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A BATALHA DO BEM CONTRA O MAL A luta de quatro crianças contra o câncer Autoras: Larissa S. Guaitoli, Maria Letícia C. Rotta e Marina G. Massarente Distribuição gratuita. Venda proibida.

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A BATALHA DO BEM CONTRA O MALA luta de quatro crianças contra o câncer

Autoras: Larissa S. Guaitoli, Maria Letícia C. Rotta e Marina G. MassarenteD

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IDEALIZAÇÃO DO PROJETO: Larissa Soares Guaitoli, Maria Letícia Cavalcanti Rotta e Marina Gregori Massarente

ORIENTAÇÃO PSICOLÓGICA: Larissa Soares Guaitoli e Maria Letícia Cavalcanti Rotta

REDAÇÃO E PROJETO GRÁFICO: Marina Gregori Massarente

ILUSTRAÇÕES: Maurício de Sousa Produções

APOIO: AACC - Associação de Apoio à Criança com Câncer

A Batalha do Bem contra o MalA luta de 4 crianças contra o câncer

Proibida reprodução total ou parcial ® 2007 Todos direitos reservados.

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Este livro pertence a

AGRADECIMENTOS

Leandro Burti

Dr. José Marcus Rotta

Marcus Sulzbacher

Maurício de Sousa

Sandra Schamas

Wanir Cavalcanti Rotta

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hospital estava silencioso e Cleide preparava-se para fazer a última inspeção

da noite. Passou na sala das enfermeiras para pegar um casaco e um cachecol.

A previsão dizia que aquela seria a noite mais fria do ano.

Cleide não era nem muito alta, nem muito baixa. Tinha cabelos escuros e curtos

e um rosto bem redondo. Seus olhos verdes estavam sempre brilhando.

Durante os vinte anos que trabalhou como enfermeira nunca deixou de sorrir para

um paciente. Está certo que em alguns momentos precisou mostrar autoridade,

fingir que estava brava, mas ela sabia fazer isso muito bem.

Os corredores estavam calmos e vazios. O silêncio era quebrado apenas por conversas

entre funcionários que logo terminavam. Tudo parecia bem tranqüilo e Cleide achou

que poderia ir tomar um chá.

Na área da Oncologia Pediátrica uma luz se acendeu.

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1. O DIA DA CHEGADA

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Luana, Fred e Mauro estavam perto da janela. Cobriam as cabeças com um lençol

fazendo uma cabana e acenderam uma lanterna. Quando Mauro começou a falar,

os amigos pensaram que estavam surdos, afinal não conseguiam ouvir nada que

saia de sua boca. Percebendo isso, ele arrumou seus pequenos óculos, deu uma

leve tossida e, olhando fixamente para os dois, recomeçou.

- Então, o Otávio foi operado ontem à tarde. Daqui uns dois dias ele deve voltar

para o quarto. Como todo paciente ele tem que ficar na sala de pós-operatório

um pouco, para ver como foram as coisas e tal.

Mauro começou a dar detalhes sobre a cirurgia. Como gostava muito de estudar,

principalmente sobre o corpo humano, parecia um médico falando.

Quando ele imitava a voz e gestos do Dr. Rafael era sempre a maior atração

no hospital. Era incrível como um garoto de doze anos podia ser tão engraçado.

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Tenho muita saudade de todos lá de casa, penso neles todos os dias.

Mas aqui eu fiz novos amigos que estão passando pelo mesmo problema que eu.

Você também vai conhecer muita gente Fred.

Fred era um menino de cabelos loiros e cacheados, alto para sua idade e gostava

muito de gibis. Chegou ao hospital naquela tarde e teria que ficar alguns dias

internado para poder iniciar seu tratamento. Fazia apenas um mês que sua mãe

havia lhe contado que ele está doente, e que essa doença se chama câncer.

Desde então seus pais não pararam de levá-lo para consultas em médicos e para

fazer exames. Ele estava muito confuso com tudo que acontecia, sua vida estava

muito diferente. Ele sentia medo do que poderia lhe acontecer e se perguntava

se estava sendo punido por alguma coisa errada que tinha feito. Mas no fundo

ele sabia que ninguém fica doente por castigo, né?

Fred ouviu com atenção tudo que Mauro falou, mas como aquela era sua primeira

noite ainda estava se acostumando com o ambiente hospitalar. Durante seus oito anos

de vida, nunca tinha passado uma noite longe de sua mãe e irmãos.

O bom é que já se sentia muito à vontade com seus novos amigos e disse a eles que

estava com muita saudade dos seus amigos e sua família.

Fred explicou que somente seu pai pôde vir para ficar com ele, mas que toda

a sua família estava sempre telefonando e torcendo, mesmo que de longe.

- Para mim também foi muito difícil me despedir da minha família e amigos. Ainda mais

porque moro em outra cidade e eles não podem nem vir me visitar – disse Luana.

