A competência de compreensão oral na aula de Português ... · âmbito da Profissionalização em...

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Cátia Sofia Taboada Fernandes A competência de compreensão oral na aula de Português língua materna e Francês língua estrangeira Dissertação/Relatório de Estágio no âmbito do Mestrado em Ensino de Português 3º Ciclo Básico e Secundário e Língua Estrangeira no Ensino Básico e Secundário Porto

Transcript of A competência de compreensão oral na aula de Português ... · âmbito da Profissionalização em...

  • Ctia Sofia Taboada Fernandes

    A competncia de compreenso oral na aula

    de Portugus lngua materna e Francs

    lngua estrangeira

    Dissertao/Relatrio de Estgio no mbito do Mestrado em Ensino de

    Portugus 3 Ciclo Bsico e Secundrio e Lngua Estrangeira no Ensino

    Bsico e Secundrio

    Porto

  • II

    Setembro 2011

    Ctia Sofia Taboada Fernandes

    A competncia de compreenso oral na aula

    de Portugus lngua materna e Francs

    lngua estrangeira

    Dissertao/Relatrio de Estgio no mbito do Mestrado em Ensino de

    Portugus 3 Ciclo Bsico e Secundrio e Lngua Estrangeira no Ensino

    Bsico e Secundrio orientada pela Professora Doutora Isabel Morujo e

    co-orientada pelo Professor Doutor Jos Domingues de Almeida

    Porto

    Setembro 2011

  • III

    " O professor no ensina, mas arranja modos de a prpria criana

    descobrir. Cria situaes-problemas".

    Jean Piaget

  • IV

    minha Me

  • V

    Agradecimentos

    Professora Doutora Isabel Morujo e ao Professor Doutor Jos Domingues de

    Almeida, orientadores desta dissertao/relatrio de estgio, os meus mais profundos

    agradecimentos pelo constante apoio e incentivo, pela disponibilidade manifestada, pelo

    tempo dedicado orientao, pela exigncia da correco e da reformulao, por todo

    os materiais, conhecimentos e saberes partilhados.

    Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte e

    Professora Doutora Rosa Porfiria Bizarro Monteiro dos Reis Soares, o meu

    agradecimento pelo material facultado, pelas sugestes dadas e pela disponibilidade ao

    longo dos dois anos de Mestrado.

    Ao Dr. Antnio Salvador e Dr. Carlota Madeira, a minha gratido por toda a

    ajuda, amizade, disponibilidade e por todos os ensinamentos transmitidos ao longo deste

    ano de estgio.

    Aos meus alunos de Portugus e de Francs agradeo a disponibilidade e boa

    vontade na realizao do trabalho proposto ao longo do ano, o bom comportamento e

    aplicao ao estudo e o facto de me terem mostrado o que ser professora.

    minha colega de ncleo de estgio, Sofia Daniela Alves Tavares, a minha

    gratido pela amizade, pela entreajuda, pela disponibilidade, pela motivao e pelo

    reconforto dado ao longo do ano.

    Aos meus pais agradeo imensamente o apoio e a fora que me deram. Agradeo

    de modo particular minha me, pelo amor, pela ajuda, por confiar no meu trabalho,

    por apostar em mim, pela motivao, pelo nimo transmitido e por estar sempre ao meu

    lado em todos os momentos,

    Aos amigos que de alguma forma me ajudaram na realizao deste trabalho, que

    me apoiaram e deram nimo, que estiveram sempre comigo em todos os momentos, o

    meu obrigada.

    Aos meus colegas de mestrado com quem partilhei experincias, pontos de vista

    e sugestes, agradeo toda esta cumplicidade.

    A todos um sincero muito obrigada!

  • VI

    Resumo

    O objectivo desta dissertao/relatrio foi o de verificar a competncia dos

    alunos de Portugus lngua materna e Francs lngua segunda na descodificao de

    documentos orais.

    A partir de actividades realizadas em aula e de inquritos que, para este efeito, se

    levaram a cabo ao longo do ano, procurou-se simultaneamente aferir a competncia de

    descodificao oral dos alunos e reflectir sobre estratgias que os treinassem a ser

    ouvintes activos

    Conclui-se que, efectivamente, a ateno e a competncia de descodificao do

    oral no so traos definidores do aluno actual, mergulhado no silncio e nos cdigos

    das mensagens SMS, Messenger, etc. Assim este trabalho procura chamar a ateno da

    urgncia de actividades/estratgias pedaggico-didcticas que apetrechem

    consistentemente os alunos, de modo a torna-los ouvintes activos e cidados bem

    integrados.

    Palavras-Chave

    Descodificao oral - escuta activa - estratgias de escuta oralidade na sala de aula

  • VII

    Abstract

    The purpose of this thesis/report was to verify the ability of the students of

    Portuguese first language and French second language decoding in oral documents.

    From activities in class, and surveys that, for this purpose were carried out

    throughout the year, the focus was to assess the competence of both oral decoding of

    students and reflect on strategies that trained them to be active listeners.

    It is concluded that, in fact, attention and competence of the oral decoding are

    not defining features of the current students, immersed in silence and codes from SMS,

    Messenger, and so on This paper seeks to draw attention to the urgency of activities /

    teaching strategies that equips students consistently in order to make them active

    listeners and citizens well integrated.

    KeyWords

    Oral decoding - active listening - listening strategies - speaking in the classroom

  • VIII

    Rsum

    Lobjectif de ce travail est de vrifier la comprhension des lves de portugais

    langue maternelle et langue seconde dans le dcodage de documents oraux.

    Daprs les activits menes en cours et des enqutes que nous avons organises

    cet effet, pendant lanne, pour entraner les lves devenir des auditeurs actifs, on

    peut conclure effectivement que lattention et la comptence de dcodage de loral ne

    sont pas des traits qui dfinissent llve actuel, plong dans le silence et dans les code

    des textos, Messenger, etc. Bref, ce travail cherche montrer limportance des

    activits/stratgies pdagogiques et didactiques qui dotent les lves doutils, de faon

    en faire des auditeurs actifs et des citoyens bien intgrs.

    Mots-Cls

    Dcodage oral - coute active - stratgie dcoute - loral en cours

  • 9

    ndice Geral

    Agradecimentos ..V

    Resumo...VI

    ndice Geral..... 9

    Introduo. 12

    Captulo I- Anlise dos Programas de Portugus e Francs para os anos

    2000-2010.. 14

    1.1Programas de Portugus. 14

    1.1.1Programa de Lngua Portuguesa para o 3 ciclo

    do ensino bsico. 14

    1.1.2 Programa de Lngua Portuguesa para o Ensino

    Secundrio.. 21

    1.2 Programas de Francs... 31

    1.2.1 Programa de Francs para o 3 ciclo do Ensino

    Bsico 31

    1.2.2 O Quadro Europeu Comum de Referncia para

    as Lnguas .. 32

    1.2.3 O manual de 7 ano de escolaridade utilizado ..33

    Captulo II A compreenso oral no contexto da escola . 35

    2.1 A importncia da oralidade na sala de aula . 35

    2.2 Descodificao de documentos orais.37

    2.2.1 A escuta activa luz da compreenso oral.37

    2.2.2 A compreenso oral em lngua materna..41

    2.2.3 A compreenso oral em lngua estrangeira.42

    2.3 Estratgias de dinamizao da compreenso oral na aula de lngua

    materna e lngua estrangeira...44

    2.3.1 As tarefas pr e ps escuta..45

    2.3.2 As novas tecnologias ao servio da compreenso oral...46

  • 10

    Captulo III Metodologia de investigao e aplicao de estratgias

    de trabalho.48

    3.1 A escola Secundria Doutor Manuel Gomes de Almeida.48

    3.2 As turmas-alvo...49

    3.2.1 O perfil da turma de Portugus: 9 ano...49

    3.2.2 O perfil da turma de Portugus: 11 ano.50

    3.2.3 O perfil da turma de Francs: 7 ano...51

    3.3 Contexto do projecto.52

    3.3.1 Metodologia em Lngua Portuguesa...52

    3.3.2 Metodologia em Lngua Francesa...54

    Capitulo IV- Anlise e Interpretao dos dados recolhidos em aula55

    4.1 Portugus...55

    4.1.1 Resultado dos questionrios55

    4.1.1.1 3 Ciclo do Ensino Bsico: turma de 9 ano 55

    4.1.1.2 Ensino secundrio: turma de 11 ano...59

    4.1.2 Anlise de dados do 3 Ciclo do Ensino Bsico.64

    4.1.2.1 Primeira ficha de compreenso: texto narrativo...64

    4.1.2.2 Segunda ficha de compreenso: Auto

    da Barca do Inferno.68

    4.1.2.3 Terceira Ficha de compreenso: cena A

    Alcoviteira de O Auto da Barca do Inferno.,,71

    4.1.2.4 Terceira Ficha de compreenso: cano

    Etelvina.71

    4.1.3 Anlise dos dados do Ensino Secundrio...75

    4.1.3.1 Primeira ficha de compreenso: documento

    Grandes Livros....75

    4.1.3.2 Segunda ficha de compreenso: documento

  • 11

    sobre o Romantismo81

    4.2 Francs...87

    4.2.1 Resultados dos questionrios..87

    4.2.2 Anlise de dados do 3 Ciclo do Ensino Bsico.....91

    4.2.2.1 Primeira ficha de compreenso: Le

    matriel Scolaire91

    4.2.2.2 Segunda ficha de compreenso: Les directions94

    4.2.2.3 Terceira ficha de compreenso: texto Sur le

    Chemin de lcole..96

    4.2.2.4 Quarta ficha de compreenso oral: texto Le

    vlo du prsident...97

    4.2.2.5 Quinta ficha de compreenso oral: Les

    moyens de transport.100

    4.2.2.6 Sexta ficha de compreenso oral: msica

    Cest les vacances...104

    Concluso.106

    Bibliografia...110

    ndice de Grficos114

    Anexos...115

  • 12

    Introduo

    O presente trabalho tem como objectivo apresentar as concluses a que cheguei,

    aps a investigao desenvolvida para a realizao da dissertao de Mestrado em

    Portugus 3 Ciclo Ensino Bsico e Ensino Secundrio e Lngua Estrangeira no Ensino

    Bsico e Ensino Secundrio. O tema e as reflexes que aqui sero desenvolvidas tm

    como base a minha experincia de docente, desenvolvida no ano lectivo 2010-2011, no

    mbito da Profissionalizao em exerccio, unidade curricular fundamental do Mestrado

    em Portugus e Lngua Estrangeira, que frequentei na Faculdade de Letras da

    Universidade do Porto e cuja componente de estgio se desenvolveu na Escola

    Secundria Doutor Manuel Gomes de Almeida, em Espinho, inserida no sistema

    pblico do ensino portugus.

