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1 A CBAI E AS DIRETRIZES PARA O ENSINO INDUSTRIAL NO BRASIL(1943-1963) MARIANA PROHMANN 1 MARIO LOPES AMORIM 2 Resumo: Este artigo tematiza a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial - CBAI (1946-1963) no período de 1951 a 1961 e tem por objetivo analisar os Boletins da CBAI com vistas a identificar neles se existem inflexões, linearidades ou rupturas nos discursos do órgão no que se relaciona ao ensino profissional no Brasil. Esse trabalho parte da concepção de que a CBAI era portadora de um discurso oficial, uma vez que resulta de um acordo, firmado no ano de 1946, entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos. Os objetivos específicos visam contextualizar brevemente características gerais no que diz respeito ao tratamento do governo brasileiro com relação aos EUA, apresentar a CBAI e os Boletins veiculados por este órgão, ambos em diálogo com a literatura especializada. A escolha do tema se justifica por ser esse um momento de acelerada industrialização no país e especialmente mudanças no que diz respeito às relações exteriores. Este trabalho utiliza como metodologia a pesquisa documental nos Boletins da CBAI, um veículo de comunicação alinhado com os discursos oficiais, que se mostra como uma fonte documental importante para este fim. Palavras-chave: Instruções; Artigo; Diretrizes; Normas; Palavras-chave. INTRODUÇÃO O presente trabalho tematiza a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), que atuou o Brasil no período que vai 1946 à 1963 e tem por objetivo a análise de Boletins da CBAI, veículo de informação oficial da instituição, com vistas a identificar nele possíveis rupturas, inflexões e linearidades nos discursos oficias sobre a educação profissional no Brasil. O estudo faz parte de uma pesquisa de mestrado que resultou na dissertação intitulada Americanismo e fordismo nos Boletins da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (PROHMANN, 2016) motivado por uma inquietação no que diz respeito a forma como os Boletins da CBAI, veículo oficial do órgão, disseminavam e se relacionavam com os discursos sobre ciência e tecnologia, na sua estreita relação com o modo de produção que passava a ser eleito pelo discurso oficial como aquele que viria a sanar os problemas brasileiro: o capitalismo industrial aos padrões que se disseminavam nos Estados Unidos. O cenário era de crescente industrialização e internacionalização da economia brasileira, que 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) / Projeto de pesquisa CNPQ, PPGTE, Brasil. E-mail: [email protected]. 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) / UTFPR- PPGTE, Brasil. E-mail: [email protected].

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A CBAI E AS DIRETRIZES PARA O ENSINO INDUSTRIAL NO BRASIL(1943-1963) MARIANA PROHMANN1

MARIO LOPES AMORIM2

Resumo: Este artigo tematiza a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial - CBAI (1946-1963) no período de 1951 a 1961 e tem por objetivo analisar os Boletins da CBAI com vistas a identificar neles se existem inflexões, linearidades ou rupturas nos discursos do órgão no que se relaciona ao ensino profissional no Brasil. Esse trabalho parte da concepção de que a CBAI era portadora de um discurso oficial, uma vez que resulta de um acordo, firmado no ano de 1946, entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos. Os objetivos específicos visam contextualizar brevemente características gerais no que diz respeito ao tratamento do governo brasileiro com relação aos EUA, apresentar a CBAI e os Boletins veiculados por este órgão, ambos em diálogo com a literatura especializada. A escolha do tema se justifica por ser esse um momento de acelerada industrialização no país e especialmente mudanças no que diz respeito às relações exteriores. Este trabalho utiliza como metodologia a pesquisa documental nos Boletins da CBAI, um veículo de comunicação alinhado com os discursos oficiais, que se mostra como uma fonte documental importante para este fim. Palavras-chave: Instruções; Artigo; Diretrizes; Normas; Palavras-chave.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tematiza a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial

(CBAI), que atuou o Brasil no período que vai 1946 à 1963 e tem por objetivo a análise de

Boletins da CBAI, veículo de informação oficial da instituição, com vistas a identificar nele

possíveis rupturas, inflexões e linearidades nos discursos oficias sobre a educação profissional

no Brasil. O estudo faz parte de uma pesquisa de mestrado que resultou na dissertação

intitulada Americanismo e fordismo nos Boletins da Comissão Brasileiro-Americana de

Educação Industrial (PROHMANN, 2016) motivado por uma inquietação no que diz respeito

a forma como os Boletins da CBAI, veículo oficial do órgão, disseminavam e se relacionavam

com os discursos sobre ciência e tecnologia, na sua estreita relação com o modo de produção

que passava a ser eleito pelo discurso oficial como aquele que viria a sanar os problemas

brasileiro: o capitalismo industrial aos padrões que se disseminavam nos Estados Unidos. O

cenário era de crescente industrialização e internacionalização da economia brasileira, que

                                                                                                                         1Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) / Projeto de pesquisa CNPQ, PPGTE, Brasil. E-mail: [email protected].  2Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) / UTFPR- PPGTE, Brasil. E-mail: [email protected].  

