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A Cegueira Espiritual Por Silvio Dutra Nov/2019

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A Cegueira Espiritual

Por

Silvio Dutra

Nov/2019

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A474 Alves, Silvio Dutra A cegueira espiritual Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2019. 53p.; 14,8 x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Fé 4. Juízo. I. Título. CDD 252

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“19 Não te aflijas por causa dos malfeitores, nem

tenhas inveja dos perversos,

20 porque o maligno não terá bom futuro, e a

lâmpada dos perversos se apagará.” (Provérbios

24.19,20)

“7 Descansa no SENHOR e espera nele, não te

irrites por causa do homem que prospera em

seu caminho, por causa do que leva a cabo os

seus maus desígnios.

8 Deixa a ira, abandona o furor; não te

impacientes; certamente, isso acabará mal.

9 Porque os malfeitores serão exterminados,

mas os que esperam no SENHOR possuirão a

terra.

10 Mais um pouco de tempo, e já não existirá o

ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás.

11 Mas os mansos herdarão a terra e se

deleitarão na abundância de paz.

12 Trama o ímpio contra o justo e contra ele

ringe os dentes.

13 Rir-se-á dele o Senhor, pois vê estar-se

aproximando o seu dia.” (Salmo 37.7-13).

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Onde estão agora Hitler, Lênin e outros

ditadores cruéis como eles?

Onde estão os juízes e governantes injustos que

já morreram?

Deus lhes reservou porventura um lugar

exaltado junto a Ele no céu?

As Escrituras dão um bom testemunho relativo

aos ímpios que partiram, e especialmente aos

poderosos que haviam sido opressores e

injustos?

Caso contrário, seria de se esperar de que não

haja o mesmo destino terrível para os ímpios

que vivem no presente?

Algumas almas piedosas se equivocam ao

pensar que há para todos eles uma boa

esperança desde que decidam se arrepender de

suas más obras e se voltarem para a prática da

justiça.

Porém, a grande verdade revelada nas

Escrituras é que Deus comprova a Sua

excelência quando ao deixar alguém entregue a

si mesmo, o quanto esta pessoa será vil por mais

sábia e poderosa que ela se considere.

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É um grande engano pensar que o homem fez a

escolha do paganismo em vez de Deus. Esta é a

inclinação natural do pecador. Se Jesus não se

revelar ao homem ele permanecerá nas trevas.

Não é o homem que escolhe a Jesus, mas Jesus

que o escolhe.

Como viveram as pessoas por séculos seguidos

até que Cristo viesse ao mundo? Com exceção

de Israel, todas as demais nações e povos foram

deixados por Deus entregues ao mais grosseiro

paganismo, comprovando que o homem não

pode, por si mesmo, encontrar a Deus e viver do

modo que lhe seja agradável, pois para isto seria

necessário nascer de novo do Espírito Santo,

recebendo uma nova natureza celestial e

espiritual que é quem permite ao homem

conhecer as coisas divinas e a própria pessoa de

Deus.

Desse modo, se Deus não se mover em direção

ao pecador, ele permanecerá morto

espiritualmente, mergulhado nas trevas do

pecado e sujeito ao domínio de Satanás.

Somente Jesus é o suficiente e eficaz Redentor,

Salvador e Libertador do homem dessa

condição terrível na qual toda e qualquer pessoa

se encontra vivendo apenas em seu estado

natural.

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Não é para se admirar portanto que aqueles que

se rebelam contra Jesus Cristo e Sua doutrina, o

odeiem tanto, assim como a afirmação desta

verdade relativa ao estado natural da criatura,

uma vez que não pretendendo se converter

dessa condição, procuram justificar sua posição

atacando aqueles que afirmam que se trata de

uma condição que está sujeita ao juízo de Deus.

O que se conclui disso, senão que como se vê no

Provérbio e no Salmo da abertura, não se

encontra no domínio do ímpio que é réprobo, ao

qual Deus rejeitou na eleição, a possibilidade de

alterar a sua condição perdida diante do justo,

santo e amoroso Senhor, pela

incompatibilidade completa da Sua natureza

celestial, espiritual e divina, com a humana

natural, terrena e decaída no pecado?

É a isto que o apóstolo Paulo se refere no texto de

Romanos 9, ao contrastar a posição de eleitos e

não eleitos:

“1 Digo a verdade em Cristo, não minto,

testemunhando comigo, no Espírito Santo, a

minha própria consciência:

2 tenho grande tristeza e incessante dor no

coração;

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3 porque eu mesmo desejaria ser anátema,

separado de Cristo, por amor de meus irmãos,

meus compatriotas, segundo a carne.

4 São israelitas. Pertence-lhes a adoção e

também a glória, as alianças, a legislação, o

culto e as promessas;

5 deles são os patriarcas, e também deles

descende o Cristo, segundo a carne, o qual é

sobre todos, Deus bendito para todo o sempre.

Amém!

6 E não pensemos que a palavra de Deus haja

falhado, porque nem todos os de Israel são, de

fato, israelitas;

7 nem por serem descendentes de Abraão são

todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada

a tua descendência.

8 Isto é, estes filhos de Deus não são

propriamente os da carne, mas devem ser

considerados como descendência os filhos da

promessa.

9 Porque a palavra da promessa é esta: Por esse

tempo, virei, e Sara terá um filho.

10 E não ela somente, mas também Rebeca, ao

conceber de um só, Isaque, nosso pai.

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11 E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem

tinham praticado o bem ou o mal (para que o

propósito de Deus, quanto à eleição,

prevalecesse, não por obras, mas por aquele que

chama),

12 já fora dito a ela: O mais velho será servo do

mais moço.

13 Como está escrito: Amei Jacó, porém me

aborreci de Esaú.

14 Que diremos, pois? Há injustiça da parte de

Deus? De modo nenhum!

15 Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de

quem me aprouver ter misericórdia e

compadecer-me-ei de quem me aprouver ter

compaixão.

16 Assim, pois, não depende de quem quer ou de

quem corre, mas de usar Deus a sua

misericórdia.

17 Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto

mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu

poder e para que o meu nome seja anunciado

por toda a terra.

18 Logo, tem ele misericórdia de quem quer e

também endurece a quem lhe apraz.

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19 Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele

ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?

20 Quem és tu, ó homem, para discutires com

Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a

quem o fez: Por que me fizeste assim?

21 Ou não tem o oleiro direito sobre a massa,

para do mesmo barro fazer um vaso para honra

e outro, para desonra?

22 Que diremos, pois, se Deus, querendo

mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder,

suportou com muita longanimidade os vasos de

ira, preparados para a perdição,

23 a fim de que também desse a conhecer as

riquezas da sua glória em vasos de misericórdia,

que para glória preparou de antemão,

24 os quais somos nós, a quem também chamou,

não só dentre os judeus, mas também dentre os

gentios?

25 Assim como também diz em Oseias:

Chamarei povo meu ao que não era meu povo; e

amada, à que não era amada;

26 e no lugar em que se lhes disse: Vós não sois

meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do

Deus vivo.