Aqui em São Paulo eu moro em um lugar chamado Casa de Apoio que existe para que as pessoas de outras cidades também possam ficar perto

do hospital e fazer o tratamento que precisam.

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Fred não entendeu nada e eles disseram que estavam falando com o Ciris,

o superAmigo que estava cuidando de Otávio. Ciris veio dizer que Otávio estava ótimo,

divertindo-se com toda a aparelhagem tecnológica que ele tanto adora.

Luana percebeu que Fred estava assustado e disse que ela e Mauro estavam

falando com outros amigos, os superAmigos que vem para ajudar no tratamento.

Quando estamos preparados para enfrentar a doença, eles aparecem para

nos dar uma força – diz Luana.

Fred deitou em sua cama, conversou com o pai sobre o medo que estava sentindo

e sobre tudo o que terá que enfrentar. Pela primeira vez estava pensando sobre

a morte. O pai, apesar de também estar sentindo medo, acalmou o filho, dizendo

que vão passar por tudo isso juntos. Fred deu boa noite ao pai e sentindo-se mais

preparado, pensou:

- Eu sei que vou melhorar!

Aproveitando que seus novos amigos já estavam no hospital há alguns dias

e já conheciam a doença, Fred começou a fazer mil perguntas. Ele tinha dúvidas

até sobre o que era o câncer. Mauro, com muita simplicidade e graça,

começou explicando que o corpo é feito de um monte de partes bem pequenininhas,

que se chamam células. Elas estão em todo o corpo, nos cabelos, nos olhos, na pele...

Disse que quando alguém está com câncer as células crescem “sem parar” e de

forma bagunçada. Com algum tempo essas células “a mais” começam a incomodar

suas “vizinhas”, causando um desconforto e algumas vezes dor. É isso que se chama

câncer e para essas células pararem é preciso fazer um tratamento.

Os principais tratamentos são a radioterapia, quimioterapia, cirurgia e transplante de medula óssea.

E fingindo uma voz bem grossa e séria disse: mas isso é assunto para uma outra aula.

De repente Luana e Mauro pararam e conversaram com alguém que parecia estar

de baixo do lençol também.

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ão oito e quinze na caverna Branco Forte e a sirene começa a tocar bem alto.

BEEEEEM, BEEEEEEM, BEEEEEEEM.

Um ser pequeno, cheio de microfones e fones de ouvido saiu rapidamente

de uma sala e sentou-se na cadeira em frente a uma tela gigante de computador.

É possível ver o rosto de Fred na tela, com um monte de coisas escritas na lateral.

O ser, que se chama Sonidos, escreveu algumas coisas, apertou uns botões,

pegou seu maior microfone e começou a falar: - Radis, Radis, favor comparecer

à central. Repetindo. Favor comparecer a central!!!

A Caverna Branco Forte, como podemos imaginar pelo nome, é inteira branca.

Ela é redonda, bem iluminada, muito grande e cheia de andares.

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2. CAVERNA BRANCOFORTE

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Radis desceu do décimo andar para o térreo, por dentro de um túnel de plástico.

Ele apareceu de pijama, cara de sono, mas como sempre, com um sorriso enorme.

Sonidos arrumou seus óculos, virou-se para a tela e o apresentou a Fred.

Disse que sua próxima missão será encontrá-lo no dia seguinte, durante sua

primeira sessão de radioterapia.

Radis pediu um relatório completo sobre a missão e Sonidos lhe entregou uma

pasta gigante com todos os detalhes.

A central é um lugar muito calmo e silencioso. É aqui que todos os superAmigos

planejam suas missões e recebem melhores as mais secretas informações

sobre os inimigos.

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A Liga dos superAmigos foi criada há muito tempo e existe para ajudar as crianças

com câncer. Ela é formada por vários amigos, um para cada momento do tratamento.

Eles são pequenos, mas muito fortes e poderosos.

Estudaram e treinaram muitos e muitos anos, por isso conhecem muito bem o inimigo

com quem têm de lutar.

Mas o que não pode faltar em nenhuma das batalhas que participam é a força e energia das crianças.

No lado direito da central, podemos ver uma porta amarela com uma placa

onde está escrito: Guarda-Força.

Essa porta é guardada por um computador muito sério e super-moderno

que impede a entrada de quem não sabe dizer a senha correta.

Dentro dessa sala ficam guardados todos os acessórios usados nas missões.

É possível ver armários cheios de aventais nas cores da Liga dos superAmigos:

branco, azul e amarelo, além de muitas gavetas com máscaras, chocolates

e óculos. Cada um possui sua mala de viagem, que é muito bem carregada

e equipada para cada missão.

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red tinha acordado muito cedo e por isso estava com cara de sono

no momento em que chegou na sala de radioterapia. Estava muito nervoso

e com um pouquinho de medo. Não tinha idéia do que iria acontecer ali dentro.

