A. C. Crispin - Cemitério Espacial

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Audaciosamente indo aonde ningum jamais esteve

CEMITRIO ESPACIALA Enterprise enviada para investigaro estranho desaparecimento de vrias navesKlingons e da Federao que viajavam ao longode uma nova rota comercial.Essa procura leva o capito Picarde sua tripulao para um assustador cemitrioespacial cheio de naves de todo tipo e tamanho,todas elas mortas.

No centro do cemitrio se encontraum Artefato incrivelmente poderoso construdopor uma antiga raa aliengena.Na medida em que a tripulao lutapara solucionar o mistrio, involuntariamentedispara um terrvel poder que ameaacom a insanidade e a morte todosa bordo da Enterprise.

E mais: Glossrio Jornada nas Estrelas Glossrio Cultural

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A. C. CRISPIN

CEMITRIO ESPACIALTraduo: Humberto Kaway

Ttulo original: The Eyes of the BeholdersCopyright Paramount Pictures Corporation, 1990Todos os direitos reservadosSTAR TREK e uma Marca Registrada da Paramount Pictures Corporation

Publicado mediante contrato firmado com Pocket Books,

Todos os direitos da traduo para o Brasil reservados

Aleph Publicaes e Assessoria Pedaggica Ltda.Av. Dr. Luiz Migliano, 1110 - 32 and. - MorumbiCEP 05711 -So Paulo-SPTel.: (011)843-3202/ 843-0514Diretora Administrativa: Betty FromerDiretor editorial: Pierluigi PiazziEditor Chefe: Renato da Silva OliveiraIlustraes internas: D. O. NicolettiConsultoria: Frota Estelar - BrasilCaixa Postal 14592 CEP 03698-970 S.Paulo SPAo longo deste livro aparecem termos e personagens com os quais o leitor pode no estar familiarizado. Por isso, colocamos nas pginas iniciais uma apresentao dos principais personagens e, no final, dois glossrios: um relativo aos termos da srie Jornada nas Estrelas e outro relativo a Cultura Geral.Talvez fosse conveniente l-los em primeiro lugar para no interromper a leitura do romance.

"O Espao, a fronteira final.Essas so as viagens da nave estelar Enterprise, prosseguindo em sua misso para explorar novos mundos, pesquisar novas vidas, novas civilizaes, audaciosamente indo onde ningum jamais esteve."

U.S.S. Enterprise NCC-1701-DA United Space Ship Enterprise, cruzador de explorao da classe Galaxy, a quarta nave herdeira do nmero de matrcula, NCC-1 701, maior e mais rpida que suas predecessoras. Sua misso de trinta anos expandir as fronteiras territoriais, cientficas e culturais da Federao de Planetas. Construda nos estaleiros de Marte, seu casco feito de uma liga especial de tritanium/duranium. Tem um comprimento de 642,5m, largura de 467m e altura de 137,5m. Sua velocidade mxima de cruzeiro feita em dobra 9.A nave foi construda para que, em casos de emergncia, o disco principal - onde esto as famlias dos 800 tripulantes, cerca de 300 passageiros entre cnjuges e crianas - se separe da seo de batalha.Capito Jean-Luc PICARD, o comandante da nova Enterprise. Nasceu na Frana. Com vasta experincia em misses de explorao e pesquisa no espao, tem uma extraordinria capacidade de comando. Possui uma lgica clara, muita perspiccia e ao decisiva. Tem um senso de justia, honra e conduta bem definidos. sagaz, decidido, romntico e diplomtico, alm de verdadeiro gentleman.Comandante William T. RIKER, o imediato da Enterprise. Sua maior responsabilidade a defesa e proteo da vida do capito. de sua competncia tambm, certificar-se que a nave se mantenha operacional e sua tripulao treinada. Lidera os grupos de explorao. Possui inteligncia arguta e um senso de humor apurado que o auxilia no relacionamento com seus subordinados.Tenente-comandante DATA, piloto da nave For ser um andride no sente emoes e tem grandes dificuldades em entend-las. Tem pele dourada, olhos amarelos e enorme fora fsica. muito literal e se confunde facilmente quando se usam figuras de linguagem. Registra em seu crebro positrnico tudo o que aprende ou v.Conselheira Deanna TROI. Nasceu no planeta Betazed, mas apenas meia betazide - seu pai um oficial terrestre da Frota. Possui a capacidade de sentir as emoes da maioria dos seres vivos da Galxia herdada de seus ancestrais betazides. Usa suas habilidades e sua empatia para auxiliar o Capito Picard a tomar decises.

Tenente Geordi LA FORGE, o navegador da Enterprise. Mesmo cego de nascena, consegue "enxergar" graas ao visor, um aparelho que funciona como um rgo sensorial capaz de distinguir vrias faixas do espectro eletromagntico -luz, infravermelho, ultravioleta, raios-x - alm de ampliar as imagens como um microscpio.O tenente WORF, o oficial de armamentos. E o primeiro oficial klingon nos quadros da Frota. Quando criana, foi o nico sobrevivente de um ataque dos romulanos ao planeta Khitomer. Adotado por um oficial da Frota viveu, desde ento, entre os humanos. Procura sempre manter o autocontrole, apesar de sua natureza agressiva.WESLEY Crusher, filho da doutora Crusher, um adolescente superdotado. Possui incrvel facilidade para visualizar e projetar sistemas de circuitos eletrnicos. Tem paixo por fsica avanada, comandos computadorizados das dobras espaciais e tecnologia de raios tratores e repulsores.Doutora Beverly CRUSHER, a mdica-chefe. Nasceu na colnia Alveta III, onde apaixonou-se pela medicina aps observar sua av improvisar um tratamento base de ervas para salvar seu planeta de uma epidemia. Seu marido foi morto numa misso comandada por Picard e, apesar de no culp-lo, tem emoes conflitantes a esse respeito. Possui personalidade forte e vibrante.

