápice

obtuso nos adultos, branca, translúcida; com duas a sete voltas moderadamente convexas; a

protoconcha é lisa com 1 ½ voltas e apresenta crenulações junto à sutura, observáveis apenas

ao Microscópio Eletrônico de Varredura; sutura profunda; a abertura é oval alongada, com

margem columelar lisa, reta e refletida junto à base e margem parietal lisa; o umbílico é

parcialmente encoberto pela margem columelar (C. OLIVEIRA 2002). A altura da abertura

ocupa cerca de um quarto da altura total da concha; espira elevada, lábio simples, perióstraco

translúcido, com menos brilho que os outros Subulinídeos (OLAZARRI 1986).

São capazes de fazer autofecundação (OLIVEIRA et al. 1971). São herbívoros, se

protegem embaixo de talos e folhas em épocas secas (OLAZARRI 1986). São encontrados em

ambientes muito variados, embaixo de pedras, enterrados entre raízes e em solos arenosos

(M IQUEL & PARENT 1996). Habitam a serapilheira de muitos lugares (ROTH 1997).

Distribuição: Regiões temperadas dos dois hemisférios, provavelmente introduzida

pelo comércio (OLAZARRI 1986, ROTH 1997, BIELER & SLAPCINSKY 2000). Na América tem

vasta distribuição: nas Antilhas, na América Central e na América do Sul. Pará e São Paulo

(MORRETES 1949). Regiões tropicais de ambos os hemisférios (PILSBRY 1926, BERG 1994).

Distribuição mundial (MIQUEL & PARENT 1996). CHRISTENSEN & KIRCH (1986) relatam sua

ocorrência no Havaí em período pré-histórico. Na Ilha Grande (HAAS 1953), ocorre na trilha

do Pico do Papagaio (400 e 500 m de altitude) e na trilha da Jararaca, em altitudes (100, 400 e

500m de altitude) (NUNES 2007).

23

Leptinaria unilamellata (d`Orbigny, 1835) (Fig. 13)

A localidade-tipo desta espécie não foi encontrada no material pesquisado. Segundo

PILSBRY (1906), Leptinaria é um gênero da América tropical amplamente distribuído,

principalmente na América do Sul. Espécie encontrada em ambientes antrópicos e também em

ambientes florestados, mas com densidade baixa.

Segundo ARAÚJO & KELLER (1993) a concha é pequena, com 4,5 mm e cerca de 6,5

voltas de espira, com a superfície mostrando as linhas de crescimento não muito marcadas,

suturas bem evidentes, mas não muito profundas. Volta corporal com comprimento

equivalente a pouco mais que as demais. Abertura ovalada com perístoma cortante, bordo não

refletido e desprovido de dentes ou lamelas no bordo externo. Bordo columelar com uma

lamela lisa, triangular, baixa e projetada para a abertura. Bordo parietal com uma lamela

transversal à abertura e situada a meia distância entre o término da lamela columelar e a

inserção da última volta.

Apresenta peristômio simples, lamela parietal e columela truncada desde o embrião

(PILSBRY 1906), não dando assim indicativo conquiliológico externo do seu grau de

desenvolvimento (DUTRA 1988).

Figura 12. Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834). Escala 1 mm.

Foto: Amilcar B. Barbosa.

24

Considerada espécie cosmopolita, tem sua distribuição ampliada principalmente por

ação antrópica (DUTRA 1988). ALMEIDA & BESSA (2001b) estudaram o crescimento e a

reprodução desta espécie em laboratório e verificaram que ela pode fazer autofecundação.

ARAÚJO (1982) apud (DUTRA 1988) cita uma constante simpatria dessa espécie com

espécies de Opeas (Lamellaxis) e Subulina octona.

DUTRA (1988) estudou aspectos da ecologia e reprodução e observou que essa espécie

ocorre junto com Bulimulus tenuissimus e Sarassinula sp., mas raramente com Subulina

octona. Essa espécie habita o solo, sobre e sob talos e folhas caídas, abaixo do entrelaçado de

ramos e raízes; apresentou grande densidade populacional, superando as outras espécies de

moluscos terrestres associadas.