A única coisa que se lembrava, de todas aquelas explicações do Dr. Rafael,

era que não iria doer. Isso com certeza foi um alívio, mas aquela sala era muito fria

e muito silenciosa para ficar ali sozinho. A enfermeira Cleide falou alguma coisa,

mas ele estava nervoso demais para ouvir, conseguiu apenas dar um meio sorriso.

Quando todos saíram da sala, Radis surgiu dando um pulo enorme.

Ele tinha o tamanho de um gibi e era muito forte. Usava uma roupa engraçada,

larga demais para o tamanho dele e uma mochila cheia de coisas com um adesivo

escrito Liga dos superAmigos.

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3. MANHÃ SEGUINTE

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Radis pulou na barriga de Fred que, obviamente, levou um grande susto.

- Achou que eu ia deixar você na mão, não é? - diz Radis. - Demorei, mas cheguei!

Acabei me atrasando porque eu estava tentando achar um cartaz para mostrar

para você. Tinha certeza que guardei na gaveta maior do meu quarto, mas depois

lembrei que…

Radis para de falar, coloca a mão na testa e diz:

- Como eu sou burro! É seu primeiro dia e eu nem me apresentei. Pois bem,

sou Radis. Muito prazer em conhecê-lo. Sou o seu guerreiro na batalha de hoje.

Fred continua meio confuso, olhando para os lados para ver se alguém também está

vendo aquele ser. Ele olha para a porta e vê que Cleide está conversando com seu

pai. Os dois olham para ele e mandam um tchau. Definitivamente eles não estavam

presenciando o que ele estava vendo.

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- Hoje vamos anunciar que a guerra está declarada. O seu papel é muito

importante para que as coisas corram bem. Vou pegar emprestado um pouco

da sua energia enquanto estiver lutando, mas saiba que vou usá-la para o Bem.

Boa sorte, amigo Fred! E lembre-se que preciso de você forte e confiante.

Com uma rapidez absurda, impossível de acompanhar com os olhos, Radis some.

Começam uns barulhos e apesar de Fred continuar com medo, se sentiu mais

seguro ao saber o que iria acontecer.

- Vocês não vão acreditar! - grita Fred ao ver os amigos.

- Pois bem, através dessa máquina aí vou entrar no seu corpo e levar

um exército enorme para combater o Monstrengo.

Era para isso que precisava do cartaz.

Radis pega um pergaminho

que estava enrolado ao lado

de sua mochila e abre bem

próximo dos olhos de Fred.

- Aqui está! Esse é o Monstrengo.

Seu nome é Feioso,

justamente por ter essa cara

feia e esse corpo magrinho.

Fred dá uma risadinha.

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red finalmente tinha contado tudo que tinha passado nos mínimos detalhes

e sentia-se um pouco cansado. Achou que era uma boa idéia deitar um pouco

na cama, antes do almoço chegar.

A área da Oncologia Pediátrica era super movimentada e muitas crianças

passavam por lá o dia inteiro. Algumas iam para uma consulta com o médico,

outras para fazer exames e outras ainda para algum tipo de tratamento. Algumas

ficavam apenas por algumas horas durante o dia e outras precisavam dormir

no hospital por alguns dias.

Luana não estava com sono e nem cansada, então foi conversar com Fred.

Como percebeu que ele não estava se sentindo muito bem contou que também

já tinha ficado assim na sua época de tratamento e que isso era normal.

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4. DÚVIDAS IMPORTANTES

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- Doer não dói, mas é chato ter que ficar no hospital, ainda mais ele que nem

estava doente. Mas o bom é que essas células não vão fazer nenhuma falta para ele

e com isto eu posso ficar boa. Agora preciso ficar mais alguns dias por aqui

e usar essa máscara por algum tempo. Ela me protege de todas as bactérias

que estão no ar.

- Ah, eu também quero uma, então. Vou pedir para o Dr. Rafael. – diz Fred olhando para os lados, como se procurasse

alguma coisa.

- Deixa de ser bobo Fred. Você não precisa. Seu corpo é forte e sabe se proteger

dessas bactérias. Eu que estou um pouco fraca, então dou uma ajudinha para

o pessoal aqui dentro – diz Luana, colocando a mão no coração.

- Quer dizer que você não faz mais esses tratamentos? - perguntou Fred.

- Eu já fiz durante algum tempo, mas faz duas semanas que passei por um

transplante de medula óssea. Você sabe o que é isso?

Fred pensou, pensou e acabou dizendo que não sabia.

- Então... eu tenho leucemia. Já passei por tratamentos como o seu, a radioterapia

e também a quimioterapia. Mas no meu caso, precisei receber novas células, para

ajudar as minhas que estavam fracas. Era importante achar alguém que pudesse

me doar essas células porque elas precisavam ser do mesmo tipo que as minhas.

E você acredita que meu doador foi meu irmãozinho, o Júlio?

- Mas dói para ele te dar essas células? – pergunta Fred.

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O Dr. Rafael era querido por todos. Ele sabia melhor do que ninguém tirar

as dúvidas dos pacientes.