UmO tenente comandante Geordi La Forge, engenheiro chefe da nave estelar Enterprise, acordou em sua cabine coberto de suor e com o corao disparado, saindo das trevas absolutas de seu sonho para a escurido da vida real sem o auxlio de seu VISOR. Permaneceu algum tempo pestanejando e ofegando, sem saber ao certo se estaria realmente acordado. Quando finalmente se sentiu plenamente desperto, sentou-se no leito e tateou a mesinha de cabeceira direita, procurando o VISOR.Ao coloc-lo nos olhos, posicionou as hastes laterais sobre os sensores bio-eletrnicos implantados em suas tmporas e pressionou-as, encaixando-as no lugar, e teve imediatamente que suprimir um espasmo de dor. Era-lhe doloroso reativar a viso.Geordi j se acostumara ao constante desconforto causado pelo ato de "ver". A maior parte do tempo mal se dava conta disso. Por muitos anos havia-se treinado com tcnicas de biofeedback, o que lhe permitia conviver com a dor e domin-la. Era o preo que tinha que pagar para ter uma existncia normal e no reclamava disso.A simples aceitao da dor, contudo, no a eliminava, mas era o primeiro passo para aprender a conviver com ela. La Forge suspirou quando a dor reassumiu seu lugar costumeiro junto s tmporas. A cabine escura iluminou-se, medida que seu VISOR captava a poro infravermelha do espectro. Os objetos foram surgindo como formas tremeluzentes e multicoloridas, dependendo de que modo retinham ou refletiam o calor nelas incidido.O engenheiro jogou as pernas para fora do leito e ergueu-se. Em seguida, perguntou ao quarto, numa voz rouca de sono, que horas eram.Obedientemente, o quarto respondeu. Ainda era "noite" pelo horrio do turno de La Forge. Que dia do ms? perguntou, com sbita intuio do que havia causado aquele sonho repleto de temores. Calendrio terrestre, no a data estelar. Estamos no dia dezesseis de setembro.De alguma forma, eu sabia disso, pensou La Forge. Mesmo sem ter conscincia do fato. H vinte e sete anos, neste mesmo dia, experimentei meu ltimo momento de verdadeira cegueira.Geordi lembrou-se vividamente dos odores e rudos do hospital em que acordou na manh de sua cirurgia, quando ainda era um menininho assustado assustado porem determinado a submeter-se ao novo tratamento que, segundo os mdicos, poderia faz-lo "ver". Ver? relembrou ter perguntado, quando seus pais e o mdico lhe falaram pela primeira vez a respeito da nova tcnica desenvolvida pela medicina. Naquela ocasio, tinha nas mos seu brinquedo favorito: um modelo de nave estelar. Ao escutar a explicao, seus dedos sensveis acariciaram a superfcie lisa e bem conhecida do brinquedo, tateando cada milmetro e sentindo cada minscula irregularidade ou salincia de sua forma graciosa. Vou conseguir ver como todo mundo? Em muitos aspectos disse solenemente o Dr. Lenske voc ver melhor do que todo mundo. O suficiente para eu poder entrar na Academia da Frota Estelar? perguntara Geordi, tencionando seu pequeno corpo com sbita e imprevista esperana. Creio que sim respondeu o mdico. Contudo... Geordi, preciso ser sincero com voc. H um preo a pagar por sua nova viso. O VISOR um aparelho novo, e us-lo lhe causar dor.O menino enrijeceu o queixo. Ele sabia o que significava dor dor era o que acontecia sempre que a gente dava uma topada no dedo do p ou tropeava e caa, quando no estava usando a roupa sensora. Seus dedos apertaram com fora a rplica da nave estelar. No me importo disse ele, em voz baixa. Quero entrar para a Academia mais do que qualquer coisa no mundo. Quero ser oficial da Frota Estelar. Quero enxergar.Absorto em suas lembranas, La Forge recordou-se do que sentira ao deitar-se na maa antigravitacional e ser conduzido pelos reverberantes corredores at a sala de cirurgia. O perfume de sua me fora substitudo pelos discretos porm desagradveis odores do hospital. Sua me e seu pai haviam apertado sua mo com fora. Esse toque foi a ltima coisa de que se lembraria, alm do calor sobre suas plpebras, indicando haver uma luz forte brilhando sobre sua cabea.Quando acordou e colocaram-lhe o VISOR pela primeira vez, ele gritou em parte por causa da dor, mas principalmente devido ao atordoante choque das imagens que inundaram sua mente, retorcendo-se, oscilando e tremeluzindo. Cores. Ele estava vendo cores!Enquanto erguia-se da cama e caminhava pesadamente at o armrio para apanhar um par de calas comuns e uma camisa de manga curta, Geordi pensou: Ser que o que eu chamo de "vermelho" tem qualquer semelhana com o que as pessoas de viso normal chamam de "vermelho?"La Forge suspeitava que seu perturbador sonho de cegueira havia sido desencadeado no apenas pelo aniversrio de seu VISOR, mas tambm pela visita que fizera enfermaria na manh anterior. A Doutora Crusher o havia examinado, assegurando que ele estava em perfeita sade, e depois lhe perguntara se havia chegado a uma deciso quanto a manter seu VISOR ou permitir que ela e a Doutora Selar tentassem regenerar seu nervo ptico.Se eu tivesse uma viso normal, pensou La Forge, enquanto lavava o rosto e passava um pente no cabelo curto, no me preocuparia tanto com a impresso que meus olhos causam nas outras pessoas especialmente as mulheres quando estou sem o VISOR. Sentiu o rosto afoguear-se ao lembrar o modo como desconhecidos mal-educados reagiam ao v-lo, quando era criana. "Oh, coitadinho!" exclamara, certa vez, uma mulher. "Ele no consegue ver com esses olhos, no ?" perguntara um homem, em voz alta, como se Geordi tambm no pudesse ouvir.Por outro lado, se desistisse do VISOR para ter uma viso normal, perderia sua habilidade especial de "ver" o que as pessoas "normais" no conseguiam ver. Alm disso, ser cego e usar uma prtese visual eram parte da personalidade de Geordi La Forge tanto quanto sua carreira na Frota Estelar. Ser que ele gostaria de tornar-se outra pessoa?La Forge sabia que levaria pelo menos um ano para submeter-se ao tratamento de regenerao e aprender a ver como as pessoas normais. Ele tinha sido recentemente promovido a engenheiro chefe e fora recomendado pelo capito Picard por seu desempenho. Ser que desejava arriscar-se a perder tudo isso?Geordi suspirou fundo, cansado de se debater com perguntas que pareciam no ter uma resposta satisfatria. Por um instante, pensou em descer engenharia, mas a quase imperceptvel vibrao dos motores de impulso da Enterprise deu-lhe a certeza de que tudo estava funcionando perfeitamente. No seria preciso nada alm da fora de impulso para a tarefa que estavam cumprindo, enquanto a imensa nave mapeava e explorava aquele setor relativamente desconhecido da galxia.Sim, e no se esquea de que Sonya Gomez ficou responsvel pelo turno, lembrou-se Geordi. A pobre menina j est suficientemente nervosa. No vai querer que ela pense que voc confia to pouco na competncia dela, a ponto de precisar verificar o que ela anda fazendo.Alm do mais... ele no estava muito a fim de pensar em trabalho naquele momento. Queria conversar com algum. No de modo oficial. No era algo to importante a ponto de ter que procurar a conselheira da nave. Contudo... falar a respeito do assunto poderia afastar os medos do sonho que tivera, no qual ele se vira novamente cego.Calando um par de mocassins, La Forge saiu da cabine e virou esquerda no corredor. Tinha pensado em descer at o convs de recreao para conversar com Guinan. A enigmtica atendente era boa ouvinte, e uma bebida poderia faz-lo relaxar um pouco.Guinan deixava Geordi intrigado. Fora-lhe dito que a cor da pele dela era quase igual sua, e ele sabia que sua aparncia externa era praticamente humana, mas a viso especial de La Forge mostrava-lhe mais do que as pessoas normais conseguiam ver. Ele sabia que Guinan era aliengena humanide porm no humana. Sua temperatura corprea e as taxas de metabolismo a denunciavam, bem como outras diferenas que s ele conseguia detectar.A caminho do turboelevador, porm, o engenheiro chefe parou e franziu a testa. Devia haver amigos seus no convs de recreao, e Geordi realmente no estava a fim de se ver no meio de muita gente. A maioria de seus amigos mais chegados trabalhavam no mesmo turno e portanto deviam estar dormindo ...... com uma exceo, naturalmente.Sorrindo, La Forge virou-se e caminhou de volta pelo corredor, at a porta de uma cabine, e apertou a campainha. Entre disse uma voz. A porta se abriu e Geordi entrou. Data, sou eu disse La Forge, ao cruzar o quarto e dirigir-se pequena sala de estar. A sala tinha uma moblia normal, qual fora acrescentada um cavalete de pintor. Um terminal de computador piscava na parede. Sobre a escrivaninha, havia uma caixa de violino, que estava empurrada para um canto.O tenente comandante Data estava sentado escrivaninha, segurando nos dedos um instrumento pequeno e fino, que La Forge no reconheceu. O andride estava cercado por um halo dourado claro de energia, e seu corpo brilhava nas tonalidades laranja, amarelo e verde claro. As cores espalhavam-se de modo uniforme por todo o corpo, em vez de concentrarem-se no trax, como Geordi enxergava os humanos quando usava a poro infravermelha de sua viso. Ele sabia que o oficial artificialmente criado parecia bastante humano para seus companheiros de viso normal, com exceo de sua pele dourada e seus olhos reluzentes, mas o VISOR captava sua imagem de modo muito diferente.Data ergueu o olhar para o amigo que entrava, e colocou uma espcie de tampa no objeto que segurava. Ol, Geordi disse ele, com seu modo preciso e monotnico de falar. Oi, Data. O que isso a? Uma rplica perfeita de uma antiga caneta-tinteiro explicou o andride, erguendo o objeto. Uma o qu? Uma caneta-tinteiro. Percebendo que La Forge continuava sem entender, Data acrescentou atenciosamente: Um instrumento para se escrever mo. Voc quer dizer produzir um impresso escrevendo mo no papel? Para que voc quer fazer isso? perguntou La Forge, suspirando discretamente. Ele j conhecia o entusiasmo repentino de Data por certas coisas, e algo lhe dizia que era isso mesmo que estava acontecendo naquele instante. Para despertar minha musa disse Data. Um famoso escritor do sculo XX, cuja obra tenho estado a ler, declarou categoricamente ser impossvel produzir boa literatura por meios eletrnicos.Dessa vez La Forge suspirou bem alto. Estava a ponto de mencionar que ele mesmo, Data, funcionava por meios eletrnicos, bem como, em ltima anlise, os prprios humanos, mas conteve-se. Ahn, quer dizer que est produzindo literatura de prprio punho? Creio ter sido isso o que eu disse respondeu Data. Que tipo de literatura?Algo parecido com orgulho transpareceu na voz do andride. Estou escrevendo um romance. Oh conseguiu dizer La Forge, depois de uma pausa Ahn... bem... que timo, Data. Sobre o que fala seu romance? uma narrativa fictcia dos primeiros dias das viagens interestelares. Uma obra pica, cheia de paixo e nobreza, mas escrita num estilo acessvel ao grande pblico explicou Data. Como se chama? A obra ainda no tem ttulo. Estou certo de que terei a inspirao para um ttulo apropriado antes da publicao do livro. Publicao? Geordi estava estupefato. Voc j vendeu esse livro? No. Ainda no o terminei e por isso no o submeti apreciao de um editor. Mas, quando o momento chegar, tenho certeza que ser digno de ser publicado disse Data, sem emoo. Afinal de contas, analisei mais de quinhentos anos de literatura humana, estudando seus temas e componentes mais bsicos. Estou certo de que posso igualar, ou talvez superar, a qualidade das obras de fico que j foram publicadas at recentemente. Ahn... claro disse La Forge, sem muita convico. Ele tivera uma amiga na Academia, Laura Wu, que tentara publicar vrios contos sem nunca conseguir. Desiludida, ela acabou abandonando suas aspiraes. Quer que eu leia a cena que estou revendo agora? perguntou Data.Geordi detestou a idia, lembrando-se das vezes que tentara ler e comentar os trabalhos de Laura. Somente conseguira magoar-lhe os sentimentos e causar ressentimentos. Claro disse em voz alta, conseguindo simular um entusiasmo bastante convincente. Muito bem. Data apanhou uma folha de papel de modo bastante afetado. Pigarreou, tentando limpar a garganta de modo teatral, mas conseguindo apenas uma espcie de grunhido artificial. Esta cena ocorre entre Fritz e Penlope, meus dois protagonistas. Eles esto na base estelar Luna, sob um dos domos de observao. Um ambiente muito romntico para uma cena de amor, no concorda? Penlope est perturbada porque Fritz partir no dia seguinte em sua nave, e ela teme nunca mais v-lo novamente. Data comeou a ler:"As pontiagudas montanhas lunares perfuravam o negror do cu crivado de estrelas, como diapases vibrando ao som da msica das esferas celestes. Penlope voltou-se para Fritz com lgrimas escorrendo pelo rosto, borrando-lhe a maquiagem e avermelhando seus olhos normalmente to belos quanto safiras. Temos apenas esta noite sussurrou ela. Amanh, voc ter partido, e nunca nos veremos de novo.Be a tomou nos braos com fora, fazendo com que ela expulsasse o ar dos pulmes ao comprimir-lhe o abdmen. Eu voltarei prometeu ele. Nossa jornada pode levar anos, mas prometo que voltarei. Vai esperar por mim, querida? No tenho outra escolha disse ela. Quando estou a seu lado, sinto-me transtornada. Minhas pernas ficam bambas, o sangue corre loucamente pelas minhas veias, todo o meu corpo formiga s de estar prximo do seu. Por que s voc consegue fazer-me sentir assim? Essas reaes no so incomuns, Penlope. So meros sinais fisiolgicos da excitao sexual na fmea humana murmurou Fritz, enquanto se apossava, ou melhor saqueava seus lbios entreabertos.Elaa gemeu, quando ele ... "