    A escolha do tema resultou da possibilidade de, com ele, abranger as duas

    disciplinas leccionadas: Portugus e Francs. Por isso, recolhemos os nossos materiais

    de anlise em duas turmas de Portugus lngua materna (9 e 11 ano) e numa de

    Francs lngua estrangeira (7 ano).

    Para este trabalho partimos com a ideia, fundamentada na nossa experincia

    ainda recente de aluna, de que, de um modo geral, os alunos, em contexto de sala de

    aula, no so estimulados a realizar actividades de descodificao oral e, por isso,

    apresentam baixos nveis de compreenso, quando confrontados com tal experincia.

    Assim, decidimos, logo no incio do ano lectivo, efectuar uma actividade de

    descodificao do oral como forma de confirmar ou refutar esta ideia de base. Foi,

    assim, com os resultados desta actividade, que nos lanmos para a concretizao

    efectiva deste trabalho, que intitulmos A competncia de compreenso oral na aula de

    Portugus lngua materna e Francs lngua estrangeira.

    Comemos, neste trabalho, por analisar os Programas de Portugus e de

    Francs, de forma a recolher as propostas de trabalho da compreenso oral a presentes

    e a verificar a importncia concedida a esta competncia. Analisaram-se tambm os

    manuais utilizados ao longo do ano, como forma de verificar a ateno dada s

    propostas que, neste mbito do oral, eram apresentadas nos Programas oficiais.

  • 13

    No segundo captulo, escoradas em alguma bibliografia sobre a oralidade na sala

    de aula, abordmos, de uma forma geral, as principais questes inerentes compreenso

    oral.

    Para dar prosseguimento investigao que nos propusemos levar a cabo, foi

    necessrio realizar um leque de actividades seguidas de questionrios que permitissem

    averiguar a efectiva compreenso oral dos alunos, nos vrios nveis de escolaridade e

    nas duas disciplinas de Portugus e de Francs. Assim, o captulo III apresenta a

    metodologia de trabalho seguida na realizao deste estudo, cujos resultados se

    apresentam exaustivamente no captulo IV.

  • 14

    Capitulo I Anlise dos Programas

    A compreenso oral apresenta-se, para uma lngua estrangeira, como uma estratgia

    de trabalho constante e imprescindvel para a aquisio dos contedos lingusticos dessa

    mesma lngua. Contudo, no que respeita lngua materna, a compreenso oral, fazendo

    parte do interface de comunicao mais bvio e usual, nem sempre constitui uma

    competncia especificamente trabalhada, sendo at, algumas vezes descurada, apesar de

    os programas preverem esse trabalho e de haver uma parte da avaliao destinada

    competncia oral.

    Para uma reflexo sustentada sobre esta questo, analisam-se de seguida os

    programas de Portugus e Francs justamente no que concerne a componente da

    compreenso oral, bem como as propostas sugeridas para a explorao desta

    competncia.

    Enquanto estagiria de Portugus e Francs na escola Doutor Manuel Gomes de

    Almeida, aproveitarei tambm da minha experincia para reflectir detalhadamente sobre

    as actividades propostas pelos manuais que utilizarei.

    1.1 Programas de Portugus

    1.1.1Programa de Lngua Portuguesa para o 3 ciclo do Ensino Bsico

    Atentando no Programa de Lngua Portuguesa para o 3 ciclo do Ensino Bsico

    (2000), verifica-se que a primeira referncia compreenso e expresso oral feita no

    captulo referente aos contedos e processos de operacionalizao presente logo no

    incio do Programa (ver Programa em anexo). O programa refere competncias a atingir

    pelo aluno, perspectivadas na aprendizagem prtica da lngua, salientando-se todavia

    que o ouvir e o falar mantm uma articulao indissocivel. Abrindo o Programa sob o

    signo do oral, seria expectvel que este mesmo documento fosse objecto de tratamento

    num ponto especfico. Ora, o que acontece que, no que refere as diferentes

    competncias o ouvir aparece sempre associado ao falar, ouvir/falar (veja-se a barra

    que, curiosamente, no aparece em ler e escrever) quando, na verdade, as

    competncias exigidas a cada uma destas actividades so diferentes.

    Contudo, mencionado nesta seco referente aos contedos e processos de

    operacionalizao que estas competncias, ler, escrever e falar, se aperfeioam com a

    prtica da lngua e por isso devem assim, ser entendidas numa perspectiva funcional,

  • 15

    havendo lugar a explicaes apenas no mbito da leitura orientada e da reflexo sobre o

    funcionamento da lngua. (Ministrio da Educao, 2000: 9) Salienta-se que tanto a

    compreenso oral pr-orientada como a compreenso livre de enunciados orais no

    podem ser tratadas como unidades estanques, ou seja, devem estar inseridas no decorrer

    da aula, sendo articuladas com as outras competncias e adequadamente

    contextualizadas. Tal como refere o programa, no aconselhvel que as competncias

    anteriormente referidas, surjam como actividades singulares que foradamente se

    introduzam no normal decorrer da aula (ibidem) o que me faz discordar, j que me

    parece de grande importncia trabalharem-se algumas competncias, especialmente

    aquelas que representam maior dificuldade para os alunos. Pessoalmente, pensamos que

    a prtica de competncias como a oralidade, a escrita, a leitura e at a compreenso oral

    far com que os alunos as aperfeioem e assim possam, futuramente, desenvolver muito

    mais o seu trabalho no decorrer de qualquer aula. O ensino e a prtica destas

    competncias anteriormente referidas, como por exemplo a compreenso oral, permitir

    colmatar algumas limitaes, como por exemplo a reteno de informao, dos alunos e

    desenvolver uma maior capacidade de compreenso.

    No que respeita interaco dos vrios domnios da lngua, pode verificar-se

    que, de entre as quatro principais competncias referidas no Programa (entenda-se:

    falar, ouvir, ler escrever), a importncia atribuda ao desenvolvimento do ouvir

    similar anunciada para as outras competncias1, como se confirma pelo seguinte

    quadro:

    1 Pode verificar-se no quadro retirado do prprio programa de Lngua Portuguesa para o ensino bsico

    que todos os doze cruzamentos apresentados, as quatro competncias (entenda-se ouvir, falar, ler e

    escrever) aparecem com o mesmo nmero de ocorrncias, ou seja, nove vezes cada uma delas.

  • 16

    Atentando no grfico, de notar que os percursos ouvir-falar-reflectir-escrever,

    ouvir-ler-reflectir-falar e ouvir-escrever-reflectir-falar so os que tentei operacionalizar

    ao longo do meu ano de estgio, de modo a obter formas de anlise, que permitam tirar

    concluso acerca da capacidade de compreenso oral por parte do aluno para poder

    reflectir ao longo deste trabalho

    O programa reala a importncia do facto da comunicao oral ser um processo

    condicionado por regras sociais, ou seja, est directamente ligado com o nvel

    sociocultural de cada um. No entanto, ser atravs da prtica frequente do oral que se ira

    desenvolver nos alunos uma boa comunicao oral, cabendo ao professor a dinamizao

    de estratgias variadas, de forma a aumentar a competncia dos alunos e por

    conseguinte melhorar o seu desempenho.

    Concretamente no que se refere compreenso de enunciados orais, o Programa

    de Lngua Portuguesa assinala a sua extrema importncia na vida, actual onde as

    tecnologias ocupam lugar de destaque, desafiando novas competncias. Assim sendo,

    deve haver, ao longo das aulas, determinados perodos de tempo dedicados a esta

    competncia neste sentido que se propem experincias que visam a tomada de

    conscincia da especificidade do oral, que conduzem percepo de perdas e ganhos na

    transmisso de informao e que treinam a escuta, a compreenso e a reflexo crtica.

    (idem: 12)

  • 17

    Ao atentar no quadro dos objectivos pretendidos para a competncia de

    ouvir/falar, mais propriamente no campo da compreenso, esto presentes os seguintes

    objectivos gerais comuns aos trs anos do 3 ciclo do ensino bsico, ou seja, 7, 8 e 9

    ano, que transcrevo:

    1. Compreender enunciados orais nas suas implicaes lingusticas e

    paralingusticas,

    2. Apreender criticamente o significado e intencionalidade de mensagens

    veiculadas em discursos variados,

    3. Desenvolver o gosto pela preservao e recriao do patrimnio literrio oral,

    4. Alargar a competncia comunicativa pela confrontao de variaes lingusticas

    regionais ou sociais com formas padronizadas da lngua.

    A aplicao destes objectivos para cada ano de escolaridade no surge, para cada

    um dos anos, diferenciada por objectivos e etapas. Ora, mesmo tratando-se da lngua

    materna, a competncia de cada indivduo vai evoluindo com a idade, a cultura e os

    interesses. Concretamente para o 9 ano (aquele que leccionei), surpreendente que ela

    no difira substancialmente, do 7 e 8 anos, at porque os contedos programticos

    alargando-se no 9 ano a textos mais elaboradamente literrios (Os Lusadas, por

    exemplo), o que se afigura surpreendente uma vez que os alunos so de idades e

    contextos diferentes que mereciam ter exigncias adequadas.

    Assim, as pginas 13 a 18 do Programa referido apresentam quadros com

    propostas de estratgias a implementarem na sala de aula. Concretamente para os trs

    anos de escolaridade, pretende-se que os alunos saibam captar a informao geral de um

    documento, distingam factos e opinies, recolham ideias principais e secundrias,

    expressem a intencionalidade comunicativa e, finalmente, adquiram a adequao

    comunicativa, ou seja: processos formativos e persuasivos bem como recursos verbais e

    no verbais. Para que os alunos possam atingir os objectivos mencionados

    anteriormente, o professor deve seleccionar registos audiovisuais de programas

    radiofnicos ou televisivos, publicidade, filmes e peas de teatro, entrevistas e

    depoimentos. Pretende-se desta forma exercitar a compreenso e apreciao crtica de

    discursos orais variados, mais propriamente, reter informaes, cumprir instrues,

    responder a perguntas, reproduzir excertos, traduzir uma mensagem oral noutro modo

  • 18

    de expresso (gestual, pictrico), referir e criticar sentidos implicados e finalmente

    distinguir factos de opinies. Os alunos devem ser capazes de recolher, reproduzir ou

    recriar produes do patrimnio literrio oral: provrbios, quadras populares, contos

    tradicionais e lendas. Finalmente, os alunos devem confrontar variaes lingusticas

    sociais ou regionais com formas padronizadas da lngua, isto , reflectir oportunamente

    sobre variaes ou inadequaes lingusticas de ocorrncia frequente. (idem:16)

    A acrescentar a todos estes requisitos, no 9 ano os alunos devem saber captar

    caractersticas especficas de diferentes tipos de mensagens, sejam elas recreativas,

    informativas, culturais ou desportivas.

