A BIODIVERSIDADE DAS PLANTAS CULTIVADAS NOS … · A Biodiversidade do Cerrado ainda é pouco...

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1 A BIODIVERSIDADE DAS PLANTAS CULTIVADAS NOS QUINTAIS NO TERRITÓRIO DA COMUNIDADE KALUNGA – CHAPADA DOS VEADEIROS/GO Ana Luísa Santana Aragão Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected] Raquel Barbosa Fernandes Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected] Marcela Burger Sotto-maior Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected] Resumo A Biodiversidade do Cerrado ainda é pouco conhecida, havendo a necessidade de se implantar pesquisas que retratem melhor o cenário deste bioma. Considerando a biodiversidade de habitats, de populações, de espécies e de genes, o Cerrado têm se mostrado extremamente rico e complexo, com inúmeras espécies endêmicas tanto da flora quanto da fauna. País com maior diversidade genética vegetal do mundo, o Brasil conta com mais de 55 mil espécies catalogadas, e as oportunidades para a identificação de produtos com possíveis utilizações econômicas aumentam com estas diversidades. Este estudo foi realizado em um dos municípios da região nordeste do estado de Goiás e propõe a análise do processo de apropriação do território e da gestão dos recursos do Cerrado perante a globalização, evidenciando as múltiplas formas de ocupação do território pela comunidade Kalunga com base nos quintais de sustentabilidade em seu território. Palavras chave: Biodiversidade. Quintais. Plantas. Comunidade Kalunga Introdução O cerrado, segundo maior bioma brasileiro, envolve toda a região Centro-Oeste do Brasil e estende-se também por outros estados da região Nordeste e Sul, ocupa quase a quarta parte do território nacional. É considerado a maior savana tropical do mundo pela diversidade de habitats e alternância de espécies. A localização do Cerrado nas regiões mais densas (Sul e Sudeste do Brasil) e a Região Norte possibilitou um ordenado processo de integração, que, desde 1950, constitui-se em uma extensa e favorável fronteira agrícola por sua capacidade de receber população e seu potencial econômico a ser explorado. Com essas características, os investidores governamentais procuraram transformar o Cerrado em um grande produtor,

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A BIODIVERSIDADE DAS PLANTAS CULTIVADAS NOS QUINTAIS NO TERRITÓRIO DA COMUNIDADE KALUNGA – CHAPADA DOS

VEADEIROS/GO

Ana Luísa Santana Aragão Universidade Federal de Goiás-UFG

[email protected]

Raquel Barbosa Fernandes Universidade Federal de Goiás-UFG

[email protected]

Marcela Burger Sotto-maior Universidade Federal de Goiás-UFG

[email protected]

Resumo A Biodiversidade do Cerrado ainda é pouco conhecida, havendo a necessidade de se implantar pesquisas que retratem melhor o cenário deste bioma. Considerando a biodiversidade de habitats, de populações, de espécies e de genes, o Cerrado têm se mostrado extremamente rico e complexo, com inúmeras espécies endêmicas tanto da flora quanto da fauna. País com maior diversidade genética vegetal do mundo, o Brasil conta com mais de 55 mil espécies catalogadas, e as oportunidades para a identificação de produtos com possíveis utilizações econômicas aumentam com estas diversidades. Este estudo foi realizado em um dos municípios da região nordeste do estado de Goiás e propõe a análise do processo de apropriação do território e da gestão dos recursos do Cerrado perante a globalização, evidenciando as múltiplas formas de ocupação do território pela comunidade Kalunga com base nos quintais de sustentabilidade em seu território. Palavras chave: Biodiversidade. Quintais. Plantas. Comunidade Kalunga Introdução O cerrado, segundo maior bioma brasileiro, envolve toda a região Centro-Oeste do

Brasil e estende-se também por outros estados da região Nordeste e Sul, ocupa quase a

quarta parte do território nacional. É considerado a maior savana tropical do mundo pela

diversidade de habitats e alternância de espécies.

