A competência de compreensão oral na aula de Português ... · âmbito da Profissionalização em...
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Ctia Sofia Taboada Fernandes
A competncia de compreenso oral na aula
de Portugus lngua materna e Francs
lngua estrangeira
Dissertao/Relatrio de Estgio no mbito do Mestrado em Ensino de
Portugus 3 Ciclo Bsico e Secundrio e Lngua Estrangeira no Ensino
Bsico e Secundrio
Porto
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II
Setembro 2011
Ctia Sofia Taboada Fernandes
A competncia de compreenso oral na aula
de Portugus lngua materna e Francs
lngua estrangeira
Dissertao/Relatrio de Estgio no mbito do Mestrado em Ensino de
Portugus 3 Ciclo Bsico e Secundrio e Lngua Estrangeira no Ensino
Bsico e Secundrio orientada pela Professora Doutora Isabel Morujo e
co-orientada pelo Professor Doutor Jos Domingues de Almeida
Porto
Setembro 2011
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III
" O professor no ensina, mas arranja modos de a prpria criana
descobrir. Cria situaes-problemas".
Jean Piaget
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IV
minha Me
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V
Agradecimentos
Professora Doutora Isabel Morujo e ao Professor Doutor Jos Domingues de
Almeida, orientadores desta dissertao/relatrio de estgio, os meus mais profundos
agradecimentos pelo constante apoio e incentivo, pela disponibilidade manifestada, pelo
tempo dedicado orientao, pela exigncia da correco e da reformulao, por todo
os materiais, conhecimentos e saberes partilhados.
Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte e
Professora Doutora Rosa Porfiria Bizarro Monteiro dos Reis Soares, o meu
agradecimento pelo material facultado, pelas sugestes dadas e pela disponibilidade ao
longo dos dois anos de Mestrado.
Ao Dr. Antnio Salvador e Dr. Carlota Madeira, a minha gratido por toda a
ajuda, amizade, disponibilidade e por todos os ensinamentos transmitidos ao longo deste
ano de estgio.
Aos meus alunos de Portugus e de Francs agradeo a disponibilidade e boa
vontade na realizao do trabalho proposto ao longo do ano, o bom comportamento e
aplicao ao estudo e o facto de me terem mostrado o que ser professora.
minha colega de ncleo de estgio, Sofia Daniela Alves Tavares, a minha
gratido pela amizade, pela entreajuda, pela disponibilidade, pela motivao e pelo
reconforto dado ao longo do ano.
Aos meus pais agradeo imensamente o apoio e a fora que me deram. Agradeo
de modo particular minha me, pelo amor, pela ajuda, por confiar no meu trabalho,
por apostar em mim, pela motivao, pelo nimo transmitido e por estar sempre ao meu
lado em todos os momentos,
Aos amigos que de alguma forma me ajudaram na realizao deste trabalho, que
me apoiaram e deram nimo, que estiveram sempre comigo em todos os momentos, o
meu obrigada.
Aos meus colegas de mestrado com quem partilhei experincias, pontos de vista
e sugestes, agradeo toda esta cumplicidade.
A todos um sincero muito obrigada!
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VI
Resumo
O objectivo desta dissertao/relatrio foi o de verificar a competncia dos
alunos de Portugus lngua materna e Francs lngua segunda na descodificao de
documentos orais.
A partir de actividades realizadas em aula e de inquritos que, para este efeito, se
levaram a cabo ao longo do ano, procurou-se simultaneamente aferir a competncia de
descodificao oral dos alunos e reflectir sobre estratgias que os treinassem a ser
ouvintes activos
Conclui-se que, efectivamente, a ateno e a competncia de descodificao do
oral no so traos definidores do aluno actual, mergulhado no silncio e nos cdigos
das mensagens SMS, Messenger, etc. Assim este trabalho procura chamar a ateno da
urgncia de actividades/estratgias pedaggico-didcticas que apetrechem
consistentemente os alunos, de modo a torna-los ouvintes activos e cidados bem
integrados.
Palavras-Chave
Descodificao oral - escuta activa - estratgias de escuta oralidade na sala de aula
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VII
Abstract
The purpose of this thesis/report was to verify the ability of the students of
Portuguese first language and French second language decoding in oral documents.
From activities in class, and surveys that, for this purpose were carried out
throughout the year, the focus was to assess the competence of both oral decoding of
students and reflect on strategies that trained them to be active listeners.
It is concluded that, in fact, attention and competence of the oral decoding are
not defining features of the current students, immersed in silence and codes from SMS,
Messenger, and so on This paper seeks to draw attention to the urgency of activities /
teaching strategies that equips students consistently in order to make them active
listeners and citizens well integrated.
KeyWords
Oral decoding - active listening - listening strategies - speaking in the classroom
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VIII
Rsum
Lobjectif de ce travail est de vrifier la comprhension des lves de portugais
langue maternelle et langue seconde dans le dcodage de documents oraux.
Daprs les activits menes en cours et des enqutes que nous avons organises
cet effet, pendant lanne, pour entraner les lves devenir des auditeurs actifs, on
peut conclure effectivement que lattention et la comptence de dcodage de loral ne
sont pas des traits qui dfinissent llve actuel, plong dans le silence et dans les code
des textos, Messenger, etc. Bref, ce travail cherche montrer limportance des
activits/stratgies pdagogiques et didactiques qui dotent les lves doutils, de faon
en faire des auditeurs actifs et des citoyens bien intgrs.
Mots-Cls
Dcodage oral - coute active - stratgie dcoute - loral en cours
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9
ndice Geral
Agradecimentos ..V
Resumo...VI
ndice Geral..... 9
Introduo. 12
Captulo I- Anlise dos Programas de Portugus e Francs para os anos
2000-2010.. 14
1.1Programas de Portugus. 14
1.1.1Programa de Lngua Portuguesa para o 3 ciclo
do ensino bsico. 14
1.1.2 Programa de Lngua Portuguesa para o Ensino
Secundrio.. 21
1.2 Programas de Francs... 31
1.2.1 Programa de Francs para o 3 ciclo do Ensino
Bsico 31
1.2.2 O Quadro Europeu Comum de Referncia para
as Lnguas .. 32
1.2.3 O manual de 7 ano de escolaridade utilizado ..33
Captulo II A compreenso oral no contexto da escola . 35
2.1 A importncia da oralidade na sala de aula . 35
2.2 Descodificao de documentos orais.37
2.2.1 A escuta activa luz da compreenso oral.37
2.2.2 A compreenso oral em lngua materna..41
2.2.3 A compreenso oral em lngua estrangeira.42
2.3 Estratgias de dinamizao da compreenso oral na aula de lngua
materna e lngua estrangeira...44
2.3.1 As tarefas pr e ps escuta..45
2.3.2 As novas tecnologias ao servio da compreenso oral...46
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Captulo III Metodologia de investigao e aplicao de estratgias
de trabalho.48
3.1 A escola Secundria Doutor Manuel Gomes de Almeida.48
3.2 As turmas-alvo...49
3.2.1 O perfil da turma de Portugus: 9 ano...49
3.2.2 O perfil da turma de Portugus: 11 ano.50
3.2.3 O perfil da turma de Francs: 7 ano...51
3.3 Contexto do projecto.52
3.3.1 Metodologia em Lngua Portuguesa...52
3.3.2 Metodologia em Lngua Francesa...54
Capitulo IV- Anlise e Interpretao dos dados recolhidos em aula55
4.1 Portugus...55
4.1.1 Resultado dos questionrios55
4.1.1.1 3 Ciclo do Ensino Bsico: turma de 9 ano 55
4.1.1.2 Ensino secundrio: turma de 11 ano...59
4.1.2 Anlise de dados do 3 Ciclo do Ensino Bsico.64
4.1.2.1 Primeira ficha de compreenso: texto narrativo...64
4.1.2.2 Segunda ficha de compreenso: Auto
da Barca do Inferno.68
4.1.2.3 Terceira Ficha de compreenso: cena A
Alcoviteira de O Auto da Barca do Inferno.,,71
4.1.2.4 Terceira Ficha de compreenso: cano
Etelvina.71
4.1.3 Anlise dos dados do Ensino Secundrio...75
4.1.3.1 Primeira ficha de compreenso: documento
Grandes Livros....75
4.1.3.2 Segunda ficha de compreenso: documento
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sobre o Romantismo81
4.2 Francs...87
4.2.1 Resultados dos questionrios..87
4.2.2 Anlise de dados do 3 Ciclo do Ensino Bsico.....91
4.2.2.1 Primeira ficha de compreenso: Le
matriel Scolaire91
4.2.2.2 Segunda ficha de compreenso: Les directions94
4.2.2.3 Terceira ficha de compreenso: texto Sur le
Chemin de lcole..96
4.2.2.4 Quarta ficha de compreenso oral: texto Le
vlo du prsident...97
4.2.2.5 Quinta ficha de compreenso oral: Les
moyens de transport.100
4.2.2.6 Sexta ficha de compreenso oral: msica
Cest les vacances...104
Concluso.106
Bibliografia...110
ndice de Grficos114
Anexos...115
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Introduo
O presente trabalho tem como objectivo apresentar as concluses a que cheguei,
aps a investigao desenvolvida para a realizao da dissertao de Mestrado em
Portugus 3 Ciclo Ensino Bsico e Ensino Secundrio e Lngua Estrangeira no Ensino
Bsico e Ensino Secundrio. O tema e as reflexes que aqui sero desenvolvidas tm
como base a minha experincia de docente, desenvolvida no ano lectivo 2010-2011, no
mbito da Profissionalizao em exerccio, unidade curricular fundamental do Mestrado
em Portugus e Lngua Estrangeira, que frequentei na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto e cuja componente de estgio se desenvolveu na Escola
Secundria Doutor Manuel Gomes de Almeida, em Espinho, inserida no sistema
pblico do ensino portugus.
A escolha do tema resultou da possibilidade de, com ele, abranger as duas
disciplinas leccionadas: Portugus e Francs. Por isso, recolhemos os nossos materiais
de anlise em duas turmas de Portugus lngua materna (9 e 11 ano) e numa de
Francs lngua estrangeira (7 ano).