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27 Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías:

Ainda que o número dos filhos de Israel seja

como a areia do mar, o remanescente é que será

salvo.

28 Porque o Senhor cumprirá a sua palavra

sobre a terra, cabalmente e em breve;

29 como Isaías já disse: Se o Senhor dos

Exércitos não nos tivesse deixado descendência,

ter-nos-íamos tornado como Sodoma e

semelhantes a Gomorra.

30 Que diremos, pois? Que os gentios, que não

buscavam a justificação, vieram a alcançá-la,

todavia, a que decorre da fé;

31 e Israel, que buscava a lei de justiça, não

chegou a atingir essa lei.

32 Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim

como que das obras. Tropeçaram na pedra de

tropeço,

33 como está escrito: Eis que ponho em Sião uma

pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele

que nela crê não será confundido.”

Observe pelo que se diz no versos 18 a 20 quanto

à comum desculpa do ímpio para a sua

impiedade, não se sustentará em juízo diante do

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Senhor, porque não foi Ele o autor do pecado

humano, e a ninguém tenta ou conduz a pecar,

de modo que seria justo caso condenasse toda a

humanidade ao inferno, mas Ele decidiu

manifestar a Sua graça e misericórdia a alguns,

não por qualquer bondade ou mérito que

deslumbrasse neles, mas porque revela e

manifesta todo o Seu amor e bondade para com

eles, enquanto aos que não recebem graça

salvadora, e permanecem rebeldes contra Ele,

sujeita à ira eterna.

Todo o universo, inclusive os anjos eleitos

aprendem com isto quão dura coisa é ser

destituído da graça divina, pois é somente por

causa dela que podemos nos apresentar de pé e

inculpáveis diante do Senhor.

No entanto, este mundo é um campo de batalha,

e um conflito incessante sempre existirá entre o

mal e o bem, entre os que são de Deus e os que

são do diabo, pois isto está determinado no

conselho eterno da Trindade de que o mundo

será resgatado das trevas e do domínio de

Satanás em que se encontra, através deste

combate da fé contra a incredulidade.

O mal deve ser denunciado e combatido pelo

bem, não com o mal, mas com a prática do bem

e sujeitando-se a Deus e resistindo ao diabo.

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Nós podemos ver este conflito na queixa do

salmista no Salmo 94 dirigida aos ímpios:

“1 Ó SENHOR, Deus das vinganças, ó Deus das

vinganças, resplandece.

2 Exalta-te, ó juiz da terra; dá o pago aos

soberbos.

3 Até quando, SENHOR, os perversos, até

quando exultarão os perversos?

4 Proferem impiedades e falam coisas duras;

vangloriam-se os que praticam a iniquidade.

5 Esmagam o teu povo, SENHOR, e oprimem a

tua herança.

6 Matam a viúva e o estrangeiro e aos órfãos

assassinam.

7 E dizem: O SENHOR não o vê; nem disso faz

caso o Deus de Jacó.

8 Atendei, ó estúpidos dentre o povo; e vós,

insensatos, quando sereis prudentes?

9 O que fez o ouvido, acaso, não ouvirá? E o que

formou os olhos será que não enxerga?

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10 Porventura, quem repreende as nações não

há de punir? Aquele que aos homens dá

conhecimento não tem sabedoria?

11 O SENHOR conhece os pensamentos do

homem, que são pensamentos vãos.

12 Bem-aventurado o homem, SENHOR, a quem

tu repreendes, a quem ensinas a tua lei,

13 para lhe dares descanso dos dias maus, até

que se abra a cova para o ímpio.

14 Pois o SENHOR não há de rejeitar o seu povo,

nem desamparar a sua herança.

15 Mas o juízo se converterá em justiça, e segui-

la-ão todos os de coração reto.

16 Quem se levantará a meu favor, contra os

perversos? Quem estará comigo contra os que

praticam a iniquidade?

17 Se não fora o auxílio do SENHOR, já a minha

alma estaria na região do silêncio.

18 Quando eu digo: resvala-me o pé, a tua

benignidade, SENHOR, me sustém.

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19 Nos muitos cuidados que dentro de mim se

multiplicam, as tuas consolações me alegram a

alma.

20 Pode, acaso, associar-se contigo o trono da

iniquidade, o qual forja o mal, tendo uma lei por

pretexto?

21 Ajuntam-se contra a vida do justo e

condenam o sangue inocente.

22 Mas o SENHOR é o meu baluarte e o meu

Deus, o rochedo em que me abrigo.

23 Sobre eles faz recair a sua iniquidade e pela

malícia deles próprios os destruirá; o SENHOR,

nosso Deus, os exterminará.”

Mesmo o réprobo é responsável perante Deus e

os homens por todas as suas ações. Todos

deverão prestar contas dos seus atos e até

mesmo de palavras ociosas no grande dia do

Juízo Final.

Esta é a principal razão de todos os justos serem

chamados por Cristo a não julgarem ninguém,

porque este juízo definitivo será passado pelo

próprio Deus quanto ao caráter e as obras de

cada um. Afinal, qual seria o proveito de

maldizer o ímpio? Ele já não se encontra

condenado em si mesmo por suas más obras? O

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juiz de toda a Terra não o veria e julgaria com

justiça?

Muitas más intenções e muitos pecados podem

ser encobertos aos olhos de muitos, mas

nenhum aos olhos de Deus.

Muito do que se conhece das injustiças que são

praticadas no mundo e que vêm ao

conhecimento geral, não passa apenas da ponta

de um gigantesco iceberg que se encontra

oculto nas profundezas do inferno. Seria vão

portanto, o nosso esforço de tentar extirpar o

mal do coração dos ímpios, pela intensificação

da pregação do evangelho. Eles apenas acharão

nisto ocasião para aumentar a zombaria, a

ridicularização e a perseguição, de modo que

somos ordenados a não lançar coisas santas a

cães e pérolas a porcos.

Deus conhece os que são Seus e os alcançará

sem a falta de qualquer um deles. Ele os achará

e resgatará conforme Jesus no ensina na

Parábola da Ovelha Perdida. Ele decidirá por

qual instrumentalidade o fará, de modo que até

mesmo isto não se encontra na esfera do nosso

próprio poder.

O Espírito Santo é quem dirige e realiza o

trabalho da conversão de pecadores, conforme

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podemos verificar nas palavras que nosso

Senhor dirigiu a Nicodemos:

“1 Havia, entre os fariseus, um homem

chamado Nicodemos, um dos principais dos

judeus.

2 Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse:

Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de

Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais

que tu fazes, se Deus não estiver com ele.

3 A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em

verdade te digo que, se alguém não nascer de

novo, não pode ver o reino de Deus.

4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um

homem nascer, sendo velho? Pode, porventura,

voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?

5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te

digo: quem não nascer da água e do Espírito não

pode entrar no reino de Deus.

6 O que é nascido da carne é carne; e o que é

nascido do Espírito é espírito.

7 Não te admires de eu te dizer: importa-vos

nascer de novo.

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8 O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas

não sabes donde vem, nem para onde vai; assim

é todo o que é nascido do Espírito.” (João 3.1-8).