Ahn... Data interrompeu Geordi, acenando a mo para chamar a ateno do amigo. Espere um pouco. No sou escritor, mas tem algo estranho no modo como Fritz fala com ... ahn, Penlope, era esse o nome dela? Bem, um ser humano do sexo masculino jamais ficaria listando todos os sintomas fsicos da... paixo. Ele simplesmente beijaria a moa. Mas ela fez uma pergunta explicou Data. Quando se faz uma pergunta, espera-se uma resposta. Bem, geralmente isso e verdade, mas num caso como esse, o tal do Fritz, ou qualquer homem, no perderia tempo fazendo um discurso para esclarecer a mocinha. Ele a beijaria e continuaria da para a frente.Data olhou para seu critico com desnimo crescente. isso o que ele faria? Acha mesmo? Bem, no me considero a maior autoridade do universo em cenas de amor na lua, mas, sim, tenho certeza que sim. La Forge sorriu com malcia Se quer algum que certamente e um expert no assunto, procure o comandante Riker. Vou corrigir essa parte prometeu Data, solenemente. Mas, com exceo disso, que achou do texto?Geordi hesitou. Para ser sincero, tinha achado tudo muito ruim. No podia, contudo, dizer a verdade. No queria magoar os sentimentos de Data, supondo que o andride tivesse sentimentos que pudessem ser magoados. Data certamente parecia quase humanamente orgulhoso de sua produo literria. Bem ... comeou a dizer. Acho que definitivamente poderia dizer que ... interessante. Sem dvida muito interessante. Poderia ser mais especfico a respeito do que gostou e do que no gostou? Que emoes foram despertadas em voc?O engenheiro chefe gemeu internamente. Bem, eu...La Forge foi salvo por um apito do intercomunicador da cabine de Data Tenente comandante Data? era a voz do oficial da ponte, o alferes Whitedeer. Data falando respondeu o andride. Estamos recebendo uma mensagem do comando da Frota Estelar, senhor. Onde esta o capito? Em seus alojamentos, senhor. E o comandante Riker? No Holodeck trs, senhor.O andride ergueu-se, arrumando o uniforme e tampando rapidamente a caneta. Estou a caminho da ponte, alferes. Sim, senhor.Geordi j estava a meio caminho da porta, profundamente agradecido por ter sido dispensado do papel de crtico literrio. Vou vestir meu uniforme e dou uma passada por l para saber qual o agito. "Agito"? repetiu Data. Depois, fez que sim com a cabea. Ah, j sei. Voc quer dizer "qual o agito?" como quando diz "o que est acontecendo?", "o que se passa?", "o que que h?", "qual , meu?"... Voc entendeu, Data exclamou La Forge, quando a porta da cabine do andride se abriu. Vejo voc na ponte.Quando La Forge, novamente cm seu uniforme amarelo escuro e preto, chegou ponte, encontrou o comandante William Riker, que chegara antes dele. Se Data havia chamado Riker, isso queria dizer que a mensagem era mais do que uma simples comunicao de rotina. Geordi foi verificar os monitores do posto de engenharia da ponte, mantendo o ouvido atento para qualquer indcio do que estava acontecendo.Pouco depois, o prprio capito Jean-Luc Picard apareceu, impecavelmente vestido e bem arrumado como sempre, mas Geordi teve a impresso de que o comandante da Enterprise havia sido despertado de um sono profundo. O engenheiro esperava apenas que a misteriosa mensagem fosse suficientemente importante para justificar a quebra da rotina de todos os integrantes do turno. O comando da Frota Estelar muitas vezes fazia tempestade em copo d'gua.Picard leu silenciosamente a mensagem, depois ergueu-se. Comandante Riker, Sr. La Forge, Sr. Data, queiram acompanhar-me sala de conferncias disse ele, com a costumeira dico impecvel e o semblante impassvel. Sr. Crusher, assuma as comunicaes.Geordi relaxou um pouco ao caminhar para a sala de conferncias. O capito raramente deixava transparecer qualquer indcio de seu sotaque natural francs, que aparecia somente quando ele estava profundamente aborrecido ou preocupado. Isso no havia acontecido naquele momento. Obviamente no se trata de uma invaso romulana em larga escala, concluiu o engenheiro chefe. Novas ordens, talvez. Mas no terminamos de mapear este setor... o que significa que, seja o que for, deve ser algo suficientemente importante para tirar-nos de uma misso ainda no concluda.Depois de sentarem-se ao redor da mesa da sala de conferncias que ficava atrs da ponte de comando, uma sala confortvel cuja moblia neutra era eclipsada pela estupenda vista das estrelas, os oficiais superiores da ponte esperaram o oficial comandante manifestar-se. Recebemos ordens de investigar um problema ocorrido na recm inaugurada rota comercial que passa pelo setor 3SR-5-42, ligando o territrio da Federao ao Imprio Klingon comeou Picard. O nico planeta habitado nas redondezas Thonolan Quatro, uma colnia andoriana recm instalada. O comando da Frota Estelar notificou-me o desaparecimento de vrios cargueiros da federao em curso por esse setor. Eles sumiram sem deixar qualquer rastro aparente. Houve trs naves desaparecidas nos ltimos seis meses.Xii, pensou La Forge. Parece que l vem encrenca. Est com cara de uma misso do tipo "estiquem o pescoo para fora da trincheira para ver o que acontece". Ontem, o Alto Comando Klingon perdeu contato com uma de suas naves: o cruzador klingon PaKathen. Temos ordens de investigar seu desaparecimento c, se possvel, resgatar o PaKathen.Picard voltou-se para Data. Sr. Data, a partir de nossa atual posio, quanto tempo levaremos para chegar ao setor 3SR-5-42, em velocidade mxima de cruzeiro? Quatro dias e sete horas, capito respondeu o andride, quase imediatamente. Partiremos s mil e trezentas horas, assim que encerrarmos as operaes aqui Picard olhou para os presentes, com uma expresso sombria. Algum comentrio ou pergunta?O comandante Riker acenou com a cabea. Pelo que entendi, algumas naves passaram por essa regio sem qualquer incidente, estou certo? Correto, Imediato. Ento sugiro que consultemos os dirios de bordo de algumas dessas naves. Talvez uma delas tenha percebido algo que nos d uma pista do que aconteceu s naves desaparecidas. Concordo, Imediato. Pea ao comandante Data que inicie essa pesquisa assim que estivermos a caminho. Picard fitou o segundo em comando pensativamente. Comandante Riker, qual a situao atual de nossa misso de mapeamento? Estamos Riker sorriu com malcia estvamos na metade, senhor. Instrua sua equipe cientfica para que interrompa o trabalho e transmita todos os dados obtidos ao comando da Frota Estelar. Lembre-se, partimos em uma hora. Picard inclinou a cabea para seus oficiais mais graduados Dispensados.A tenente Selar observava a pequena criana de pele azulada que vestia um brilhante casaquinho preto e andava de modo hesitante em direo parede, at que ela parou subitamente. Distncia da parede? perguntou Selar. Um metro e trinta centmetros, como voc disse respondeu a menininha. Excelente disse Selar. Voc est ganhando confiana. Fica mais fcil a cada vez que procuro combinar os sinais de minha rede sensora com as sensaes de minhas antenas. Esta rede sensora bem melhor do que a outra que eu tinha. A menina voltou-se para a mdica vulcana, com seus plidos olhos fitando fixamente um ponto acima da cabea de Selar. Obrigada por ensinar-me a us-la, Doutora Selar.A vulcana sacudiu negativamente a cabea, esquecendo-se momentaneamente de que a criana andoriana no podia ver seu gesto. Esse o meu trabalho, Thala. No necessrio agradecer algum pelo simples cumprimento de seu dever.A criana sorriu de repente, de modo travesso. Voc passou mais tempo comigo do que devia, eu sei. Ouvi a Doutora Crusher dizer isso durante meu ltimo exame mdico. Ela achou que eu no estava ouvindo, mas eu estava.Selar ergueu uma sobrancelha, surpresa. Tenho que avisar a Doutora Crusher para ter mais cuidado com a sua acuidade auditiva.A pequenina menina enrugou subitamente o rosto azulado, sob seu cabelo e antenas brancas. Oh, no. Eu fiz de novo, no foi? Wesley costuma dizer que minha boca se move em dobra espacial enquanto minha mente ainda est em velocidade de impulso.A vulcana concordou intimamente que a metfora era bem aplicada, mas o riso no transpareceu em seu rosto bem treinado. Quanto mais praticarmos o uso da rede sensora antes de aportarmos na prxima base estelar, onde voc tomar um transporte para seu planeta natal, mais fcil ser para voc utiliz-la.Thala fez que sim com a cabea, contendo as emoes como uma vulcana. Por um momento, Selar arrependeu-se de ter mencionado a iminente partida da criana, mas reprimiu os sentimentos. Ela tinha que se acostumar com a idia de que em breve partiria para crescer em um planeta que jamais conhecera.A menina andoriana havia nascido no espao. Seu pai, Thev, era um embaixador andoriano que viajava a trabalho diplomtico. A me de Thala, especialista em lnguas, morrera seis anos antes, quando sua filha tinha apenas um ano de idade, de uma virose que contrara. O pai da menina tinha morrido havia cinco semanas, sendo uma das dezoito vtimas fatais do ataque dos borgs.Thala estava sozinha, e as leis determinavam que deveria ser enviada de volta para a famlia o mais breve possvel.Desde a morte de Thev, a tenente Selar havia tentado dizer a si mesma que Thala estaria melhor com seus parentes, mas preocupava-se com o futuro da criana. A vida a bordo de uma nave estelar era muito diferente da vida na superfcie de um planeta especialmente no planeta natal dos andorianos.Os andorianos eram uma raa temperamental, no to avanada tecnolgica e socialmente quanto os vulcanos ou mesmo os terrqueos. Apegavam-se a suas antigas tradies, fundamentadas em seu passado brbaro e sanguinrio. As fraquezas e deficincias no eram encaradas com tolerncia, mas como uma vergonha para a famlia. Alguns cls andorianos, segundo os boatos, ainda sacrificavam as crianas nascidas imperfeitas. A verdade era que Selar, em seus quinze anos de prtica mdica na Frota Estelar, jamais havia encontrado um andoriano com qualquer tipo de deficincia fsica.Como Thala seria tratada pelo seu povo? No ano anterior, Selar havia trabalhado com a Doutora Pulaski e depois com a Doutora Crusher, quando esta retornou ao servio, realizando testes e exames em Thala para que ela recebesse um VISOR muito semelhante ao que o tenente comandante La Forge usava. O implante de sensores e a calibrao de um VISOR jamais tinham sido realizados em um andoriano. Selar tinha feito grande parte do trabalho sozinha, com a ajuda e conselhos de La Forge.Se Thala partir, perguntou-se Selar, ser que seu cl providenciar para que a criana receba os melhores cuidados mdicos a fim de um dia "ver" da mesma forma que o engenheiro chefe? Em seu ntimo, a vulcana tinha suas dvidas.Alm disso, havia algo no qual Selar vinha trabalhando com o Doutor Pulaski no setor de desenvolvimento: substitutos bioeletrnicos para partes do corpo. J se descobrira um modo de implantar olhos bioeletrnicos no tenente comandante La Forge, para que ele tivesse uma aparncia normal supondo que ele no desejasse tentar a regenerao do nervo ptico. Mas o engenheiro chefe havia recusado a oferta, porque a retirada de seu VISOR significaria a perda de uma porcentagem significativa de seu espectro especial de viso.Mas para Thala, que nunca havia experimentado a viso ampliada proporcionada pelo VISOR, no seria ideal ter olhos bioeletrnicos? Eles enxergariam e funcionariam de modo mais semelhante viso normal, mas dariam menina a capacidade de "ver" um espectro maior. Alm disso, com eles a pequena andoriana no precisaria sofrer a dor constante que La Forge sentia.Selar suspirou em voz alta, e Thala voltou-se cm sua direo, surpresa. Est cansada, Doutora? Podemos parar com a aula, se quiser. No, absolutamente disse a vulcana. Mas estamos na hora do almoo. Ela ergueu-se graciosamente. Era uma mulher alta e magra, com cabelos negros e curtos, e uma franja que quase tocava suas sobrancelhas oblquas, deixando mostra suas elegantes orelhas