Para este trabalho partimos com a ideia, fundamentada na nossa experincia
ainda recente de aluna, de que, de um modo geral, os alunos, em contexto de sala de
aula, no so estimulados a realizar actividades de descodificao oral e, por isso,
apresentam baixos nveis de compreenso, quando confrontados com tal experincia.
Assim, decidimos, logo no incio do ano lectivo, efectuar uma actividade de
descodificao do oral como forma de confirmar ou refutar esta ideia de base. Foi,
assim, com os resultados desta actividade, que nos lanmos para a concretizao
efectiva deste trabalho, que intitulmos A competncia de compreenso oral na aula de
Portugus lngua materna e Francs lngua estrangeira.
Comemos, neste trabalho, por analisar os Programas de Portugus e de
Francs, de forma a recolher as propostas de trabalho da compreenso oral a presentes
e a verificar a importncia concedida a esta competncia. Analisaram-se tambm os
manuais utilizados ao longo do ano, como forma de verificar a ateno dada s
propostas que, neste mbito do oral, eram apresentadas nos Programas oficiais.
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No segundo captulo, escoradas em alguma bibliografia sobre a oralidade na sala
de aula, abordmos, de uma forma geral, as principais questes inerentes compreenso
oral.
Para dar prosseguimento investigao que nos propusemos levar a cabo, foi
necessrio realizar um leque de actividades seguidas de questionrios que permitissem
averiguar a efectiva compreenso oral dos alunos, nos vrios nveis de escolaridade e
nas duas disciplinas de Portugus e de Francs. Assim, o captulo III apresenta a
metodologia de trabalho seguida na realizao deste estudo, cujos resultados se
apresentam exaustivamente no captulo IV.
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Capitulo I Anlise dos Programas
A compreenso oral apresenta-se, para uma lngua estrangeira, como uma estratgia
de trabalho constante e imprescindvel para a aquisio dos contedos lingusticos dessa
mesma lngua. Contudo, no que respeita lngua materna, a compreenso oral, fazendo
parte do interface de comunicao mais bvio e usual, nem sempre constitui uma
competncia especificamente trabalhada, sendo at, algumas vezes descurada, apesar de
os programas preverem esse trabalho e de haver uma parte da avaliao destinada
competncia oral.
Para uma reflexo sustentada sobre esta questo, analisam-se de seguida os
programas de Portugus e Francs justamente no que concerne a componente da
compreenso oral, bem como as propostas sugeridas para a explorao desta
competncia.
Enquanto estagiria de Portugus e Francs na escola Doutor Manuel Gomes de
Almeida, aproveitarei tambm da minha experincia para reflectir detalhadamente sobre
as actividades propostas pelos manuais que utilizarei.
1.1 Programas de Portugus
1.1.1Programa de Lngua Portuguesa para o 3 ciclo do Ensino Bsico
Atentando no Programa de Lngua Portuguesa para o 3 ciclo do Ensino Bsico
(2000), verifica-se que a primeira referncia compreenso e expresso oral feita no
captulo referente aos contedos e processos de operacionalizao presente logo no
incio do Programa (ver Programa em anexo). O programa refere competncias a atingir
pelo aluno, perspectivadas na aprendizagem prtica da lngua, salientando-se todavia
que o ouvir e o falar mantm uma articulao indissocivel. Abrindo o Programa sob o
signo do oral, seria expectvel que este mesmo documento fosse objecto de tratamento
num ponto especfico. Ora, o que acontece que, no que refere as diferentes
competncias o ouvir aparece sempre associado ao falar, ouvir/falar (veja-se a barra
que, curiosamente, no aparece em ler e escrever) quando, na verdade, as
competncias exigidas a cada uma destas actividades so diferentes.
Contudo, mencionado nesta seco referente aos contedos e processos de
operacionalizao que estas competncias, ler, escrever e falar, se aperfeioam com a
prtica da lngua e por isso devem assim, ser entendidas numa perspectiva funcional,
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havendo lugar a explicaes apenas no mbito da leitura orientada e da reflexo sobre o
funcionamento da lngua. (Ministrio da Educao, 2000: 9) Salienta-se que tanto a
compreenso oral pr-orientada como a compreenso livre de enunciados orais no
podem ser tratadas como unidades estanques, ou seja, devem estar inseridas no decorrer
da aula, sendo articuladas com as outras competncias e adequadamente
contextualizadas. Tal como refere o programa, no aconselhvel que as competncias
anteriormente referidas, surjam como actividades singulares que foradamente se
introduzam no normal decorrer da aula (ibidem) o que me faz discordar, j que me
parece de grande importncia trabalharem-se algumas competncias, especialmente
aquelas que representam maior dificuldade para os alunos. Pessoalmente, pensamos que
a prtica de competncias como a oralidade, a escrita, a leitura e at a compreenso oral
far com que os alunos as aperfeioem e assim possam, futuramente, desenvolver muito
mais o seu trabalho no decorrer de qualquer aula. O ensino e a prtica destas
competncias anteriormente referidas, como por exemplo a compreenso oral, permitir
colmatar algumas limitaes, como por exemplo a reteno de informao, dos alunos e
desenvolver uma maior capacidade de compreenso.
No que respeita interaco dos vrios domnios da lngua, pode verificar-se
que, de entre as quatro principais competncias referidas no Programa (entenda-se:
falar, ouvir, ler escrever), a importncia atribuda ao desenvolvimento do ouvir
similar anunciada para as outras competncias1, como se confirma pelo seguinte
quadro:
1 Pode verificar-se no quadro retirado do prprio programa de Lngua Portuguesa para o ensino bsico
que todos os doze cruzamentos apresentados, as quatro competncias (entenda-se ouvir, falar, ler e
escrever) aparecem com o mesmo nmero de ocorrncias, ou seja, nove vezes cada uma delas.
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Atentando no grfico, de notar que os percursos ouvir-falar-reflectir-escrever,
ouvir-ler-reflectir-falar e ouvir-escrever-reflectir-falar so os que tentei operacionalizar
ao longo do meu ano de estgio, de modo a obter formas de anlise, que permitam tirar
concluso acerca da capacidade de compreenso oral por parte do aluno para poder
reflectir ao longo deste trabalho
O programa reala a importncia do facto da comunicao oral ser um processo
condicionado por regras sociais, ou seja, est directamente ligado com o nvel
sociocultural de cada um. No entanto, ser atravs da prtica frequente do oral que se ira
desenvolver nos alunos uma boa comunicao oral, cabendo ao professor a dinamizao
de estratgias variadas, de forma a aumentar a competncia dos alunos e por
conseguinte melhorar o seu desempenho.
Concretamente no que se refere compreenso de enunciados orais, o Programa
de Lngua Portuguesa assinala a sua extrema importncia na vida, actual onde as
tecnologias ocupam lugar de destaque, desafiando novas competncias. Assim sendo,
deve haver, ao longo das aulas, determinados perodos de tempo dedicados a esta
competncia neste sentido que se propem experincias que visam a tomada de
conscincia da especificidade do oral, que conduzem percepo de perdas e ganhos na
transmisso de informao e que treinam a escuta, a compreenso e a reflexo crtica.
(idem: 12)
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Ao atentar no quadro dos objectivos pretendidos para a competncia de
ouvir/falar, mais propriamente no campo da compreenso, esto presentes os seguintes
objectivos gerais comuns aos trs anos do 3 ciclo do ensino bsico, ou seja, 7, 8 e 9
ano, que transcrevo:
1. Compreender enunciados orais nas suas implicaes lingusticas e
paralingusticas,
2. Apreender criticamente o significado e intencionalidade de mensagens
veiculadas em discursos variados,
3. Desenvolver o gosto pela preservao e recriao do patrimnio literrio oral,
4. Alargar a competncia comunicativa pela confrontao de variaes lingusticas
regionais ou sociais com formas padronizadas da lngua.
A aplicao destes objectivos para cada ano de escolaridade no surge, para cada
um dos anos, diferenciada por objectivos e etapas. Ora, mesmo tratando-se da lngua
materna, a competncia de cada indivduo vai evoluindo com a idade, a cultura e os
interesses. Concretamente para o 9 ano (aquele que leccionei), surpreendente que ela
no difira substancialmente, do 7 e 8 anos, at porque os contedos programticos
alargando-se no 9 ano a textos mais elaboradamente literrios (Os Lusadas, por
exemplo), o que se afigura surpreendente uma vez que os alunos so de idades e
contextos diferentes que mereciam ter exigncias adequadas.
Assim, as pginas 13 a 18 do Programa referido apresentam quadros com
propostas de estratgias a implementarem na sala de aula. Concretamente para os trs
anos de escolaridade, pretende-se que os alunos saibam captar a informao geral de um
documento, distingam factos e opinies, recolham ideias principais e secundrias,
expressem a intencionalidade comunicativa e, finalmente, adquiram a adequao
comunicativa, ou seja: processos formativos e persuasivos bem como recursos verbais e
no verbais. Para que os alunos possam atingir os objectivos mencionados
anteriormente, o professor deve seleccionar registos audiovisuais de programas
radiofnicos ou televisivos, publicidade, filmes e peas de teatro, entrevistas e
depoimentos. Pretende-se desta forma exercitar a compreenso e apreciao crtica de
discursos orais variados, mais propriamente, reter informaes, cumprir instrues,
responder a perguntas, reproduzir excertos, traduzir uma mensagem oral noutro modo
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de expresso (gestual, pictrico), referir e criticar sentidos implicados e finalmente
distinguir factos de opinies. Os alunos devem ser capazes de recolher, reproduzir ou
recriar produes do patrimnio literrio oral: provrbios, quadras populares, contos
tradicionais e lendas. Finalmente, os alunos devem confrontar variaes lingusticas
sociais ou regionais com formas padronizadas da lngua, isto , reflectir oportunamente
sobre variaes ou inadequaes lingusticas de ocorrncia frequente. (idem:16)
A acrescentar a todos estes requisitos, no 9 ano os alunos devem saber captar
caractersticas especficas de diferentes tipos de mensagens, sejam elas recreativas,
informativas, culturais ou desportivas.