Aproximou-se da cama de Fred e sentou-se bem ao lado dele. Ele queria saber

como havia sido seu primeiro dia de radioterapia e logo explicou

que era normal sentir-se cansado e desanimado.

Fred ficou aliviado, pois realmente não se sentia tão bem. O doutor o examinou

de cima a baixo. Deu uma boa olhada na sua garganta, nos olhos e escutou

seu coração com um instrumento de nome difícil, o estetoscópio.

Pouco antes de o doutor se levantar, Fred chamou-o para bem pertinho.

Queria fazer uma pergunta, mas estava com um pouco de vergonha.

Logo depois do almoço o Dr. Rafael foi fazer uma visita às crianças.

Luana viu que ele estava chegando e logo começou a se arrumar para ficar

bonita. Ela era uma menina muito vaidosa que adorava ficar horas se olhando

no espelho. Tinha dez anos, mas adorava quando as pessoas achavam

que ela tinha onze.

Assim que o Doutor entrou na sala todas as crianças ficaram em silêncio.

Ele passou por todas as camas, olhando bem para cada um dos rostinhos.

Fingia estar muito sério quando de repente começou a rir e perguntou bem alegre:

- Como vão meus pacientes preferidos?

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Com as bochechas rosadas falou:

- Doutor, não sei se é uma pergunta chata, mas porque a Luana e o Mauro não,

não… não tem cabelo? – diz Fred apontando para seu próprio cabelo.

Ufa, tinha conseguido!

Dr. Rafael colocou Fred sentado na cama e explicou:

- Ah Fred, essa é uma pergunta muito normal. Alguns dos tratamentos contra

o câncer fazem o cabelo cair. Por mais chato que possa ser temos sempre

de lembrar que é passageiro. O cabelo cai, mas assim que o tratamento termina,

ele volta a nascer normalmente.

- Quer dizer que meu cabelo vai cair? – pergunta Fred

passando as mãos nos seus cabelos.

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Fred soltou um suspiro, apertou a mão do Dr. Rafael e voltou a deitar.

Mauro chegou perto de Fred e disse que tinha ouvido sua conversa com

o Dr. Rafael.

- Então Fred, quando meu cabelo caiu, eu tinha vergonha de sair na rua sem

boné. Achava que todo mundo estava olhando para mim, sabe? Quando eu

me olhava no espelho, achava que estava muito diferente e não gostava daquilo.

Mas agora eu me acostumei com isso. E também, conheço um monte de gente

que é careca e mais um monte que o cabelo já cresceu de novo – disse Mauro.

Os dois olharam para o relógio e resolveram tirar uma soneca. O horário de visita

iria começar dentro de duas horas.

- Não posso responder isso com certeza, Fred. Pode ser que ele não caia.

Mas se cair, ele nasce de novo depois, exatamente como era antes. E outra coisa

muito importante é que você não deve ter vergonha de me perguntar nada.

Sempre que você tiver alguma dúvida, é só vir falar comigo, certo?

Fred concordou com a cabeça e com a mão fez sinal de ok.

Aproveitou e fez sua última pergunta.

- Hoje vou receber visita dos meus amigos da rua.

Será que eles podem pegar o que eu tenho?

- Com certeza não, Fred. Isso é impossível. O câncer não é contagioso.

Pode acreditar. Você pode brincar, abraçar, beijar quem você quiser.

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auro tinha acabado de tomar banho e estava colocando o tênis quando

Fred acordou.

- Ainda bem que você está levantando, hein? Tava tentando acordar você,

mas aí a Cleide chegou, com aquele papo que você precisava descansar,

que era para deixar você dormir… blablablá, blablablá, e me tirou do seu lado.

Faltam dez minutos para o pessoal chegar, cara. Vai logo!

Fred ainda estava meio sonolento, mas logo despertou quando viu que todas

as crianças já estavam prontas.

O dia de visita era muito esperado por todos. As crianças sempre estavam

com um acompanhante, que podia ser o pai, a mãe, os avós, tios, irmãos, etc…

mas esse era o dia em que os amigos poderiam ir visitá-los.

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5. DIA DE VISITA

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Rodrigo era o técnico do time e disse para Fred não se preocupar, pois a vaga

dele estava guardada. Todos sentiam muito sua falta e tinham certeza de que ele

voltaria em tempo de participar da final.

Fred ficava triste em pensar que sua vida estava diferente da dos seus amigos,

mas já estava imaginando a cena do time carregando o troféu e a torcida

gritando seu nome: Freeeed! Freeeeed!

- Fred! – gritou Clara, sua melhor amiga da escola. Parece até que você está

sonhando acordado. Eu estava contando que copiei todas as aulas para você

poder estudar. Vamos ter prova de Geografia daqui a um mês e tem vários

exercícios de matemática para entregar na semana que vem. Já combinei com

seu pai que ele pega com você e eu entrego para a professora.

Luana estava linda, com uma camiseta branca, uma calça rosa e tênis rosa,

parecia uma princesa. - Pena que ela é muito mais velha que eu – pensou Fred

enquanto observava Luana pegando seus cadernos e canetas.