    O levantamento dos objectivos traados nos programas para cada ano de

    escolaridade suscita-nos alguns comentrios. certo que deve ser o professor a recolher

    os materiais a serem apresentados aos alunos, em funo do perfil da turma e da

    caracterizao sociocultural dos seus elementos, para que estes possam atingir os

    objectivos pretendidos e expressos no programa. Contudo, nada h no programa que

    refira uma fonte a que o professor possa recorrer para adquirir os documentos que

    poder utilizar em sala de aula. Neste sentido, por onde que o professor, sobretudo se

    em fase inicial de carreira, se pode orientar nessa escolha de materiais?

    O ensino do Portugus para estrangeiros parece estar, de facto, mais escorado

    nos materiais a trabalhar, disponibilizando no site http://www.linguateca.pt/didactico.html

    um conjunto de documentos orais, para que, fora de Portugal, se tenha acesso facilitado

    a esses materiais que facilitem a aprendizagem e a docncia. Para o ensino do Portugus

    lngua materna, talvez se pense que o falante nativo j um falante apetrechado, quando

    o surpreendemos nesta etapa do seu percurso escolar. No entanto, a reflexo sobre a

    lngua menos explcita e menos frequente, porque poder parecer desnecessrio

    sistematizar e questionar o que parece bvio.

    Da experincia enquanto estagiria na Escola Doutor Manuel Gomes de

    Almeida, pude verificar que, logo no incio do ano lectivo, o Departamento de

    Portugus rene com o objectivo de decidir quais os contedos a trabalhar durante todo

    o ano. No houve, em momento algum, qualquer orientao sobre os materiais a

    trabalhar com as turmas para atingir estes objectivos da componente de compreenso do

    oral. Desta forma, o professor, isolada e autonomamente, que deve procurar,

    seleccionar e aplicar os materiais que assim entender, para poder dar cumprimento

    http://www.linguateca.pt/didactico.html

  • 19

    aos objectivos pretendidos pelo programa. Perante esta forma solitria de os

    professores recolherem os materiais, com agrado que se regista a recente unidade

    curricular denominada Produo de Materiais Didcticos em Portugus no Mestrado em

    Ensino do Portugus no 3 Ciclo do Ensino Bsico e Secundrio e Lngua Estrangeira

    no Ensino Bsico e Secundrio na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

    No entanto, os professores em geral no dispem de materiais especificamente

    adequados a este ponto do Programa, disponibilizados em manuais, livros, sites ou

    outros espaos. Tal facto contrasta com material disponibilizado para a aprendizagem

    do Portugus lngua no materna, onde vrios links possibilitam, como se disse acima, o

    acesso a telejornais em directo, programas culturais, etc., no mbito de um servio

    pblico de televiso (RTP- Falamos Portugus) que visa dinamizar o ensino do

    Portugus distncia, apoiando as necessidades dos luso-descendentes, das

    comunidades de lngua portuguesa e o nmero crescente de estudantes estrangeiros.

    Fixando os objectivos visados pelo Programa de portugus para o 9 ano de

    escolaridade referidos anteriormente, e tendo em conta o contacto que tomei ao longo

    do meu ano de profissionalizao em exerccio, em que leccionei numa turma de 9 ano,

    analisei o manual adoptado pela escola (Com Todas as Letras, de Fernanda Costa e

    Olga Magalhes) e que foi utilizado durante todo o ano lectivo, de forma a observar as

    possveis sugestes a apresentadas no livro do professor.

    O manual Com todas as letras, de Fernanda Costa e Olga Magalhes, adoptado

    pela escola, constitudo, na verso do professor, pelo prprio livro que apresenta

    algumas sugestes de trabalho para os diferentes contedos apresentados, um caderno

    de exerccios, um CD-ROM ao qual os alunos tambm tm acesso ao adquirirem a

    verso do aluno, um anexo de imagens e um jogo de lngua portuguesa. medida que

    se vai folheando o manual, verifica-se que existem vrios textos orais e registados em

    suporte udio apresentados no CD-ROM, que se tornam assim em documentos que

    facilmente podem ser utilizados para testar ou treinar a compreenso oral. Contudo, ao

    observar mais pormenorizadamente a barra lateral de apoio ao docente que acompanha

    cada pgina do livro do professor (nica diferena relativa ao livro do aluno), verifica-se

    que esta apresenta sugestes de respostas aos questionrios propostos para cada texto

    recolhido no manual. Mas nenhuma dessas sugestes contempla estratgias para treino

    de compreenso que pressuponham a utilizao dos textos convertidos em udio.

  • 20

    Curiosamente, em cada um dos textos que foram escolhidos pelas autoras para serem

    convertidos em formato de udio, aparece um cone, que neste caso um CD-ROM, de

    forma a indicar que esse determinado texto est gravado. No entanto, nas sugestes de

    explorao de texto no aparece indicao para efectuar a audio, mas sim sempre, e

    apenas, referncias leitura: A partir da leitura deste excerto, define usurrio e usura2

    Assim, o CD-ROM que acompanha o manual aparece como alternativa leitura

    dos textos e no como instrumento para prtica da compreenso oral, visto no estarem

    previstos exerccios para tal ponto do Programa.

    Conclui-se, desta forma, que, embora o Programa de portugus incentive os

    exerccios que possam testar e desenvolver a compreenso oral, este manual em nenhum

    momento conduz a operacionalizao da aula no sentido da compreenso oral, surgindo

    assim o CD-ROM como acessrio que as prprias autoras descuram.

    Voltando novamente ao Programa de portugus para o ensino bsico, mais

    propriamente aos contedos nucleares, verifica-se que, no tempo atribudo pelo

    programa comunicao oral, um tero dedicado compreenso de enunciados orais.

    Veja-se os seguintes grficos, que apresentam a operacionalizao da aula, extrados do

    Programa em causa:

    2 COSTA & MAGALHES (2004), Com Todas as Letras, Porto, Porto Editora pg. 123.

  • 21

    Atentando no ltimo grfico, retirado do Programa de Lngua Portuguesa para o

    3 ciclo do ensino bsico, pgina 56, relativo gesto global do tempo de aula, verifica-

    se que um quarto desse tempo, segundo o Programa, deve ser dedicado comunicao

    oral, remetendo-nos de imediato para o primeiro grfico onde podemos observar que,

    tambm aqui, um quarto desse tempo deve ser dedicado compreenso de enunciados

    orais. Desta forma, podemos verificar que, no Programa, dado um peso bastante

    significativo questo da compreenso do oral.

    1.1.2 Programa de Lngua Portuguesa para o Ensino Secundrio

    O Programa de portugus para o Ensino Secundrio dos cursos cientifico-

    humansticos e cursos profissionais (2000) faz referncia compreenso oral no

    captulo dedicado s finalidades da disciplina de portugus, ou seja, faz parte desta

    disciplina assegurar o desenvolvimento das competncias de compreenso e expresso

    em lngua materna(idem: 6)

    Tambm no captulo das competncias a trabalhar na disciplina de portugus se

    verifica no Programa uma referncia compreenso oral, considerando-se esta como

    necessria para a formao dos alunos luz da sua vivncia de uma cidadania plena,

    tema transversal a todo o Programa. Sem dvida o exerccio da cidadania passa muito

  • 22

    pelo oral, sendo sem dvida a capacidade de compreenso e de expresso oral o maior

    instrumento de poder que um professor pode colocar ao alcance do aluno3.

    Os processos de operacionalizao das competncias visados no Programa

    pretendem que os alunos, no final do Secundrio, sejam capazes de atingir os seguintes

    objectivos que transcrevo:

    1. Apreender sentidos explcitos;

    2. Inferir sentidos implcitos;

    3. Distinguir factos de opinies;

    4. Distinguir o essencial do acessrio;

    5. Reconhecer formas de argumentao, persuaso e manipulao;

    6. Identificar argumentos e contra-argumentos;

    7. Reconhecer actos de fala directos e indirectos;

    8. Avaliar o significado do sentido figurado;

    9. Reconhecer ambiguidades, ironias, falcias;

    10. Avaliar a relao do enunciador com o enunciado (objectividade/

    subjectividade, apreciao/ depreciao, certeza/ probabilidade,

    veracidade/ verosimilhana);

    11. Reflectir sobre a regulao do uso da palavra;

    12. Utilizar diversas estratgias de escuta e de leitura (global, selectiva)

    para captao e reteno de informao;

    13. Aplicar tcnica de tomada de notas;

    14. Elaborar apontamentos por resumos, palavras-chave, esquemas e mapas

    semnticos.

    No que respeita viso global da competncia de compreenso do oral para o

    10, 11 e 12 anos de escolaridade, e como forma de atingir os objectivos acima

    apresentados, verifica-se que o Programa prope que as actividades de

    escuta/visionamento sejam feitas em trs etapas, sendo elas, pr-escuta/visionamento,

    referindo-se antecipao do assunto do documento, escuta/visionamento, ou seja a

    descodificao dos sentidos do texto e ps-escuta/visionamento, que diz respeito

    organizao de informao e aplicao dos conhecimentos adquiridos (Ministrio da

    Educao,2001: 33). Mais uma vez, refiro a unidade curricular Produo de Materiais

    3 Confrontar ponto 3.1 do presente trabalho.

  • 23

    Didcticos em Portugus bem como a de Didctica do Portugus, ministradas na

    Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que esclarecem os professores em incio

    de formao sobre a forma como estas trs etapas podem ser aplicadas em sala de aula.

    Ao longo do estgio que efectuei, pude verificar, tambm ao nvel do Secundrio, que o

    professor tem de agir autonomamente, no que toca s tarefas de compreenso do oral.

    Cabe ao professor procurar materiais a usar em sala de aula, sem que em nenhum

    momento no Programa seja dada qualquer fonte onde os professores poderiam contactar

    com os materiais a utilizar em sala de aula. O que me parece uma falha dos dois

    Programas analisados, uma vez que seria importante que sugerissem uma fonte onde os

    professores, sobretudo aqueles que se encontram em incio de carreira, pudessem ter

    contacto com alguns materiais.