Estudos fisiológicos foram realizados por ALMEIDA & BESSA (2000) e verificaram que

a densidade populacional influenciou o crescimento em L. unilamellata.

D’ÁVILA et al. (2004) estudaram a resistência à dessecação de L. unilamellata e

verificaram que, depois de 36 horas em câmara climatizada à 35ºC e 80% de umidade relativa

do ar, todos os indivíduos morreram, contudo, os indivíduos desta espécie podem se enterrar

para superar períodos desfavoráveis.

L. unilamellata é hospedeiro intermediário de Postharmostomum gallinum Witenberg,

1923 (DUARTE 1980 apud ALMEIDA & BESSA 2000) e de Paratanaisia bragai Santos, 1934

(ARAÚJO & KELLER 1993).

Distribuição: Peru (HAAS 1949). Pernambuco (DUTRA 1988). Bahia, Curitiba, Paraná

(MORRETES 1949). Mato Grosso, Amazonas, Roraima, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro,

São Paulo e Paraná ARAÚJO (1982) apud DUTRA (1988). Amazonas, Pará, Pernambuco,

Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia (ARAÚJO & KELLER

1993). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953), na trilha do Pico do

25

Papagaio nas altitudes de 100, 300 e 500m, e trilha da Jararaca a 200m de altitude (NUNES

2007).

Obeliscus Beck, 1837

Concha sem umbílico, subcilíndrica ou afunilada, usualmente grande, sólida e opaca;

de nove a 18 voltas, um pouco convexa, não carenada. Voltas embrionárias suaves ápice

obtuso. Abertura oval, lábio simples e curto, columela côncava ou vertical, truncada na base, a

protoconcha é globosa ou oblonga, com cerca de três voltas, e muito pequena se comparada

com um exemplar adulto; são animais vivíparos (PILSBRY 1906-1907).

Distribuição: América do Sul e Antilhas (PILSBRY 1906-1907).

Os três gêneros a seguir são da família Systrophiidae, que é endêmica da Região

Neotropical (RAMÍREZ 1993).

Figura 13. Leptinaria unilamellata (d’Orbigny, 1835).

Desenho retirado de ARAÚJO & KELLER (1993).

26

Família Systrophiidae

Miradiscops Baker, 1925

Concha subdiscoidal, pequena, hialina, umbílico aberto, linhas de crescimento

fracamente marcadas, espira minimamente levantada, voltas com incremento lento, a última

volta não é maior que a anterior; sem dentes; a forma da última volta é arredondada,

perístoma afiado; dente radular em forma de garra, dente central vestigial ou ausente, dente

com cúspides longas e delgadas (RAMÍREZ 1993).

Distribuição: Bolívia, Brasil, Peru, Venezuela, Costa Rica, Guatemala, Panamá,

México, Porto Rico, Providence e Trinidade (RAMÍREZ 1993).

Happiella Baker, 1925

Concha com espira muito baixa e umbílico reduzido a uma pequena perfuração

(BAKER 1925). Concha sem carena no umbílico, dentes central e laterais fimbriados (RAMÍREZ

1993).

Distribuição: da Colômbia até as Guianas, Brasil, Paraguai e Trinidad (RAMÍREZ

1993).

Tamayoa Baker, 1925

Concha com carena no umbílico, estendendo até o ápice; pequeno dente central

radular, tricúspide (RAMÍREZ 1993).

Distribuição: Peru, Brasil, Venezuela e Trinidade (RAMÍREZ 1993).

Família Charopidae

Ptychodon Ancey, 1888

Concha pequena, aproximadamente três milímetros de diâmetro máximo e altura de

dois milímetros, deprimida, discoidal, com espira às vezes praticamente oculta pela última

27

volta, de cor ambarina, parede muito fina e opaca ou semitransparente, coberta por perióstraco

geralmente fino e brilhoso. Apresenta até cinco voltas e meia, convexas, de crescimento lento,

regular e levemente comprimidas. A protoconcha é lisa. As voltas pós-embrionárias são

dotadas de costelas radiais ripiformes, finas, convexas e baixas de traçado perfeitamente

sigmóide. Os espaços intercostelares apresentam linhas de crescimento, podendo ocorrer

também estrias. A abertura é reniforme, comprimida palatalmente, com perístomo de borda

simples e cortante. O umbílico tem cerca de 1/3 a 1/4 do diâmetro máximo da concha, é amplo

e perspectivo. Apresenta barreiras peristomais (FONSECA & THOMÉ 1993).