 

 

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será abordada a partir de uma esfera específica: a educação profissional. Ainda que os

discursos que circulavam em meios oficiais exaltassem a ciência e a técnica como o caminho

que deveria ser seguido para solucionar problemas e contradições de natureza social,

econômica ou política, tais contradições eram geradas no seio do próprio sistema capitalista

de produção industrial, o que também abrira espaço para insurgências e resistências por parte

das classes subalternas. Todavia, a lógica que seguia o discurso oficial no período estava

pautada pelas ideias de progresso, racionalidade e eficiência. A CBAI é concebida como em

consonância com o discurso oficial porque as ideias e valores presentes nos Boletins, ainda

que colocassem em evidência temas como os novos métodos de aprendizagem para o ensino

profissional, traziam como pressupostos ou verdades aspectos ligado a um projeto mais amplo

de sociedade. No discurso oficial, a educação é tomada como uma esfera cultural estratégica à

consolidação e disseminação dos métodos racionais de produção industrial que se originaram

nos Estados Unidos no início do século XX, mais especificamente o taylorismo e o fordismo.

A abrangência desses métodos e a disseminação deles não se restringiam, porém, a esfera da

fábrica, mas previam um alcance mais amplo, em que a sociedade deveria se prostrar aos

métodos racionais e científicos, como a única esperança de que as contradições de classe,

desigualdades e miséria fossem futuramente superadas, tão logo os métodos científicos se

generalizassem. O ensino industrial também estaria inserido neste contexto mais amplo de

modo de produção e de trabalho e é por isso que como fundamentação ao trabalho de

dissertação de Prohmann (2016) a escolha foi por escritos de Antonio Gramsci (2014), em

especial o caderno sobre Americanismo e fordismo, visto que permitiu uma reflexão sobre o

modo de racionalização da produção e do trabalho que se processava nos Estados Unidos e

passava a se disseminar nos demais países.

O texto inicia com uma breve contextualização sobre o cenário brasileiro, que somado

a um quadro instabilidade política, passava a estreitar a relação com os EUA por intermédio

de acordos e tratados bilaterais em contexto de Guerra Fria, no qual a disseminação do

americanismo, ou american way of life, inculcava também valores e ideais nas mais diversas

instituições que surgiam de acordos bilaterais, dentre as quais a CBAI, que tem em seus

Boletins, discursos proferidos por porta-vozes oficiais da educação profissional no Brasil e

nos Estados Unidos, desde governantes e profissionais do ensino industrial a psicólogos e

técnicos especialistas da indústria. Em seguida, a fim de situar a CBAI enquanto porta-voz

oficial do discurso sobre a ciência na superação do “atraso” brasileiro, é que se aborda mais

de perto o surgimento da CBAI e os Boletins, em diálogo com literatura especializada. Por

 

 

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fim o trabalho conclui colocando em evidência rupturas e continuidades no discurso oficial no

que respeita a educação profissional no período analisado.

O BRASIL EM TEMPOS DE GUERRA FRIA: A DOUTRINA TRUMAN, A

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

Para contextualizar o cenário brasileiro durante o período que deu origem a CBAI,

alguns fatos e fenômenos que se desenrolavam ao longo do século XX parecem essencial,

pois se entende que tais acontecimentos não estavam isolados uns dos outros a medida em que

a história deste século era narrada por discursos oficiais: guerras envolvendo um grande

contingente de pessoas e nações, o surgimento das massas e de métodos de produção

tayloristas e fordistas que se disseminavam aos demais países além dos Estados Unidos, onde

tiveram origem. A esfera política brasileira durante o período de atuação do órgão foi de

instabilidade, e assim não cabe colocar em questão as diversas ações e medidas tomadas por

cada governo3, mas sim evidenciar de um modo geral a posição oficial em relação a

industrialização do país de um modo geral, tomando como base as narrativas presentes nos

Boletins da CBAI. Embora a ênfase da CBAI estivesse na questão do ensino profissional, em

diversos discursos nos Boletins da instituição, apresentam-se ideias, modelos e padrões de

vida e sociedade que iam muito além de solucionar ou aperfeiçoar o ensino profissional no