    Relativamente s estratgias de escuta propostas no Programa para o Ensino

    Secundrio pgina 33, para o 10 ano de escolaridade, pretende-se que os alunos sejam

    confrontados com vrias modalidades de escuta: uma escuta global onde tm de

    procurar o significado integral da mensagem, localizando dos momentos em que se

    situam as mudanas de orientao de sentido; uma escuta selectiva, pela qual os alunos

    tm de procurar uma determinada informao precisa; finalmente, uma escuta

    pormenorizada onde pedido aos alunos a reteno da totalidade do texto, palavra a

    palavra.

    Todas estas formas de escuta apelam para o registo de notas por parte dos

    alunos, partindo de enunciados orais e escritos, observao de factos, experincias e

    pensamentos. O que no meu ponto de vista parece essencial, uma vez que os alunos,

    estando numa actividade de tomada de notas esto simultaneamente a reflectir sobre a

    informao essencial do documento que esto a ouvir/ver, seleccionando as

    informaes. Assim os alunos apresentam uma atitude activa e no passiva no momento

    da visualizao o que os ajudar a reter a informao necessria e a melhor

    compreender o documento. No que toca aos documentos, o programa prope a

    utilizao de entrevistas (radiofnicas e televisivas) bem como crnicas radiofnicas

    que serviro para os alunos trabalharem a compreenso dos documentos referidos. de

    salientar que o programa refere a extrema importncia dos documentos utilizados

    estarem enquadrados nas temticas propostas para a prtica das competncias

    essenciais. Contudo, surge novamente a questo: Onde que o professor poder ter

  • 24

    contacto com esses materiais? A meu ver, o programa deveria apresentar um repositrio

    de materiais com qualidade, que os professores pudessem utilizar em aula.

    Atentando no 11 ano de escolaridade, o Programa aspira a que os alunos

    compreendam a situao comunicativa (o estatuto e a relao entre os interlocutores no

    contexto de comunicao); percebam a intencionalidade comunicativa; assimilem a

    relao entre o locutor e o enunciado; entendam as formas adequadas situao e

    intencionalidade comunicativas; reconheam os elementos lingusticos e no

    lingusticos da comunicao oral. O Programa refere que os alunos devem ser

    confrontados com textos publicitrios, analisando os diferentes tipos de publicidades, o

    anncio publicitrio em si, tendo em conta os elementos constitutivos e as estratgias de

    argumentao apresentadas. Devem ainda ser promovidos debates em que tenham de

    identificar os objectivos, o tema, a estrutura, as frmulas de abertura, encadeamento e

    fecho, as diferentes funes das personagens intervenientes, entenda-se moderador,

    secretrios, participantes e observadores, a regulao do uso da palavra, as normas

    reguladoras (princpios de cooperao e cortesia), os argumentos e contra-argumentos e,

    ainda, os cdigos lingusticos utilizados. Finalmente, devem ser utilizados ainda

    trazidos para o contexto da aula discursos polticos, analisando a estrutura e as

    estratgias de argumentao, persuaso e manipulao. Todas estas estratgias visam

    que os alunos produzam textos de apreciao crtica, participem activamente em

    debates, construam textos publicitrios e, finalmente, elaborarem exposies sobre os

    documentos visualizados. Perante estas estratgias e objectivos apresentados no

    Programa verifica-se que a prtica de exerccios de compreenso facilitam o

    desempenham do aluno em outras competncias como por exemplo a escrita, a

    compreenso textual, etc. Com o exerccio de compreenso oral os alunos conseguem

    perceber mais facilmente as diferentes tipologias textuais, tornando-se mais crticos e

    mais activos nas actividades de sala de aula.

    Quanto ao 12 ano de escolaridade, o Programa apresenta ipsis-verbis as

    actividades e objectivos pretendidos para o 11 ano. O que se torna surpreendente

    verificar que, embora os alunos vo aumentando os seus conhecimentos e as suas

    capacidades intelectuais ao longo dos diferentes anos de escolaridade, os objectivos e as

    actividades propostas apresentam-se idnticas para os dois nveis, mudando apenas a

    quantidade de actividades propostas.

  • 25

    Numa perspectiva geral, pede-se que os alunos, no final dos trs, anos sejam

    capazes de identificar a inteno comunicativa do interlocutor, saibam escutar e

    compreender gneros formais do oral e ainda, saibam escutar criticamente discursos

    orais, identificando factos, opinies e enunciados persuasivos. (idem: 16)

    Aps explicitar todos os objectivos, meios e estratgias apresentadas pelo

    Programa de Portugus para o ensino secundrio, optei por, novamente, fazer uma

    anlise do manual de 11 ano, adoptado pela escola Doutor Manuel Gomes de Almeida,

    onde estagiei, por ter sido um nvel onde tambm leccionei algumas aulas e que

    acompanhei de perto na observao que fiz s aulas do meu orientador. Tentarei

    explicitar as propostas a apresentadas para a prtica de compreenso oral. O manual

    Entre Margens, de Fernanda Costa e Olga Magalhes, constitudo pelo prprio

    manual, neste caso com as sugestes do professor, visto que pretendo verificar as pistas

    dadas ao professor para trabalhar esta competncia e um CD que tambm entregue aos

    alunos ao adquirirem o seu manual.

    Ao longo do manual, verifica-se que foram seleccionados alguns textos que

    foram convertidos em formato udio. Tambm semelhana com o manual de nono

    ano, os textos convertidos em udio aparecem com um cone que tambm aqui a

    imagem de um Cd. Contudo, diferentemente do que se concluiu para o manual do 9

    ano, podemos verificar que logo um dos primeiros exerccios propostas pelo manual diz

    respeito a uma actividade de compreenso oral. Trata-se de um exerccio onde o aluno

    tem de ouvir uma notcia e, posteriormente, completar uma ficha de compreenso do

    texto ouvido. No dada qualquer sugesto suplementar ao professor sobre uma

    eventual forma de encaminhar esta actividade, mas ao aluno apresentado uma espcie

    de guio contemplando trs fases do exerccio, ou seja, visualizao de uma imagem,

    associao do ttulo ao texto e, finalmente, audio do texto e resoluo de uma ficha

    apresentada, como se pode verificar abaixo, pela reproduo do exerccio do manual

    citado:

  • 26

  • 27

    Verificam-se ao longo de todo o manual diversas actividades de audio

    associadas a exerccios de compreenso, onde so pedidas diferentes nveis de

    compreenso em funo do nmero de audies que o aluno faz. Pode verificar-se que,

    no que toca ao 11 ano de escolaridade o professor tem o apoio deste manual na prtica

    da compreenso oral.

    No deixa de ser curioso que os dois manuais aqui analisados pertenam s

    mesmas autoras e mesma editora, embora do 11 ano haja uma grande referncia

    compreenso do oral, ao passo que no nono ano quase no haja actividades propostas,

    mesmo que os programas apelem para essa prtica.

    Segundo o programa de Portugus para o secundrio, a oralidade permite ao

    aluno afirmar-se perante a sociedade, da a escola ter um papel fundamental em

    proporcionar aos alunos uma srie de actividades atravs das quais possam treinar tanto

    a expresso como a compreenso do oral. De facto, atravs da compreenso que o

    aluno se torna um construtor de sentidos, como tal cabe ao professor criar estratgias

    que orientem o aluno na utilizao de diferentes modelos de compreenso. Contudo, o

    programa sugere que a abordagem dos documentos orais utilizados em aula seja feita

    antes, durante e depois da escuta/visionamento. Sendo que na primeira etapa os alunos

    so convidados a formular hipteses, para tentarem antecipar o tema dos documentos e

    colocar possveis questes que possam ser colocadas para a compreenso. A terceira

    fase visa consolidar os conhecimentos adquiridos anteriormente. Esta consolidao

    pode ser feita atravs de exerccios ou por exposies feitas pelos alunos, com o

    objectivo de que os alunos reconheam as ideias expressas, estabeleam relaes lgicas

    e realizem dedues de inferncias (idem: 31).

    Finalmente, importa salientar que, h poucos anos, o Ministrio da Educao

    emitiu um decreto-lei publicado em Dirio da Repblica a 4 de Outubro de 2007, que

    obriga a avaliao da componente oral, cujo ponto seis do artigo 9 refere: So

    obrigatrios momentos formais de avaliao da oralidade ou da dimenso prtica ou

    experimental, integrados no processo de ensino-aprendizagem, de acordo com as alneas

    seguintes: a) na disciplina de portugus a componente de oralidade tem um peso de 25

    por cento no clculo da classificao a atribuir em cada momento formal de avaliao.

    Como se v, a avaliao da componente oral, no que diz respeito produo e

  • 28

    compreenso de enunciados orais, ainda recente, no panorama do ensino do

    Portugus.

    Neste contexto, com agradada expectativa que se verifica, nos novos

    Programas de Portugus a aplicar a partir do ano lectivo de 2011-20124, uma especial

    ateno dada compreenso oral. De facto, na apresentao inicial das competncias, a

    compreenso oral j no se encontra associada expresso, atravs de uma barra,

    apresentando-se cada uma destas componentes de forma singular. A primeira

    abordagem a esta competncia verifica-se logo no incio do Programa sendo, desde logo

    apresentada no captulo referente aos fundamentos e conceitos-chave do Programa:

    Entende-se por compreenso do oral a capacidade para atribuir significado a discursos

    orais em diferentes variedades do portugus. Esta competncia envolve a recepo e a

    descodificao de mensagens por acesso a conhecimento organizado na memria

    (Ministrio da Educao, 2008: 17).

    Para o 3 Ciclo, o novo Programa de Portugus inclui agora descritores

    especficos de desempenho para atingir esta competncia, o que contrasta com a

    exiguidade de propostas apresentadas nos Programas anteriores. Concretamente, de

    acordo com o novo Programa, estipula-se que ao alunos:

    saibam escutar, visando diferentes finalidades, discursos formais em

    diferentes variedades do Portugus, em presena ou difundidos pelos

    media, cuja complexidade e durao exijam ateno por perodos

    prolongados;

    compreendam o essencial da mensagem, quer apreendendo o fio

    condutor da interveno e as linhas gerais da argumentao, quer

    sintetizando e retendo informao lhes permita intervir

    construtivamente;

    interpretem criticamente a informao ouvida, analisando as estratgias

    e os recursos verbais e no verbais utilizados.