Ptychodon schuppi (Suter, 1900) (Fig. 14)

Localidade-tipo: São Leopoldo, Rio Grande do Sul (SUTER 1900). Espécie nativa,

encontrada em ambientes florestados.

Concha exígua, discoidea, umbilicada, estriada, não lustrosa, fulva; espira quase plana,

de 4 voltas, aumentando paulatina e regularmente, convexas, com costelas finas, direitas

equidistantes, em número mais ou menos de 14 por milímetro; entre estas existem linhas

microscópicas de incremento, cruzadas por linhas espirais. A protoconcha é lisa de 1 ½ voltas.

A sutura é muito profunda, a abertura subvertical, estreita e redondamente lunar com margens

simples, e extremidades distantes, convergentes. O lábio columelar é curto, vertical, não

reflexo, o umbigo bem largo, perspectivo, mostrando todas as voltas. A base é convexa

(SUTER 1900).

Distribuição: Rio Grande do Sul (SUTER 1900). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro, nas trilhas da Jararaca e do Caxadaço (SANTOS & MONTEIRO 2001), na trilha da

Jararaca nos 300 e 500 m de altitude e na trilha do Pico do Papagaio de 200 a 300 m de

altitude (NUNES 2007).

28

Stephanoda Albers, 1860

Concha deprimida, de paredes finas, espira baixa e plana, até sete voltas convexas de

sutura profunda e não escavada, abertura reniforme e obliqua de perístomo simples, umbílico

muito amplo (ALBERS 1860 apud FONSECA & THOMÉ 1993).

Família Euconulidae

Habroconus semenlini (Moricand, 1846) (Fig. 15)

Localidade-tipo: Bahia (MORICAND 1846). Espécie nativa encontrada em ambientes

antrópicos e florestados.

Micromolusco de concha dextrógira, discóide, frágil; amarela, translúcida; número de

voltas variando de 2 ½ a 4 ½; sutura pouco profunda; a protoconcha com 1 ½ voltas

apresenta linhas finas, espirais e contínuas, que se estendem por toda a superfície da concha e

aumentam o espaçamento entre as mesmas à medida que a concha cresce; em vista dorsal e

ventral são em número de 19 a 20 linhas na volta do corpo; abertura em formato de meia lua;

perístomo fino; umbílico oval encoberto parcialmente ou totalmente (C. OLIVEIRA 2002). A

concha vista pelo microscópio é claramente decussada. A protoconcha apresenta miúdas

estrias radiais, tendo linhas espirais visíveis apenas nas proximidades da sutura. A perfuração

umbilical é muito estreita e quase completamente coberta pela dobra columelar (SUTER 1900).

Figura 14. Ptychodon schuppi (Suter, 1900). Foto: Carla

W. Gabriel.

29

Distribuição: Uruguai, Argentina, Paraguai, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul (C.

OLIVEIRA 2002). São Paulo (SUTER 1900). Bahia (MORICAND 1846). Na Ilha Grande, Angra

dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953), na trilha da Jararaca de 100 a 500 m de altitude e na

trilha do Pico do Papagaio de 200 a 400 m de altitude (NUNES 2007).

Família Bradybaenidae

Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Fig. 16)

Localidade-tipo: Timor (Indonésia) (SOLEM 1961). Várias localidades (BIELER &

SLAPCINSKY 2000). COWIE (1998) relata sua origem na Ásia. THOMÉ et al. (2006) afirmam

que esta espécie possui localidade tipo e holótipo desconhecidos. BURCH (1962) e BERG

(1994) são mais precisos, afirmando que é nativa da China, a partir de onde se expandiu pelo

comércio a todas as partes do mundo onde houve cultivo de café, podendo ser uma praga

grave para a floricultura e horticultura (BOFFI 1979, THOMÉ et al. 2006). Espécie sinantrópica,

encontrada exclusivamente em ambientes modificados, esta espécie não é encontrada em

ambientes florestados.