Brasil. Os Estados Unidos, que emergiam como potência no pós-Segunda Guerra Mundial e

intensificavam a atuação nos países latinos, no ano seguinte ao término desta Guerra,

firmavam junto ao governo brasileiro um acordo que deu origem a CBAI, e é nesse sentido

que a instituição é tomada como porta-voz do discurso oficial. No período que antecede a

criação do órgão, as relações internacionais do Brasil passavam por mudanças no que diz

respeito a forma de conceber o comércio internacional, que passava a privilegiar acordos

bilaterais. (FONSECA, 1989, p. 158). Nesse sentido, o Estado Novo4 foi um passo importante

na constituição de um Estado nacional capitalista e burguês, segundo MENDONÇA (2000).

Isso porque passa a se tornar necessário, segundo o viés oficial, um Estado racional e

racionalizado, que fosse dirigido por técnicos especializados, capazes de planejar e dirigir,

                                                                                                                         3  Exposição  mais  detalhada  e  problematizada  sobre  aspectos  da  sociedade  e  da  política  no  período  está  presente  em  O  BRASIL  REPUBLICANO.    Sociedade  e  politica  (1930-­‐1964).  In:  História  Geral  da  Civilização  Brasileira.  TOMO  III.  (vol.  10).    4 “O Estado Novo foi um período autoritário da nossa história, que durou de 1937 a 1945. Foi instaurado por um golpe de Estado que garantiu a continuidade de Getúlio Vargas à frente do governo central, tendo para apoiá-lo importantes lideranças políticas e militares.” Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/ AEraVargas1/anos30-37/GolpeEstadoNovo>. Acesso em: 21 dez. 2015.

 

 

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com objetividade e neutralidade, o interesse geral da nação brasileira. Neste aspecto, o que se

colocava no discurso oficial da nação como bem comum, como uma necessidade imante, era a

industrialização. (MUNAKATA, 1981, p. 64).

A influência estadunidense no Brasil é anterior a década de 50, período em que a

CBAI atuou significativamente no país. Na esfera cultural, como por exemplo, o cinema

hollywoodiano, já trazia manifestações da cultura estadunidense e ampliava mercados no

Brasil. Na década de 1940 é que ganha destaque essa presença cultural no que diz respeito aos

padrões de comportamento, expressões artísticas e, aspecto que a este artigo é caro: modelos

de produção de conhecimento técnico e científico (MOURA, 1984, p. 8). “O traço comum às

mudanças que então ocorriam no Brasil na maneira de ver, sentir, explicar e expressar o

mundo era a marcante influência que aquelas mudanças recebiam do ‘american way of life’”

(MOURA, 1984, p. 8). Já nesta década, os EUA traziam diversos representantes desta

ideologia para o Brasil, preocupados em fortalecer os vínculos de “cooperação” entre os dois

países, incluindo as iniciativas oficiais (PROHMANN, 2016). E nos anos que seguintes, a

nação estadunidense “obedeceu a um planejamento cuidadoso de penetração ideológica e

conquista de mercado” (MOURA, 1984, p. 11), dentro do qual, o processo de “intercâmbio

cultural” funcionava como uma estratégia para alinhar os países latino-americanos com o

ideal estadunidense (PROHMANN, 2016). Ainda que este cenário representasse “[...] a

burguesia brasileira que se prostrava diante do imperialismo norte-americano” (BANDEIRA,

1978, p. 311), tal processo não aconteceu sem resistências ou conflitos, posto que frações das

classes médias e do proletariado não aceitavam, tranquilamente a posição de submissão

perante o país do norte. Houve resistências por parte de alguns setores da sociedade, o que

indicava a necessidade dos EUA em investir massivamente em programas e projetos culturais que visassem “educar” ou ao menos persuadir a nação através de um discurso em torno da continentalização e da necessidade de modernização para superar o atraso do Brasil. (PROHMANN, 2016, p. 38).

A Segunda Guerra transformou as relações entre as duas nações. No aspecto

econômico, não é difícil entender como os Estados Unidos conseguiram influenciar a nação

brasileira no pós-guerra. Os Estados Unidos, que entraram no conflito com o mercado interno em relativo equilíbrio e não sofreram, diretamente, os prejuízos da destruição, implantaram a sua tutela sobre o mundo capitalista e colonial, igualando, na submissão política, potências industriais e países atrasados. Apenas a União Soviética e os povos em revolução escapavam ao seu domínio. O Brasil, como um país capitalista em desenvolvimento, sentiu todo o impacto da influência americana. A penetração econômica e militar atingiu a superestrutura da

 

 

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sociedade, modificou hábitos e costumes, padrões de comportamento, consciência e linguagem (BANDEIRA, 1973, p. 309).