O levantamento dos objectivos traados nos programas para cada ano de
escolaridade suscita-nos alguns comentrios. certo que deve ser o professor a recolher
os materiais a serem apresentados aos alunos, em funo do perfil da turma e da
caracterizao sociocultural dos seus elementos, para que estes possam atingir os
objectivos pretendidos e expressos no programa. Contudo, nada h no programa que
refira uma fonte a que o professor possa recorrer para adquirir os documentos que
poder utilizar em sala de aula. Neste sentido, por onde que o professor, sobretudo se
em fase inicial de carreira, se pode orientar nessa escolha de materiais?
O ensino do Portugus para estrangeiros parece estar, de facto, mais escorado
nos materiais a trabalhar, disponibilizando no site http://www.linguateca.pt/didactico.html
um conjunto de documentos orais, para que, fora de Portugal, se tenha acesso facilitado
a esses materiais que facilitem a aprendizagem e a docncia. Para o ensino do Portugus
lngua materna, talvez se pense que o falante nativo j um falante apetrechado, quando
o surpreendemos nesta etapa do seu percurso escolar. No entanto, a reflexo sobre a
lngua menos explcita e menos frequente, porque poder parecer desnecessrio
sistematizar e questionar o que parece bvio.
Da experincia enquanto estagiria na Escola Doutor Manuel Gomes de
Almeida, pude verificar que, logo no incio do ano lectivo, o Departamento de
Portugus rene com o objectivo de decidir quais os contedos a trabalhar durante todo
o ano. No houve, em momento algum, qualquer orientao sobre os materiais a
trabalhar com as turmas para atingir estes objectivos da componente de compreenso do
oral. Desta forma, o professor, isolada e autonomamente, que deve procurar,
seleccionar e aplicar os materiais que assim entender, para poder dar cumprimento
http://www.linguateca.pt/didactico.html
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aos objectivos pretendidos pelo programa. Perante esta forma solitria de os
professores recolherem os materiais, com agrado que se regista a recente unidade
curricular denominada Produo de Materiais Didcticos em Portugus no Mestrado em
Ensino do Portugus no 3 Ciclo do Ensino Bsico e Secundrio e Lngua Estrangeira
no Ensino Bsico e Secundrio na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
No entanto, os professores em geral no dispem de materiais especificamente
adequados a este ponto do Programa, disponibilizados em manuais, livros, sites ou
outros espaos. Tal facto contrasta com material disponibilizado para a aprendizagem
do Portugus lngua no materna, onde vrios links possibilitam, como se disse acima, o
acesso a telejornais em directo, programas culturais, etc., no mbito de um servio
pblico de televiso (RTP- Falamos Portugus) que visa dinamizar o ensino do
Portugus distncia, apoiando as necessidades dos luso-descendentes, das
comunidades de lngua portuguesa e o nmero crescente de estudantes estrangeiros.
Fixando os objectivos visados pelo Programa de portugus para o 9 ano de
escolaridade referidos anteriormente, e tendo em conta o contacto que tomei ao longo
do meu ano de profissionalizao em exerccio, em que leccionei numa turma de 9 ano,
analisei o manual adoptado pela escola (Com Todas as Letras, de Fernanda Costa e
Olga Magalhes) e que foi utilizado durante todo o ano lectivo, de forma a observar as
possveis sugestes a apresentadas no livro do professor.
O manual Com todas as letras, de Fernanda Costa e Olga Magalhes, adoptado
pela escola, constitudo, na verso do professor, pelo prprio livro que apresenta
algumas sugestes de trabalho para os diferentes contedos apresentados, um caderno
de exerccios, um CD-ROM ao qual os alunos tambm tm acesso ao adquirirem a
verso do aluno, um anexo de imagens e um jogo de lngua portuguesa. medida que
se vai folheando o manual, verifica-se que existem vrios textos orais e registados em
suporte udio apresentados no CD-ROM, que se tornam assim em documentos que
facilmente podem ser utilizados para testar ou treinar a compreenso oral. Contudo, ao
observar mais pormenorizadamente a barra lateral de apoio ao docente que acompanha
cada pgina do livro do professor (nica diferena relativa ao livro do aluno), verifica-se
que esta apresenta sugestes de respostas aos questionrios propostos para cada texto
recolhido no manual. Mas nenhuma dessas sugestes contempla estratgias para treino
de compreenso que pressuponham a utilizao dos textos convertidos em udio.
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Curiosamente, em cada um dos textos que foram escolhidos pelas autoras para serem
convertidos em formato de udio, aparece um cone, que neste caso um CD-ROM, de
forma a indicar que esse determinado texto est gravado. No entanto, nas sugestes de
explorao de texto no aparece indicao para efectuar a audio, mas sim sempre, e
apenas, referncias leitura: A partir da leitura deste excerto, define usurrio e usura2
Assim, o CD-ROM que acompanha o manual aparece como alternativa leitura
dos textos e no como instrumento para prtica da compreenso oral, visto no estarem
previstos exerccios para tal ponto do Programa.
Conclui-se, desta forma, que, embora o Programa de portugus incentive os
exerccios que possam testar e desenvolver a compreenso oral, este manual em nenhum
momento conduz a operacionalizao da aula no sentido da compreenso oral, surgindo
assim o CD-ROM como acessrio que as prprias autoras descuram.
Voltando novamente ao Programa de portugus para o ensino bsico, mais
propriamente aos contedos nucleares, verifica-se que, no tempo atribudo pelo
programa comunicao oral, um tero dedicado compreenso de enunciados orais.
Veja-se os seguintes grficos, que apresentam a operacionalizao da aula, extrados do
Programa em causa:
2 COSTA & MAGALHES (2004), Com Todas as Letras, Porto, Porto Editora pg. 123.
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Atentando no ltimo grfico, retirado do Programa de Lngua Portuguesa para o
3 ciclo do ensino bsico, pgina 56, relativo gesto global do tempo de aula, verifica-
se que um quarto desse tempo, segundo o Programa, deve ser dedicado comunicao
oral, remetendo-nos de imediato para o primeiro grfico onde podemos observar que,
tambm aqui, um quarto desse tempo deve ser dedicado compreenso de enunciados
orais. Desta forma, podemos verificar que, no Programa, dado um peso bastante
significativo questo da compreenso do oral.
1.1.2 Programa de Lngua Portuguesa para o Ensino Secundrio
O Programa de portugus para o Ensino Secundrio dos cursos cientifico-
humansticos e cursos profissionais (2000) faz referncia compreenso oral no
captulo dedicado s finalidades da disciplina de portugus, ou seja, faz parte desta
disciplina assegurar o desenvolvimento das competncias de compreenso e expresso
em lngua materna(idem: 6)
Tambm no captulo das competncias a trabalhar na disciplina de portugus se
verifica no Programa uma referncia compreenso oral, considerando-se esta como
necessria para a formao dos alunos luz da sua vivncia de uma cidadania plena,
tema transversal a todo o Programa. Sem dvida o exerccio da cidadania passa muito
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pelo oral, sendo sem dvida a capacidade de compreenso e de expresso oral o maior
instrumento de poder que um professor pode colocar ao alcance do aluno3.
Os processos de operacionalizao das competncias visados no Programa
pretendem que os alunos, no final do Secundrio, sejam capazes de atingir os seguintes
objectivos que transcrevo:
1. Apreender sentidos explcitos;
2. Inferir sentidos implcitos;
3. Distinguir factos de opinies;
4. Distinguir o essencial do acessrio;
5. Reconhecer formas de argumentao, persuaso e manipulao;
6. Identificar argumentos e contra-argumentos;
7. Reconhecer actos de fala directos e indirectos;
8. Avaliar o significado do sentido figurado;
9. Reconhecer ambiguidades, ironias, falcias;
10. Avaliar a relao do enunciador com o enunciado (objectividade/
subjectividade, apreciao/ depreciao, certeza/ probabilidade,
veracidade/ verosimilhana);
11. Reflectir sobre a regulao do uso da palavra;
12. Utilizar diversas estratgias de escuta e de leitura (global, selectiva)
para captao e reteno de informao;
13. Aplicar tcnica de tomada de notas;
14. Elaborar apontamentos por resumos, palavras-chave, esquemas e mapas
semnticos.
No que respeita viso global da competncia de compreenso do oral para o
10, 11 e 12 anos de escolaridade, e como forma de atingir os objectivos acima
apresentados, verifica-se que o Programa prope que as actividades de
escuta/visionamento sejam feitas em trs etapas, sendo elas, pr-escuta/visionamento,
referindo-se antecipao do assunto do documento, escuta/visionamento, ou seja a
descodificao dos sentidos do texto e ps-escuta/visionamento, que diz respeito
organizao de informao e aplicao dos conhecimentos adquiridos (Ministrio da
Educao,2001: 33). Mais uma vez, refiro a unidade curricular Produo de Materiais
3 Confrontar ponto 3.1 do presente trabalho.
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Didcticos em Portugus bem como a de Didctica do Portugus, ministradas na
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que esclarecem os professores em incio
de formao sobre a forma como estas trs etapas podem ser aplicadas em sala de aula.
Ao longo do estgio que efectuei, pude verificar, tambm ao nvel do Secundrio, que o
professor tem de agir autonomamente, no que toca s tarefas de compreenso do oral.
Cabe ao professor procurar materiais a usar em sala de aula, sem que em nenhum
momento no Programa seja dada qualquer fonte onde os professores poderiam contactar
com os materiais a utilizar em sala de aula. O que me parece uma falha dos dois
Programas analisados, uma vez que seria importante que sugerissem uma fonte onde os
professores, sobretudo aqueles que se encontram em incio de carreira, pudessem ter
contacto com alguns materiais.
Relativamente s estratgias de escuta propostas no Programa para o Ensino
Secundrio pgina 33, para o 10 ano de escolaridade, pretende-se que os alunos sejam
confrontados com vrias modalidades de escuta: uma escuta global onde tm de
procurar o significado integral da mensagem, localizando dos momentos em que se
situam as mudanas de orientao de sentido; uma escuta selectiva, pela qual os alunos
tm de procurar uma determinada informao precisa; finalmente, uma escuta
pormenorizada onde pedido aos alunos a reteno da totalidade do texto, palavra a
palavra.