    Perante estes critrios apresentados, pareceu-nos particularmente eloquente a

    pgina 124 do Programa (ver quadro da pgina seguinte), pela exaustividade e mincia

    com que apresenta aos docentes a abordagem desta competncia

    4 http://www.oei.es/pdf2/Programas_LPEB.pdf [acedido a 23/09/2011].

    http://www.oei.es/pdf2/Programas_LPEB.pdf

  • 29

    Os novos Programas de Portugus, de facto, alertam para a prtica constante de

    actividades de treino da compreenso oral de forma a que esta competncia se torne um

    meio de aquisio de saberes: No 3. ciclo, pretende-se que os alunos aprofundem o

    estudo reflectido dos textos, pelo que devero ser promovidas oportunidades de

    aprendizagem que alarguem e consolidem os processos de compreenso, produo e

    fruio. Esses textos, de diferente natureza (escritos, falados, visuais) e complexidade,

    integram-se no campo da literatura, nos textos do quotidiano e dos mdia, permitindo

    ampliar o conhecimento de como os sentidos so construdos e comunicados (idem:

    141).

  • 30

  • 31

    1.2Programas de Francs

    1.2.1 Programa de Francs para o 3 ciclo do Ensino Bsico

    O programa de Francs para o 3 ciclo do Ensino Bsico apresenta a sua

    primeira abordagem compreenso oral aquando da apresentao dos objectivos gerais

    que se pretende que os alunos tenham adquirido no final deste ciclo. Como tal, a

    disciplina de Francs dever proporcionar ao aluno formas que o levem a compreender

    textos orais e escritos desde que estejam adequadas ao seu desenvolvimento lingustico,

    psicolgico e social. Inserido nesta compreenso de textos orais, pretende-se que o

    aluno saiba:

    1) Identificar o assunto, integrando-o no seu universo de experincias;

    2) Identificar os locutores, suas relaes e intenes;

    3) Identificar tipos de discurso e sua organizao;

    4) Interpretar textos adequados a diferentes situaes de comunicao;

    5) Reconhecer no texto os meios lingusticos nos seus aspectos formais;

    6) Reconhecer no texto os meios lingusticos nos seus valores semntico e

    pragmtico;

    7) Reconhecer aspectos particulares do sistema fonolgico francs;

    8) Identificar caractersticas prosdicas da lngua francesa;

    9) Reconhecer oposies contrastivas;

    10) Identificar sequncias fnicas.

    Visto tratar-se de uma lngua estrangeira e, por isso, os alunos iniciarem o estudo

    desta lngua, o programa prope que todas as competncias de escrita, produo oral e

    compreenso, quer seja auditiva ou escrita, sejam harmoniosamente trabalhadas.

    Contudo, atentando na compreenso da oralidade, de salientar que o programa impele

    para desenvolver a capacidade comunicativa, trabalhando a escuta activa e criando

    tarefas que desenvolvam a competncia de compreenso. Segundo o programa: A

    ttulo de exemplo de actividades que se inscrevem no mbito da escuta activa, relembra-

    se o trabalho decorrente de audio de um programa radiofnico, em francs, com

    objectivo () de elaborar tipos de anlise orientadas () (Ministrio da Educao,

    2000:19)

  • 32

    Para alm da actividade de preenchimento de questionrios, o programa

    trabalhado prope ainda que se faa de forma oral a compreenso dos textos udio,

    sendo que a produo oral se apresenta associada compreenso oral, o que no de

    estranhar visto tratar-se de uma lngua nova na qual o objectivo formar o aluno para a

    comunicao.

    Para cada um dos anos pertencentes ao 3 ciclo, no feita qualquer diviso dos

    contedos a serem trabalhados. Assim sendo, tambm no so apresentados os

    exerccios que devem ser pedidos a cada ano em particular. O que me leva a concluir

    que, semelhana do que acontece na compreenso oral em Portugus, tambm em

    Francs cabe a cada professor seleccionar de forma solitria os documentos que serviro

    de teste e prtica da compreenso oral, uma vez que no programa no so apresentadas

    sugestes de documentos a apresentar aos alunos.

    Desta forma, de salientar, tal como no caso do portugus, a vantagem da

    existncia de uma disciplina intitulada Produo de Materiais Didcticos em Francs

    que se apresenta no plano curricular do mestrado em Ensino da Faculdade de Letras e

    que fornece alguns instrumentos necessrios para ajudar o professor a criar e seleccionar

    os materiais adequados a cada turma.

    1.2.2) O Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas

    Tendo j feito uma abordagem do Programa de Francs do Ensino Bsico pelo

    qual me regi ao longo deste ano de estgio, e sendo o francs uma lngua estrangeira,

    no poderia deixar de lado neste momento de anlise o Quadro Europeu Comum de

    Referncia para as Lnguas5 (2001). Com efeito, a atribuio dos diferentes nveis

    atingidos numa determinada lngua implica que os seus utilizadores tenham atingido

    diferentes nveis no que toca s diferentes competncias, sendo tambm realada a

    compreenso de enunciados orais e escritos, conforme o nvel proposto.

    Para o nvel A1, que o atingvel no 7 ano de escolaridade, que pude

    acompanhar de perto ao longo deste ano de estgio, O Quadro Europeu Comum de

    referncia para as Lnguas pretende que, a nvel da compreenso oral, os alunos sejam

    5http://sitio.dgidc.minedu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/724/Quadro_Europ

    eu_total.pdf.

  • 33

    capazes de reconhecer palavras e expresses simples de uso corrente relativas a si

    prprios, s suas famlias e aos contextos em que esto inseridos.

    No que refere s actividades de audio, o Quadro Europeu Comum de

    referncia na pgina 102 prope: anncios publicitrios, audio dos meios de

    comunicao, audio ao vivo como membro de um auditrio e ainda, audio de uma

    conversa lateral. Em cada uma destas actividades, pretende-se que o utilizador esteja a

    ouvir para compreender o essencial, uma informao especfica, os pormenores ou

    ento que subentenda o que est implcito.

    Neste sentido, para o nvel A1 pretende-se que o utilizador seja capaz de seguir

    um discurso muito pausado e muito cuidadosamente articulado, com pausas longas que

    lhe permitam assimilar os significados. (Quadro Europeu Comum de Referncia para

    as Lnguas, 2001:103)

    Para a compreenso de uma interaco entre falantes nativos, a audio como

    membro de um auditrio ou a audio de meios de comunicao udio e de gravaes, o

    Quadro Europeu no apresenta quaisquer descritores no que respeita ao que deve ser

    compreendido. No entanto, na audio de anncios e de instrues, os utilizadores do

    nvel em questo devem ser capazes de entender instrues que lhes sejam dadas de

    forma clara e pausada e de seguir orientaes simples e curtas(idem: 105).

    1.2.3) O manual de 7 ano de escolaridade utilizado

    Aps todas estas propostas e objectivos pretendidos tanto pelo programa de

    francs para o ensino bsico como no Quadro Europeu Comum de Referncia para as

    Lnguas, parece-me essencial analisar o manual de 7 ano adoptado pela escola, com o

    objectivo de verificar de que forma estas propostas, anteriormente apresentadas, so

    aplicadas nos manuais e quais as sugestes que so dadas ao professor para a aplicao

    destas actividades e posteriormente atingir os objectivos propostos.

    O manual Mots Croiss 1 (Costa & Pacheco, 2006) apresenta-se, na verso do

    professor, constitudo pelo livro semelhante ao do aluno mas com uma faixa lateral

    onde se inserem as sugestes para o professor, o caderno de exerccios, um CD-ROM,

    um pequeno livro com testes de avaliao e, por fim, alguns jogos que servem para

    abordar algumas das temticas apresentadas.

  • 34

    Sendo que o CD aquele que partida serviria para trabalhar a compreenso de

    documentos orais, podemos verificar que ao longo do manual vo sendo propostos

    vrios exerccios que nos remetem para este suporte, com o objectivo de trabalhar a

    compreenso. A primeira actividade apresentada no manual e associada compreenso

    oral, consiste num exerccio de reconhecimento das expresses francesas de entre um

    conjunto de vrios idiomas.

    Ao longo de todo o manual verifica-se uma srie de actividades com recurso

    audio, de forma a trabalhar a compreenso da lngua em questo. Estes exerccios

    podem ser de reconhecimento de palavras francesas entre uma srie de outras, como

    referi anteriormente, passando pela associao do som imagem, ou ainda, como forma

    de reconhecer e apreender os diferentes sons, trabalhando assim a fontica.

    Nos exerccios propostos pelo manual, deparamo-nos com actividades de

    audio e repetio do ouvido, o assinalar de opes correctas, o preenchimento de

    quadros de anlise, o preenchimento de pequenos questionrios, ou ainda o completar a

    letra de uma cano medida que vo ouvindo. Estes exerccios vo variando de

    objectivo de forma a no enfadar o aluno e vo aumentando o seu grau de dificuldade

    com o avanar do conhecimento da lngua.

    Assim sendo, no que toca compreenso do oral, este manual apresenta vrias

    propostas de trabalho, estando de acordo tanto com o programa de francs como com o

    Quadro Europeu Comum de Referncia, o que, a nosso ver, parece essencial na medida

    em que os alunos esto pela primeira vez a estabelecer um contacto com a lngua.

    de salientar que a audio ajuda o aluno a detectar e apreender os diferentes

    sons desta nova lngua e, como tal, os dota dos conhecimentos essenciais para uma

    contnua aprendizagem da lngua que se pode prolongar durante vrios anos.

    Neste sentido, essencial para os alunos, nesta primeira abordagem da lngua,

    terem contacto com audies, quer em CD-ROMS, vdeos, quer mesmo atravs dos

    meios de comunicao, na medida em que no podem ter um contacto directo com a

    lngua que aprendem diariamente, visto no se tratar da lngua em uso na comunicao

    local.

  • 35

    Captulo II - Compreenso oral no contexto da escola

    Embora seja uma das competncias mais utilizadas em sala de aula, (e fora dela)

    se no mesmo a mais utilizada, a oralidade apresenta-se como um forte desafio para o

    aluno, sobretudo porque os clichs, as siglas, as mensagens sms e a crescente falta de

    dilogo nas famlias, resultante da subida do tempo de trabalho parental, da ausncia

    dos avs na famlia nuclear e o apelo da televiso e da internet retiram criana e ao

    adolescente tempo de discurso, que se reflecte, naturalmente, numa maior dificuldade

    em construir enunciados orais estruturados e coerentes.

    Por todos estes motivos (e muitos outros), a compreenso oral torna-se

    simultaneamente uma das competncias mais importantes e mais difceis que deve ser

    ensinada ao aluno ao longo do seu percurso escolar.

    2.1 A importncia da oralidade na sala de aula

    Na esfera do ensino, a oralidade nem sempre teve a importncia que hoje lhe

    atribuda. Durante muitos anos foi desvalorizada para centrar a aula mais em torno da

    gramtica e da interpretao do texto escrito. A evoluo da sociedade e a necessidade

    de resgatar uma competncia que se foi perdendo, a par da constatao da necessidade

    de dotar o aluno de uma forma eficaz de agir sobre o seu meio e de exercer a cidadania,

    determinaram uma progressiva ateno ao oral na sala de aula de Portugus.