Neste contexto e sob a égide da “segurança do continente” (TOTA, 2000, p. 47), os

Estados Unidos estreitam as relações com os demais países da América, pois a segurança

defendida pelos discursos oficiais estava ligava a preocupação de que o atraso e a miséria na

America Latina pudessem causar insurgências ou revoluções, fossem elas nacionalistas,

socialistas, nazi-fascistas ou quaisquer manifestações que se opusessem aos interesses da nova

potência do norte. (TOTA, 2000, p. 47). “Essas considerações indicam que a preocupação

dos EUA, no que concerne às mudanças estratégicas de sua política externa, impunha-se para

os grupos que se encontravam à frente das decisões políticas e econômicas dos países latino-

americanos.” (PROHMANN, 2016, p. 39).

No cenário de “término” de conflitos e de uma paz que poderia se ver abalada a

qualquer momento, alguns episódios de tensão5 advindos do embate entre EUA e URSS

impulsionaram os Estados Unidos a consolidar uma política de contenção ao comunismo

soviético. Essa política previa uma série de medidas que ficaram conhecidas como Doutrina

Truman, nome dado por jornalistas em um discurso proferido pelo então presidente

estadunidense Henry S. Truman, que previa uma série de medidas políticas concretas, como o

apoio financeiro aos países que corroboravam a ideia de modernização conforme o modelo

estadunidense, nas mais diversas esferas na sociedade, inclusive na educação. (PROHMANN,

2016). Assim, qualquer movimento continental que colidisse com os interesses dos EUA era

caso grave e de política interna. Ao mesmo tempo nos discursos proferidos por seus

governantes e representantes, desenhava-se a imagem dos EUA como um pais defensor da

liberdade democrática, no qual o capitalismo seria o único modelo de produção e de sociedade

que possibilitaria aos países “atrasados” alcançar o ideal americano de sociedade, que

ganhava forma no modo de viver do american way of life, e ganhava vida e personalidade

própria na imagem de Tio Sam6. (PROHMANN, 2016, p. 40). Os EUA precisariam utilizar diversos esforços na luta pela hegemonia, que

incluíam, além do controle econômico de mercadorias e matérias-primas advindas destes territórios, a dominação ideológica que justificava o capitalismo. E com ele o desenvolvimento industrial e tecnológico - como única direção possível ao desenvolvimento de tais nações, tidas como “atrasadas”. Era necessário um

                                                                                                                         5 Ver REMOND, 2012, p.143 e KARNAL, 2008, p. 226. 6Nossa tradução: Tio Sam […] é um homem barbudo de pernas largas, vestido com as cores e desenho da bandeira nacional e […] Como demonstram constantemente os titulares da imprensa em todo o mundo, o Tio Sam é a personificação dos Estados Unidos. (EMBAIXADA AMERICANA NO MÉXICO). Disponível em:<http://www.usembassy-mexico.gov/bbf/FAQTioSam.htm>. Acesso em: 19 mar. 2015.

 

 

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trabalho ideológico pesado e massivo nas mais variadas esferas, inclusive na cultural. (PROHMANN, 2016, p. 40).

Mas a medida em que a América adentrava na década de 50, o Brasil e a América

Latina como um todo foram deixados em segundo plano pelos EUA, que passava a encorajar

“somente eliminar restrições e controles cambiais para obter a entrada de capitais privados, e

a reforçar a segurança interna contra a Esquerda” (VIZENTINI, 2008, p. 198). Por parte do país americano, uma série de ideais eram disseminados como

modelo único de desenvolvimento econômico e social, dentre elas a disciplinarização pelo trabalho e a disseminação do american way of life exerciam forte influência nos americanos do sul, inclusive no Brasil. O discurso dominante no que diz respeito à educação era sobre a necessidade de preparar técnicos qualificados a fim de atender as demandas econômicas do país. A qualificação garantiria emprego e ascensão social e desempenharia importante papel na superação do “subdesenvolvimento” (PROHMANN, 2016, p.42).

A industrialização já havia se consolidado como um projeto hegemônico e para os que

estavam à frente das decisões nacionais, a industrialização era decisiva ao desenvolvimento

econômico do país. A preocupação era com a produtividade da indústria, que passa a ser

também a preocupação do sistema de ensino profissional, no qual a CBAI teria um papel

essencial.