Já a Moisés o Senhor havia declarado ser justo,

longânimo, bondoso, misericordioso,

perdoador, etc, mas que Ele usa de misericórdia

com quem quer e de igual modo deixa de usá-la

em relação a quem não quiser.

“5 Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali

esteve junto dele e proclamou o nome do

SENHOR.

6 E, passando o SENHOR por diante dele,

clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo,

clemente e longânimo e grande em

misericórdia e fidelidade;

7 que guarda a misericórdia em mil gerações,

que perdoa a iniquidade, a transgressão e o

pecado, ainda que não inocenta o culpado, e

visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos

dos filhos, até à terceira e quarta geração!”

(Êxodo 34.5-7).

Ora, o que se entende disto senão o que Jesus

disse a Nicodemos, em relação ao Espírito

Santo, na obra de salvação? Ninguém sabe sobre

quem ele virá para nele habitar. Ele agirá de

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acordo com a misericórdia eletiva de Deus e não

segundo a vontade do próprio homem.

Deus é Criador e Senhor Soberano, de modo que

não está sujeito a dar contas de Seus atos a quem

quer que seja.

Não é sem motivo que todos são chamados a se

humilharem diante dEle, reverenciá-Lo e adorá-

Lo, pois é inteiramente digno disso, enquanto

somos indignos em nossa própria condição

decaída.

Esta é a razão pela qual o arrogante, o orgulhoso

e o ímpio jamais prevalecerão com Ele no juízo.

Antes resiste a estes e dá graça aos humildes,

pois são os únicos que se mostram verdadeiros

quanto à sua real condição perante a Majestade

do céu que é inteiramente justo e santo.

Aqui caberia uma palavra aos que são

meramente ativistas políticos e que gastam

nisto toda a sua energia buscando criar um

mundo mais justo, porque correm o grande

risco de se esquecerem da justiça de Cristo

enquanto lutam para fazer prevalecer a que é

unicamente do homem.

A humanidade está desesperadamente

inclinada à cegueira e à ilusão, como estão

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viciadas nas trevas. Deus de vez em quando, por

suas instruções e poder, levanta algumas

nações dessas trevas grosseiras. Mas então,

como eles afundam nelas novamente, assim

que sua mão é retirada!

Essa é a lamentável tendência da mente do

homem desde a queda, apesar de seus nobres

poderes e faculdades; que é a de afundar em

uma espécie de brutalidade quanto às coisas

espirituais, e afundar cada vez mais na

escuridão.

A cegueira extrema e brutal que possui o

coração dos homens naturalmente aparece em

sua confiança em grandes erros e

ilusões. Multidões vivem e morrem nas noções

e princípios mais tolos e absurdos, e nunca

parecem duvidar de que estão certos. É

impressionante observar como

especialmente os que exercem atividades

intelectuais, quando lhes falta o conhecimento

de Deus, consideram-se elevados acima dos

demais homens e até mesmo sobre o próprio

Jesus. Eles se perdem em loquacidade frívola

para sustentarem seus argumentos que

consideram como fruto da grande iluminação

de suas mentes, e consideram como coisas

ultrapassadas e medievais todas as assertivas da

Palavra de Deus, que eles sequer podem

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entender, e assim falam daquilo que somente

pode ser discernido pela fé e pela iluminação do

Espírito Santo, estando desprovidos de ambos.

Quando chegam a crer em algo na religião é em

meras superstições e mandamentos carnais e

de homens, agravando ainda mais a condição

deles diante de Deus, pois com isto rejeitam a

graça que é oferecida e ordenada no evangelho.

A Europa é uma parte do mundo mais famosa

por artes e ciências do que qualquer outra. E

essas coisas foram levadas a uma altura muito

maior nesta era do que em muitas outras. No

entanto, muitos homens instruídos da Europa

hoje em dia, que se destacam muito nas artes e

na literatura humana, ainda estão sob a

escuridão, e abandonando de lado o legado que

lhes foi deixado pelos Reformistas, encontram-

se sob grosseiro ateísmo, falando inclusive em

serem parte do mundo pós-cristão.

Como eles amaram mais o mundo do que a

Deus, e mais a mentira do que a verdade, Deus

lhes tem enviado a operação do erro e os tem

deixado entregues a si mesmos, de modo que se

apresentam como fortes candidatos para serem

o berço que acolherá o Anticristo.

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“1 Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso

Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele,

nós vos exortamos

2 a que não vos demovais da vossa mente, com

facilidade, nem vos perturbeis, quer por

espírito, quer por palavra, quer por epístola,

como se procedesse de nós, supondo tenha

chegado o Dia do Senhor.

3 Ninguém, de nenhum modo, vos engane,

porque isto não acontecerá sem que primeiro

venha a apostasia e seja revelado o homem da

iniquidade, o filho da perdição,

4 o qual se opõe e se levanta contra tudo que se

chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de

assentar-se no santuário de Deus, ostentando-

se como se fosse o próprio Deus.

5 Não vos recordais de que, ainda convosco, eu

costumava dizer-vos estas coisas?

6 E, agora, sabeis o que o detém, para que ele

seja revelado somente em ocasião própria.

7 Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e

aguarda somente que seja afastado aquele que

agora o detém;

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8 então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem

o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca

e o destruirá pela manifestação de sua vinda.

9 Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a

eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e

prodígios da mentira,

10 e com todo engano de injustiça aos que

perecem, porque não acolheram o amor da

verdade para serem salvos.

11 É por este motivo, pois, que Deus lhes manda

a operação do erro, para darem crédito à

mentira,

12 a fim de serem julgados todos quantos não

deram crédito à verdade; antes, pelo contrário,

deleitaram-se com a injustiça.” (II

Tessalonicenses 2.1-12).

Se Deus deixa os homens entregues a si

mesmos, nenhuma luz surge e eles

permanecem mais endurecidos em sua

segurança carnal. Mas a escuridão se torna mais

e mais espessa.

Como sucede agora, neste mesmo dia, entre

todas as nações onde a luz do evangelho não tem

sido derramada, ou que em sendo, tem sido

rejeitada por aqueles que temem vir para a luz?

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Os homens são muito propensos a serem

enganados sobre seu próprio estado, a se

pensarem ser algo quando não são nada e a se

suporem “ricos e aumentados em bens, e a não

precisarem de nada, quando são infelizes,

miseráveis, pobres, cegos e nus.” Eles são

grandemente enganados sobre os princípios

pelos quais agem. Eles pensam que são sinceros

naquilo em que não há sinceridade e não raro há

muita malícia. E que eles fazem essas coisas por

amor a Deus, o que fazem apenas por amor a si

mesmos. Eles chamam mero conhecimento

especulativo ou natural, o conhecimento

espiritual; e colocam consciência no lugar da

graça; um servil, por um temor infantil; e afetos

comuns, que são apenas de princípios naturais e

não têm efeito permanente para grandes

descobertas e atos eminentes da graça. Sim, é

comum os homens chamarem suas disposições

cruéis pelo nome de alguma virtude. Eles

chamam sua raiva e malícia, zelo por uma causa

justa ou zelo pelo bem público. E a cobiça deles,

de frugalidade. Os incautos podem ser

enganados por eles, tanto quanto enganam a si

mesmos, mas os que temem e servem a Deus

discernirão seus reais propósitos pecaminosos

e malignos.