pontudas. A doutora tinha por volta de quarenta anos, sendo ainda bastante jovem pela contagem de seu povo, e suas feies marcantes eram bastante atraentes, apesar de sua pouca mobilidade. mesmo. E eu estou com fome disse Thala. Ela hesitou um pouco, depois perguntou em voz baixa Terei outra aula com a senhora amanh, doutora?Selar hesitou, notando a admirvel maneira com que a menina procurava disfarar a ansiedade em sua expresso. Creio que sim disse ela. A menos que haja uma emergncia inesperada na enfermaria. Algo na expresso tristonha da menina fez Selar perguntar Gostaria de acompanhar-me at o convs de recreao para almoar comigo? No tenho outros compromissos no momento. Posso mesmo? disse Thala, abrindo um grande sorriso e esticando as antenas de alegria. Isso seria timo! Muito obrigada, doutora! No precisa me agradecer disse Selar. Ambas precisamos comer, e uma companhia agradvel nas refeies auxilia na digesto. A criana aproximou-se dela, com passos hesitantes. Ela ainda no aprendeu a usar bem sua nova rede, pensou a vulcana. melhor no atrapalhar seu progresso por causa de um escorrero ou tropeo.Por isso, quando Thala chegou perto dela, a doutora segurou-lhe a mo. Venha, ento, vamos subir juntas.Os pequenos dedinhos azuis apertaram os plidos dedos esverdeados, e elas saram juntas da cabine da menina e seguiram pelo grande corredor, com Selar dirigindo discretamente a menor. Atravs do contato fsico, a mdica conseguia perceber telepaticamente o prazer sentido por sua companheira e o entusiasmo pela perspectiva de passarem mais algum tempo juntas. Depois do almoo, voc pode me atualizar a respeito do progresso de seus estudos disse a vulcana enquanto caminhavam.Thala fez que sim com a cabea. Tenho estudado muito, e com esta nova rede vai ser muito mais fcil trabalhar com o computador, doutora. J nos conhecemos h um vrgula quatro anos observou Selar, olhando para as feies sinceras da menina. No mesmo? verdade concordou Thala, sria. Desde que a senhora comeou a trabalhar com a Doutora Pulaski para ajudar-me a ver melhor. Eu era apenas uma menina naquela poca disse ela, esticando-se para ficar mais alta. Os lbios de Selar retesaram-se num sorriso discreto. E agora voc j est muito mais velha, no ? Thala concordou com a cabea. Nesse caso prosseguiu a vulcana como j somos quase da mesma idade, talvez esteja na hora de voc comear a chamar-me por meu nome. Poderia chamar-me de Selar, por favor?A criana inclinou a cabea, de modo formal, e segurou com mais fora a mo da professora. Ser uma honra, Selar disse a menina, em voz baixa.O tenente comandante Data estava sentado diante do console do computador de sua cabine, repassando o registro de todas as naves que haviam cruzado o Setor 3SR-5-42 nos ltimos cinco anos. A rota de comrcio entre Thonolan IV e a Federao no existia at um ano antes, tampouco a que ligava a Federao ao Imprio Klingon, mas algumas naves entraram no setor, na maior parte pequenos cruzadores e cargueiros particulares.Alm disso, como Data havia acabado de descobrir, quinze vrgula quatro por cento das naves desapareceram sem deixar qualquer vestgio.As viagens espaciais ainda eram um empreendimento arriscado por natureza, mas Data sabia que esse percentual era mais alto demais para os riscos comuns encontrados nas viagens interestelares. No entanto, nenhum dos dirios de bordo das naves que haviam conseguido passar pelo setor em segurana relatava qualquer coisa fora do comum.O andride passou mais uma vez os olhos pelos registros, procurando qualquer tipo de informao que pudesse relatar a Picard, mas no havia nada. Piratas renegados? Pensou ele, afastando imediatamente a idia. Seria improvvel num local to afastado das rotas espaciais. Qualquer que fosse o carregamento roubado no compensaria o combustvel e o tempo gastos para transport-lo at um planeta onde pudesse ser revendido, como Arcturus VI, cujo governo planetrio era complacente para com as atividades clandestinas e a lavagem de crditos.As feies plidas de Data permaneceram serenas ao levantar-se da cadeira e caminhar lentamente pela cabine. Muitos humanos alegavam que esse tipo de movimentao os ajudava a pensar mais claramente. O andride no via muita lgica nisso, mas imaginou que poderia testar empiricamente o fato. Talvez devesse tambm apanhar um cachimbo e seu chapu de caa, das aventuras de Sherlock Holmes do holodeck.Enquanto caminhava pela cabine, Data viu a caneta tinteiro e as pginas que enchera com sua caligrafia perfeita. Uma sbita lembrana de sua conversa com La Forge passou de relance na mente do andride. Geordi no havia mostrado tanto entusiasmo pelo livro que Data estava escrevendo quanto ele esperava. Talvez o engenheiro no conhecesse muito de fico.Ou podia ser que o que Data tinha escrito no estivesse muito bom. Talvez, como em muitas outras coisas, Data tivesse deixado de entender algo intangvel, que faria sua obra compreensvel e agradvel para um pblico humano. Era possvel que tivesse fracassado novamente.O andride decidiu que precisava de outra opinio, talvez duas ou trs.Com resoluo, ele voltou sua ateno novamente para a anlise de todos os registros que havia acessado em sua pesquisa, verificando se no havia deixado escapar nada nem menosprezado coisa alguma. Seu crebro positrnico era extremamente meticuloso e preciso, mas Data no era um computador e seria remotamente possvel que viesse a cometer um erro.Mas no daquela vez, concluiu ele, um minuto depois. No havia deixado escapar nada. Tampouco havia dados suficientes para formular uma hiptese, por mais remota que fosse.Data deixou a cabine e seguiu resolutamente para a ponte, a fim de apresentar seu relatrio ao capito. Ele sabia que Picard no ficaria satisfeito, mas no poderia colocar a culpa em seu oficial andride. Jean-Luc Picard esperava resultados quando estes eram possveis, nunca admitindo desculpas, mas era um homem justo que reconhecia um mistrio real quando se deparava com ele.E era exatamente isso que tinham pela frente naquele momento. Algo estava l fora, mas no havia como especular o que poderia ser. A Enterprise e sua tripulao teriam que descobrir por experincia prpria.DoisA tenente Selar sentou-se em sua cabine, relendo a mensagem pessoal que havia recebido pelo canal subespacial antes de a Enterprise ter entrado em velocidade de dobra, a caminho de sua tarefa prioritria. A mensagem dizia:Em reconhecimento a suas importantes publicaes de pesquisa e longa experincia no desenvolvimento de prteses bioeletrnicas, em particular no campo da xenobiologia, os Diretores da Academia Vulcana de Cincias convidam Selar, atualmente ocupando o cargo de tenente da Frota Estelar, designada presentemente equipe mdica da U. S. S. Enterprise, NCC-1701-D, para o cargo de Diretora de Pesquisa Bioeletrnica da Academia Vulcana de Cincias.A mdica vulcana precisou reprimir fortemente uma onda de orgulho puramente egosta ao terminar de ler pela terceira vez o comunicado. Oportunidades como essa somente ocorriam uma vez na vida das pessoas, quando muito. Logicamente ela iria aceitar o cargo com bastante entusiasmo.Selar imaginou como seria voltar para Vulcano depois de passar quinze anos fora do planeta. Ela estava satisfeita e realizada com sua vida a bordo da nave estelar. Sabia que estava realizando um trabalho essencial, sabia que era necessria; e ser til era a meta almejada pela maioria dos vulcanos, desde os dias de Surak, que costumava dizer: "A vida sem um propsito benfico vazia. O que se entende por um propsito benfico? aquele que se ope progresso da entropia no universo".Como diretora de pesquisa bioeletrnica na Academia Vulcana de Cincias ela poderia fazer bem mais. Poderia desenvolver procedimentos para a implantao de prteses bioeletrnicas em diferentes espcies, para que houvesse mtodos estabelecidos que os mdicos de toda a Frota Estelar e da Federao pudessem consultar. Crianas como Thala poderiam ser ajudadas, quer tivessem ou no o privilgio de morar a bordo de uma nave estelar.Selar ergueu-se da cadeira e caminhou lentamente pela cabine, passando os olhos pelos objetos de arte e curiosidades que havia juntado durante seus quinze anos na Frota Estelar. Ela havia sido integrada Frota apenas poucos dias depois de ter terminado a residncia na faculdade de medicina, e nunca mais havia voltado para casa.Apertou nos dedos uma pea polida de madeira petrificada de Komeera VII. Como seria voltar para sua terra natal? Rever a famlia? Ser que eles conseguiriam esquecer o que se passara? Ser que ela conseguiria faz-lo?Selar enrijeceu os lbios ao imaginar o rosto do pai, da me, dos avs e primos. Os hologramas mostravam imagens limitadas. Ser que eles teriam mudado tanto quanto ela?A tenente era de uma famlia muito tradicional; seu cl era muito antigo e orgulhoso de sua linhagem. Desaprovavam muitas das mudanas que ocorreram em Vulcano depois que o planeta se havia filiado Federao. Como a maioria das famlias tradicionais vulcanas, Selar havia assumido um contrato de casamento aos sete anos, tendo sua mente unida a de um menino que no futuro viria a tornar-se seu marido. O noivado da menina a Sukat havia sido considerado pela famlia como muito promissor. A famlia de Sukat, apesar de no to antiga quanto a sua, era muito mais rica e influente.Enquanto cresciam, as duas crianas encontravam-se ocasionalmente, mas excetuando-se o tnue e facilmente ignorado elo mental que os unia, ela pouco sabia a respeito do menino com quem se casaria um dia no Koon-utkal-if-fee. Sukat era simplesmente parte do futuro distante, que estava muito afastado de sua existncia cotidiana.Desde a juventude, Selar tivera o desejo de tornar-se uma curadora. Salvar vidas e aliviar o sofrimento parecia-lhe a mais nobre das misses da vida. Ela estudou muito, mostrando-se uma aluna excepcional, mesmo pelos padres vulcanos. Aos dezessete anos de idade, ela foi aceita cm uma boa escola e comeou a estudar medicina.Um ano depois, Sukat comeou a estudar na mesma escola. Ela o via freqentemente, pois tinham diversas aulas e sesses de laboratrio cm comum. E sentavam-se prximos um do outro no almoo ou no jantar. Pela primeira vez, Selar comeou a conhecer melhor seu noivo ...... e descobriu que no gostava de Sukat. A idia de passar quinze ou dezesseis dcadas como esposa dele parecia-lhe intolervel.Suas personalidades simplesmente no eram compatveis. Selar tinha vivida curiosidade pelas outras espcies, inclusive os humanos, compreendendo e apreciando as diferenas existentes entre as culturas. A xenobiologia era uma matria que a fascinava. Ela respeitava e seguia os princpios da IDIC, a crena vulcana que exigia reverncia pela Infinita Diversidade em Infinitas Combinaes.Sukat, por sua vez, considerava todo ser no-vulcano automaticamente como inferior, em termos intelectuais, fsicos e ticos. Selar reconhecia que, em muitas ocasies, ele estava certo em suas suposies, mas nem por isso estava livre de ser considerado o que os humanos teriam, centenas de anos antes, chamado de preconceituoso.Selar queria conhecer planetas distantes e as maravilhas existentes entre as estrelas, mas Sukat considerava as viagens um estorvo infreqente porm muitas vezes necessrio.A nica coisa que tinham em comum era a ambio. Selar aspirava tornar-se uma lder cm seu campo profissional algum dia, o mesmo ocorrendo com Sukat. Selar, porem, levava uma pequena vantagem como estudante e durante a residncia mdica ela recebeu mais menes honrosas do que ele de seus mentores. Sukat reagiu ao sucesso de sua futura esposa como se ela tivesse deliberadamente decidido humilh-lo. No entanto, quer por palavras ou por aes, ele nunca demonstrou esses sentimentos, mas Selar sabia o que ele pensava.Durante o ltimo ano de seu noivado, Sukat confidenciou a sua prometida que desejava ter uma grande famlia e considerava o fato de