Todas estas formas de escuta apelam para o registo de notas por parte dos
alunos, partindo de enunciados orais e escritos, observao de factos, experincias e
pensamentos. O que no meu ponto de vista parece essencial, uma vez que os alunos,
estando numa actividade de tomada de notas esto simultaneamente a reflectir sobre a
informao essencial do documento que esto a ouvir/ver, seleccionando as
informaes. Assim os alunos apresentam uma atitude activa e no passiva no momento
da visualizao o que os ajudar a reter a informao necessria e a melhor
compreender o documento. No que toca aos documentos, o programa prope a
utilizao de entrevistas (radiofnicas e televisivas) bem como crnicas radiofnicas
que serviro para os alunos trabalharem a compreenso dos documentos referidos. de
salientar que o programa refere a extrema importncia dos documentos utilizados
estarem enquadrados nas temticas propostas para a prtica das competncias
essenciais. Contudo, surge novamente a questo: Onde que o professor poder ter
-
24
contacto com esses materiais? A meu ver, o programa deveria apresentar um repositrio
de materiais com qualidade, que os professores pudessem utilizar em aula.
Atentando no 11 ano de escolaridade, o Programa aspira a que os alunos
compreendam a situao comunicativa (o estatuto e a relao entre os interlocutores no
contexto de comunicao); percebam a intencionalidade comunicativa; assimilem a
relao entre o locutor e o enunciado; entendam as formas adequadas situao e
intencionalidade comunicativas; reconheam os elementos lingusticos e no
lingusticos da comunicao oral. O Programa refere que os alunos devem ser
confrontados com textos publicitrios, analisando os diferentes tipos de publicidades, o
anncio publicitrio em si, tendo em conta os elementos constitutivos e as estratgias de
argumentao apresentadas. Devem ainda ser promovidos debates em que tenham de
identificar os objectivos, o tema, a estrutura, as frmulas de abertura, encadeamento e
fecho, as diferentes funes das personagens intervenientes, entenda-se moderador,
secretrios, participantes e observadores, a regulao do uso da palavra, as normas
reguladoras (princpios de cooperao e cortesia), os argumentos e contra-argumentos e,
ainda, os cdigos lingusticos utilizados. Finalmente, devem ser utilizados ainda
trazidos para o contexto da aula discursos polticos, analisando a estrutura e as
estratgias de argumentao, persuaso e manipulao. Todas estas estratgias visam
que os alunos produzam textos de apreciao crtica, participem activamente em
debates, construam textos publicitrios e, finalmente, elaborarem exposies sobre os
documentos visualizados. Perante estas estratgias e objectivos apresentados no
Programa verifica-se que a prtica de exerccios de compreenso facilitam o
desempenham do aluno em outras competncias como por exemplo a escrita, a
compreenso textual, etc. Com o exerccio de compreenso oral os alunos conseguem
perceber mais facilmente as diferentes tipologias textuais, tornando-se mais crticos e
mais activos nas actividades de sala de aula.
Quanto ao 12 ano de escolaridade, o Programa apresenta ipsis-verbis as
actividades e objectivos pretendidos para o 11 ano. O que se torna surpreendente
verificar que, embora os alunos vo aumentando os seus conhecimentos e as suas
capacidades intelectuais ao longo dos diferentes anos de escolaridade, os objectivos e as
actividades propostas apresentam-se idnticas para os dois nveis, mudando apenas a
quantidade de actividades propostas.
-
25
Numa perspectiva geral, pede-se que os alunos, no final dos trs, anos sejam
capazes de identificar a inteno comunicativa do interlocutor, saibam escutar e
compreender gneros formais do oral e ainda, saibam escutar criticamente discursos
orais, identificando factos, opinies e enunciados persuasivos. (idem: 16)
Aps explicitar todos os objectivos, meios e estratgias apresentadas pelo
Programa de Portugus para o ensino secundrio, optei por, novamente, fazer uma
anlise do manual de 11 ano, adoptado pela escola Doutor Manuel Gomes de Almeida,
onde estagiei, por ter sido um nvel onde tambm leccionei algumas aulas e que
acompanhei de perto na observao que fiz s aulas do meu orientador. Tentarei
explicitar as propostas a apresentadas para a prtica de compreenso oral. O manual
Entre Margens, de Fernanda Costa e Olga Magalhes, constitudo pelo prprio
manual, neste caso com as sugestes do professor, visto que pretendo verificar as pistas
dadas ao professor para trabalhar esta competncia e um CD que tambm entregue aos
alunos ao adquirirem o seu manual.
Ao longo do manual, verifica-se que foram seleccionados alguns textos que
foram convertidos em formato udio. Tambm semelhana com o manual de nono
ano, os textos convertidos em udio aparecem com um cone que tambm aqui a
imagem de um Cd. Contudo, diferentemente do que se concluiu para o manual do 9
ano, podemos verificar que logo um dos primeiros exerccios propostas pelo manual diz
respeito a uma actividade de compreenso oral. Trata-se de um exerccio onde o aluno
tem de ouvir uma notcia e, posteriormente, completar uma ficha de compreenso do
texto ouvido. No dada qualquer sugesto suplementar ao professor sobre uma
eventual forma de encaminhar esta actividade, mas ao aluno apresentado uma espcie
de guio contemplando trs fases do exerccio, ou seja, visualizao de uma imagem,
associao do ttulo ao texto e, finalmente, audio do texto e resoluo de uma ficha
apresentada, como se pode verificar abaixo, pela reproduo do exerccio do manual
citado:
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Verificam-se ao longo de todo o manual diversas actividades de audio
associadas a exerccios de compreenso, onde so pedidas diferentes nveis de
compreenso em funo do nmero de audies que o aluno faz. Pode verificar-se que,
no que toca ao 11 ano de escolaridade o professor tem o apoio deste manual na prtica
da compreenso oral.
No deixa de ser curioso que os dois manuais aqui analisados pertenam s
mesmas autoras e mesma editora, embora do 11 ano haja uma grande referncia
compreenso do oral, ao passo que no nono ano quase no haja actividades propostas,
mesmo que os programas apelem para essa prtica.
Segundo o programa de Portugus para o secundrio, a oralidade permite ao
aluno afirmar-se perante a sociedade, da a escola ter um papel fundamental em
proporcionar aos alunos uma srie de actividades atravs das quais possam treinar tanto
a expresso como a compreenso do oral. De facto, atravs da compreenso que o
aluno se torna um construtor de sentidos, como tal cabe ao professor criar estratgias
que orientem o aluno na utilizao de diferentes modelos de compreenso. Contudo, o
programa sugere que a abordagem dos documentos orais utilizados em aula seja feita
antes, durante e depois da escuta/visionamento. Sendo que na primeira etapa os alunos
so convidados a formular hipteses, para tentarem antecipar o tema dos documentos e
colocar possveis questes que possam ser colocadas para a compreenso. A terceira
fase visa consolidar os conhecimentos adquiridos anteriormente. Esta consolidao
pode ser feita atravs de exerccios ou por exposies feitas pelos alunos, com o
objectivo de que os alunos reconheam as ideias expressas, estabeleam relaes lgicas
e realizem dedues de inferncias (idem: 31).
Finalmente, importa salientar que, h poucos anos, o Ministrio da Educao
emitiu um decreto-lei publicado em Dirio da Repblica a 4 de Outubro de 2007, que
obriga a avaliao da componente oral, cujo ponto seis do artigo 9 refere: So
obrigatrios momentos formais de avaliao da oralidade ou da dimenso prtica ou
experimental, integrados no processo de ensino-aprendizagem, de acordo com as alneas
seguintes: a) na disciplina de portugus a componente de oralidade tem um peso de 25
por cento no clculo da classificao a atribuir em cada momento formal de avaliao.
Como se v, a avaliao da componente oral, no que diz respeito produo e
-
28
compreenso de enunciados orais, ainda recente, no panorama do ensino do
Portugus.
Neste contexto, com agradada expectativa que se verifica, nos novos
Programas de Portugus a aplicar a partir do ano lectivo de 2011-20124, uma especial
ateno dada compreenso oral. De facto, na apresentao inicial das competncias, a
compreenso oral j no se encontra associada expresso, atravs de uma barra,
apresentando-se cada uma destas componentes de forma singular. A primeira
abordagem a esta competncia verifica-se logo no incio do Programa sendo, desde logo
apresentada no captulo referente aos fundamentos e conceitos-chave do Programa:
Entende-se por compreenso do oral a capacidade para atribuir significado a discursos
orais em diferentes variedades do portugus. Esta competncia envolve a recepo e a
descodificao de mensagens por acesso a conhecimento organizado na memria
(Ministrio da Educao, 2008: 17).
Para o 3 Ciclo, o novo Programa de Portugus inclui agora descritores
especficos de desempenho para atingir esta competncia, o que contrasta com a
exiguidade de propostas apresentadas nos Programas anteriores. Concretamente, de
acordo com o novo Programa, estipula-se que ao alunos:
saibam escutar, visando diferentes finalidades, discursos formais em
diferentes variedades do Portugus, em presena ou difundidos pelos
media, cuja complexidade e durao exijam ateno por perodos
prolongados;
compreendam o essencial da mensagem, quer apreendendo o fio
condutor da interveno e as linhas gerais da argumentao, quer
sintetizando e retendo informao lhes permita intervir
construtivamente;
interpretem criticamente a informao ouvida, analisando as estratgias
e os recursos verbais e no verbais utilizados.
Perante estes critrios apresentados, pareceu-nos particularmente eloquente a
pgina 124 do Programa (ver quadro da pgina seguinte), pela exaustividade e mincia
com que apresenta aos docentes a abordagem desta competncia
4 http://www.oei.es/pdf2/Programas_LPEB.pdf [acedido a 23/09/2011].
http://www.oei.es/pdf2/Programas_LPEB.pdf
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29
Os novos Programas de Portugus, de facto, alertam para a prtica constante de
actividades de treino da compreenso oral de forma a que esta competncia se torne um
meio de aquisio de saberes: No 3. ciclo, pretende-se que os alunos aprofundem o
estudo reflectido dos textos, pelo que devero ser promovidas oportunidades de
aprendizagem que alarguem e consolidem os processos de compreenso, produo e
fruio. Esses textos, de diferente natureza (escritos, falados, visuais) e complexidade,
integram-se no campo da literatura, nos textos do quotidiano e dos mdia, permitindo
ampliar o conhecimento de como os sentidos so construdos e comunicados (idem:
141).