    Segundo Chomsky (1959), citado em Cornaire (1998), tous les tre humains

    possdent une facult de langage, une connaissance des principes de la grammaire

    universelle et, partir des phrases entendues autour de lui, lenfant construit les rgles

    de sa langue (1998: 17). A primeira aprendizagem da lngua materna por isso, o

    resultado de uma prtica de oralidade, estruturada fundamentalmente em torno do

    contexto familiar. No entanto, se essa facilidade de expresso inata ao indivduo, este

    acaba, apesar de tudo, por absorver a lngua no estado em que ela se lhe depara, isto ,

    repetindo a correco e, em muitos casos, as incorreces. Por isso, o estudo do

    Portugus lngua materna, na sua dimenso oral (codificao e descodificao) no deve

    ser descurado.

    partindo desta premissa que se desenha a necessidade de implementa

    estratgias de adestramento do oral no contexto da sala de aula. Assim, a teoria de

    Gestalt, citado por Cornaire 1998, apresenta a lngua como um instrumento de

  • 36

    comunicao no qual o aprendente se deve esforar por obter, primeiramente, a

    compreenso do sentido global, salientando a importncia da audio, uma vez que a

    escuta uma etapa necessariamente preliminar produo. O aluno em situao de

    aprendizagem v-se obrigado a ouvir e tentar compreender o professor ou os materiais

    udio utilizados em aula.

    A lngua sendo um instrumento de comunicao e torna-se uma forma de

    interaco social. Assim, ensinar a comunicar pressupe preparar os aprendentes para

    situaes de comunicao, sendo esta a maior forma de poder que o professor pode

    colocar nas mos do aluno. O saber comunicar permite ao aluno concretizar mais

    rapidamente o que por ele pretendido.

    Cada indivduo capaz de processar mentalmente at quinhentas palavras por

    minuto, mas s diz em mdia cento e cinquenta palavras. Grice6 apresenta um conjunto

    de quatro mximas, que procuram definir o comportamento ideal dos falantes. So elas:

    a mxima da qualidade (s se deve dizer o que verdadeiro e no se deve afirmar aquilo

    de que no temos a certeza) a mxima da quantidade (no falar de menos nem demais),

    a mxima da relevncia (a comunicao deve ser interessante e pertinente), finalmente a

    mxima do modo (falar com clareza, ordeira e brevemente). Quando a comunicao

    acontece, necessrio que haja cooperao e sintonia entre falante e receptor, estando

    ambos sintonizados para o mesmo contexto. Contudo, a comunicao pode falhar

    devido a factores de rudo, como, por exemplo, a desateno por parte de um dos

    intervenientes, o desconhecimento da lngua ou o estar fora do contexto da

    comunicao.

    Associada a esta preocupao de Grice, Hymes refere que a competncia

    comunicativa no pode ser dissociada das condies sociais dos falantes. Desta forma, a

    comunicao um conceito dinmico, entendido como acto social, em que os falantes

    se relacionam no mbito complexo das relaes culturais e no apenas na estreita

    plataforma das relaes lingusticas. Por conseguinte Hymes introduz tambm o

    conceito de adequao, pelo qual designa a capacidade cultural dos falantes para

    6 http://www.infopedia.pt/$maximas-conversacionais [consultado a 28/08/2011].

    http://www.infopedia.pt/$maximas-conversacionais

  • 37

    compreenderem e produzirem enunciados diferentes, adequados a diferentes e concretas

    intenes de comunicao7.

    2.2 Descodificao de documentos orais

    2.2.1 A escuta activa luz da compreenso oral

    Ouvir uma faculdade fundamental ao indivduo. Assim, o desenvolvimento da

    escrita apresenta eficcia tanto no trabalho como no relacionamento pessoal, pois reduz

    conflitos, aumenta a cooperao e promove a (inter-) compreenso.

    Ouvimos para obtermos informaes, para compreendermos mensagens, para

    formar ideias prprias e ainda para adquirirmos conhecimentos. Contudo, em qualquer

    conversa, o indivduo mdio apenas retm cerca de metade do contedo da mensagem,

    H que salientar a diferena entre ouvir e escutar. A audio um processo de

    registo das ondas sonoras atingidas pelo tmpano, sobre o qual no temos qualquer

    controle. A escuta constitui uma funo em progresso desde o nascimento, um

    processo activo que constri significado partindo da mensagem verbal e que, sobretudo,

    exige esforo8.

    A escuta, por outro lado, uma faculdade que qualquer indivduo pode melhorar

    atravs da prtica : Avec le temps et lapprentissage, lenfant construira un

    comportement dcoute qui lui est propre et qui intgrera de nombreuse variantes

    langagires et individuelles dpendant du milieu dans lequel il vit, de sa culture, etc.

    (Cornaire,1998: 108) Quem escuta ouve, mas nem sempre quem ouve escuta. A escuta

    pressupe ateno ao tom de voz e linguagem corporal, procurando captar o sentido

    da mensagem em todos os nveis em que ela se constri.

    Uma boa aptido para a escuta dota o indivduo de uma cada vez maior

    capacidade de comunicao, permitindo-lhe ser influente (requisitos essenciais, nos dias

    de hoje, para atingir o sucesso no trabalho), tornando-o desta forma mais produtivo.

    Ouvir atentamente implica estar totalmente envolvido no processo de comunicao.

    7 http://www.voy.com/174528/4/179.html [Consultado a 28/08/2011].

    8http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/A

    ctiveListening.htm [consultado a10/07/2011].

    http://www.voy.com/174528/4/179.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/ActiveListening.htm%20%5bconsultadohttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/ActiveListening.htm%20%5bconsultado

  • 38

    Importa desde logo, no incio da aprendizagem da lngua, incutir em cada um o

    hbito de uma escuta activa, de forma a que consiga entender a maior parte, se no

    mesmo toda a mensagem de uma comunicao ou documento oral. Segundo Cornaire,

    une attitude positive vis--vis de cours axs sur la comprhension passe sans nul doute

    par llaboration dune pdagogie active et interactive qui favorise chez lapprenant

    lintgration de connaissances nouvelles, facilite lacquisition dautomatismes et cre

    des liens entre les aspects cognitif et affectif de lapprentissage de la langue. cet

    gard, les technologies nouvelles pourraient devenir des allies en motivant davantage

    lapprenant et en faisant de lui un intervenant actif prt prendre en charge son

    apprentissage (idem: 27)

    A escuta engloba, segundo Carette, quatro tipos de objectivos: couter pour

    apprendre (pour analyser, rendre compte, etc), couter pour sinformer (pour connatre

    des faits, pour comprendre des vnements, des ides, etc), couter pour se distraire

    (pour imaginer, avoir des motions, rire, etc) et couter pour agir (prendre des notes,

    jouer, cuisiner, utiliser un appareil, etc). (2001)

    A escuta activa uma tcnica de comunicao que exige que o ouvinte

    compreenda, interprete e avalie o que ouve. Existem, de facto, trs elementos principais

    constituintes da escuta activa: a compreenso, a reteno e a resposta.

    Na primeira fase, o ouvinte tem de identificar os sons da fala e sintetizar esses

    mesmos sons enquanto palavras. No dia-a-dia, cada indivduo surpreendido por

    diversos estmulos auditivos que obrigam a distinguir os que constituem palavras, ret-

    las, deixar de lado os que constituem apenas sons abstractos. Tem ainda a tarefa de

    discernir as pausas entre as palavras, ou segmentos da fala. Esta tarefa torna-se

    significativamente mais difcil quando se est perante uma lngua estrangeira, em que o

    ouvinte tem de determinar o contexto e o significado de cada palavra para poder

    compreender uma frase. Segundo Karima Ferroukhi, comprendre consiste intgrer

    une connaissance nouvelle aux connaissances existantes en sappuyant sur les paroles

    ou le texte (2009: 275). Por outro lado, la comprhension est possible grce un

    processus dassimilation, il sagit de construire une reprsentation de linformation dans

    les termes des connaissances antrieurement acquises (Gaonach, D., 1990). A

    compreenso oral obriga, assim, o aluno a recorrer aos conhecimentos que tem j

    interiorizados para poder compreender mais um documento que se lhe apresente.

  • 39

    Na segunda fase deste processo, a memria9 torna-se essencial, j que desta

    forma que se retm a informao aquando da audio, para posteriormente filtrar a

    informao obtida. Contudo, a memria falvel. impossvel ao ouvinte reter toda a

    informao de um documento, at porque cada indivduo possui a sua prpria

    capacidade mnsica (infelizmente, como se constatar, cada vez mais estiolada), o que o

    leva, por vezes, no momento em que ouve um documento, a assimilar erroneamente a

    informao. Aquando da interiorizao da informao, esta pode ser retida atravs da

    memria a curto prazo ou atravs da memria a longo prazo10

    . A memria a curto prazo

    apresenta-se associada actividade de compreenso. No caso da lngua estrangeira, esta

    mais limitada do que na lngua materna, aumentando o impacto mnemnico na

    proporo da competncia lingustica. Ser, pois, a memria a curto prazo que permite

    distinguir um ouvinte mais hbil de um ouvinte menos competentes (Cornaire, 1998).

    A resposta, terceira fase deste processo, consiste na reaco do ouvinte ao

    documento e na interaco com o interlocutor. o momento em que o ouvinte passa de

    uma atitude passiva para um papel activo, podendo recolher, ao longo da audio, as

    informaes necessrias sobre o documento ouvido, tirando as suas notas. O processo

    de verificao ou feedback pretende aferir se a audio deu lugar efectivamente

    apreenso de informao.

    Para atingir uma boa compreenso, necessrio dispensar um elevado nvel de

    ateno. A compreenso de um documento pode falhar por diversas razes. La faim ou

    une indisposition, en passant par le manque dintrt pour un sujet, la raction ngative

    ou positive au style dun locuteur (). Lintelligence, le niveau dinstruction qui se

    manifeste par une connaissance approfondie de la langue, le degr de motivation et la

    culture (idem: 77). Assim a compreenso impedida ou dificultada pela quantidade de

    informao e extenso do discurso, pela complexidade da mensagem, pela

    incompreenso da linguagem corporal, pela utilizao de um cdigo lingustico pouco

    adequado ou pela inconstncia por parte do falante. Este pode ter um baixo volume de 9 No cabe, no mbito deste trabalho, uma reflexo alargada e sistematizada sobre o papel da memria na

    aprendizagem. Contudo, no nos parece concebvel abordar a questo da descodificao oral, sem

    convocar esse factor essencial para a compreenso dos documentos orais em contexto escolar, que me

    propus trabalhar neste relatrio.