Dez minutos depois, a Onco estava cheia de adultos e crianças. Fred não acreditou

quando viu que além dos seus irmãos e amigos da rua, sua turma da escola

também estava ali. Estava muito feliz e não parou de falar um minuto.

Ele queria muito comentar sobre o Radis ou o Ciris e toda essa história

de superAmigos, mas achou que seus amigos não iriam acreditar.

Contou logo como tinham sido esses dias no hospital para dar tempo de saber

como andava o campeonato de futebol da rua. Esse ano seria decisivo para seu

time. Eles tinham treinado muito e estavam disputando a liderança.

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Fred pensou que estava em um pesadelo. Como se já não bastasse ficar

no hospital, ainda teria que fazer exercícios de matemática.

- Ah, eu não vou fazer não, Clara. Pode avisar a professora que eu estou doente

e que não consigo fazer nada. – disse Fred com voz de cansado e colocando

a mão na barriga.

- É claro que você consegue Fred. Os dias que você estiver se sentindo melhor

você faz, senão quando você voltar para a escola vai ter que ficar fazendo um

montão de exercício atrasado tudo de uma vez. Aí… tchau treino de futebol.

– disse Clara com um sorrisinho de quem sabia que tinha dito a coisa certa.

Fred ficou quieto, pegou os cadernos, colocou no armário do lado da cama

e logo mudou de assunto.

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Ele gostava demais de sua avó, que era quem ficava com ele no hospital,

mas estava com muita saudade dos dois. Mauro precisava passar por mais duas

sessões de quimioterapia para voltar para casa.

Ele não comentava com ninguém, mas sentia muita falta de ganhar um beijinho da mãe antes de dormir.

As visitas foram indo embora aos poucos e a sala foi ficando mais silenciosa.

Todos estavam cansados e, antes de dormir, Mauro lembrou os amigos

que amanhã o Otávio estaria de volta ao quarto. E era para eles se prepararem,

pois Otávio tinha uma surpresa que só Mauro sabia e que mudaria os próximos

dias de todos os amigos no hospital.

Em pouco tempo todas as crianças da sala estavam conversando juntas,

em duas grandes rodas. Mauro estava explicando para os irmãos de Fred para

que servia cada um dos aparelhos da sala.

Ele pegou emprestado um avental branco, colocou luvas, máscara e caminhou

por todo o andar. Só não pode entrar nas salas de radioterapia e quimioterapia

porque elas estavam sendo usadas, mas mesmo assim não deixou de explicar

todo o processo dos tratamentos.

Os pais do Mauro chegaram bem no momento em que ele estava super

empolgado e em cima da cama imitando todo mundo, desde o segurança

do hospital até seu ídolo, o Dr. Rafael.

Assim que ele viu os pais, parou tudo e foi correndo abraçá-los.

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a manhã seguinte, todos levantaram cedo. Foi difícil dormir depois de tanta

movimentação das visitas e ainda mais com a curiosidade de saber o que Otávio

tinha criado. Fred ainda não o conhecia, mas já sabia que ele era apaixonado

por vídeo games e computadores.

Logo depois do café da manhã cada um foi fazer as suas coisas. Fred teve outra

sessão de radioterapia e estava ansioso para encontrar com Radis e saber

como seria essa próxima batalha.

Radis tinha prometido trazer para ele uma foto de toda a Liga dos superAmigos,

pois dessa forma ele poderia conhecer cada um dos integrantes, e eram muitos.

Assim que todos saíram da sala de radioterapia Radis apareceu e novamente

deu um susto em Fred. Suas roupas hoje estavam mais coloridas, mas

continuavam um pouco grandes.

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6. A INVENÇÃO DE OTÁVIO

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Fred aproveitou que o amigo estava lá para perguntar se ele tinha alguma notícia

de Otávio.

- Já sei, você quer saber sobre a super invenção que ele criou, não é?

Não se fala em outra coisa, o menino é um gênio. Estão todos animadíssimos,

afinal com ela vamos poder entrar no… Ei, mas me disseram que era surpresa.

Então não posso contar para você, não! Garoto esperto você, hein?

Fred fez uma cara de decepção. Por muito pouco não acabou com a sua

curiosidade. Mas agora teria de esperar até o final do dia para saber o que

era a tal surpresa.

Radis já estava preparado, colocou a foto que havia prometido no bolso de Fred

e foi cumprir sua missão.

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Otávio tinha muito medo da cirurgia. Imaginava que a sala era grande, fria,

escura e silenciosa.

No dia de sua operação estava muito nervoso e com muito medo, ficou pensando no que iria acontecer.

Ele sabia que os médicos iam tirar o seu tumor. Tentou imaginar como seria tudo

aquilo e estava com medo que doesse.

Chegou na sala de cirurgia e ficou surpreso. A sala era completamente diferente.