A localização do Cerrado nas regiões mais densas (Sul e Sudeste do Brasil) e a Região

Norte possibilitou um ordenado processo de integração, que, desde 1950, constitui-se

em uma extensa e favorável fronteira agrícola por sua capacidade de receber população

e seu potencial econômico a ser explorado. Com essas características, os investidores

governamentais procuraram transformar o Cerrado em um grande produtor,

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principalmente, de grãos, para o abastecimento do mercado mundial. A soja e o milho

foram selecionados, juntamente com a pecuária, como os principais produtos de

destaque regional, bem como a mineração e a silvicultura.

As extensas terras do Cerrado significam um espaço com viabilidade econômica,

extinguindo desta forma seu potencial enquanto biodiversidade. A expansão da

monocultura da soja, também vem afetando de maneira sensível o ecossistema e as

populações locais.

Também, deve ser considerado que a destruição da vegetação natural significa a perda

de conhecimentos que foram acumulados ao longo do tempo, sobre o uso medicinal e

tradicional das plantas pelas populações a elas associadas. Estas, muitas vezes, migram

para centros urbanos, provocando o rompimento do saber e conhecimento acumulado

em sua vivência com a natureza.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que apenas uma

terça parte do Cerrado encontra-se pouco antropizada, enquanto outra terça parte foi

vastamente ocupada, sobretudo em áreas do Mato Grosso do Sul, de Goiás, de São

Paulo e da divisa deste com o Paraná. Os dados de Pires; Santos (2000) demonstram

que cerca de 50% a 92% da superfície de Cerrado está fortemente modificada.

Nas três últimas décadas a população que reside no circuito desse ecossistema

praticamente duplicou. Em 1996, a taxa de crescimento populacional foi superior à

registrada para o país no mesmo período. Apesar de seu avanço econômico com base

agrícola o agrupamento populacional se dá na zona urbana, o que não impede o

crescimento acelerado da taxa de desmatamento. Na compreensão de Lima (1999), o

processo de ocupação explica-se como uma vitória da ciência e da técnica sobre o

objeto “natureza”.

Recentemente, pesquisas de Villa Real (2001), e Pires; Santos (2000) indicam que no

Cerrado existem cerca de 6 mil espécies de árvores, 150 espécies de anfíbios, 837

espécies de aves, 195 espécies de mamíferos, sendo 18 endêmicas e no que diz respeito

a invertebrados estima-se que o Cerrado atinja 14.425 espécies, representando 47% da

fauna brasileira; 120 espécies de répteis; 738 das 3 mil espécies de peixes já descritas na

América do Sul; e 10 mil espécies de plantas. Presume-se que mais de 40% das espécies

de plantas lenhosas e 50% das abelhas que existem aí sejam endêmicas. De gramíneas

inscrevem-se mais de cinco centenas de espécies, sendo a grande maioria endêmica da

região.

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Como exemplo da ampla biodiversidade do Cerrado tem-se que 53 espécies são

empregadas como medicamentos, tais como: Bureré (Brosimum gaudichaudii Tréc,

Carobinha-do-campo (Jacaranda decurrens Manso) Amescla (Protium heptaphylum

(Aubl) March). Sendo que cerca de 10 espécies são utilizadas como utensílios como:

jatobá (Hymenaea courbaril L.), Aroeira (Myracroduon urundeuva Engl. Fr. Allem.),

pindaíba (Xylpopia aromatica). Também existem espécies que são utilizadas como

alimento no caso o Genipapo (Genipa americana L.,), Araticum (Hymenaea courbaril

Mar.,), e o Pequi (Caryocar brasiliense camb.).

O presente trabalho teve por objetivo estudar para que e como são utilizadas as plantas

dos quintais no território das Comunidades Tradicionais Kalunga na microrregião

goiana da Chapada dos Veadeiros, no município de Teresina de Goiás, onde a presença

de quintais utilizados para a atividade de plantio sustentável é marcante.

O território Kalunga No Nordeste do Estado de Goiás, com cerca de 400 km de distância de Brasília-DF, e

600 km de Goiânia, uma região metropolitana, com expansões urbanas no âmago do

Cerrado, encontra-se um espaço geográfico único, a região da Chapada dos Veadeiros.