Eles são amplamente enganados sobre sua

própria justiça. Eles acham que seus afetos e

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performances são adoráveis a Deus, naquilo que

de fato são odiosos para ele. Eles acham que suas

lágrimas, reformas e orações são suficientes

para fazer expiação por seus pecados; quando,

de fato, se todos os anjos no céu se oferecerem

em sacrifício a Deus, não seria suficiente expiar

um de seus pecados. Eles acham que suas

orações, obras e ações religiosas são um preço

suficiente para comprar o favor de Deus e a

glória eterna. Quando, ao executá-las, nada

fazem além de merecer o inferno.

Eles são grandemente enganados sobre

sua força. Eles acham que são capazes de

consertar seus próprios corações e trabalhar

alguns bons princípios em si mesmos. Quando

eles não podem fazer mais por isso, do que um

cadáver morto faz para se elevar à vida. Eles vão

se bajulando, são capazes de vir a Cristo quando

não o desejam. Eles estão muito enganados com

a estabilidade de seus próprios corações. Eles

tolamente pensam que suas próprias intenções

e resoluções sobre o bem que farão no futuro,

dependerão. Quando, de fato, não existe

nenhuma dependência deles. Eles estão muito

enganados sobre suas oportunidades. Eles

pensam que a longa continuidade de sua

oportunidade deve ser dependente e que

amanhã ela deve se apresentar. Quando, de fato,

há a maior incerteza disso. Eles se lisonjeiam de

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que terão uma melhor oportunidade de buscar

a salvação no futuro, do que têm agora. Quando

não há probabilidade disso, mas uma

improbabilidade muito grande.

Eles são grandemente enganados sobre suas

próprias ações e práticas. Suas próprias falhas

são estranhamente escondidas de seus

olhos. Eles vivem de maneira muito diferente

daquela em que vivem autênticos cristãos, mas

ainda assim parecem não ter nenhuma

consciência disso. Os maus caminhos deles, que

são muito claros para os outros, são escondidos

deles. Sim, naquelas mesmas coisas que eles

próprias consideram grandes falhas nos outros,

elas se justificarão. Embora sejam zelosos em

tirar o argueiro do olho do irmão, eles não

sabem que uma trave está nos seus próprios

olhos.

Eles são grandemente enganados sobre si

mesmos, quando se comparam aos outros. Eles

se consideram melhores que seus próximos,

que são realmente muito melhores que

eles. Eles são grandemente enganados sobre si

mesmos, quando se comparam a Deus. Eles são

muito insensíveis à diferença que existe entre

Deus e eles e agem em muitas coisas como se

pensassem que ele fosse igual a eles.

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Existem muitas práticas cruéis, cuja ilegalidade

é muito clara, os pecados são graves e contrários

não apenas à Palavra de Deus, mas à luz da

natureza. E, no entanto, os homens

frequentemente alegam que não há mal em tais

pecados. Tais como, muitos atos de imundície

grosseira; e muitos atos de fraude, injustiça e

engano; e muitos outros que podem ser

mencionados, especialmente entre os

poderosos.

Os séculos seguidos da história da humanidade

comprovam que de fato é somente a revelação

divina, da qual a igreja de Deus está possuída,

estando no mundo "como uma luz que brilha em

um lugar escuro". (2 Pedro 1:19), o único remédio

que Deus providenciou para a miserável

cegueira da humanidade, sem o qual este

mundo caído teria afundado para sempre em

barbárie brutal sem nenhum remédio. É o único

meio que o verdadeiro Deus obteve êxito em sua

providência, para dar às nações do mundo o

conhecimento de si mesmo; e tirá-los da

adoração de deuses falsos.

Quão grande é a misericórdia para a

humanidade, que Deus tenha enviado seu

próprio Filho ao mundo, para ser a luz do

mundo. E é um exemplo maravilhoso

de misericórdia divina que Deus nos viu tanto

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em nosso estado inferior, a ponto de fornecer

um remédio tão glorioso. Ele não enviou

um anjo criado para nos instruir, mas

seu próprio Filho, que está no seio do Pai, e da

mesma natureza e essência com ele. E, portanto,

infinitamente melhor familiarizado com ele, e

mais do que suficiente para ensinar um mundo

cego. Ele o enviou para ser a luz do mundo, como

ele diz de si mesmo: “Eu vim como luz para o

mundo, a fim de que todo aquele que crê em

mim não permaneça nas trevas.” (João 12:46).

Cristo que veio nos iluminar é a verdade e a

própria luz, e a fonte de toda luz. “Ele é luz, e nele

não há trevas.” (1 João 1: 5)

O fato de os homens naturais não sentirem sua

cegueira e a miséria espiritual que estão

sofrendo não significa que por isso não são

infelizes; pois isto os mantém sob uma maldição

eterna, porque por esta cegueira não poderão

chegar ao arrependimento. Então é necessária a

luz de Jesus para que vejam seu estado

arruinado e a Ele como sua única esperança de

salvação.

É muito próprio à natureza dessa calamidade de

ser cego estar escondida de si mesma ou

daqueles que estão sob ela, como foi o caso dos

fariseus aos quais Jesus se dirigiu dizendo que

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permaneciam em seus pecados, uma vez que

afirmavam não serem cegos, apesar de serem,

porque não há quem não esteja em trevas, caso

não esteja em Jesus. Os tolos não são sensíveis à

sua loucura. Salomão diz: “O tolo é mais sábio

em sua própria presunção do que sete homens

que podem apresentar uma razão.” (Prov 26:16).

Assim como Jesus passou uma sentença judicial

sobre aqueles fariseus que afirmavam não

serem cegos, de igual modo Ele faz com todos

aqueles que seguem nos mesmos passos deles.

Ele os abandona à cegueira de suas próprias

mentes. As Escrituras nos ensinam que existem

alguns desses. “Que diremos, pois? O que Israel

busca, isso não conseguiu; mas a eleição o

alcançou; e os mais foram endurecidos, como

está escrito: Deus lhes deu espírito de

entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos

para não ouvir, até ao dia de hoje.”(Rom 11: 7,8).

“Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até

ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga

aliança, o mesmo véu permanece, não lhes

sendo revelado que, em Cristo, é removido.” (2

Cor 3:14). “Então, disse ele: Vai e dize a este povo:

Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não

percebais. Torna insensível o coração deste

povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os

olhos, para que não venha ele a ver com os

olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com

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o coração, e se converta, e seja salvo.” (Isaías 6:

9,10).

Esse julgamento, quando infligido, é

comumente pelo desprezo e abuso da luz que foi

oferecida, pela prática de pecados presunçosos,

e por ser obstinado no pecado, e resistir ao

Espírito Santo, e muitos chamados e conselhos

graciosos, advertências e repreensões.