    10http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/

    ActiveListening.htm [consultado a 10/07/2011].

    http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT

  • 40

    voz, pode produzir um discurso sem pausas e, ser demasiado rpido estando a

    compreenso da mensagem directamente ligada ao dbito do locutor. Quanto maior for

    a rapidez do discurso maior ser o distanciamento do ouvinte relativamente

    compreenso total da mensagem.

    As pausas no discurso so, de facto, facilitadoras de compreenso da mensagem,

    na medida em que proporcionam tempo para que o ouvinte possa processar a

    informao adquirida at ento e separ-la conforme a sua importncia (ibidem).

    O ouvinte no se pode distrair com pequenos acontecimentos que lhe sucedam

    ao redor. As barreiras podem ser psicolgicas (emoes, por exemplo) ou fsicas (por

    exemplo, o rudo e distraco visual). Diferenas culturais, vocabulrio e mal-

    entendidos devidos a pressupostos culturais, que muitas vezes dificultam o processo de

    escuta.11

    O ouvinte deve prestar ateno linguagem corporal do falante, j que esta

    tambm comunica por si mesma. Interpretar a linguagem corporal permite-lhe

    compreender mais fcil e acertadamente a mensagem, bem como os sentimentos do seu

    interlocutor.

    Para melhorar a compreenso, o ouvinte deve manter o contacto visual com o

    interlocutor e focar-se atentamente no contedo da mensagem, de forma a no se distrair

    com pormenores acessrios. Deve ainda evitar o envolvimento emocional, no fazendo

    juzos de valor, e tratar a escuta como uma tarefa desafiadora, fazendo a si mesmo,

    permanentemente, perguntas mentais, para retomar o assunto tratado12

    . Para pr em

    prtica estas estratgias, o ouvinte tem, pois, de adoptar uma atitude activa no momento

    da escuta, recolhendo notas e criando esquemas mentais que lhe permitam facilitar a

    aquisio da informao transmitida. Se a velocidade de pensamento superior

    velocidade do discurso, possvel ao ouvinte, medida que escuta a mensagem, ir

    trabalhando estas estratgias.

    11

    http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/aca

    d/strat/ss_listening.html [consultado a 10/07/2011].

    12http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/aca

    d/strat/ss_listening.html [consultado a 10/07/2011].

    http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.html

  • 41

    2.2.2 A compreenso oral em lngua materna

    A compreenso oral, sendo provavelmente a primeira competncia trabalhada

    desde a aula zero, tem por objectivo primeiro dotar o aluno de uma srie de

    conhecimentos bsicos de lngua, que adquire atravs da escuta de documentos e que

    testa tambm atravs desta actividade. Assim, o aluno ser progressivamente capaz de

    recolher informao, hierarquiz-la, tomar notas, o que o ajudar a compreender melhor

    a lngua. fundamental nunca esquecer que a comunicao a finalidade essencial de

    um aprendente de lngua estrangeira e que portanto, a escuta tem de dar lugar

    produo de enunciados, como resposta ao estmulo recebido. (Ferroukhi, 2009).

    Na compreenso oral, o aluno naturalmente, o centro do processo de ensino. O

    professor tem a obrigao de centrar o seu ensino nele e nos seus processos de

    aprendizagem. Partindo desta premissa, ele ter de variar as estratgias de escuta, uma

    vez que nem todos ouvem a mesma informao do mesmo modo13

    .

    Na compreenso em lngua materna, em princpio, o ouvinte no ter grandes

    problemas com o lxico, o que lhe permite deter-se com mais propriedade no sentido e

    na mensagem do discurso. Contudo, pode suceder que o ouvinte de lngua materna

    desconhea o significado de uma ou outra palavra, o que o levar a um ponto de no

    compreenso da mensagem, aproximando-se a da incompreenso frequente do ouvinte

    de lngua estrangeira (cf Cornaire,1998).

    Um ouvinte em lngua materna apresenta-se numa posio privilegiada, j que

    se encontra mais vontade com o texto, podendo construir mais facilmente esquemas

    mentais do que o ouvinte de lngua estrangeira. Desta forma o ouvinte poder formular

    hipteses, tentando antever o seguimento do discurso, partindo do sentido do texto. O

    ouvinte em contexto de lngua materna poder, ao longo do discurso, tomar notas dos

    pontos importantes ou at mesmo fixar palavras-chave que lhe permitiro interiorizar a

    mensagem.

    13

    DESSARTRE, N.: O ensino da compreenso oral: especificidades, desafios e solues

    http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem07/mathaliedessartre.htm [consultado a

    11/07/2011].

    http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem07/mathaliedessartre.htm

  • 42

    2.2.3 A compreenso oral em lngua estrangeira

    Compreender no uma mera actividade de recepo. A compreenso oral das

    tarefas simultaneamente mais difceis e indispensveis. Tratando-se de uma lngua

    estrangeira, uma actividade que se utiliza na sala de aula como forma de habituar e

    treinar o ouvido a sons diferentes dos habitualmente percepcionados, dotando o ouvinte

    de um novo cdigo fontico, visto que chaque langue possde un accent, une

    intonation et un rythme qui lui sont propres, et la mconnaissance de ces traits

    prosodiques entrane des difficults dans la comprhension des messages (idem: 196).

    Da a importncia da abordagem da fontica ao longo das aulas de lngua estrangeira, j

    que, frequentemente, o desconhecimento desta vertente fontica e fonolgica leva

    incompreenso da mensagem oral, pelo facto de os alunos no conseguirem distinguir

    sons. Como refere Lhote (1995), citado por Cornaire : on nentend et on ne reconnat

    que ce quon a lhabitude dentendre et de reconnatre. Chaque langue possde un

    systme de sons, un rythme et une intonation qui lui sont propres et on nglige souvent

    de faire le lien entre des difficults dcoute ou dexpression en langue trangre et la

    mconnaissance de ces traits (1998: 113).

    Assim, ao longo do meu ano de estgio, na turma de 7 ano de Francs optmos

    por trabalhar com os alunos as questes fonticas da lngua. Para tal, utilizmos uma

    tcnica que consistiu na utilizao de mnemnicas retiradas de vrios manuais

    escolares. Trata-se de vrias frases onde esto presentes os mesmos sons e, por isso,

    rapidamente ficam no ouvido dos alunos, como, por exemplo: La baleine de la raine

    sappelle Madeleine, Un roi sur un toi mange une noix, Le pou caribous mal au

    cou, Une poule sur un mur picote du pain dur, le dictionnaire dit la grammaire : je

    taime, un Kangourou joux du tambour comme un fou, un corbeau fait de vlo dans

    son bateau, un lapin mange un pain sur un sapin, Le chauffeur du docteur est un

    conducteur dormeur, Un grand lphant blanc se lave les dents, La curieuse

    Huguette porte des lunettes. Atravs da observao directa de aulas, pde verificar-se,

    na aula de Francs. uma aquisio progressiva da conscincia fontica. Ao longo do

    ano, facilmente os alunos relembravam as frases trabalhadas em aula quando lhes surgia

    uma qualquer dvida relacionada com a fontica.

    Tratando-se de uma lngua estrangeira, no momento da audio de um

    documento o aluno vai deter a sua ateno em certos elementos da mensagem. Contudo,

  • 43

    se bloquear numa palavra, a compreenso ser dificultada e, por vezes, no efectuada.

    Desta forma, Vanpatten (1989) citado por Cornaire, recomenda que o aprendente de

    uma lngua estrangeira que apresente dificuldades na compreenso se fixe

    primordialmente no sentido geral da mensagem, em vez de se concentrar em

    pormenores (1998).

    Assim, importa desenvolver ao longo das aulas de lngua estrangeira a

    competncia de distino e separao clara dos vocbulos, sendo assim o aluno capaz de

    delimitar uma palavra ou um grupo de palavras, pois os alunos normalmente apresentam

    dificuldades na delimitao destas unidades sintcticas.

    Em lngua estrangeira, a tarefa de compreenso , como se tem insistido dificil.

    Por isso, Murphy (1987), apresenta quatro estratgias essenciais que serviro ao aluno

    interiorizar a mensagem: a reconstituio, a especulao, a anlise e a introspeco. Le

    rappel, consiste reformuler, dans ses propres mots, certaines parties dun texte; la

    spculation qui fait jouer limagination, lexprience, les connaissances antrieures,

    savoir couter entre les lignes et prvoir linformation qui va venir ; lanalyse, consiste

    examiner attentivement les ides prsentes dans le texte et essayer daller au-del en

    portant un jugement critique et lintrospection qui amne lapprenant faire le point sur

    son exprience dcoute (Cornaire,1998: 61). Munido destes conselhos, o aluno, no

    momento da audio, consegue acompanhar a mensagem que lhe est a ser transmitida,

    sintetiz-la e antecipar alguma informao, se tiver descodificado o contexto da

    mensagem. Partindo da minha experincia de docncia e do contacto que tive com

    turmas concretas, parece-me que, para o contexto do Portugus actual, estas estratgias

    sero eficazes numa turma em que a globalidade dos alunos tenha atingido um

    considervel desenvolvimento intelectual, uma razovel formao cultural e um j

    razovel domnio lingustico.

    Contudo, parecem-me de difcil aplicao para alunos com idades inferiores e

    de nvel elementar que detm conhecimentos lingusticos suficientes para tal. Para

    alunos de iniciao, a lngua resume-se frequentemente a um conjunto de sons que eles

    nem sempre conseguem distinguir, mas que, progressivamente iro compreendendo.

  • 44

    2.3 Estratgias de dinamizao da prtica da compreenso oral na sala de aula de

    lngua materna e lngua estrangeira.