Neste espaço foi lançado em 2008, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário

(MDA) o programa Territórios da Cidadania.

Os Territórios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento

econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia

de desenvolvimento territorial sustentável. A participação social e a integração de ações

entre Governo Federal, estados e municípios são fundamentais para a construção dessa

estratégia.

De acordo com fontes do Sistema de Informações Territoriais do (MDA), o Território

Chapada dos Veadeiros - GO abrange uma área de 21.475,60 Km² e é composto por 8

municípios: Monte Alegre de Goiás, Nova Roma, Teresina de Goiás, São João

D`Aliança, Alto Paraíso de Goiás, Campos Belos, Cavalcante e Colinas do Sul.

Baseado no desenvolvimento social e na organização sustentável da região nordeste de

Goiás, a pesquisa teve como base o Território Kalunga, especificamente na

Microrregião da Chapada dos Veadeiros que abrange uma área total de 15.267 km²,

população de 32.731 habitantes e uma densidade demográfica de 2,14 hab./km², e busca

a compreensão desta sobre a conservação e apropriação da biodiversidade. (Foto 1)

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Foto 1: Placa informativa na entrada do núcleo Engenho II.

Autora: Raquel Barbosa Fernandes

Nesse contexto o Cerrado assume um papel remarcável, abandonando uma condição de

ecossistema desprovido e passa a ser visto como território de intensas dinâmicas

socioambientais, configurando-se como um objeto político. A agricultura familiar

praticada pelas Kalunga nos quintais domésticos também contribui para a melhoria dos

solos que são da classes de Latossolo Vermelho-Escuro, Latossolo Vermelho-Amarelo e

Latossolo Roxo (Ribeiro & Walter, 1998)-, do microclima e também para o aumento da

biodiversidade do local.

As bacias do Rio das Almas e do Rio Paraná irrigam essas áreas do Nordeste Goiano. A

comunidade Kalunga, foi dividida em quatro núcleos principais, em proposta feita por

Marinho (2008): o Engenho II, estimado o mais prendado em infra-estrutura, por estar

localizado próximo aos conjuntos urbanos de Cavalcante e Alto Paraíso e ser de fácil

acesso, o Vão de Almas, o Vão do Moleque e Ribeirão dos Negros renomeado como

Ribeirão dos Bois. Não existem limites territoriais entre os núcleos. Aproximadamente

62 povoados distribuem-se entre eles, como o Curriola, Ema, Ribeirão, o Taboca, o

Areia, o Maiadinha, o de Capela (Figura 1).

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De acordo com dados do “Perfil das Comunidades Quilombolas; Alcântara,

Ivapurudunva e Kalunga”, citados por Marinho (2008), a população estima-se em 3.752

habitantes, isto corresponde a aproximadamente, 958 famílias, distribuídas em 884

moradias. No núcleo Vão do Moleque são distribuídos em 122 domicílios, no Engenho

II se aproximam dos 80 domicílios e, na Fazenda Ema se aproximam dos 200

domicílios o que leva-nos a concluir que existam ainda aproximadamente 400

domicílios de Kalunga espalhados pelos Vãos da Serra Geral, devido os dois primeiros

principais conjuntos estarem com cerca de um quarto deles apenas.

Os Kalunga são comunidades remanescentes de quilombos, ou comunidade

afrodescendente, como denomina a Fundação Cultural Palmares. Há divergências

históricas sobre suas procedências. Alguns estudiosos apontam os Quilombos como

resultado de inúmeros movimentos de resistência de escravos fugidos, que refugiavam e

organizavam-se em núcleos denominados de “quilombos”.

Foto 2: Casa Kalunga

Autora: Raquel Barbosa Fernandes

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O território das Comunidades Kalunga, antes de tudo, são espaços de relações políticas,

sociais e simbólicas, onde o homem ligado a terra constrói sua identidade cultural.

Dessa maneira compreendem-se os modos que dão significado político ao território e

que traduz para o Kalunga uma maneira de controle e recorte do espaço considerado

como Sítio Kalunga.