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1.2Programas de Francs
1.2.1 Programa de Francs para o 3 ciclo do Ensino Bsico
O programa de Francs para o 3 ciclo do Ensino Bsico apresenta a sua
primeira abordagem compreenso oral aquando da apresentao dos objectivos gerais
que se pretende que os alunos tenham adquirido no final deste ciclo. Como tal, a
disciplina de Francs dever proporcionar ao aluno formas que o levem a compreender
textos orais e escritos desde que estejam adequadas ao seu desenvolvimento lingustico,
psicolgico e social. Inserido nesta compreenso de textos orais, pretende-se que o
aluno saiba:
1) Identificar o assunto, integrando-o no seu universo de experincias;
2) Identificar os locutores, suas relaes e intenes;
3) Identificar tipos de discurso e sua organizao;
4) Interpretar textos adequados a diferentes situaes de comunicao;
5) Reconhecer no texto os meios lingusticos nos seus aspectos formais;
6) Reconhecer no texto os meios lingusticos nos seus valores semntico e
pragmtico;
7) Reconhecer aspectos particulares do sistema fonolgico francs;
8) Identificar caractersticas prosdicas da lngua francesa;
9) Reconhecer oposies contrastivas;
10) Identificar sequncias fnicas.
Visto tratar-se de uma lngua estrangeira e, por isso, os alunos iniciarem o estudo
desta lngua, o programa prope que todas as competncias de escrita, produo oral e
compreenso, quer seja auditiva ou escrita, sejam harmoniosamente trabalhadas.
Contudo, atentando na compreenso da oralidade, de salientar que o programa impele
para desenvolver a capacidade comunicativa, trabalhando a escuta activa e criando
tarefas que desenvolvam a competncia de compreenso. Segundo o programa: A
ttulo de exemplo de actividades que se inscrevem no mbito da escuta activa, relembra-
se o trabalho decorrente de audio de um programa radiofnico, em francs, com
objectivo () de elaborar tipos de anlise orientadas () (Ministrio da Educao,
2000:19)
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32
Para alm da actividade de preenchimento de questionrios, o programa
trabalhado prope ainda que se faa de forma oral a compreenso dos textos udio,
sendo que a produo oral se apresenta associada compreenso oral, o que no de
estranhar visto tratar-se de uma lngua nova na qual o objectivo formar o aluno para a
comunicao.
Para cada um dos anos pertencentes ao 3 ciclo, no feita qualquer diviso dos
contedos a serem trabalhados. Assim sendo, tambm no so apresentados os
exerccios que devem ser pedidos a cada ano em particular. O que me leva a concluir
que, semelhana do que acontece na compreenso oral em Portugus, tambm em
Francs cabe a cada professor seleccionar de forma solitria os documentos que serviro
de teste e prtica da compreenso oral, uma vez que no programa no so apresentadas
sugestes de documentos a apresentar aos alunos.
Desta forma, de salientar, tal como no caso do portugus, a vantagem da
existncia de uma disciplina intitulada Produo de Materiais Didcticos em Francs
que se apresenta no plano curricular do mestrado em Ensino da Faculdade de Letras e
que fornece alguns instrumentos necessrios para ajudar o professor a criar e seleccionar
os materiais adequados a cada turma.
1.2.2) O Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas
Tendo j feito uma abordagem do Programa de Francs do Ensino Bsico pelo
qual me regi ao longo deste ano de estgio, e sendo o francs uma lngua estrangeira,
no poderia deixar de lado neste momento de anlise o Quadro Europeu Comum de
Referncia para as Lnguas5 (2001). Com efeito, a atribuio dos diferentes nveis
atingidos numa determinada lngua implica que os seus utilizadores tenham atingido
diferentes nveis no que toca s diferentes competncias, sendo tambm realada a
compreenso de enunciados orais e escritos, conforme o nvel proposto.
Para o nvel A1, que o atingvel no 7 ano de escolaridade, que pude
acompanhar de perto ao longo deste ano de estgio, O Quadro Europeu Comum de
referncia para as Lnguas pretende que, a nvel da compreenso oral, os alunos sejam
5http://sitio.dgidc.minedu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/724/Quadro_Europ
eu_total.pdf.
-
33
capazes de reconhecer palavras e expresses simples de uso corrente relativas a si
prprios, s suas famlias e aos contextos em que esto inseridos.
No que refere s actividades de audio, o Quadro Europeu Comum de
referncia na pgina 102 prope: anncios publicitrios, audio dos meios de
comunicao, audio ao vivo como membro de um auditrio e ainda, audio de uma
conversa lateral. Em cada uma destas actividades, pretende-se que o utilizador esteja a
ouvir para compreender o essencial, uma informao especfica, os pormenores ou
ento que subentenda o que est implcito.
Neste sentido, para o nvel A1 pretende-se que o utilizador seja capaz de seguir
um discurso muito pausado e muito cuidadosamente articulado, com pausas longas que
lhe permitam assimilar os significados. (Quadro Europeu Comum de Referncia para
as Lnguas, 2001:103)
Para a compreenso de uma interaco entre falantes nativos, a audio como
membro de um auditrio ou a audio de meios de comunicao udio e de gravaes, o
Quadro Europeu no apresenta quaisquer descritores no que respeita ao que deve ser
compreendido. No entanto, na audio de anncios e de instrues, os utilizadores do
nvel em questo devem ser capazes de entender instrues que lhes sejam dadas de
forma clara e pausada e de seguir orientaes simples e curtas(idem: 105).
1.2.3) O manual de 7 ano de escolaridade utilizado
Aps todas estas propostas e objectivos pretendidos tanto pelo programa de
francs para o ensino bsico como no Quadro Europeu Comum de Referncia para as
Lnguas, parece-me essencial analisar o manual de 7 ano adoptado pela escola, com o
objectivo de verificar de que forma estas propostas, anteriormente apresentadas, so
aplicadas nos manuais e quais as sugestes que so dadas ao professor para a aplicao
destas actividades e posteriormente atingir os objectivos propostos.
O manual Mots Croiss 1 (Costa & Pacheco, 2006) apresenta-se, na verso do
professor, constitudo pelo livro semelhante ao do aluno mas com uma faixa lateral
onde se inserem as sugestes para o professor, o caderno de exerccios, um CD-ROM,
um pequeno livro com testes de avaliao e, por fim, alguns jogos que servem para
abordar algumas das temticas apresentadas.
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34
Sendo que o CD aquele que partida serviria para trabalhar a compreenso de
documentos orais, podemos verificar que ao longo do manual vo sendo propostos
vrios exerccios que nos remetem para este suporte, com o objectivo de trabalhar a
compreenso. A primeira actividade apresentada no manual e associada compreenso
oral, consiste num exerccio de reconhecimento das expresses francesas de entre um
conjunto de vrios idiomas.
Ao longo de todo o manual verifica-se uma srie de actividades com recurso
audio, de forma a trabalhar a compreenso da lngua em questo. Estes exerccios
podem ser de reconhecimento de palavras francesas entre uma srie de outras, como
referi anteriormente, passando pela associao do som imagem, ou ainda, como forma
de reconhecer e apreender os diferentes sons, trabalhando assim a fontica.
Nos exerccios propostos pelo manual, deparamo-nos com actividades de
audio e repetio do ouvido, o assinalar de opes correctas, o preenchimento de
quadros de anlise, o preenchimento de pequenos questionrios, ou ainda o completar a
letra de uma cano medida que vo ouvindo. Estes exerccios vo variando de
objectivo de forma a no enfadar o aluno e vo aumentando o seu grau de dificuldade
com o avanar do conhecimento da lngua.
Assim sendo, no que toca compreenso do oral, este manual apresenta vrias
propostas de trabalho, estando de acordo tanto com o programa de francs como com o
Quadro Europeu Comum de Referncia, o que, a nosso ver, parece essencial na medida
em que os alunos esto pela primeira vez a estabelecer um contacto com a lngua.
de salientar que a audio ajuda o aluno a detectar e apreender os diferentes
sons desta nova lngua e, como tal, os dota dos conhecimentos essenciais para uma
contnua aprendizagem da lngua que se pode prolongar durante vrios anos.
Neste sentido, essencial para os alunos, nesta primeira abordagem da lngua,
terem contacto com audies, quer em CD-ROMS, vdeos, quer mesmo atravs dos
meios de comunicao, na medida em que no podem ter um contacto directo com a
lngua que aprendem diariamente, visto no se tratar da lngua em uso na comunicao
local.
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35
Captulo II - Compreenso oral no contexto da escola
Embora seja uma das competncias mais utilizadas em sala de aula, (e fora dela)
se no mesmo a mais utilizada, a oralidade apresenta-se como um forte desafio para o
aluno, sobretudo porque os clichs, as siglas, as mensagens sms e a crescente falta de
dilogo nas famlias, resultante da subida do tempo de trabalho parental, da ausncia
dos avs na famlia nuclear e o apelo da televiso e da internet retiram criana e ao
adolescente tempo de discurso, que se reflecte, naturalmente, numa maior dificuldade
em construir enunciados orais estruturados e coerentes.
Por todos estes motivos (e muitos outros), a compreenso oral torna-se
simultaneamente uma das competncias mais importantes e mais difceis que deve ser
ensinada ao aluno ao longo do seu percurso escolar.
2.1 A importncia da oralidade na sala de aula
Na esfera do ensino, a oralidade nem sempre teve a importncia que hoje lhe
atribuda. Durante muitos anos foi desvalorizada para centrar a aula mais em torno da
gramtica e da interpretao do texto escrito. A evoluo da sociedade e a necessidade
de resgatar uma competncia que se foi perdendo, a par da constatao da necessidade
de dotar o aluno de uma forma eficaz de agir sobre o seu meio e de exercer a cidadania,
determinaram uma progressiva ateno ao oral na sala de aula de Portugus.