A década de 1950 foi um período de instabilidade política, no qual três diferentes

presidentes ocuparam o poder (Getúlio Vargas, 1951-1954; Café Filho, 1955; JK, 1955-

1960). Mas a tendência geral das práticas e medidas por parte destes governos seguiam a

inclinação internacional de aplicar ao corpo social teorias e métodos originados na esfera da

economia, incluindo métodos racionais de produção e trabalho, bastante difundidos pelos

Boletins da CBAI.

A CBAI E OS DISCURSOS SOBRE A CIÊNCIA NA SUPERAÇÃO DO “ATRASO”

BRASILEIRO

Sob a égide do discurso de paz e liberdade, a série de medidas do governo dos EUA -

que ficou conhecida como “Doutrina Truman” - incluíam um ponto (o Ponto IV) que dizia

respeito a educação, resultando na CBAI, que no início da década de 1940 já previa algumas

ações, como programas de intercâmbios e convênios (AMORIM, 2004, p. 198).

Segundo o então Diretor da Escola Técnica Nacional (1942-1965), Celso Suckow da

Fonseca, o consenso em torno da necessidade de se investir na indústria e na qualificação de

mão-de-obra não acontecia apenas entre os intelectuais republicanos do Brasil, era uma

tendência de outros países americanos que em 1943 se reuniram em Havana para a I

 

 

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Conferência de Ministros e Diretores de Educação das Repúblicas Americanas, com

representantes de todos os países do continente, incluindo o Brasil7 (FONSECA,1961, p.

561). Tal conferência e sua resolução a respeito do ensino técnico teriam influenciado o então

Ministério da Educação e Saúde que a partir dela passava a estabelecer entendimentos com

entidades estadunidenses, como a Inter-American Foundation (pertencentes ao Office of Inter-

American Affairs - OIAA, órgão do governo dos EUA). Como resultado, uma resolução

estabelecia a criação de um programa de cooperação educacional, com o objetivo de

aproximar os dois países por meio do intercâmbio de educadores, de ideias e métodos

pedagógicos, assinado em 3 de janeiro de 1946, pelo então ministro da Educação Raul Leitão

da Cunha e do então presidente da OIAA, Kenneth Holland (FONSECA, 1961, p. 563). Na

cláusula IV deste documento surgia a CBAI, comissão especial à qual fora delegada a

execução da aplicação do programa de cooperação (FONSECA, 1961, p. 564).

A CBAI tinha como objetivo desenvolver as seguintes atividades: introdução de

serviços de orientação educacional e profissional, elaboração e publicação de material

didático – com a introdução de métodos de trabalho racionais – o curso de formação de

professores e a administração do ensino industrial. O ensino industrial deveria capacitar os

indivíduos cívica, social e economicamente, a partir da concepção do indivíduo

produtivamente capaz. O treinamento dos professores voltava-se para o objetivo de capacitar

os alunos, de modo que adquirissem hábitos de trabalho eficientes. Os serviços de orientação

educacional e profissional tinham como objetivo auxiliar na adaptação e ajuste do indivíduo

na sociedade industrial e no mercado de trabalho, com vistas a identificar aptidões e dons de

cada aluno para que tivessem um melhor aproveitamento escolar e profissional (AMORIM,

2004, p. 234). Quanto aos cursos de formação e aperfeiçoamento de professores e

administradores do ensino industrial, a organização e o funcionamento se guiavam por temas

recorrentes como mercado de trabalho e integração entre escola e indústria.

Os materiais didáticos elaborados pela CBAI abordavam elementos da racionalização

científica e do taylorismo, identificadas na atuação do órgão com vistas a “ajustar” o homem à

máquina. Alguns aspectos apareciam constantemente nesses materiais didáticos, dentre eles: a

necessidade de se ensinar de maneira eficiente, a concepção utilitária da educação (de que o

aluno só aprende se necessitar de tal conhecimento), a aprendizagem através da execução de

                                                                                                                         7Eram  elas:  o  então  Ministro  da  Educação  Gustavo  Capanema,  o  professor  Lourenço  Filho,  Diretor  do  Instituto  Nacional  de  Estudos  Pedagógicos,  Doutor  Paulo  Germano  Hasslocker,  Enviado  Extraordinário  e  pelo  professor  Francisco  Clementino  San  Thiago  Dantas.  (FONSECA,  1961,  p.  561).  

 

 

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atividades práticas, a preocupação com a motivação dos alunos. Por fim, o professor estaria

para a escola assim como o gerente estaria para a fábrica e havia um cuidado para não

especializar demais o ensino, mas fazer com que o aluno aprendesse todas as fases do

processo de produção. Com vistas a atingir este objetivo, recomendavam-se ao professor

diversas iniciativas de controle no ambiente escolar com rígido caráter disciplinador, sempre

relembrando aos alunos as atitudes que eram ou não permitidas nas indústrias (AMORIM,

2004, p. 236).