A concha mede de 9 a 13 mm de diâmetro, sub-heliciforme, com perfil das voltas

convexo, base arredondada, translúcida e lisa. Cor castanho clara, com ou sem uma faixa

espiral castanha na altura da sutura e no seu prolongamento imaginário pela volta do corpo;

lábio e interior da abertura brancos e brilhantes, região parietal castanha. Abertura luniforme,

lábio refletido e umbílico estreito. Escultura de estrias espirais; linhas de crescimento finas e

oblíquas (BOFFI 1979).

Figura 15. Habroconus semenlini (Moricand, 1846). Escala 1

mm. Foto: Antônio C. Freitas.

30

De acordo com ARAÚJO (1989), a concha tem aspecto geral heliciforme, com parede

espessa e forte, constituída de cinco a seis voltas da espira. Mostra duas suturas evidentes

porém não muito profundas, acompanhadas no seu limite superior por uma linha de coloração

castanha que se estende na volta corporal até o bordo da abertura e é visível também pela face

interna da concha. As linhas de crescimento são mais pronunciadas na volta corporal, dando

um aspecto levemente rugoso à superfície da concha. O umbílico é aberto, com os bordos se

abrindo amplamente sem, contudo, ser muito profundo. A abertura é semilunar, com os

bordos refletidos largamente, sem lamelas ou dentes.

THOMÉ et al. (2006) caracterizam a espécie como pequeno caracol herbívoro, com

concha arredondada, castanho clara, em geral, apresenta uma banda espiral avermelhada.

Espécie invasora, provavelmente asiática, comum em hortas e jardins.

ALMEIDA & BESSA (2001a) estudaram o crescimento e a reprodução desta espécie em

laboratório, verificando que é capaz de fazer autofecundação. Pode ser infectada por

Postharmostum gallinum Witenberg, 1923 e Eurytrema coelomaticum (Giard & Biliet, 1892),

ambos com ciclos de vida associados a animais domésticos (AMATO & BEZERRA 1992).

D’ÁVILA et al. (2004) relataram a formação de epifragma em alguns indivíduos e uma

grande resistência à dessecação, o que poderia ser explicado por seu tropismo positivo por

superfícies verticais sendo, então, menos dependente do substrato e possivelmente tem menor

exposição à luz e ao calor.

No Brasil, alguns trabalhos já foram realizados com a espécie, abordando reprodução,

fisiologia e parasitologia, por exemplo: AMATO & BEZERRA (1992), PASCHOAL & AMATO

(1996), ALMEIDA & BESSA (2000), LIRA et al. (2000), BRANDOLINI & AMATO (2001),

PINHEIRO et al. (2001), MOREIRA et al. (2003), FURTADO et al. (2004), ARÉVALO et al. (2006),

NASCIMENTO et al. (2006), GARCIA & PINHEIRO (2007), LUSTRINO et al. (2008) e DE OLIVEIRA

et al. (2008).

31

Distribuição: Um dos moluscos mais amplamente distribuídos pelo mundo (SOLEM

1961). HAAS (1955) relatou que esta espécie oriental estava rapidamente se espalhando no

Peru. Curitiba, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro (MORRETES 1949). Cincuntropical,

introduzida nas Américas (BOFFI 1979). É encontrada em quase todos os estados do Brasil

(ARAÚJO 1989). Rio Grande do Sul (THOMÉ et al. 2006). Encontra-se distribuído

principalmente nas regiões tropicais, disseminado pelo comércio de plantas; ocorre na

América do Norte, Central e do Sul; no Brasil, é encontrado desde o Amapá até o Rio Grande

do Sul (ALMEIDA & BESSA 2001a).

Área urbana da Vila Dois Rios

Na área urbana foram coletados 271 indivíduos, distribuídos em cinco famílias e oito

espécies (Tab. I) (Col. Mol. UERJ Nº 7691-7723). Destas, uma espécie é nativa, cinco

espécies são exóticas, uma espécie não conseguimos localizar a origem, mas todas estão

sempre associadas a ambientes antrópicos.

A família dominante foi Subulinidae com 91,50 % do total coletado, seguido por

Bulimulidae (5,54%), Fruticolicidae (1,48%), Succineidae (1,11%) e Pupillidae (0,37%),

como mostra a figura 17.