Segundo Chomsky (1959), citado em Cornaire (1998), tous les tre humains
possdent une facult de langage, une connaissance des principes de la grammaire
universelle et, partir des phrases entendues autour de lui, lenfant construit les rgles
de sa langue (1998: 17). A primeira aprendizagem da lngua materna por isso, o
resultado de uma prtica de oralidade, estruturada fundamentalmente em torno do
contexto familiar. No entanto, se essa facilidade de expresso inata ao indivduo, este
acaba, apesar de tudo, por absorver a lngua no estado em que ela se lhe depara, isto ,
repetindo a correco e, em muitos casos, as incorreces. Por isso, o estudo do
Portugus lngua materna, na sua dimenso oral (codificao e descodificao) no deve
ser descurado.
partindo desta premissa que se desenha a necessidade de implementa
estratgias de adestramento do oral no contexto da sala de aula. Assim, a teoria de
Gestalt, citado por Cornaire 1998, apresenta a lngua como um instrumento de
-
36
comunicao no qual o aprendente se deve esforar por obter, primeiramente, a
compreenso do sentido global, salientando a importncia da audio, uma vez que a
escuta uma etapa necessariamente preliminar produo. O aluno em situao de
aprendizagem v-se obrigado a ouvir e tentar compreender o professor ou os materiais
udio utilizados em aula.
A lngua sendo um instrumento de comunicao e torna-se uma forma de
interaco social. Assim, ensinar a comunicar pressupe preparar os aprendentes para
situaes de comunicao, sendo esta a maior forma de poder que o professor pode
colocar nas mos do aluno. O saber comunicar permite ao aluno concretizar mais
rapidamente o que por ele pretendido.
Cada indivduo capaz de processar mentalmente at quinhentas palavras por
minuto, mas s diz em mdia cento e cinquenta palavras. Grice6 apresenta um conjunto
de quatro mximas, que procuram definir o comportamento ideal dos falantes. So elas:
a mxima da qualidade (s se deve dizer o que verdadeiro e no se deve afirmar aquilo
de que no temos a certeza) a mxima da quantidade (no falar de menos nem demais),
a mxima da relevncia (a comunicao deve ser interessante e pertinente), finalmente a
mxima do modo (falar com clareza, ordeira e brevemente). Quando a comunicao
acontece, necessrio que haja cooperao e sintonia entre falante e receptor, estando
ambos sintonizados para o mesmo contexto. Contudo, a comunicao pode falhar
devido a factores de rudo, como, por exemplo, a desateno por parte de um dos
intervenientes, o desconhecimento da lngua ou o estar fora do contexto da
comunicao.
Associada a esta preocupao de Grice, Hymes refere que a competncia
comunicativa no pode ser dissociada das condies sociais dos falantes. Desta forma, a
comunicao um conceito dinmico, entendido como acto social, em que os falantes
se relacionam no mbito complexo das relaes culturais e no apenas na estreita
plataforma das relaes lingusticas. Por conseguinte Hymes introduz tambm o
conceito de adequao, pelo qual designa a capacidade cultural dos falantes para
6 http://www.infopedia.pt/$maximas-conversacionais [consultado a 28/08/2011].
http://www.infopedia.pt/$maximas-conversacionais
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37
compreenderem e produzirem enunciados diferentes, adequados a diferentes e concretas
intenes de comunicao7.
2.2 Descodificao de documentos orais
2.2.1 A escuta activa luz da compreenso oral
Ouvir uma faculdade fundamental ao indivduo. Assim, o desenvolvimento da
escrita apresenta eficcia tanto no trabalho como no relacionamento pessoal, pois reduz
conflitos, aumenta a cooperao e promove a (inter-) compreenso.
Ouvimos para obtermos informaes, para compreendermos mensagens, para
formar ideias prprias e ainda para adquirirmos conhecimentos. Contudo, em qualquer
conversa, o indivduo mdio apenas retm cerca de metade do contedo da mensagem,
H que salientar a diferena entre ouvir e escutar. A audio um processo de
registo das ondas sonoras atingidas pelo tmpano, sobre o qual no temos qualquer
controle. A escuta constitui uma funo em progresso desde o nascimento, um
processo activo que constri significado partindo da mensagem verbal e que, sobretudo,
exige esforo8.
A escuta, por outro lado, uma faculdade que qualquer indivduo pode melhorar
atravs da prtica : Avec le temps et lapprentissage, lenfant construira un
comportement dcoute qui lui est propre et qui intgrera de nombreuse variantes
langagires et individuelles dpendant du milieu dans lequel il vit, de sa culture, etc.
(Cornaire,1998: 108) Quem escuta ouve, mas nem sempre quem ouve escuta. A escuta
pressupe ateno ao tom de voz e linguagem corporal, procurando captar o sentido
da mensagem em todos os nveis em que ela se constri.
Uma boa aptido para a escuta dota o indivduo de uma cada vez maior
capacidade de comunicao, permitindo-lhe ser influente (requisitos essenciais, nos dias
de hoje, para atingir o sucesso no trabalho), tornando-o desta forma mais produtivo.
Ouvir atentamente implica estar totalmente envolvido no processo de comunicao.
7 http://www.voy.com/174528/4/179.html [Consultado a 28/08/2011].
8http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/A
ctiveListening.htm [consultado a10/07/2011].
http://www.voy.com/174528/4/179.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/ActiveListening.htm%20%5bconsultadohttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/ActiveListening.htm%20%5bconsultado
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38
Importa desde logo, no incio da aprendizagem da lngua, incutir em cada um o
hbito de uma escuta activa, de forma a que consiga entender a maior parte, se no
mesmo toda a mensagem de uma comunicao ou documento oral. Segundo Cornaire,
une attitude positive vis--vis de cours axs sur la comprhension passe sans nul doute
par llaboration dune pdagogie active et interactive qui favorise chez lapprenant
lintgration de connaissances nouvelles, facilite lacquisition dautomatismes et cre
des liens entre les aspects cognitif et affectif de lapprentissage de la langue. cet
gard, les technologies nouvelles pourraient devenir des allies en motivant davantage
lapprenant et en faisant de lui un intervenant actif prt prendre en charge son
apprentissage (idem: 27)
A escuta engloba, segundo Carette, quatro tipos de objectivos: couter pour
apprendre (pour analyser, rendre compte, etc), couter pour sinformer (pour connatre
des faits, pour comprendre des vnements, des ides, etc), couter pour se distraire
(pour imaginer, avoir des motions, rire, etc) et couter pour agir (prendre des notes,
jouer, cuisiner, utiliser un appareil, etc). (2001)
A escuta activa uma tcnica de comunicao que exige que o ouvinte
compreenda, interprete e avalie o que ouve. Existem, de facto, trs elementos principais
constituintes da escuta activa: a compreenso, a reteno e a resposta.
Na primeira fase, o ouvinte tem de identificar os sons da fala e sintetizar esses
mesmos sons enquanto palavras. No dia-a-dia, cada indivduo surpreendido por
diversos estmulos auditivos que obrigam a distinguir os que constituem palavras, ret-
las, deixar de lado os que constituem apenas sons abstractos. Tem ainda a tarefa de
discernir as pausas entre as palavras, ou segmentos da fala. Esta tarefa torna-se
significativamente mais difcil quando se est perante uma lngua estrangeira, em que o
ouvinte tem de determinar o contexto e o significado de cada palavra para poder
compreender uma frase. Segundo Karima Ferroukhi, comprendre consiste intgrer
une connaissance nouvelle aux connaissances existantes en sappuyant sur les paroles
ou le texte (2009: 275). Por outro lado, la comprhension est possible grce un
processus dassimilation, il sagit de construire une reprsentation de linformation dans
les termes des connaissances antrieurement acquises (Gaonach, D., 1990). A
compreenso oral obriga, assim, o aluno a recorrer aos conhecimentos que tem j
interiorizados para poder compreender mais um documento que se lhe apresente.
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39
Na segunda fase deste processo, a memria9 torna-se essencial, j que desta
forma que se retm a informao aquando da audio, para posteriormente filtrar a
informao obtida. Contudo, a memria falvel. impossvel ao ouvinte reter toda a
informao de um documento, at porque cada indivduo possui a sua prpria
capacidade mnsica (infelizmente, como se constatar, cada vez mais estiolada), o que o
leva, por vezes, no momento em que ouve um documento, a assimilar erroneamente a
informao. Aquando da interiorizao da informao, esta pode ser retida atravs da
memria a curto prazo ou atravs da memria a longo prazo10
. A memria a curto prazo
apresenta-se associada actividade de compreenso. No caso da lngua estrangeira, esta
mais limitada do que na lngua materna, aumentando o impacto mnemnico na
proporo da competncia lingustica. Ser, pois, a memria a curto prazo que permite
distinguir um ouvinte mais hbil de um ouvinte menos competentes (Cornaire, 1998).
A resposta, terceira fase deste processo, consiste na reaco do ouvinte ao
documento e na interaco com o interlocutor. o momento em que o ouvinte passa de
uma atitude passiva para um papel activo, podendo recolher, ao longo da audio, as
informaes necessrias sobre o documento ouvido, tirando as suas notas. O processo
de verificao ou feedback pretende aferir se a audio deu lugar efectivamente
apreenso de informao.
Para atingir uma boa compreenso, necessrio dispensar um elevado nvel de
ateno. A compreenso de um documento pode falhar por diversas razes. La faim ou
une indisposition, en passant par le manque dintrt pour un sujet, la raction ngative
ou positive au style dun locuteur (). Lintelligence, le niveau dinstruction qui se
manifeste par une connaissance approfondie de la langue, le degr de motivation et la
culture (idem: 77). Assim a compreenso impedida ou dificultada pela quantidade de
informao e extenso do discurso, pela complexidade da mensagem, pela
incompreenso da linguagem corporal, pela utilizao de um cdigo lingustico pouco
adequado ou pela inconstncia por parte do falante. Este pode ter um baixo volume de 9 No cabe, no mbito deste trabalho, uma reflexo alargada e sistematizada sobre o papel da memria na
aprendizagem. Contudo, no nos parece concebvel abordar a questo da descodificao oral, sem
convocar esse factor essencial para a compreenso dos documentos orais em contexto escolar, que me
propus trabalhar neste relatrio.