Quem são as pessoas em particular, que são,

portanto, entregues judicialmente por Deus à

cegueira de suas mentes, não é conhecido pelos

homens. Mas não temos motivos para supor que

não haja multidões deles, e principalmente nos

lugares de maior luz. Não há nenhuma razão

para supor que esse julgamento, mencionado

nas Escrituras, seja em grande

medida peculiar aos velhos tempos. Como havia

muitos que caíram sob ele nos tempos dos

profetas da antiguidade, e de Cristo e seus

apóstolos. Então, sem dúvida, agora existem

também. E embora as pessoas não sejam

conhecidas, ainda assim, sem dúvida, pode

haver mais motivos para temer isso em relação

a alguns do que a outros. Todos os que estão sob

o poder da cegueira de suas próprias mentes são

miseráveis. Mas os que são entregues a essa

cegueira são especialmente infelizes. Pois eles

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são reservados e selados para a escuridão das

trevas para sempre.

A consideração do que foi dito sobre a cegueira

desesperada que possui o coração de todos nós

naturalmente pode ser aterrorizante para

aqueles que ainda estão em uma condição sem

Cristo, neste lugar de luz, onde o evangelho tem

sido desfrutado por tanto tempo, e onde Deus no

passado derramou tão maravilhosamente seu

Espírito.

E que tais pessoas, para seu despertar,

considerem as seguintes coisas:

Primeiro, que eles são cegados pelo deus deste

mundo. A cegueira deles é do inferno. Esta

escuridão sob a qual os homens naturais estão,

é do príncipe das trevas. Isso o apóstolo diz

expressamente sobre aqueles que permanecem

na incredulidade e cegueira sob o

evangelho. “Mas, se o nosso evangelho ainda

está encoberto, é para os que se perdem que está

encoberto, nos quais o deus deste século cegou

o entendimento dos incrédulos, para que lhes

não resplandeça a luz do evangelho da glória de

Cristo, o qual é a imagem de Deus.” (2 Cor 4: 3, 4)

Eles pertencem ao reino das trevas. Na

escuridão que reina em suas almas, o diabo

reina. E ele mantém seu domínio lá.

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Segundo, considere como Deus, em sua palavra,

manifesta sua aversão e ira contra aqueles que

permanecem tão cegos e ignorantes, no meio da

luz. Como Deus fala deles! “Acaso, não

entendem todos os obreiros da iniquidade, que

devoram o meu povo, como quem come pão,

que não invocam o SENHOR?” (Salmo 14: 4).

“Durante quarenta anos, estive desgostado com

essa geração e disse: é povo de coração

transviado, não conhece os meus caminhos. Por

isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu

descanso.” (Salmo 95:10, 11). “O boi conhece o

seu possuidor, e o jumento, o dono da sua

manjedoura; mas Israel não tem conhecimento,

o meu povo não entende. Ai desta nação

pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça

de malignos, filhos corruptores; abandonaram o

SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel,

voltaram para trás.” (Isaías 1: 3, 4) “Porque a

cidade fortificada está solitária, habitação

desamparada e abandonada como um deserto;

ali pastam os bezerros, deitam-se e devoram os

seus ramos. Quando os seus ramos se secam,

são quebrados. Então, vêm as mulheres e lhes

deitam fogo, porque este povo não é povo de

entendimento; por isso, aquele que o fez não se

compadecerá dele, e aquele que o formou não

lhe perdoará.” (Isaías 27:10, 11). “Deveras, o meu

povo está louco, já não me conhece; são filhos

néscios e não inteligentes; são sábios para o mal

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e não sabem fazer o bem. ”(Jeremias 4:22).

“Anunciai isto na casa de Jacó e fazei-o ouvir em

Judá, dizendo: Ouvi agora isto, ó povo insensato

e sem entendimento, que tendes olhos e não

vedes, tendes ouvidos e não ouvis. Não temereis

a mim? – diz o SENHOR; não tremereis diante de

mim, que pus a areia para limite do mar, limite

perpétuo, que ele não traspassará? Ainda que se

levantem as suas ondas, não prevalecerão; ainda

que bramem, não o traspassarão.” (Jer. 5:20-22).

Em terceiro lugar, consideremos

quanta obstinação há na sua ignorância. Os

pecadores estão prontos a se desculpar

totalmente em sua cegueira; enquanto, como já

foi observado, a cegueira que naturalmente

possui o coração dos homens não é uma coisa

meramente negativa. Mas eles são cegados pela

"fraude do pecado". (Hb 3:13). Há uma

perversidade em sua cegueira. Não há uma

mera ausência de luz, mas uma oposição

maligna à luz. Como Deus diz, "eles não sabem,

nem entendem, andam nas trevas". (Salmo 82:

5). Cristo observa: "Todo aquele que pratica o

mal, odeia a luz, nem vem para a luz". E que “esta

é a condenação deles, que a luz veio ao mundo,

mas os homens amaram mais as trevas do que a

luz.” (João 3:19, 20).

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Por tudo o que foi dito podemos concluir que um

conhecimento adequado das Escrituras pode

nos tornar sábios para a salvação, mas não

efetuar a salvação propriamente dita por si

mesmo, pois é necessário ir Àquele do qual as

Escrituras testificam ser o único pelo que pode

nos salvar por estarmos unidos espiritualmente

a Ele, por meio da fé.

“14 Tu, porém, permanece naquilo que

aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de

quem o aprendeste

15 e que, desde a infância, sabes as sagradas

letras, que podem tornar-te sábio para a

salvação pela fé em Cristo Jesus.

16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil

para o ensino, para a repreensão, para a

correção, para a educação na justiça,

17 a fim de que o homem de Deus seja perfeito e

perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (II

Timóteo 3.14-17).

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Apêndice:

O Evangelho que nos Leva a Obter a Salvação

Estamos inserindo esta nota em forma de

apêndice em nossas últimas publicações, uma

vez que temos sido impelidos a explicar em

termos simples e diretos o que seja de fato o

evangelho, na forma em que nos é apresentado

nas Escrituras, já que há muita pregação e

ensino de caráter legalista que não é de modo

algum o evangelho de nosso Senhor Jesus

Cristo.

Há também uma grande ignorância relativa ao

que seja a aliança da graça por meio da qual

somos salvos, e que consiste no coração do

evangelho, e então a descrevemos em termos

bem simples, de forma que possa ser

adequadamente entendida.

Há somente um evangelho pelo qual podemos

ser verdadeiramente salvos. Ele se encontra

revelado na Bíblia, e especialmente nas páginas

do Novo Testamento. Mas, por interpretações

incorretas é possível até mesmo transformá-lo

em um meio de perdição e não de salvação,

conforme tem ocorrido especialmente em

nossos dias, em que as verdades fundamentais

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do evangelho de Jesus Cristo têm sido

adulteradas ou omitidas.

Tudo isto nos levou a tomar a iniciativa de

apresentar a seguir, de forma resumida, em que

consiste de fato o evangelho da nossa salvação.