Tal território assegura a caracterização desse grupo, e aproveita-se como instrumento ou

prova para a permanência e fixação dos quilombolas que o ocupam. Como organização

do espaço, pode-se dizer que o território Kalunga responde, em sua primeira instância, a

necessidades econômicas, sociais e políticas dos quilombolas e, por isso, a produção

desse território está sustentada pelas relações sociais que o atravessam. Porém, como

qualquer outro território, sua função não se reduz a esta dimensão instrumental: ele é

também objeto de operações simbólicas e é nele que os atores projetam suas concepções

de mundo (ALMEIDA, 2003).

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1. Localidades Quilombolas e Fazendas no Sitio Histórico e Cultural da Comunidade Kalunga.

Figura Autoria: Rafael S. A. dos Anjos. Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica- UnB.

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As plantas cultivadas nos quintais Kalunga O cultivo de plantas nos quintais do território Kalunga, juntamente com a busca pela

compreensão da biodiversidade e sua territorialização no cerrado, é um exemplo claro

para se tentar compreender a ocupação e o uso devido de comunidades tradicionais no

território nacional.

Essa compreensão se aplica à idéia de que essas comunidades necessitam de um

território próprio e que seja reconhecido. Isso implica uma busca voltada à elaboração

de políticas públicas que apoiem e reconheçam essas comunidades e sua importância

para a diversidade biológica e cultural da região, no caso a microrregião da Chapada dos

Veadeiros.

Devido ao fato de essas comunidades serem economicamente sustentáveis, fator

relevante para a compreensão da apropriação das plantas do cerrado pelas mulheres

Kalunga, observa-se uma forte ligação dessas ao sentimento de pertencimento a terra e a

sua cultura relacionada à biodiversidade. Nesse sentido o conceito de diversidade

biológica é bem explicado por Posey, 1987; Gómez-Pompa, 1971; Gómez-Pompa e

Kaus, 1992: A diversidade biológica, no entanto, não se restringe a um conceito pertencente ao mundo natural; é também uma construção cultural e social. As espécies são objeto de conhecimento, de domesticação e uso, fonte de inspiração para mitos e rituais das sociedades tradicionais, e finalmente, mercadoria nas sociedades modernas.

Essa diversidade biológica, como mencionada anteriormente, faz razão também à uma

junção entre as “diversidades’’, que segundo os autores é uma construção cultural e

social.

A partir do momento em que buscamos compreender a relação dos Kalunga com as

plantas, percebemos o quanto é necessário o saber tradicional, que implica em tradições

deste povo e formas de manejos e técnicas que são conhecimento milenar dessa cultura.

Daí entende-se a consideração desse tipo de cultivo tradicional também para o meio

ambiente. As técnicas utilizadas por esses povos, que são dadas de geração em geração,

respeitam o tempo da terra e fazem desse tipo de manejo ecologicamente sustentável, do

ponto de vista do meio ambiente e do ponto de vista cultural pois, esse tipo de cultura

realizada nos quintais faz com que se tenha uma versão mais artesanal no plantio, não

remetendo à técnicas especificas e nem à divisões sociais na gestão da plantação (Foto

3).

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Foto 3: Leutéria e seu marido, Elói Francisco Maia, 76, dedicam boa parte do dia para cuidar do Quintal Sustentável.

Autoria: Edmar Wellington

Sendo assim percebemos mais uma vez a importância do saber tradicional, da ligação

deste povo com o território e como isto é essencial a eles, e uma característica da

comunidade: uma acumulação de capital reduzida.

Podemos analisar essa óptica através da perspectiva marxista, onde essas comunidades

estão ligadas a modos de produção pré-capitalistas que não transformaram o trabalho

em mercadoria, não descartando a existência de sua dependência com o mercado que

não é total.

Notamos essas relações quando Diegues (1993) diz que, “culturas tradicionais, nessa

perspectiva, são aquelas associadas à pequena produção mercantil.” Os Kalunga em

seus quintais fazem a cultura de plantas destinadas à diversas atividades e fins, assim

essas produções mesmo que em quantidades pequenas (pequena porção em cada

quintal), são relevantes para o nível de produção da comunidade, servindo para sua

subsistência.