A luz era muito forte, havia vários aparelhos e computadores, os médicos e

enfermeiras eram muito legais, conversaram com ele e falaram que depois iriam

contar como foi a cirurgia.

Na sala de pós-operatório Otávio já estava contando os minutos para ser

transferido para o quarto da Oncologia Pediátrica. Fazia muito tempo que Otávio

não via sua mãe tão feliz. Até pensou que poderia ser pela sua invenção,

mas logo lembrou que não tinha contado nada para ela sobre isso.

Otávio fez uma cirurgia para retirar um tumor que tinha na perna. Assim como

Fred, Otávio tinha muitas dúvidas. Então, sempre que podia, conversava

com os médicos.

Durante esses três dias de pós-operatório contou também com a ajuda de Ciris.

Foi ele quem lhe explicou que tumor era uma bolinha onde ficava todo o exército

dos monstrengos e que, com a cirurgia, o médico conseguia tirar isso do corpo.

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Enquanto todos ouviam atenciosamente como era a sala de cirurgia, Mauro interrompeu

a conversa. – Ah Otávio! Conta logo para eles, vai cara. Senão eu mesmo vou contar.

Posso? – disse Mauro

- Huuum… deixe-me pensaaaar. Tá bom vai! Pode contar sobre a invenção. – diz

Otávio enquanto arruma seu travesseiro.

Mauro se preparou e olhou bem para Luana e Fred. Queria criar um clima de suspense,

então ficou em silêncio por algum tempo.

- Vocês vão ver o que ninguém no mundo até hoje viu. É uma invenção única,

brilhante, que só poderia ter sido criada por nosso grande tecnológico amigo Otávio.

Eles fizeram algumas brincadeirinhas pra distrair Otávio, porque perceberam

que ele estava nervoso. Para falar a verdade, depois ele só se lembrou de estar

uns cinco minutos na sala, pois logo em seguida ele dormiu e só foi acordar

quando tudo tinha terminado.

Quando Otávio chegou no 4º andar, todos seus amigos estavam ansiosos

esperando seu retorno. Ele não podia brincar, pois precisava ficar descansando

uns dias, mas contou tudo o que aconteceu.

Logo de cara Otávio gostou de Fred. Achou que ele parecia muito com um primo seu que morava em sua cidade, no interior de São Paulo.

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– Mauro, não é essa tal quimio que dói para fazer?

– pergunta Fred preocupado.

– Doer mesmo não dói, sabe? O chato é que nos sentimos meio mal

depois. Dá enjôo, dor de cabeça... Mas sei que a quimioterapia está me ajudando

a combater as coisas ruins e erradas que estão acontecendo dentro do meu corpo.

Mas, eu quero falar quais são nossos planos. Tenho quimio amanhã às nove horas.

O Dr. Rafael disse que dessa vez vai demorar umas duas horas. Pensando bem, ainda

bem que vai ser mais longa, pelo menos assim teremos mais tempo também para

nossa experiência. Espero todos vocês acordados logo cedo, ok? Agora vamos deitar

porque todos precisam descansar. Principalmente eu, pois amanhã precisarei

de todas minhas energias.

Assim que eu tiver terminado de explicar tudo, vocês poderão fazer perguntas,

mas durante a explicação, favor não interromper. Pode ser que no começo vocês

achem que é mentira, mas provaremos que não é.

- Fala logo, vai Mauro! - diz Luana impaciente.

- Ok, serei mais rápido. Otávio criou uma câmera de vídeo, que será colocada

na cabeça do amigo Quimis, antes da minha quimioterapia, para que possamos

acompanhar todo o percurso que ele fará até chegar no monstrengo!

Fred e Luana ficam olhando de Otávio para Mauro, de Mauro para Otávio.

Realmente ele estava certo, pois nenhum dos dois estava acreditando

naquela história.

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o relógio estava marcando oito horas em ponto.

Mauro, Luana, Fred e Otávio já estavam acordados. Seus pais e acompanhantes

não estavam entendendo o por quê de tanta ansiedade e os amigos não podiam

contar. Com muito carinho pediram para que os adultos fossem tomar um café,

ou dar uma volta no hospital porque eles precisavam conversar sobre uma coisa

muito importante.

Cleide veio buscar Mauro na hora marcada e acompanhou-o até a quimioterapia.

Ele estava um pouco nervoso, afinal hoje teria uma platéia torcendo por ele

e não queria decepcioná-la.

- Boa Sorte! – gritam os amigos dando tchau.

N

7. O DIA MAISESPERADO

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O super-vídeo game estava escondido debaixo do travesseiro de Otávio.

Fred e Luana sentaram-se perto de Otávio e procuraram a melhor posição para

ver a tela. A imagem ainda estava um pouco ruim, mas conforme eles iam girando

um botão grande e laranja que ficava na lateral, ela foi melhorando.

Quimis, o superAmigo da quimioterapia, amarrou uma câmera na sua cabeça.