Em primeiro lugar, antes de tudo, é preciso

entender que somos salvos exclusivamente

com base na aliança de graça que foi feita entre

Deus Pai e Deus Filho, antes mesmo da criação

do mundo, para que nas diversas gerações de

pessoas que seriam trazidas por eles à existência

sobre a Terra, houvesse um chamado invisível,

sobrenatural, espiritual, para serem perdoadas

de seus pecados, justificadas, regeneradas

(novo nascimento espiritual), santificadas e

glorificadas. E o autor destas operações

transformadoras seria o Espírito Santo, a

terceira pessoa da trindade divina.

Estes que seriam chamados à conversão, o

seriam pelo meio de atração que seria feita por

Deus Pai, trazendo-os a Deus Filho, de modo que

pela simples fé em Jesus Cristo, pudessem

receber a graça necessária que os redimiria e os

transportaria das trevas para a luz, do poder de

Satanás para o de Deus, e que lhes transformaria

em filhos amados e aceitos por Deus.

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Como estes que foram redimidos se

encontravam debaixo de uma sentença de

maldição e condenação eternas, em razão de

terem transgredido a lei de Deus, com os seus

pecados, para que fossem redimidos seria

necessário que houvesse uma quitação da dívida

deles para com a justiça divina, cuja sentença

sobre eles era a de morte física e espiritual

eternas.

Havia a necessidade de um sacrifício, de alguém

idôneo que pudesse se colocar no lugar do

homem, trazendo sobre si os seus pecados e

culpa, e morrendo com o derramamento do Seu

sangue, porque a lei determina que não pode

haver expiação sem que haja um sacrifício

sangrento substitutivo.

Importava também que este Substituto de

pecadores, assumisse a responsabilidade de

cobrir tudo o que fosse necessário em relação à

dívida de pecados deles, não apenas a anterior à

sua conversão, como a que seria contraída

também no presente e no futuro, durante a sua

jornada terrena.

Este Substituto deveria ser perfeito, sem

pecado, eterno, infinito, porque a ofensa do

pecador é eterna e infinita. Então deveria ser

alguém divino para realizar tal obra.

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Jesus, sendo Deus, se apresentou na aliança da

graça feita com o Pai, para ser este Salvador,

Fiador, Garantia, Sacrifício, Sacerdote, para

realizar a obra de redenção.

O homem é fraco, dado a se desviar, mas a sua

chamada é para uma santificação e perfeição

eternas. Como poderia responder por si mesmo

para garantir a eternidade da segurança da

salvação?

Havia necessidade que Jesus assumisse ao lado

da natureza divina que sempre possuiu, a

natureza humana, e para tanto ele foi gerado

pelo Espírito Santo no ventre de Maria.

Ele deveria ter um corpo para ser oferecido em

sacrifício. O sangue da nossa redenção deveria

ser o de alguém que fosse humano, mas

também divino, de modo que se pode até

mesmo dizer que fomos redimidos pelo sangue

do próprio Deus.

Este é o fundamento da nossa salvação. A morte

de Jesus em nosso lugar, de modo a nos abrir o

caminho para a vida eterna e o céu.

Para que nunca nos esquecêssemos desta

grande e importante verdade do evangelho de

que Jesus se tornou da parte de Deus para nós, o

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nosso tudo, e que sem Ele nada somos ou

podemos fazer para agradar a Deus, Jesus fixou

a Ceia que deve ser regularmente observada

pelos crentes, para que se lembrem de que o Seu

corpo foi rasgado, assim como o pão que

partimos na Ceia, e o Seu sangue foi derramado

em profusão, conforme representado pelo

vinho, para que tenhamos vida eterna por meio

de nos alimentarmos dEle. Por isso somos

ordenados a comer o pão, que representa o

corpo de Jesus, que é verdadeiro alimento para

o nosso espírito, e a beber o sangue de Jesus, que

é verdadeira bebida para nos refrigerar e

manter a Sua vida em nós.

Quando Ele disse que é o caminho e a verdade e

a vida. Que a porta que conduz à vida eterna é

estreita, e que o caminho é apertado. Tudo isto

se aplica ao fato de que não há outra verdade,

outro caminho, outra vida, senão a que existe

somente por meio da fé nEle. A porta é estreita

porque não admite uma entrada para vários

caminhos e atalhos, que sendo diferentes dEle,

conduzem à perdição. É estreito e apertado para

que nunca nos desviemos dEle, o autor e

consumador da nossa salvação.

Então o plano de salvação, na aliança de graça

que foi feita, nada exige do homem, além da fé,

pois tudo o que tiver que ser feito nele para ser

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transformado e firmado na graça, será realizado

pelo autor da sua salvação, a saber, Jesus Cristo.

Tanto é assim, que para que tenhamos a plena

convicção desta verdade, mesmo depois de

sermos justificados, regenerados e santificados,

percebemos, enquanto neste mundo, que há em

nós resquícios do pecado, que são o resultado do

que se chama de pecado residente, que ainda

subsiste no velho homem, que apesar de ter sido

crucificado juntamente com Cristo, ainda

permanece em condições de operar em nós, ao

lado da nova natureza espiritual e santa que

recebemos na conversão.

Qual é a razão disso, senão a de que o Senhor

pretende nos ensinar a enxergar que a nossa

salvação é inteiramente por graça e mediante a

fé? Que é Ele somente que nos garante a vida

eterna e o céu. Se não fosse assim, não

poderíamos ser salvos e recebidos por Deus

porque sabemos que ainda que salvos, o pecado

ainda opera em nossas vidas de diversas formas.

Isto pode ser visto claramente em várias

passagens bíblicas e especialmente no texto de

Romanos 7.

À luz desta verdade, percebemos que mesmo as

enfermidades que atuam em nossos corpos

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físicos, e outras em nossa alma, são o resultado

da imperfeição em que ainda nos encontramos

aqui embaixo, pois Deus poderia dar saúde

perfeita a todos os crentes, sem qualquer

doença, até o dia da morte deles, mas Ele não o

faz para que aprendamos que a nossa salvação

está inteiramente colocada sobre a

responsabilidade de Jesus, que é aquele que

responde por nós perante Ele, para nos manter

seguros na plena garantia da salvação que

obtivemos mediante a fé, conforme o próprio

Deus havia determinado justificar-nos somente

por fé, do mesmo modo como fizera com Abraão

e com muitos outros mesmo nos dias do Velho

Testamento.

Nenhum crente deve portanto julgar-se sem fé

porque não consegue vencer determinadas

fraquezas ou pecados, porque enquanto se

esforça para ser curado deles, e ainda que não o

consiga neste mundo, não perderá a sua

condição de filho amado de Deus, que pode usar

tudo isto em forma de repreensão e disciplina,

mas que jamais deixará ou abandonará a

qualquer que tenha recebido por filho, por

causa da aliança que fez com Jesus e na qual se

interpôs com um juramento que jamais a

anularia por causa de nossas imperfeições e

transgressões.