O estudo teve por objetivo estudar como e para que são utilizadas as plantas dos

quintais no território das comunidades tradicionais Kalunga, em um recorte

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microregional do Território da Chapada dos Veadeiros, o município de Teresina de

Goiás, com um área de 774,635 km², a população estimada de 2.887 habitantes e

densidade 4,5 hab./km², e que tem presença marcante de quintais utilizados para a

atividade de plantio sustentável.

Verificação da presença de plantas do cerrado domesticadas nos mesmos, assim,

investigar também, a influência das políticas governamentais para fortalecer essas

comunidades de remanescentes quilombolas nesta atividade, e assim, analisar a forma

de como elas tem se organizado frente às exigências do mercado global da

biodiversidade. Também inventariar as plantas cultivadas nos quintais visitados e suas

utilidades, em meio a uma perspectiva de entender a apropriação e a utilização das

plantas do cerrado pelos Kalunga, a partir do instante que eles plantam as mesmas em

seus quintais.

Existe também, uma busca pela compreensão do dinamismo do uso e gestão do cerrado

e a diversidade da interpretação da biodiversidade.

As fortes relações de força entre os agentes envolvidos, os Kalunga, e suas justificativas

para defender suas posições e atividades estão sendo passo a passo estudadas assim

como o sentimento de posse do lugar de habitação e o território discutido como

resultado de um discurso e de um aparelhamento da cultura dita ecossustentável.

A metodologia adotada definiu como base de estudo o município da microrregião da

Chapada dos Veadeiros, Teresina de Goiás, que se localiza no nordeste do estado de

Goiás , região Nordeste do Estado de Goiás, no Centro-Oeste do Brasil. Foi feito um

levantamento bibliográfico sobre o Cerrado e a Biodiversidade de suas plantas,

relacionando a forma de como as comunidades se apropriam e utilizam dessas espécies.

A fim de concretizar o estudo foram feitas visitas e entrevistas as residências das

comunidades para relacionar o que foi estudado; para a realização do inventário as

plantas estão sendo catalogadas, separando-as em alimentícias, ornamentais, medicinais

e a quantidade existente em cada quintal. A pesquisa tem caráter quantitativa e

qualitativa, na modalidade de pesquisa participante, por meio da qual é possível

articular os saberes populares e a prática.

Espera-se com o estudo o conhecimento e a catalogação das plantas presentes na área de

pesquisa, assim como a relação dos atores que atuam no território, nesse caso os

Kalunga, com as plantas. Recomenda-se atenção por parte de alguns órgãos públicos

responsáveis pelas espécies existentes nos quintais, a sensibilização e educação desses

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povos diante do que for sendo encontrado como problema, assim criando programa de

incentivo ao cultivo em suas residências.

Considerações finais Plantar e colher. O modo de vida dos Kalunga, são traços de uma cultura onde podem

ser notadas nas plantações dos quintais uma forma essencial e tradicional de produção

para sua subsistência. A biodiversidade presente nesse território, unida a um

conhecimento transmitido de pai para filho, mostra a importância da terra para a

comunidade de remanescente quilombola, que aliada a técnicas consideradas modernas,

geram conhecimentos para um melhor uso e manejo da terra. Assim, toda a família

garante seu alimento (e/ou renda) a partir desses espaços aproveitados em suas casas.

As plantações dos alimentos, com predominância de milho e mandioca, favorecem essas

comunidades no dia a dia. Elas aprendem lidar com a terra, sendo esta (como toda

comunidade tradicional) uma alternativa para seu sustento.

O cultivo de plantas medicinais são comuns nos quintais. Fato que nos permite pensar o

quanto o conhecimento científico é ausente neste território, porém, a utilização dessas

plantas é comum desde os mais velhos aos mais novos membros, caracterizando mais

uma vez saberes e conhecimentos tradicionais desta comunidade.