10http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.mindtools.com/CommSkll/
ActiveListening.htm [consultado a 10/07/2011].
http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT
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40
voz, pode produzir um discurso sem pausas e, ser demasiado rpido estando a
compreenso da mensagem directamente ligada ao dbito do locutor. Quanto maior for
a rapidez do discurso maior ser o distanciamento do ouvinte relativamente
compreenso total da mensagem.
As pausas no discurso so, de facto, facilitadoras de compreenso da mensagem,
na medida em que proporcionam tempo para que o ouvinte possa processar a
informao adquirida at ento e separ-la conforme a sua importncia (ibidem).
O ouvinte no se pode distrair com pequenos acontecimentos que lhe sucedam
ao redor. As barreiras podem ser psicolgicas (emoes, por exemplo) ou fsicas (por
exemplo, o rudo e distraco visual). Diferenas culturais, vocabulrio e mal-
entendidos devidos a pressupostos culturais, que muitas vezes dificultam o processo de
escuta.11
O ouvinte deve prestar ateno linguagem corporal do falante, j que esta
tambm comunica por si mesma. Interpretar a linguagem corporal permite-lhe
compreender mais fcil e acertadamente a mensagem, bem como os sentimentos do seu
interlocutor.
Para melhorar a compreenso, o ouvinte deve manter o contacto visual com o
interlocutor e focar-se atentamente no contedo da mensagem, de forma a no se distrair
com pormenores acessrios. Deve ainda evitar o envolvimento emocional, no fazendo
juzos de valor, e tratar a escuta como uma tarefa desafiadora, fazendo a si mesmo,
permanentemente, perguntas mentais, para retomar o assunto tratado12
. Para pr em
prtica estas estratgias, o ouvinte tem, pois, de adoptar uma atitude activa no momento
da escuta, recolhendo notas e criando esquemas mentais que lhe permitam facilitar a
aquisio da informao transmitida. Se a velocidade de pensamento superior
velocidade do discurso, possvel ao ouvinte, medida que escuta a mensagem, ir
trabalhando estas estratgias.
11
http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/aca
d/strat/ss_listening.html [consultado a 10/07/2011].
12http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/aca
d/strat/ss_listening.html [consultado a 10/07/2011].
http://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.htmlhttp://translate.google.pt/translate?hl=ptPT&langpair=en|pt&u=http://www.d.umn.edu/student/loon/acad/strat/ss_listening.html
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2.2.2 A compreenso oral em lngua materna
A compreenso oral, sendo provavelmente a primeira competncia trabalhada
desde a aula zero, tem por objectivo primeiro dotar o aluno de uma srie de
conhecimentos bsicos de lngua, que adquire atravs da escuta de documentos e que
testa tambm atravs desta actividade. Assim, o aluno ser progressivamente capaz de
recolher informao, hierarquiz-la, tomar notas, o que o ajudar a compreender melhor
a lngua. fundamental nunca esquecer que a comunicao a finalidade essencial de
um aprendente de lngua estrangeira e que portanto, a escuta tem de dar lugar
produo de enunciados, como resposta ao estmulo recebido. (Ferroukhi, 2009).
Na compreenso oral, o aluno naturalmente, o centro do processo de ensino. O
professor tem a obrigao de centrar o seu ensino nele e nos seus processos de
aprendizagem. Partindo desta premissa, ele ter de variar as estratgias de escuta, uma
vez que nem todos ouvem a mesma informao do mesmo modo13
.
Na compreenso em lngua materna, em princpio, o ouvinte no ter grandes
problemas com o lxico, o que lhe permite deter-se com mais propriedade no sentido e
na mensagem do discurso. Contudo, pode suceder que o ouvinte de lngua materna
desconhea o significado de uma ou outra palavra, o que o levar a um ponto de no
compreenso da mensagem, aproximando-se a da incompreenso frequente do ouvinte
de lngua estrangeira (cf Cornaire,1998).
Um ouvinte em lngua materna apresenta-se numa posio privilegiada, j que
se encontra mais vontade com o texto, podendo construir mais facilmente esquemas
mentais do que o ouvinte de lngua estrangeira. Desta forma o ouvinte poder formular
hipteses, tentando antever o seguimento do discurso, partindo do sentido do texto. O
ouvinte em contexto de lngua materna poder, ao longo do discurso, tomar notas dos
pontos importantes ou at mesmo fixar palavras-chave que lhe permitiro interiorizar a
mensagem.
13
DESSARTRE, N.: O ensino da compreenso oral: especificidades, desafios e solues
http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem07/mathaliedessartre.htm [consultado a
11/07/2011].
http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem07/mathaliedessartre.htm
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42
2.2.3 A compreenso oral em lngua estrangeira
Compreender no uma mera actividade de recepo. A compreenso oral das
tarefas simultaneamente mais difceis e indispensveis. Tratando-se de uma lngua
estrangeira, uma actividade que se utiliza na sala de aula como forma de habituar e
treinar o ouvido a sons diferentes dos habitualmente percepcionados, dotando o ouvinte
de um novo cdigo fontico, visto que chaque langue possde un accent, une
intonation et un rythme qui lui sont propres, et la mconnaissance de ces traits
prosodiques entrane des difficults dans la comprhension des messages (idem: 196).
Da a importncia da abordagem da fontica ao longo das aulas de lngua estrangeira, j
que, frequentemente, o desconhecimento desta vertente fontica e fonolgica leva
incompreenso da mensagem oral, pelo facto de os alunos no conseguirem distinguir
sons. Como refere Lhote (1995), citado por Cornaire : on nentend et on ne reconnat
que ce quon a lhabitude dentendre et de reconnatre. Chaque langue possde un
systme de sons, un rythme et une intonation qui lui sont propres et on nglige souvent
de faire le lien entre des difficults dcoute ou dexpression en langue trangre et la
mconnaissance de ces traits (1998: 113).
Assim, ao longo do meu ano de estgio, na turma de 7 ano de Francs optmos
por trabalhar com os alunos as questes fonticas da lngua. Para tal, utilizmos uma
tcnica que consistiu na utilizao de mnemnicas retiradas de vrios manuais
escolares. Trata-se de vrias frases onde esto presentes os mesmos sons e, por isso,
rapidamente ficam no ouvido dos alunos, como, por exemplo: La baleine de la raine
sappelle Madeleine, Un roi sur un toi mange une noix, Le pou caribous mal au
cou, Une poule sur un mur picote du pain dur, le dictionnaire dit la grammaire : je
taime, un Kangourou joux du tambour comme un fou, un corbeau fait de vlo dans
son bateau, un lapin mange un pain sur un sapin, Le chauffeur du docteur est un
conducteur dormeur, Un grand lphant blanc se lave les dents, La curieuse
Huguette porte des lunettes. Atravs da observao directa de aulas, pde verificar-se,
na aula de Francs. uma aquisio progressiva da conscincia fontica. Ao longo do
ano, facilmente os alunos relembravam as frases trabalhadas em aula quando lhes surgia
uma qualquer dvida relacionada com a fontica.
Tratando-se de uma lngua estrangeira, no momento da audio de um
documento o aluno vai deter a sua ateno em certos elementos da mensagem. Contudo,
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43
se bloquear numa palavra, a compreenso ser dificultada e, por vezes, no efectuada.
Desta forma, Vanpatten (1989) citado por Cornaire, recomenda que o aprendente de
uma lngua estrangeira que apresente dificuldades na compreenso se fixe
primordialmente no sentido geral da mensagem, em vez de se concentrar em
pormenores (1998).
Assim, importa desenvolver ao longo das aulas de lngua estrangeira a
competncia de distino e separao clara dos vocbulos, sendo assim o aluno capaz de
delimitar uma palavra ou um grupo de palavras, pois os alunos normalmente apresentam
dificuldades na delimitao destas unidades sintcticas.
Em lngua estrangeira, a tarefa de compreenso , como se tem insistido dificil.
Por isso, Murphy (1987), apresenta quatro estratgias essenciais que serviro ao aluno
interiorizar a mensagem: a reconstituio, a especulao, a anlise e a introspeco. Le
rappel, consiste reformuler, dans ses propres mots, certaines parties dun texte; la
spculation qui fait jouer limagination, lexprience, les connaissances antrieures,
savoir couter entre les lignes et prvoir linformation qui va venir ; lanalyse, consiste
examiner attentivement les ides prsentes dans le texte et essayer daller au-del en
portant un jugement critique et lintrospection qui amne lapprenant faire le point sur
son exprience dcoute (Cornaire,1998: 61). Munido destes conselhos, o aluno, no
momento da audio, consegue acompanhar a mensagem que lhe est a ser transmitida,
sintetiz-la e antecipar alguma informao, se tiver descodificado o contexto da
mensagem. Partindo da minha experincia de docncia e do contacto que tive com
turmas concretas, parece-me que, para o contexto do Portugus actual, estas estratgias
sero eficazes numa turma em que a globalidade dos alunos tenha atingido um
considervel desenvolvimento intelectual, uma razovel formao cultural e um j
razovel domnio lingustico.
Contudo, parecem-me de difcil aplicao para alunos com idades inferiores e
de nvel elementar que detm conhecimentos lingusticos suficientes para tal. Para
alunos de iniciao, a lngua resume-se frequentemente a um conjunto de sons que eles
nem sempre conseguem distinguir, mas que, progressivamente iro compreendendo.
-
44
2.3 Estratgias de dinamizao da prtica da compreenso oral na sala de aula de
lngua materna e lngua estrangeira.