atrasar a procriao devido carreira da esposa como algo imprprio. Ele argumentava que, afinal de contas, era bem mais lgico que as fmeas procurassem desenvolver sua carreira depois que os filhos estivessem alcanado a idade da independncia, em vez de interromp-la em um momento crucial devido ao aumento de responsabilidades em relao criao dos filhos.Selar no concordava. Parecia-lhe prefervel estabelecer primeiro um firme alicerce para sua carreira, depois ambos os pais dividirem as responsabilidades da criao dos filhos. Mas ela nunca manifestava sua opinio. Naquela altura ela j sabia, sem ter que perguntar, qual era a reao de Sukat para com os que discordavam dele. Por fim, quando a formatura para o ttulo de "Curadora" estava se aproximando, e a data de seu casamento marcada, Selar sabia que no poderia prosseguir com o casamento.Desapaixonadamente, ela informou sua deciso famlia. Eles ficaram to desapontados quanto ela previra. Lembraram-lhe que seu casamento com Sukat era algo eminentemente lgico. Eram um casal perfeito em termos sociais, educacionais e genticos. Disseram a Selar que ela estava sendo tola e que todo o trabalho que tivera junto aos humanos tinham-na contaminado.A jovem vulcana, porm, mostrou-se inflexvel. Ela no se casaria com Sukat. Ela procurou a famlia dele e informou-lhes de sua deciso. Eles reagiram no com desapontamento mas, sim, com desprezo e um mal-disfarado alvio por Sukat no se casar com uma pessoa to ilgica e imatura.Com os lbios rgidos e o rosto empedernido, Selar saiu da bela casa designada famlia de Sukat e foi procur-lo em seu apartamento. A lembrana daquela visita ainda estava vivida em sua mente, no tendo desaparecido com o passar dos anos...Sukat encarou-a inexpressivo, mas por meio de seu elo mental ela pde sentir seu desapontamento. Deve haver um engano, disse ele, sem emoo, enrijecendo suas belas feies. No se desfaz um elo sem um bom motivo.Eu tenho um bom motivo, replicou ela imediatamente.Mas voc acabou de dizer que sou plenamente aceitvel, em termos fsicos e mentais, e que no devo considerar sua deciso como uma rejeio a minhas qualidades como futuro companheiro, disse ele, parecendo irritado e um pouco chocado. Se isso for verdade, ento que outro motivo poderia haver para essa rejeio?Tenho meus motivos, repetiu Selar em voz baixa.Posso saber quais so? perguntou ele, com fria arrogncia na voz. Atravs do elo mental ela sentiu sua desaprovao.No tem nada a ver com voc, algo pessoal; por isso no achei relevante contar-lhe por que no quero me casar com voc, disse ela aps algum tempo.Mesmo assim, quero saber o motivo. Tenho esse direito, insistiu ele.Muito bem, disse ela. Pela primeira vez, ela hesitou, desviando o rosto do firme olhar com que ele a encarava. No creio que sejamos ... compatveis, murmurou ela.Compatveis? Sukat ergueu uma sobrancelha. O que a compatibilidade tem a ver com tudo isso? Parece uma humana falando, com todo aquele palavreado a respeito do amor! Que coisa mais ilgica ... Ele procurou as palavras certas. Isso totalmente ... ridculo!No creio que seja ridculo ou ilgico que marido e mulher se sintam bem e satisfeitos na companhia um do outro, insistiu ela. Creio que essencial para o bem-estar mtuo, bem como para o de seus descendentes.Sinto-me bem a seu lado.O momento havia chegado. Ela havia desejado que ele no chegasse at aquele ponto; mas naquele momento a nica soluo seria dizer a verdade.Mas eu no me sinto bem em sua presena, declarou ela categoricamente. Quando estamos juntos, meu nico desejo afastar-me de voc. A idia de ... intimidade fsica ... entre ns dois no algo que eu consiga desejar. Ao terminar, Selar desejou que a conversa tivesse terminado; quis sair dali, para o ar livre, ficando sob o claro cu que estava mais vermelho do que nunca aps o surgimento do planeta companheiro de Vulcano no horizonte.Como pode dizer isso? perguntou ele. Voc mesma me disse que sou algum que a maioria das fmeas consideraria extremamente desejvel. Sua reao totalmente ilgica.Talvez minha reao seja ilgica, Sukat, admitiu ela. Pois que seja No me casarei com voc. Vamos terminar por aqui.Como voc tola, TPara, disse ele secamente. Ainda bem que estou livre de voc.Meu nome no mais esse, respondeu ela, quase sem se dar conta do insulto, de to aliviada que estava por terminar a conversa. O prefixo 7" somente se aplica a mulheres comprometidas, e isso algo que j no sou mais.Escolhi um novo nome, pelo qual serei conhecida na equipe mdica da Frota Estelar. A partir de amanh serei a alferes Selar. Vou desfazer o elo e peo-lhe que faa o mesmo.Sem dizer mais nada, ela aprofundou-se em sua prpria mente, sabendo que Sukat estaria suficientemente zangado para obedecer, e rompeu o elo mental. Depois, sentindo-se estranhamente nua mas euforicamente livre, virou-se e saiu...Selar despertou de seu devaneio com um sobressalto ao ouvir o som de seu intercomunicador. Repreendendo-se mentalmente por deixar-se levar por antigas recordaes, apertou o boto para ativ-lo. Tenente Selar falando.O belo rosto da Dra. Beverly Crusher, emoldurado por seu cabelo da cor do cu de Vulcano, encheu a tela. Selar, acabei de receber ms notcias a respeito de Thala disse ela sem rodeios.A vulcana reprimiu uma onda de ansiedade, hbito adquirido aps anos de controle, e manteve o rosto impassvel. Ela se feriu? Oh, no foi nada disso assegurou Crusher. Sinto muito, creio que me expressei mal. Fisicamente Thala est muito bem. Mas acabo de receber uma mensagem de sua famlia a respeito dela. Sim? Seu cl no a quer de volta. Eles alegam no ter condies de cuidar de uma criana invlida. Beverly Crusher enrijeceu os lbios com amargura. Foram bastante frios a esse respeito. Disseram que no querem Thala e no se importam com o que acontea com ela. O que o regulamento determina em casos como esse? A mdica ruiva suspirou. Sinto dizer que as regras so bastante especficas. Se no houver uma famlia para a qual a criana possa ser encaminhada, ela ser levada at o planeta mais prximo em que a populao majoritria seja de seu povo, onde ser deixada aos cuidados das autoridades planetrias como rf. A mdica balanou a cabea negativamente. No caso de Thala, creio que esse planeta seja Thonolan IV.Selar sentiu uma pontada de angstia ao pensar que dentro de alguns dias no voltaria a ver a menina novamente. Mas o povo de Thonolan IV tampouco desejar receb-la lembrou Selar. Mas tero que aceit-la. Suponho que acabar sendo adotada. Ou acabar em um orfanato disse Selar bruscamente. Espero que no. Crusher estremeceu diante da idia. Oh, meu Deus, espero que no. Thala e uma menina to inteligente! No existe uma alternativa legal? perguntou Selar. Se algum estivesse disposta a pagar sua passagem para a Terra, ou para Vulcano, ser que isso seria permitido? Mesmo que Thala no tenha ningum da famlia ali, posso assegurar que um orfanato cm Vulcano seria muito melhor para ela do que qualquer um que haja em Thonolan IV, ou em qualquer planeta andoriano. Os vulcanos do valor s crianas, e Thala no seria exceo. Sua mente seria estimulada em meu planeta. Ela seria bem tratada e receberia excelente educao. No sei se teramos permisso de envi-la a qualquer outro lugar disse Crusher, desanimada. Vou perguntar ao tenente Greenstein. Ele o especialista em regulamentos. Por favor, faa isso disse Selar. Enquanto isso, sugiro que no conte nada a Thala. No h motivo para ench-la de preocupaes sobre seu destino. Concordo plenamente.Muito tempo depois de a imagem de Beverly Crusher ter desaparecido do visor, Selar continuava a fitar a tela escura. No justo, pensou ela, recordando-se do riso de Thala, no dia anterior, enquanto a menina comia a sobremesa. Uma mancha de gelatina de laranja no canto da boca contrastava ridiculamente com sua pele azul. Voc tem tanto para oferecer, se apenas lhe dessem uma chance...A mdica vulcana suspirou, lembrando a si mesma que o universo no primava nem nunca primara pela justia. Comandante Riker... pode me dar licena? perguntou Data ao preocupado primeiro oficial, assim que as portas do turboelevador comearam a fechar-se.O homem alto, cuja barba realava a bela fisionomia, voltou-se na direo da voz. Espere, elevador ordenou ele. Abra as portas. O elevador obedeceu. Sinto muito, Data disse William Riker quando o andride entrou no elevador. Eu estava pensando. Prossiga, elevador ordenou. Compreendo plenamente disse Data, quando o elevador comeou a subir com um sibilo. Eu tambm estive tentando fazer uma estimativa do que nos espera cm nosso destino. o quadrante errado para piratas, e muito longe da zona neutra para serem romulanos. Klingons renegados? sugeriu Riker. Talvez eles tenham enviado mais daquelas naves hibernantes alm das que Worf e K'ehleyr conseguiram interceptar. Talvez disse Data. Mas se for esse o caso, ento por que no saram daquele setor? Por que se contentaram em atacar umas poucas naves mercantes? A honra klingon de um sculo atrs exigiria um ataque ao espao e s naves da Federao.Riker deu de ombros. Voc est certo. O turboelevador parou. Estou indo para a engenharia para uma inspeo. E voc? No momento, para nenhum lugar em particular disse Data. Will Riker notou que Data estava carregando algo na mo. Acho que irei para a ponte, pois meu turno comea cm uma hora. Mas, comandante... o andride interrompeu o que dizia, numa hesitao quase humana.Riker olhou-o com curiosidade. H algo que o preocupa, Data? Quero dizer, alm de nossa misso? Para ser franco, sim, senhor. O andride pareceu tomar coragem. Gostaria de saber sua opinio a respeito de uma obra de fico. No sou o melhor especialista em literatura, Data avisou Riker. O capito tem muito mais conhecimento do que eu nesse assunto.Riker e Data saram do turboelevador e caminharam juntos pelo corredor. No preciso de conselho para a escolha de material de leitura, senhor disse Data. A obra em questo fui eu mesmo que escrevi. Oh disse Will. Percebendo a falta de entusiasmo em sua prpria voz, acrescentou de modo bem-humorado Bem, uma honra ter um escritor iniciante em nosso meio. O que deseja que eu faa?O andride entregou uma folha de papel a Riker. Simplesmente que leia isto aqui e me diga a sua opinio sincera.O segundo em comando da Enterprise encostou-se na parede de metal enquanto lia lentamente a cena manuscrita. Ele cocou o queixo, pensativamente, enquanto procurava as palavras certas, e por fim disse: Bem, sem ter lido a obra inteira, no posso dar uma opinio definitiva... Eu ficaria satisfeito em entregar-lhe tudo o que escrevi at o momento respondeu Data, rapidamente.Riker pigarreou, pensando no que dizer. Ahn... Data... claro que me sinto lisonjeado, mas estou um pouco ocupado no momento, com essa ameaa desconhecida no Setor 3SR-5-42. Voc compreende... claro, comandante disse o andride, sem emoo. Mas ainda no me disse quais foram suas primeiras impresses a respeito da cena que leu. Oh... sim, claro. Achei muito interessante, Data. Sua utilizao de palavras foi muito... diferente. Num mpeto de sinceridade, Riker acrescentou Mas esse tipo de cena de amor... bem, no exatamente o estilo que eu escolheria para minha leitura pessoal. Creio que prefiro ... um estilo mais masculino de contar histrias, se que se pode dizer assim. Como qual? Bem, Riverton um de meus favoritos. E, naturalmente, Hemingway. Adeus s Armas e Por Quem Dobram os Sinos... so livros excelentes. Sem sombra de dvida ele foi um mestre. Compreendo... disse Data. Obrigado, comandante. Deu-me muito em que pensar. Talvez eu reescreva alguns trechos...Riker deu um tapinha nas costas do andride. Continue tentando, Data disse ele, num tom de alegre incentivo de homem para homem. Tenho certeza de que todos os grandes autores aprenderam a importncia de refazer o que escreveram.O comandante seguiu pelo corredor, caminhando para a engenharia, com um incmodo sentimento de culpa