A plantação e cultivo de plantas ornamentais também são importantes desde o fato de

servirem para a própria ornamentação, até a comercialização dessas, o que acarreta em

um auxílio a mais na renda das famílias.

No geral, as Comunidades, raramente utilizam as terras ‘’cerradenses’’ do território

Kalunga com fins lucrativos. O sentimento de pertencimento a esses lugares impedem

que os cultivos em suas residências sejam para circulação de capital. Eles acreditam que

a terra é ‘’benção’’ (expressão usada por uma senhora Kalunga) e dela provém seu

sustento, sendo assim, seu uso é para próprio consumo, não tendo necessidade de

comercializar a terra.

Essas comunidades merecem reconhecimento e também apoio de políticas públicas.

São sujeitos de grandes saberes em que refletem um assunto que, para além de moderno,

tornou-se modismo: a sustentabilidade. Essa mesma sustentabilidade que buscamos

compreender e praticar é realizada de forma simples pelos Kalunga.

Nesse sentido, podemos perceber uma melhor compreensão do assunto - A

Biodiversidade das Plantas e suas utilidades no Território da Cidadania-Chapada dos

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Veadeiros – GO – por meio de estudos sobre sustentabilidade. Essas comunidades

demonstram experiência e conhecimento real em diferentes áreas, por meio de

memórias, de conhecimento cultural, de reconhecimento social e de suas identidades.

Esse fato nos permite concluir que a visão contextualizada neste território, parte de uma

biodiversidade que pode ser definida como: uma construção cultural e social de uma

comunidade que dispõe de uma diversidade natural que, aliada a conhecimentos

técnicos de uso e manejo da terra caracterizam a comunidade tradicional que

transformar e mantêm recursos naturais à favor de sua subsistência.

Foto 4: Quintal Kalunga utilizado para a atividade de plantio sustentável – Comunidade Ribeirão

Autora: Raquel Barbosa Fernandes

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Referências ALMEIDA, Maria G. de. Fronteiras, territórios e territorialidades. Revista da ANPEGE. Ano 2, n. 2. Fortaleza:ANPEGE, 2005. p. 103-114. ALMEIDA, Maria Geralda, Cultura ecológica e biodiversidade. Mercator - Revista de Geografia da UFC-ano 2-número 03-2003. _________ . Cultura Ecológica e Biodiversidade. Mercator- Revista de Geografia da UFC, Fortaleza, ano 2, n. 03, p.71-82, 2003 CHAVEIRO, Eguimar Felício. Os novos temas e as geografias contemporâneas. In: Notas de aula. Goiânia, 2006, p.6. DIEGUES, A . C. S. , 1993, Populações tradicionais em unidades de conservação: o mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Cebimar/Nupaub. GOMES, F. dos S.- Histórias de Quilombolas, Mocambos e Comunidades de Senzalas. São Paulo: Hucitec, 2005. LIMA, R. B. , 1999, Natureza: uma categoria do social. In: DUARTE L. M. G.; BRAGA, M. L. S. (Orgs.).Tristes Cerrados- sociedade e biodiversidade. Brasília: Paralelo15. PIRES,M.O.;SANTOS,I.M.(Orgs.), 2000, REDE CERRADO- Construindo o Cerrado Sustentável .Experiências e Contribuições das ONG's -Brasília: Gráfica Nacional. PIRES,M.O.;SANTOS,I.M.(Orgs.), 2000, REDE CERRADO- Construindo o Cerrado Sustentável .Experiências e Contribuições das ONG's -Brasília: Gráfica Nacional. PORTAL DA CIDADANIA. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Disponível em: < http://www.territoriosdacidadania.gov.br/>. Acesso em: 19 de set. 2011. PORTAL DO AGRONEGÒCIO GOIANO. Disponível em : < http://www.agronegocio.goias.gov.br/index.php?pg=noticias&id_noticia=12176>. Acesso em: 18 de set. 2011. VILLA REAL, B. , 2001, Guia por onde andar_ Roteiros turísticos comentados. Nordeste Goiano- Goiânia: AGETUR, SEMARH.