A Composição Narrativa

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A Composição Narrativa Alex Dax

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A Composição

NarrativaAlex Dax

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Um texto narrativo visa contar a história de algo ou alguém. Para tanto, o simples fato de contar a história não é o bastante para compor um texto narrativo; é preciso atentar para sua estrutura e os elementos que a compõe. Há diversas camadas propostas no texto narrativo, não se trata de escrever aleatoriamente sobre um assunto, você precisa saber manipular as variadas estratégias de composição da narração. Dentre essas variadas estratégias destaca-se a importância dos elementos da narrativa: o narrador, o enredo, o tempo, o espaço, os personagens. Esses elementos são cruciais para escrever um texto narrativo, e é a partir destes tópicos que vamos analisar um pouco mais os mecanismos de composição narrativa.

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EnredoEnredo é o encadeado de ações executadas ou a executar pelas personagens numa ficção, a fim de criar sentido ou emoção no espectador. É o que designa todos os eventos de uma história para se obter um efeito emocional e artístico - o que acontece na história. O enredo, ou trama, ou intriga, é, podemos dizer, o esqueleto da narrativa, aquilo que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar dos acontecimentos. É, também, um relato de fatos vividos por personagens e ordenados em uma seqüência lógica e temporal, por isso ele se caracteriza pelo emprego de verbos de ação que indicam a movimentação das personagens no tempo e no espaço. Geralmente, o enredo está centrado num conflito, responsável pelo nível de tensão da narrativa. Enredo é o conjunto de fatos ligados entre si que fundamentam a ação de um texto narrativo.

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O enredo pode ser organizado de várias formas. Observe a mais comum:

• Situação inicial - os personagens e espaço são apresentados.

• Quebra da Situação Inicial - um acontecimento modifica a situação apresentada.

• Estabelecimento de Um Conflito - Surge uma situação a ser resolvida, que quebra a estabilidade de personagens e acontecimentos

• Clímax - ponto de maior tensão na narrativa. • Epílogo - solução do conflito (essa solução não

significa um final feliz).

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NarradorO narrador é a entidade que conta uma história. É uma das três pessoas em uma história, sendo os outros o autor e o leitor/espectador. O leitor e o autor habitam o mundo real. É função do autor criar um mundo alternativo, com personagens e cenários e eventos que formem a história. É função do leitor entender e interpretar a história. Já o narrador existe no mundo da história (e apenas nele) e aparece de uma forma que o leitor possa compreendê-lo.Uma boa história deve ter um narrador bem definido e consciente. Para este fim há diversas regras que governam o narrador. Esta entidade, com atribuições e limitação, não pode comunicar nada que não conheça, ou seja, só pode contar a história a partir do que vê. A isso se chama foco narrativo.

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EspaçoO espaço é a caracterização do ambiente ou cenário no qual a história acontece. Nenhuma história acontece no nada, ela precisa ser localizada no tempo e no espaço, assim, fica mais fácil para o leitor imaginar onde se passa a narração. Para tanto, existe três tipos de espaço são eles:

• Espaço Físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as personagens se movem.

• Espaço Social: é constituído pelo ambiente social, representado pelas personagens figurantes.

• Espaço Psicológico: espaço interior da personagem, constituído por suas vivências, seus pensamentos e sentimentos.

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TempoComo havia sido dito nenhuma história acontece no nada, para isso ela precisa ser localizada no espaço e no tempo. O tempo é, então, o recurso responsável para situar o leitor sobre quando se passa a história. Podemos classificar o tempo em três tipos:

• Tempo cronológico - ou tempo da história - determinado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados.

• Tempo psicológico - é um tempo subjetivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância com o seu estado de espírito.

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PersonagemPersonagens são as entidades que fazem parte da ação da narrativa, “não existe uma só narrativa no mundo sem personagens”. Aqui se entende personagem não como pessoas, seres humanos. Um animal pode ser personagem, a morte pode ser personagem, uma cidade decadente ou uma caneta caindo podem ser personagens, desde que estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária. Cada personagem possui um relevo, que pode ser classificado em:

• Protagonista, personagem principal ou herói: desempenha um papel central, a sua actuação é fundamental para o desenvolvimento da acção.

• Antagonista: Que atua em sentido oposto; opositor; adversário. Personagem que é contra alguém ou algo; adversário, opositor

• Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante para o desenrolar da acção.

• Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da acção, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante.

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Tipos de Discursos• Discurso Direto: Neste tipo de discurso as personagens ganham voz.