Figura 16. Bradybaena similaris (Férussac,

1821). Desenho retirado de ARAÚJO (1989).

32

Famílias

Subulinidae

Bulimulidae

Fruticicolidae

Succineidae

Pupillidae

Figura 17. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na área urbana da Vila Dois Rios, Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Podemos observar que nesta comunidade existe a dominância da espécie Beckianum

beckianum (Pfeiffer, 1846), com 67% de exemplares (Fig. 18). Embora a origem geográfica

desta espécie seja desconhecida, vários autores relatam a ocorrência dela em diversas partes

do mundo, sempre associadas a ambientes modificados pelo homem, seja pela agricultura, por

canteiros de hortas ou jardins. Esta espécie apresenta elevada abundância em ambientes

antrópicos, mas em ambientes onde a influência humana foi muito tênue, ela não é

encontrada.

33

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Abu

ndân

cia

B. bec

kianu

m

S. octo

na

L. gr

acilis

B. ten

uissim

us

L. un

ilam

ellat

a

B. sim

ilaris

S. mer

idion

alis

G. ser

vilis

Figura 18. Abundância dos moluscos terrestres coletados na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro.

Encosta da Vila Dois Rios a 350 metros de altitude

Na encosta da Vila Dois Rios, a 350 m de altitude, foram coletados 23 indivíduos, de

nove espécies diferentes, compreendidos em seis famílias (Tab. I) (Col. Mol. UERJ Nº 7677-

7690, 7724).

A família Systrophiidae (61%), endêmica do neotrópico (RAMÍREZ 1993), foi

dominante, seguida respectivamente pelas famílias Subulinidae (13%), Euconulidae e

Charopidae (8, 7% cada) e Helicinidae e Neocyclotidae (4,3% cada) (Fig. 19).

34

Famílias

Helicinidae

Neocyclotidae

Subulinidae

Systrophiidae

Charopidae

Euconulidae

Figura 19. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 350 metros de altitude.

Observando a figura 20, percebemos que a espécie dominante foi Happiella sp,

seguida por Obeliscus sp., Miradiscops sp. e H. semenlini. As espécies Alcadia sp., N.

prominulus, L. unilamellata, Ptychodon sp.1 e P. schuppi foram coletados com apenas um

indivíduo cada, representam espécies singletons que refletem a raridade e/ou a pequena

abundância da maioria das espécies dentro de uma comunidade, padrão comumente

observado, principalmente em regiões tropicais (WHITTAKER 1975, MAGURRAN 1988, ODUM

1988, KAGEYAMA & L EPSCH-CUNHA 2001, RICKLEFS 2003).

Das espécies coletadas, quatro foram identificadas até a categoria específica, três das

quais possuem localidade tipo no país e uma com localidade tipo descrita para a América

Tropical.

As espécies Obeliscus sp., H. semenlini, Alcadia sp. e N. prominulus foram exclusivas

desta localidade.

Famílias

35

Figura 20. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro, a 350 m de altitude.

3) Encosta da Vila Dois Rios a 450 metros de altitude

Na coleta quantitativa da encosta da Vila Dois Rios, a 450 m de altitude, foram

coletados 17 indivíduos, divididos em oito espécies diferentes, e três famílias (Tab. I) (Col.

Mol. UERJ Nº 7662-7669, 7671-7674).

A família Systrophiidae foi dominante, com 53% do total de indivíduos coletados,

seguido pela família Charopidae, que representou 41% do total de indivíduos.

36

Famílias

Bulimulidae

Systrophiidae

Charopidae

Figura 21. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 450 metros de altitude.

Observando a figura 22, percebemos que a espécie dominante foi Miradiscops sp.,

seguida por Happiella sp. Das espécies coletadas, apenas uma foi identificada até a categoria

específica, sendo ela nativa.

As espécies Bulimulidae sp.3, Tamayoa sp., Ptychodon sp.2 e Stephanoda sp. foram

exclusivas desta localidade.

Figura 22. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro, a 450 m de altitude.