O que é evidenciado na metodologia da CBAI é o conceito de produtividade como

chave para o desenvolvimento da nação e o discurso progressista que se pautava na

organização racional do trabalho (AMORIM, 2004, p. 225). Assim, o preparo profissional,

tanto técnico como moral, era mostrado como recurso para aumentar a produtividade do

trabalhador (CIAVATTA, 2009, p. 333).

Questões que se referem a essas questões também estão presentes nos Boletins da

CBAI, que passaram a ser veiculados a partir de janeiro de 1947, deixando de ser publicados

em junho de 1961, e constituem uma fonte histórica no que se refere a divulgação de ações e

atividades, registros de entrevistas com representantes e técnicos da educação profissional,

cultura técnica e notícias sobre a educação industrial no Brasil. A partir da análise de alguns

dos Boletins da CBAI é que se apresentará se existiram rupturas, linearidades ou inflexões

nos discursos oficiais a respeito do ensino profissional no Brasil.

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NOS BOLETINS DA CBAI: ENTRE

RUPTURAS E PERMANÊNCIAS

A fim de mostrar possíveis rupturas ou permanências no que respeita a concepção de

educação profissional nos Boletins da CBAI é que se optou por trabalhar com os Editoriais

dos Boletins, uma vez que eles expressam opiniões, visões de mundo e ideias, que neste caso

refletem-se na importância que os porta-vozes do discurso oficial delegavam ao ensino

profissional no Brasil. Ainda que não tenha sido possível contar com a coleção completa de

Boletins, a quantidade encontrada espalha-se ao longo dos anos de existência da instituição,

servindo ao propósito ultimo desta análise.

A começar pelo editorial datado de janeiro de 1948, que discorre sobre o público a

quem se destinam os Boletins: Todos os que recebem o Boletim já perceberam que está ele destinado não só a

 

 

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grande trabalho de aproximação da família do ensino industrial, como sobretudo a orientar, pelos seus artigos técnicos, a mestres e professores e, através do seu noticiário, a avivar a consciência profissional dos educadores, animando-a com a realização de cursos de aperfeiçoamento o país e no estrangeiro (CBAI, Vol. II, n.2, jan, 1948: 19).

Este trecho demonstra uma tentativa discursiva de colocar todos os envolvidos no

ensino industrial como uma “família”, independentemente das diferentes posições ocupadas

por cada agente do ensino industrial, esse tratamento sugere um clima colaborativo, de

integração. Não menos importante é notar o valor delegado ao aperfeiçoamento dos

educadores deste ramo de ensino, grande norte que direcionava as ações da instituição.

No editorial de março de 1948, o editorialista delegava as seguintes palavras ao

professor Mira Y López em um Congresso na Universidade do Trabalho do Uruguai (1945): [...] venho assombrado com a pujança imensa do sistema de ensino

industrial, das organizações industriais, da proteção dos aprendizes, do sistema de seleção e orientação dos trabalhadores, dos milhões e milhões que estão se gastando no Brasil para se elevar esse capital humano e para diminuir as barreiras que, na formação humana, vinham separando, até bem pouco tempo, de um lado, os alunos dos ginásios e, de outro, os alunos das escolas técnicas. (CBAI Vol. II, n. 4, abr, 1948: 49).

Neste trecho o que parece ter chamado a atenção de López é o valor que no Brasil

estava se delegando ao ensino industrial, no qual os sujeitos deste tipo de ensino são

concebidos como “capital humano”. Além disso, na visão deste professor haviam barreiras

que separavam os alunos de ginásio daqueles que estudavam nas escolas técnicas. Neste caso

nota-se, a partir da fala de López, a crença de que este tipo de ensino viria a amenizar as

barreiras que separavam os alunos dos ginásios dos alunos das escolas técnicas.

A necessidade de se investir neste tipo de ensino se mostra cada vez mais evidente,

como esclarece o editorial de setembro de 1950: “A urgência de preparar gerações para o

trabalho, para a técnica, para a indústria, para a máquina caracteriza flagrantemente a

civilização atual. De uma época em que o trabalho era um estigma, passamos para esta, em

que o trabalho é um direito do homem livre e progressista, um bem que só os validos, os

capazes podem lograr” (CBAI Vol. IV, n.9, set, 1950: 513). Deste modo, o que está colocado

no enunciado é o valor que o trabalho estava ganhando, que diferentemente do período

anterior, passa é concebido como essencial ao progresso. Um exemplo também aparece no

editorial de novembro de 1951: “São, pois, as escolas industriais a grande esperança do Brasil,

e seus professores os depositários dela” (CBAI, Vol. V, n.11. nov, 1951: 751).