Era através dela que eles iriam acompanhar toda a batalha. Na tela, já dava para

ver a sala da quimioterapia. Esse é um tratamento que pode ser feito no quarto

do paciente ou em salas junto com outras pessoas. Mauro estava em uma sala

com adultos e crianças.

A enfermeira preparou o medicamento e deu uma picadinha no braço de Mauro.

Era por aquele lugar que o medicamento entraria na corrente sanguínea

e que Quimis iria ajudar a chegar ao lugar certo. Mauro precisava esperar

que todo medicamento terminasse, tranqüilo e confiante.

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Quimis estava ali para ajudá-lo com o medicamento e dessa vez ainda contava

com a ajuda de seus amigos. Mauro olhou para a câmera de Quimis e faz um sinal

de ok para os amigos. A hora havia chegado. Quimis entrou na corrente sanguínea

e, com uma velocidade incrível, começou a correr por tudo.

No começo os amigos tiveram dificuldade para entender o que estava acontecendo,

mas logo se acostumaram com a velocidade e começaram a torcer.

Os mapas e caminhos eram bem complicados, com muitas opções de direções,

mas rapidamente Quimis chegou ao ponto. Eles puderam perceber isso quando

o clima começou a ficar mais sombrio, escuro e silencioso. Quimis olhou para

o seu exército. Foi possível ver milhares de seres, todos vestidos de branco,

confiantes, sem nada a temer.

Ele fez um sinal de positivo para que Otávio, Luana e Fred soubessem que tudo

estava pronto e que era a hora da batalha começar.

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O lugar da batalha não estava mais tão escuro e nojento como no início.

Podia-se ver que a quantidade de monstrengos tinha diminuído muito, mas ainda

havia alguns que resistiram à luta.

A batalha do dia havia terminado com vitória. Aquela ainda

não era a última, Mauro teria que passar por algumas outras, mas uma lição

que todos acabavam de aprender era que é preciso comemorar cada novo passo

conquistado.

Enquanto os amigos viam o exército comemorando nem perceberam que

Cláudia estava com uma bandeja na mão, tentando colocá-la na frente de Otávio.

Por muito pouco a comida toda não vira em cima dos três. Otávio faz cara feia

quando viu aquela comida e logo apareceu o Fuds. Esse era o superAmigo

que aparecia só para dar bronca.

A imagem dos monstrengos era muito feia. Tudo em volta deles era escuro

e desorganizado. Não dava nem para enxergar quantos tinham por ali

e não se sabia por onde começar.

Todos sabiam que a luta seria demorada, mas para a surpresa dos amigos

ela não era feita com armas. O que eles viram foi Quimis e seu exército de mãos

dadas, indo em direção ao monstrengo e seus monstrenguinhos. Por mais que

tentassem não conseguiam ver a cara do inimigo, uma luz branca não deixava.

Quanto mais perto Quimis chegava do monstrengo, mais branca e intensa ficava a luz de seu exército.

Isso durou mais ou menos uma hora. Passado esse tempo, a luz foi diminuindo

e o exército de Quimis foi se afastando. Nessa hora, uma nova cena se revelou

e todos puderam ver algo espetacular.

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Cada um contou uma parte da luta e cada um queria falar mais alto que o outro.

Otávio deu um assovio do outro lado da sala e chamou todos para ficarem

ao lado dele. Mauro estava cansado, deu um sorrizinho e perguntou se ficou bem

no vídeo. Todos caíram na gargalhada e ele foi para a cama descansar.

Os amigos teriam apenas mais aquela noite juntos. No dia seguinte Otávio

e Luana iriam para casa continuar o tratamento e já estavam com saudade dos

novos amigos.

Todos foram descansar e Fred foi para sua cama. Seu pai estava lendo

uma revista e quando viu que ele se aproximava deu um forte abraço no filho.

Fred olhou bem nos seus olhos e disse:

- Pai, pode ficar sossegado. Depois do dia de hoje sei que vou ficar bom porque

vou fazer de tudo para ficar bom, tá?

Seu pai concordou, dando um beijo carinhoso na testa do filho.

Ele sempre vinha com uma mochila cheia de frutas e chocolates e adorava dar

palestras sobre a importância da alimentação durante o tratamento do câncer.

Luana sempre achou que ele era muito parecido com um professor de biologia

de sua escola. Por sinal ela e Fred tinham muita lição atrasada para fazer.

Fuds mostrou um gráfico que demonstrava o quanto um superAmigo ficava mais

forte se o paciente comesse bem. Fred ficou impressionado com a diferença,

tão impressionado que estava até ficando com fome. Segundo Fuds,

os superAmigos ganhavam um ponto de energia a cada alimento ingerido. Assim eles ficavam impressionantemente mais rápidos

e muito mais poderosos.

A porta da pediatria abriu e Mauro chegou em uma cadeira de rodas sentindo-se

o máximo. Estava até com jeito de quem iria distribuir autógrafos. Luana e Fred

o cercaram e começaram a falar ao mesmo tempo.