37

Na figura 23 é possível observar que nas amostras coletadas existem espécies

exclusivas da área urbana da Vila Dois Rios: Beckianum beckianum, Subulina octona,

Lamellaxis gracilis, Bulimulus tenuissimus, Bradybaena similaris, Succinea meridionalis,

Gastrocopta servilis. A espécie Leptinaria unilamellata, também foi coletada na área de

floresta a 350 m de altitude, apenas um indivíduo.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

B. bec

kianu

m

S. octo

na

L. gracil

is

B. te

nuiss

imus

L. unil

amell

ata

B. si

mila

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S. m

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s

G. servil

is

Obeliscu

s sp.

H. se

men

lini

Alca

dia sp

N. prominu

lus

Happ

iella

sp.

P. sc

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i

Ptyc

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.1

Mira

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ps sp.

Bulim

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sp. 3

Tamay

oa sp

.

Ptycho

don sp

.2

Step

hano

da sp

.

450m

350m

0m

Figura 23. Percentual de espécies coletas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 0m:

área urbana; 350m: encosta a 350m de altitude; 450m: encosta a 450m de altitude.

De acordo com a nossa experiência na região (NUNES et al. 2003) observamos que

algumas espécies são encontradas somente em ambientes não florestados, fortemente

influenciados pelo homem, tais como gramados, jardins e hortas: Bulimulus tenuissimus,

Bradybaena similaris, Succinea meridionalis e Gastrocopta servilis, estas espécies não são

encontradas onde a vegetação está se estabelecendo, apresentando um dossel razoavelmente

fechado, constituído por árvores e arbustos de várias alturas. Contudo, outras espécies

conseguem viver tanto no ambiente antrópico, bem alterado, e também em ambientes onde a

influencia antrópica cessou e o ambiente está se recuperando, são elas B. beckianum, S.

octona, L. gracilis e L. unilamellata. A espécie B. beckianum, em ambientes florestados em

38

recuperação, também apresenta abundância e dominância com valores bastante elevados

(NUNES et al. 2003).

Nas regiões florestadas da Ilha Grande, onde a influência antrópica se restringiu a

entrada do homem para realizar cortes de madeira, ou realizar caça, por exemplo,

eventualmente encontramos um ou dois exemplares de Lamellaxis gracilis e Leptinaria

unilamellata.

As espécies do ambiente florestado, provavelmente são mais sensíveis a variações dos

fatores ambientais, por isso não são encontradas em ambientes antrópicos, onde existe uma

grande variação de condições ambientais ao longo do dia.

Dados ambientais

Podemos considerar que existe um gradiente ambiental, que vai desde a região mais

alterada, a área urbana da Vila Dois Rios, para a região menos alterada, a encosta da Vila

Dois Rios a 450 m de altitude, passando pela região intermediária, a encosta da Vila Dois

Rios a 350 m de altitude. Visualmente é fácil perceber este gradiente e os dados ambientais

coletados corroboram a existência deste gradiente.

39

Tmax Tmed Tmin Tsolo

1 2 3

Área

16

18

20

22

24

26

28

30

32T

empe

ratu

ra (

ºC)

Figura 24. Temperatura ambiente e do solo (ºC) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A área urbana apresentou temperaturas mais elevadas que as outras áreas, o que é

justificado pelo fato desta área ser aberta e, portanto, receber forte incidência luminosa do sol.

A região florestada a 450 m de altitude possui temperaturas mais baixas devido ao seu dossel

que é mais fechado quando comparada com a região de 350 m de altitude. A ausência de

cobertura vegetal favorece a elevação da temperatura na área urbana da Vila Dois Rios (Fig.

24). A diminuição de temperatura de acordo com o aumento da altitude é um evento bem

conhecido (RICKLEFS 2003, BEGON et al. 2006).

40

Umax Umed Umin

1 2 3

Área

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

Um

idad

e am

bien

te (

%)

Figura 25. Percentual de umidade ambiente da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1:

área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A umidade foi menor na área urbana da Vila Dois Rios, devido principalmente a sua

elevada temperatura, que associada à estrutura da vegetação, constituída por algumas árvores

de grande porte e muitas plantas herbáceas, principalmente gramíneas, o que não contribui

para reter a umidade no local. Na região florestada, a umidade média aumentou conforme o

gradiente ambiental e altitudinal, mas a umidade mínima e máxima reduziu com a elevação da

altitude (Fig. 25). A diminuição de umidade de acordo com o aumento da altitude já foi relata

na literatura (RICKLEFS 2003, BEGON et al. 2006).