e uma pontada de pena no peito. No podia dizer-lhe que era uma droga, disse a si mesmo. Isso o teria deixado arrasado. Riker suspirou, lembrando-se da primeira vez em que se encontrara com Data. Pobre Pinquio... Mensagem do Comando da Frota Estelar, capito Picard disse o alferes Whitedeer. Obrigado, alferes respondeu Picard. Eu a receberei em minha sala.Erguendo-se, ele atravessou a ponte e entrou em seu santurio privativo. Parou por um instante diante da janela, com seu esguio e elegante corpo delineado contra a escurido e as listras formadas pelas estrelas que passavam. O capito era calvo, tinha um nariz proeminente e penetrantes olhos castanhos. Seu rosto majestoso no ficaria mal em um imperador romulano, mas a dureza de suas feies eram atenuadas por um leve toque de bom humor em volta dos olhos e dos lbios.Naquele momento, porm, o capito no estava nem um pouco bem humorado. Sentando-se diante do terminal do computador, ordenou a Whitedeer que lhe repassasse a mensagem.O capito enrijeceu os lbios enquanto passava os olhos pela mensagem. A Marco Polo, uma nave mercante registrada na Federao, havia entrado no Setor 3SR-5-42 no dia anterior e j estava seis horas atrasada em relao ao horrio em que deveria chegar doca da estao espacial de Thonolan IV.A nave estava definitivamente atrasada, e os transmissores sub-espaciais de Thonolan IV haviam informado terem perdido contato com o cargueiro. Aparentemente o contato simplesmente tinha sido interrompido. No houve qualquer indicao prvia de que o cargueiro tivesse encontrado qualquer coisa fora do comum.A Enterprise tinha ordens de procurar e resgatar tambm a Marco Polo. Jean-Luc Picard ergueu os olhos da tela e fitou seu santurio privativo, soltando um suspiro. Em seus muitos anos no espao, ele havia desenvolvido uma certa ... intuio, que jamais expressara abertamente. Em geral, ele tomava toda as suas decises por meio do raciocnio, mas sempre havia aquelas raras situaes em que a razo se mostrava inadequada e se fazia necessrio confiar na intuio.Picard sentiu um sbito pressentimento que lhe provocou calafrios na espinha. Ser esta nossa ltima misso? pensou ele, perturbado, correndo os olhos pela magnfica nave que lhe fora confiada. Ele observou seu peixe colorido e extico nadando no aqurio redondo, ento se ateve no modelo da Stargazer. Depois de perder a Stargazer, jamais posso voltar a perder minha nave. Seria como perder minha prpria vida.Ele suspirou. Ouviu ento a campainha da porta e ergueu o rosto. Entre! chamou Picard.Ao identificar a pessoa que estava porta, ele sorriu. Estava esperando que viesse.A conselheira da nave Deanna Troi sorriu suavemente para o capito, com seus exticos, negros e compreensivos olhos betazides. Sempre que o senhor fica to perturbado quanto est agora, no posso deixar de perceber seus sentimentos relembrou-lhe ela com sua voz melodiosa e gentil. Ela era uma mulher atordoantemente bela, com um corpo perfeito e longos cabelos negros presos por uma fiara cravejada de jias. Estou ciente disso disse ele. Outra nave desapareceu, conselheira. Desta vez foi um cargueiro com registro da Federao. A Marco Polo. Uma notcia perturbadora disse ela, fitando-o intensamente com seus olhos cor de bano. Mas no a nica coisa que o preocupa. Algo o intriga...Picard assentiu com a cabea. A Marco Polo estava levando um carregamento de sementes para Thonolan IV. Sementes de feleen que foram especialmente modificadas para poderem crescer no solo thonolano, que mais rico em potssio do que o de outros planetas andorianos. E da? perguntou ela, quando o capito interrompeu o que dizia, permanecendo em profundo silncio, imerso em seus pensamentos.Ele assustou-se, como se desse conta naquele instante da presena da conselheira. Como?... Oh, sim, perdoe-me, conselheira. O que me intriga no conseguir imaginar por que algum desejaria roubar essa nave em particular. Eles no poderiam vender seu carregamento roubado em nenhum outro lugar. As sementes de Feleen no teriam nenhum valor cm outro planeta. Simplesmente no cresceriam. E se os ladres tentassem vend-las para os thonolanos, estariam se denunciando como os atacantes da Marco Polo. O senhor est baseando suas suposies na hiptese que os desaparecimentos foram causados por piratas ou algo do gnero? Sim, essa era minha suposio. Mas tudo mudou agora disse Picard, preocupado. Fui forado a descartar essa teoria como pouco provvel. Por maiores que sejam as fraquezas morais dos ladres, suas aes geralmente so extremamente prticas. E o que nos resta ento? No sei. No consigo imaginar os romulanos afastando-se tanto assim de seu espao para atacar abertamente as naves da Federao. Isso seria uma declarao de guerra, e eles no tm demonstrado estarem preparados para iniciar um conflito neste momento. Ferengi? sugeriu Troi, hesitante. Picard sacudiu negativamente a cabea. Eles nunca capturariam uma nave com um carregamento que lhes fosse intil. Isso seria contrrio a suas convices mais profundas e seu desejo de lucro. Ento com o que ficamos? perguntou a conselheira, como se j soubesse a resposta.O capito assentiu com a cabea. Se no algum nem algo que conhecemos, ento por definio deve ser algo aliengena. bem possvel que seja algo que nunca vimos antes. Talvez algo hostil ... e, pelo que parece, mortal. Um fenmeno natural? Algum tipo de fenmeno espacial desconhecido, talvez? Picard tamborilou os dedos na superfcie polida da mesa. possvel... Mas no essa sua opinio disse Troi, lendo-lhe a hesitao com aexperincia de uma bem treinada obscrvadora. No sei! disse Picard, traindo momentaneamente sua frustrao, mas voltando imediatamente sua calma habitual. No essa minha opinio, Deanna. Na verdade... meus instintos, como creio que voc os chamaria, me dizem que devemos nos preparar para cumprir o objetivo principal desta nave. Contato com civilizaes aliengenas. Sim. Contudo, neste caso em particular, esses aliengenas atacaram oito naves. No pretendo deixar que a Enterprise seja a nona.A conselheira assentiu com a cabea, compreensivamente. um mistrio, capito. Digno do seu Dixon Hill, pelo que me parece. Um leve sorriso esboou-se no canto dos lbios do capito. Ah, sim. Quem sabe eu conseguiria investigar melhor o problema se pusesse meu chapu e o sobretudo.Troi sorriu maliciosamente, fazendo os olhos negros faiscarem. Nesse caso, senhor, seria mais do que justo permitir que o comandante Data usasse aquele chapu de caa ridculo e seu cachimbo fedorento.Picard abriu um sorriso e abanou o ar em frente do nariz, fazendo uma careta ao lembrar-se do cheiro do cachimbo. Posso admitir o chapu disse ele. Mas aquele cachimbo uma ameaa ao sistema ambiental. Pode descartar Dixon Hill tambm. Tenho que resolver este problema como Jean-Luc Picard.O rosto do capito tomou-se mais sombrio e duro. E pode estar certa de que o farei, conselheira acrescentou em voz baixa.Trs Entrando no Setor 3SR-5-42, capito anunciou o alferes honorrio Wesley Crusher. A tripulao da ponte ergueu os olhos de suas tarefas para as estrelas que riscavam a tela com as cores do arco-ris. Reduzir a velocidade para dobra um, Sr. Crusher. Sim, senhor.O jovem timoneiro tocou o imenso painel de controle, e a enorme nave obedientemente diminuiu sua desabalada carreira. Dobra um, capito.Jean-Luc Picard recostou-se em sua cadeira de comando no centro da ponte, com a conselheira da nave Deanna Troi em sua posio costumeira sua esquerda. Muito bem, Sr. Crusher.Picard voltou o rosto para seu oficial andride, que estava sentado junto ao painel de operaes ao lado de Wesley. Sr. Data, em nossa velocidade atual, quanto tempo levaremos para chegar ltima posio registrada da Marco Polo. Uma hora e dezessete minutos, capito disse Data. Seu rosto estranhamente plido parecia ainda menos humano sob as luzes intensas da ponte. Estou realizando uma varredura com os sensores de longo alcance, conforme ordenado, senhor. Obrigado, Sr. Data. E quanto tempo levaremos para nos aproximarmos da PaKathen! A ltima posio registrada dessa nave fica relativamente prxima das coordenadas onde foi perdido o contato com a Marco Polo. Cerca de meio ano-luz. No posso ser mais preciso que isso, porque a PaKathen no estava transmitindo quando desapareceu, de modo que a localizao exata da nave klingon no conhecida. Compreendo... O capito pensou por um instante, depois se aprumou na cadeira de comando. Sr. Crusher, prepare um padro de busca sub-luz que inclua os dois grupos de coordenadas, com uma margem de erro de meio ano-luz. Providencie para que ela seja realizada no mnimo de tempo de busca e com o mximo de economia de combustvel. Sim, capito! respondeu Wesley, entusiasmado. O jovem adolescente imediatamente comeou a trabalhar no computador, assumindo a expresso absorta que costumava surgir em seu belo rosto sempre que resolvia um problema abstrato. Ele se parece tanto com o pai. Pensou Picard. Jack costumava assumir essa mesma expresso quando tinha um problema para resolver. E quanto mais difcil era o desafio, mais ele o apreciava.Um discreto e carinhoso sorriso esboou-se no rosto do capito enquanto observava o jovem de cabelos castanhos inclinado com tanto empenho sobre o painel do computador. Percebeu ento que Troi o observava com um sorriso compreensivo, e rapidamente voltou sua expresso de costume. Sr. Data disse bruscamente. J conseguiu a informao a respeito da Marco Polo que pedi? Sim, capito disse o andride, voltando o rosto para seu oficial comandante. Devo coloc-la na tela principal? Sim, por favor, Sr. Data.Data apertou um boto no painel de operaes, e o desenho esquemtico de uma nave apareceu no lugar do espao estrelado na tela principal. A nave era um cargueiro grande, que no tinha as formas esguias da Enterprise. Abaixo do pequeno setor do disco, os compartimentos de carga da nave davam-lhe a aparncia de estar prenhe. A Marco Polo um cargueiro classe um, capito. disse Data, passando a falar como se estivesse dando uma aula. E uma nave construda para transportar produtos agrcolas e artigos de luxo. Tem uma tripulao de quarenta e trs pessoas. Seus compartimentos de carga tm a capacidade de Conheo muito bem a capacidade de carga de um cargueiro classe um, Sr. Data interrompeu o capito. Qual a idade desse cargueiro em particular? Ele foi originalmente lanado h noventa e trs anos, senhor, mas foi completamente remodelado h trinta e um anos. Ainda assim bem antigo disse o capito, mais para si mesmo, cocando o queixo, pensativo. Numa nave to velha como essa, deve haver muitos vazamentos inicos dos motores. Creio que tem razo, capito. Poderemos rastrear uma trilha inica, ento. Procure identific-la com os sensores, Sr. Data. Sim, capito. Selar, eu vou ter que deixar voc, a Dra. Crusher e meus amigos em breve? perguntou Thala, hesitante. Meus parentes vo vir e me levar embora daqui?A mdica vulcana ergueu uma sobrancelha ao ouvir a pergunta da menina.Ela e a criana andoriana estavam sentadas no alojamento da mdica, ouvindo um dos compositores humanos favoritos de Selar, Johann Sebastian Bach. Na opinio da vulcana, Bach era o gnio humano que melhor tinha compreendido o valor da moderao, da ordem, do controle das emoes e sua canalizao para a criao da beleza. Ouvir Bach muitas vezes ajudava Selar a resolver seus problemas, mais do que qualquer compositor de msicas para harpa vulcana.Thala tambm gostava de msica clssica humana, mas de um tipo muito diferente. Seu compositor favorito da Terra era Elvis Presley.Esticando o brao para o controle do computador, Selar diminuiu o volume da msica. Por que pergunta isso, Thala? Porque voc e a Dra. Crusher disseram que meus parentes em meu planeta natal haviam decidido o que fariam comigo, e que eu no poderia mais morar aqui na nave. Mas isso j faz muitos dias, e nenhuma de vocs me disse nada a esse respeito desde ento.Os olhos cegos