 

 

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Ainda que passados alguns anos da vigência da Lei, se mostrava como necessária uma

velha questão referente a formação de professores para este tipo de ensino, como se evidencia

nos primeiros anos da atuação do órgão. Faz parte dos planos de administração do atual governo como

preocupação marcante de suas atividades educacionais, o incremento e a ampliação do ensino industrial.

O próprio desenvolvimento da indústria nacional vem impondo aos governos a inadiável assistência a esse setor [...] bem como ao real ajustamento entre as solicitações da indústria e mão-de-obra qualificada egressa das escolas de ensino industrial (CBAI, Vol V, n. 2, fev, 1951: p. 609).

A indústria recebia primazia neste discurso, no sentido de que deveria ter suas

demandas atendidas, em especial no que concerne a formação de uma mão-de-obra

qualificada para a atuação nas indústrias. A valorização imediata do trabalhador egresso das

escolas de ensino profissional se liga ao papel que este sujeito desenvolveria para o

crescimento o progresso da nação: [...] se quisermos incrementar a nossa indústria, explorar as

fontes de riqueza de nossa terra, urge aperfeiçoar a educação profissional, encaminhando-a a

seus fins ideais (CBAI, Vol V, n. 4,abr, 1951:642).

O ensino industrial nos Boletins da CBAI está atrelado ao modo de produção

capitalista industrial e por isso um dos grandes motes pelo qual deveria se guiar a esfera da

educação é o da produtividade, como no editorial de setembro de 1954 ao se referir a este

termo, lê-se: “O Brasil, como país que está entrando firmemente no terreno da

industrialização, não pode fugir a influência da palavra mágica e tem de pensar seriamente na

maneira de se colocar a altura dos demais povos” (CBAI, Vol. VIII, ns. 9/10, set/out, 1954:

1285). Era a produtividade que estava em questão, com a finalidade última de impulsionar o

Brasil na competição do mercado internacional.

Ainda que ocorressem algumas mudanças ao longo da atuação do órgão, permanece a

ideia que o ensino profissional deveria atender as demandas emergentes do processo industrial

que aqui se processava, como mostra o texto do editorial de julho de 1955 sobre a função do

diretor do ensino industrial, de “rever e atualizar a legislação vigente, a fim de atender,

simultaneamente, aos interesses do Capital e do Trabalho, dentro do âmbito regional e

nacional” (CBAI, Vol. IX, n. 7, jul, 1955: 1437). Nesse sentido, a educação profissional,

enquanto aparato governamental, tinha a função de mediar uma tal relação entre capital e

trabalho, que neste âmbito se relacionava com os alunos formados pelas escolas e o

encaminhamento dele para atuação nas indústrias. No editorial de novembro de 1956,

aparecem o seguinte trecho:

 

 

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Mais do que nunca as instituições fabris, os setores de nossa riqueza econômica tem de promover tal reorganização técnica e material da escola, assumindo, em muitos casos, a própria liderança desse empreendimento, indispensável ao progressivo desenvolvimento de sua grandeza e, consequentemente, do bem-estar humano e social. (CBAI, Vol. X, n.11, nov, 1956: 1693).

Este trecho reforça a concepção de um ensino que deveria ter como guia condutor as

demandas que surgiam no setor fabril. Ainda nos últimos anos de atuação da CBAI prevalece

esta visão a respeito do ensino industrial: Nesta fase em que o Brasil passa por uma impressionante metamorfose,

determinada pela rápida e diversificada industrialização que, por sua vez, dá motivo a vários problemas de ordem econômica e social, cumulando com a crescente falta de mão de obra especializada, as escolas profissionais passam a ocupar lugar de suma importância no cenário nacional. (CBAI, Vol. XIII, n. 2, fev, 1959: 1).

Neste editorial, admite-se que na industrialização brasileira também emergir

contradições e problemas de ordem social, somada ao problema de falta de mão de obra

qualificada.

CONCLUSÃO

As aspirações ensejadas pelos porta-vozes do discurso oficial (Boletins da CBAI),

delegavam aos métodos científicos e racionais a crença de que viriam a solucionar problemas

de toda ordem. Essa visão parece ganhar força ao longo da atuação da CBAI que trazia nos

boletins palavras como modernidade, progresso, industrialização do Brasil, etc.