41

1 2 3

Área

-4000

-2000

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

Lum

inos

idad

e (L

ux)

Figura 26. Luminosidade (Lux) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1: área urbana;

2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A luminosidade na área urbana da Vila Dois Rios teve uma enorme variação, e

apresentou valores muito elevados, pelos mesmos motivos apresentados anteriormente. A

localidade de encosta a 350m de altitude apresentou valores de luminosidade mais baixos e

mais homogêneos, embora o esperado fosse que a área de 450 m de altitude apresentasse

valores comparativamente mais baixos que as outras localidades (Fig. 26). Mas se tratando de

uma região íngreme, a vegetação apresenta várias alturas de dossel, que associado ao ângulo

do sol, poderia ocasionar um aumento de possibilidades de entrada de luz solar, aumentando

assim a luminosidade no local.

42

1 2 3

Área

0

1

2

3

4

5

6

7

Pro

fund

idad

e da

ser

apilh

eira

(cm

)

Figura 27. Profundidade da serapilheira (cm) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1:

área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A profundidade da serapilheira aumentou conforme o gradiente ambiental (Fig. 27). O

mesmo ocorreu para o percentual de umidade de folhas da serapilheira (Fig. 28). Quanto

maior for a profundidade do folhiço, maior são as suas chances de reter umidade nas folhas da

serapilheira. Por outro lado, o percentual de umidade de galhos da serapilheira não apresentou

valores que diferenciem as localidades de maneira significativa (p = 0,057) (Tab. II).

43

Folha Galho

1 2 3

Área

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Um

idad

e da

ser

apilh

eira

(%

)

Figura 28. Percentual de umidade da serapilheira. da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

Na análise de variância, com exceção do percentual de umidade de galhos presentes na

serapilheira, todos os outros dados ambientais quantificados diferiram estatisticamente entre

as três localidades (Tab. II). Em relação ao teste Tukey, para os dados ambientais que na

análise de variância diferiram significativamente, a área urbana da Vila Dois Rios difere

estatisticamente das outras duas localidades florestadas da encosta. Em contrapartida, essas

áreas florestadas de encosta são mais semelhantes entre si, já que quase todos os dados

ambientais não foram estatisticamente diferentes para essas localidades, apenas a temperatura

do solo e umidade relativa mínima do ar diferiram significativamente essas duas localidades.

De forma simplificada, os dados ambientais indicam que as duas localidades de

encosta da Vila Dois Rios (350 e 450 m de altitude) são mais semelhantes entre si e

completamente diferentes da área urbana da Vila Dois Rios.

44

Tabela II: Análise de Variância com os dados ambientais da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro e teste Tukey. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.Valores em

negrito indicam p < 0,05; ou seja, diferença significativa entre as localidades consideradas.

Dados ambientais Anova teste Tukey

1 X 2 1 X 3 2 X 3

Temperatura máxima do ambiente 0,000 0,000 0,000 0,056

Temperatura média do ambiente 0,000 0,000 0,000 0,079

Temperatura mínima do ambiente 0,000 0,000 0,000 0,061

Temperatura do solo 0,000 0,000 0,000 0,000

Umidade relativa máxima do ar 0,000 0,000 0,000 0,065

Umidade relativa média do ar 0,000 0,000 0,000 0,130

Umidade relativa mínima do ar 0,000 0,000 0,000 0,001

Luminosidade 0,001 0,000 0,023 0,266

Profundidade da serapilheira 0,000 0,000 0,000 0,268

Umidade de folhas da serapilheira 0,001 0,009 0,002 0,589

Umidade de galhos da serapilheira 0,507 0,706 0,915 0,517

A composição encontrada na comunidade da área urbana é totalmente diferente da

comunidade dos ambientes florestados de encosta, o que também ocorre para as condições

ambientais que são totalmente diferentes. A Vila Dois Rios apresenta elevada intensidade

luminosa, temperatura ambiente e do solo; baixa umidade do ar e pouca serapilheira,

condições completamente opostas às encontradas no ambiente florestado. Como as condições

ambientais se apresentam segundo um gradiente, no qual a luminosidade e a temperatura do

ambiente e do solo diminuem; e a umidade do ambiente, a profundidade e a umidade da

serapilheira aumenta, conforme passamos de uma área completamente alterada, para a floresta

secundária e depois para a floresta primária, a comunidade de moluscos terrestres responde a

este gradiente através de sua composição (Fig. 23).