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Um crente verdadeiro odeia o pecado e ama a

Jesus, mas sempre lamentará que não o ame

tanto quanto deveria, e por não ter o mesmo

caráter e virtudes que há em Cristo. Mas de uma

coisa ele pode ter certeza: não foi por mérito,

virtude ou boas obras que lhes foram exigidos a

apresentar a Deus que ele foi salvo, mas

simplesmente por meio do arrependimento e

da fé nAquele que tudo fez e tem feito que é

necessário para a segurança eterna da sua

salvação.

É possível que alguém leia tudo o que foi dito

nestes sete últimos parágrafos e não tenha

percebido a grande verdade central relativa ao

evangelho, que está sendo comentada neles, e

que foi citada de forma resumida no primeiro

deles, a saber:

“Então o plano de salvação, na aliança de graça

que foi feita, nada exige do homem, além da fé,

pois tudo o que tiver que ser feito nele para ser

transformado e firmado na graça, será realizado

pelo autor da sua salvação, a saber, Jesus Cristo.”

Nós temos na Palavra de Deus a confirmação

desta verdade, que tudo é de fato devido à graça

de Jesus, na nossa salvação, e que esta graça é

suficiente para nos garantir uma salvação

eterna, em razão do pacto feito entre Deus Pai e

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Deus Filho, que nos escolheram para esta

salvação segura e eterna, antes mesmo da

fundação do mundo, no qual Jesus e Sua obra

são a causa dessa segurança eterna, pois é nEle

que somos aceitos por Deus, nos termos da

aliança firmada, em que o Pai e o Filho são os

agentes da aliança, e os crentes apenas os

beneficiários.

O pacto foi feito unilateralmente pelo Pai e o

Filho, sem a consulta da vontade dos

beneficiários, uma vez que eles nem sequer

ainda existiam, e quando aderem agora pela fé

aos termos da aliança, eles são convocados a

fazê-lo voluntariamente e para o principal

propósito de serem salvos para serem

santificados e glorificados, sendo instruídos

pelo evangelho que tudo o que era necessário

para a sua salvação foi perfeitamente

consumado pelo Fiador deles, nosso Senhor

Jesus Cristo.

Então, preste atenção neste ponto muito

importante, de que tanto é assim, que não é pelo

fato de os crentes continuarem sujeitos ao

pecado, mesmo depois de convertidos, que eles

correm o risco de perderem a salvação deles,

uma vez que a aliança não foi feita diretamente

com eles, e consistindo na obediência perfeita

deles a toda a vontade de Deus, mas foi feita com

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Jesus Cristo, para não somente expiar a culpa

deles, como para garantir o aperfeiçoamento

deles na santidade e na justiça, ainda que isto

venha a ser somente completado integralmente

no por vir, quando adentrarem a glória celestial.

A salvação é por graça porque alguém pagou

inteiramente o preço devido para que fôssemos

salvos – nosso Senhor Jesus Cristo.

E para que soubéssemos disso, Jesus não nos foi

dado somente como Sacrifício e Sacerdote, mas

também como Profeta e Rei.

Ele não somente é quem nos anuncia o

evangelho pelo poder do Espírito Santo, e quem

tudo revelou acerca dele nas páginas da Bíblia,

para que não errássemos o alvo por causa da

incredulidade, que sendo o oposto da fé, é a

única coisa que pode nos afastar da

possibilidade da salvação.

Em sua obra como Rei, Jesus governa os nossos

corações, e nos submete à Sua vontade de forma

voluntária e amorosa, capacitando-nos, pelo

Seu próprio poder, a viver de modo agradável a

Deus.

Agora, nada disso é possível sem que haja

arrependimento. Ainda que não seja ele a causa

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da nossa salvação, pois, como temos visto esta

causa é o amor, a misericórdia e a graça de Deus,

manifestados em Jesus em nosso favor, todavia,

o arrependimento é necessário, porque toda

esta salvação é para uma vida santa, uma vida

que lute contra o pecado, e que busque se

revestir do caráter e virtudes de Jesus.

Então, não há salvação pela fé onde o coração

permanece apegado ao pecado, e sem

manifestar qualquer desejo de viver de modo

santo para a glória de Deus.

Desde que haja arrependimento não há

qualquer impossibilidade para que Deus nos

salve, nem mesmo os grosseiros pecados da

geração atual, que corre desenfreadamente à

busca de prazeres terrenos, e completamente

avessa aos valores eternos e celestiais.

Ainda que possa parecer um paradoxo, haveria

até mais facilidade para Deus salvar a estes que

vivem na iniquidade porque a vida deles no

pecado é flagrante, e pouco se importam em

demonstrar por um viver hipócrita, que são

pessoas justas e puras, pois não estão

interessados em demonstrar a justiça própria

do fariseu da parábola de Jesus, para que através

de sua falsa religiosidade, e autoengano,

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pudessem alcançar algum favor da parte de

Deus.

Assim, quando algum deles recebe a revelação

da luz que há em Jesus, e das grandes trevas que

dominam seu coração, o trabalho de

convencimento do Espírito Santo é facilitado, e

eles lamentam por seus pecados e fogem para

Jesus para obterem a luz da salvação. E ele os

receberá, e a nenhum deles lançará fora,

conforme a Sua promessa, porque o ajuste feito

para a sua salvação exige somente o

arrependimento e a fé, para a recepção da graça

que os salvará.

Deus mesmo é quem provê todos os meios

necessários para que permaneçamos firmes na

graça que nos salvou, de maneira que jamais

venhamos a nos separar dele definitivamente.

Ele nos fez coparticipantes da Sua natureza

divina, no novo nascimento operado pelo

Espírito Santo, de modo que uma vez que uma

natureza é atingida, ela jamais pode ser desfeita.

Nós viveremos pela nova criatura, ainda que a

velha venha a se dissolver totalmente, assim

como está ordenado que tudo o que herdamos

de Adão e com o pecado deverá passar, pois tudo

é feito novo em Jesus, em quem temos recebido

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este nosso novo ser que se inclina em amor para

Deus e para todas as coisas de Deus.

Ainda que haja o pecado residente no crente, ele

se encontra destronado, pois quem reina agora

é a graça de Jesus em seu coração, e não mais o

pecado. Ainda que algum pecado o vença isto

será temporariamente, do mesmo modo que

uma doença que se instala no corpo é expulsa

dele pelas defesas naturais ou por algum

medicamento potente. O sangue de Jesus é o

remédio pelo qual somos sarados de todas as

nossas enfermidades. E ainda que alguma delas

prevaleça neste mundo ela será totalmente

extinta quando partirmos para a glória, onde

tudo será perfeito.

Temos este penhor da perfeição futura da

salvação dado a nós pela habitação do Espírito

Santo, que testifica juntamente com o nosso

espírito que somos agora filhos de Deus, não

apenas por ato declarativo desta condição, mas

de fato e de verdade pelo novo nascimento

espiritual que nos foi dado por meio da nossa fé

em Jesus.

Toda esta vida que temos agora é obtida por

meio da fé no Filho de Deus que nos amou e se

entregou por nós, para que vivamos por meio da

Sua própria vida. Ele é o criador e o sustentador

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de toda a criação, inclusive desta nova criação

que está realizando desde o princípio, por meio

da geração de novas criaturas espirituais para

Deus por meio da fé nEle.