O que se nota é que ainda passado tantos anos de vigência da Lei Orgânica do Ensino

industrial, permanece a imanente ou urgente necessidade de melhor preparar os técnicos

especializados de que a indústria emergente necessitava. Reforça essa ideia o editorial de

junho de 1960, ao tecer elogios ao Estado de São Paulo como um grande propulsor na

indústria brasileira. São Paulo é o maior parque industrial da América Latina. Ora, o

florescimento da indústria traz como consequência lógica a necessidade de mais mão-de-obra especializada, que está sendo preparada com mais vigor e realidade em São Paulo do que em qualquer das outras unidades da federação. (CBAI, Vol. XIV, n. 4, jun, 1960: 1).

Prevalece a concepção de educação profissional como central ao desenvolvimento

socioeconômico do país, e como demonstra o próprio conteúdo dos Boletins da CBAI,

existiam mobilizações nas mais diversas esferas, em especial no tocante à cultura nas suas

diversas formas, dentre os quais estavam a educação, a ciência, a tecnologia e a indústria. Tal

 

 

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concepção deveria estar bem integrada para melhor contribuir com o desenvolvimento

industrial da Nação. Ao longo dos anos, o ensino industrial passava por mudanças, como

aquelas apontadas no editorial de julho de 1961: Novos cursos, ampliação de cursos, preparação de professores,

colaboração norte-americana, Conselhos de Representantes, etc., falam bem alto do valor e do desejo do Exmo. Sr. Ministro da Educação em acompanhar o ritmo industrial acelerado, suprindo deficiências e desfazendo dificuldades das indústrias no sentido econômico do País. (CBAI, Vol. XV, n.5, jul,1961:1).

Todavia, essas mudanças estão longe de superar o romper com a concepção de um

ensino profissional que educasse conforme o modelo de padrão do trabalho nas indústrias. Ao

contrário, as diversas transformações pelas quais passou o ensino industrial ao longo da

atuação da CBAI no Brasil não foram estruturais, ou seja, não houve grande mudanças no que

diz respeito a concepção deste tipo de ensino, mas na forma de condução da educação

profissional de modo que melhro atendesse a demanda das industrias.

REFERÊNCIAS

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CIAVATTA, Maria. O trabalho como princípio educativo: Uma investigação teórico-metodológica (1930-1960). 1990. Tese (Doutorado em Ciências Humanas – Educação) – Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1990.

MENDONÇA, Sônia R. As bases do desenvolvimento capitalista dependente: da industrialização restringida à internacionalização. In: LINHARES, Maria Yedda (org.) História geral do Brasil. 9. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense, 1984.

MUNAKATA, Kazumi. A legislação trabalhista no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1981.

TOTA, Antonio Pedro. O imperialismo sedutor. São Paulo: Cia. Das Letras, 2000.

VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. Do nacional-desenvolvimentismo à Política Externa Independente (1945-1964). In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia (orgs.). O Brasil Republicano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

PROHMANN, Mariana. Americanismo e fordismo nos Boletins da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial. 2016. Dissertação (Mestrado em Tecnologia – Tecnologia e trabalho) – Programa de Pós Graduação em Tecnologia (PPGTE), Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016. FONTES I-EDITORIAL. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. VIII, ns. 9/10, p. 1285, set/out, 1954. ANTEPROJETO DA LEI ORGÂNICA. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. IX, p. 1437, n. 7, jul, 1955. EXPANSÃO INDUSTRIAL. Boletim da CBAI. Curitiba, v. XV, n.5, p. 1, jul, 1961. GALVÃO, Jesus Belo. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. II, n. 2, p. 19, fev, 1948.

 

 

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GALVÃO, Jesus Belo. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. II, n. 4, p.49, abr, 1948. GALVÃO, Jesus Belo. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. IV, n.9,p. 513, set, 1950. GALVÃO, Jesus Belo. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. V, n. 2, p. 609, fev, 1951. GALVÃO, Jesus Belo. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. V, n. 6, p. 673 jun. 1951. GALVÃO, Jesus Belo. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. V, n. 4, p. 642, abr, 1951. GALVÃO, Jesus Belo. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. X, n.11, p. 1963 nov, 1956. GUIMARÃES, Sólon. Boletim da CBAI. Rio de Janeiro, v. V, n.11. p. 751, nov, 1951. NON DUCOR DUCO. Boletim da CBAI. Curitiba, v. XIV, n. 4, p. 1, jun, 1960. SEMINÁRIO DE DIRETORES. Boletim da CBAI. Curitiba, v. XIII, n. 2, p. 1, fev, 1959.