da menina ficaram fitando por sobre o ombro esquerdo de Selar, mas a mdica leve a perturbadora impresso de que a menina conseguia perceber seus pensamentos melhor do que qualquer pessoa com viso normal.Sua suspeita foi confirmada pouco depois, quando Thala acrescentou: Sei que voc tem estado preocupada comigo ultimamente. Voc tem estado... freqentemente... em meus pensamentos disse Selar. verdade que tenho me preocupado com seu futuro. Por qu?A vulcana ergueu-se e caminhou lentamente pelo alojamento, pensativa. Thala uma criana cheia de imaginao, apesar de todo o seu lado prtico. Ela pode muito bem estar imaginando uma situao bem pior do que a realidade. No posso mentir para ela, pois sou vulcana. Selar parou diante do pequeno nicho com as cortinas vermelhas e o tradicional incensrio. Procurou escolher bem as palavras Quando voc ficou sabendo que teria que deixar a Enterprise e possivelmente voltar para seu planeta natal, onde moram seus parentes que voc nunca conheceu, lembra-se do que disse, Thala? Sim respondeu a menina com firmeza. Eu disse que no desejava ir morar com estranhos, mesmo que fossem meus parentes. Isso mesmo. Bem, quando a Dra. Crusher entrou em contato com seu cl, aparentemente seus parentes tiveram a mesma reao.Selar voltou-se para encarar a menina, esperando ver o desapontamento tomar-lhe o rosto. Mas Thala permaneceu impassvel como uma vulcana adulta. Bem, no os culpo por no me quererem. No os quero tambm disse Thala. Eu no os conheo. verdade concordou Selar.A criana pensou por instante, depois sorriu. Se eles no me querem, ento isso quer dizer que posso ficar com voc na nave, Selar? Ainda no sei o que vai acontecer, Thala disse a vulcana, com tato. Pode ser que nem eu mesma permanea na Enterprise. O que quer dizer com isso? perguntou Thala, desconcertada. Ofereceram-me um cargo em meu planeta natal, na Academia Vulcana de Cincias, de chefe de pesquisas. E um cargo muito bom, e estou pensando em aceit-lo.Pela primeira vez em semanas a criana mostrou-se realmente desapontada. Voc vai embora! Oh, no! Se voc partir, nunca mais a verei de novo! Ela comeou a embalar-se na cadeira, abraando-se a si mesma. Os andorianos no choram, pois no possuem duetos lacrimais, mas um som discreto e raspado soou do fundo de sua garganta.Selar enrijeceu os lbios e hesitou, perguntando-se se deveria chamar Beverly para cuidar da situao. Ela no se sentia capacitada a lidar com transtornos emocionais. Era bvio que Thala estava sofrendo ao pensar que teria de separar-se dela. Toda aquela situao estava deixando a vulcana mais perturbada do que ela gostaria de admitir.Depois de um longo minuto de hesitao, ela percebeu que no poderia ficar l sem fazer nada. Aproximou-se da criana e colocou, hesitante, a mo em sua cabea, entre as antenas, sentindo a maciez de seu cabelo e o calor de sua pequena cabea. Sentiu algo torcer dentro de si ao perceber a dor que a criana sentia. Thala disse ela suavemente, procurando transmitir calma e consolo da melhor maneira possvel. Por favor, no fique assim. Voc far novos amigos, aonde quer que v... Mas voc no estar l soluou a criana. Thala, escute o que vou dizer Selar continuou a sussurrar, mas sua voz assumiu certo tom de autoridade. Est-me ouvindo? Sim... Dou-lhe minha palavra que no deixarei a Enterprise antes que voc tenha encontrado um lugar para morar. Est bem? No aceitarei esse cargo at que tenham sido feitos os acertos para que voc seja levada em segurana para seu novo lar, onde quer que seja. Ela pensou no que um atraso prolongado significaria para suas chances de assumir o cargo e afastou a idia com determinao. Algum tinha que assumir a responsabilidade de providenciar para que Thala fosse bem tratada, e ela era sua mdica e professora. Era seu dever. Promete...? Acabei de faz-lo.A menina ergueu seus dedinhos azuis e apertou a mo da vulcana. Obrigada, Selar. Procure no se preocupar. A Dra. Crusher e eu vamos fazer todo o possvel para assegurar seu bem-estar. Eu sei.Selar ouviu o pequeno tremor na voz da criana, mas vendo que Thala estava tentando controlar suas emoes, no fez caso disso. A vulcana tambm procurou ignorar o alvio que ela mesma sentiu ao tomar essa deciso. O alvio de poder adiar o dia em que teria de encarar sua famlia, Sukat e a famlia dele, em Vulcano. No sei no, Sonya disse Geordi La Forge para a jovem de pele azeitonada que estava verificando as leituras dos motores de dobra da Enterprise sob sua superviso. Essa nova tarefa est-me dando calafrios. As naves esto ali em um momento e desaparecem no outro. No gosto disso.A alferes Gomes afastou uma mecha de seu cabelo escuro que lhe caa at os ombros e fez uma anotao no dirio de engenharia. Deve ser apenas um renegado ferengi, piratas ou coisa parecida. Talvez sejam klingons fora-da-lei. Voc vai ver. Assim que eles verem a Enterprise em suas telas, vo morrer de medo e fugir s pressas. Pode ser... disse La Forge. Eu concordaria plenamente se aquela nave klingon no tivesse desaparecido. Atacar uma nave cheia de klingons no algo que a maioria dos piratas pensaria em fazer, mesmo em seus sonhos mais desvairados. E voc conhece o desprezo que os klingons sentem pelos ferengis. Elas lutariam at a morte para evitar a desonra de perderem para aqueles gnomos gananciosos. Bem, talvez tenha sido outra nave cheia de klingons. A ltima coisa que klingons renegados gostariam de fazer seria atrair a ateno de uma nave klingon oficial. O imprio enviaria uma esquadra inteira para vingar a perda de um cruzador, se isso fosse necessrio.Gomez ergueu o rosto, pensou um momento, depois deu de ombros. Voc tem razo. mesmo uma misso estranha, no ? , sim. Faz-me lembrar as histrias que li a respeito da Velha Terra, quando havia navios que cruzavam os mares.Gomez, que nunca tinha visto a Terra, tendo nascido em uma colnia, ficou curiosa. Que tipo de histrias? H centenas de anos, contava-se lendas a respeito de locais que eram armadilhas para marinheiros incautos. Voc podia ficar presa pelas calmarias na regio da Latitude do Cavalo... No sabia que havia cavalos no oceano interrompeu Gomez. Pensei que eles fossem mamferos herbvoros e terrestres. No havia cavalos no oceano disse Geordi. Apenas cavalos-marinhos. Cavalos-marinhos? So cavalos que moram no mar? No cavalos-marinhos no so eqinos. So... droga, no sei o que so. Moluscos, talvez, ou crustceos... Baleias? As baleias corcundas que esto sempre sendo mencionadas nos artigos sobre repopulao?Geordi estava comeando a sentir-se como quando conversava com Data. No, Sonya. Esses so cetceos. Animais marinhos inteligentes. Cavalos-marinhos so pequenas criaturas aproximadamente deste tamanho mostrou o tamanho com o indicador e o polegar que no tm nada a ver com os cavalos de quatro patas. Certo, j entendi. Continue. Os marinheiros se perdiam... Isso. Os navios costumavam desaparecer, e eles tinham todas aquelas lendas para explicar o por qu. Havia de tudo, desde drages marinhos que comiam os navios ate a queda da borda do oceano. Eles costumavam marcar as regies inexploradas em suas cartas de navegao com o aviso: "Aqui habitam monstros".Gomez deu uma risadinha. E a verdade a respeito desses desaparecimentos misteriosos era que a tripulao apenas tinha decidido amotinar-se e passar a ter uma vida boa em uma ilha tropical, com lindas mulheres quase sem roupa, certo? Claro, isso acontecia muitas vezes. Mas havia lugares que eram realmente perigosos para os navios. Um dos mais perigosos era o Mar de Sargaos. Sargaos? Sargaos um tipo de alga que cresce desde o fundo do oceano at a superfcie. Um navio pode estar navegando livre como um pssaro num minuto e de repente ser apanhado na rede de sargaos, ficando totalmente impedido de prosseguir. A alga enrola-se na quilha do navio, que fica preso, para nunca mais libertar-se. O navio no poderia cortar simplesmente as algas. Os infelizes marujos tentavam de tudo para libertarem-se: arrastar o navio com barcos a remo, cortar as algas, tudo o que conseguiam imaginar. Suponho que alguns conseguissem escapar, mas geralmente os que ficavam presos no tinham qualquer chance de libertar-se. Os navios e a tripulao permanecia ali, indefesos e aprisionados, at no haver mais gua potvel nem comida. s vezes os homens conseguiam sobreviver meses com gua de chuva e peixes, mas... Ele sacudiu a cabea, imaginando a situao. Acabavam ficando loucos e voltavam-se para o cani...Ele interrompeu abruptamente o que dizia, percebendo como era desagradvel o quadro que estava pintando. De qualquer forma, era horrvel. Os navios que voltavam ao porto contavam ter encontrado cascos apodrecidos cheios de esqueletos espalhados pelo convs...Geordi percebeu Sonya estremecer subitamente, vendo a cor do corpo dela mudar de aspecto, dando-se conta de que tinha realmente assustado a moa. Ei. Chega de histrias arrepiantes disse ele, dando um tapinha amigo nas costas da colega. melhor nos apressarmos na preparao do relatrio de consumo de combustvel disse ele bruscamente, mudando de assunto antes que Wesley nos chame. Wes anda to entusiasmado para impressionar o capito com a eficincia de seu padro de busca, que capaz de descer at l pessoalmente para contar cada tomo usado para fornecimento de energia. Certo, chefe disse Gomez, com um sorriso trmulo. Por falar nisso disse ela enquanto andavam at o outro lado do convs da engenharia se decidir que est entediado com o servio a bordo de uma nave estelar, podia muito bem seguir carreira como escritor de histrias de terror.Geordi deu uma risadinha. Vou deixar isso para o Data.A Dra. Beverly Crusher sentou-se diante da tela de comunicao de seu consultrio, esforando-se para no deixar transparecer a raiva que estava sentindo. Sua chamada para Thonolan IV no estava indo muito bem. Deixe-me ver se entedi direito, administrador Thuvat disse ela. Voc aceita receber a menina cm sua base, mas somente se tivermos tentado entrar em contato com todos os possveis parentes em todos os planetas colonizados pelos andorianos e ela for recusada por todos eles? Isso pode levar meses! possvel. O rosto azulado do administrador ficou um pouco mais roxo e ele retorceu as antenas de impacincia. Mas regras so regras. No devemos deixar passar a menor chance de que algum de sua famlia a aceite. Possivelmente encontraremos um lugar para acolh-la em uma de nossas colnias agrcolas remotas, onde qualquer mo de obra, por mais incapacitada que seja, ser de grande ajuda. Diga-me, a menina sabe costurar? Cerzir? Eles dizem que... franziu ainda mais os lbios pessoas cegas so geralmente muito hbeis com as mos. Talvez essa criana possa ser treinada cm algum tipo de trabalho manual que no exija o uso da viso... Ele suspirou, deixando transparecer seu desprezo.Beverly Crusher respirou fundo e contou at dez, primeiro em sua prpria lngua, depois em alemo, em seguida cm Vulcano. Administrador Thuvat. Parece achar que Thala mentalmente retardada alm de cega. Isso definitivamente no verdade. Ela uma criana extremamente brilhante. Com a devida educao, poder ser bem sucedida cm muitas carreiras: trabalhar com computadores, por exemplo, ou direito, fsica, como professora, escritora, centenas de coisas! E se receber uma prtese visual adequada, poder realizar qualquer tarefa da mesma forma que uma pessoa no incapacitada. Nosso engenheiro chefe a bordo da Enterprise, o Sr. La Forge, cego de nascena e exerce uma carreira extremamente bem sucedida como oficial da Frota Estelar! Mmmm... foi a nica resposta que Thuvat deu ao discurso inflamado da mdica. O andoriano hesitou, percebendo evidentemente que Crusher no estava satisfeita com o curso que a conversao havia tomado. Compreenda, doutora, que no me cabe tomar essa deciso. Asseguro-lhe que faremos tudo o que for exigido de ns nessas circunstncias. Simplesmente estou-lhe informando quais so as