    A compreenso oral uma competncia que nem sempre se apresenta

    simplificada por diversos factores. Assim sendo, importa incutir no aluno estratgias de

    escuta que lhe permitam facilitar a compreenso de um qualquer documento que lhe

    seja apresentado. Como refere Cornaire, aujourdhui, on sentend pour dire que les

    stratgies dapprentissage sont des dmarches conscientes mises en uvre par

    lapprenant pour faciliter lacquisition, lentreposage et la rcupration ou la

    reconstruction de linformation (1998: 55)

    OMalley et al. (1985), citado por Cornaire apresenta j trs etapas de

    aprendizagem: a estratgia metacognitiva, pala qual o aluno faz o ponto da situao

    sobre o que acaba de aprender; a estratgia cognitiva, que pressupe que o aluno faa

    inferncias, utilizando os conhecimentos j adquiridos e, finalmente, a estratgia scio-

    afectiva, que visa j que o aluno, em situao de dilogo, v colocando questes, de

    forma a desenvolver a sua compreenso. A estas trs estratgias, Oxford e Crookall

    (1989) agregaram mais trs novas categorias de aprendizagem: a estratgia mnemnica,

    definida como sendo a tcnica que ajuda o aluno a memorizar uma informao nova, a

    estratgia compensadora, que consiste em parafrasear a mensagem apreendida e, por

    fim, a estratgia afectiva, que ajuda a vencer a falta de confiana em si mesmo que se

    manifesta frequentemente no contacto com a lngua estrangeira (Cornaire,1998). Estas

    estratgias de aprendizagem servem ao aluno como forma de colmatar eventuais

    dificuldades que lhe possam surgir aquando do contacto com um novo contedo com o

    qual o aluno no est ainda familiarizado. Tambm no que se refere actividade de

    escuta e compreenso oral, o aluno poder pr em prtica a estratgia que mais se

    adaptar s suas capacidades intelectuais, proporcionando formas de aquisio e reteno

    de conhecimentos. de notar que o docente deve, ao longo das aulas, dotar os alunos de

    formas que lhes permitam ir melhorando a sua compreenso. Com base na minha

    experincia de docncia, atravs da prtica da actividade de escuta que os alunos vo

    melhorando esta mesma competncia. Atravs das turmas que leccionei, pude verificar

    que os alunos adoptam uma atitude passiva no momento da escuta de um documento, o

    que, frequentemente, leva distraco e consequente falha de compreenso. Desta

    forma, era atravs das sugestes do professor que os alunos partiam para uma atitude

    mais activa no momento da escuta, tomando, por exemplo, notas.

  • 45

    2.3.1 As tarefas pr e ps-escuta

    Na compreenso de documentos orais importante que o professor prepare o

    aluno para a audio, separando a actividade em trs momentos: a pr-escuta, a escuta e

    a ps-escuta. A primeira consiste em preparar o aluno para a audio, proporcionando-

    lhe a formulao de hipteses e dando-lhe alguns conhecimentos sobre o tema em

    questo. Podem ainda realizar-se actividades de remue-mninges/ brain-storming. Estas

    actividades servem como forma de contextualizar o documento posteriormente

    apresentado. o momento de, sobretudo em lngua estrangeira, apresentar o

    vocabulrio novo ao aluno. Ao longo deste meu ano de estgio, pude aplicar, nas vrias

    aulas que leccionei, estas trs fases que levam a uma boa compreenso. Assim, por

    exemplo, numa determinada aula em que propus uma actividade de compreenso oral,

    pude apresentar aos alunos uma imagem, a partir da qual se formularam hipteses sobre

    o possvel assunto do texto e se esclareceu algum vocabulrio fundamental para a

    compreenso, antes da audio do documento. Partindo desta experincia, verificou-se

    um grau superior de ateno por parte dos alunos, uma vez que com esta actividade o

    momento de audio se tornara, para alm de um momento de compreenso, um

    momento de confirmao ou refutao das hipteses por eles enunciadas anteriormente.

    O segundo momento, a escuta centra-se na compreenso geral do documento,

    dando ao aluno uma tarefa a realizar. Desta forma, os alunos devem conseguir

    distinguir, na primeira escuta o nmero de pessoas que fazem parte do dilogo, qual o

    sexo do interveniente, quem fala com quem e saber responder ao quando, porqu e

    como. Os alunos devem tambm conseguir identificar a tipologia do documento: um

    monlogo, dilogo a dois ou vrios interlocutores, bem como o encadeamento das

    sequncias discursivas.

    Ainda neste segundo momento, importante esclarecer o aluno do objectivo da

    escuta. Assim, ele deve saber se est a ouvir para entender ou para detectar algo

    especfico, para seleccionar indcios, para identificar informaes, para reconhecer uma

    personagem, para levantar a ambiguidade do discurso, para reformular o assunto, para

    sintetizar, para agir ou para julgar uma atitude de uma personagem (Cornaire,1998).

    Finalmente, o terceiro momento, a ps-escuta, implica o reinvestimento do

    ouvido numa tarefa real. Posteriormente escuta, o aluno dever ser confrontado com

    um teste de compreenso da mensagem ouvida. A resoluo desse teste de compreenso

  • 46

    oral pretende avaliar a capacidade do aluno em recolher do documento a informao

    pretendida. Contudo, os exerccios apresentados no teste devem ser variados. Assim

    sendo, podem ser apresentados exerccios de resposta aberta, associao de vocabulrio

    a imagens, resposta de justificao de temas, questes de escolha mltipla e verdadeiro

    ou falso, grelhas para completar, preenchimento de espaos, elaborao de esquemas ou

    exerccios de reconstruo de temas, elaborao de resumos ou tomada de notas

    enquanto ouve.14

    Segundo Rost (1990), citado por Cornaire, para realizar correctamente as tarefas

    pedidas aps a audio necessrio que o ouvinte passe por quatro etapas: 1)

    lauditeur doit interprter lintrant sonore ainsi que les images afin den construire une

    reprsentation mentale, 2) lauditeur doit comprendre les consignes de travail qui

    prcisent le type de rponse auquel lvaluateur sattend, 3) lauditeur doit slectionner

    linformation utile laccomplissement de la tche et procder ensuite des choix

    linguistiques appropris la prsentation ou la linarisation de cette information, 4)

    lauditeur doit rpondre (1998: 135). Desta forma, as tarefas propostas para detectar a

    compreenso da mensagem pressupem um prvio momento de reflexo e ponderao

    sobre a mensagem interiorizada e os exerccios propostos. Salienta-se que estas etapas

    apresentadas por Rost tero de ser ensinadas ao aluno, que ter de as tornar prticas

    habituais em todas as actividades de compreenso oral. A compreenso uma

    actividade que ter progressivamente de ser ensinada pelo professor.

    2.3.2 As novas tecnologias ao servio da compreenso oral

    Sendo a compreenso oral uma tarefa fundamental para a comunicao, o

    professor deve esforar-se por utilizar documentos autnticos, para apresentar ao aluno

    situaes reais, tornando-se a compreenso desses documentos um momento de

    aquisio de conhecimentos que lhe podero servir para aplicar numa futura situao

    lingustica em que possa vir a estar envolvido. No entanto, partindo da minha

    experincia deste ano de estgio, pude verificar que a escolha de materiais se torna um

    grande entrave para a realizao desta actividade. tarefa do professor,

    autonomamente, procurar e adquirir os documentos que podero ser utilizados, o que

    dificulta a actividade do docente em incio de carreira.

    14

    http://www.rfi.fr/lffr/articles/075/article_613.asp [consultado a 10/07/2011].

    http://www.rfi.fr/lffr/articles/075/article_613.asp

  • 47

    No sentido de desenvolver a capacidade de compreenso do aluno, necessrio

    variar o tipo de discurso utilizado nos documentos, que devem preferencialmente ser

    autnticos e inseridos em temas culturais que os alunos conheam. Os documentos

    devem ser escolhidos tendo em conta as necessidades comunicativas do aluno. Assim, o

    professor pode variar os documentos apresentados, associando tambm a imagem, deste

    modo ajudando na motivao do aluno, aumentando a ateno e melhorando a

    memorizao da informao. Segundo Rubin (1994) citado em Cornaire (1998 : 130)

    de bonnes images peuvent stimuler lattention tout en apportant des informations

    utiles, bien adaptes leur objectif. A associao do vdeo com o texto torna-se um

    meio facilitador da mensagem, uma vez que, atravs do vdeo, o aluno pode captar

    melhores sentimentos auxiliados pelo visionamento de expresses corporais e faciais.

    Da a utilizao da imagem como estratgia de pr-escuta, proporcionando ao aluno a

    formulao de hipteses que ele ir confirmar ou refutar no momento da escuta. Esta

    actividade foi realizada na turma de 7 ano de lngua estrangeira, que apresentou bons

    resultados, uma vez que os alunos estiveram mais atentos no momento da escuta.

    A televiso constituiu uma das melhores fontes de documentos autnticos e

    culturais de acesso mais fcil, de que o docente pode dispor. Nela, o professor encontra

    facilmente telejornais, sries, debates, publicidades, entrevistas passveis de serem

    utilizadas em sala de aula. O docente poder tambm recorrer rdio, que oferece uma

    panplia de documentos autnticos: boletins meteorolgicos, noticirios, publicidades,

    dilogos, entrevistas, debates, reportagens, sondagens, jogos, histrias divertidas,

    narrativas, etc. Para alm dos documentos radiofnicos, so tambm aconselhveis

    documentos audiovisuais: vdeos ou internet. Esta ltima constituiu tambm uma fonte

    interminvel de documentos para o ensino de lngua materna ou estrangeira.

    Contudo, parece-me pertinente salientar, mais uma vez, a dificuldade que senti

    em encontrar documentos autnticos (mesmo recorrendo s novas tecnologias) para

    alunos numa fase inicial de aprendizagem da lngua. Mesmo as propostas do manual

    revelaram-se, por vezes, inoperantes, por exemplo, na turma de 7 ano de lngua

    estrangeira realizei uma actividade que consistia na audio de uma banda desenhada

    sobre a qual os alunos deveriam, posteriormente audio, responder a um questionrio

    de escolha mltipla. Esta actividade no obteve bons resultados, pois os alunos no

    conseguiram compreender a mensagem escutada, tendo apelado leitura da banda

    desenhada por parte do professor.

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    Captulo III Metodologia de investigao e aplicao de estratgias de trabalho

    Neste captulo temos como objectivo apresentar a escola onde realizmos a

    Iniciao Prtica Profissional de Portugus e Francs, bem como o seu contexto, as

    turmas que nos serviram para recolher materiais e a metodologia de trabalho utilizada.

    As informaes apresentadas sobre as diferentes turmas encontram-se

    fundamentadas pelos registos efectuados pelos respectivos directores de turma e que se

    encontram arquivados na prpria escola.

    3.1 A Escola Secundria Doutor Manuel Gomes de Almeida

    A cidade de Espinho, pertencente ao distrito de Aveiro, mas includa na Regio

    Norte e sub-regio do Grande Porto, pertence ainda rea metropolitana do Porto e

    constituda por cerca de 29.481 habitantes, segundo registos de 200815

    . Sede de um

    pequeno municpio urbano, est subdividida em cinco freguesias. , pois, na freguesia

    de Espinho, que foi criada em 1956, pelo Decreto n. 40 725 do Ministrio da Educao

    Nacional (Direco - Geral do Ensino Tcnico Profissional) uma escola tcnica