É o que ocorre normalmente em diálogos. Isso permite que traços da fala e da personalidade das personagens sejam destacados e expostos no texto. O discurso direto reproduz fielmente as falas das personagens. Verbos como dizer, falar, perguntar, entre outros, servem para que as falas das personagens sejam introduzidas e elas ganhem vida, como em uma peça teatral.Travessões, dois pontos, aspas e exclamações são muito comuns durante a reprodução das falas.Ex.“O Guaxinim está inquieto, mexe dum lado pra outro. Eis que suspira lá na língua dele – Chente! que vida dura esta de guaxinim do banhado!…”“- Mano Poeta, se enganche na minha garupa!”

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• Discurso Indireto: O narrador conta a história e reproduz fala, e reações das personagens. É escrito normalmente em terceira pessoa. Nesse caso, o narrador se utiliza de palavras suas para reproduzir aquilo que foi dito pela personagem.Ex.“Elisiário confessou que estava com sono.” (Machado de Assis)“Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama, e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo se o tivesse não poderia consultá-la à fraca luz da masmorra, imaginava podiam ser onze horas.” (Lima Barreto)

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• Discurso Indireto Livre: O texto é escrito em terceira pessoa e o narrador conta a história, mas as personagens têm voz própria, de acordo com a necessidade do autor de fazê-lo. Sendo assim é uma mistura dos outros dois tipos de discurso e as duas vozes se fundem.Ex. “Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase… quase!”“Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto, qualquer urubu… que raiva…” (Ana Maria Machado)“D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos.” (Graciliano Ramos)

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Geni e o Zepelim(Chico Buarque)

De tudo que é nego tortoDo mangue e do cais do portoEla já foi namorada.O seu corpo é dos errantes,Dos cegos, dos retirantes;É de quem não tem mais nada.Dá-se assim desde meninaNa garagem, na cantina,Atrás do tanque, no mato.É a rainha dos detentos,Das loucas, dos lazarentos,Dos moleques do internato.E também vai amiúdeCom os velhinhos sem saúdeE as viúvas sem porvir.Ela é um poço de bondadeE é por isso que a cidadeVive sempre a repetir:

"Joga pedra na Geni!Joga pedra na Geni!Ela é feita pra apanhar!Ela é boa de cuspir!Ela dá pra qualquer um!Maldita Geni!"

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Um dia surgiu, brilhanteEntre as nuvens, flutuante,Um enorme zepelim.Pairou sobre os edifícios,Abriu dois mil orifíciosCom dois mil canhões assim.A cidade apavoradaSe quedou paralisadaPronta pra virar geléia,Mas do zepelim giganteDesceu o seu comandanteDizendo: "Mudei de idéia!Quando vi nesta cidadeTanto horror e iniqüidade,Resolvi tudo explodir,Mas posso evitar o dramaSe aquela formosa damaEsta noite me servir".

Essa dama era Geni!Mas não pode ser Geni!Ela é feita pra apanhar;Ela é boa de cuspir;Ela dá pra qualquer um;Maldita Geni!

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Mas de fato, logo ela,Tão coitada e tão singelaCativara o forasteiro.O guerreiro tão vistoso,Tão temido e poderosoEra dela, prisioneiro.Acontece que a donzela(E isso era segredo dela),Também tinha seus caprichosE ao deitar com homem tão nobre,Tão cheirando a brilho e a cobre,Preferia amar com os bichos.Ao ouvir tal heresiaA cidade em romariaFoi beijar a sua mão:O prefeito de joelhos,O bispo de olhos vermelhosE o banqueiro com um milhão.

Vai com ele, vai Geni!Vai com ele, vai Geni!Você pode nos salvar!Você vai nos redimir!Você dá pra qualquer um!Bendita Geni!

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Foram tantos os pedidos,Tão sinceros, tão sentidos,Que ela dominou seu asco.Nessa noite lancinanteEntregou-se a tal amanteComo quem dá-se ao carrasco.Ele fez tanta sujeira,Lambuzou-se a noite inteiraAté ficar saciadoE nem bem amanheciaPartiu numa nuvem friaCom seu zepelim prateado.Num suspiro aliviadoEla se virou de ladoE tentou até sorrir,Mas logo raiou o diaE a cidade em cantoriaNão deixou ela dormir:

"Joga pedra na Geni!Joga bosta na Geni!Ela é feita pra apanhar!Ela é boa de cuspir!Ela dá pra qualquer um!Maldita Geni!