Ele pode fazê-lo porque é espírito vivificante, ou

seja, pode fazer com que nova vida espiritual

seja gerada em quem Ele assim o quiser. Ele sabe

perfeitamente quais são aqueles que atenderão

ao chamado da salvação, e é a estes que Ele se

revela em espírito para que creiam nEle, e assim

sejam salvos.

Bem-aventurados portanto são:

Os humildes de espírito que reconhecem que

nada possuem em si mesmos para agradarem a

Deus.

Os mansos que se submetem à vontade de Deus

e que se dispõem a cumprir os Seus

mandamentos.

Os que choram por causa de seus pecados e todo

o pecado que há no mundo, que é uma rebelião

contra o Criador.

Os misericordiosos, porque dão por si mesmos o

testemunho de que todos necessitam da

misericórdia de Deus para serem perdoados.

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Os pacificadores, e não propriamente pacifistas

que costumam anular a verdade em prol da paz

mundial, mas os que anunciam pela palavra e

suas próprias vidas que há paz de reconciliação

com Deus somente por meio da fé em Jesus.

Os que têm fome e sede de justiça, da justiça do

reino de Deus que não é comida, nem bebida,

mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

Os que são perseguidos por causa do evangelho,

porque sendo odiados sem causa, perseveram

em dar testemunho do Nome e da Palavra de

Jesus Cristo.

Vemos assim que ser salvo pela graça não

significa: de qualquer modo, de maneira

descuidada, sem qualquer valor ou preço

envolvido na salvação. Jesus pagou um preço

altíssimo e de valor inestimável para que

pudéssemos ser redimidos. Os termos da

aliança por meio da qual somos salvos são todos

bem ordenados e planejados para que a salvação

seja segura e efetiva. Há poderes sobrenaturais,

celestiais, espirituais envolvidos em todo o

processo da salvação.

É de uma preciosidade tão grande este plano e

aliança que eles devem ser eficazes mesmo

quando não há naqueles que são salvos um

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conhecimento adequado de todas estas

verdades, pois está determinado que aquele que

crê no seu coração e confessar com os lábios que

Jesus é o Senhor e Salvador, é tudo quanto que é

necessário para um pecador ser transformado

em santo e recebido como filho adotivo por

Deus.

O crescimento na graça e no conhecimento de

Jesus são necessários para o nosso

aperfeiçoamento espiritual em progresso da

nossa santificação, mas não para a nossa

justificação e regeneração (novo nascimento)

que são instantâneos e recebidos

simultaneamente no dia mesmo em que nos

convertemos a Cristo. Quando fomos a Ele como

nos encontrávamos na ocasião, totalmente

perdidos e mortos em transgressões e pecados.

E fomos recebidos porque a palavra da

promessa da aliança é que todo aquele que crê

será salvo, e nada mais é acrescentado a ela

como condição para a salvação.

É assim porque foi este o ajuste que foi feito

entre o Pai e o Filho na aliança que fizeram entre

si para que fôssemos salvos por graça e

mediante a fé.

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Jesus é pedra de esquina eleita e preciosa, que o

Pai escolheu para ser o autor e o consumador da

nossa salvação. Ele foi eleito para a aliança da

graça, e nós somos eleitos para recebermos os

benefícios desta aliança por meio da fé nAquele

a quem foram feitas as promessas de ter um

povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.

Então quando somos chamados de eleitos na

Bíblia, isto não significa que Deus fez uma

aliança exclusiva e diretamente com cada um

daqueles que creem, uma vez que uma aliança

com Deus para a vida eterna demanda uma

perfeita justiça e perfeita obediência a Ele, sem

qualquer falha, e de nós mesmos, jamais

seríamos competentes para atender a tal

exigência, de modo que a aliança poderia ter

sido feita somente com Jesus.

Somos aceitos pelo Pai porque estamos em

Jesus, e assim é por causa do Filho Unigênito que

somos também recebidos. Jamais poderíamos

fazê-lo diretamente sem ter a Jesus como nossa

Cabeça, nosso Sumo Sacerdote e Sacrifício. Isto

é tipificado claramente na Lei, em que nenhum

ofertante ou oferta seriam aceitos por Deus sem

serem apresentados pelo sacerdote escolhido

por Deus para tal propósito. Nenhum outro

Sumo Sacerdote foi designado pelo Pai para que

pudéssemos receber uma redenção e

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aproximação eternas, senão somente nosso

Senhor Jesus Cristo, aquele que Ele escolheu

para este ofício.

Mas uma vez que nos tornamos filhos de Deus

por meio da fé em Jesus Cristo, importa

permanecermos nEle por um viver e andar em

santificação, no Espírito.

É pelo desconhecimento desta verdade que

muitos crentes caminham de forma

desordenada, uma vez que tendo aprendido que

a aliança da graça foi feita entre Deus Pai e Deus

Filho, e que são salvos exclusivamente por meio

da fé, que então não importa como vivam uma

vez que já se encontram salvos das

consequências mortais do pecado.

Ainda que isto seja verdadeiro no tocante à

segurança eterna da salvação em razão da

justificação, é apenas uma das faces da moeda

da salvação, que nos trazendo justificação e

regeneração instantaneamente pela graça,

mediante a fé, no momento mesmo da nossa

conversão inicial, todavia, possui uma outra

face que é a relativa ao propósito da nossa

justificação e regeneração, a saber, para sermos

santificados pelo Espírito Santo, mediante

implantação da Palavra em nosso caráter. Isto

tem a ver com a mortificação diária do pecado, e

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o despojamento do velho homem, por um andar

no Espírito, pois de outra forma, não é possível

que Deus seja glorificado através de nós e por

nós. Não há vida cristã vitoriosa sem

santificação, uma vez que Cristo nos foi dado

para o propósito mesmo de se vencer o pecado,

por meio de um viver santificado.

Esta santificação foi também incluída na aliança

da graça feita entre o Pai e o Filho, antes da

fundação do mundo, e para isto somos também

inteiramente dependentes de Jesus e da

manifestação da sua vida em nós, porque Ele se

tornou para nós da parte de Deus a nossa justiça,

redenção, sabedoria e santificação (I Coríntios

1.30). De modo que a obra iniciada na nossa

conversão será completada por Deus para o seu

aperfeiçoamento final até a nossa chegada à

glória celestial.

“Estou plenamente certo de que aquele que

começou boa obra em vós há de completá-la até

ao Dia de Cristo Jesus.” (Filipenses 1.6).

“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e

o vosso espírito, alma e corpo sejam

conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda

de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos

chama, o qual também o fará.” (I

Tessalonicenses 5.23,24).

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“Assim, pois, amados meus, como sempre

obedecestes, não só na minha presença, porém,

muito mais agora, na minha ausência,

desenvolvei a vossa salvação com temor e

tremor; porque Deus é quem efetua em vós

tanto o querer como o realizar, segundo a sua

boa vontade.” (Filipenses 2.12,13).