normas referentes s crianas rfs. Suponha que ningum da famlia de Thala, em qualquer dos planetas andorianos, queira aceit-la. Nesse caso, o que aconteceria? perguntou Crusher com rispidez. Ento seguiremos as normas, naturalmente, e encontraremos um lugar para ela em Thonolan IV. Um lugar repetiu Beverly, lentamente. O que significa isso? De que tipo de lugar estamos falando? Existem muitas instituies cm nossas maiores cidades que cuidam daqueles que no se enquadram em nossa sociedade. Esses indivduos desafortunados recebem comida, abrigo e cuidados nesses lugares.Cuidados! Crusher quase engasgou de indignao ao imaginar a situao. Ele parece que est falando de animais rejeitados! E quanto a uma adoo? perguntou ela, esforando-se para controlar o tom de voz.Thuvat surpreendeu-se com a sugesto. Suponho que seja possvel conseguiu dizer, por fim. Talvez possamos encontrar algo...E claro que sim, pensou Beverly, com amargura. Alguma gentil famlia que precise de algum para tricotar suteres ou o equivalente andoriano, sentada beira da lareira, agradecida por receber as sobras da casa. Maldito seja voc! Sentiu uma pontada no corao de imaginar Thala, ou qualquer outra criana, vivendo em um lar onde no era benquista. Administrador Thuvat disse ela, por fim. posso fazer um pedido para que essa pesquisa seja efetuada pelas agncias da Federao. Mas francamente acho que isso vai levar muito tempo. Talvez se voc realizar as pesquisas, consiga alcanar resultados mais rpidos.Thuvat suspirou. Possivelmente. Farei o que puder, se esse for o seu pedido. Ele estava visivelmente ansioso para que ela no o fizesse. De repente, pareceu ter uma idia. Diga-me, doutora, ser que os pais dessa infeliz criana tinham alguma propriedade de valor? Isso pode fazer diferena ao procurarmos uma famlia que queira adot-la.Essa foi a ltima gota. Beverly Crusher lutou silenciosamente consigo mesma para no dar vazo a sua vontade de dizer umas verdades, ento sacudiu a cabea, pesarosamente. Sinto dizer que no, administrador mentiu ela. H apenas um pequeno fundo de auxlio que ser entregue a Thala pessoalmente quando ficar adulta. Oh, isso uma pena o interesse momentneo do administrador arrefeceu-se. Bem, sinto dizer que tenho outros compromissos. Algo mais que queira dizer? Deseja que eu solicite a pesquisa de registros? No, obrigada, administrador disse a mdica. Detestaria dar-lhe mais preocupaes. Vou deixar que o pessoal da Federao cuide disso. timo. Desejo-lhe boa sorte na resoluo de seu problema. Muitssimo obrigada, administrador Thuvat que todos os seus problemas sejam pequenos como este disse Beverly, com fingida doura.O andoriano no percebeu o sarcasmo. Obrigado disse ele. Adeus, doutora.Com uma pancada violenta, a mdica interrompeu a ligao com Thonolan IV. Maldito verme burocrata murmurou ela, depois que a tela estava apagada. Suspirando, Beverly passou a mo no cabelo, depois inclinou a testa sobre o dorso das mos. Comeou em seguida um exerccio de meditao-relaxamento.Preciso contar a Selar. Vulcana ou no, isso vai deix-la perturbada. Que confuso. Pobre Thala...Na ponte da Enterprise, Wesley Crusher subitamente aprumou-se em sua cadeira. Capito, estou captando uma trilha inica disse ele, sem conseguir disfarar seu entusiasmo. Muito bem, Sr. Crusher disse Picard para o ar, e o computador automaticamente retransmitiu sua voz. Imediato, o Sr. Crusher parece ter encontrado algo promissor. Estou a caminho respondeu a voz de Will Riker.O capito esperou at seu segundo em comando chegar, enquanto Wesley trabalhava febrilmente no computador. Riker olhou para o painel por cima do ombro do jovem oficial, depois acenou silenciosamente com a cabea, demonstrando sua aprovao. Wesley corou de satisfao. Parece ser o que estvamos esperando encontrar disse Riker. exatamente o tipo de trilha que seria deixada por uma nave como a Marco Polo. Ela foi arrastada para fora de seu curso, capito disse Wesley por algum tipo de ... ahn... campo de... energia. Um raio trator? perguntou Riker, olhando para o tenente Worf, que permaneceu junto ao painel de segurana e comunicaes, na parte de trs da ponte. O chefe de segurana klingon cerrou os lbios, mas o restante de suas feies permaneceram impassveis. No, senhor disse Wesley, sacudindo a cabea, perplexo. Aparentemente teve o mesmo efeito que um raio trator, mas esse tipo de energia... bem, no nada que eu j tenha visto antes. Confirmado disse Data, em resposta ao olhar inquiridor de Riker. No semelhante a nada que j foi encontrado no espao da Federao, dos romulanos ou dos klingons. Um novo tipo de campo de energia ... Picard ergueu-se e caminhou at a tela principal. Destrutivo? Algum sinal de fragmentos que possam indicar uma exploso ou uma batalha? No, senhor respondeu Crusher. Parece um raio trator, mas baseado cm um tipo inteiramente diferente de energia. Ele simplesmente arrastou a nave para fora do curso. E quanto PaKathen? rosnou Worf. Algum sinal dessa nave? No, tenente o jovem oficial enrugou a testa. Mas as naves klingons so construdas de modo a no deixarem uma trilha inica que indique sua localizao. Portanto ela pode tambm ter sido arrastada para fora do curso. tambm inteiramente possvel que os dois desaparecimentos no tenham qualquer relao entre si disse Picard, fitando as profundezas do espao, com a luz das estrelas refletindo cm seu rosto austero. possvel, mas estatisticamente improvvel acrescentou Data, solcito. Qual a potncia desse campo, Sr. Crusher? Ser que a Marco Polo conseguiria libertar-se dele? Duvido, capito o rosto magro do jovem estava bastante srio. Um cargueiro nunca teria tanta fora, senhor. E quanto Enter...O capito interrompeu subitamente o que dizia quando sua nave literalmente deu uma guinada no espao. Apesar do campo gravitacional artificial, dos estabilizadores, dos escudos contra meteoros e de todos os dispositivos de proteo que a enorme nave estelar possua, por um momento a Enterprise corcoveou sob seus ps, como um cavalo xucro. O alerta vermelho disparou automaticamente.Picard quase perdeu o equilbrio, mas a nave estabilizou-se novamente, impedindo-o de cair. O capito voltou-se para encarar a tripulao da ponte e com admirvel sangfroid completou sua frase. A Enterprise conseguiria libertar-se desse campo de energia desconhecido? No se sabe, capito disse Data. Mas suspeito que iremos descobrir a resposta muito cm breve, senhor. O campo, ou seja l o que for, acabou de nos prender.Quatro Podemos nos libertar? perguntou Picard. No sei, capito disse Data. Certamente no sem danificar os motores de dobra. Este raio trator muito mais poderoso do que jamais encontramos.Houve um momento de silncio depois do andride ter falado. Picard ento olhou para o oficial klingon. Tenente, pea ao Sr. La Forge que venha para a ponte. Quero que ele assuma o posto de engenharia. Sim, capito.No levou muito tempo para o jovem oficial aparecer. Assim que a nave se deparou com o campo de energia desconhecido, Geordi somente permaneceu na engenharia o tempo suficiente para verificar se a Enterprise havia sofrido algum dano. Depois, antecipando a ordem do capito, seguiu imediatamente para a ponte de comando. La Forge j estava no turboelevador quando lhe foi repassada a ordem do capito.Assim que o engenheiro chegou ponte, ele olhou em volta para identificai' os presentes, cujos espectros de cor eram to caractersticos de cada pessoa para o oficial cego quanto seus rostos o seriam para um tripulante com viso normal. Quero sua opinio sobre o que acabamos de encontrar, Sr. La Forge disse o capito. Sim, senhor. La Forge dirigiu-se imediatamente para o painel da engenharia na parte de trs da ponte. Ao examinar as leituras, espantou-se com o que viu. Eu achava que j tinha visto de tudo murmurou para si mesmo, sacudindo tristemente a cabea. Alguma concluso, Sr. La Forge? perguntou o capito. Geordi aprumou-se e resistiu ao mpeto de cocar a cabea. Fomos envolvidos por uma forma desconhecida de energia, de origem artificial. Est comeando a arrastar a nave pelo mesmo caminho seguido pela Marco Polo. E extremamente potente. Artificial... repetiu Picard, pensativo. Isso nos deixa duas possibilidades. Ou este campo representa algum tipo de descoberta cientfica recente de seres j conhecidos, ou..Ele olhou para o segundo em comando de modo significativo, e Riker concluiu seu pensamento: Ou ela gerada por algo que nunca vimos antes. Algo aliengena. Qual nossa posio atual, Sr. Crusher? perguntou Picard, voltando-se para seu oficial mais jovem. Estamos sendo arrastados, senhor, como o Sr. La Forge disse. Nossa velocidade est aumentando gradativamente medida que o campo sobrepuja nossa inrcia. Se continuarmos nesse passo, qual a velocidade provvel que chegaremos a alcanar? perguntou Riker.Wesley franziu a testa. Geordi viu a face do menino mudar de cor quando seus msculos se contraram. Bem, isso depende do que est nos puxando. Melhor dizendo, depende da distncia que estamos de nosso destino. Eu diria que vamos atingir a velocidade mnima de impulso cm cerca de duas horas. Quanto tempo ele levou para nos envolver? Trs vrgula um segundos, senhor. Capito disse La Forge j tenho fora de dobra a nosso dispor, por isso podemos tentar nos libertar. Acha que conseguiremos, Sr. La Forge? O engenheiro chefe hesitou. No tenho certeza, capito. Isso exigir uma potncia considervel, se a fora que nos est arrastando permanecer constante... sacudiu a cabea. Bem, talvez. Muito bem disse Picard, pensando em silncio por um instante. Tenente Worf, possvel fazer contato com o Comando da Frota Estelar? Negativo, capito a voz grossa do klingon no denotava qualquer pesar. No existe nada que Worf aprecie mais do que a chance de enfrentar todos os inimigos com as prprias mos, pensou Geordi. J faz algum tempos que no encontramos um problema de verdade, e ele est ansioso por isso. O campo est impedindo todas as transmisses e recepes em todas as freqncias do subespao, senhor. At que consigamos nos libertar ser impossvel qualquer comunicao, exceto em distncias muito curtas.O capito voltou-se para o primeiro oficial. O que recomenda, Imediato? Recomendo que tentemos nos libertar agora, capito. Depois procuremos seguir o campo de energia at sua fonte usando nossos sensores.Picard pensou em silncio por um instante, depois sacudiu a cabea. No. Ainda no o momento de procurarmos nos libertar. Recebemos ordens de encontrar e resgatar a Marco Polo e a PaKathen, e a melhor chance que temos de encontr-las ser deixando que sejamos arrastados at o lugar para onde foram levadas. Quer dizer... permitir que sejamos aprisionados na armadilha? perguntou Riker lentamente.O silncio e a tenso na ponte tornaram-se quase tangveis de to intensas.Picard assentiu com a cabea. Se tentarmos nos libertar agora e fracassarmos, teremos forado nossos motores de dobra alm de sua capacidade, sem termos alcanado nosso objetivo. Creio que se preservarmos nossa energia permitindo que essa "fora desconhecida" nos d uma carona at conseguirmos identificar seu ponto de origem em nossos sensores, poderemos ento tentar nos libertar para investigar e talvez resgatar as duas naves.Riker acenou com a cabea, admirado. Picard voltou-se para o oficial klingon. Tenente Worf, possvel lanarmos uma bia com velocidade suficiente para que se liberte do campo?O chefe da segurana fez alguns clculos. Sim, capito, creio que isso ser possvel. Prepare um resumo de nossa situao e lance a bia, tenente. Sim, senhor. Quero todos os sensores ajustados na potncia mxima em todas os comprimentos de onda, Sr. Data ordenou Picard. Quero ser imediatamente informado se algum sinal de nosso destino for detectado. Por favor informe seu substituto que continue monitorando todos as faixas do espectro. Isso no ser necessrio, capito disse Data. O que quer dizer com isso? disse o capito, consultan