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mãe de Luana estava muito feliz, pois sua filha estava se recuperando

muito bem do transplante, e poderia ir para a casa de apoio. Ainda teria que ficar

longe de sua casa, mas o fato de poder sair do hospital, já era motivo de muita

comemoração.

Fred era o único que não sabia muito o que sentir. Lógico que estava muito feliz

por sua amiga, sabia o quanto era importante para ela voltar para a casa de apoio,

mas… não sabia explicar. Uma parte dele estava triste com aquilo, afinal não

sabia quando poderia vê-la novamente.

No momento da despedida ele foi dar tchau com um nó na garganta. O que dizer

naquela hora? Que ela era a menina mais linda que ele já tinha conhecido?

Ou que ele adorava quando ela explicava coisas para ele com aquele jeito carinhoso?

A

8. A DESPEDIDA DOS AMIGOS

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Mauro também estava radiante. Otávio havia passado para ele o tão desejado

vídeo-game, pois como seu aniversário estava chegando, pediria outro para sua

mãe. E assim aquele poderia ficar para sempre com as crianças do hospital.

Talvez eles ainda se encontrem no hospital, afinal Luana e Otávio terão que voltar

durante algum tempo para fazer exames. Mas logo os dois vão poder ir embora

para casa, para sua cidade e fazer o acompanhamento lá. Aí, pode ser que

eles não se vejam mais.

Pensando nisso, Fred perguntou para Luana e Otávio se eles não poderiam

deixar o endereço e telefone de suas casas. Assim ele poderia escrever cartas

dando notícias suas e não ficaria com tanta saudade de seus amigos,

pois saberia como eles estão.

Não. Claro que não conseguiria dizer nada daquilo, afinal só de pensar já ficava

com o rosto todo vermelho.

– Fred, tenho um presente para você. – disse Luana.

- Ah, ah é? Presente? Hum.. tá. – respondeu Fred todo sem-graça.

Luana havia separado a bandana que mais gostava e escreveu um recadinho para

Fred com uma caneta vermelha. Ela dizia que ele tinha sido um grande amigo

e que nunca se esqueceria dele. Aquela bandana deveria ser pendurada ao lado

de sua cama, para que ele também nunca se esquecesse dela.

Fred sentiu seu coração pular e quase sair pela boca. Nunca tinha ficado tão

nervoso. Agradeceu o presente meio sem jeito e deu um beijo na bochecha de Luana.

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Nunca é fácil ter que dizer tchau para aqueles que amamos,

mas a certeza que os quatro amigos tinham é que aquela amizade seria para sempre.

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IDEALIZADORAS DO PROJETO

Larissa Soares GuaitoliPsicóloga clínica formada pela UniFMU em São Paulo, e psico-oncologista pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia. Atualmente é psicóloga da Unidade Básica de Saúde Pinheirinho, da Prefeitura da Estância Turística de Embu.

Maria Letícia Cavalcanti RottaPsicóloga, pós graduada em psicologia clínica pelo Hospital Servidor Público Estadual de São Paulo. Psico-oncologista pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia. Schoolar e assistente de pesquisa em psico-oncologia pelo Memorial Sloan Kettering Cancer Center New York-NY. Especialista em Psicologia da Saúde pela Associação Latino Americana em Psicologia da Saúde. Especializanda em psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientai. É psicóloga e coordenadora do setor de psicologia da Associação de Apoio à Criança com Câncer.

Marina Gregori MassarentePublicitária formada pela Fundação Armando Álvares Pentado (FAAP), em São Paulo. Trabalhou em agências de publicidade e especializou-se em design gráfico na School of Visual Art (SVA), em Nova York. É voluntária da Associação de Apoio à Criança com Câncer e atua em estúdio próprio, desenvolvendo trabalhos na áreas de identidade visual e projetos voltado ao público infantil.

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A Associação de Apoio à Criança com Câncer (AACC) é uma sociedade sem fins

lucrativos, formada por pais e amigos de crianças com câncer.

O perfil da AACC foi delineado a partir da necessidade das famílias que tinham

dificuldade em lidar com o problema. Famílias que vinham da periferia de São Paulo,

do interior do estado ou até mesmo de outras partes do país e que não tinham onde ficar

com a criança. Era preciso hospedar essas crianças e oferecer melhores condições

e um tratamento mais adequado, assim como todo o apoio necessário para dar

continuidade ao tratamento após a alta hospitalar. Como resposta à essas necessidades,

desde abril de 1985 a AACC atende crianças e adolescentes de zero a vinte anos

de ambos os sexos, cada qual acompanhada por um responsável, proporcionando

pelo tempo que for necessário: o alojamento; alimentação e cestas básicas; vestuário;

medicação; transporte (inclusive interestadual) e vales-transporte; próteses; suporte

educacional e material escolar; tratamento psico-pedagógico, social e existencial; lazer,

amor, carinho e atenção.

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Conheça um pouco mais da história e projetos da AACC acessando o site www.aacc.org.br

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