A compreenso oral uma competncia que nem sempre se apresenta
simplificada por diversos factores. Assim sendo, importa incutir no aluno estratgias de
escuta que lhe permitam facilitar a compreenso de um qualquer documento que lhe
seja apresentado. Como refere Cornaire, aujourdhui, on sentend pour dire que les
stratgies dapprentissage sont des dmarches conscientes mises en uvre par
lapprenant pour faciliter lacquisition, lentreposage et la rcupration ou la
reconstruction de linformation (1998: 55)
OMalley et al. (1985), citado por Cornaire apresenta j trs etapas de
aprendizagem: a estratgia metacognitiva, pala qual o aluno faz o ponto da situao
sobre o que acaba de aprender; a estratgia cognitiva, que pressupe que o aluno faa
inferncias, utilizando os conhecimentos j adquiridos e, finalmente, a estratgia scio-
afectiva, que visa j que o aluno, em situao de dilogo, v colocando questes, de
forma a desenvolver a sua compreenso. A estas trs estratgias, Oxford e Crookall
(1989) agregaram mais trs novas categorias de aprendizagem: a estratgia mnemnica,
definida como sendo a tcnica que ajuda o aluno a memorizar uma informao nova, a
estratgia compensadora, que consiste em parafrasear a mensagem apreendida e, por
fim, a estratgia afectiva, que ajuda a vencer a falta de confiana em si mesmo que se
manifesta frequentemente no contacto com a lngua estrangeira (Cornaire,1998). Estas
estratgias de aprendizagem servem ao aluno como forma de colmatar eventuais
dificuldades que lhe possam surgir aquando do contacto com um novo contedo com o
qual o aluno no est ainda familiarizado. Tambm no que se refere actividade de
escuta e compreenso oral, o aluno poder pr em prtica a estratgia que mais se
adaptar s suas capacidades intelectuais, proporcionando formas de aquisio e reteno
de conhecimentos. de notar que o docente deve, ao longo das aulas, dotar os alunos de
formas que lhes permitam ir melhorando a sua compreenso. Com base na minha
experincia de docncia, atravs da prtica da actividade de escuta que os alunos vo
melhorando esta mesma competncia. Atravs das turmas que leccionei, pude verificar
que os alunos adoptam uma atitude passiva no momento da escuta de um documento, o
que, frequentemente, leva distraco e consequente falha de compreenso. Desta
forma, era atravs das sugestes do professor que os alunos partiam para uma atitude
mais activa no momento da escuta, tomando, por exemplo, notas.
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2.3.1 As tarefas pr e ps-escuta
Na compreenso de documentos orais importante que o professor prepare o
aluno para a audio, separando a actividade em trs momentos: a pr-escuta, a escuta e
a ps-escuta. A primeira consiste em preparar o aluno para a audio, proporcionando-
lhe a formulao de hipteses e dando-lhe alguns conhecimentos sobre o tema em
questo. Podem ainda realizar-se actividades de remue-mninges/ brain-storming. Estas
actividades servem como forma de contextualizar o documento posteriormente
apresentado. o momento de, sobretudo em lngua estrangeira, apresentar o
vocabulrio novo ao aluno. Ao longo deste meu ano de estgio, pude aplicar, nas vrias
aulas que leccionei, estas trs fases que levam a uma boa compreenso. Assim, por
exemplo, numa determinada aula em que propus uma actividade de compreenso oral,
pude apresentar aos alunos uma imagem, a partir da qual se formularam hipteses sobre
o possvel assunto do texto e se esclareceu algum vocabulrio fundamental para a
compreenso, antes da audio do documento. Partindo desta experincia, verificou-se
um grau superior de ateno por parte dos alunos, uma vez que com esta actividade o
momento de audio se tornara, para alm de um momento de compreenso, um
momento de confirmao ou refutao das hipteses por eles enunciadas anteriormente.
O segundo momento, a escuta centra-se na compreenso geral do documento,
dando ao aluno uma tarefa a realizar. Desta forma, os alunos devem conseguir
distinguir, na primeira escuta o nmero de pessoas que fazem parte do dilogo, qual o
sexo do interveniente, quem fala com quem e saber responder ao quando, porqu e
como. Os alunos devem tambm conseguir identificar a tipologia do documento: um
monlogo, dilogo a dois ou vrios interlocutores, bem como o encadeamento das
sequncias discursivas.
Ainda neste segundo momento, importante esclarecer o aluno do objectivo da
escuta. Assim, ele deve saber se est a ouvir para entender ou para detectar algo
especfico, para seleccionar indcios, para identificar informaes, para reconhecer uma
personagem, para levantar a ambiguidade do discurso, para reformular o assunto, para
sintetizar, para agir ou para julgar uma atitude de uma personagem (Cornaire,1998).
Finalmente, o terceiro momento, a ps-escuta, implica o reinvestimento do
ouvido numa tarefa real. Posteriormente escuta, o aluno dever ser confrontado com
um teste de compreenso da mensagem ouvida. A resoluo desse teste de compreenso
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46
oral pretende avaliar a capacidade do aluno em recolher do documento a informao
pretendida. Contudo, os exerccios apresentados no teste devem ser variados. Assim
sendo, podem ser apresentados exerccios de resposta aberta, associao de vocabulrio
a imagens, resposta de justificao de temas, questes de escolha mltipla e verdadeiro
ou falso, grelhas para completar, preenchimento de espaos, elaborao de esquemas ou
exerccios de reconstruo de temas, elaborao de resumos ou tomada de notas
enquanto ouve.14
Segundo Rost (1990), citado por Cornaire, para realizar correctamente as tarefas
pedidas aps a audio necessrio que o ouvinte passe por quatro etapas: 1)
lauditeur doit interprter lintrant sonore ainsi que les images afin den construire une
reprsentation mentale, 2) lauditeur doit comprendre les consignes de travail qui
prcisent le type de rponse auquel lvaluateur sattend, 3) lauditeur doit slectionner
linformation utile laccomplissement de la tche et procder ensuite des choix
linguistiques appropris la prsentation ou la linarisation de cette information, 4)
lauditeur doit rpondre (1998: 135). Desta forma, as tarefas propostas para detectar a
compreenso da mensagem pressupem um prvio momento de reflexo e ponderao
sobre a mensagem interiorizada e os exerccios propostos. Salienta-se que estas etapas
apresentadas por Rost tero de ser ensinadas ao aluno, que ter de as tornar prticas
habituais em todas as actividades de compreenso oral. A compreenso uma
actividade que ter progressivamente de ser ensinada pelo professor.
2.3.2 As novas tecnologias ao servio da compreenso oral
Sendo a compreenso oral uma tarefa fundamental para a comunicao, o
professor deve esforar-se por utilizar documentos autnticos, para apresentar ao aluno
situaes reais, tornando-se a compreenso desses documentos um momento de
aquisio de conhecimentos que lhe podero servir para aplicar numa futura situao
lingustica em que possa vir a estar envolvido. No entanto, partindo da minha
experincia deste ano de estgio, pude verificar que a escolha de materiais se torna um
grande entrave para a realizao desta actividade. tarefa do professor,
autonomamente, procurar e adquirir os documentos que podero ser utilizados, o que
dificulta a actividade do docente em incio de carreira.
14
http://www.rfi.fr/lffr/articles/075/article_613.asp [consultado a 10/07/2011].
http://www.rfi.fr/lffr/articles/075/article_613.asp
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47
No sentido de desenvolver a capacidade de compreenso do aluno, necessrio
variar o tipo de discurso utilizado nos documentos, que devem preferencialmente ser
autnticos e inseridos em temas culturais que os alunos conheam. Os documentos
devem ser escolhidos tendo em conta as necessidades comunicativas do aluno. Assim, o
professor pode variar os documentos apresentados, associando tambm a imagem, deste
modo ajudando na motivao do aluno, aumentando a ateno e melhorando a
memorizao da informao. Segundo Rubin (1994) citado em Cornaire (1998 : 130)
de bonnes images peuvent stimuler lattention tout en apportant des informations
utiles, bien adaptes leur objectif. A associao do vdeo com o texto torna-se um
meio facilitador da mensagem, uma vez que, atravs do vdeo, o aluno pode captar
melhores sentimentos auxiliados pelo visionamento de expresses corporais e faciais.
Da a utilizao da imagem como estratgia de pr-escuta, proporcionando ao aluno a
formulao de hipteses que ele ir confirmar ou refutar no momento da escuta. Esta
actividade foi realizada na turma de 7 ano de lngua estrangeira, que apresentou bons
resultados, uma vez que os alunos estiveram mais atentos no momento da escuta.
A televiso constituiu uma das melhores fontes de documentos autnticos e
culturais de acesso mais fcil, de que o docente pode dispor. Nela, o professor encontra
facilmente telejornais, sries, debates, publicidades, entrevistas passveis de serem
utilizadas em sala de aula. O docente poder tambm recorrer rdio, que oferece uma
panplia de documentos autnticos: boletins meteorolgicos, noticirios, publicidades,
dilogos, entrevistas, debates, reportagens, sondagens, jogos, histrias divertidas,
narrativas, etc. Para alm dos documentos radiofnicos, so tambm aconselhveis
documentos audiovisuais: vdeos ou internet. Esta ltima constituiu tambm uma fonte
interminvel de documentos para o ensino de lngua materna ou estrangeira.
Contudo, parece-me pertinente salientar, mais uma vez, a dificuldade que senti
em encontrar documentos autnticos (mesmo recorrendo s novas tecnologias) para
alunos numa fase inicial de aprendizagem da lngua. Mesmo as propostas do manual
revelaram-se, por vezes, inoperantes, por exemplo, na turma de 7 ano de lngua
estrangeira realizei uma actividade que consistia na audio de uma banda desenhada
sobre a qual os alunos deveriam, posteriormente audio, responder a um questionrio
de escolha mltipla. Esta actividade no obteve bons resultados, pois os alunos no
conseguiram compreender a mensagem escutada, tendo apelado leitura da banda
desenhada por parte do professor.
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Captulo III Metodologia de investigao e aplicao de estratgias de trabalho
Neste captulo temos como objectivo apresentar a escola onde realizmos a
Iniciao Prtica Profissional de Portugus e Francs, bem como o seu contexto, as
turmas que nos serviram para recolher materiais e a metodologia de trabalho utilizada.
As informaes apresentadas sobre as diferentes turmas encontram-se
fundamentadas pelos registos efectuados pelos respectivos directores de turma e que se
encontram arquivados na prpria escola.
3.1 A Escola Secundria Doutor Manuel Gomes de Almeida
A cidade de Espinho, pertencente ao distrito de Aveiro, mas includa na Regio
Norte e sub-regio do Grande Porto, pertence ainda rea metropolitana do Porto e
constituda por cerca de 29.481 habitantes, segundo registos de 200815
. Sede de um
pequeno municpio urbano, est subdividida em cinco freguesias. , pois, na freguesia
de Espinho, que foi criada em 1956, pelo Decreto n. 40 725 do Ministrio da Educao
Nacional (Direco - Geral do Ensino Tcnico Profissional) uma escola tcnica