A fauna urbana atual da Vila Dois Rios é constituída apenas por espécies

sinantrópicas, as quais em geral, possuem ampla distribuição geográfica, mas estão associadas

45

a ambientes modificados pela ação do homem. A introdução dessas espécies provavelmente

se deu pela ocupação humana e pela modificação do hábitat, principalmente pela agricultura.

A introdução de plantas ornamentais e para o cultivo através de mudas, permitiu a entrada na

Ilha Grande de ovos e indivíduos de moluscos presentes na terra das mudas de plantas, HAAS

(1953) já tinha citado a ocorrência destas espécies na Ilha Grande, elas devem estar nesta ilha

desde a época das lavouras de café, na primeira metade do século XIX.

É interessante observar que muitas destas espécies sinantrópicas ficam restritas ao

ambiente antrópico, como jardins, hortas e gramados. Enquanto que algumas outras espécies

sinantrópicas conseguem estabelecer-se também em um ambiente que está iniciando seu

processo de recuperação.

Observamos uma tendência de que o ambiente uma vez modificado, a paisagem

consegue se recuperar, mas durante este processo, a malacofauna modifica sua estrutura, com

perda de espécies nativas e introdução de espécies sinantrópicas. Com o passar do tempo e o

fim da influência humana no ambiente, a malacofauna nativa consegue se restabelecer, e as

espécies sinantrópicas vão aos poucos desaparecendo, por isso a abundância delas é reduzida

em ambientes intermediários.

Tendo os moluscos terrestres características que os tornam potencialmente excelentes

bioindicadores (SCHILTHUIZEN & RUTJES 2001) e tendo como base tudo que aqui foi exposto,

queremos propor um índice de diagnóstico de alteração/degradação ambiental.

46

Tabela III. Sugestão para diagnóstico de ambientes de Floresta Atlântica degradados/ recuperados, utilizando a

proporção de espécies de moluscos sinantrópicas e nativas, para cada estágio de recuperação.

Ambiente

urbano

Floresta

intermediária

Floresta climáxica

(OLIVEIRA 2002)

Tempo de recuperação (anos) 0 anos 35 anos Mais de 50 anos sem

interferência antrópica

Riqueza e abundância das

espécies sinantrópicas

90 a 100 % 50 a 60 % 0 a 10 %

Riqueza e abundância das

espécies nativas

0 a 10 % 40 a 50 % 90 a 100 %

Os moluscos são animais extremamente sensíveis a mudanças no micro-habitat e

podem ser bons indicadores de alteração ambiental, por isso, o estudo comparativo de

comunidades sinantrópicas e nativas, juntamente com suas tolerâncias ambientais foi

necessário e permitiu estabelecer uma metodologia rápida, de pouco impacto e principalmente

de baixo custo para classificar ou diagnosticar o estado de conservação ou modificação de

fragmentos florestais na Ilha Grande. Estes dados poderão ser utilizados para estudos de

conservação e manejo da vida silvestre. Contudo, mais estudos utilizando gradientes

ambientais em outras localidades devem ser realizados com a finalidade de estabelecer

proporções de espécies sinantrópicas/nativas para cada fase de regeneração florestal em

diferentes ambientes.

47

CONCLUSÕES

A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração ambiental da Vila Dois Rios,

Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Com a reestruturação da floresta, a composição da malacofauna vai se modificando,

com a redução do númeor de espécies sinantrópicas e aumento do número de espécies nativas.

A realização de mais estudos deste tipo é necessária e permitirá estabelecer intervalos

mais precisos para diagnósticos de fragmentos de Floresta Atlântica usando uma metodologia

rápida e barata.

Esta metodologia pode auxiliar estudos de escolha de áreas prioritárias para

conservação de ambientes de Floresta Atlântica.

48

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